Você está na página 1de 13

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA _____

VARA CÍVEL DA COMARCA DE JUAZEIRO DO NORTE-CE

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA


ANTECIPADA

Direito fundamental à saúde – Criança recém-nascida com


malformação que tem que ser corrigida de imediato, podendo
comprometer a vida do bebẽ, bem como ocorre o risco de
encarceramento, levando a óbito.

FULANO, brasileiro, menor absolutamente incapaz, neste ato


representado por sua genitora, a Sra. X, nacionalidade, estado
civil, residente e domiciliado à Rua ....., nº .... –
bairro , Juazeiro do Norte-CE, CEP ...., telefone para contato
... , com endereço eletrônico x@gmail.com, por intermédio de
sua advogada(procuração anexa), vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, propor a presente AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER COM PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA
ANTECIPADA, em face do MUNICÍPIO DE JUAZEIRO DO NORTE-CE, CNPJ
07974082/0001-14, pessoa jurídica de direito público interno,
com endereço na Rua São Pedro, s/nº Praça Dirceu de Figueiredo
- Centro, Juazeiro do Norte-CE, CEP 63.010-010 e do ESTADO DO
CEARÁ, CNPJ 07.954.480/0001-79, pessoa jurídica de direito
público interno, com endereço na Av. Washington Soares, 707 -
Água Fria, Fortaleza-CE, CEP 60811-340, endereço eletrônico
desconhecido com esteio nos fatos e fundamentos que passa a
expor, com esteio nos fatos e fundamentos que passa a expor:

DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

A autora requer, inicialmente, os benefícios da


Justiça Gratuita por ser pobre na forma da Lei, conforme
Declaração de Hipossuficiência em anexo. Não dispondo de
numerário suficiente para arcar com taxas, emolumentos,
depósitos judiciais, custas, honorários ou quaisquer outras
cobranças dessa natureza sem prejuízo de sua própria
subsistência e/ou de sua família.

DOS FATOS

O requerente é portador de hernia inguinal


direita , enfermidades catalogadas sob (CID K 40.3). O médico
que o assiste explica em laudo anexo que “existe malformação
que tem que ser corrigida de imediato, porque pode comprometer
a vida do bebê, em razão de a qualquer momento correr o riso
de encarceramento, e só pode ser resolvido por meio
cirúrgico”.

Em razão disso, foi-lhe preconizado submeter-se, em


caráter de URGENCIA e IMPRESCINDIBILIDADE, a procedimento
cirúrgico de correção com eficácia terapêutica comprovada.
Ademais relata que não há outras alternativas terapêuticas
para o tratamento.

A cirurgia em tablado é disponibilizada na rede


particular, somente no Hospital Z, na região do Cariri,
conforme o cirurgião P (médico do PAM), que atendeu a criança;
pelo SUS, da mesma forma, pode ser feita no Hospital Q. O
paciente ainda não foi inserido na central de regulação do
Estado.

Todas as informações expostas são passíveis de


verificação a partir de análise de laudo do médico e
receituários que acompanham esta exordial.

Salienta-se , que o Demandante, apenas conseguiu


orçamento no Hospital e Maternidade Q no valor de R$ 9.801,00
(nove mil reais, oitocentos e um reais). Inquestionavelmente,
tratar-se de procedimento de alto custo, em face da situação
econômica da família do assistido. Registra-se que a genitora
do demandante que eexerce o cargo de auxiliar de professoora,
com uma renda de R$ 1200,00 (mil e duzentos )reais, o pai da
criança se encontra desempregado no momento, conforme Carteira
de trabalho da representante do Requerente em anexo.

Dessa forma, o requerente, através de sua


representante legal, procurou este órgão para tentar
solucionar a situação que a acomete. Objetivando resolver
extrajudicialmente a demanda, instaurou-se processo
administrativo, onde foram expedidos ofícios à Secretaria de
Saúde do Estado e do Município, solicitando o fornecimento da
cirurgia acima aludida.

Transcorrido o prazo assinado, somente o Município


respondeu que é necessário que a representante da criança
comparecesse a Secretaria de Saúde para dar entrada no
procedimento, pois não consta o laudo da internação. Ocorre ,
Excelência, que a representante legal da criança foi informada
pelo médico do PAM, que a cirurgia somente era feita, na
região, no Hospital Z, outrossim, disse, que a qualquer
momento a criança pode vir a óbito. A criança não foi
internada, portanto, não há que se juntar um laudo para
internação. O Estado, por sua vez, não respondeu ao ofício.

O fato é que o paciente não mais pode esperar,


pois, caso não se submeta ao procedimento , conforme laudo
médico emitido, correrá risco de óbito. Não se olvide tratar-
se de criança, que goza, por comando constitucional de
prioridade que está sendo inobservada pelo poder público.
Em face dessa situação, resta apenas o promovente
se socorrer da tutela jurisdicional para que o Estado lato
sensu seja obrigado a cumprir obrigação constitucional de
promover e custear a saúde de forma integral, não sendo
suficiente a simples prestação de serviços médicos, mas também
o fornecimento de meios para o tratamento e prevenção das
enfermidades.

DA LEGITIMIDADE PASSIVA

Não se pode negar a legitimidade passiva do ente


de direito público acionado na presente ação. Isto porque a
Constituição Federal é bastante clara ao estatuir, em seu art.
196 que: “A Saúde é direito de todos e dever do Estado (...)”,
assim entendido no seu sentido amplo.

Por óbvio, e em interpretação sistemática com os


demais dispositivos constitucionais, o termo “Estado” engloba
todos entes de direito público interno, quais sejam, União,
Estados, Municípios e Distrito Federal, com atribuição,
portanto, de responsabilidade solidária entre os mesmos, dado
se tratar de competência comum, senão vejamos:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios:

(...)

II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e


garantia das pessoas portadoras de deficiência;

(...)

Trata-se de um dever solidário que pode ser cobrado


por inteiro de qualquer dos entes obrigados, conforme
entendimento jurisprudencial da nossa Corte Egrégia
Constitucional – STF – abaixo colacionado:

PROCESSUAL CIVIL. TUTELA ANTECIPADA. MEDICAMENTO.


FORNECIMENTO. DIREITO À SAÚDE. MULTA. Não se discute que ao
Estado (gênero) cabe proporcionar os meios necessários para
alcançar a saúde, sendo certo ainda que o sistema único de
saúde torna tal responsabilidade linear, abrangendo a União,
os Estados, o Distrito Federal e os Municípios (RE 19592/RS,
STF, T2, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ de 31/03/2000).

O Poder Público, qualquer que seja a esfera institucional de


sua atuação no plano da organização federativa brasileira, não
pode mostrar-se indiferente ao problema da saúde da população,
sob pena de incidir, ainda que por censurável omissão, em
grave comportamento inconstitucional. O caráter programático
da regra inscrita no art. 196 da Carta Política - que tem por
destinatários todos os entes políticos que compõem, no plano
institucional, a organização federativa do Estado brasileiro -
não pode converter-se em promessa constitucional
inconsequente, sob pena de o Poder Público, fraudando justas
expectativas nele depositadas pela coletividade, substituir,
de maneira ilegítima, o cumprimento de seu impostergável
dever, por um gesto irresponsável de infidelidade
governamental ao que determina a própria Lei Fundamental do
Estado. (RE nº 271.286-AgR, rel. Min. CELSO DE MELLO)

Elucidativa a transcrição, ainda, do seguinte


elucidativo trecho de julgado do E. Tribunal de Justiça do
nosso Estado, que, pelo Eminente Desembargador José Arísio
Lopes da Costa, explica: “Essa solidariedade, contudo, não
determina nenhum litisconsórcio passivo necessário, pois, em
verdade, cada ente federativo possui parcela de
responsabilidade autônoma (art. 198, I da CF/88).” (Agravo de
Instrumento nº 2005.0004.8909-5/0; Primeira Câmara Civil TJ-
CE).

É por essas razões que não há como se negar


legitimidade passiva ao ente ora acionado.

DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

A nossa Constituição Federal estabelece que:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado


assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade,
o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

§ 1º O Estado promoverá programas de assistência integral à


saúde da criança e do adolescente, admitida a participação de
entidades não governamentais e obedecendo aos seguintes
preceitos:

I - aplicação de percentual dos recursos públicos destinados à


saúde na assistência materno-infantil;

II - criação de programas de prevenção e atendimento


especializado para os portadores de deficiência física,
sensorial ou mental, bem como de integração social do
adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento
para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos
bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e
obstáculos arquitetônicos.
(grifo nosso)

Em consonância com a mencionada orientação constitucional,


prevê o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8069/90)
que:

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito à proteção à


vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e
harmonioso, em condições dignas de existência.

Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado


voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio
do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade
no acesso a ações e serviços para promoção, proteção e
recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº
13.257, de 2016)

…...................

§ 2o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente, àqueles


que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e outras
tecnologias assistivas relativas ao tratamento, habilitação ou
reabilitação para crianças e adolescentes, de acordo com as
linhas de cuidado voltadas às suas necessidades específicas.
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

(grifo nosso)

A presente ação visa a garantir o direito


fundamental à saúde, consectário direto do núcleo axiológico
da nossa Constituição – a dignidade da pessoa humana. Mais do
que o direito a vida, o Estado tem o dever de garantir o
direito à vida digna.

É de bom alvitre lembrarmos que o direito à saúde


decorre do direito fundamental à vida. Assim, o que se busca,
aqui, em análise direta, é resguardar o direito maior,
supremo, fundamental, insculpido no art. 5° “caput” da Carta
Política, qual seja o direito de viver!

Sobre tal direito, o professor José Afonso da


Silva, em sua obra “Curso de Direito Constitucional Positivo”,
discorre com maestria:

A vida humana, que é o objeto do direito assegurado no art.


5°, caput, integra-se de elementos materiais (físicos e
psíquicos) e imateriais (espirituais). A vida é intimidade
conosco mesmo, saber-se e dar-se conta de si mesma, um
assistir a si mesma e tomar posição de si mesma. Por isso é
que ela constitui a fonte primária de todos os outros bens
jurídicos.
Assim, o direito à saúde, decorrente que é do
direito à vida, em consonância com o disposto no art. 196 da
Constituição Federal, é direito público subjetivo, oponível ao
Estado:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado,


garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.

Diante dos princípios insculpidos na Constituição


Federal sobre a saúde, Excelência, resta ao Judiciário atuar
no caso em epígrafe para dar eficácia aos mandamentos da Carta
Magna. Desse modo, em casos análogos, o Supremo Tribunal
Federal decidiu de maneira a resguardar tal direito
fundamental. Veja-se:

EMENTA: PACIENTE COM HIV/AIDS - PESSOA DESTITUÍDA DE RECURSOS


FINANCEIROS - DIREITO À VIDA E À SAÚDE - FORNECIMENTO GRATUITO
DE MEDICAMENTOS - DEVER CONSTITUCIONAL DO PODER PÚBLICO (CF,
ARTS. 5º, CAPUT, E 196) - PRECEDENTES (STF) - RECURSO DE
AGRAVO IMPROVIDO. O DIREITO À SAÚDE REPRESENTA CONSEQÜÊNCIA
CONSTITUCIONAL INDISSOCIÁVEL DO DIREITO À VIDA. - O direito
público subjetivo à saúde representa prerrogativa jurídica
indisponível assegurada à generalidade das pessoas pela
própria Constituição da República (art. 196). Traduz bem
jurídico constitucionalmente tutelado, por cuja integridade
deve velar, de maneira responsável, o Poder Público, a quem
incumbe formular - e implementar - políticas sociais e
econômicas idôneas que visem a garantir, aos cidadãos,
inclusive àqueles portadores do vírus HIV, o acesso universal
e igualitário à assistência farmacêutica e médico hospitalar.
O direito à saúde - além de qualificar-se como direito
fundamental que assiste a todas as pessoas - representa
consequência constitucional indissociável do direito à vida.
(...) A INTERPRETAÇÃO DA NORMA PROGRAMÁTICA NÃO PODE
TRANSFORMÁ-LA EM PROMESSA CONSTITUCIONAL INCONSEQÜENTE. (RE nº
271.286-AgR, rel. Min. CELSO DE MELLO)

O Superior Tribunal de Justiça, outrossim, vem


entendendo de modo a dar guarida a situações como o do
acionante, senão vejamos:

Processo AgRg no REsp 750738 / RS AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO


ESPECIAL 2005/0080582-3 Relator(a) Ministro LUIZ FUX (1122)
Órgão Julgador T1 - PRIMEIRA TURMA Data do Julgamento
14/03/2006 Data da Publicação/Fonte DJ 27/03/2006 p. 203.
Ementa PROCESSUAL CIVIL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL.
TRATAMENTO DE SAÚDE E FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS A
NECESSITADO. OBRIGAÇÃO DE FAZER DO ESTADO. INADIMPLEMENTO.
COMINAÇÃO DE MULTA DIÁRIA. ASTREINTES. INCIDÊNCIA DO MEIO DE
COERÇÃO. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA.

1. Ação ordinária c/c pedido de tutela antecipada ajuizada em


face do Estado objetivando o fornecimento de alimento Resouce
plus ou isosource, indicado para paciente com distúrbio e
dificuldade na ingestão de alimentos.

2. A função das astreintes é vencer a obstinação do devedor ao


cumprimento da obrigação e incide a partir da ciência do
obrigado e da sua recalcitrância.

3. In casu, consoante se infere dos autos, trata-se obrigação


de fazer, consubstanciada no fornecimento de alimento a menor
que por distúrbio necessita de alimentação especial para
sobreviver, cuja imposição das astreintes objetiva assegurar o
cumprimento da decisão judicial e consequentemente resguardar
o direito à saúde.

4. "Consoante entendimento consolidado neste Tribunal, em se


tratando de obrigação de fazer, é permitido ao juízo da
execução, de ofício ou a requerimento da parte, a imposição de
multa cominatória ao devedor, mesmo que seja contra a Fazenda
Pública." (AGRGRESP 189.108/SP, Relator Ministro Gilson Dipp,
DJ de 02.04.2001).

5. Precedentes jurisprudenciais do STJ: REsp 775.567/RS,


Relator Min. TEORI ALBINO ZAVASCKI, DJ 17.10.2005; REsp
770.524/RS, Relatora Min. ELIANA CALMON, DJ 24.10.2005; REsp
770.951/RS, Relator Min. CASTRO MEIRA, DJ 03.10.2005; REsp
699.495/RS, Relator Min. LUIZ FUX, DJ 05.09.2005. 6. À luz do
Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, valor erigido com um
dos fundamentos da República, impõe-se a concessão dos
medicamentos como instrumento de efetividade da regra
constitucional que consagra o direito à saúde.

7. Agravo Regimental desprovido.

Trata-se de entendimento também seguido pela nossa


Egrégia Corte Estadual de Justiça, que, sobre o tema,
pronunciou-se recentemente:

TJCE

Agravo de instrumento com pedido de efeito suspensivo


1793281200880600000

Relator(a): RÔMULO MOREIRA DE DEUS

Comarca: Fortaleza
Órgão julgador: 3ª Câmara Cível

Data de registro: 20/12/2011

Ementa: CONSTITUCIONAL. ANTECIPAÇÃO DE TUTELA EM TEMA DE


DIREITOS FUNDAMENTAIS. FORNECIMENTO GRATUITO DE MEDICAMENTO
ESPECÍFICO A PACIENTE COM DIAGNÓSTICO CLÍNICO DE DOENÇA
PULMONAR OBSTRUTIVA CRÔNICA, SEM CONDIÇÕES FINANCEIRAS DE
ARCAR COM A MEDICAÇÃO PRESCRITA EM RELATÓRIO MÉDICO, SUBSCRITO
POR PROFISSIONAL DA REDE PÚBLICA. DIREITO À SAÚDE COMO
PROJEÇÃO DO DIREITO À VIDA, À DIGNIDADE DA EXISTÊNCIA E
INTEGRIDADE DO VIVER. PRESSUPOSTOS DA MEDIDA ANTECIPATÓRIA
PLENAMENTE SATISFEITOS. OBJEÇÕES RECURSAIS INCONSISTENTES.
JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA. 1. Existindo prova convincente da
necessidade de medicação específica, justificada ante o
inexpressivo resultado dos medicamentos disponibilizados pelo
SUS, conforme relatório médico subscrito por profissional da
rede pública, o enfermo carente tem o direito de exigir e
receber do Estado os remédios adequados à efetiva melhora de
seu quadro clínico, pois o direito à saúde é projeção do
direito à vida, à dignidade da existência e integridade do
viver, valores supremos que não podem ser ignorados ou
relativizados, porquanto direitos de essencial
fundamentalidade e incontornável preponderância. 2. A
obrigação de promover, proteger e recuperar a higidez física
dos indivíduos recai solidariamente sobre todos os entes
políticos da federação brasileira, daí que qualquer deles pode
figurar, isolada ou conjuntamente, no polo passivo das ações
correlatas ao direito à saúde, pois o caso é de litisconsórcio
passivo facultativo. Inteligência dos artigos 23, inciso II,
196 e 198, CF/88. Precedentes reiterados, inclusive do STF. 3.
A cláusula da reserva do possível, desconectada de justo
motivo objetivamente aferível, não pode ser invocada pelo
Estado para eximir-se do cumprimento de imposições
constitucionais impostergáveis, ditadas por direitos de
essencial fundamentalidade, cuja satisfação pode e deve ser
judicialmente exigida, competindo ao Judiciário conferir real
efetividade à determinação ordenada pelo texto constitucional,
em ordem a legitimar sua intervenção, seja por intolerável
omissão dos Poderes Públicos, seja por qualquer outra
inaceitável modalidade de comportamento governamental
desviante. 4. Plausibilidade ostensiva do direito e
emergencialidade da situação bem configuradas. Objeções
recursais inconsistentes. 5. Agravo conhecido, porém
improvido.

Assim, é inescusável a omissão dos entes acionados


em prestar o devido auxílio à saúde para paciente carente, uma
vez que, agindo dessa forma, os promovidos violam preceitos de
ordem fundamental, malferindo a Carta Política.
E, conforme rechaçado pela própria Corte Suprema,
não é cabível alegar a possibilidade de descumprimento de
normas programáticas quando tratamos de saúde, sob pena de
esvaziarmos a norma constitucional.

Por fim, cumpre reiterar que a presente demanda


visa proteger a própria dignidade humana da autora que não
pode ficar sem tratamento médico por falta de condições
financeiras.

Perguntamo-nos, Excelência, se a requerente tem


tido sua dignidade respeitada em todas essas situações de
sofrimento e procura por ajuda médica sem respaldo? Por óbvio
que não. Sobre o princípio da dignidade da pessoa humana,
fiquemos com as preciosas considerações de Daniel Sarmento:

Na verdade, o princípio da dignidade da pessoa humana exprime,


em termos jurídicos, a máxima kantiana, segundo a qual o Homem
deve sempre ser tratado como um fim em si mesmo e nunca como
um meio. O ser humano precede o Direito e o Estado, que apenas
se justificam em razão dele. Nesse sentido, a pessoa humana
deve ser concebida e tratada como valor-fonte do ordenamento
jurídico, como assevera Miguel Reale, sendo a defesa e
promoção da sua dignidade, em todas as suas dimensões, a
tarefa primordial do Estado Democrático de Direito. (SARMENTO,
Daniel. A ponderação de Interesses na Constituição. Rio de
Janeiro: Lúmen Júris, 2000, p. 59).

DA TUTELA DE URGẼNCIA

Com a entrada em vigor do Novo Código de Processo Civil temos


que houve uma unificação do regime no que tange à tutela
antecipada e à tutela cautelar, pois estas passam a ter os
mesmos requisitos para sua concessão, a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do
processo. Por mais que ainda exista distinção entre as
tutelas, na prática os pressupostos são os mesmos.

Nesse sentido, o parágrafo único do art. 294 do referido


diploma legal deixa claro que a tutela de urgência é o gênero
e suas espécies são a tutela cautelar e a tutela antecipada, e
o art. 300 estabelece as mesmas exigências para a concessão de
ambas:

Art. 294. A tutela provisória pode fundamentar-se em urgência


ou evidência.

Parágrafo único. A tutela provisória de urgência, cautelar ou


antecipada, pode ser concedida em caráter antecedente ou
incidental.
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou o risco ao resultado útil do processo.

§ 1o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode,


conforme o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea
para ressarcir os danos que a outra parte possa vir a sofrer,
podendo a caução ser dispensada se a parte economicamente
hipossuficiente não puder oferecê-la.

§ 2o A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou


após justificação prévia.

(grifo nosso)

No caso em epígrafe, para resguardar situações como a descrita


nesta exordial, é notória a necessidade de concessão de tutela
antecipada liminarmente para sanar, o mais rápido possível a
lesão causada ao assistido, antecipando o bem da vida.

Nesse sentido temos o Doutrinador Fredie Didier Junior: “A


tutela provisória de urgência poderá ser concedida
liminarmente quando o perigo de dano ou de ilícito, ou o risco
ao resultado útil do processo estiverem configurados antes ou
durante o ajuizamento da demanda”.[1].

Neste diapasão, imprescindível que se diga que se encontram


presentes todos os elementos impostos à concessão desta
espécie de tutela de urgência, senão vejamos:

A) PROBABILIDADE DO DIREITO

A doutrina de Fredie Didier Jr. nos ensina que a probabilidade


do direito a ser provisoriamente satisfeito, realizado ou
acautelado é a razoabilidade de existência desse referido
direito, o já conhecido fumus boni iuris (ou a fumaça do bom
direito).[2]

O juiz precisa apreciar se há elementos que evidenciam a


probabilidade de ter acontecido o que foi narrado na exordial
e quais são as chances de êxito do requerente (nos termos do
art. 300 do NCPC)[3], para tanto inicialmente é necessário
verificar a verossimilhança das afirmações fáticas, como no
caso em discussão que é passível a sua demonstração à medida
que se cotejam os fatos à prova documental pré-constituída e
ao direito invocado, a dar guarida ao pleito por saúde ora
demandado.

Esse requisito é explicado pela doutrina nos termos seguintes:


Inicialmente, é necessária a verossimilhança fática, com a
constatação de que há um considerável grau de plausibilidade
em torno da narrativa dos fatos trazida pelo autor. É preciso
que se visualize, nessa narrativa, uma verdade provável sobre
os fatos, independentemente da produção de prova.

Junto a isso, deve haver uma plausibilidade jurídica, com


verificação de que é provável a subsunção dos fatos à norma
invocada, conduzindo aos efeitos pretendidos.[4]

B) PERIGO DE DANO OU RISCO AO RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO

Não se olvide que a ofensa que vem sendo perpetrada contra a


saúde do requerente pode agravar o seu quadro e colocá-lo em
iminente risco para sua saúde.

O fato é que o paciente não mais pode esperar, pois, caso não
se submeta ao procedimento , conforme laudo médico
emitido,corre risco de morte. Não se olvide tratar-se de
criança, que goza, por comando constitucional de prioridade
que está sendo inobservada pelo poder público.

Ora Excelência, não podemos fazer com que o requerente espere


até o fim do processo para que seja entregue a tutela
jurisdicional, pois como visto acima, a demora neste pleito
pode causar um dano irreversível.

Noutro passo nada adiantará o provimento jurisdicional final


em face dos riscos e prejuízos que pode sofrer a saúde do
paciente até lá, acaso não tenha acesso ao tratamento médico
ora demandado, existe demasiada probabilidade da tutela
jurisdicional não surtir mais seus efeitos, padecendo assim o
processo de resultado útil.

Ora, como admoesta a doutrina de Fredie Didier jr.:

A tutela provisória de urgência pressupõe, também, a


existência de elementos que evidenciem o perigo que a demora
no oferecimento da prestação jurisdicional (periculum in mora)
representa para a efetivação da jurisdição e a eficaz
realização do direito.

O perigo da demora é definido pelo legislador como o perigo


que a demora processual representa de “dano ou o risco ao
resultado útil do processo” (art. 300, CPC).

Enfim, o deferimento da tutela provisória somente se justifica


quando não for possível aguardar pelo término do processo para
entregar a tutela jurisdicional, porque a demora do processo
pode causar à parte um dano irreparável ou de difícil
reversibilidade.[5]
Mantê-la submetendo-a a esse risco pela não
submissão ao tratamento, a pretexto do exaurimento final do
processo, seria, no mínimo, cruel e desumano.

DO PEDIDO

Ante o exposto, requer:

1. o deferimento da gratuidade judiciária integral para todos


os atos processuais, nos termos do artigo 98, §1º e §5º do
CPC/15;

2. a concessão, imediata e independentemente da oitiva da


parte contrária, da tutela de urgência pleiteada,
determinando-se que o réu forneça, gratuitamente, a cirurgia
preconizada ao assistido, na forma prescrita nesta petição e
em laudo médico anexo, bem 1 (um) leito em U.T.I NEONATAL,
obrigando o ente acionado a fornecer o pedido, ainda que não
seja disponibilizado na rede pública de saúde, caso em que
deverá propiciá-lo junto às empresas de iniciativa privada,
tudo dentro do prazo máximo de 24h (vinte e quatro horas), sob
pena do pagamento de multa diária de R$ 10.000,00 (dez reais),
a título de astreintes, prática de crime de desobediência e
demais providências reputadas necessárias ao integral
cumprimento efetivo da medida liminar deferida;

3. a citação pessoal do(s) réu(s), na pessoa do órgão de


Advocacia Pública responsável por sua representação judicial,
para responderem no prazo legal sob pena de revelia, já
manifestando o autor seu desinteresse na audiência de
tentativa de autocomposição;

4. por fim, julgar a ação totalmente procedente, confirmando a


antecipação de tutela, bem como determinando que o(s) réu(s)
forneça(m) a cirurgia preconizada ao assistido e
disponibilização de 1 (um) leito em U.T.I NEONATAL na forma
prescrita nesta petição e em laudo médico anexo;

5. a condenação dos acionados ao pagamento das verbas de


sucumbência, isto é honorários advocatícios, estes na base de
20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação.

Protesta provar o alegado por todos os meios de


prova admitidos em direito, especialmente pelo depoimento
pessoal do réu sob pena de confissão, juntada ulterior de
documentos, realização de perícia e oitiva das testemunhas
oportunamente arroladas, tudo, de logo, requerido.
Dá à causa o valor de R$ 9.801,00 (nove mil, oitocentos e um
reais)

Termos em que requer deferimento.

Juazeiro do Norte/CE, .. de .. de 2019.

___________________________

OAB jjj-jj

[1] DIDIER JR. Fredie. BRAGA, Paula Sarno. OLIVEIRA,


Rafael Alexandre de. Curso de direito processual civil: teoria
da prova, direito probatório, dicisões, precedentes, coisa
julgada e tutela provisória. 10 ed. Salvador: editora Jus
Podivm, 2015. P. 579

Você também pode gostar