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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA

COMARCA DE SÃO RAIMUNDO DAS MANGABEIRAS/MA

Processo nº. 0800736-69.2019.8.10.0129

RODRIGO BOTELHO MELO COELHO, brasileiro, divorciado,


empresário, filho de José Francisco Coelho e Maria do Perpétuo
Socorro Melo Coelho, portador do CPF n° 747.144.653-68,
nascido aos 19/03/1977, residente na Rua Travessa Serra Costa,
nº 01, Bairro São Francisco, São Raimundo das Mangabeiras –
MA., vem, por intermédio dos seus advogados subscritores,
(endereço para intimações está indicado no rodapé), perante
Vossa Excelência, na forma prevista no art. 1.009 e ss. do
Código de Processo Civil, apresentar tempestivamente sua:

APELAÇÃO

em face da sentença que consignou a procedência da


presente demanda, condenando o ora Apelante nas penas previstas
dos art(s) 11, inciso I e 12, inciso III da Lei 8.429/1992.

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
No mais, com base nos arts. 1.009 a 1.014 do Código
de Processo Civil, requerendo, na oportunidade, que o Apelado
seja intimado para, querendo, ofereça as contrarrazões e, ato
contínuo, sejam os autos, com as razões anexas, remetidos ao
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, para os
fins de mister.

Termos em que,

Aguarda deferimento.

São Luís/MA, 16 de novembro de 2021.

CLEBER RENATO BISPO ALCANTARA


OAB/MA Nº 7.510

DANIEL BARROS DE MIRANDA


OAB/MA Nº 7.542

CLEBER RENATO Assinado de forma digital


por CLEBER RENATO BISPO
BISPO ALCANTARA
Dados: 2021.11.16 20:20:18
ALCANTARA -03'00'

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
RECURSO DE APELAÇÃO
RECORRENTE: RODRIGO BOTELHO MELO COELHO
RECORRIDO: Ministério Público do Estado do Maranhão
PROCESSO n.º 0800736-69.2019.8.10.0129

EMINENTE RELATOR,

EGRÉGIO TRIBUNAL

DA TEMPESTIVIDADE

Os advogados foram intimados, ato de comunicação


8711924, no dia 22/10/2021. Sabendo que os prazos processuais
são contados em dias úteis, face determinação do Código de
Processo Civil, art(s): 219, 224 e inciso V do art. 231, o
termo final para interposição do presente recurso dar-se-á em
18/11/2021, tendo em vista os feriados nacionais e estaduais,
conforme pode se conferir na Resolução-GP – 78/2021 de
15/10/2021, código de validação: E3402EE140, do Presidente do
Tribunal de Justiça do Maranhão.

Sendo assim, o instrumento recursal encontra-se


tempestivo.

SÍNTESE DA DEMANDA

Cuida-se de ação de improbidade administrativa


proposta pelo Ministério Público do Maranhão, promotoria de São
Raimundo das Mangabeiras, em desfavor de RODRIGO BOTELHO MELO
COELHO, Ex-Prefeito do Município de São Raimundo das

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Mangabeiras pelo suposto cometimento de ato de improbidade
administrativa prevista no art. 11, SEM PRECISAR QUAL INCISO,
bem como das penalidades do art.12, III, da Lei 8.429/92.

O pilar principal para a ação de improbidade foi a


CÓPIA DO PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO STRICTO SENSU Nº 000330-
014/2017 instaurado a partir de representação formulada pela
Sra. Evanilde Sousa Guimarães, a qual questiona a contratação
irregular, sem concurso público, da Sra. Edina Cirino Alves dos
Reis.

O MP argumentou que a partir desse processo, o mérito


fora estendido a todo âmbito municipal, visto que o pedido
transcendeu o campo individual, atingindo os princípios da
legalidade, moralidade, eficiência, proporcionalidade e do
concurso público.

As irregularidades apontadas consistiram na


contratação de servidores sem concurso público; a não
observância da Lei Municipal nº 16, que trata da necessidade
temporária ou de interesse público, visto a diversidade de
cargos contratados não se amoldar a presente Lei; e a
excepcionalidade das contratações superaram o período de 02
(dois) anos, sendo desproporcional e desrazoável.

Logo após sustenta que há responsabilidade do ora


Demandado, e por isso imputa ao gestor as condutas previstas no
art. 11, SEM PRECISAR QUAL INCISO, bem como das penalidades do
art.12, III, da Lei 8.429/92.

Em seguida, fora proferido Decisão (ID nº 32171231,


pág. 1), acolhendo a narrativa do MP e determinando a Citação
do ora Apelante para apresentar contestação no prazo legal.

Atendendo a determinação legal, o senhor RODRIGO


BOTELHO MELO COELHO apresentou Contestação (ID nº 52141203)
quanto à inépcia da petição inicial e no mérito demonstrou por
meio de fatos e fundamentos a inexistência de ato de
improbidade administrativa.

Ato contínuo, o douto Magistrado a quo determinou ao


parquet para se apresentar Réplica à Contestação sobre o feito
“considerando a obrigatoriedade de sua atuação como fiscal da
lei”, tendo se manifestado pelo recebimento da inicial.

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O Ministério Público apresentou sua manifestação por
meio do ID nº 53305292, no qual se posiciona pela permanência
de seus pedidos na inicial.

Para surpresa do Apelante, o douto Magistrado julgou


nos seguintes termos:

[...]. A parte autora apresentou aos autos


documentação suficiente ao esclarecimento dos
fatos, o que já foi deliberado na decisão do ID
32171231 (art. 17, §6º, da Lei n. 8.429/92).
NÃO ACOLHO a preliminar de inépcia da inicial.
No Procedimento Administrativo nº. 330-
014/2017, que serviu de investigação preliminar
promovida pelo Ministério Público anteriormente
ao ajuizamento da ação, consta o Ofício nº.
105/2018, datado de 22 de junho de 2018
(ID26095022, págs. 5/6), elaborado pelo réu na
condição de Prefeito do Município de São
Raimundo das Mangabeiras/MA, no qual é
apresentada lista de servidores contratados
pela Administração Pública sob a alegação de
desempenho de atividades temporárias para
necessidades excepcionais considerando-se a
avaliação consolidada do volume da demanda dos
serviços públicos voltados à educação, saúde e
assistência social do primeiro ano de gestão
administrativa e é requerido prazo de 30 dias
para apresentação de cronograma para abertura
de concurso público.
Não houve comprovação da temporariedade e
excepcionalidade das contratações elencadas,
que são relacionadas a cargos vinculados a
atividades permanentes da rotina da
Administração Pública, como professor, zelador,
motorista, merendeira, enfermeiro e médico (ID
26095022, págs. 7/14) – arts. 1º. e 2º. da Lei
Municipal nº. 16/09 c/c art. 373, II, do Código
de Processo Civil. Apesar de a Lei Municipal
nº. 16/09 (ID 26095580, págs. 12/13) prever a
contratação temporária, os requisitos nela
previstos não foram atendidos, maculando a
atuação administrativa do réu.
Por intermédio dos ofícios acostados no ID
26095023 - págs. 4 e 10, o Ministério Público
solicitou informações complementares a respeito
da realização do certame para o provimento de

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cargos públicos municipais, nos moldes da
Constituição da República.
Manteve-se o réu inerte diante das requisições
ministeriais. O réu geriu o Poder Executivo do
Município entre os anos de 2017 e 2020 e não
comprovou a realização nem mesmo de atos
preparatórios para a efetivação do concurso
público, a fim de regularizar o quadro de
pessoal da Administração Pública, limitando-se
a contratar agentes públicos sem realizar
tampouco processo seletivo simplificado,
violando os princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade e publicidade (art.
37, caput, c/c inciso II, da Constituição
Federal c/c art. 4º. da Lei nº. 8.429/92 c/c
arts. 2º. e 4º. Da Lei Municipal nº. 16/09).
Não é válida a argumentação de que na condição
de Prefeito Municipal o réu não executava atos
de gestão, deixando para a competência dos
Secretários Municipais o impulsionamento de
processo administrativo para viabilização do
concurso público. Na condição de Chefe do
Executivo, o réu possui não somente
competência, mas o dever de acompanhar e
ordenar o regular desenvolvimento dos trabalhos
relacionados à regularização do quadro
funcional como a realização de concurso
público, conforme se comprometeu no ofício
expedido ao Ministério Público (ID 26095022,
págs. 5/6).
O art. 11 da Lei nº. 8.429/92 não apresenta os
requisitos de dano ao erário ou enriquecimento
ilícito para a caracterização do ato de
improbidade administrativa que atente contra os
princípios da Administração Pública, mas sim a
prática de qualquer ação ou omissão que viole
os deveres de honestidade, imparcialidade,
legalidade, e lealdade às instituições,
destacando o inciso I como ato de improbidade:
praticar ato visando fim proibido em lei ou
regulamento ou diverso daquele previsto, na
regra de competência.
O princípio da legalidade restou violado na
medida em que as normas que regem a contratação
de pessoal pela Administração Pública foram
subjugados pela mera liberalidade do ex-gestor
para o provimento dos cargos públicos.

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O princípio da impessoalidade foi frustrado com
a nomeação indiscriminada sem a realização de
concurso público ou processo seletivo
simplificado com regras objetivas, em prejuízo,
também, ao princípio da igualdade pela falta de
concorrência igualitária.
O princípio da moralidade foi violado, pois
contratações precárias e indiscriminadas fora
das disposições legais e constitucionais
atestam falta de padrão ético de conduta para
que se assegure o exercício da função pública
de forma a atender às necessidades
coletivas[1].
O princípio da publicidade, que tem por escopo
conferir transparência à gestão da coisa
pública e permitir o seu controle interno e
externo, não foi atendido pela falta de
transparência no trato das contratações de
pessoal. [...].
A falta de dotação orçamentária em determinado
ano não é empecilho para que se providencie a
inclusão das despesas com o certame no ano
consecutivo. As restrições à realização de
despesas advindas da Lei Complementar nº 173/20
são muito posteriores ao início das
irregularidades perpetradas, não tendo o condão
de apagar os vícios anteriores na condução da
coisa pública.
A Portaria de instauração do Procedimento
Administrativo nº. 330-014/2017 foi assinada em
8 de maio de 2017, momento no qual já haviam
notícias de irregularidades nas contratações
precárias de pessoal por parte do Município, o
que foi mantido durante toda a gestão do réu.
A toda evidência, as provas nos autos dão conta
de que, na condição de gestor público, o réu
fez da exceção da contratação temporária a
regra na Administração Pública Municipal,
contrariando os dispositivos constitucionais e
legais que tratam do concurso público, restando
caracterizada a prática de improbidade
administrativa.
Com fundamento nos arts. 11, inciso I, art. 12,
inciso III, da Lei nº. 8.429/92, ACOLHO os
pedidos iniciais.
CONDENO RODRIGO BOTELHO MELO COELHO (CPF n.
747.144.653-68) às seguintes sanções:

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
a) Suspensão dos direitos políticos pelo
prazo de três anos;
b) Multa civil de 30 (trinta) vezes da
remuneração percebida na condição de agente
público durante o período de 2017/2020, lapso
em que chefiou o Poder Executivo de São
Raimundo das Mangabeiras, MA;
c) Proibição de contratar com o Poder Público
ou de receber benefícios ou incentivos fiscais
ou creditícios direta ou indiretamente ainda
que por intermédio da pessoa jurídica da qual
seja sócio majoritário pelo prazo de 3 (três)
anos;
d) Perda de eventual função pública que
porventura esteja exercendo;
CONDENO também o réu RODRIGO BOTELHO MELO
COELHO (CPF n. 747.144.653-68) a arcar com as
custas processuais.
Após o trânsito em julgado:
a) CALCULE-SE o valor das custas e INTIMEM o
réu para pagamento;
b) INTIME-SE o Município de São Raimundo das
Mangabeiras, MA;
c) VISTA ao Ministério Público;
d) oportunamente, ARQUIVEM-SE, observando as
baixas e anotações necessárias.
INTIMEM-SE.
São Raimundo das Mangabeiras, MA.
Juiz HANIEL SOSTENIS RODRIGUES DA SILVA
Titular da Vara Única de São Raimundo das
Mangabeiras

Contudo, Excelência, esses argumentos não devem


prevalecer, devendo ser reformada a sentença pelos fundamentos
a seguir alinhados.

OS FUNDAMENTOS DA REFORMA (RAZÕES RECURSAIS – ART. 1.013 do


CPC)

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I. DAS PRELIMINARES (art. 939 e §1º do art. 1009 do CPC e
efeito expansivo de recorribilidade)

Foi apresentado na Contestação (ID nº 52141203) fatos


e fundamentando quanto à inépcia da petição inicial do
Ministério Público, após o juízo receber a ação de improbidade
administrativa, conforme Decisão contido no ID nº 32171231,
pág. 1.

Conquanto os vastos fatos e fundamentos inseridos na


Contestação, das preliminares da inépcia da petição inicial, o
juízo não acolheu os argumentos preliminares apresentados.

Contudo, o Eminente juiz não motivou sua decisão


sobre a ausência, no pedido do Ministério Público, quanto à
qual dos incisos do art. 11 da LIA foi ou foram violado(s)
pelo ora Apelante.

Calha destacar que as sanções requeridas pelo MP são


graves e equivalentes as de ordem penal e o juízo ao não
enfrentar o mérito das preliminares da Contestação quanto à
não “tipificação” do pedido do MP e dos vários fundamentos
relacionados a diferenciação de atos de gestão e atos de
governo atinentes ao Ex-Prefeito, agente político à época,
leva a ação à total inépcia.

Isso porque o juiz não cumpriu à determinação contida


no inciso IV, §1º, art. 489 do CPC, pois não enfrentou todos
os argumentos contidos nas preliminares da Contestação.

Além do que, como se percebe, o juízo decidiu extra


petita quanto ao art. 11 da LIA, pois o Ministério Público não
definiu em seu pedido qual o inciso do referido artigo foi
violado pelo ora Apelante, conforme frisado anteriormente,
tornando novamente nula a sentença.

Precioso trazer à baila, entendimentos do Ministro


Gilmar Mendes que em diversos julgados seus traz à tona o
chamado "Anspruch auf rechtliches Gehör" (pretensão à tutela
jurídica) do direito alemão, no qual destaca que essa pretensão

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envolve não só o direito de manifestação e o direito de
informação sobre o objeto do processo, mas também o direito de
ver os seus argumentos contemplados pelo órgão incumbido de
julgar.

Daí afirmar-se, correntemente, que a pretensão à


tutela jurídica e administrativa, que corresponde exatamente à
garantia consagrada no art. 5º, LV, da Constituição
(contraditório e ampla defesa), contém os seguintes direitos:

1) direito de informação (Recht auf Information), que


obriga o órgão julgador a informar à parte contrária dos
atos praticados no processo e sobre os elementos dele
constantes;
2) direito de manifestação (Recht auf Äusserung), que
assegura ao defendente a possibilidade de manifestar-se
oralmente ou por escrito sobre os elementos fáticos e
jurídicos constantes do processo;
3) direito de ver seus argumentos considerados (Recht auf
Berücksichtigung), que exige do julgador capacidade,
apreensão e isenção de ânimo (Aufnahmefähigkeit und
Aufnahmebereitschaft) para contemplar as razões
apresentadas (Cf.Pieroth e Schlink, Grundrechte -
Staatsrecht II, Heidelberg, 1988, p. 281; Battis e Gusy,
Einführung in das Staatsrecht, Heidelberg, 1991, p. 363-
364; Ver, também, Dürig/Assmann, in: Maunz-Dürig,
Grundgesetz-Kommentar, Art. 103, vol IV, nº 85-99).

Dessa forma, por contraditório, há que se entender


não só o direito a manifestação e o direito de informação sobre
o objeto do processo, mas também o direito de ver os seus
argumentos contemplados pelo órgão incumbido de julgar, o que
não se presenciou na Sentença do juiz.

E nessa laço, o juízo ficou inerte quanto à questão


levantada de quem DEVERIA INICIAR os pedidos para realização de
concursos, frente às legislações federias e municipais,
jurisprudências de tribunais e a documentação anexada ao
processo, sendo que todas foram apresentadas nas preliminares,
ou seja, o juiz apenas invocou, na sua fundamentação, motivos
gerais que se prestam a fundamentar qualquer outra decisão, não
enfrentando os argumentos do caso concreto.

Enfim, a Sentença do juízo não cumpriu à determinação


contida nos incisos III e IV, §1º, art. 489 do CPC, pois não
enfrentou todos os argumentos contidos nas preliminares da
Contestação, invocou motivos que se prestam a fundamentar

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qualquer outra decisão e decidiu extra petita no tocante ao
pedido do MP quanto ao artigo 11 da LIA.

II. DOS FATOS NOVOS

Segundo art. 933 do CPC, o Relator da apelação deve


considerar a ocorrência de fato novo superveniente à sentença
cujo fato constitutivo, modificativo ou extintivo do direito
possa ter influência no julgamento do mérito, devendo o
julgador considerar no momento da prolação de sua decisão ou
voto, sob pena de decisão citra petita.

Sendo assim, podemos enumerar os seguintes fatos


novos que não foram considerados na sentença e que aniquilam
as pretensões do Ministério Público em relação ao Apelante,
vejamos:

II. I - DA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE


6.678 DISTRO FEDERAL (Art. 11 e inciso III, art. 12 da Lei de
Improbidade Administrativa)

O Autor da ação pleiteia a aplicação das sanções


previstas no artigo 12, III, da Lei nº. 8.429/92. Ou seja,
pede que o Apelante seja condenado ao “ressarcimento integral
do dano, se houver, perda da função pública, suspensão dos
direitos políticos de três a cinco anos, pagamento de multa
civil de até cem vezes o valor da remuneração percebida pelo
agente e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou
indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da
qual seja sócio majoritário, pelo prazo de três anos.”

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De certo que o Juízo em sua sentença (ID nº 54704243)
condenou o ora Apelante a suspensão dos direitos políticos
pelo prazo de três anos; multa civil de 30 (trinta) vezes a
remuneração; proibição de contratar com o Poder Público, perda
de eventual função pública que esteja exercendo e arcar com
custas processuais.

Contudo, diante do precedente contido na ADI nº 6.678


DF, percebe-se fatalmente que tais penalidades não devem ser
aplicadas ao Ex-prefeito, isso porque recente e precisamente
em 01/10/2021 a nossa Corte Máxima se pronunciou em Medida
Cautelar na Ação de Inconstitucionalidade justamente quanto à
aplicação do inciso III, art. 12 da LIA, nos seguintes termos:

DA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DE


INCONSTITUCIONALIDADE 6.678 DISTRO FEDERAL
[...].
Ante o exposto, defiro a medida cautelar
requerida, ad referendum do Plenário (art. 21,
V, do RISTF; art. 10, § 3º, Lei 9.868/1999),
com efeito ex nunc (art. 11, § 1º, da Lei
9.868/99), inclusive em relação ao pleito
eleitoral de 2022, para:
(a) conferir interpretação conforme à
Constituição ao inciso III do artigo 12 da Lei
8.429/1992, estabelecendo que a sanção de
suspensão de direitos políticos não se aplica a
atos de improbidade culposos que causem danos
ao erário; e
(b) suspender a vigência da expressão
“suspensão dos direitos políticos de três a
cinco anos” do inciso III do art. 12 da Lei
8.429/1992.
Comunique-se, com urgência.
Na sequência, inclua-se em pauta para o
julgamento colegiado do referendo da medida
cautelar em Plenário Virtual.
Publique-se.
Brasília, 1º de outubro de 2021. (Grifou-se).
Ministro GILMAR MENDES

Nesse precedente, recente e oportuno do STF,


percebemos na fundamentação do voto do Ministro Gilmar Mendes,
a aplicação da correta exegese e justiça aos agentes públicos
frente à LIA.

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Vale destacar os seguintes trechos no voto do
Excelentíssimo Ministro Gilmar Mendes:

[...] Isso significa que todo o sistema de


persecução e tutela da probidade administrativa
deve observar o pressuposto hermenêutico de que
a suspensão de direitos políticos constitui
exceção no ordenamento constitucional, de modo
que sua aplicação deve reservar-se a situações
específicas elencadas na Constituição e
descortinadas pelo legislador ordinário à luz
dessa premissa.
[...]
Infere-se, portanto, a existência de dois
parâmetros constitucionais relevantes para
conformação do tema pelo legislador ordinário:
(1) a suspensão dos direitos políticos
constitui exceção no sistema constitucional
pátrio; (2) a suspensão dos direitos políticos,
enquanto penalidade aplicada em virtude da
prática de atos de improbidade, deve ser objeto
de gradação pelo legislador.
[...]
Nesse contexto, é forçoso reconhecer, em exame
preambular típico das tutelas provisórias, que
há, nas normas impugnadas nesta ação direta,
excesso do legislador e, portanto, violação ao
princípio da proporcionalidade.
[...]
A diferenciação apenas temporal da penalidade
de suspensão de direitos políticos, nesta
análise preliminar, não atende ao dever de
gradação preconizado pela Constituição Federal.
Há na retirada desses direitos fundamentais,
ainda que temporária, gravidade inerente e
dissociada do lapso supressivo. Ou seja,
independentemente do tempo de suspensão, a mera
aplicação dessa penalidade, a depender da
natureza do ato enquadrado, afigura-se
excessiva ou desproporcional.

Assim, o Constituinte, ao condicionar a sanção


de suspensão de direitos políticos em
decorrência da prática de atos de improbidade à
implementação de gradação legal, exigiu não só
a ponderação temporal, mas também o cotejo da
gravidade da própria conduta repreendida.

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Em outros termos, a gradação apenas
quantitativa não é suficiente, considerada a
baliza constitucional, quando são inseridos no
mesmo contexto sancionatório condutas
qualitativamente diversas.
[...]
Ao adentrar o campo dos crimes contra a
Administração Pública, cuja afinidade temática
com os atos de improbidade é inegável, a
incoerência permanece. Tendo em vista que a
dosimetria da pena inicia-se no mínimo legal, é
possível verificar que a suspensão de direitos
políticos das condutas ímprobas em tela é
superior aos crimes de peculato (Código Penal,
artigo 312), concussão (Código Penal, artigo
316) e corrupção passiva (Código Penal, artigo
317).
Isso significa que o agente público que
“celebrar contrato de rateio de consórcio
público sem suficiente e prévia dotação
orçamentária, ou sem observar as formalidades
previstas na lei” (art. 10, inciso XV, da Lei
8.429/1992), ainda que culposamente, poderá ter
os direitos políticos suspensos por período
superior ao cidadão condenado pelo desvio de
verbas públicas.
Mesmo no tocante às hipóteses de
inelegibilidade instituídas pela Lei
Complementar 135/2010, que notoriamente
recrudesceu os requisitos mínimos de acesso aos
cargos eletivos, a inconsistência dos preceitos
impugnados nesta ação direta é evidente. Basta
observar que apenas “ato doloso de improbidade
administrativa que importe lesão ao patrimônio
público e enriquecimento ilícito” implica o
decote do direito político relativo à
elegibilidade (art. 1º, alínea “l”).
É dizer, o próprio legislador ordinário
considerou que apenas atos dolosos e de maior
gravidade ensejam a suspensão parcial do
conjunto de direitos políticos do cidadão.
Neste momento processual preambular, não há
como cogitar-se, mesmo em face dos critérios
adotados pelo legislador em sua tarefa de
conformação, que as condutas ímprobas culposas
e aquelas enquadradas no art. 11 da Lei
8.429/1992 revestem-se de gravidade apta a

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justificar a supressão dos direitos políticos
do cidadão apenado.
[...]
Com efeito, a tutela do erário e da probidade
administrativa não justifica, nos casos de atos
de improbidade culposos e das condutas
elencadas no artigo 11 da Lei 8.429/1992, a
supressão dos direitos fundamentais do cidadão
relativos à participação política.
[...]
O projeto de lei, na forma como aprovado no
Senado Federal – resta agora a anuência da
Câmara dos Deputados às alterações no texto -,
exclui a forma culposa dos atos de improbidade
que causam dano ao erário e suprime a
possibilidade de aplicação da sanção de
suspensão dos direitos políticos aos atos de
improbidade que atentem contra os princípios da
administração pública.
[...]
Dessa forma, é imperioso reconhecer, em sede de
cognição sumária, a plausibilidade do direito
alegado, no que demonstrada a incompatibilidade
da aplicação da penalidade de suspensão de
direitos políticos a atos culposos de
improbidade administrativa que causem lesão ao
erário (art. 12, inciso II, da Lei 8.429/1992),
bem como a atos de improbidade que atentem
contra os princípios da administração pública
(art. 12, inciso III, da Lei 8.429/1992).
Grifou-se.

Veja Excelência que o Apelado de longe não cometeu


nenhum ato doloso ou culposo e muito menos danos ao erário,
conforme se demonstrou e comprovou exaustivamente na
CONTESTAÇÃO, conforme fatos e fundamentos anexados.

Ou seja, a improbidade é algo que vai além da mera


ilegalidade, é algo desleal, desonesto e de completa má-fé.
Neste caso, inexiste ato de improbidade administrativa, pois
tal ato constitui, no máximo, mera irregularidade sem
caracterização do elemento subjetivo. Ora, ainda que houvesse
qualquer irregularidade formal, não induz, necessariamente, a
qualquer conduta culposa, dolosa ou de má-fé, e nem mesmo
benefício próprio, tendo em vista diversas variáveis
existentes.

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Para que efetivamente se pretenda apurar um eventual
desvio no bojo da lei de improbidade administrativa, é
necessário que haja a demonstração da conduta específica do
agente, e, traçar com esta ao menos indício de materialidade
dos fatos constantes na acusação com os elementos da
tipicidade, nexo de causalidade, e outros que não constam na
peça do Autor da ação de improbidade.

II. II - DA SUPERVENIÊNCIA DA LEI Nº 14.230/2021 E


SUA RETROATIVIDADE

Primeiramente cabe destacar que a Lei nº 14.320/2021


revogou expressamente diversos artigos da Lei 8.429/1992,
destacando-se dentre eles a revogação expressa da improbidade
culposa; o INCISO I do art. 11 da LIA e a definição das
condutas que eram exemplificativas do artigo 11, passando a
ser agora numerus clausus, ou seja, não mais se tratando de
incisos de meras exemplificações de condutas ímprobas
definidas antes na redação da LIA, pois foi suprida a
conjunção aditiva “e” e substituído o termo “notadamente”,
todos da redação anterior, deixando assim as condutas
possíveis de enquadramento típico de numeres clausus.

Essas mudanças são de extrema relevância para o caso


presente do ora Apelante, pois estamos diante de um fato novo
que veio a se agasalhar a situação já defendida desde as
preliminares da Contestação e defendidas aqui nas preliminares
dessa Apelação no tocante a não caracterização pelo parquet de
qual conduta o Apelante se enquadrava nos incisos do artigo 11
da LIA, quando do seu pedido, sendo certo que o juízo decidiu
extra petita declinando o inciso I, do art. 11 da LIA como
condenação ao Ex-prefeito, e agora diante da nova Lei nº
14.320/2021 temos uma clara falta de tipicidade do fato
(impossibilidade jurídica do pedido).

Após adentrarmos nesse escopo inicial, é necessário


demonstrar agora como os precedentes do Supremo Tribunal
Federal e do Superior Tribunal de Justiça já entendem, a certo

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tempo, quanto à possibilidade da retroatividade de leis mais
benéficas no direito administrativo sancionador.

É certo que o berço para essa possibilidade está


contido no artigo 5º, inciso XL, da CF, pois as garantias
penais, por simetria, se aplicam ao direito administrativo
sancionador, exemplo disso é o entendimento do Ministro
Alexandre de Moraes no julgamento da admissão da repercussão
geral no recurso extraordinário com agravo nº 1.175.650 –
Paraná.

É fato que o Direito Administrativo Sancionador nasce


e se alimenta de muitos princípios orientadores do Direito
Penal e a proximidade desse direito com as implicações da Lei
de Improbidade Administrativa já é pacífica na doutrina e na
jurisprudência, entendendo-se quase unas as implicações
repressoras e punitivas do Direito Penal e de improbidade. Ou
seja, é inegável a incidência da retroatividade da lei mais
benigna.

Nesse passo, vale transcrever o voto do Ministro


Gilmar Mendes na Reclamação nº 41.557/SP, julgado em
15/12/2020, publicação DJE-045, em que o emitente ministro
acolhe a aplicabilidade do direito administrativo sancionador
ao campo da improbidade administrativa:

[...]
‘A unidade do jus puniendi do Estado obriga a
transposição de garantias constitucionais e
penais para o direito administrativo
sancionador. As mínimas garantias devem ser:
legalidade, proporcionalidade, presunção de
inocência e ne bis in idem”. (OLIVEIRA, Ana
Carolina. Direito de Intervenção e Direito
Administrativo Sancionador. 2012. P. 241).
A assunção desse pressuposto pelo intérprete,
principalmente no tocante ao princípio do ne
bis in idem, resulta na compreensão, como será
observado, que tais princípios devem ser
aplicados não somente dentro dos subsistemas,
mas também e principalmente na relação que se
coloca entre ambos os subsistemas – trata-se
aqui justamente de uma baliza hermenêutica para
a qualidade da relação’.”

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Como se presencia, tal sistemática dos princípios
constitucionais do Direito Administrativo Sancionador ao
terreno da improbidade administrativa já foi inclusive
incorporado no nosso sistema jurídico, por meio do § 4º do
artigo 1º da nova redação da lei de improbidade, lei nº
14.230/2021.

Art. 1º O sistema de responsabilização por atos


de improbidade administrativa tutelará a
probidade na organização do Estado e no
exercício de suas funções, como forma de
assegurar a integridade do patrimônio público e
social, nos termos desta Lei. (Redação dada
pela Lei nº 14.230, de 2021).
[...].
4º Aplicam-se ao sistema da improbidade
disciplinado nesta Lei os princípios
constitucionais do direito administrativo
sancionador. (Incluído pela Lei nº
14.230, de 2021).

Ademais como afirmamos anteriormente, os órgãos de


superposição (STF e STJ) já possuem esse entendimento, sendo
oportuno transcrevermos agora precedente do STJ para
calcificarmos nossas fundamentações:

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO


ORDINÁRIO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ENUNCIADO
ADMINISTRATIVO 3/STJ. PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA.
NÃO OCORRÊNCIA. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1.
A sindicância investigativa não interrompe
prescrição administrativa, mas sim a
instauração do processo administrativo. 2. O
processo administrativo disciplinar é uma
espécie de direito sancionador. Por essa razão,
a Primeira Turma do STJ declarou que o
princípio da retroatividade mais benéfica deve
ser aplicado também no âmbito dos processos
administrativos disciplinares. À luz desse
entendimento da Primeira Turma, o recorrente
defende a prescrição da pretensão punitiva
administrativa. 3. Contudo, o processo
administrativo foi instaurado em 11 de abril de
2013 pela Portaria n. 247/2013. Independente da
modificação do termo inicial para a instauração
do processo administrativo disciplinar advinda
pela LCE n. 744/2013, a instauração do PAD

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ocorreu oportunamente. Ou seja, os autos não
revelam a ocorrência da prescrição durante o
regular processamento do PAD. 4. Agravo interno
não provido. (STJ - AgInt no RMS: 65486 RO
2021/0012771-8, Relator: Ministro MAURO
CAMPBELL MARQUES, Data de Julgamento:
17/08/2021, T2 – SEGUNDA TURMA, Data de
Publicação: DJe 26/08/2021).

Logo, pela superveniência da impossibilidade jurídica


do pedido do Ministério Público, a presente ação deve, de
imediato, ser julgada pela improcedência.

II. III DO RECURSO REPETITIVO (RECURSO ESPEICAL Nº


1926832 – TO – 2021/0072095-8) - Lei que autoriza contratação
sem concurso afasta improbidade

Como ponto final dos fatos referentes a fatos novos


desse tópico II desta Apelação, trazemos o recurso presente na
1ª Seção do STJ que vai decidir sob o rito dos recursos
repetitivos a possibilidade da existência de lei municipal que
autoriza a contratação de servidor público sem prévia
aprovação em concurso público afastar o dolo genérico.

O Colegiado determinou a suspensão do processamento


dos recursos especiais e agravos em recurso especial que
versem sobre a mesma questão e que estejam pendentes de
apreciação nos tribunais de segunda instância ou em tramitação
no STJ.

Foram selecionados três processos para análise, REsp


1.926.832; REsp 1.930.054 e REsp 1.913.638, sendo que um deles
é referente à Acórdão do Tribunal de Justiça do Maranhão.

De modo resumido temos o seguinte voto:

A questão jurídica submetida ao Superior


Tribunal de Justiça cingese à possibilidade de
a existência de lei municipal que autoriza a

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contratação de servidor público sem a prévia
aprovação em concurso público afastar o dolo
genérico hábil à configuração do ato de
improbidade administrativa.
Essa questão controvertida de direito federal
foi efetivamente analisada no acórdão
recorrido, estando, pois, atendido o requisito
do prequestionamento dos dispositivos de lei
federal indicados como violados pela
recorrente.
Quanto à multiplicidade de demandas que versam
sobre esse mesmo tema, verifico que esse
pressuposto para a afetação também foi
satisfeito, pois, de acordo com o estudo
realizado pela Comissão Gestora de Precedentes,
por meio de consulta ao sistema de
monitoramento e agrupamento de processo
denominado "Athos", "é possível recuperar
aproximadamente 60 acórdãos proferidos por
Ministros das Primeira e Segunda Turmas,
contendo controvérsia destes autos" (e-STJ fls.
284/286).
A corroborar com esse caráter repetitivo, é de
se destacar que ambas as Turmas de Direito
Público já decidiram diversas vezes sobre a
presente controvérsia.
Ponderados esses elementos, verifico que o
tema, ainda não submetido ao regime dos
repetitivos, é relevante e que estão atendidos
os requisitos de admissibilidade, razão pela
qual INDICO O PRESENTE RECURSO ESPECIAL COMO
REPRESENTATIVO DA CONTROVÉRSIA, conjuntamente
com o REsp 1.891.836/SE e 1.926.832/TO, nos
termos do art. 1.036, §§ 5º e 6º, do CPC/2015,
c/c o art. 256-E, II, do RISTJ, a fim de que a
questão seja dirimida no âmbito da Primeira
Seção do STJ.
Determino, para tanto, a adoção das seguintes
providências:
a) delimitação da seguinte tese controvertida:
Possibilidade de a existência de lei municipal
que autoriza a contratação de servidor público
sem a prévia aprovação em concurso público
afastar o dolo genérico hábil à configuração do
ato de improbidade administrativa; b) suspensão
dos recursos especiais ou agravos em recursos
especiais em segunda instância e/ou no STJ

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fundados em idêntica questão de direito (art.
256-L do RISTJ);
c) comunicação, com cópia da decisão colegiada
de afetação, aos demais Ministros desta Corte
Superior e aos Presidentes dos Tribunais de
Justiça dos Estados e dos Tribunais Regionais
Federais;
d) vista dos autos ao Ministério Público
Federal para parecer, pelo prazo de 15 dias,
nos termos do art. 1.038, III, § 1º, do
CPC/2015, c/c o art. 256-M do RISTJ.
Após, voltem os autos conclusos para oportuna
inclusão em pauta.
É como voto.

Isso decorre de entendimentos já presentes no próprio


Superior Tribunal de Justiça, conforme se percebe do seguinte
excerto:

Contratação de servidores temporários sem


concurso público. “Nos termos da jurisprudência
desta Corte Superior de Justiça, a contratação
de servidores públicos sem concurso público
baseada na legislação local não configura
improbidade administrativa prevista no artigo
da Lei 8.429/92, por estar ausente o elemento
subjetivo (dolo), necessário para configuração
do ato de improbidade violador dos princípios
da administração pública. A propósito: AgRg no
REsp 1358567/MG, desta Relatoria, Primeira
Turma, DJe 09/06/2015; REsp 1.248.529/MG, Rel.
Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, Dje
18/09/2013.” AgInt no REsp 1330293/SP,
Rel.Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
TURMA, Julgado em 23/10/2018, DJe 31/10/2018).
(Grifou-se).

Assim sendo, temos mais um fato novo que requer


atenção dessa Egrégia Corte no trato do presente caso concreto
do ora Apelante.

III. DA INEXISTÊNCIA DE ATO DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVO

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Ainda que se supere a nulidade retratada – o que se
admite ad argumentandum- não se pode olvidar que o objetivo da
Lei de Improbidade é punir gestores desonestos. O que não é o
caso dos autos.

Explica-se.

É que na sentença fustigada, como já exaustivamente


comentamos nas preliminares desta Apelação é nula por não
cumprir à determinação contida nos incisos III e IV, §1º, art.
489 do CPC, pois o juízo não enfrentou todos os argumentos
contidos nas preliminares da Contestação; invocou motivos que
se prestam a fundamentar qualquer outra decisão e decidiu
extra petita no tocante ao pedido do MP quanto ao artigo 11 da
LIA.

Foi demostrado na Contestação que o ora Apelante não


realizava ou executava atos de gestão e que procedeu com
respeitos às normas de direito administrativo e de finanças da
melhor forma possível para atender ao pleito do Ministério
Público que deveria dosar e ponderar a realidade vivenciada na
municipalidade.

É certo que nosso ordenamento jurídico exige a


realização de concurso público para contratação de servidores,
mas também possui outros elementos que devem ser observados
para que tal realização de certames ocorra, inclusive permite
contratações temporárias de modo a relativizar a regra do
concurso para contratação de efetivos.

Foi apontado na Sentença que o Ex-Prefeito comandou a


municipalidade nos exercícios de 2017 a 2020 e que por isso
deveria ter realizado o concurso público a qualquer modo,
visto o período de 4 anos.

Só que tal vontade do Ministério Público refletida na


sentença do juízo não deve prosperar pelos fatos já defendidos
na contestação e que passaremos a reproduzir de forma mais
direta nessa Apelação.

Primeiro é necessário pontuar que qualquer início de


mandado requer ajustamento da administração frente à herança

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
que se recebe do agente político anterior, sendo certo que o
ano de 2017 foi ano de ajustes da máquina pública.

Em 2018 existiram limitações com despesa de pessoal,


tendo inclusive a municipalidade sido alertada pelo Tribunal
de Contas quanto a isso, conforme consta nos ID n(s)º 52141207
a 52141210, tendo em vista o atingimento do limite com
pessoal, sendo certo que o descumprimento ocasionaria pena de
crime fiscal. Tal fato foi destacado na contestação, mas não
foi enfrentado pelo juízo:

[...] E de forma visceral, calha demostrar que


a despesa com pessoal no exercício financeiro
de 2018 do Município de São Raimundo das
Mangabeiras estava próximo do limite
prudencial, conforme previsão contida na alínea
b, inciso III, art. 20 c/c o inciso II, §1º,
art. 59 da Lei de Responsabilidade Fiscal, o
que dê certo impossibilitava a realização de
concurso público, conforme conta no processo nº
2853/2018 TCE/MA e Certidões do TCE/MA de nº
2279/2017 (52,82% em despesa com pessoal),
2589/2020 (53,18% em despesa com Pessoal);
4566/2018 (despesa com pessoal em 51,36%);
9395/2018 (53,63% despesa com pessoal)

Em 2019, conforme consta nos documentos anexados na


contestação (ID nº 52141211) houve encaminhamento de circular
nº 01/2019 do Secretário Municipal de Administração e
Planejamento solicitando informações a todas as secretarias
para saber de possível demanda de servidores:

O Senhor Secretário Municipal de Administração


e Planejamento do Município de São Raimundo das
Mangabeiras [...].
Informa a todas as Secretarias que a Secretaria
Municipal de Administração e Planejamento –
SEAP, necessita de dados informativos sobre a
necessidade de recursos humanos a serem
arregimentados mediante provimento em regime
efetivo, indicando o quantitativo, formação ou
qualificação técnica necessária e agregado de
justificativa quando se julgar conveniente em
razão da especificidade do tema.
No mais, destaca-se que o prazo para o
recebimento de tais informações será até o dia
31.07.2019, como forma de se permitir o

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eficiente planejamento das ações tendentes à
resolução de déficit de pessoal.
[...]. Grifou-se.

Excelência, é necessário destacar que o trâmite para


realização de um concurso público não deve partir do prefeito,
mas sim dos secretários que possuem competência para exercê-la
nos moldes desenhado no modelo Federal, conforme se defendeu
na contestação e que não foi enfrentado pelo juízo de base.
Vejamos:

[...]
No mesmo trilhar o Demandante atribuiu toda a
responsabilidade ao ex-prefeito, de forma
indevida, pois este exerceu cargo político e
não de GESTÃO, no qual a mecânica deve ser
analisada sobre outra perspectiva, visto que
não era atribuição do Demandado apurar a
necessidade, quantidade, a forma de contratação
de servidores públicos para operacionalizar os
serviços, ou seja, essas ações são típicas
funções e atribuições dos Secretários de cada
Secretaria.
O que cabia por ação do ora Demandado era tão
somente analisar pedidos para realização de
concurso provenientes dos Secretários,
encaminhar ao setor de orçamento e planejamento
para verificação da possibilidade e existência
de recursos nas dotações orçamentárias e não
havendo recursos encaminhar proposta
consolidada de todos os pedidos das
Secretarias, por meio de projeto de lei
orçamentária, ao Poder Legislativo Municipal
para deliberação e aprovação de previsão em
peça orçamentária. Contudo, o impulso inicial
seria de cada Secretaria e não do ex-prefeito.
Na mesma nota, havendo e observando todas essas
diretrizes e após sanção da Lei é que se
iniciaria os devidos processos licitatórios
para selecionar por meio de procedimento
simplificado ou por concurso público os
aprovados a serem FINALMENTE nomeados e dado
posse pelos secretários.
Observe Excelência que esse é o procedimento
COMUM em todas os entes da Federação (União,
Estados e demais Municípios), inclusive entre
órgãos com autonomia orçamentária e financeira,

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como o Tribunal de Justiça, Tribunal de Contas
e o próprio Ministério Público, sendo que não é
o presidente desse órgãos que fazem a gestão
inicial do processo, e sim algum setor ou
departamento que possuem atribuições correlatas
de gestão de pessoas, não sendo certo e nem
razoável imprimir essa competência ao ex-
prefeito como consta na Ação de Improbidade
Administrativa.
Na União, conforme consta na própria peça do
Demandante, temos a Lei Federal nº 8.745/1993 e
no art. 5º do referido diploma, ENCONTRAM-SE OS
ELEMENTOS QUE AQUI DEFENDEMOS ao determinar que
as contrações somente poderão ser feitas com
observância das dotações orçamentárias
específica e mediante prévia autorização do
Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e
Gestão e do Ministro de Estado sob cuja
supervisão se encontrar o órgão ou entidade
contratante.
Ora é claro e evidente que o Demandado não
tinha como iniciar esse procedimento que é
atribuição primária dos Secretários do
Município, ou seja, todo o arcabouço da peça
inicial do parquet é indevido, pois deveria ter
perseguido outros atores e não o ex-prefeito
municipal.
DE IGUAL MANEIRA É A FORÇA NORMATIVA CONTIDA NO
ESTATUTO DOS SERVIDORES DO MUNICÍPIO DE SÃO
RAIMUNDO DAS MANGABEIRAS, LEI COMPLEMENTAR Nº
46/2005, [...] , EM QUE NO ART. 44 (DAS
COMPETÊNCIAS) E 45 SÃO BEM CLAROS AO
DELIMITAREM QUEM TEM COMPETÊNCIA PARA DAR POSSE
AOS SERVIDORES, TRANSCREVE-SE.
COMPETÊNCIA
Art. 44 – São competentes para dar posse:
I – O Prefeito, aos dirigentes dos órgãos
diretamente a ele subordinados;
II – O Secretário Municipal de Administração,
nos demais casos.

VERIFICAÇÃO DE REQUISITOS
Art. 45 - A autoridade que der posse, sob pena
de responsabilidade, verificará:
I – Se foram satisfeitas condições legais;
II – Se do ato de provimento consta a
existência de vagas com elementos capazes de
identificá-la:

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III – Se consta referência ao ato ou processo
em que for autorizada a posse, quando se tratar
da acumulação de cargos. Grifou-se.

Foi colacionado também na Contestação, entendimentos


do Tribunal de Contas do Estado e da União quanto ao tema de
competências de agentes políticos que se difere de
competências dos demais servidores e quanto o momento para
realização de concurso público frente à limitação orçamentária
e de pessoal:

Tribunal de Contas do Estado do Maranhão Diário


Oficial Eletrônico - Edição nº 1913/2021 São
Luís, 04 de agosto de 2021.
Processo nº 4023/2014 – TCE/MA
Entidade: Município de Marajá do Sena/MA
Relator: Conselheiro Substituto Melquizedeque
Nava Neto
Revisor: Conselheiro Edmar Serra Cutrim
Prestação de Contas Anual do Prefeito do
Município de Marajá do Sena.
[...].
24. Quanto à não apresentação da Lei municipal
nº 01, de 20 de maio de 2011, que autoriza a
contratação de servidores por tempo determinado
para atender à necessidade temporária de
excepcional interesse público, trata-se aqui
talvez de um equívoco da unidade técnica, posto
que basta consultar o arquivo digital
1.06.05.pdf para constatar que o diploma legal
faz parte da instrução do presente processo,
[...].
43. Os agentes políticos como os prefeitos
exercem funções governamentais conduzindo os
negócios públicos, decidindo e atuando nos
assuntos de sua competência. Não se pode
pretender que todas as informações e todos os
documentos contábeis e balanços gerais sejam
checados por prefeitos. [...].

Acórdão Tribunal de Contas da União nº


8674/2021 Segunda Câmara (Tomada de Contas
Especial, Redator Ministro Raimundo Carreiro)
Responsabilidade. Convênio. Agente político.
Legislação. Município. Competência. Secretário.
A comprovação de que os atos de gestão do
convênio foram praticados por secretário

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
municipal, conforme competência prevista em lei
municipal, afasta a responsabilidade do
prefeito pela utilização dos recursos
transferidos, mesmo que, na condição de agente
político, figure como signatário do ajuste.
Grifou-se.

Processo nº 9739/2018 - TCE/MA


DECISÃO PL-TCE Nº 285/2019
Vistos, relatados e discutidos estes autos,
referentes à consulta formulada pela Câmara
Municipal de São João Batista, por meio do seu
Presidente, Senhor Francisco de Assis Santos
Araujo, os Conselheiros do Tribunal de Contas
do Estado do Maranhão, com fulcro nos arts. 1°,
XXI, e 59, IV, da Lei nº 8.258, de 06 de junho
de 2005 (Lei Orgânica do Tribunal de Contas do
Estado), c/c os arts. 1°, XVII, 20, I, “p”, e
269, I e § 2º, do Regimento Interno do Tribunal
de Contas do Estado, reunidos em sessão
plenária ordinária, por unanimidade, nos termos
do relatório e voto do Relator, de acordo com o
parecer do Ministério Público de Contas,
decidem:
I) [...].
II) responder ao consulente que, fixado o dever
de a Administração prover seu quadro mediante
concurso público, não há obrigação legal de sua
realização quando o ente não dispuser de
crédito orçamentário e financeiro para arcar
com as despesas dele advindas.
Presentes à sessão os Conselheiros Raimundo
Nonato de Carvalho Lago Júnior (Presidente),
Raimundo Oliveira Filho, Álvaro César de França
Ferreira, João Jorge Jinkings Pavão, Edmar
Serra Cutrim, José de Ribamar Caldas Furtado
(Relator) e Joaquim Washington Luiz de
Oliveira, os Conselheiros Substitutos Antonio
Blecaute Costa Barbosa, Melquizedeque Nava Neto
e Osmário Freire Guimarães e o Procurador
Douglas Paulo da Silva, representante do
Ministério Público de Contas.Publique-se e
cumpra-se. Grifa-se.

Foi juntado também a LEI COMPLEMENTAR Nº 46/2005 (ID


nº 52141215 e 52141218) que define as competências de cada
pasta dos secretários de governo municipal e sendo assim, se

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não consideramos isso, estaremos tornando letra morta o
princípio da legalidade, concretizado nas referidas leis, e
desconsiderando também a questão da delegação de competência.

De forma visceral, temos inclusive jurisprudência do


Poder Judiciário do Maranhão que afasta as imputações
imprimidas ao Apelante e que foi apontado na Contestação,
vejamos:

SENTENÇA: Trata-se de AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR


ATO DE IMPROBIDADE promovida pelo MINISTÉRIO
PÚBLICO ESTADUAL em desfavor de MARIA DO
SOCORRO ALMEIDA WAQUIM, no bojo da qual se
pleiteia a condenação da requerida às
reprimendas do art. 12 da Lei 8.429/92, em
razão da eventual transgressão à norma de art.
11, caput, do mesmo diploma legal.

[...].

A mera subsunção de um fato à norma, aspecto


formal de um ato aparentemente ímprobo, merece
ser ponderado com os valores constitucionais.
Como destaca EMERSON GARCIA e ROGÉRIO ALVES: "à
atividade de concreção dos valores previamente
prestigiados pelo legislador, in abstrato,
devem ser opostos limites, isto sob pena de se
transmudar uma legitimidade de direito em uma
ilegitimidade de fato. É com este objetivo que
deve ser utilizado o princípio da
proporcionalidade na aplicação da Lei nº
8.429/1992. A sua utilização, no entanto, exige
que o operador do direito realize uma valoração
responsável da situação fática, o que garantirá
uma relação harmônica entre os fins da lei e os
fins que serão atingidos com a sua aplicação ao
caso concreto. Somente assim será possível
dizer que a lei restritiva de direitos
fundamentais manteve-se em harmonia com os
limites constitucionais, não incursionando nas
veredas da despropositada aniquilação desses
direitos". Portanto, nesse caso concreto,
percebe-se que a subsunção do fato à norma
causaria aplicação errônea da lei de
improbidade, merecendo, assim, ponderação com a
situação fática já narrada, a qual ficou
sobejamente demonstrada que, ante a ausência de

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prejuízos e má-fé por parte dos representados,
não se pode mencionar no caso em exame a
existência de desonestidade e ato de
improbidade administrativa, principalmente
quando a própria população encontra-se
beneficiada com o referido ato. 3.4 -
Inexistência de ato de Improbidade
Administrativa. [...]. Desta feita, após a
análise acurada dos meios de provas coligidos
aos autos, tem-se por demonstrado, com clareza
solar, que a promovida MARIA DO SOCORRO ALMEIDA
WAQUIM, na condição de Prefeita Municipal de
Timon (MA), não cometeu os atos ímprobos
fundamentados acima, já que o promovente não
demonstrou a má-fé. Decido Por todo o exposto,
e por tudo mais que dos autos consta, JULGO
IMPROCEDENTE O PEDIDO de condenação à requerida
MARIA DO SOCORRO ALMEIDA WAQUIM em razão da não
configuração de ato de improbidade, ante
ausência de danos ao erário, à Administração
Pública e à sociedade, conforme a fundamentação
mencionada. Publique-se a presente sentença no
Diário de Justiça Eletrônico. Registre-se.
Intimem-se. Timon/MA, 03 de setembro de
2014.PAULO ROBERTO BRASIL TELES DE MENEZES Juiz
de Direito titular da 1ª Vara Cível. Diário da
Justiça Eletrônico Disponibilização: 05/09/2014
Edição nº 166/2014 Publicação: 09/09/2014.

Essa jurisprudência do juiz de Timon-MA, trata


justamente sobre Ação Civil para que se realizasse concurso
público e sabiamente o juiz decidiu pela improcedência do
pedido do Ministério Público frente a ausência de prejuízos,
dolo, má fé, questão orçamentaria e que a própria sociedade
estava a se beneficiar das contratações, sob pena de um
periculum in mora reverso.

Não menos importante, foi apontado também na


contestação, que até hoje o próprio Estado do Maranhão utiliza
ainda hoje possui diversos servidores contratados por tempo
determinado, mesmo estando o atual governo em seu segundo
mandado e a mão pesada do Ministério Público parece que ainda
não visualizou o maior Ente, Estado, vejamos:

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
LEI Nº 10.678 DE 13 DE SETEMBRO DE 2017 -
DISPÕE SOBRE CONTRATAÇÃO. POR TEMPO
DETERMINADO, DE PESSOAL PARA ATENDER
NECESSIDADE TEMPORÁRIA DE EXCEPCIONAL INTERESSE
PÚBLICO NO ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO
PENITENCIÁRIA ESTADUAL. DIÁRIO DE 13/09/2017.

PORTARIA Nº 968, DE 04 DE JUNHO DE 2018.


O SECRETÁRIO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de
suas atribuições legais e tendo em vista o
disposto na Lei Estadual nº 6.915/97, suas
alterações e demais legislações vigentes,
RESOLVE:
Art. 1º. Constituir Comissão que irá proceder
às ações de supervisão e realização do Processo
Seletivo Simplificado para Contratação
Temporária de Professores para atuarem no
Programa de Educação de Jovens Agricultores
Familiares com Qualificação Profissional -
Projovem Campo Saberes da Terra, do quadro
temporário da Secretaria de Estado da Educação.

Em continuidade, no ano de 2020, último ano de


mandato do Apelante, tivemos em março a publicação da Lei
Complementar Nacional nº 173/2020, vedando a realização de
concurso público para todos entes frente ao período pandêmico
vivenciado mundialmente em decorrência do Coronavírus.

Excelência já percebemos que esforços foram feitos,


mas não existe mágica na Administração Pública, pois a gama de
leis e normas que norteiam o administrador são enormes e o
cumprimento de um pode ocasionar o descumprimento de outras e
responsabilização nos órgãos de controle como o Tribunal de
Contas.

Ou seja, a pretensão do parquet em seu pedido ao se


fundamentar no dolo genérico, cai por terra diante do
rompimento do nexo causal, seja porque não é atribuição do
prefeito iniciar ou mesmo contratar servidores públicos diante
das competências dos Secretários, seja diante de limitações
orçamentárias, seja diante de procedimentos, Circular nº
01/2019 (ID nº 52141211) que comprovam que a municipalidade
não estava inerte no pleito do Ministério Público, seja diante
da pandemia da Covid que impossibilitou realização de concurso

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
no exercício de 2020, conforme Lei Complementar Nacional nº
173/2020.

No caso presente, é claro e evidente que se trata de


questões complexas (orçamento, competência inicial,
participação do parlamento na aprovação das vagas, etc) pois
como dito exaustivamente, a competência primária sempre foi dos
Secretários, o Município estava próximo ao limite prudencial em
despesas com pessoal, em 2019 foi encaminhado ofício a todas
secretarias solicitando informações de carência de servidores
para se analisar a viabilidade da realização de concurso e em
2020 tivemos o período da Pandemia, ou seja, não existe JUSTA
CAUSA e O NEXO CAUSAL desde sempre está ROMPIDO, pois não
existiu culpa e muito menos dolo.

Excelência mais uma vez defendemos que para a


configuração do ato de improbidade administrativa é necessária
a presença do elemento subjetivo não sendo admitido confundir
com simples ilegalidade, tampouco a atribuição de
responsabilidade objetiva em sede de improbidade
administrativa.

Ao contrário do pontuado na sentença fustigada, a não


realização de concurso público, por si só, não ocasiona a
presença de elemento subjetivo para configuração de ato de
improbidade administrativa. Com efeito, é irrefragável a
necessidade de apreciação específica sobre a presença de dolo
na espécie.

Não é à toa que o entendimento jurisprudência em cada


vez mais explicado que em casos como o presente, não se
considera improbidade por si só a não realização de concurso,
como restou estabelecida na sentença.

Configura-se ato de improbidade administrativa


ofensivo aos princípios da Administração
Pública (art. 11, I, da Lei de Improbidade
Administrativa) a contratação direta de
diversas pessoas para prestação de serviços
públicos sem se tratar de hipótese excepcional
à realização prescindível de concurso público,
com a presença de dolo genérico evidenciado
pela reiteração das condutas no período
aproximadamente de dois mandatos eleitorais.
(TJMS. Apelação nº.0800288-36.2014.8.12.0026,

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
Bataguassu, 2ª Câmara Cível, Relator: Des.
Vilson Berteli, j 03/05/2018, p: 14/05/2018.

Como se observa do julgado acima, a má-fé é premissa


básica de um ato improbo, e como tal, deve estar sobejamente
comprovada, devendo o julgador “proceder à completa elucidação
dos fatos, com base no conjunto probatório produzido, não se
contentando com verdades fictas”, (Pedro Roberto Decomain, in
Improbidade Administrativa. São Paulo, Dialética, 2007,
p.299).

Mas o que consta da sentença exarada, é a conclusão


pela existência de improbidade, ou seja, violação profunda,
pela não realização de concurso, sendo certo que na sentença do
juízo este se quer ao menos dosou a realidade vivenciada pela
municipalidade, as exigências de outras normas de finanças e
administrativas que implicam na realização de concursos
públicos, ou seja, o juiz e Ministério Público nem se quer
observaram a regra matriz do artigo 22 da LINDB ao não
considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor,
julgando por convicção geral sem observar as diversas variáveis
aqui e na contestação já clareadas, colocando todos no mesmo
patamar de condutas dolosas, claramente presumindo a má-fé!

Em que pese se saiba acerca da necessidade de cautela


do juízo ao julgar matérias referentes a atos de improbidade e
da importância de diferenciação do que seria mera
irregularidade a violação profunda, o juízo condenou o ora
Apelante nas formas mais severas, sem apontar concretamente o
dolo, ou mesmo ultrapasse a mera irregularidade!

Sendo assim, requer-se a reforma da sentença, face a


não configuração do dolo ou mesmo da má-fé, ante a ausência de
elementos que comprovassem a presença dos mesmos, essenciais
para configuração do ato improbo. Devendo, portanto, ser o
Apelante absolvido.

Enfim, o rompimento do nexo causal é claro e fica


comprovado que não existiu omissão ou ação quanto à prática
pelo Apelante de qualquer conduta que possa resultar em crime
de improbidade administrativa.

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
IV DA INEXISTÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO E AUSÊNCIA DO ELEMENTO
SUBJETIVO

Foi destacado na contestação que a condenação do ora


Apelante pelas condutas dispostas no art. 11 e aplicação das
penas previstas no art. 12, inciso III da LIA, são indevidas.
Ora, é lição que se apreende até na porta do Fórum que o ato de
improbidade administrativa previsto no art. 11 da Lei 8.429/92
exige a comprovação do dano ao erário para que enseje a pena de
ressarcimento ao erário e a existência de dolo do agente, não
se admitindo a modalidade de culpa.

Excelentíssimo Relator, vale percorrer rapidamente a


questão de contratação de servidores sem concurso público, que
teve como ponto de partida a Lei Federal nº 8.745/1993, visto a
previsão contida no inciso IX do art. 37 da Constituição
Federal.

Pois bem, a norma acima tem sido reproduzida em


diversos Estados e Municípios, com as mudanças e peculiaridades
que possuem cada ente federal, sendo certo que se estabelecem
prazos de contratação e os contornos legais para realizar as
contratações.

Nisso, percebe-se que a referida Lei Federal insere


prazos de até (quatro) anos, podendo ser prorrogados.

E mais, é perceptível a exigência contida no art; 5º


do referido diploma que determina que as contrações somente
poderão ser feitas com observância das dotações orçamentárias
específica e mediante prévia autorização do Ministro de Estado
do Planejamento, Orçamento e Gestão e do Ministro de Estado sob
cuja supervisão se encontrar o órgão ou entidade contratante.

Ora, essas são as balizas básicas que envolta toda a


Administração Pública, sendo certo que cabe a cada ator sua
participação na gestão de pessoal em cada Secretaria.

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
Disso nos perguntamos: é correto e legal
responsabilizar, por meio da presente Ação Civil Pública de
Improbidade Administrativa, o ora Apelante por tais atos???

A resposta é direta e precisa, pois o Apelante era


agente político e conforme mostram os autos e documentos já
anexados na contestação, este não realizou os atos de remoção
da Representante, decorrente do processo administrativo STRICTO
SENSU Nº 000330-014/2017, ou contratação de servidores para a
Administração Municipal.

Ora, só por esse aspecto já se percebe a FRAGILIDADE


dos argumentos, fundamentos e pedidos da peça apresentada pelo
Ministério Público, devendo ser considerada INAPTA.

Em continuidade e sob outra perspectiva calha


destacar que se a lei municipal chegasse a ofender aos
princípios constitucionais, esta deve ser objeto de declaração
de inconstitucionalidade incidental ou direta para assim, ser
possível a aplicação da Lei de Improbidade Administrativa.

Ou seja, o parquet deveria ter atacado, caso entende-


se ilegal, a existência da própria Lei e não promover uma ação
de improbidade contra pessoa que não agiu com dolo e não era a
responsável pela contratação, remoção ou outro ato de GESTÃO
atribuído a outra pessoal. Vejamos como os Órgãos de
superposição julgam o assunto:

[...]
Contratação de servidores temporários sem
concurso público. “Nos termos da jurisprudência
desta Corte Superior de Justiça, a contratação
de servidores públicos sem concurso público
baseada na legislação local não configura
improbidade administrativa prevista no artigo
da Lei 8.429/92, por estar ausente o elemento
subjetivo (dolo), necessário para configuração
do ato de improbidade violador dos princípios
da administração pública. A propósito: AgRg no
REsp 1358567/MG, desta Relatoria, Primeira
Turma, DJe 09/06/2015; REsp 1.248.529/MG, Rel.
Napoleão Nunes Maia Filho, Primeira Turma, Dje
18/09/2013.” AgInt no REsp 1330293/SP,
Rel.Ministro BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA
TURMA, Julgado em 23/10/2018, DJe 31/10/2018).

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
Contratação de servidor público sem concurso.
Nos termos do entendimento sedimentado no
âmbito do Superior Tribunal de Justiça, a
contratação de servidores públicos sem concurso
público baseada em legislação local não
configura improbidade administrativa prevista
no art. 11 da Lei 8.429/92, por estar ausente o
elemento subjetivo (dolo), necessário para a
configuração do ato de Improbidade violador dos
princípios da Administração Pública. (REsp
1529530/SP, Rel. Ministro Benedito Gonçalves,
Primeira Turma, DJe 27/06/2016).

Configura-se ato de improbidade administrativa


ofensivo aos princípios da Administração
Pública (art. 11, I, da Lei de Improbidade
Administrativa) a contratação direta de
diversas pessoas para prestação de serviços
públicos sem se tratar de hipótese excepcional
à realização prescindível de concurso público,
com a presença de dolo genérico evidenciado
pela reiteração das condutas no período
aproximadamente de dois mandatos eleitorais.
(TJMS. Apelação nº.0800288-36.2014.8.12.0026,
Bataguassu, 2ª Câmara Cível, Relator: Des.
Vilson Berteli, j 03/05/2018, p: 14/05/2018.

Ação por improbidade administrativa por


contratação irregular de agentes públicos –
Caso que não ultrapassa a tênue linha entre a
mera ilegalidade e a improbidade administrativa
– Ausência de dolo, má-fé ou desonestidade –
Ato ímprobo não caracterizado – Precedentes do
C.STJ – Recurso provido. (TJSP; Apelação
0000082-28.2015.8.26.0415; Relator: Aliende
Ribeiro; Órgão julgador: 1ª Câmara de Direito
Público; Foro de Palmital – 2ª Vara; Data do
Julgamento: 28-05-2018; Data do Registro: 28-
05-2018. Grifou-se.

Pontua-se, assim, que para a condenação por atos de


improbidade administrativa, tipificados no art. 11 da LIA,
exige-se a comprovação do elemento subjetivo (dolo) do agente e
o nexo de causalidade entre a ação/omissão e o respectivo dano
ao erário.

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
E não é só! “Pois não basta, em princípio, apenas a
culpa leve por parte do agente ou do terceiro, exigindo-se a
conduta dolosa para a configuração da improbidade
administrativa”1.

Destarte, não há qualquer elemento nos autos que


indique que as supostas irregularidades apontadas, tenham sido
efetivadas por dolo do Apelante, pois este inclusive apresentou
toda documentação que estava disponível no Município, sem
nenhum intuito de omitir qualquer informação. ID (26095021 –
Pg.17 a 24) e ID (26095022 – Pg.7 a 14).

Em verdade, como dito alhures, o apelante apresentou


todos os documentos que estavam a sua disposição, quando
solicitados, documentos estes, juntados na contestação.

Tal circunstância afasta qualquer possibilidade de


tipificação de ato de improbidade administrativa, seja do art.
11 da LIA, como pretende a ilustre Promotoria de Justiça.

Não é à toa que o entendimento jurisprudência em cada


vez mais explicado que em casos como o presente, não se
considera improbidade por si só a ausência, ou irregularidade
na prestação de contas. Nesse sentido, é que dispõe o
paradigmático julgado do STJ a seguir emendado:

PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA. EX-PREFEITO. OMISSÃO NO DEVER
DE PRESTAR CONTAS. NÃO CONFIGURAÇÃO DO DOLO.
INEXISTÊNCIA DE ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. SENTENÇA CONFIRMADA. 1. O
assistente simples só ficará impedido de
interpor recurso quando a parte assistida, de
forma expressa, manifestar seu interesse em
não prosseguir com a lide. (Precedente do
STJ). 2. Ação de improbidade administrativa
proposta em decorrência da omissão na
prestação de contas de verbas repassadas pelo
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
- FNDE às unidades escolares do município de
Frei Inocência/MG, as quais deveriam
encaminhar a prestação de contas ao aludido
município, oportunidade em que o prefeito
apresentaria o relatório conclusivo dos

1 NEVES, Daniel Amorim Assumpção; OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende de. Manual de Improbidade
Administrativa. Rio de Janeiro: Forense, 2012, pág. 83

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referidos recursos ao FNDE. 3. Para fins de
subsunção da suposta conduta ímproba à norma
insculpida no art. 11 da Lei 8.429/92 é
indispensável a presença do dolo na conduta
praticada pelo agente público, consubstanciada
na livre e espontânea vontade de praticar atos
contrários aos deveres de honestidade,
legalidade e lealdade. 4. As provas
colacionadas ao feito foram insuficientes para
demonstrar o elemento subjetivo (dolo) na
conduta praticada pelo requerido, sendo certo
que a ausência de prestação de contas em razão
da negligência (culpa) daquele e de seus
assistentes não configura ato de improbidade
administrativa. 5. Uma vez não constatada a
presença de dolo ou a má-fé na ausência da
prestação de contas, o apelado não pode sofrer
sanção de forma objetiva por mera presunção.
6. Apelação não provida.(TRF-1 - AC:
00038623520114013813, Relator: DESEMBARGADORA
FEDERAL MONICA SIFUENTES, Data de Julgamento:
10/02/2015, TERCEIRA TURMA, Data de
Publicação: 20/02/2015) (Grifei).

Então, de onde retirar o dolo necessário para


configurar o ato como improbidade?

Frisa-se por final, que o juízo não enfrentou essa


matéria, realizando sua fundamentação de forma genérica, sem
enfrentar precisamente os pontos levantados na contestação,
prejudicando fatalmente o ora Apelante.

V. DA APLICAÇÃO DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE EM CASO


DE CONDENAÇÃO NAS PENAS DO ART. 12 DA LEI Nº 8.429/92

Além da sentença não apresentar elementos de


convencimento e motivação que possam ter levado à conclusão
pela existência de dolo, não se pode aceitar como proporcional
e razoável uma penalidade tão grave como a suspensão de

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direitos políticos por 3 (três) anos, aliada à proibição de
contratar com o Poder Público por três (anos), multa civil de
30 (trinta) vezes a remuneração percebida quando era agente
político, perda de eventual função pública e custas
processuais, se do outro lado, o ato tido como ímprobo foi a
falta da realização de concurso que diante de tantas variáveis
já destacadas nessa Apelação, tornaram impossível a realização
de certame até o final de mandato do ora Apelante, mesmo este
tenha suplantando suas atribuições, buscando à época meios
para resolução do problema. Por outro giro foi destacado
inclusive que nem ao menos restou demonstrado ser algo além de
mera irregularidade os pedidos do Ministério Público.

Desta direta e franca revelação dos fatos certamente


já se apercebeu o Exmo. Juízo das gravosas consequências que a
execução da sentença causaria.

Necessário lembrar que o ordenamento jurídico é


guiado por leis e princípios. Os princípios são utilizados
para guiar o magistrado, sendo a base de todo o direito.

Com base nos princípios, se aplica a norma-regra,


proporcionando ao julgador, um juízo de razoabilidade.

Nesse sentido, Humberto Ávila afirma:

O postulado da razoabilidade é utilizado na


aplicação da igualdade, para exigir uma relação
de congruência entre o critério distintivo e a
medida discriminatória. O exame da decisão
permite verificar que há dois elementos
analisados, critério e medida, e uma
determinada relação de congruência exigida
entre eles.

Denota-se assim que, entre o critério utilizado e a


medida adotada, deve haver razoabilidade que recomenda
harmonização das normas com suas condições externas de
execução e uma causa real justificante para a adoção de
qualquer medida, mais ainda se restritiva de direitos, e
portanto, uma relação de equivalência entre a restrição
imposta e o objetivo que a motivou deve se verificar.

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Adequação (1), a saber se o meio empregado contribui
para a promoção do fim almejado, necessidade (2), juízo que
permite aferir se o meio empregado é o mais suave dentre os
disponíveis, resguardando ao máximo os direitos dos
particulares, reflexo de objetivo inarredável desse mesmo
Estado e proporcionalidade em sentido estrito (3), posta como
verificação de que se promove mais vantagens que desvantagens,
considerada a obrigação estatal de promoção conjunta dos
preceitos constitucionais, são elementos que se ausentes
indicam que o ato não se dá em bases racionais, e que a ele
faltou uma indispensável ponderação acerca de todos os
interesses em jogo.

Não apenas interesse do Estado enquanto persecutor,


mas considerado todo o espectro amplo de sua presença na vida
pública, e mesmo não apenas o interesse do Estado, mas também
o interesse de particulares atingidos pela medida, cabendo, ao
fim e ao cabo ao intérprete, neste caso ao d. magistrado,
conciliar todos estes interesses permeando sua atividade
interpretativa de lógica e concordância prática, e sua
atividade decisória de fundamentação jurídica adequada à
intensidade da restrição imposta.

É desta pouca medida de razoabilidade e


proporcionalidade na condenação imposta que se ressente o
Apelante, porque a sanção aplicada carece de total adequação,
de necessidade e mesmo de proporcionalidade.

Isto porque nem ao menos houve comprovação de


repercussão negativa ao erário, nem mesmo prova de proveito
patrimonial obtido pelo Apelante, pelo simple fato de não ter
realizado concurso diante das dificuldades já depositadas na
Contestação e agora novamente nessa Apelação.

No mesmo sentido, a jurisprudência do C. STJ entende


pela aplicação dos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade:

ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. PERDA DA FUNÇÃO
PÚBLICA. PARÂMETROS DO ART. 12, PARÁGRAFO
ÚNICO, DA LEI 8.429/1992. SÚMULA 7/STJ. 1.
Cuida-se, originariamente, de Ação Civil
Pública em que o Ministério Público imputa ao
particular, ora agravado, a prática de ato de

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improbidade administrativa, consoante o art.
11 da Lei 8.429/1992, em virtude de
desobediência de decisão do Conselho da
Magistratura, que o suspendera do exercício
das funções de Escrivão de Paz do Distrito de
Marechal Bormann, no Município e Comarca de
Chapecó. 2. A sanção de perda da função
pública deve ser aplicada dentro dos
parâmetros disciplinados no art. 12, parágrafo
único, da Lei de Improbidade Administrativa,
quais sejam: a extensão do dano causado (não
apenas ao Erário, mas ao patrimônio público
lato sensu, isto é, aos bens e valores
materiais e imateriais da boa Administração) e
o proveito patrimonial obtido pelo agente. 3.
A simples configuração do ato ímprobo não
implica, necessária e automaticamente,
cominação da perda da função pública. 4.
Hipótese em que o Tribunal a quo, com base na
análise do conjunto fático-probatório dos
autos, entendeu que a condenação do particular
na perda da função pública seria desarrazoada
e desproporcional. 5. Modificar o
posicionamento adotado pela instância
ordinária envolve, in casu, a reapreciação das
provas carreadas nos autos, o que é inviável
em Recurso Especial, ante o enunciado da
Súmula 7/STJ. 6. Agravo Regimental não
provido. (STJ - AgRg no REsp: 949931 SC
2007/0097861-9, Relator: Ministro HERMAN
BENJAMIN, Data de Julgamento: 18/12/2008, T2 -
SEGUNDA TURMA, Data de Publicação: DJe
10/02/2010)

Por outro giro necessário destacar uma vez mais o


voto do Ministro Gilmar Mendes sobre os ditos dispositivos
constantes na sentença, no qual considerou inconstitucional o
inciso III, art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa,
conforme destacamos nas preliminares dessa Apelação subitem
II.I (DA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE 6.678
DISTRO FEDERAL (Art. 11 e inciso III, art. 12 da Lei de
Improbidade Administrativa).

Calha mencionar, outrossim, a Lei nº 13.655/2018 (Lei


de Introdução às Normas do Direito Brasileiro - LINDB) que
possui força normativa quanto a aplicação do direito.

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A nova lei implementou relevante inovação na
elaboração da composição da dosimetria das sanções a serem
aplicadas aos agentes públicos responsabilizados por desvio de
condutas no trato da coisa pública, ao estabelecer, como
requisito de sua aplicação, a individualização com as
circunstâncias administrativas e judiciais das sanções.

De agora em diante, o agente público condenado por


ato de improbidade administrativa terá, necessariamente, na
fase de feitura da dosimetria das sanções, ter em consideração
aspectos pessoais, funcionais, gravidade do fato, extensão do
dano, agravantes, atenuantes e seus antecedentes, O QUE NÃO SE
OBSERVOU NA SENTENÇA.

Ou seja, sabemos que a responsabilização por ato de


improbidade administrativa é de natureza penal, visto que
resulta na aplicação de sanções de natureza punitiva, sendo
assim, deve-se observar os mesmos critérios de aplicação das
penas previstas pelo Código Penal, quando este exige a
individualização e as considerações das circunstâncias
judiciais na sua dosimetria. Tudo isso está prescrito no art.
22 da LINDB.

Do artigo 22 da LINDB se extrai que o julgador deverá


considerar os obstáculos e as dificuldades reais do gestor,
fazendo uma análise referente ao alcance social e humanitário
do ato impugnado.

Ou seja, no que toca às dificuldades enfrentadas por


qualquer agente político ou gestor frente às exigências das
políticas públicas a seu cargo, deve-se na realidade isentá-lo
de uma responsabilidade sancionatória porque ao ponderar pela
continuidade e manutenção de serviços contratados frente
diversas outras variáveis, o gestor visa garantir direitos
fundamentais básicos como a vida, saúde, educação, LAZER,
princípio e regras orçamentarias, dentre outras. Assim,
eventuais procedimentos aplicados que não eram os ideais, ou os
mais adequados, abrem espaço para atender finalidades maiores,
o interesse público e o cumprimento de regras de finanças
pública.

Em razão disso, considerando que não houve qualquer


intenção subjetiva no cometimento das supostas infrações, não
era atribuição primária do Apelante, nem mesmo apropriação das

Rua dos Azulões, nº 01, Sala 416, Edifício Office Tower, Jardim Renascença, São Luís-MA, CEP: 65075-060
verbas públicas ou enriquecimento ilícito do requerido (ou até
mesmo lesão ao erário), tem-se que, ainda que seja imputada
alguma sanção ao mesmo – repise-se, o que não se acredita-,
esta deve ser proporcional à conduta praticada.

Então, não é outra a conclusão a que se chega, senão


de que manter-se a aplicação de suspensão dos direitos
políticos, proibição de contratar com o Poder Público, multa
civil, perda de eventual função pública, ao Recorrente ofende
aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade, uma
vez que a própria sentença reconhece que não houve comprovação
de proveito patrimonial pelo ora Apelante, o que torna inócua
a repercussão do suposto dano causado e que do ato não
enriqueceu o Recorrente, o que afasta qualquer justificativa
da grave pena por proveito patrimonial do agente público.

Logo, acaso se supere a nulidade arguida nas


preliminares desta Apelação – o que mais uma vez, diga-se, se
admite apenas por amor ao debate -, a reforma da sentença é
medida que se impõe, com a exclusão de suspensão dos direitos
políticos, proibição de contratar com o Poder Público, multa
civil, bem como a perda da função púbica, sob pena de
configurar violação também do artigo 12 e parágrafo único da
Lei nº 8.429/92 e ir de encontro com o precedente do Supremo
Tribunal Federal constante na MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE 6.678 DISTRO FEDERAL de 01/10/2021.

REQUERIMENTO FINAL

Ante ao exposto, requer que se conheça do recurso de


Apelação ora interposto e a ele dê provimento, para anular a
sentença ora vergastada, sob pena de ofensa aos incisos III e
IV, §1º, art. 489 do CPC, pois o juízo não enfrentou todos os
argumentos contidos nas preliminares da Contestação, invocou
motivos que se prestam a fundamentar qualquer outra decisão em
sua sentença e decidiu extra petita no tocante ao pedido do MP
quanto ao artigo 11 da LIA, conforme demonstrado no item I
desta Apelação.

Requer-se que seja julgada totalmente improcedente os


pedidos da ação e consequentemente a condenação da Sentença,
segundo art. 933 do CPC, considerando-se a ocorrência de fato

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novo superveniente à sentença cujo fato constitutivo,
modificativo ou extintivo do direito possa ter influência no
julgamento do mérito, devendo o julgador considerar no momento
da prolação de sua decisão ou voto, tendo em vista os fatos
elencados nos subitens II.I (MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE 6.678 DISTRO FEDERAL); II.II (DA
SUPERVENIÊNCIA DA LEI Nº 14.230/2021 E SUA RETROATIVIDADE) e
II. III (RECURSO REPETITIVO (RECURSO ESPEICAL Nº 1926832 – TO
– 2021/0072095-8) desta Apelação.

Caso seja diverso o entendimento desta Egr. Corte,


requer a reforma da sentença, com a consequente improcedência
da Ação Civil Pública por Improbidade Administrativa DIANTE DOS
FATOS E FUNDAMENTOS TRAZIDOS E DEFENDIDOS PELO ORA APELANTE,
pela manifesta inexistência de ato de improbidade; ou, ainda
que seja pela procedência dos pedidos, o entendimento, que seja
excluída da condenação a pena de suspensão dos direitos
políticos por 03(três) anos, proibição de contratar com o Poder
Público pelo prazo de 03 (três anos), multa civil de 30
(trinta) vezes a remuneração recebida, bem como a perda da
função pública, com base no princípio da razoabilidade,
destacada no item V deste Apelação e diante do precedente do
Supremo Tribunal Federal contido na AÇÃO DE
INCONSTITUCIONALIDADE 6.678 DISTRO FEDERAL que suspendeu a
vigência da expressão “suspensão dos direitos políticos de três
a cinco anos” do inciso III do art. 12 da Lei 8.429/1992.

Requer-se ainda que se reconheça o efeito suspensivo


da presente apelação, conforme inteligência do art. 1.012 do
Código de Processo Civil.

Termos em que aguarda deferimento.

São Luís/MA, 16 de novembro de 2021.

CLEBER RENATO BISPO ALCANTARA


OAB/MA Nº 7.510

DANIEL BARROS DE MIRANDA


OAB/MA Nº 7.542

CLEBER Assinado de forma digital


por CLEBER RENATO
RENATO BISPO BISPO ALCANTARA
Dados: 2021.11.16
ALCANTARA 20:23:27 -03'00'

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