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Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão

PJe - Processo Judicial Eletrônico

08/05/2023

Número: 0827133-25.2023.8.10.0001
Classe: TUTELA ANTECIPADA ANTECEDENTE
Órgão julgador: Vara de Saúde Pública da Comarca da Ilha de São Luís
Última distribuição : 08/05/2023
Valor da causa: R$ 1.000,00
Assuntos: Unidade de terapia intensiva (UTI) / unidade de cuidados intensivos (UCI)
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? SIM
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
DOMINGAS MARQUES DOS SANTOS (REQUERENTE) MARCOS ANTONIO DA SILVA FERREIRA (ADVOGADO)
ESTADO DO MARANHAO (REQUERIDO)
MUNICIPIO DE SAO LUIS (REQUERIDO)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
91666 08/05/2023 16:18 Decisão Decisão
899
VARA DE SAÚDE PÚBLICA DA COMARCA DA ILHA DE SÃO LUÍS

AÇÃO ORDINÁRIA

Processo : 0827133-25.2023.8.10.0001 (S)


Autor : Domimgas Marques dos Santos
Réus : Estado do Maranhão e Município de São Luís

DECISÃO
Trata-se de ação de obrigação de fazer, com pedido de tutela de urgência, ajuizada
por Domingas Marques dos Santos contra o Estado do Maranhão e o Município de
São Luís, na qual requereu que os réus sejam compelidos a disponibilizarem a
transferência da autora, da UPA do Vinhais, onde se encontra internada, para um leito
oncológico em hospital de alta complexidade para que seja realizado o tratamento
especializado, bem como os demais procedimentos que se mostrarem indispensáveis
ao seu tratamento; ação distribuída em 08.05.2023.
Aduziu a parte autora que deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento – UPA do
Vinhais em 30/04/2023, apresentando quadro de dor abdominal superior associado a
náuseas e vômitos intensos. Após serem feitos os procedimentos iniciais, se verificou
que a paciente estava acometida de coledocolitáse e colecistite (presença de cálculos
na vesícula biliar e inflamação na vesícula), permanecendo internada na referida
unidade de saúde, local em que permanece internada até a presente data.
Por fim, ante a persistência do quadro agudo de dor abdominal a solicitação de leito de
clínica cirúrgica fora retificada para solicitação de leito oncológico em unidade de
referência por suspeitas de acometimento neoplásico, para melhor condução do caso,
conforme extrato de regulação de leito anexado nos autos (ID 91659309).
Relatado, passo à fundamentação.
Com base no artigo 98 do CPC e considerando a presunção juris tantum de
veracidade da afirmação formulada na inicial, defiro o benefício da Assistência
Judiciária Gratuita.
É cediço que a tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.
Quanto ao primeiro requisito, este se encontra evidenciado nas alegações expendidas
pela parte autora e nos documentos juntados aos autos, os quais dão conta da

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gravidade da situação por que passa a Sra. Domingas Marques dos Santos, cujo
quadro denota coledocolitáse e colecistite (presença de cálculos na vesícula biliar e
inflamação na vesícula), bem como, suspeita de acometimento neoplásico. Também
há fortes indícios de que ela não tem condições financeiras de arcar com as despesas
hospitalares, posto que se encontra internado em hospital público. Dessa forma, a
morosidade administrativa não pode ser óbice para que o demandante receba o
tratamento que necessita para o restabelecimento de sua saúde.
Com efeito, "o direito público subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica
indisponível assegurada à generalidade das pessoas pela própria Constituição da
República (art. 196). Traduz bem jurídico constitucionalmente tutelado por cuja
integridade deve velar, de maneira responsável, o Poder Público, a quem incumbe
formular – e implementar – políticas sociais e econômicas, que visem garantir, aos
cidadãos, o acesso universal e igualitário à assistência médico-hospitalar" (STF, AI
396973/RS; Rel. Min. Celso de Melo).
Na hipótese dos autos, é de ser levado em consideração, pelas indicações médicas
exibidas, a necessidade do tratamento imediato da paciente e sua carência de
recursos. E se constata que é legítima a figuração do Estado do Maranhão e do
Município de São Luís no polo passivo da ação, como assentado pela jurisprudência
nacional que determina ser incumbência dos entes públicos a assistência à saúde dos
usuários do SUS, bem como pelo fato de que este entes público têm aptidão e
prestam esse tipo de serviço de assistência médica nesta capital.
Destarte, o dever do Estado (repita-se: em sentido amplo, no caso, de todos os entes
federativos) de garantir a saúde dos cidadãos também deve englobar o dever de
fornecer o atendimento hospitalar e cuidados intensos em suas unidades com o
objetivo de evitar o agravamento do estado de saúde das pessoas que necessitarem
desse serviço, bem como de, com eficiência, garantir tratamento integral e gratuito.
De outra parte, tratando-se de caso urgente que envolve perigo de morte, é importante
salientar que a justificativa do ente público de superlotação ou inexistência de leito em
UTI nos hospitais estatais não pode obstar o direito constitucional à vida,
principalmente em um caso delicado em que a transferência foi requisitada em
30.04.2023, ou seja, há 08 (oito) dias. É tempo demais.
Por outro lado, o periculum in mora se mostra evidente. É que ela se encontra em
estado delicado desde a data em que foi regulado (30.04.2023 – ID 91659309 – pág.
01). Este fato, por si só, demonstra a urgência no fornecimento do tratamento
adequado, inclusive com a sua transferência para unidade de alta complexidade, a fim
de se garantir o próprio direito à vida da Sra. Domingas Marques dos Santos.
Por fim, o deferimento da liminar pleiteada não irá causar dano irreparável ou de difícil
reparação à parte contrária, tendo em vista tratar-se de ato administrativo vinculado –
adoção de medidas para garantia do direito à saúde da coletividade –, decorrente de
norma cogente, que deveria ser observada pela Administração Pública,
independentemente de decisão judicial. Ademais, a médio e longo prazo, de fato, será
menos custoso aos réus fornecerem o tratamento necessário, pois, caso contrário,
poderá haver agravamento do quadro clínico da paciente, o que implicará na
disponibilização de maiores recursos financeiros, humanos e administrativos.
Desse modo, constata-se que estão presentes os requisitos necessários para a
concessão da medida de urgência, razão pela qual concedo a tutela antecipada de
urgência, determinando que os réus, Estado do Maranhão e Município de São

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Luís, procedam à transferência da Sra. Domingas Marques dos Santos da UPA
do Vinhais para um leito oncológico em uma unidade hospitalar de referência da
rede pública ou conveniada/contratada, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas ou,
em caso de inexistência de leitos, em hospital da rede privada, sob as expensas dos
réus, com a realização de cirurgias, o fornecimento de todos os exames,
medicamentos e materiais necessários para a seu tratamento até que obtenha alta
hospitalar.
O não cumprimento desta decisão implicará em possibilidade de sequestro de valores
para fazer face às despesas hospitalares em unidade privada, caso seja necessário.
Cientifiquem-se as partes sobre esta desta decisão.
Notifique-se o Diretor da UPA do Vinhais.
Citem-se o Estado do Maranhão e o Município de São Luís, na pessoa de seus
Procuradores Gerais, para cumprirem a obrigação acima descrita (em 48 horas) e
para, querendo, contestarem a ação, no prazo de 30 (trinta) dias.
Notifiquem-se os Secretários Estadual e Municipal de Saúde, por intermédio dos
respectivos Secretários e junto às Centrais de Regulação de Leitos, localizado
no Hospital Carlos Macieira (a do Estado), por quem os represente; e na
CEMARC – Av. dos Franceses, s/n – Alemanha – São Luís (a do Município de São
Luís), para cumprirem esta decisão, no prazo assinalado, sob pena de multa
pessoal a ser arbitrada por este Juízo, por ato atentatório à dignidade da justiça,
previsto no art. 77, inc. IV, §§1º e 2º, do CPC/2015, como também das
cominações criminais, cíveis e processuais cabíveis, mormente no que tange à
responsabilidade por improbidade administrativa, sem prejuízo da sanção já
cominada nesta decisão.
Uma via desta decisão servirá como MANDADO a ser cumprido por Oficial de
Justiça, para efeitos de intimação do réu, Município de São Luís, por intermédio
da Procuradoria-Geral do Município e notificação dos respectivos Secretários
Municipal e Estadual de Saúde e a Central de Regulação de Leitos do Estado e
do Município, estes pessoalmente EM REGIME DE URGÊNCIA.
São Luís, 8 de maio de 2023.
Marco Antônio Ramos Fonseca

Juiz Auxiliar respondendo pela Vara de Saúde Pública

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