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AO DOUTO JUIZO DA VARA ÚNICA DA SUBSEÇÃO JUDICIÁRIA DE LAVRAS/MG.

HELENA PÁDUA GOMES, portadora do CPF: 183.846.566-90,

brasileira, residente e domiciliada à rua José Moreira Primeiro, nº 595, bairro Nossa

Senhora de Lourdes II, município de Lavras (MG), CEP 37200-000, por suas

advogadas infra-assinadas, comparece respeitosamente à presença de Vossa

Excelência, para propor a presente:

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO, nos termos do artigo 186, c/c

927 e 944 do Código Civil Brasileiro e art. 5º, X, da Constituição Federal de 1988.

em face da UNIÃO e sua respectiva Fazenda Pública,

inscrita no CNPJ sob o n° 26.994.558/0001-23, a ser citada na pessoa de seu

representante legal, com sede na Rua Bela Cintra, n° 657, 12° andar, Consolação –

São Paulo/SP, do ESTADO DE MINAS GERAIS e sua respectiva Fazenda Pública,

pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o n° 18.715.615/0001-60, a

ser citada na pessoa do seu representante legal, com sede na Avenida Afonso

Pena, n° 4000, Cruzeiro- 30.130-009, Belo Horizonte - MG e do MUNICÍPIO DE

LAVRAS e sua respectiva Fazenda Pública, pessoa jurídica de direito público,

inscrita no CNPJ sob o n° 182443760000107, a ser citada na pessoa do seu


representante legal, com sede na Av. Dr. Sylvio Menicucci, n° 1575, bairro

Keennedy, baseando-se nos fatos e fundamentos jurídicos adiante aduzidos:

I – DOS FATOS

A Autora da demanda em questão é portadora de

Epilepsia (CID G40.9), e está devidamente representada por sua Genitora, por ser

menor de idade.

À vista disso, a presente ação se justifica na solicitação de

restituição de valores gastos pela sua Genitora para custear um exame

importantíssimo e de elevado valor (Doc. Laudo Médico).

Nesse sentido, diante de várias dificuldades decorrentes

de sua doença, a Autora foi submetida à realização de um exame médico

“Sequenciamento de Exoma”, extremamente caro, para fins de adoção de

estratégicas terapêuticas e melhora do quadro clínico.

Ocorre que, diante da solicitação do presente exame e a

negativa do município de Lavras na realização do mesmo, a Genitora não viu outra

saída senão a propositura de uma ação de obrigação de fazer em face do Município

de Lavras para que este cobrisse o alto custo do exame a ser realizado.

Entretanto, por se tratar de um exame não coberto pelo

Sistema Único de Saúde (SUS), o Magistrado da 1ª Vara Criminal, entendeu por

proferir o seguinte despacho: “(...) A União exsurge como ente primariamente

responsável para satisfazer eventual obrigação de fazer relativa à entrega de


tratamentos/medicamentos não incluídos nas políticas públicas (...)’’ (Doc.

Despacho).

Neste viés, por se tratar de um exame de alta urgência e pelo

fato da morosidade do Judiciário, a Genitora da menor, mesmo diante do despacho,

não viu outra saída senão a de realizar um empréstimo para custear o presente

exame, já que a demora na realização do mesmo poderia ocasionar uma piora

irreparável à menor.

Dessa forma, a presente demanda tem o objetivo de

incluir a União no polo passivo, a fim de fazer com que esta restitua os valores

gastos pela Genitora na realização do exame, que se totalizaram no importe de

R$4.990,00 (quatro mil novecentos e noventa reais), (Doc. Nota Fiscal Eletrônica de

Serviços- NFE).

Vale destacar que a Autora é pessoa hipossuficiente

economicamente falando, e que diante de suas condições físicas, necessita de

vários tratamentos ao decorrer de sua vida, razão pela qual o reembolso dos valores

dispendidos para a realização do exame servirá para cobrir outros tratamentos

necessários.

Eis os fatos.

II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

II.I – DA JUSTIÇA GRATUITA – art. 5º inciso LXXIV da

CF/88 e art. 98 e seguintes do CPC.


A Autora pleiteia os benefícios da Justiça Gratuita

assegurada pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e o art. 98 e seguintes do

Código de Processo Civil, a saber:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LXXIV - o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos;

Em conformidade com o supramencionado artigo, importa

salientar que a Autora não possui condições de arcar com os custos do processo,

posto que pleiteia, na presente ação, a restituição do valor gasto com a medicação de

que necessita a sua filha para tratamento médico, valor este que somente conseguiu

após a realização de um empréstimo, sendo, portanto, incapaz de arcar com as

custas e despesas judiciais sem prejuízo de seu próprio sustento.

É preciso insistir também no fato de que o art. 98 e

seguintes do CPC aduz que:

Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com


insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os
honorários advocatícios têm direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

Pelo exposto, requer o deferimento dos benefícios da

justiça gratuita, sob pena de restar prejudicado o acesso da parte ao Poder Judiciário,

ferindo as disposições constitucionais contidas no art. 5º, L, da CF/88.

II.II – DO DIREITO AO ACESSO À SAÚDE


A Administração Pública, ao negar ao indivíduo doente o

medicamento e/ou o tratamento de que precisa e que não pode custear, por mera

ausência de previsão da sua moléstia no rol infralegal por ela estabelecido, viola os

direitos constitucionais do cidadão, o que permite a este buscar a tutela do seu direito

no âmbito judicial.

Nessa linha de raciocínio, vale salientar, ainda, que é dever

constitucional do Estado assegurar a todos a efetiva realização de meios para que

seja resguardado o direito à saúde, aqui incluído o fornecimento de medicamentos

necessários à restauração do bem-estar físico ou manutenção da vida do cidadão.

A saúde, além de direito fundamental de todos e dever de

garantia do Estado, é também componente intrínseco ao direito à vida e ao conceito

de dignidade da pessoa humana, princípios fundamentais da República Federativa do

Brasil, sendo, portanto, cláusula pétrea em nossa Constituição.

Dessa forma, a negativa constante dos Poderes Públicos

ao acesso universal à saúde, principalmente quando se dá com base em políticas

públicas falhas e omissas, não admitindo o fornecimento de medicamentos,

tratamentos ou exames de que necessita a pessoa doente hipossuficiente, vai de

encontro com a ampla proteção à saúde garantida pela Constituição.

Felizmente, apesar do descaso da maior parte daqueles

que representam os poderes públicos, havendo ausência ou ineficiência de políticas

públicas sanitárias por todo o País, os tribunais vêm dando a devida importância ao

princípio fundamental da dignidade da pessoa humana quando se trata de direito à

saúde e à vida, senão vejamos:


MANDADO DE SEGURANÇA. Medicamentos. Fornecimento pelo Estado.
A saúde é direito de todos e dever do Estado, que deve oferecer atendimento
integral e irrestrito, não cabendo à Administração Pública eximir-se desta
obrigação por qualquer justificativa. Assim, o fornecimento do medicamento
requerido, por ser o mais adequado às necessidades do impetrante, tem por
finalidade dar efetividade a um dos fundamentos do Estado Democrático de
Direito, qual seja: a dignidade da pessoa humana (artigo 1º, inciso III, da
Constituição Federal), tutelando-se, por conseguinte, os direitos à vida e à
saúde dos cidadãos (artigo 5º, caput e 196). Manutenção da Sentença.
REEXAME NECESSÁRIO DESACOLHIDO. (TJSP. MS 4002047-
97.2013.8.26.0073. 8ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO. Julgado em
14/05/2014. Publicação no DJe em 15/05/2014).

Assim, o direito à saúde, intrinsecamente ligado ao

princípio da dignidade da pessoa humana, configura-se em uma imposição aos

governantes da obrigação de respeitar e garantir a saúde, promovendo todos os

meios necessários a uma vida saudável, pressuposto básico para se alcançar uma

vida digna.

II.III – DA LEGITIMIDADE E DO LITISCONSÓRCIO

PASSIVO

Conforme consta no Despacho proferido pelo respeitável

Juiz de Direito da 1ª Vara Criminal e o art. 113, inciso I do Código de Processo Civil, a

presente demanda deverá ser interposta em face da UNIÃO, do ESTADO de MINAS

GERAIS e do Município de Lavras, configurando, portanto, um litisconsórcio passivo,

vejamos:

Art. 113. Duas ou mais pessoas podem litigar, no mesmo processo, em


conjunto, ativa ou passivamente, quando:

I- entre elas houver comunhão de direitos ou de obrigações relativas à lide.


Cumpre ressaltar que, no presente caso, a parte Autora

pleiteia a restituição dos valores gastos na realização de um exame de altíssimo custo

em razão de sua enfermidade (epilepsia). Nesse sentido, trata-se de assunto

pertinente à saúde, direito social previsto no art. 6° da Constituição Federal de 1988.

Ademais, o direito à saúde também possui previsão no art.

196 da referida Carta Magna, que determina que este é um direito de todos e é dever

do Estado (em sentido lato) garanti-lo.

Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça, consolidou

entendimento de que existe uma responsabilidade solidária entre os entes federados

no dever de prestar assistência à saúde. Por esta razão se justifica a necessidade de

incluir os presentes entes no polo passivo da demanda, vejamos:

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO.


CONTROLE JUDICIAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS POSSIBILIDADE EM
CASOS EXCEPCIONAIS - DIREITO À SAÚDE FORNECIMENTO DE
MEDICAMENTOS. MANIFESTA NECESSIDADE. OBRIGAÇÃO SOLIDÁRIA
DE TODOS OS ENTES DO PODER PÚBLICO. NÃO OPONIBILIDADE DA
RESERVA DO POSSÍVEL AO MÍNIMO EXISTENCIAL. NÃO HÁ OFENSA À
SÚMULA 126/STJ.

1. Não podem os direitos sociais ficar condicionados à boa vontade do


Administrador, sendo de suma importância que o Judiciário atue como órgão
controlador da atividade administrativa. Seria uma distorção pensar que o
princípio da separação dos poderes, originalmente concebido com o escopo
de garantia dos direitos fundamentais, pudesse ser utilizado justamente como
óbice à realização dos direitos sociais, igualmente importantes. 2. Tratando-
se de direito essencial, incluso no conceito de mínimo existencial, inexistirá
empecilho jurídico para que o Judiciário estabeleça a inclusão de
determinada política pública nos planos orçamentários do ente político,
mormente quando não houver comprovação objetiva da incapacidade
econômico-financeira da pessoa estatal. [...] (STJ. AgRg no REsp
1107511/RS. Segunda Turma. Relator Ministro HERMAN BENJAMIN.
Julgamento em 21/11/2013. Publicação no DJe em 06/12/2013).

Por conseguinte, por se tratar de um direito de todos,

principalmente das pessoas mais necessitadas economicamente falando, não faz


sentido o Estado (em sentido lato) negar a prestação de auxílio necessário para a

Autora, já que esta não possui condições de arcar com todos os gastos de seu

tratamento. Logo, o que se pleiteia é a restituição do valor dispendido para realizar o

exame, valor este que servirá para custear outros tratamentos necessária, já que, é

de conhecimento geral que esta doença necessita de apoio fisioterapêutico, médico,

entre outros.

DOS PEDIDOS:

Diante ao exposto requer de vossa excelência o que

segue:

I. O benefício da gratuidade processual, nos termos dos artigos 5º, inciso LXXIV

da Constituição Federal de 1988 e o art. 98 e seguintes do Código de Processo

Civil;

II. O julgamento pela procedência do pedido principal, para que seja decretada a

restituição dos valores gastos com a realização do exame “Sequenciamento de

Exoma”;

III. A intimação para que a União, o Estado e o Município de Lavras integrem o

polo passivo da ação, dada a responsabilidade solidária dos entes em garantir

o acesso à saúde;

IV. A condenação do Requeridos ao pagamento das custas processuais, bem

como dos honorários advocatícios a título sucumbencial;


V. Protesta provar o alegado por todos os meios permitidos em direito e cabíveis

a espécie.

Dá-se à causa o valor de R$4.990,00 (quatro mil

novecentos e noventa reais).

Termos em que pede deferimento.

Lavras (MG), 20 de setembro de 2022.

Iasmim Cristina Rodrigues Brilhante


OAB/MG: XX.XX

Mirella Borges
OAB/MG: XX.XX
Lista de Documentos que faltam para a comprovação da necessária restituição:

 Laudo médico;
 Declaração de hipossuficiência;
 Ficha de atendimento
 Pedido do exame.

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