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Universidade Federal do Rio de Janeiro

Faculdade Nacional de Direito


Disciplina: Direito Internacional Privado II
Aluna: Ilanna Rosa Dantas (DRE nº 109093962)

RELATÓRIO SOBRE O CASO “UNION CARBIDE”

Em 12 de dezembro de 1984, houve um devastador vazamento de um gás


químico letal pela fábrica americana de produtos químicos da Union Carbide, localizada
em Bophal, Índia. Como consequência, milhares de pessoas foram mortas e outras
centenas de milhares sofrem problemas de saúde em função do vazamento até hoje.

O caso gerou repercussão mundial. Vários cidadãos indianos entraram com


ações judiciais contra a Union Carbide no intuito de obterem a respectiva compensação
pelo dano sofrido. As ações foram propostas nos Estados Unidos (foro do domicílio do
réu), especificamente em um Tribunal Federal em Nova York.

Ocorre que o magistrado, responsável por julgar a lide, considerou ser esse um
ônus indevido imposto ao Tribunal americano. Para ele, o correto seria que o caso fosse
julgado pelo Tribunal indiano, pois este teria mais capacidade de determinar as causas
do acidente e, assim, atribuir as responsabilidades. Em razão disso, se declarou
incompetente para solução do litígio com fundamento na teoria do forum non
conveniens. Segundo esta teoria, o próprio juiz da causa pode, no controle da sua
competência, recusar-se a exercer sua jurisdição quando outro juízo for mais adequado.

O forum non conveniens é um desdobramento do princípio do devido processo


legal e do princípio da competência adequada, na medida em que impede eventual
abuso do forum shopping pelo demandante. O forum shopping nada mais é do que a
possibilidade de o demandante escolher um foro para propor sua ação dentre aqueles
que são em tese competentes. Não há dúvidas de que o autor escolherá o foro que
entenda ser mais favorável à sua pretensão. Contudo, essa liberdade deve ser vista com
reservas para que se proteja a boa-fé, evitando, assim, que a escolha de um foro, embora
em tese competente, se revele, no caso concreto, como uma estratégia abusiva do autor.

Observação: Como a CRFB/88 consagra o devido processo legal como um


direito fundamental (art. 5º, LIV e LV), vislumbra-se possível a aplicação da teoria do
forum non conveniens em seu território.

Dentre as razões elencadas pelo magistrado, temos:

(a) a maioria das testemunhas e provas se situava na Índia;


(b) os registros da fábrica, como planta, procedimentos de segurança e
treinamento, estavam localizados na Índia;
(c) a maioria dos registros não estava em inglês;
(d) a maioria das testemunhas não falava em inglês;
(e) o Tribunal americano não poderia obrigar as testemunhas indianas a
comparecer para instrução e o transporte das mesmas seria inviável e de altíssimo custo;
(f) podiam se fazer necessárias perícias locais na fábrica;
(g) não era provável que o Tribunal americano aplicasse a lei indiana, isto é, a
responsabilidade civil da jurisdição onde ocorreu o fato danoso;
(h) havia um interesse substancial da Índia na solução da lide, vez que seu
governo e seus cidadãos detinham 49% das ações da empresa Union Carbide na Índia;
(i) permitir que o Tribunal americano julgasse essa demanda seria uma
ratificação do imperialismo, da subserviência e da subjugação da qual a Índia já havia
emergido, pelo que as ações deveriam ser julgadas pelo próprio Tribunal Indiano,
independente e legítimo, criado desde 1947.

Em sua defesa, a Union Carbide alegou que somente era titular de 51% das
ações da fábrica localizada em Bophal; que a fábrica em Bophal era gerida em sua
totalidade por indianos; que não há qualquer responsabilidade legal de sua parte, sendo
o caso de exclusiva responsabilidade da Índia. Em fevereiro de 1989, a Union Carbide
se comprometeu a pagar 470 milhões de dólares em indenização.

A empresa Union Carbide foi duramente criticada, principalmente por grupos


ambientalistas. Mesmo após muitos anos do desastre, ela continua sendo alvo de críticas
devido a fatores como: lentidão no pagamento de indenização às vítimas do desastre, na
implementação de uma limpeza da área atingida, na realização de reparos na fábrica etc.

Em 1992, a Corte Suprema da Índia expediu ordem de prisão para Warren


Anderson, ex-CEO da Union Carbide. No entanto, seria necessário que Warren
Anderson fosse extraditado dos EUA para ser julgado na Índia. Ele foi considerado, por
08 anos, foragido pela Justiça indiana.

Em 2001, a Union Carbide foi comprada pela Dow Chemical, o que tornou o
caso ainda mais complicado, pois esta se considera isenta de qualquer responsabilidade,
pois, sustenta que os 470 milhões de dólares englobaria todas as demandas existentes e
futuras contra a companhia.

Em 2010, O Tribunal Indiano condenou sete ex-executivos a 02 anos de prisão e


multa de 2.100 dólares pelos crimes de homicídio culposo (morte por negligência).

Bibliografia
Bhopal. O desastre continua (1984-2002). Disponível em
<http://www.greenpeace.org.br/toxicos/pdf/bhopal_desastrecont.pdf>. Acesso em 21/02/2014 às
23h22.
SCHAFFER, R., AGUSTI, F., DHOOGE, L.J., EARLE, B. International Business Law and Its
Environment. 8ª edição. South-Western Legal Studies in Business Academic Series, 2011.

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