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EXCELENTÍSSIMO SENHOR PRESIDENTE DO TRIBUNAL DE

CONTAS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE.

Proc. n° 006655/2009 – Prestação de Contas


Interessada: Fundação Parnamirim de Cultura
Gestora: Vandilma Maria de Oliveira

Vandilma Maria de Oliveira, brasileira, casada,


professora, portadora do RG n° 781.971-SSP/RN e CPF n° 010.430.964-42,
residente e domiciliada na Rua Maria Rodrigues de Oliveira, 600, P. 02, Pirangi
do Norte, Parnamirim – RN, CEP 59.161-830, contatos:
vandilma.oliveira@gmail.com e (84) 99695-7711, vem mui respeitosamente
perante Vossa Exelência, por meio dos seus advogados assinados in fine
(instrumento de mandato anexo), oferecer requerimento de

REVISÃO DE LISTA DE INELEGÍVEIS

mediante os argumentos fáticos e jurídicos que passa a expor para ao final requerer.

1- Dos Fatos

1.1 – Vereadora do Município de Parnamirim (RN) e candidata à reeleição nas


Eleições 2020, a requerente tomou conhecimento da condenação contra si
proferida nos autos da prestação de contas nº 006655/2009 através de impugnação
ao seu registro de candidatura proposto pelo Ministério Público Eleitoral (anexo
05).

1.2 – A requerente é casada com José Antônio Correia Lopes Barbosa desde
30.07.2011 (anexo 06), tendo com ele fixado residência, a partir de março de 2014,
no seguinte endereço: Rua Maria Rodrigues de Oliveira, 600, P. 02, Pirangi do
Norte, Parnamirim – RN, CEP 59.161-830 (vide comprovante de residência,
escritura pública do imóvel e declarações de imposto de renda - anexos 04, 06, 07
e 08).

1.3 – Entretanto, o seu endereço residencial é questão de menor importância para


o desenvolvimento do raciocínio que será feito nesta peça, visto que, sendo
servidora pública, a requerente tem domicílio necessário e, em relação a este ponto,
cabe registrar que ela é professora ocupante de cargo público efetivo no Estado do
Rio Grande do Norte há mais de 34 (trinta e quatro anos) anos (desde 1º.07.1986,
conforme anexo 09), bem como que ocupou o cargo de Secretária Municipal de
Educação de Parnamirim (RN) no período de 02.01.2013 a 31.03.2016 (anexos 10
e 11), e exerce mandato de vereadora de tal município desde 1º.01.2017 (anexo
12). Em síntese, os seus domicílios necessários desde o ano de 2013 (dois mil e
treze) foram os seguintes:

Período Domicílio Necessário


02.01.2013 a 31.03.2016 Secretaria Municipal de Educação e
Cultura de Parnamirim – RN
1º.04.2016 a 31.12.2016 Secretaria de Estado da Educação, da
Cultura, do Esporte e do Lazer do Rio
Grande do Norte
1º.01.2017 a 31.12.2020 Câmara Municipal de Parnamirim –
RN

1.4 – Ocorre que, ao proceder com o trâmite do processo administrativo nº


006655/2009 (prestação de contas), a secretaria desta Egrégia Corte de Contas não
atentou, em momento algum, para as regras do domicílio necessário da ora
requerente, não tendo feito sequer a sua citação válida. É que, quando da expedição
de tal ato, utilizou-se a via postal e a correspondência foi direcionada para antigo
endereço residencial que há muitos anos não era por ela ocupado (página 527 dos
autos eletrônicos), sendo a correspondência recebida por pessoa totalmente
estranha ao seu ciclo familiar. Decretada erroneamente a sua revelia (página 530
dos autos eletrônicos), foram as suas contas julgadas irregulares, com a aplicação
de multa e condenação no dever de ressarcir o erário, sendo a intimação do acórdão
direcionada, deste vez, para o seu endereço residencial correto, mas não tendo os
Correios entregue a correspondência a nenhum destinatário em razão da digitação
incorreta do número da sua residência (vide envelope juntado aos autos em
25.11.2019, onde foi digitado número 2, ao invés de número 600, portão 02). Tal
intimação foi renovada em 19.12.2019, sendo direcionada, desta feita, para o seu
domicílio necessário (a Câmara Municipal de Parnamirim – RN), isto após a
certificação nos autos de que a executada exerce o mandato de vereadora.
Entretanto, sem que tenha sido sequer identificado o recebedor da correspondência
(ou juntado documento que comprove a data da sua entrega, com a aposição da
assinatura do recebedor), seguiu-se a certificação do trânsito em julgado do
acórdão.

1.5 – Conforme restará demonstrado no capítulo seguinte, o referido processo é


nulo de pleno direito desde a citação. Além disto, relativamente ao seu mérito, tem-
se a registrar que o corpo técnico deste Tribunal de Contas, diante da instrução do
processo apenas com parte dos processos de pagamento dos contratos objeto
da prestação de contas, emitiu parecer no qual foi presumida a ocorrência de dano
ao erário pelo valor integral contratado em razão da suposta irregularidade nos
procedimentos licitatórios:

“Verifica-se, in casu, que os procedimentos em cotejo,


ainda que do ponto de vista meramente formal, estão em
total desacordo com o disposto na Lei n8.666/93, haja
vista a completa ausência de documentos relativos à
abertura e aos desdobramentos iniciais do certame,
mormente em relação ao procedimento que deveria ser
fielmente observado quanto à caracterização da dispensa
licitatória.
Assim, em face do acervo probatório colacionado,
verifica-se que a entidade contratante, a despeito de
ter procedido com o pagamento integral do preço
contratual em prol dos contratados, não se incumbiu
de comprovar a contento, efetivamente, os elementos
justificadores da dispensa licitatória, não sendo
possível depreender ainda, qual das modalidades de
dispensa que restaram eleitas pelo gestor à realidade de
cada um dos contratos formalizados sob tal rubrica,
consoante rol taxativo encampado pelo art. 24 da Lei
8.666/93.
...
Com efeito, levando-se em conta os elementos supra
expostos, e volvendo-se novamente à realidade que se
pode extrair dos autos, podemos verificar que todas as
contratações diretas efetivadas pela entidade
interessada restaram formalizadas à margem da
legalidade, vez que sequer foram precedidas de regular
procedimento de dispensa de licitação.
...
Portanto, ao invés de gerar uma economia aos cofres
públicos, a conduta patrocinada pelo gestor da
Fundação interessada pode, até mesmo, ter causado
prejuízo financeiro ao erário, em razão das decisões que
foram tomadas em prol das dispensas licitatórias,
mormente no que pertine à escola dos contratantes e dos
preços praticados.
...
Sendo assim, pelas razões expostas, este corpo instrutivo
sugere a IRREGULARIDADE da matéria, nos termos do
art. 75, II, da Lei Complementar Estadual nº 464/2012, e
o ressarcimento integral ao erário dos valores aplicados
nos contratos em questão, relativos à monta de R$
139.210,00 (cento e trinta e nove mil duzentos e dez
reais), com atualização monetária e juros de mora sobre o
valor corrigido, sendo cabível, ainda, aplicação de multa,
baseado no art. 78, § 3º, e 102, I, do mesmo diploma legal,
em desfavor da Sra. Dilma Maria de Oliveira, gestora
responsável à época dos fatos, fazendo-se necessária a sua
CITAÇÃO, em homenagem aos princípios do
contraditório e da ampla defesa, manifestando-se acerca
da matéria ventilada nos autos” – vide anexo 15, páginas
78 a 82; destaques não originais.
1.6 – Após a irregular decretação da revelia da ora requerente, o acórdão ali
proferido acolheu tal entendimento emanado do corpo técnico mediante a seguinte
fundamentação:

“EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL,


ADMINISTRATIVO E FINANCEIRO.
PAGAMENTOS DECORRENTES DE CONTRATOS
FORMALIZADOS A PARTIR DE DISPENSA DE
LICITAÇÃO E PROCEDIMENTO NA MODALIDADE
CONVITE. IDENTIFICAÇÃO DE
IMPROPRIEDADES DE ORDEM MATERIAL E
FORMAL. IRREGULARIDADE DA MATÉRIA.
APLICAÇÃO DAS PENALIDADES MULTA E
RESSARCIMENTO. INTELIGÊNCIA DO ART. 78, II,
C/C ART. 102, II, “B” E “F”, DA LCE 121/1994.
REPRESENTAÇÃO AO MINISTÉRIO PÚBLICO
ESTADUAL.
...
Destaque-se que a realização de despesas em valores
acima do permitido para as hipóteses de licitação
dispensável (artigos 23 e 24 da Lei n.º 8.666/93), exige o
procedimento licitatório ou um processo de
inexigibilidade onde fique consignado, entre outros
elementos, a razão de escolha do fornecedor e a
justificativa do preço.
Não obstante, mesmo que fosse hipótese de
inexigibilidade ou de dispensa, deveria o administrador,
em virtude do princípio da motivação (expressamente
previsto no
parágrafo único do artigo 26 do referido diploma legal),
realizar um processo onde, além de documentar os atos
administrativos, justifique a contratação direta, seguindo
o procedimento do supracitado dispositivo.
Não existindo, portanto, nos autos o referido processo de
inexigibilidade ou de dispensa e não comprovando o
gestor a impossibilidade de sua colação, tem-se violação
ao art. 26, parágrafo único, da Lei 8.666/93.
Não há de se falar, neste caso, em ausência de indícios de
má-fé ou negligência grave, porquanto o gestor, como
administrador público, tem o dever de saber, ao menos,
que não pode dispensar o procedimento licitatório fora
das hipóteses legais.
...
Noutro pórtico, verificou-se a ausência do Parecer
Jurídico, instrumento considerado importante por constar
previamente nos autos do processo licitatório para servir
de suporte à decisão do Administrador. A elaboração do
referido parecer é competência do Corpo Jurídico e sua
utilização está vinculada por Lei, nos termos do art. art.
38, VI, Lei 8666/93.
Por último, constatou-se, ainda, a ausência de (a)
numeração de folhas (art. 38 da Lei nº 8.666/93), (b)
autorização do ordenador da despesa (art. 38, “caput”, da
Lei
nº 8.666/93), (c) atos de designação da comissão de
licitação (art. 38, III, da Lei nº
8.666/93), (d) convites sem datas, assinaturas e rubricas
(art. 40, § 1º, da Lei nº 8.666/93), (e) atas de homologação
e adjudicação (art. 38, VII, da Lei nº 8.666/93), (f) não
formalização do instrumento contratual (art. 60 da Lei nº
8.666/93) e (g) definição do objeto (art. 55 da Lei nº
8.666/93); demais disso, não teria sido observado a
quantidade mínima de convidados.
...
Quanto à efetiva comprovação da execução dos contratos
firmados, mais uma vez a responsável quedou-se inerte,
não havendo como se afirmar, com a certeza que o
interesse público requer, a destinação dos recursos
empregados; presume-se, pois, a materialidade de
dano ao erário, impondo-se a aplicação da pena de
ressarcimento identificada pelo Corpo Técnico – vide
anexo 15, páginas 135/139; destaques não originais.

1.7 – Ao tomar conhecimento de tal condenação via ação de impugnação de


registro de candidatura (AIRC), a ora requerente procedeu com busca no arquivo
da Fundação Parnamirim de Cultura e localizou todos os procedimentos
licitatórios e de dispensa de licitação referidos em tal acórdão (anexos 16 a
25), vindo a constatar que todos eles seguiram rigorosamente os ditames legais de
processamento, sendo impossível presumir dano ao erário. Os NOVOS
DOCUMENTOS ORA APRESENTADOS, CONSISTENTES NA
INTEGRALIDADE DOS REFERIDOS PROCESSOS LICITATÓRIOS,
demonstram o manifesto equívoco cometido por tal acórdão ao PRESUMIR A
OCORRÊNCIA DE DANO AO ERÁRIO, conforme se verá adiante.

2- Da Nulidade do Processo

2.1 – A Constituição Federal de 1988 consagrou os princípios da ampla defesa, do


contraditório e do devido processo legal nos seguintes termos:

Art. 5º Omissis
...
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;
LV - aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados
o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
ela inerentes;

2.2 – O Código Civil, por sua vez, estabelece os conceitos de residência e


domicílio, determinando que o servidor público tem domicílio necessário:

Art. 70. O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela


estabelece a sua residência com ânimo definitivo.
...
Art. 76. Têm domicílio necessário o incapaz, o servidor
público, o militar, o marítimo e o preso.
Parágrafo único. O domicílio do incapaz é o do seu
representante ou assistente; o do servidor público, o
lugar em que exercer permanentemente suas funções;
o do militar, onde servir, e, sendo da Marinha ou da
Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar
imediatamente subordinado; o do marítimo, onde o navio
estiver matriculado; e o do preso, o lugar em que cumprir
a sentença – destaques não originais.

2.3 – É bem verdade que a Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado do Rio
Grande do Norte (Lei Complementar 464/2012) prevê punição processual em
desfavor de gestor público que não mantiver atualizado o seu endereço,
considerando válidas as comunicações enviadas para endereço desatualizado (art.
41, § 3º). Entretanto, tal hipótese de citação ficta não se aplica ao servidor público
que está em pleno exercício das suas funções, já que este poderá ser facilmente
citado no seu domicílio necessário (órgão público onde está lotado), podendo tal
diligência ser realizada, inclusive, por meio eletrônico (art. 45, § 1º, I):

Art. 41. Para o desempenho pelo Tribunal, de suas


atribuições de controle, devem os Poderes e entidades
competentes remeter-lhe o rol dos responsáveis e outros
documentos e informações julgados necessários, na forma
do regimento interno ou de resolução.
...
§ 3º Enquanto houver processo pendente de julgamento,
os respectivos responsáveis deverão manter atualizadas as
informações a que se refere o caput, reputando-se válida
a comunicação realizada no domicílio cadastrado.
...
Art. 45. A integração dos responsáveis e interessados no
processo, bem como a comunicação dos atos e decisões
do Tribunal, far-se-ão mediante:
I - citação, pela qual o Tribunal dará ciência ao
responsável do processo contra ele instaurado, para se
defender ou apresentar as razões de justificativa, ou da
execução de suas decisões, para pagar a dívida ou adotar
as medidas corretivas;
II - notificação, pela qual se dará ciência ao jurisdicionado
das providências que deva adotar, por determinação do
Tribunal, para sanar divergências e irregularidades ou
para complementar a instrução processual; e
III - intimação, nos demais casos.
§ 1º As comunicações serão feitas, conforme o caso, por:
I - ciência da parte, efetivada por servidor designado,
meio eletrônico, facsímile, telegrama ou qualquer
outra forma, desde que fique confirmada
inequivocamente a entrega da comunicação ao
destinatário;
II - via postal, mediante carta registrada com aviso de
recebimento, devidamente assinado por pessoa
encontrada no endereço indicado pelo responsável,
consoante estabelecido no art. 41, independentemente da
assinatura ou rubrica de próprio punho do citado; e
III - edital, publicado no Diário Oficial Eletrônico do
Tribunal – destaques não originais.

2.4 – Em síntese, sendo a ora requerente servidora pública e, por via de


consequência, possuindo sempre domicílio necessário em órgãos submetidos à
jurisdição do próprio TCE-RN, deveria ter sido citada em um dos órgãos onde
exerceu suas funções (vide tabela do item 1.3), NÃO HAVENDO
ABSOLUTAMENTE NENHUMA RAZÃO PARA QUE LHE TENHA SIDO
FEITA UMA CITAÇÃO FICTA E NEM TAMPOUCO PARA QUE TENHA
SIDO DECRETADA A SUA REVELIA no processo administrativo de
prestação de contas.

2.5 – Restaram inequivocamente violados os princípios da ampla defesa, do


contraditório e do devido processo legal.

3- Dos Documentos NOVOS Apresentados: aplicação da teoria dos


motivos determinantes

3.1 – A Lei Orgânica do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte


(Lei Complementar 464/2012), ao tratar do pedido de revisão, determina o
seguinte:

Art. 132. Cabe revisão, perante o Tribunal Pleno, de


decisão definitiva, em processos relativos ao controle
externo.
§ 1º O prazo para requerimento da revisão é de dois anos,
a contar do trânsito em julgado da decisão.
§ 2º Podem requerer a revisão o responsável, seus
sucessores e o Ministério Público junto ao Tribunal.
Art. 133. O pedido de revisão, admissível uma única vez,
somente pode fundar-se nas alegações de:
...
II - falsidade ou insuficiência de documentos que
tenham servido de base à decisão; ou
III - superveniência de documentos novos com eficácia
sobre a prova existente no processo.
Art. 134. A petição inicial, dirigida ao Presidente do
Tribunal, deve ser instruída com o inteiro teor da decisão
revisanda, a prova do seu trânsito em julgado e os
documentos em que se fundar a revisão, ou indicação de
outros meios de prova, inclusive pericial – destaques não
originais.

3.2 – No caso presente, a presunção de que foi causado dano ao erário decorreu de
uma indiscutível falha na instrução do processo de prestação de contas,
notadamente porque a Fundação Parnamirim de Cultura, quando intimada para
exibir a documentação pertinente, APRESENTOU NOS AUTOS APENAS
PARTE DA DOCUMENTAÇÃO RELATIVA AO PAGAMENTO DOS
OBJETOS CONTRATADOS, MAS NÃO OS PROCEDIMENTOS
LICITATÓRIOS OU DE DISPENSA DE LICITAÇÃO EM SI. Tal falha
instrutória foi sanada com o protocolo do pedido de revisão nº 302080/2020 (anexo
29).

3.3 – A irregular decretação da revelia da ora requerente fez com que a falha na
instrução persistisse, levando à conclusão lançada no acórdão que se quedou pela
PRESUNÇÃO DO DANO AO ERÁRIO, SITUAÇÃO TOTALMENTE
DESCONEXA DA REALIDADE DOS FATOS. A prova maior disto é que bastou
uma rápida busca nos arquivos da própria fundação para que a ora requerente
localizasse os procedimentos licitatórios e de dispensa de licitação (anexos 16 a
25), os quais seguiram fielmente todos os ditames legais, DOCUMENTOS
NOVOS, ORA APRESENTADOS.

3.4 – Em precedente firmado nos autos dos embargos à execução nº


2007.84.02.000064-6, que tramitou perante a 9ª Vara Federal da Seção Judiciária
do Rio Grande do Norte (Caicó), restou proferida sentença em data de 11.02.2009
que anulou acórdão do Tribunal de Contas da União em razão da realidade fática
provada por ocasião da instrução de tais embargos ter se mostrado totalmente
diferente daquela considerada para fins de condenação na seara administrativa:

“No acórdão do TCU de fls. 18/30, verifica-se que foram


dois os fundamentos da condenação administrativa: a
falha na execução dos serviços pela execução de material
de baixa qualidade e a falta de consecução integral do
ajuste, configurada pela divergência entre as benfeitorias
efetivamente realizadas e as previstas. Essas razões foram
suficientes para que a Corte de Contas entendesse haver
indícios de dano ao erário.
Após o reconhecimento pelo TRF de que não foi
oportunizada a produção de provas no âmbito do TCU,
constatou-se, nas provas produzidas nestes autos, não
subsistirem aqueles fundamentos, pois os engenheiros
e o perito criminal ouvidos foram seguros no sentido
de que não se verificou utilização de material de baixa
qualidade. Restou claro também, não ter ocorrido
prejuízo aos cofres públicos em decorrência da realização
de alguns itens de reforma diferentes dos previstos. Pelo
contrário, foi verificado que essas mudanças são comuns
em obras de reformas, e que foram realizadas observado
o limite do valor contratado, garantindo-se não gastar
além do previsto, por meio de compensação das melhorias
feitas e as não realizadas. (...)
Assim, por não subsistirem os elementos fáticos que
fundamentaram a decisão do TCU, acolho os
embargos para reformar a decisão e desconstituir o
título executivo que fundamenta a execução” – vide
anexo 26; destaques não originais.

3.5 – Tal sentença foi confirmada por meio de acórdão proferido pelo Tribunal
Regional Federal da 5ª Região na apelação cível nº 424.707-RN, em data de 15
(quinze) de março de 2012 (dois mil e doze), o qual restou assim ementado:

EMBARGOS À EXECUÇÃO. ACÓRDÃO DO TCU.


REPRESENTAÇÃO PARA APURAR
IRREGULARIDADES NO EMPPREGO DE VERBAS
FEDERAIS. MALFERIMENTO AOS PRINCÍPIOS DO
CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA. NULIDADE
DO ACÓRDÃO. AUSÊNCIA DE SUBSTRATO
FÁTICO QUE EMBASA A DECISÃO. PROVAS
PRODUZIDAS EM JUÍZO.
1. Apelação interposta pela União em face da sentença
que desconstituiu o título executivo extrajudicial,
acolhendo os embargos à execução opostos por Nilson
Dias de Araújo.
2. Representação manejada perante o TCU, formulada a
partir de expediente encaminhado por Comissão
Parlamentar de Inquérito, relacionada a obras de execução
de melhorias habitacionais mediante convênio firmado
entre o Município de Caicó/RN e CEF.
3. Presunção de veracidade e legitimidade de acórdão
do TCU infirmada mediante instrução probatória que
afastou a apontada irregularidade quanto à execução
do Programa Habitar Brasil. Comprovação da
utilização de materiais adequados, nas reformas das
unidades habitacionais contempladas pelo programa,
bem como ausência de dano ao erário. Apelação
improvida – vide anexo 27; destaques não originais.
3.6 – No caso presente, em face dos NOVOS DOCUMENTOS ORA
APRESENTADOS, os quais não foram anexados na sua integralidade ao processo
administrativo nº 006655/2009 (prestação de contas) por falha instrutória não
imputável à ora peticionante, deverá ser aplicada a teoria dos motivos
determinantes ao caso, a qual está assim consagrada pela jurisprudência do
Colendo Superior Tribunal de Justiça:

ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO.


PRESCRIÇÃO QÜINQÜENAL. SÚMULA N. 85 DO
STJ. NULIDADE DO ATO QUE DISPENSOU O
SERVIDOR DA FUNÇÃO DE ASSESSORAMENTO
SUPERIOR (FAS). TEORIA DOS MOTIVOS
DETERMINANTES. HONORÁRIOS. SÚMULA N. 7
DO STJ
...
2. O ato administrativo é nulo quando o motivo se
encontrar dissociado da situação de direito ou de fato
que determinou ou autorizou a sua realização. A
vinculação dos motivos à validade do ato é
representada pela teoria dos motivos determinantes.
...
4. Recurso especial provido em parte apenas para
declarar prescritas as parcelas vencidas anteriores ao
qüinqüênio que precede o ajuizamento da ação - REsp
708030/RJ; Recurso Especial n° 2004/0171820-1; Rel.
Min. Hélio Quaglia Barbosa; T6 – Sexta Turma;
Julgamento: 27.10.2005; Publicação: DJ de 21.11.2005,
p. 322; destaques não originais.

RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.


ADMINISTRATIVO. SERVIÇO DE DESPACHANTE.
PENALIDADE. CASSAÇÃO DE SEU
CREDENCIAMENTO JUNTO AO DETRAN.
TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES.
INOBSERVÂNCIA AOS PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E DA
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA. AUSÊNCIA DE
MOTIVAÇÃO E DE FUNDAMENTAÇÃO. DECISÃO
NULA DE PLENO DIREITO.
I - Os motivos que determinaram a vontade do agente
público, consubstanciados nos fatos que serviram de
suporte à sua decisão, integram a validade do ato, eis
que a ele se vinculam visceralmente. É o que reza a
prestigiada teoria dos motivos determinantes.
II - A sanção, ainda que administrativa, não pode, em
hipótese alguma, ultrapassar em espécie ou
quantidade o limite da culpabilidade do autor do fato.
A afronta ou a não-observância do princípio da
proporcionalidade da pena no procedimento
administrativo implica em desvio de finalidade do
agente público, tornando a sanção aplicada ilegal e
sujeita a revisão do Poder Judiciário.
...
IV - Recurso conhecido e provido - RMS 13617/MG;
Recurso Ordinário em Mandado de Segurança n°
2001/0101563-0; Rel. Min. Laurita Vaz, T2 – Segunda
Turma; Julgamento: 12.03.2002; Publicação: Dj de
22.04.2002, p. 183; destaques não originais.

ADMINISTRATIVO. RECURSO ORDINÁRIO EM


MANDADO DE SEGURANÇA. CONCURSO
PÚBLICO. RESULTADO FINAL. REVOGAÇÃO
DEFINITIVA. CONCLUSÃO PRELIMINAR DE
PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO.
ILEGALIDADE. CONTRATAÇÃO DE
TEMPORÁRIOS NO PRAZO DE VALIDADE DO
CERTAME. PRECEDENTE. RECURSO PROVIDO.
...
3. Segundo a Teoria dos Motivos Determinantes, a
Administração, ao adotar determinados motivos para
a prática de ato administrativo, ainda que de
natureza discricionária, fica a eles vinculada.
...
5. Recurso ordinário provido - RMS 20565/MG; Recurso
Ordinário em Mandado de Segurança n° 2005/0139302-
9; Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima; T5 – Quinta Turma;
Julgamento: 15.03.2007; Publicação: DJ de 21.05.2007,
p. 595; negritos e grifos nossos.

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO.


MANDADO DE SEGURANÇA. PRÁTICA DE ATO
ABUSIVO E ILEGAL POR PARTE DE MINISTRO DE
ESTADO. FUNCIONÁRIO PÚBLICO. ANISTIA. LEI
N. 8878/1994. PARECER DE COMISSÃO
INTERMINISTERIAL. DECRETO N. 3363/2000.
APLICAÇÃO DA LEI N. 9784/99, NA ESPÉCIE.
DECADÊNCIA CONSUMADA.
...
Entretanto, os atos administrativos vinculam-se a
seus fundamentos, e acompanham a sorte destes.
Teoria dos motivos determinantes.
A demissão de servidor ocupante de FAS tem como
motivo a revogação anistia que o beneficiava.
Anulado o motivo, válida a anistia, torna-se nula a
demissão, sem que isso importe em reconhecimento
de estabilidade constitucional.
Segurança concedida - MS 8958/DF; Mandado de
Segurança n° 2003/0029120-1; Rel. Min. Paulo Medina;
S3 – Terceira Seção; Julgamento: 14.12.2005;
Publicação: 20.02.2006, p. 200; destaques não originais.

ADMINISTRATIVO. MINISTÉRIO PÚBLICO DO


DISTRITO FEDERAL. PROMOTORA.
AFASTAMENTO PARA REALIZAÇÃO DE CURSO
NO EXTERIOR. PRAZO. PRORROGAÇÃO. LEI
COMPLEMENTAR 75/93. ATO ADMINISTRATIVO.
TEORIA DOS MOTIVOS DETERMINANTES.
...
Ao motivar o ato administrativo, a Administração
ficou vinculada aos motivos ali expostos, para todos
os efeitos jurídicos. Tem aí aplicação a denominada
teoria dos motivos determinantes, que preconiza a
vinculação da Administração aos motivos ou
pressupostos que serviram de fundamento ao ato. A
motivação é que legítima e confere validade ao ato
administrativo discricionário.
...
- Segurança concedida - RMS 10165/DF; Recurso
Ordinário em Mandado de Segurança n° 1998/0065086-
5; Rel. Min. Vicente Leal; T6 – Sexta Turma;
Julgamento: 29.06.1999; Publicação: DJ de 04.03.2002,
p. 294; destaques não originais.

3.7 – Aplicando-se tal teoria ao caso concreto, deverá ser determinada a


RETIRADA DO NOME DA REQUERENTE DA LISTA DE INELEGÍVEIS EM
RAZÃO DA CONDENAÇÃO PROFERIDA NOS AUTOS DA PRESTAÇÃO
DE CONTAS Nº 006655/2009, ATÉ O JULGAMENTO DEFINITIVO DO
PEDIDO DE REVISÃO Nº 302080/2020, nos termos do Enunciado nº 473 da
Súmula do Supremo Tribunal Federal:

Enunciado 473: A administração pode anular seus


próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
ilegais, porque deles não se originam direitos; ou revogá-
los, por motivo de conveniência ou oportunidade,
respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos
os casos, a apreciação judicial.

4- Dos Requerimentos

Assim, diante de tudo que fora exposto e confiante no


elevado senso de justiça reinante nesta Egrégia Corte de Contas, fiel cumpridora
das leis, requer:
4.1 – A determinação de retirada do nome da requerente da lista de inelegíveis em
razão da condenação proferida nos autos da prestação de contas nº 006655/2009,
até o julgamento definitivo do pedido de revisão nº 302080/2020.

Nestes termos,

Confia no integral DEFERIMENTO como medida da


mais ampla realização de JUSTIÇA!

De Belém do Brejo do Cruz (PB) para Natal (RN), 21 de


outubro de 2020.

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