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9ª CÂMARA CÍVEL
I – RELATÓRIO
Trata-se de recurso de apelação interposto por Ângela Maria Cardoso contra a sentença
(mov. 235.1, dos autos originários), proferida na “ação de responsabilidade civil por erro médico c/c
indenização por danos materiais e morais”, nos seguintes termos:
“(...) III – DISPOSITIVO
Em suas razões recursais (mov. 244.1, dos autos originários), a apelante Ângela Maria
Cardoso alegou, em síntese, que: (a) há responsabilidade civil do hospital apelado de forma objetiva, nos
termos do art. 14, do CDC, bem como nos arts. 186 e 927, parágrafo único, ambos do Código Civil; (b)
no exame pericial realizado nos autos (mov. 126.1), o perito asseverou que a ausência de registros a
respeito da cesárea e do procedimento de curetagem da apelante o impediam de ser mais assertivo e, de
fato, vários quesitos formulados ficaram prejudicados pela falta de prontuário médico, especialmente
quanto ao procedimento de curetagem; (c) embora no exame pericial realizado nos autos replique o
entendimento apresentado no prontuário médico, de que não teriam havido intercorrências na cesariana, é
incontroverso entre as partes que a apelante foi submetida a procedimento de curetagem para retirada de
restos de placenta que foram deixados pela realização de seu parto; (d) o procedimento de curetagem
ocorreu somente depois de 30 (trinta) dias depois de realizada a cesariana, no entanto inexiste motivo
para os médicos não terem realizado o procedimento no momento em que a apelante retornou ao hospital
reclamando de dores e sangramento; (e) houve negligência médica pela ausência de atendimento quando
a apelante reclamava de dores, bem como em razão de não ter havido registro dos atendimentos em
prontuário médico, que se configura como falha na prestação de serviço; (f) o procedimento de
curetagem com necessidade de anestesia aumentou o tempo de recuperação da apelante e a fez passar por
grande sofrimento, pois perdeu seu filho no mesmo hospital; (g) a apelante não recebeu a adequada
orientação sobre o seu estado de saúde, tendo sofrido dores abdominais, sangramentos e corrimentos com
odor fétido, problemas estes que não teriam ocorrido caso os restos placentários tivessem sido retirados
anteriormente; (h) pelo conteúdo do exame pericial realizados nos autos, verifica-se que houve erro de
procedimento na realização da cesariana, isto porque o laudo pericial demonstra a existência de restos
placentários; (i) há tentativa de mascarar o erro nos prontuários médicos, sendo que em vários momentos
há indicação de que houve a retirada de restos ovulares e que a paciente teve um aborto, o que na verdade
não aconteceu, isto porque a apelante foi submetida a uma cesariana, sendo que na folha de anestesia
consta “aborto incompleto”; (j) deve haver a responsabilização civil do médico, uma vez que não tomou
as precauções necessárias durante a cirurgia, o que acabou causando complicações na recuperação da
paciente, submetendo a apelante a novo procedimento cirúrgico e internamento para reverter o quadro
decorrente da negligência na realização do parto; (k) pugna pela reforma da sentença, para que seja
declarada a responsabilidade solidária dos apelados, diante da negligência ocorrida na prestação de
serviços médicos e hospitalares, pela culpa “in eligendo” e “in vigilando”; (l) requer a condenação dos
apelados ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios de sucumbência.
É o relatório.
Trata-se de “ação de responsabilidade civil por erro médico c/c indenização por danos
materiais e morais”, ajuizada pela apelante Ângela Maria Cardoso e tendo como réus o Hospital Santa
Casa de Misericórdia de Campo Mourão e o médico Orlando Silveira Barreto Neto, em razão dos
supostos danos decorrentes do alegado erro médico na realização do procedimento de cesariana.
De acordo com o que declarou a autora na petição inicial (mov. 1.1, dos autos originários),
ela estava grávida e por ter sentido contrações foi encaminhada para o Hospital Santa Casa de
Misericórdia de Campo Mourão ter o realizado por meio de uma cesariana, procedimento este realizado
pelo médico Orlando Silveira Barreto Neto, no dia 12.12.2017.
Segundo a autora, o seu bebê faleceu apenas 2 (duas) horas após o nascimento, em que
pese o parto tenha ocorrido sem qualquer complicação, tendo a autora ficado internada por mais 2 (dois)
dias, deixando o hospital em 14.12.2017.
Aduz a autora que quando recebeu alta foi informada que deveria retornar ao hospital
apelado para realizar consulta pós-parto, ou antes caso tivesse alguma alteração na coloração ou fortes
odores no corte cirúrgico.
Afirmou a autora que após o parto sofreu com alto fluxo de sangramento e fortes dores
abdominais, que imaginava serem normais em decorrência do parto, entretanto, como a consulta de
retorno estava próxima e o sangramento diminuiu, mesmo com as fortes dores, preferiu aguardar a
consulta agendada.
Assevera a autora que quando compareceu à consulta de retorno, não sabendo ao certo a
data do atendimento, porém que ocorreu entre os dias 13 e 17 de janeiro de 2018, informou que estava
com corrimento da cor de borra de café e que a coloração alterava para claro e escuro, com odor fétido e
sentia fortes dores abdominais, ao que foi informada que tais sintomas seriam normais. O médico
responsável pelo atendimento então solicitou um exame de ultrassom e foi medicada.
Alega a autora que no dia 22 de janeiro de 2018 realizou o exame de ultrassom e foi
informada que havia resto de placenta em seu útero, ao que foi solicitado que a autora retornasse em uma
semana para buscar o exame e realizar atendimento médico.
A autora argumenta que no retorno ao hospital foi atendida pelo médico apelado Orlando
Silveira Barreto Neto, tendo sido atendida com descaso e agendada nova cirurgia para a retirada dos
restos de placenta, ficando o procedimento agendado para o dia 26.01.2018.
Aponta a autora que a cirurgia foi realizada e o material retirado foi coletado para exame,
tendo sido constatado que se tratava de “restos deciduais, necrose e hemorragia”, os quais seriam restos
placentários, passando a autora a ter fortes sangramentos e aumento em seu tempo de recuperação, em
razão de fortes dores na região pélvica e cólicas intensas.
Defende a autora que teria havido negligência nos serviços médicos prestados e
hospitalares, diante da culpa “in eligendo” e “in vigilando”, ao passo que pleiteou a condenação dos réus
ao pagamento de indenização a título de danos morais no valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais).
Após o regular trâmite processual, a ação foi julgada improcedente, entendo o Juízo de
primeiro grau que não houve falha na prestação de serviços médicos no caso dos autos.
Em síntese, aduz a apelante que teria havido falha na prestação de serviços médicos e
hospitalares pela negligência no atendimento da paciente, uma vez que o laudo pericial demonstra a
existência de restos placentários.
Sem razão à apelante.
De início, observe-se que é aplicável o CDC no caso dos autos, tendo em vista que a autora
/apelante se adequa ao conceito de consumidor previsto no art. 2º, caput, do CDC, enquanto o réu médico
e o hospital réu se amoldam ao conceito de fornecedor, previsto no art. 3º, caput, do CDC.
Por outro lado, a responsabilidade civil do hospital pelos danos causados à paciente é
objetiva, nos termos do art. 14, caput, do CDC e art. 37, § 6º, da Constituição da República, de modo que
responde independentemente de culpa pela falha na prestação de serviço, cabendo, portanto, ao hospital
réu a prova de que inexistiu falha na prestação do serviço.
Ressalte-se, entretanto, que a responsabilidade civil de hospital pelos atos praticados pelos
médicos a ele vinculados, como no caso dos autos, depende da demonstração da responsabilidade civil do
profissional de saúde que atuou no caso.
Sobre o tema:
Nos termos do art. 927, do Código Civil, aquele que comete ato ilícito é obrigado a repará-
lo:
“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Feitas tais considerações, consigne-se que, no caso dos autos, não restou demonstrada a
existência de falha na prestação de serviços por parte do médico e do hospital apelado.
Destaque-se que no exame pericial realizado nos autos (mov. 126.1, dos autos originários),
o perito asseverou que em relação ao atendimento realizado pelo médico apelado que detectou a
necessidade de realização de nova cirurgia, não seria possível avaliar se a conduta adotada foi correta e a
se a indicação foi feita no prazo adequado, diante da ausência de prontuário nesse sentido.
No entanto, quanto às conclusões do perito são no sentido de que não houve erro médico
no referido procedimento. Veja-se:
“1) De acordo com os exames e prontuário médico, os procedimentos adotados
pelo Hospital e Médico estavam de acordo com o procedimento correto em
casos iguais a da Requerente?
Conforme se verifica do prontuário médico da autora (mov. 31.8, pág. 56, dos autos
originários) realmente constam que foram realizados os procedimentos de dequitação e curagem citados
pelo perito no exame pericial. Confira-se:
“dequitação
nome feminino
dequitação artificial
Assim sendo, conclui-se que as condutas do médico apelado foram as corretas para o
procedimento, não havendo de se falar em falha na prestação de serviços médicos e hospitalares no caso
dos autos.
No mesmo sentido:
III – DECISÃO
Relator