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CONTRARRAZÕES DE APELAÇÃO
de modo que seja regularmente recebida e remetida à superior instância, onde haverá de ser
provido.
Nestes termos,
Pede deferimento.
OAB/PE Nº 43.547
ESTAGIÁRIO
EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE PERNAMBUCO
A decisão do MM Juiz, a quo, não merece reforma das questões suscitadas
pela Apelante, pois lastreada em perfeita consonância com a jurisprudência dominante dessa
Egrégia Corte, além de estar fundamentada na melhor doutrina pátria.
Destarte, a sentença deve ser mantida nos seus termos, por ser questão de direito e
justiça, conforme se demonstrará através da argumentação fática e jurídica abaixo aduzida.
Cuida-se de Ação de Obrigação de fazer com pedido de medida liminar, ingressada em face da
FUNDAÇÃO ASSISTENCIAL DOS SERVIDORES DO MINISTÉRIO DA FAZENDA –
FUNDAÇÃO ASSEFAZ, com fito de compelir a mesma a arcar com o internamento em
HOME CARE, por meio do Hospital Residência, conforme solicitação do médico assistente,
bem como, tudo o que o Autor/Apelado viesse a necessitar, considerando ser a única medida
eficaz para a manutenção de sua vida.
Assim, o juízo a quo, entendeu por serem procedentes os pedidos feitos na medida liminar,
porém parte contrária, ora apelante, inconformada, interpôs o presente recurso. Todavia, a r.
sentença deve ser mantida em todos os seus termos pelo juízo ad quem, por questões de direito e
de justiça, como adiante ficará demonstrado.
II. DO DIREITO
Porém, com atenta análise ao Código Civil podemos observar que os danos morais não
se extinguem em decorrência ao falecimento no curso da demanda, tendo como respaldo o Art.
943 segundo o qual “O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com
a herança”.
Assim observa-se que a indenização por danos morais não é “pretensão autoral e
personalíssima” como alega a parte apelante, sendo cristalino o entendimento que o direito a
reparação decorrente de dano moral transmite-se de forma absoluta como herança, não sendo o
Art. 485, IX, do CPC/2015 aplicável ao caso.
Este E. Tribunal já firmou entendimento nesse sentido, não havendo razão para colher os
argumentos da parte adversa.
Sobre o rol de procedimentos, insta elucidar que o mesmo não se refere a uma tabela
vinculativa, mas de cobertura MÍNIMA OBRIGATÓRIA pelos planos de saúde. Dessa
maneira, além de não se aplicar ao contrato da Autora, em virtude da irretroatividade das leis,
não consiste em um rol TAXATIVO, mas apenas um mínimo a ser seguido pelas operadoras.
É cediço que a obrigação das operadoras de saúde não se exaure ao rol descrito na
resolução normativa nº 395 – Rol de Procedimentos, uma vez que, os eventos estão
elencados de maneira exemplificativa, e não de modo exaustivo como leva a crer a Ré.
Os tribunais pátrios vêm aprofundando o debate acerca do tema, inclusive com a edição
de súmulas a respeito da matéria, consolidando a discussão, como é o caso da SÚMULA N. 102
editada pelo TJSP:
Assim, de nada valem os argumentos meramente falaciosos no condão de convencer o
Ilustre Julgador acerca da possibilidade de exclusão do procedimento, na tentativa de induzir
esse M.M in error in judicando, se, de outro lado, tem-se uma prescrição médica precisa e coesa
com a realidade da patologia que acometia o paciente quando em vida, bem como súmulas e
entendimentos jurídicos pertinentes ao caso concreto, senão vejamos:
(TJ-PE - APL: 3820868 PE, Relator: Stênio José de Sousa Neiva Coêlho, Data de
Julgamento: 08/03/2016, 6ª Câmara Cível, Data de Publicação: 17/03/2016)
(TJ-PE - APL: 4179186 PE, Relator: Stênio José de Sousa Neiva Coêlho, Data de
Julgamento: 12/01/2016, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação: 26/01/2016)
Contudo, as declarações dadas pelo médico assistente são categóricas, quando afirma
que a paciente necessita do atendimento especializado sob risco de adquirir infecções, e assim
agravar sua saúde.
Cumpre esclarecer que Home Care é uma especialização na área da saúde com uma
visão bem diferente da hospitalocêntrica: ao invés do paciente ir até o hospital ser tratado, os
profissionais de saúde vão até sua casa trata-lo. O público alvo são pacientes com patologias
estáveis, quase sempre portadores de doenças crônicas, como doenças neurológicas
degenerativas e músculo-esqueléticas.
O paciente é tratado fora do hospital e em contato com a família, isso é bom, uma vez
que o ambiente hospitalar, para muitos, não é confortável e causa estresse;
O paciente fica menos exposto aos riscos infectológicos existentes no âmbito hospitalar;
Melhora a “autonomia” do paciente;
Melhora a “privacidade” do paciente.
No que diz respeito a situação da apelada não se exigir mais internamento domiciliar,
tais digressões não merecem maiores considerações, haja vista que o tratamento é essencial para
a melhora da patologia do Apelado, sendo obrigação da Apelante arcar com as despesas do
tratamento indicado pelo médico assistente.
Não cabe à operadora dizer qual o tratamento que seu assegurado deve ou não usar,
e SIM O MÉDICO ASSISTENTE. Sendo assim, tais alegações não devem prosperar.
Desta forma, percebe-se que o pedido do Apelado está em total conformidade com a
Sentença atacada, porquanto a Recorrente está confundindo “alhos com bugalhos” numa
clara tentativa de desviar-se de suas obrigações com o usuário, bem como induzindo os
Doutos Julgadores ao erro, com suas mentiras.
Afirma ainda o Apelante em outro parágrafo que o contrato não prevê a internação
domiciliar, bem como a ANS afirma em sua Resolução normativa 428/2017 que no caso da
operadora oferecer cobertura maior que a mínima obrigatória, esta deverá obedecer à previsão
contratual ou à negociação entre as partes. Tal argumento resta impugnado, pois, conforme já
devidamente comprovado, fere claramente o direito do Consumidor, visto se tratar de decisão
unilateral da Apelante, e ainda por ser o rol da ANS meramente exemplificativo.
Ou seja, os contratos de assistência à saúde não são simples contratos de seguros que
envolvem prestações de dar, mas sim contratos complexos que envolvem prestações de dar e de
fazer, obrigando-se diretamente, ou através de seus prepostos, credenciados ou referenciados.
Frise-se que se quer a aplicação da Lei 9656/98, bem como dos princípios norteadores
do CDC (Lei 8078/90), principalmente no que versa sobre a abusividade de cláusulas
contratuais em contratos de adesão, como no caso dos autos.
Tenta ainda esquivar-se da sua obrigatoriedade alegando que não estão presentes as
exigências mínimas para o tratamento domiciliar no caso em contento. Contudo, conforme
prescrição do Médico Assistente, a Apelada enquadra na categoria de internamento domiciliar,
sendo obrigação da Apelante autorizar e custear todo o procedimento.
Assim, restou clara e induvidosa a conduta ilícita da Apelante ao descumprir o previsto
no CDC e o código civil.
Art. 423. Quando houver no contrato de adesão cláusulas que gerem dúvida quanto à
sua interpretação, será adotada a mais favorável ao aderente.
Noutra parte, é evidente que não está presente na relação contratual ora questionada a
autonomia da vontade, pois, embora a Apelada tenha contratado o plano de saúde, não tem os
mesmos poderes de modificar as cláusulas conforme suas necessidades.
Ao depois, as afirmações falsas da Apelante não merecem maiores digressões por parte
dos MM Julgadores, uma vez que a decisão atacada está em conformidade com o CDC, sendo
inspirada na melhor doutrina e jurisprudência.
Deste modo, fica clara a má-fé da Apelante em relação a Apelada, uma vez que
descumpriu uma obrigação, esquivando-se de suas responsabilidades. ISSO É UM
ABSURDO!
O que se observa é que a Operadora Apelante quer repassar o risco do seu negócio, que
está relacionado a um serviço essencial, ao consumidor, além de ir de encontro com o real
equilíbrio contratual, pois claramente se verifica o objetivo de somar cada vez mais lucros,
onerando, com isso, o segurado de forma desigual e arbitrária, com cláusulas abusivas.
Desta forma, deve ser mantida a sentença em todos os seus termos, tendo em vista a
conduta abusiva praticada pela Apelante, dando total IMPROCEDÊNCIA ao recurso de
apelação.
Inobstante, é legítima a condenação em danos morais de cujus, posto que este sofreu os
danos morais quando ainda estava e ingressou com a demanda ainda em vida, diante da negativa
e dos atos arbitrários da operadora de saúde.
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar
perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista
neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto
grau.
“...não há a menor distinção entre a transmissibilidade do dano moral e do dano patrimonial,
tendo em vista que o próprio CC/2002 regulamenta em seus artigos 12 e 20 a legitimação dos
herdeiros com relação à proteção de direitos da personalidade do de cujus.”
Deste modo, não restam dúvidas de que a conduta da Apelante ocasionou diversos
transtornos à saúde da apelada ao negar o internamento domiciliar para a Autora, ora
apelado.
Assim, a brilhante sentença proferida pelo MM Juiz deve ser mantida, tendo em vista a
angustia, o sofrimento em que passou o Apelado.
Vê-se logo que a demanda não versa sobre valores, dinheiro e interesses financeiros,
mas sobre os direitos essenciais “garantidos” constitucionalmente, ou seja, versa sobre direitos
básicos, como a vida, a saúde, a moradia, a comida, para com isso ter o cidadão direito a uma
vida digna.
Assim, aquele que contra tal direito se insurgir deve sofrer consequências no mínimo
gravosas, com punições em forma de sanção, para que se possa coibir atos ilegais e arbitrários
decorrentes de abuso de direito. Talvez, assim, consiga o Judiciário, com todo seu Poder,
acabar, limitar ou diminuir o descaso e abuso sofridos por tantos cidadãos em situações
semelhantes.
Ademais, a reparação por dano moral não decorre da simples falta de assistência, mas
da situação de abalo psicológico em que se sofreu o Apelado, ora Recorrido, que estava com
fortes dores, correndo o risco de vida.
Neste teor, pode-se afirmar que a responsabilidade civil adotada pelo Direito pátrio
baseia-se na existência do ato ofensivo, do dano experimentado e do nexo causal entre ato e
dano. Como já foi explicitado anteriormente, não resta dúvida que a mera exposição do
apelado basta para explicitar seu tormento psíquico, visto que viu sendo negado todo o seu
direito quanto ao INTERNAMENTO EM REGIME DOMICILIAR – HOME CARE, bem
como todos os materiais solicitados, conforme requisição médica, assim como tudo que
viesse a necessitar até o total restabelecimento de sua saúde, sem qualquer restrição ou
exclusão, que foi NEGADO pela Apelante.
Desta feita, está mais do que caracterizado o ato ofensivo com danos psicológicos, cuja
indenização ora se reclama.
No tocante ao valor da condenação, a mesma deve ser mantida, ou então majorada, mas
de modo algum deve ser reduzida ou suprimida, pois a vida do Apelado vale muito mais que
qualquer valor arbitrado por este Egrégio Tribunal.
Tal montante não se justifica para enriquecer a vítima, ora, Apelado, mas serve apenas
para amenizar o sofrimento da mesma, que passou por situações no mínimo constrangedoras.
DO PEDIDO
Destarte, por tudo que foi exposto, requer o Apelado, aos Doutos Julgadores da
Colenda Turma do Tribunal de Justiça do Estado de Pernambuco, que se dignem em
NEGAR PROVIMENTO a presente APELAÇÃO, por falta de amparo legal e face aos
argumentos invocados, mantendo a r. SENTENÇA concedida pelo MM Juiz em todos os
seus termos, por ser reflexo da mais salutar e costumeira JUSTIÇA.
Nestes termos,
Pede deferimento.