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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DO ___

JUIZADO ESPECIAL DA FAZENDA PÚBLICA DE CARIACICA – ES

URGENTE

GRACCIENE DE OLIVEIRA FARIAS, brasileira, divorciada, assistente


administrativo, portadora do RG n° 1.990.675- ES, inscrita no CPF sob o n°103.
570.667-90, residente e domiciliada na Rua Santa Luzia, n°31, Bairro Boa Vista,
Cariacica-ES, CEP: 29.152-295, Contatos: (27) 996354471 e (27) 998756515, dotada
de endereço eletrônico: jo-ovitor19961@hotmail.com, vem, respeitosamente a
presença de Vossa Excelência propor a seguinte:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C COM ANTECIPAÇÃO DE TUTELA


INAUDITA ALTERA PARS

Em face do ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, pessoa jurídica de direito público,


localizado na praça João Clímaco. N°142, Cidade Alta, Centro, Vitória- ES, CEP:
29.015-110, pelos motivos de fato e fundamentos a seguir aduzidos:
I- DOS FATOS:

Ilustre Magistrado (a).

Inicialmente cumpre destacar que a autora foi diagnosticada a alguns anos com
Trombofilia Hereditária, com mutação do fator V de Leyden heterozigoto, CID-10:D68,
com vários episódios de Trombose Venosa Profunda (TVP). Ainda apresenta
coagulopatia não conhecida até o momento e devido aos episódios de repetição faz
uso de Enoxaparina de 160 mg, sendo aplicado duas ampolas de 80 mg de 12 em 12
horas de uso contínuo, conforme Laudo Médico feito pelo Dr. DOUGLAS COVRE
STOCCO, CRM- ES 013353/ RQE 12152.

A autora ainda apresenta quadro de refluxo ostial da safena magna, refluxo valvar,
tromboflebite de varizes, sistema venoso profundo pérvio com refluxo femuro-poplíteo
sustentado a esquerda, varizes sistêmicas bilaterais, trombose venosa profunda em
veia poplítea e trauma em pernas evoluindo com dor e edema local conforme exames
e laudos médicos que seguem anexos.

Vale ressaltar que a autora já fez uso de outros medicamentos para controlar a
doença como Eliquis 10 mg, Xarelto 15 mg, Apixabana 10 mg e Vafarina Sódica, mais
sem sucesso, pois teve Trombose Venosa Profunda (TVP), e embolia pulmonar.

No entanto a Enoxaparina se mostrou a única opção viável o tratamento da trombose


que acomete a autora. O não uso da medicação pode causar inchaço nas pernas,
fortes dores, câimbras, feridas na pele, vermelhidão, TVP, embolia pulmonar,
doenças neurológicas como AVC, entupimento de veias importantes do corpo e até
mesmo a óbito.

Ocorre que a autora faz uso da medicação desde o ano passado, sendo de alto custo,
e a mesma não possui condições financeiras para arcar com os gastos sem prejudicar
a sua própria subsistência, inclusive a pouco tempo estava recebendo doações de
Enoxaparina de ongs de outros estados, mas atualmente foram cessadas.

A autora possui quadro de depressão a mais de 13 meses com síndrome do pânico


e quase não sai de casa, e a última reserva da medicação acabou dia 18/03/24,
diante disso procurou a farmácia cidadã para solicitar o medicamento, mas foi
informada que a análise do pedido administrativo tem duração de 30 a 40 dias.

Como mencionado acima excelência a medicação da autora acabou e ela precisa


fazer uso diário, não podendo esperar o prazo exigido pela farmácia cidadã. Ademais
autora não tem condições de comprar visto que não possui recursos suficientes para
tal, e o que recebe é para pagar água, energia, outros remédios que faz uso, gás,
alimentação etc.; desse modo a via judicial é medida que se impõe.

II- DA AUSÊNCIA DE REQUERIMENTO ADMINISTRATIVO:

Como exposto anteriormente a autora faz uso da Enoxaparina 160 mg desde o ano
passado, e estava recebendo doações de ongs de outros estados até mesmo uma
rifa a autora fez para conseguir levantar qualquer valor que pudesse comprar alguma
dosagem da medicação, mas sem sucesso, e as doações foram cessadas.

A autora ainda possui quadro de depressão com síndrome do pânico e quase não sai
de casa. No entanto é cediço que a ausência de discussão no âmbito administrativo
não impede a postulação pela via judicial e nem configura falta de interesse de agir.
Nesse sentido é a jurisprudência vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. FORNECIMENTO DE


MEDICAMENTO. Pretensão do autor à dispensação do fármaco Dupilumabe 300 MG,
na quantidade e periodicidade prescritas, para tratamento de dermatite atópica grave
(Cid 10 L.50). Petição inicial indeferida com consequente extinção do feito, sem
resolução do mérito, com fulcro no art. 330, III, C.C. O art. 485, I, CPC, ante o
reconhecimento da ausência de interesse processual do autor, por não ter coligido aos
autos prova de recusa do ente administrativo réu quanto ao fornecimento do fármaco.
Descabimento, sob pena de violação ao princípio da inafastabilidade do controle
jurisdicional, segundo o qual a Lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão
ou ameaça a direito, nos termos do artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal.
Desnecessidade do prévio esgotamento da via administrativas. Precedentes do STF,
do STJ e desta Corte de Justiça. Sentença anulada. Determinado o retorno dos autos
à Vara de Origem para prosseguimento do feito, nos termos da fundamentação.
Recurso provido, com determinação. (TJSP; AC 1001128-36.2023.8.26.0615; Ac.
17550244; Tanabi; Décima Terceira Câmara de Direito Público; Rel. Des. Djalma
Lofrano Filho; Julg. 06/02/2024; DJESP 14/02/2024

Desse modo principalmente em questões relacionadas ao direito a saúde que é um


direito constitucional, a postulação é totalmente possível independente de discussão
na esfera administrativa, (art. 6° e 5°, XXXV), todos da CRFB/88.
III- DO DIREITO:

No caso em questão a demanda versa sobre o direito à saúde consectário do direito


à vida, e a dignidade da pessoa humana, dessa forma a prioridade sempre deve ser
voltada a tutela tempestiva em favor dos jurisdicionados.

Nessa toada tanto o STJ quanto o STF já se pronunciaram no sentido de que o direito
à saúde é imperativo, incluindo-se deste o dever de fornecimento gratuitos de
medicamentos ou insumos prescritos por prescritos por profissional médico à pessoa
hipossuficiente, desprovida de recursos financeiros para custear o tratamento. (RE
820910 AgR, Relator (a) Min. Ricardo Lewandowski).

Sabe-se que cabe ao estado, na atuação dos seus órgãos e agentes, a automação
do SUS, de modo a garantir o acesso à saúde a todos os cidadãos de forma universal
e igualitária, oferecendo sempre as informações devidas e não se abstendo da
responsabilidade perante a população devido aos problemas e indisponibilidades
internas. Nesse sentido é a jurisprudência do TJES:

MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO À SAÚDE. CONCESSÃO DE


MEDICAMENTO. COMPROVAÇÃO DA NECESSIDADE. SEGURANÇA
CONCEDIDA. 1. O Estado tem o dever de assegurar a todos, indistintamente,
o direito à saúde, promovendo ações e serviços que visem à redução do risco
de doenças e de outros agravos, nos termos do art. 196 da Constituição
Federal. 2. A necessidade de uso do medicamento ENOXAPARINA SÓDICA
40MG/0,4ML, duas doses ao dia, encontra-se devidamente comprovada
através do laudo médico juntado aos autos. 3. Segurança concedida. (TJES;
MS 0011835-88.2020.8.08.0000; Segundo Grupo Câmaras Cíveis Reunidas;
Rel. Des. Arthur José Neiva de Almeida; Julg. 14/07/2021; DJES 27/07/2021

O direito fundamental social à saúde, previsto no artigo 6° da CR/88, constitui


desdobramento lógico do direito a uma vida digna, o qual, por sua vez, está amparado
no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, catalogado no art. 1°, inc.
III, do mesmo texto constitucional supracitado.

O responsável pela orientação terapêutica é o médico (e não o Estado, por meio de


seus pareceres padronizados), pois somente o primeiro pode decidir qual o
tratamento mais adequado para a preservação da saúde e da vida do paciente.
É dever do Estado propiciar aos necessitados não qualquer tratamento, mas o
tratamento mais adequado e eficaz, capaz de ofertar ao enfermo maior dignidade e
menor sofrimento. A Lei n° 8.080/90 em seu artigo 2° afirma que a saúde é um direito
fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis
ao seu pleno exercício.

IV- TUTELA DE URGÊNCIA:

O CPC, em seu artigo 294 e seguintes, permitem a concessão pelo juiz da tutela
provisória quando houver urgência ou evidência, podendo o juiz determinar as
medidas que considerar adequadas para efetivação da tutela provisória.

No caso em questão a necessidade da medicação para a sobrevivência digna da


autora é evidente. Os documentos colacionados aos autos demonstram a
imprescindibilidade do uso da Enoxaparina de 160 mg, sendo uma ampola de 80 mg
em 12 e 12 horas. Os documentos médicos acostados demonstram o quadro delicado
da autora, a qual está sem a medicação pois acabou, e que precisa fazer uso diário
da medicação sob pena de sofrer várias consequências até mesmo vir a óbito.

Desse modo estão presentes os elementos que evidenciem a probabilidade do direito


e o perigo do dano ou risco ao resultado útil do processo, a tutela de urgência deve
ser deferida, nos termos do artigo 300 do CPC.

No mais a Lei 12.153/09, em seu artigo 3°, autoriza o deferimento da providência


cautelares e antecipatórias no curso do processo, a fim de evitar danos ou de incerta
reparação.

V- DOS PEDIDOS:

Ante os fatos expostos requer-se:

a) Em sede de Liminar, que seja deferido o pedido de ANTECIPAÇÃO DE


TUTELA, a determinação para que o requerido no prazo máximo de 72 (setenta e
duas horas), disponibilize em favor da autora o medicamento ENOXAPARINA
SÓDICA DE 160 MG, de forma imediata por tempo indeterminado;

b) Deferimento de assistência judiciária gratuita, conforme art. 98 e ss do CPC;

c) Citação do requerido para contestar a presente ação no prazo legal;


e) Ao final da demanda, a PROCEDÊNCIA DO PEDIDO, tornando definitiva a tutela,
e condenando o requerido ao fornecimento de Enoxaparina de 160 mg, por tempo
indeterminado;

f) Que seja recebida a presente ação, dando-lhe o devido processamento.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admissíveis.

Dá-se à causa o valor de R$ 7.200,00 (sete mil e duzentos reais), para fins fiscais.

Termos em que

Pede Deferimento

Cariacica- ES, 21 de março de 2024

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GRACCIENE DE OLIVEIRA FARIAS

CPF: 103.570.667-90

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