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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ

9ª CÂMARA CÍVEL

Autos nº. 0005747-03.2018.8.16.0058

Apelação Cível n° 0005747-03.2018.8.16.0058


1ª Vara Cível de Campo Mourão
Apelante(s): ANGELA MARIA CARDOSO
Apelado(s): HOSPITAL SANTA CASA DE MISERICORDIA DE CAMPO MOURAO e ORLANDO
SILVEIRA BARRETO NETO
Relator: Desembargador Roberto Portugal Bacellar

APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSO CIVIL. CIVIL. CONSUMIDOR.


RESPONSABILIDADE CIVIL. ERRO MÉDICO. “AÇÃO DE
RESPONSABILIDADE CIVIL POR ERRO MÉDICO C/C INDENIZAÇÃO
POR DANOS MATERIAIS E MORAIS”. SENTENÇA DE
IMPROCEDÊNCIA. ALEGAÇÃO DE FALHA NA PRESTAÇÃO DE
SERVIÇOS PELA NEGLIGÊNCIA MÉDICA NA RETIRADA DOS
RESTOS PLACENTÁRIOS – INEXISTÊNCIA DE FALHA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS – LAUDO PERICIAL CONCLUSIVO NO
SENTIDO DE QUE O PROCEDIMENTO ADOTADO FOI O CORRETO –
REALIZAÇÃO DE DEQUITAÇÃO E CURAGEM PLACENTÁRIA –
RETENÇÃO PLACENTÁRIA QUE OCORRE EM CERTOS CASOS –
PRECEDENTE SEMELHANTE DESTA CÂMARA – SENTENÇA
MANTIDA. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS RECURSAIS. RECURSO
DESPROVIDO.

VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0005747-


03.2018.8.16.0058, da Comarca de Campo Mourão – 1ª Vara Cível, em que é Apelante ÂNGELA
MARIA CARDOSO e Apelados HOSPITAL SANTA CASA DE MISERICORDIA DE CAMPO
MOURÃO E OUTRO.

I – RELATÓRIO

Trata-se de recurso de apelação interposto por Ângela Maria Cardoso contra a sentença
(mov. 235.1, dos autos originários), proferida na “ação de responsabilidade civil por erro médico c/c
indenização por danos materiais e morais”, nos seguintes termos:
“(...) III – DISPOSITIVO

Diante do exposto, JULGO IMPROCEDENTE o pedido inicial, com fulcro no


artigo 487, inciso I, do Código de Processo Civil, consoante fundamentação
supra.

Outrossim, em razão da sucumbência total, condeno a requerente ao pagamento


das custas e despesas processuais, bem assim aos honorários advocatícios, os
quais fixo, com fulcro no artigo 85, §8º, do CPC, em R$ 3.500,00 (três mil e
quinhentos reais.

Sendo a requerente beneficiária da gratuidade da justiça as obrigações


decorrentes de sua sucumbência ficam sob condição suspensiva de exigibilidade
e só poderão ser cobradas se houver modificação no seu estado econômico no
prazo de até 05 (cinco) anos contados do trânsito em julgado dessa sentença, nos
termos do artigo 98, § 3º do Novo Código de Processo Civil. Portanto, em
havendo pagamento em favor da autora, haverá notória modificação do seu
estado econômico, de forma que deverão as custas processuais serem quitadas,
abatendo-se das quantias depositadas nos autos. (...)” (mov. 235.1)

Em suas razões recursais (mov. 244.1, dos autos originários), a apelante Ângela Maria
Cardoso alegou, em síntese, que: (a) há responsabilidade civil do hospital apelado de forma objetiva, nos
termos do art. 14, do CDC, bem como nos arts. 186 e 927, parágrafo único, ambos do Código Civil; (b)
no exame pericial realizado nos autos (mov. 126.1), o perito asseverou que a ausência de registros a
respeito da cesárea e do procedimento de curetagem da apelante o impediam de ser mais assertivo e, de
fato, vários quesitos formulados ficaram prejudicados pela falta de prontuário médico, especialmente
quanto ao procedimento de curetagem; (c) embora no exame pericial realizado nos autos replique o
entendimento apresentado no prontuário médico, de que não teriam havido intercorrências na cesariana, é
incontroverso entre as partes que a apelante foi submetida a procedimento de curetagem para retirada de
restos de placenta que foram deixados pela realização de seu parto; (d) o procedimento de curetagem
ocorreu somente depois de 30 (trinta) dias depois de realizada a cesariana, no entanto inexiste motivo
para os médicos não terem realizado o procedimento no momento em que a apelante retornou ao hospital
reclamando de dores e sangramento; (e) houve negligência médica pela ausência de atendimento quando
a apelante reclamava de dores, bem como em razão de não ter havido registro dos atendimentos em
prontuário médico, que se configura como falha na prestação de serviço; (f) o procedimento de
curetagem com necessidade de anestesia aumentou o tempo de recuperação da apelante e a fez passar por
grande sofrimento, pois perdeu seu filho no mesmo hospital; (g) a apelante não recebeu a adequada
orientação sobre o seu estado de saúde, tendo sofrido dores abdominais, sangramentos e corrimentos com
odor fétido, problemas estes que não teriam ocorrido caso os restos placentários tivessem sido retirados
anteriormente; (h) pelo conteúdo do exame pericial realizados nos autos, verifica-se que houve erro de
procedimento na realização da cesariana, isto porque o laudo pericial demonstra a existência de restos
placentários; (i) há tentativa de mascarar o erro nos prontuários médicos, sendo que em vários momentos
há indicação de que houve a retirada de restos ovulares e que a paciente teve um aborto, o que na verdade
não aconteceu, isto porque a apelante foi submetida a uma cesariana, sendo que na folha de anestesia
consta “aborto incompleto”; (j) deve haver a responsabilização civil do médico, uma vez que não tomou
as precauções necessárias durante a cirurgia, o que acabou causando complicações na recuperação da
paciente, submetendo a apelante a novo procedimento cirúrgico e internamento para reverter o quadro
decorrente da negligência na realização do parto; (k) pugna pela reforma da sentença, para que seja
declarada a responsabilidade solidária dos apelados, diante da negligência ocorrida na prestação de
serviços médicos e hospitalares, pela culpa “in eligendo” e “in vigilando”; (l) requer a condenação dos
apelados ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios de sucumbência.

Foram apresentadas contrarrazões pelo apelado Hospital Santa Casa de Misericórdia de


Campo Mourão (mov. 251.1, dos autos originários) e pelo apelado Orlando Silveira Barreto Neto (mov.
252.1, dos autos originários), ambos pleiteando o desprovimento do recurso.

Encaminhados os autos à Procuradoria de Justiça (mov. 9.1, autos de apelação) foi


manifestado o desinteresse de intervenção no feito (mov. 12.1, autos de apelação).

É o relatório.

II – VOTO E SUA FUNDAMENTAÇÃO

Presentes os pressupostos de admissibilidade recursal, nos termos dos artigos 1.009 a


1.014, do Código de Processo Civil, conheço do recurso e recebo-o em seu duplo efeito (suspensivo e
devolutivo) em função de não haver quaisquer das exceções previstas no artigo 1.012, § 1º, do Código de
Processo Civil.

Trata-se de “ação de responsabilidade civil por erro médico c/c indenização por danos
materiais e morais”, ajuizada pela apelante Ângela Maria Cardoso e tendo como réus o Hospital Santa
Casa de Misericórdia de Campo Mourão e o médico Orlando Silveira Barreto Neto, em razão dos
supostos danos decorrentes do alegado erro médico na realização do procedimento de cesariana.

De acordo com o que declarou a autora na petição inicial (mov. 1.1, dos autos originários),
ela estava grávida e por ter sentido contrações foi encaminhada para o Hospital Santa Casa de
Misericórdia de Campo Mourão ter o realizado por meio de uma cesariana, procedimento este realizado
pelo médico Orlando Silveira Barreto Neto, no dia 12.12.2017.

Segundo a autora, o seu bebê faleceu apenas 2 (duas) horas após o nascimento, em que
pese o parto tenha ocorrido sem qualquer complicação, tendo a autora ficado internada por mais 2 (dois)
dias, deixando o hospital em 14.12.2017.

Aduz a autora que quando recebeu alta foi informada que deveria retornar ao hospital
apelado para realizar consulta pós-parto, ou antes caso tivesse alguma alteração na coloração ou fortes
odores no corte cirúrgico.
Afirmou a autora que após o parto sofreu com alto fluxo de sangramento e fortes dores
abdominais, que imaginava serem normais em decorrência do parto, entretanto, como a consulta de
retorno estava próxima e o sangramento diminuiu, mesmo com as fortes dores, preferiu aguardar a
consulta agendada.

Assevera a autora que quando compareceu à consulta de retorno, não sabendo ao certo a
data do atendimento, porém que ocorreu entre os dias 13 e 17 de janeiro de 2018, informou que estava
com corrimento da cor de borra de café e que a coloração alterava para claro e escuro, com odor fétido e
sentia fortes dores abdominais, ao que foi informada que tais sintomas seriam normais. O médico
responsável pelo atendimento então solicitou um exame de ultrassom e foi medicada.

Alega a autora que no dia 22 de janeiro de 2018 realizou o exame de ultrassom e foi
informada que havia resto de placenta em seu útero, ao que foi solicitado que a autora retornasse em uma
semana para buscar o exame e realizar atendimento médico.

A autora argumenta que no retorno ao hospital foi atendida pelo médico apelado Orlando
Silveira Barreto Neto, tendo sido atendida com descaso e agendada nova cirurgia para a retirada dos
restos de placenta, ficando o procedimento agendado para o dia 26.01.2018.

Aponta a autora que a cirurgia foi realizada e o material retirado foi coletado para exame,
tendo sido constatado que se tratava de “restos deciduais, necrose e hemorragia”, os quais seriam restos
placentários, passando a autora a ter fortes sangramentos e aumento em seu tempo de recuperação, em
razão de fortes dores na região pélvica e cólicas intensas.

Defende a autora que teria havido negligência nos serviços médicos prestados e
hospitalares, diante da culpa “in eligendo” e “in vigilando”, ao passo que pleiteou a condenação dos réus
ao pagamento de indenização a título de danos morais no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).

Após o regular trâmite processual, a ação foi julgada improcedente, entendo o Juízo de
primeiro grau que não houve falha na prestação de serviços médicos no caso dos autos.

Pela sucumbência, a autora foi condenada ao pagamento das custas e despesas


processuais, bem como os honorários de sucumbência, os quais foram fixados por apreciação equitativa
em R$ 3.500,00 (três mil e quinhentos reais), ressalvada a suspensão de exigibilidade de tais verbas por
ser a autora beneficiária da gratuidade de justiça.

É contra a sentença de improcedência da ação que se insurge a apelante.

Feitas tais considerações, passa-se à análise do presente recurso.

Da alegada falha na prestação de serviços

Em síntese, aduz a apelante que teria havido falha na prestação de serviços médicos e
hospitalares pela negligência no atendimento da paciente, uma vez que o laudo pericial demonstra a
existência de restos placentários.
Sem razão à apelante.

De início, observe-se que é aplicável o CDC no caso dos autos, tendo em vista que a autora
/apelante se adequa ao conceito de consumidor previsto no art. 2º, caput, do CDC, enquanto o réu médico
e o hospital réu se amoldam ao conceito de fornecedor, previsto no art. 3º, caput, do CDC.

Ressalte-se que, no que tange ao médico apelado, a responsabilidade civil é subjetiva,


consoante o disposto no art. 14, § 4º, do CDC, pelo que é necessária a demonstração de negligência,
imperícia ou imprudência na conduta do profissional, tratando-se de obrigação de meio e não de
resultado.

Por outro lado, a responsabilidade civil do hospital pelos danos causados à paciente é
objetiva, nos termos do art. 14, caput, do CDC e art. 37, § 6º, da Constituição da República, de modo que
responde independentemente de culpa pela falha na prestação de serviço, cabendo, portanto, ao hospital
réu a prova de que inexistiu falha na prestação do serviço.

Ressalte-se, entretanto, que a responsabilidade civil de hospital pelos atos praticados pelos
médicos a ele vinculados, como no caso dos autos, depende da demonstração da responsabilidade civil do
profissional de saúde que atuou no caso.

Sobre o tema:

“AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS E MATERIAIS. AUTORA COM


CEGUEIRA TOTAL E IRREVERSÍVEL. ALEGAÇÃO DE QUE OS DANOS
FORAM CAUSADOS PELA AUSÊNCIA/MÁ PRESTAÇÃO DO SERVIÇO PELO
HOSPITAL. PRELIMINAR. PEDIDO DE MANUTENÇÃO DA ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA GRATUITA. NÃO CONHECIMENTO. BENESSE CONCEDIDA
EM PRIMEIRO GRAU QUE SE ESTENDE POR TODO O PERCURSO
PROCESSUAL E EM TODAS AS INSTÂNCIAS. AUSÊNCIA DE INTERESSE
RECURSAL. AGRAVO RETIDO. REITERAÇÃO EM CONTRARRAZÕES.
IMPOSSIBILIDADE DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. NÃO
ACOLHIMENTO. NECESSIDADE DE FACILITAÇÃO DA DEFESA DO
CONSUMIDOR. INTELIGÊNCIA DO ART. 6º, INCISO VIII, CDC. MÉRITO.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO HOSPITAL QUE DEPENDE DA
DEMONSTRAÇÃO DA CULPA DO MÉDICO, PREPOSTO DA
INSTITUIÇÃO. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.
AUSÊNCIA DE PROVA DO NEXO DE CAUSALIDADE. PARTO PREMATURO.
DIAGNÓSTICO DE CIANOSE. TRATAMENTO DE OXIGENOTERAPIA.
SUBMISSÃO ADEQUADA DA RECÉM NASCIDA À EXPOSIÇÃO DE
OXIGÊNIO. DESENVOLVIMENTO DE RETINOPATIA DA PREMATURIDADE.
LESÃO SOFRIDA PELA REQUERENTE QUE, CONFORME LAUDO
PERICIAL, NÃO TEM NEXO CAUSAL COM O TRATAMENTO DISPENSADO
PELO NOSOCÔMIO. INEXISTÊNCIA DE REGULAMENTAÇÃO, À ÉPOCA DO
NASCIMENTO DA AUTORA, DE OBRIGATORIEDADE DE
ACOMPANHAMENTO DA POR PROFISSIONAL ESPECIALIZADO EM
OFTAMOLOGIA. DIRETRIZES DO MINISTÉRIO DA SAÚDE SOBRE A
PREVENÇÃO DA MOLÉSTIA LANÇADA APENAS QUANDO DA NOTA
TÉCNICA N. 11/2015. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA CONFIRMADA.
HONORÁRIOS RECURSAIS DEVIDOS. AGRAVO RETIDO DESPROVIDO.
APELAÇÃO PARCIALMENTE CONHECIDA E DESPROVIDA.”

(TJPR - 9ª C.Cível - 0017804-82.2009.8.16.0021 - Cascavel - Rel.:


DESEMBARGADOR ARQUELAU ARAUJO RIBAS - J. 28.08.2021, P.
03.09.2021) (grifei)

O art. 186, do Código Civil, estabelece o seguinte:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou


imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito.”

Nos termos do art. 927, do Código Civil, aquele que comete ato ilícito é obrigado a repará-
lo:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de


culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.”

Feitas tais considerações, consigne-se que, no caso dos autos, não restou demonstrada a
existência de falha na prestação de serviços por parte do médico e do hospital apelado.

Destaque-se que no exame pericial realizado nos autos (mov. 126.1, dos autos originários),
o perito asseverou que em relação ao atendimento realizado pelo médico apelado que detectou a
necessidade de realização de nova cirurgia, não seria possível avaliar se a conduta adotada foi correta e a
se a indicação foi feita no prazo adequado, diante da ausência de prontuário nesse sentido.

De qualquer forma, a queixa da apelante diz respeito ao primeiro atendimento realizado


pelo médico – o procedimento de cesariana e de retirada do material da placenta – que a seu ver deveria
ter sido eficiente ao ponto de que não precisasse passar por nova cirurgia, com novo prazo de
recuperação.

No entanto, quanto às conclusões do perito são no sentido de que não houve erro médico
no referido procedimento. Veja-se:
“1) De acordo com os exames e prontuário médico, os procedimentos adotados
pelo Hospital e Médico estavam de acordo com o procedimento correto em
casos iguais a da Requerente?

Com relação ao primeiro procedimento (cesariana), de acordo com prontuário


apresentado, foi um procedimento de urgência, em gestação pré-termo, RN com
malformações congênitas, vindo a óbito nas primeiras horas. Do ponto de vista
obstétrico não existem elementos que indiquem complicações ou procedimentos
fora do habitual. No segundo procedimento, a falta de prontuário do atendimento
em que a suspeita diagnóstica foi levantada não permite maiores análises quando
a conduta tomada e se a mesma foi indicada para o prazo correto. Do ponto de
vista cirúrgico, o procedimento ocorreu dentro do habitual, sem intercorrências.

2) Os réus poderiam ter evitado que ficasse os restos de placenta no útero da


Requerente?

As medidas cirúrgicas durante a cesariana, necessárias para tal, foram descritas


(dequitação e curagem). (...)” (mov. 126.1) (grifos do original)

Conforme se verifica do prontuário médico da autora (mov. 31.8, pág. 56, dos autos
originários) realmente constam que foram realizados os procedimentos de dequitação e curagem citados
pelo perito no exame pericial. Confira-se:

A dequitação pode ser conceituada da seguinte forma:

“dequitação

nome feminino

Expulsão espontânea da placenta e das membranas após a saída do feto.

dequitação artificial

Extração manual da placenta e das membranas depois da expulsão ou extração


do feto.
período de dequitação

Período correspondente ao terceiro tempo do trabalho de parto e que começa


com a saída do feto e termina depois da expulsão ou extração da placenta e das
membranas.”

(Porto Editora – dequitação no Dicionário infopédia de Termos Médicos. Porto:


Porto Editora. Disponível em https://www.infopedia.pt/dicionarios/termos-
medicos/dequitação Consulta realizada em 24.07.2022)

Por seu turno, a curagem pode ser assim descrita:

“A curagem é definida como um esvaziamento, manual, do conteúdo de uma


cavidade natural ou patológica. A curagem uterina, por sua vez, diz respeito, à
remoção de conteúdo intra-uterino, realizada manualmente, com a introdução
dos dedos indicador e médio envolvidos em gaze ou compressa, por meio do colo
uterino, procurando remover restos placentários, material ovular ou coágulos.
Adicionalmente, pode ser indicada em situações de sangramento puerperal,
provocado por atonia uterina e retenção placentária.” (Parecer COREN-SP CAT
Nº 48/2010. Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo. Disponível em:
https://portal.coren-sp.gov.br/wp-content/uploads/2013/07
/parecer_coren_sp_2010_48.pdf Consulta realizada em 25 de julho de 2022).

Ao ser questionado pelo hospital apelado, o perito consignou a retenção de restos de


placenta ocorre em certos casos. Vejamos:

“8. A permanência de restos placentários ou ovulares após o parto é uma


intercorrência comum na obstetrícia? Em caso negativo, justifique.

Ocorre em um percentual de casos, mesmo observadas as melhores técnicas.”


(mov. 126.1)

Assim sendo, conclui-se que as condutas do médico apelado foram as corretas para o
procedimento, não havendo de se falar em falha na prestação de serviços médicos e hospitalares no caso
dos autos.

No mesmo sentido:

“APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS –


ERRO MÉDICO – AUTORA QUE, DIAS DEPOIS DE REALIZADO PARTO
NORMAL, CONTINUOU COM SANGRAMENTO E TEVE QUE RETORNAR AO
HOSPITAL PARA REALIZAÇÃO DE CURETAGEM – SENTENÇA QUE JULGA
IMPROCEDENTE O PEDIDO INICIAL. RECORRENTE QUE ALEGA
NEGLIGÊNCIA MÉDICA – NÃO ACOLHIMENTO – LAUDO PERICIAL
QUE CONCLUI PELO CORRETO PROCEDIMENTO PRATICADO PELO
OBSTETRA – RETENÇÃO PLACENTÁRIA, ADEMAIS, APONTADA
COMO EVENTO POSSÍVEL DE OCORRER, INDEPENDENTEMENTE DA
CONDUTA MÉDICA – AUTORA QUE NÃO TEVE QUALQUER DANO OU
SEQUELA EM DECORRÊNCIA DO FATO – AUSÊNCIA DE NEXO
CAUSAL ENTRE O DANO ALEGADO E A CONDUTA MÉDICA – DANO
MORAL NÃO CONFIGURADO. HONORÁRIOS SUCUMBENCIAIS
MAJORADOS, OBSERVADA A GRATUIDADE DA JUSTIÇA. RECURSO NÃO
PROVIDO.”

(TJPR - 9ª C.Cível - 0001031-18.2015.8.16.0193 - Colombo - Rel.:


DESEMBARGADOR GIL FRANCISCO DE PAULA XAVIER FERNANDES
GUERRA - J. 14.05.2022, P. 16.05.2022) (grifei)

Nesses termos, a sentença de improcedência da ação deve ser mantida, restando


prejudicada, portanto, a análise do pedido de indenização por danos morais e de condenação dos apelados
ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios de sucumbência.

Dos honorários recursais

O recurso da autora/apelante foi desprovido, assim é cabível a majoração dos honorários


recursais em favor dos procuradores da parte apelada, em observância aos critérios estabelecidos pelo
STJ no julgamento do EDcl no AgInt no REsp 1.573.573 / RJ.

Dessa forma, observada a complexidade da causa, a duração do processo e o trabalho


desempenhado pelos advogados, observando-se que os honorários foram arbitrados em quantia fixa pelo
Juízo de primeiro grau, fixo em R$ 1.000,00 (hum mil reais) os honorários decorrentes da sucumbência
recursal, nos termos do previsto no art. 85, § 11, do Código de Processo Civil, em favor dos procuradores
dos apelados, ressalvada a suspensão de exigibilidade de tais verbas, em função de ser a autora
beneficiária da gratuidade de justiça.

Pelo exposto, nego provimento ao recurso de apelação, nos termos da fundamentação


apresentada.

III – DECISÃO

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 9ª Câmara Cível do


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar CONHECIDO O
RECURSO DE PARTE E NÃO-PROVIDO o recurso de ANGELA MARIA CARDOSO.

O julgamento foi presidido pelo (a) Desembargador Domingos José


Perfetto, sem voto, e dele participaram Desembargador Roberto Portugal Bacellar (relator),
Desembargador Rogério Ribas e Desembargador Arquelau Araujo Ribas.
13 de outubro de 2022

Desembargador Roberto Portugal Bacellar

Relator

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