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UNEF - UNIDADE DE ENSINO DE FEIRA DE SANTANA

CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

IVANA JENIFER DE ARAUJO

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA URGÊNCIA

Feira de Santana – Bahia


2022
UNEF – UNIDADE DE ENSINO DE FEIRA DE SANTANA
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA URGÊNCIA

Atividade avaliativa apresentada à


disciplina de Tópicos Especiais Em Direito
ministrada pela profª Daiane Veronese como
requisito parcial para a aprovação na disciplina.

Feira de Santana – Bahia


2022
EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA
VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE FEIRA DE SANTANA-BA.

RCT, nacionalidade XXX, diarista, estado civil XXX, portadora do RG XXX e do


CPF/MF XXX, Telefone XXX, e-mail XXX, residente e domiciliada na rua XXX,
número XXX, bairro XXX, CEP XXX, Feira de Santana-BA, por intermédio de seu
advogado legalmente constituído com procuração em anexo, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, propor a presente

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA URGÊNCIA

Em face do ESTADO DA BAHIA, pessoa jurídica de direito público, inscrita no


CNPJ sob o nº 13.937.032/0001-60, com sede na Avenida 03, Plataforma IV Ala
Sul n° 390, terceiro andar, Centro Administrativo da Bahia, Salvador - Bahia, CEP
41745- 003, pelos fatos e direitos que se seguem.

I. DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Inicialmente, cabe salientar que, o CPC prevê em seu artigo 98 que “A pessoa
natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para
pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem
direito à gratuidade da justiça, na forma da lei”. Sendo assim, o referido
dispositivo jurídico, atua em consonância com o texto constitucional em seu
artigo 5º, inciso LXXIV, que preconiza: “O Estado prestará assistência jurídica
integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. ”

Nesse sentido, o novo diploma extinguiu o requisito “sem prejuízo do sustento


próprio ou da família” anteriormente exigido em razão da Lei 1.060/50, bastando,
atualmente, a afirmação de insuficiência de recursos declarada pela parte
requerente, que goza de presunção de veracidade, conforme disposto no § 3º
do art. 99 do CPC. Assim, Esmiuçando ainda mais o instituto, temos a relação
de atos aos quais o beneficiário da gratuidade da justiça fará jus à isenção, total
ou parcialmente, bem como ao possível parcelamento das despesas, conforme
preconiza o art. 98 do CPC.

Salienta, a Requerente, que não possui condições de arcar com as despesas


processuais sem comprometer o seu sustento e o de sua família. Nesse viés,
juntamente com a declaração de hipossuficiência, a Autora, também anexa sua
carteira de trabalho, da qual comprova sua condição de diarista, na qual percebe
valor que mal suprem suas necessidades básicas.

Dessa forma, a Sra, RCT, declara que não possui condições de declara que
momentaneamente seus recursos são parcos e insuficientes para arcar com as
custas processuais e honorários advocatícios, preenchendo, assim, os requisitos
legais para a concessão do benefício. Assim, formula, a parte Autora, o pleito da
Gratuidade da Justiça assegurado pela Constituição Federal, artigo 5º, LXXIV e
pelo artigo 98 e seguintes da Lei 13.105/15.

1. DOS FATOS

Diagnosticada com a Síndrome do Túnel do Carpo (diagnóstico anexo), a parte


autora, sofre com uma neuropatia resultante da compressão do nervo mediano
no canal do carpo, localizado entre a mão e o antebraço, estando sujeita,
inclusive, a atrofia do nervo e dos músculos da mão, além de perda da força
muscular. Dessa forma, sob orientação médica, a parte autora necessitou utilizar
de medicamentos como o diprospan, flancox, prebictal, dozemast, insit complexo
b, predsin, alginac e condres, dentre outras medicações analgésicas dos quais,
apresentou refratariedade clínica, de modo que seu corpo apresenta resistência
aos efeitos dos referidos remédios, dificultando a efetividade do tratamento.

Dessa forma, sofrendo intensas dores em membro superior direito,


apresentando formigamentos, fraqueza, claudicação antálgica, com ansiedade
e insônia, a Requerente não teve outra escolha senão se afastar de sua atividade
laboral, qual seja, a função de diarista. De modo que, consultou um cirurgião da
mão, por meio do qual realizou eletroneuromiografia (exame em anexo) e, a
partir disso, recebeu recomendação de procedimento cirúrgico.

Contudo, obteve conhecimento dos benefícios da medicina canabinoide, de


modo que, por intermédio de uma doação autônoma, fez uso do Canabidiol,
através da utilização de óleo sublingual e pomada local, antes de iniciar as
preparações para o supramencionado procedimento cirúrgico e fora
surpreendida com as melhoras significativas, das quais jamais puderam ser
alcançadas através da polifarmácia, da qual lhe resultou em diversos efeitos
colaterais.

Nessa continuidade, mediante a realização de novos exames, constatou-se a


falta de necessidade de realizar a cirurgia agendada, de modo que, diante da
eficácia do tratamento canabinoide, a parte Autora recebeu a seguinte prescrição
médica:

“Revivid Whole Full Spectrum CBD 1000mg/30ml - 24


frascos/ano (Usar 15 gotas, via sublingual, duas vezes ao
dia, segurar em baixo da lingua antes de engolir. Usar pela
manhã e pela noite.)

Revivid Topical 500mg Pomada Full Spectrum CBD- 1


frasco/mės (Aplicar quantidade moderada em local
acometido por dor, 3x/dia.)”

Ademais, também declarou o médico competente em laudo médico anexo:

“Reitero que a não autorização do fornecimento põe em


risco o direito a liberdade do paciente e a saúde física e
mental de seus familiares, além de ameaçar a continuidade
de um tratamento que, se preterido, pode resultar em
prognóstico ruim”

No mesmo laudo médico, também é asseverado a necessidade de importação


dos supraditos medicamentos, haja vista a recomendação de aquisição
mediante empresa fornecedora primária, para evitar vícios e alterações do
produto.
Contudo, a Requerente não possui plano de saúde particular e tão pouco os
recursos suficientes para arcar com as despesas de seu tratamento, momento
em que recai sob o Estado, a responsabilidade de efetivação dos direitos
constitucionais referente a saúde, dignidade da pessoa humana e vida. Nesses
termos, buscando a efetivação plena de seus direitos, recorre, a Autora, ao
amparo jurisdicional, pleiteando o fornecimento Estatal dos medicamentos
supra.

2. DOS DIREITOS

Inicialmente, importa mencionar que o direito à vida e à saúde, como direitos


sociais e fundamentais, inerente a todo cidadão, cabendo ao Estado, o deve
prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício, lhes disponibilizando
serviços de saúde adequados, eficientes e seguros, de modo que, o devido
fornecimento de medicamentos, nesse sentido, se faz essencial.

Nesse sentido, aduz o art.5º, III da CF, cuja atua em consonância com o art. 3º
do CPC:

“CF/88- Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem


distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (…)

XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder


Judiciário lesão ou ameaça a direito. “

“CPC/15- Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional


ameaça ou lesão a direito. “

De igual modo, dispõe o art. 6, art. 196 e art. 197 da Constituição Federal de
1988:

“Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a


alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade
e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição.”
“Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para
sua promoção, proteção e recuperação. “

“Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de


saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei,
sobre sua regulamentação, fiscalização e controle,
devendo sua execução ser feita diretamente ou através de
terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito
privado.”

Desse modo, conforme o caso em tela, extrai-se a extrema dificuldade


enfrentada pela parte autora, cuja tamanhas são as suas dores que a mesma já
não consegue mais realizar os serviços dos quais provia o sustento de sua
família.

Dessa forma, há muito o que se falar em dignidade da pessoa humana, uma vez
que se trata do bem-estar e autonomia da Requerente, de modo que sua
previsão constitucional se encontra no art. 1º, III, da CF/88, na forma que se
segue:

“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela


união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos: (…)

III – a dignidade da pessoa humana;”

Sendo assim, tem-se que a saúde se tipifica como um bem jurídico indissociável
do direito à vida, é certo que o Estado tem o dever de tutelá-la. Sendo assim,
extraísse que o legislador constitucional impõe ao Estado o a obrigação de zelar
pela saúde de seus cidadãos, através do dever de gerar políticas públicas e
implementar normas e ações destinadas à concretização e exercício dos
referidos direitos.
Nesse viés, em consonância com o que prescreve a Constituição Federal, a Lei
n.º 8.080/90, que cuida do Sistema Único de Saúde, estabelece também
projeção do direito à assistência social, destinando-se, ainda, a resguardar a
saúde dos cidadãos que não tenham condições econômicas de custear seu
tratamento. Dessa forma, salienta o supradito dispositivo jurídico:

“Art. 2º. A saúde é um direito fundamental do ser humano,


devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao
seu pleno exercício.

§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na


formulação e execução de políticas econômicas e sociais
que visem à redução de riscos de doenças e de outros
agravos e no estabelecimento de condições que
assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos
serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.”

Nessa continuidade, A Lei 8.080/90, em seu art. 6°, inciso I, inclui também, de
modo peremptório, no campo de atuação do SUS a execução de ações de
assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica, na forma que se segue:

“Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do


Sistema Único de Saúde (SUS):

I – a execução de ações:

d) de assistência terapêutica integral, inclusive


farmacêutica.”

Assim sendo, diante de toda a demonstrada estrutura jurídica, não se pode


interpretar a Constituição Federal e a Lei 8.080/90 de outra forma que não,
extensivamente, para reconhecer o direito líquido e certo da Requerente.

Outrossim, a Constituição do Estado da Bahia, circunscreveu o dever do Estado


em promover a saúde, mediante políticas sociais e econômicas, com dignidade,
gratuidade e boa qualidade. Conforme se extrai da leitura dos dispositivos do art.
233 a 243. Destacando no art. 233 que "o direito a saúde deve ser assegurado
a todos, sendo dever do Estado garanti-lo mediante políticas sociais,
econômicas e ambientais".
Nesse seguimento, a constituição baiana, em seu art. 238, assevera a
competência do Sistema Único de saúde no Estado, assegurar a assistência
farmacêutica e promover o desenvolvimento de novas tecnologias e a produção
de medicamentos, matérias-primas, insumos imunobiológicos.

Dessa forma, por tratar, o presente pleito, da concessão de medicamentos não


incorporados ao Sistema Único de Saúde, o Superior Tribunal de Justiça (STJ),
em julgamento de Recurso Especial, aduziu:

“A concessão dos medicamentos não incorporados em


atos normativos do SUS exige a presença cumulativa dos
seguintes requisitos:

i) Comprovação, por meio de laudo médico fundamentado


e circunstanciado expedido por médico que assiste o
paciente, da imprescindibilidade ou necessidade do
medicamento, assim como da ineficácia, para o tratamento
da moléstia, dos fármacos fornecidos pelo SUS;

ii) incapacidade financeira de arcar com o custo do


medicamento prescrito;

iii) existência de registro do medicamento na ANVISA,


observados os usos autorizados pela agência.”

Ante o escandido, faz-se imprescindível ressaltar que a parte Autora da presente


ação, cumpre todos os requisitos estabelecidos, tendo em vista, inicialmente, os
exames, bem como relatório médico cuja aduz a extrema necessidade de
concessão do fornecimento do referido medicamento, na forma que se segue:

“Tal medicação não é encontrada em farmácias e está fora


do alcance das finanças da paciente a importação por
meios próprios para continuar o tratamento, devendo o
Estado arcar com tal custo.

O extrato é uma medicação imprescindível para o


tratamento do paciente e não há no SUS nem na rede
privada nenhuma outra com risco e custo-benefício e
eficácia comparável. Entende-se que as medicações a
base de Cannabis tem pouco ou nenhum efeito colateral
relatado em concordância com a necessidade do paciente.

(...) determina um prognóstico mais favorável,


possibilitando melhor controle do quadro no longo prazo e
consequentemente aumentando a sobrevida da paciente e
diminuindo os custos da família e do Estado com serviços
secundários e terciários de Saúde Pública, onde
necessariamente incidiriam custos multiplicados (maiores
do que os do tratamento com o óleo) às fontes de
financiamento e pouca resolutividade conforme já
demonstrado no caso clínico refratário a tratamentos
convencionais. “

Nessa continuidade, resta comprovado o cumprimento do segundo requisito,


mediante o acostamente de carteira de trabalho da parte Autora, bem como
declaração de hipossuficiência. Por fim, os medicamentos disponíveis na receita
médica se encontram devidamente registrados e autorizados pela Agencia
Nascional de Vigilância Sanitária (ANVISA), conforme comprovante de consulta
em anexo.

Nesses termos, tem-se o entendimento jurisprudencial:

“APELAÇÃO CÍVEL. REEXAME NECESSÁRIO. DIREITO


ADMINISTRATIVO. DIREITO CONSTITUCIONAL.
DIREITO FUNDAMENTAL. DIREITO À SAÚDE.
FORNECIMENTO DE MEDICAMENTO. CANABIDIOL.
FORNECIMENTO PELO ESTADO. AUSÊNCIA DE
RECURSOS DO PACIENTE. AUSÊNCIA DE REGISTRO
DO PRODUTO NA ANVISA. DIREITO PROCESSUAL
CIVIL. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS DE
SUCUMBÊNCIA. AÇÃO PATROCINADA PELA
DEFENSORIA PÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE DE
CONDENAÇÃO DO DISTRITO FEDERAL. SÚMULA
421/STJ. RE 1140005/RJ. REPERCUSSÃO GERAL.
SUSPENSÃO NÃO DETERMINADA. MANUTENÇÃO DA
SENTENÇA RECORRIDA. RECURSOS DESPROVIDOS.
(…)

3. O princípio da dignidade da pessoa humana, disposto no


Art. 1º, inciso III, da Constituição Federal (CF/88), alçado a
fundamento da República Brasileira, constitui-se no
arcabouço dos direitos e das garantias fundamentais, entre
eles os direitos sociais, previstos no Art. 6º da CF/88, que
assegura a todos, entre outros direitos, o direito à saúde.

4. O acolhimento do pedido do Recorrente – que remonta


originariamente dos fundamentos da própria República
(CF, art. 1º, III), como antes visto, na r. sentença de primeiro
grau, e que ora se confirma integralmente, longe está de
configurar uma imaginada interferência do Poder Judiciário
na condução política da saúde. Na verdade, trata-se, sim,
de efetiva aplicação e tutela jurisdicional dos direitos e das
garantias constitucionais e legais concedidas a todos os
indivíduos, entre eles o recorrido, na preservação de sua
saúde e bem estar.

5. Ainda que o medicamento de que o recorrido


necessita – CANABIDIOL EVR 22% – não se encontre
especificamente estabelecido pela rede pública,
organizada no Sistema Único de Saúde (SUS), na
relação (RENAME) que orienta a prestação do serviço
público de saúde, tal fato, de forma alguma exonera os
entes públicos da sua responsabilidade pelo
fornecimento do produto de que o recorrido
comprovadamente precisa.

6. Tendo sido o tratamento indicado pelo profissional


médico que acompanha o paciente, em razão do insucesso
na utilização de outras alternativas terapêuticas, e restando
demonstrado que a própria ANVISA já reconheceu a
eficiência da substância para o controle da enfermidade
que acomete o autor, está caracterizado o dever do Estado
de tomar as providências necessárias à proteção da saúde
do menor, devendo fornecer o medicamento pleiteado. (…)
(“RESP 1657156/RJ Neste julgamento realizado pela 1ª
Turma Cível do Tribunal de Justiça do Distrito Federal
(TJ/DF)). ”

Assim, decisões judiciais têm reforçado o direito de pessoas portadoras de


doenças, que não podem custear o tratamento, a receber remédios do Estado,
fixando o favorecimento à proteção da vida, em detrimento de eventuais
problemas orçamentários do ente estatal:

MANDADO DE SEGURANÇA ORIGINÁRIO. GARANTIA


CONSTITUCIONAL À SAÚDE DA CRIANÇA E
ADOLESCENTE. TRATAMENTO DE EPILEPSIA À BASE
DE CANABIDIOL. REAL SCIENTIFIC HEMP OIL
(CANABIDIOL). AUSÊNCIA DE REGISTRO DO
MEDICAMENTO NA ANVISA. AUTORIZAÇÃO DE
IMPORTAÇÃO OBTIDA NO ÓRGÃO FEDERAL
COMPETENTE COM PRAZO DE VALIDADE POR UM
ANO. APLICAÇÃO DA SÚMULA 35 DO TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DE GOIÁS.

1. O conjunto probatório dos autos demonstra não apenas


a indispensabilidade do tratamento prescrito à paciente,
menor e substituída processualmente pelo Ministério
Público, mas, também, de que o tratamento médico
adequado aos necessitados se insere no rol dos deveres
do Estado, porquanto responsabilidade solidária dos entes
federados.

2. No caso da substituída, as provas pré-constituídas


revelam que apresenta quadro de encefalopatia epilética,
com crises epiléticas tônicas associadas a um atraso global
do desenvolvimento, ataxia global e deficiência intelectual
grave (CID G 40.8), fazendo-se necessário o uso do
medicamento denominado Real Scientific Hemp Oil
(Canabidiol), conforme receita médica constante dos autos.
Trata-se de medicamento não registrado pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). 3. O remédio
exige autorização especial da Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA), por meio do Ofício 38/2017
COCI/GPCON/GGMON/DIMON/ANVISA, permitindo que a
substituída importe, de forma excepcional, produto à base
de Canabidiol, em associação com outros canabinóides,
com validade de um ano.

4. No julgamento do recurso especial repetitivo 1657156,


tema 106, Relator o eminente Ministro Benedito Gonçalves,
decidiu o Superior Tribunal de Justiça que a concessão dos
medicamentos não incorporados em atos normativos do
Sistema Único de Saúde exige a presença cumulativa dos
seguintes requisitos: comprovação, por meio de laudo
médico fundamentado e circunstanciado expedido por
médico que assiste o paciente, da imprescindibilidade ou
necessidade do medicamento, assim como da ineficácia,
para o tratamento da moléstia, dos fármacos fornecidos
pelo Sistema Único de Saúde; incapacidade financeira de
arcar com o custo do medicamento prescrito; e existência
de registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária do
medicamento. A Corte modulou os efeitos da decisão,
exigível a tese para os processos que forem distribuídos a
partir da conclusão do presente julgamento, que ocorreu
em 25 de abril de 2018. Não se aplica a tese do precedente
obrigatório porque a petição inicial da impetração foi
distribuída em 28 de abril de 2017.

5. A Súmula 35 do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


prescreve que é dever da União, do Estado e dos
Municípios, solidariamente, o fornecimento ao cidadão,
sem ônus para este, de medicamente essencial ao
tratamento de moléstia grave, ainda que não previsto em
lista oficial do Sistema Único de Saúde. ORDEM
CONCEDIDA. (TJGO, Mandado de Segurança (L. 8069/90)
5127236-28.2017.8.09.0000, Rel. ORLOFF NEVES
ROCHA, 1ª Câmara Cível, julgado em 08/05/2019, DJe de
08/05/2019).

Nesse contexto, incide, sobre o Poder Público, a gravíssima obrigação de tornar


efetivas as prestações de saúde, incumbindo-lhe promover, em favor das
pessoas e das comunidades, medidas preventivas e de recuperação -, que,
fundadas em políticas públicas idôneas, tenham por finalidade viabilizar e dar
concreção ao que prescreve, em seu art. 196, a Constituição da República e
demais fundamentações ora salientadas. Portanto, infere-se o direito constituido
da Requerente, momento em que pleteia, por todo o exposto, a concessão do
fornecimento dos medicamentos.

3. DO PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA

O ordenamento jurídico brasileiro possibilita a concessão de tutela de urgência,


em caráter cautelar/liminar, afim de que a parte Requerente, em face de um
fundado receio, não venha a ter seu direito lesionado de maneira grave ou até
mesmo de modo irreparável conforme prescreve os arts.300:

“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando


houver elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo.”

Nota-se que a legislação atual traz dois requisitos para a concessão da tutela
antecipada em caráter de urgência, quais sejam: probabilidade do direito e
perigo na demora.

Desse modo, a probabilidade do direito que permite ao julgador a antecipação


dos efeitos da tutela nada mais é que um juízo de probabilidade lógica, ou seja,
aquele extraído da confrontação sumária das provas e das alegações
disponibilizadas, a princípio, de modo unilateral pelo Requerente.
Assim sendo, no caso em tela, tendo em vistas todas as provas carreadas ao
presente feito, em especial o laudo do médico assistente bem como os demais
documentos colacionados aos autos, nos indicam a clara necessidade da
utilização do medicamento pela Requerente, assim como se extrai de
relatório médico:

“Reitero que a não autorização do fornecimento põe em


risco o direito a liberdade do paciente e a saúde física e
mental de seus familiares, além de ameaçar a continuidade
de um tratamento que, se preterido, pode resultar em
prognóstico ruim”

Nessa continuidade, conforme pode se extrair do relatório médico, a polifarmácia


da qual a parte autora faz uso, apresenta efeitos refratários, de modo que sua
eficácia é extremamente limitada, senão mínima. Dessa forma, faz-se
fundamental destacar que, quando a parte autora ainda utilizava os
medicamentos supracitados, seu quadro clínico continuou a se agravar, de modo
que, nos termos do laudo médico em anexo, lhe fora indicado, inclusive,
procedimento cirúrgico. Contudo, tal quadro fora revertido a partir do momento
em que a Autora passou a fazer uso da medicina canabinoide.

Nesses termos, no que tange ao perigo da demora, é certo que a Requerente


ultrapassa um dos momentos mais importantes para o seu tratamento, haja vista
que todos os outros medicamentos utilizados se mostraram ineficazes e, se
retomados os mesmos métodos, a parte autora se encontra em evidente risco
de prognóstico ruim. Dessa forma, mesmo que submetida a procedimentos
cirúrgicos, além dos gastos adicionais ao Sistema Único de Saúde, indubitável
será o fato de que haverá sequelas que a perseguirão por toda vida e, inclusive,
podem dificultar a execução de suas atividades laborais, assim como já tem feito.

Inobstante, há suficiente prova pré-constituída em anexo de que os


medicamentos ora pleiteados são, atualmente, os únicos que produziram
resultados efetivos e satisfatórios para o tratamento em específico, conforme se
extrai dos exames em anexos.

Presentes os requisitos legais, é medida justa, necessária e de extrema urgência


a concessão, liminarmente e inaudita altera pars, da ordem para que a Requerida
coloque à disposição da Requerente o medicamento enquanto se fizer
necessário o tratamento.

4. DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Nos termos do art. 85, § 8º do CPC, os honorários advocatícios devem ser


arbitrados, por ser a causa de valor inestimado, tendo em vista que o tratamento
de saúde pleiteado a vida, não podem ser mensurados, assim, requer desde já
o arbitramento dos honorários advocatícios.

5. INTIMAÇÕES

Requer que as publicações e intimações deverão ser efetuadas exclusivamente


em nome do Advogado XXX, OAB XXX, de acordo com o Art. 272, § 2º do NCPC,
sob pena de nulidade processual.

6. DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO

Conforme previsto no art. 319, inciso VII e art. 334, § 5º, ambos do CPC/2015,
informa a parte autora que de início, tem interesse em audiência prévia para
tentativa de conciliação ou mediação.

7. DOS PEDIDOS

Nesses termos, requer que Vossa Excelência se digne em determinar:

a) A concessão de Gratuidade de Justiça, com fulcro no art. 5º, LXXIV e pela Lei
13.105/2015 (NCPC), art. 98 e seguintes;

b) A concessão da TUTELA DE URGÊNCIA, inaudita altera pars, a fim de


ordenar a Requerida, mediante ato de Sistema Único de Saúde, que realize o
fornecimento dos medicamentos da prescrição anexa, como única de efetivar os
direitos constitucionais supra;

c) Requer que a citação, bem como a comunicação de concessão da tutela de


urgência seja feita ao representante legal da Requerida, imediatamente, e em
caráter de urgência, através de oficial de justiça ou mediante Diário Oficial, face
os riscos aos quais está exposta a Requerida pela falta da medicação;
d) A condenação da Requerida ao pagamento de custas processuais e
honorários advocatícios de sucumbência, a serem arbitrados seguindo-se os
critérios delineados no art. 85, §§ 2º e 3º, do NCPC;

e) Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, na amplitude dos


arts. 369 e seguintes do NCPC, em especial a prova documental, a prova
pericial, a testemunhal e o depoimento pessoal da Requerida.

Dar-se a causa o valor de R$ XXX , para efeitos de distribuição.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Feira de Santana- BA- DATA XXX

ADVOGADO

OAB/UF

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