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Registro: 2022.

0000945407

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Remessa


Necessária nº 1000317-40.2022.8.26.0024, da Comarca de Andradina, em que
é apelante ESTADO DE SÃO PAULO e Recorrente JUÍZO EX OFFICIO, é
apelado COSME MEIRA DOS SANTOS ANDRADINA ME.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 11ª Câmara de Direito


Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão:
Negaram provimento ao apelo e ao reexame necessário. V.U., de
conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores RICARDO DIP


(Presidente), JARBAS GOMES E OSCILD DE LIMA JÚNIOR.

São Paulo, 18 de novembro de 2022.

RICARDO DIP
Relator
Assinatura Eletrônica
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO
11ª Câmara de Direito Público
Apelação 1000317-40.2022.8.26.0024
Procedência: Andradina
Relator: Des. Ricardo Dip (Voto 60.500)
Apelante: Fazenda do Estado de São Paulo
Apelado: Cosme Meira dos Santos Andradina -ME

M AND ADO DE SE G UR ANÇ A. EXE RCÍ CIO DE NO VA


ATI VID ADE EM PRE SAR IAL QUE P RES SUP Õ E
REG ULA RIZ AÇÃ O NA I NSC RIÇ ÃO EST ADU AL DO
CAD AST RO DE CO N TRI BUI NTE S. DEM O RA DA
AD MIN IST RAÇ ÃO PÚB LIC A E M A PRE CIA R O PE DID O
A DMI NIS TRA TIV O .

N ão se pod e a dmi t ir qu e u m p roc edi men t o


adm ini st r at i vo não t e nha um pr evi st o e eco nôm ico t e rmo
f i nal , e qui val e a di z er , q ue as rep art içõ es púb lic as não
t e nha m p raz os a o bse rva r p ara a prá t ic a d os at o s d e s ua
com pet ênc ia, pe rse ver and o s e s e q uis er, pe rpe t ua ndo
ao la rgo de t e mpo in det erm ina do, so b a et iqu et a da
ob ser vân cia de no rma s i nt e rna s, a e xpe ct a t iv a d e
e xer cíc io de um dir eit o d o s údi t o.

N ão pro vim ent o d a r eme ssa ob rig at ó ria e do


ape lo da Faz end a d o E st a do de São Pa ulo .

RELATÓRIO:

Noticiando a exigência pela Junta Comercial do


Estado de São Paulo -Jucesp de que sua inscrição
estadual esteja regularizada para prosseguir com suas
atividades empresariais, Cosme Meira dos Santos
Andradina -ME impetrou mandado de segurança com o
escopo de compelir a autoridade responsável pelo Posto
Fiscal de Andradina a concluir a análise de seu pedido

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administrativo.

Narra o impetrante que seu pleito para reativar a


anterior inscrição estadual foi negado, sendo exigido que
solicitasse uma nova inscrição estadual, mas que aguarda
há mais de dois meses a análise da documentação.
Afirmando a necessidade de regularizar sua situação a
tempo de optar pelo regime tributário do Simples
Nacional, postulou o impetrante o deferimento de liminar
a fim de compelir a autoridade impetrada a apreciar seu
pedido antes do dia 31 de janeiro de 2022.

A Promotoria pública da Comarca manifestou falta


de interesse de agir no feito (e-pág.50), deferindo-se na
origem a tutela de urgência para que, atendidos os
requisitos legais, fosse concedida, no prazo de 24
horas, nova inscrição estadual ao impetrante (e-págs.
51-2).

A r. sentença, confirmando a medida liminar,


concedeu a segurança (e-págs. 90-4), e do decidido, ao
par de remessa obrigatória, apelou a Fazenda pública
paulista sustentando, em resumo, a legalidade do ato
administrativo que indeferiu o pedido do impetrante após
verificar a incorreção dos dados de solicitação, bem como
a desnecessidade de inscrição estadual para o exercício
de atividades empresariais vinculadas a tributo municipal
(e-págs. 101-12).

Respondeu-se o recurso (e-págs. 116-30).

É o relatório do necessário, conclusos os autos aos


29 de agosto de 2022 (e-págs. 153).

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VOTO:

1. O escopo do presente writ é compelir a autoridade


impetrada a analisar a documentação exigida na via
administrativa para o fornecimento de uma nova inscrição
estadual, necessária para regularizar divergências de
informações em seu cadastro e viabilizar o exercício de
nova atividade empresarial.

2. Não se negam a existência e o relevo de


procedimentos administrativos regulares para o pleno
exercício do poder-dever fiscalizador da Administração
pública tributária, mas no caso dos autos, a própria
autoridade impetrada reconheceu a necessidade de uma
nova inscrição estadual para regularizar as pendências
existentes e viabilizar o exercício da nova atividade
empresarial:

“(...), a única forma de o interessado ver atendidos


seus anseios seria, realmente, a obtenção de nova
numeração de IE” (e-pág. 71).

Ao par disso, nos limites do pedido do impetrante,


o a liminar deferido foi deferida para que, se atendidos
fossem os requisitos, houvesse a expedição de nova
inscrição estadual para opção pelo impetrante, a tempo,
pelo regime de tributação simples, concedida a segurança
com a ressalva expressa de que:

“(...), diante da situação irregular anterior, como


bem pontuou o responsável pela Delegacia
Regional Tributária, não podem ser obstadas
eventuais ações fiscais decorrentes da situação
irregular anterior e tampouco apontamentos no
CADESP que não venham a impedir a retomada
das atividades empresariais. Fica assegurada à

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autoridade impetrada a observância dos
procedimentos legais atinentes à inscrição baixada,
conforme informada” (cf. e-pág. 93, in fine).

3. Conforme leciona Hely Lopes Meirelles, o princípio


da eficiência

“exige que a atividade administrativa seja exercida


com presteza, perfeição e rendimento funcional”,
não se contentando que a função administrativa
seja “desempenhada apenas com legalidade,
exigindo resultados positivos para o serviço público
e satisfatório ao atendimento das necessidades da
comunidade e de seus membros” (Direito
administrativo brasileiro. 33.ed. São Paulo:
Malheiros, 2007, p. 96).

O right to due process em matéria administrativa


não é apenas a exigência de observância de requisitos
rituais pelo poder público, mas a de que a observância
das normas seja assecuratória da utilidade razoável do
objeto da prática da administração. Tem-se, alguma vez,
referido ao conceito do “monroísmo administrativo”, para
designar a ideia de “administrados para a Administração”
prevalecendo o suposto interesse público secundário,
com a persistência indefinida de um processo ou de
procedimentos administrativos em curso, em detrimento
de legítimos interesses particulares dos administrados. O
que nem sempre se tem visto é que os bens legítimos dos
administrados são tão pessoais quanto o é o bem comum;
e o bem comum é o interesse público primário da
Administração.

4. Não se pode, nessa linha, admitir-se que um


procedimento administrativo não tenha um previsto e
econômico termo final, equivale a dizer, que as
repartições públicas não tenham prazos a observar para a

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prática dos atos de sua competência, perseverando se
se quiser, perpetuando ao largo de tempo indeterminado,
ou que sob a etiqueta da observância de normas internas,
a expectativa de exercício de um direito do súdito.

Cabe, assim, confirmar a segurança, assegurando-


se ao impetrante o exercício de sua atividade
empresarial, nos termos do que dispõe o parágrafo único
do art. 170 da Constituição federal de 1988.

5. Em remate, para o prequestionamento que se tem


entendido indispensável à interposição de recurso
especial e de recurso extraordinário, cabe mencionar que
todos os dispositivos legais indicados nestes autos já se
encontram, de algum modo, sob a incidência dos
fundamentos suficientes para o desate das questões
decididas.

POSTO ISSO, pelo meu voto, nega-se provimento à


remessa obrigatória e ao apelo fazendário, mantendo a r.
sentença proferida nos autos 1000317-40.2022 da 3ª Vara
da Comarca de Andradina.

Eventual inconformismo em relação ao decidido


será objeto de julgamento virtual, cabendo às partes, no
caso de objeção quanto a essa modalidade de
julgamento, manifestar sua discordância no momento da
interposição de recursos.

É como voto.

Des. Ricardo Dip -relator

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