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Atividade Teórico Prática Consumidor

Alunos: Brenda Rodrigues Schwartz, Felipe Costa Silva, Juliano Freires Ramos, Lucas Carvalho
Barcelos, Plínio Estevão Saldanha Ferreira Alves, Thayana Ribeiro Buss, Vitor da Silva Freire

1º Juizado Especial Cível de Vitória


Processo: 5031967-38.2022.8.08.0024
Parte Autora: Juliano Freires Ramos
Parte Ré: SAMP ESPIRITO SANTO ASSISTENCIA MEDICA S.A e VITORIA APART HOSPITAL
S/A.
Data do Trânsito em Julgado: 11/04/2023

1. Apresentação do caso e as questões fáticas e jurídicas.

O Autor afirmou que é beneficiário do plano de saúde SAMP e no dia 21/12/2021 foi para a
emergência do Hospital credenciado Vitória Apart pois estava com crise de asma. Nesse sentido, o
autor chegou às 10:06h no hospital e descobriu que o sistema de emergência do estabelecimento
colapsou desde o início da manhã. Diante disso, o autor foi atendido apenas as 19:45h e recebeu alta
as 22:22 e, nesse período, descobriu que o motivo do colapso foi porque o Hospital pela manhã tinha
apenas 2 médicas para atender e o Estado passava por uma epidemia de Gripe e a Pandemia da Covid-
19, eventos esses já informados e de ciência das requeridas há semanas. Desse modo, foi requerido
pelo autor a indenização por danos materiais e morais.
Diante disso, o autor da ação juntou ao processo diversas provas como: a) áudios de conversas
com a secretaria para tomar ciência da situação; b) foto da senha e do fluxo de atendimento para
comprovar o colapso no sistema de emergência: c) foto do banner que informava que eles tinham
consciência da situação sanitária no estado; d) prontuário médico.
Em contestação a Requerida VITORIA APART HOSPITAL S/A, sustentou que: na época dos
fatos houve aumento dos números de casos de COVID-19, bem como uma epidemia de influenza, o
que gerou aumento na procura da população pelos serviços da ré; que o Requerente no dia 21/12/2021,
foi classificado como "verde - pouco urgente" de acordo com Protocolo de Manchester; que na data
dos fatos mantinha dois médicos por turno, conforme as diretrizes da CFM nº 2077/2014; que os
atendimentos dos pacientes não ocorrem de acordo com a ordem de chegada, mas sim em função da
gravidade da situação; que foi prestada a assistência médica devida ao autor. Por fim, sustenta ainda
que não houve qualquer irregularidade no seu atendimento ou ilícito por si cometido.
A Requerida Samp alegou ilegitimidade passiva e alegou que não houve falha na prestação
dos serviços; que não houve qualquer negativa de atendimento por parte do plano de saúde réu vez
que liberou a consulta em Pronto Socorro no hospital corréu; que agiu em conformidade com as
diretrizes de atendimento ao beneficiário.
O processo foi arquivado em menos de um ano, houve audiência de conciliação sem êxito e
logo foi enviado para ser decidido por Juiz Leigo e, posteriormente, homologado pelo Juiz Titular.
Após a sentença, nenhuma das partes recorreram, houve o depósito da quantia pela condenada e a
expedição de alvará.
A sentença rejeitou a preliminar de ilegitimidade passiva da Samp com base na teoria da
asserção e julgou parcialmente procedente os pedidos autorais, concedendo R$ 3.000,00 (três mil
reais) a título de reparação por danos morais, condenando apenas o Vitória Apart, sob o fundamento
que o autor foi classificado com a pulseira verde e, conforme Resolução do Conselho Federal de
Medicina, seu atendimento deveria ser no máximo 120 minutos para ser atendido, o que não
aconteceu. Em relação a questão do atendimento prioritário, as requeridas não fizeram provas que
demonstrasse a impossibilidade do atendimento do autor. Desse modo, restou configurada falha na
prestação do serviço, violando o direito no artigo 6º, inciso X, do CDC, sendo cabível indenização,
nos termos do art. 6º, VI, do CDC, e dos arts. 186 e 927 do CC. Assim, foi reconhecida a indenização
por danos morais, porém em relação aos danos materiais, a sentença foi fundamentada no sentido de
que é certo que o autor realizaria essas despesas, mesmo se não tivesse atraso. Por fim, em relação ao
plano de Saúde SAMP, foi entendido que o serviço foi prestado de forma regular, o que não gerou a
sua condenação.

2. Analisar criticamente o tratamento jurídico-processual conferido ao caso segundo as normas


constitucionais e codificadas do direito do consumidor.

A sentença, embora célere, não usou de todos os fundamentos possíveis ou relevantes para dar
procedência a pretensão do autor. Isso ocorreu porque o que foi apresentado pela sentença tem teor
genérico, incidindo pouco no caso concreto e nas peculiaridades do caso.
A começar pelo julgamento de ilegitimidade passiva, a sentença se baseou tão somente na
teoria na asserção, deixando de comentar a análise da solidariedade do caso a partir das hipóteses do
Código de Defesa do Consumidor, em especial o artigo 14 que determina a solidariedade pelo fato do
serviço. Ainda, reforça-se que apesar de ter rejeitado a ilegitimidade passiva, a sentença não condenou
a SAMP por entender que da parte dela o serviço foi prestado corretamente, descartando a hipótese
de solidariedade sem fundamentar.
Já em relação ao mérito, a sentença usou como fundamento a violação ao art. 6º, inciso X do
Código de Defesa do Consumidor. O artigo usado aponta como direito do consumidor a adequada e
eficaz prestação dos serviços públicos em geral. Nesse ponto, a sentença usou como fundamento e
destacou um critério objetivo para a fixação da falha na prestação de serviço: o tempo de espera
superou aquele permitido ao conferir a classificação como verde para o paciente. Todavia, dentre
todos os argumentos, esse é o mais fraco de todos e, se quisessem, as requeridas poderiam interpor
recurso com altas chances de sucesso para reforma.
No caso concreto, há inúmeros fatores que poderiam mitigar essa resolução do Protocolo
Manchester pois, conforme apresentado em contestação, houve elementos atípicos no estado:
pandemia de Covid-19 e epidemia de gripe. Assim, o juiz poderia entender que esses dois elementos
poderiam mitigar esse dever de prestar a assistência de forma célere, podendo chegar a improcedência
do pedido.
Todavia, há outro argumento, muito mais robusto, que o autor da ação apresentou e a sentença
não considerou: a falha do serviço pela despreparação do Hospital em frente a pandemia e a epidemia.
As provas no processo e a contestação informam na data dos fatos o hospital mantinha dois médicos
por turno, conforme as diretrizes da CFM nº 2077/2014. Todavia, o Requerente anexou áudios nos
quais se retira a informação que esse número é usado para contextos normais de saúde pública, e não
para casos de pandemia e epidemia. Aliás, também foi juntado aos autos que a empresa não só tinha
ciência da crise sanitária, como também informou que tinha aumentado a capacidade de atendimento.
Ocorre que, se em situações normais o hospital trabalha com dois médicos e na crise sanitária
o local continuou com dois médicos, então, efetivamente, não houve aumento na capacidade de
atendimento. Nesse aspecto, as requeridas também violaram o artigo 6º, inciso III, do CDC pois não
deram a informação adequada sobre o serviço. Na verdade, eles deram uma informação falsa, o que
aumenta em demasia a culpa do dano sofrido.
Por outro lado, quanto ao julgamento da improcedência do dano material, o fundamento foi
que o autor, independente do atraso, arcaria com esses gastos. Todavia, as provas mostram que os
danos materiais foram pedidos em relação: a) ao almoço; b) estacionamento de 19h às 22h. O
requerente entrou na emergência as 10:06h e, segundo a própria sentença, deveria ter sido atendido
até as 12:28h. Ou seja, caso o atendimento fosse normal, ele entraria na hora do almoço, sairia
aproximadamente as 15h e não gastaria dinheiro com comida, já que no horário estaria sendo
atendido. O mesmo se dá com o valor do estacionamento, pois apenas houve a necessidade de se usar
pois a demora e incerteza fez com que o autor chamasse terceiros para o auxiliar.
Assim, nota-se que a sentença poderia ter fundamentado a procedência do pedido de forma
muito mais trabalhada, com uma incidência mais concreta ao caso e também abordando muito mais
a relação consumerista. A sentença apresentou argumentos genéricos, não entrando nas peculiaridades
do caso, logo a prestação jurisdicional na ótica do consumidor foi frágil, não incidindo todos os
direitos assim dados pelos legislação.

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