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PROJUDI - Processo: 0015614-70.2023.8.16.0017 - Ref. mov. 63.

1 - Assinado digitalmente por Robespierre Foureaux Alves:13665


30/11/2023: CONCEDIDA A ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. Arq: Decisão

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO PARANÁ
COMARCA DA REGIÃO METROPOLITANA DE MARINGÁ - FORO CENTRAL DE MARINGÁ
VARA DA INFÂNCIA E DA JUVENTUDE - SEÇÃO CÍVEL - MARINGÁ - PROJUDI
Avenida Tiradentes, 380 - Centro - Maringá/PR - CEP: 87.013-260 - Fone: (44) 3472-2310 - E-

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Processo: 0015614-70.2023.8.16.0017
Classe Processual: Procedimento Comum Infância e Juventude
Assunto Principal: Financiamento do SUS
Valor da Causa: R$30.000,00
Polo Ativo(s): AUGUSTO BORTOLETTO SCHMEISKE RUIVO representado(a) por
Paula Mayara Bortoletto
Polo Passivo(s): ESTADO DO PARANÁ
Município de Maringá/PR

Vistos etc.

I – Feito isento de custas processuais, nos termos do §2º do artigo 141 do Estatuto da Criança
e do Adolescente.

II – A parte autora formula requerimento de concessão de tutela de urgência antecipada


incidental, atualmente prevista nos artigos 300 e seguintes do CPC.

Conforme caput do supracitado artigo 300, a tutela de urgência antecipada será concedida
quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano.

Quanto ao primeiro pressuposto, leciona a doutrina que “é necessária a verossimilhança fática,


com a constatação de que há um considerável grau de plausibilidade em torno da narrativa
dos fatos trazida pelo autor” (DIDIER JR., Fredie et al. Curso de Direito Processual Civil. vol. 2.
11ª ed. Salvador: Editora Podivm. 2016, p. 609) conjugada com “uma plausibilidade jurídica,
com a verificação de que é provável a subsunção dos fatos à norma invocada, conduzindo aos
efeitos pretendidos” (Idem. p. 610).

Em relação ao segundo pressuposto, “o deferimento da tutela provisória somente se justifica


quando não for possível aguardar pelo término do processo para a entrega da tutela
jurisdicional, porque a demora do processo pode causar à parte um dano irreversível ou
de difícil reversibilidade” (Idem. p. 611).

Digo de nota que “os simples inconvenientes da demora processual, aliás inevitáveis dentro do
sistema do contraditório e ampla defesa, não podem, só por si, justificar a antecipação de
tutela. É indispensável a ocorrência de risco de dano anormal, cuja consumação possa
comprometer, substancialmente, a satisfação do direito subjetivo da parte” (JÚNIOR, Humberto
Theodoro. Curso de Direito Processual Civil. vol. 2. 36ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004, p.
573).
PROJUDI - Processo: 0015614-70.2023.8.16.0017 - Ref. mov. 63.1 - Assinado digitalmente por Robespierre Foureaux Alves:13665
30/11/2023: CONCEDIDA A ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. Arq: Decisão

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Por outro lado, prescreve o §3º do artigo 300 que “A tutela de urgência de natureza antecipada
não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão”.

Fixadas tais premissas, passa-se à análise do requerimento formulado pela parte autora.

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Conforme o art. 196, da Constituição Federal, a saúde é um direito de todos e dever do
Estado, devendo ser garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução
do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços
para sua promoção, proteção e recuperação.

Além de previsão na Carta Magna, o direito à saúde também está assegurado pelo Estatuto da
Criança e do Adolescente, como dispõe em seus artigos 7º e 11, §2º:

“Art. 7º. A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde,


mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o
nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
dignas de existência. “

“Art. 11. É assegurado atendimento médico à criança e ao adolescente,


através do Sistema Único de Saúde, garantido o acesso universal e
igualitário às ações e serviços para promoção, proteção e recuperação da
saúde.

[...]

§2.º Incumbe ao Poder Público fornecer gratuitamente àqueles que


necessitarem os medicamentos, próteses e outros recursos relativos
ao tratamento, habilitação ou reabilitação. ”

A legislação infraconstitucional amplia o direito de proteção à saúde, confira-se:

Lei 13.146/15 (Estatuto da Pessoa com Deficiência):

Art. 18. É assegurada atenção integral à saúde da pessoa com deficiência


em todos os níveis de complexidade, por intermédio do SUS, garantido
acesso universal e igualitário. [...]

§ 4º As ações e os serviços de saúde pública destinados à pessoa com


deficiência devem assegurar: [...]

II - serviços de habilitação e de reabilitação sempre que necessários, para


qualquer tipo de deficiência, inclusive para a manutenção da melhor
condição de saúde e qualidade de vida;

Lei nº 8.080/90:
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Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o
Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e

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execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos
de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que
assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a
sua promoção, proteção e recuperação.

Assim como o Estatuto da Criança e do Adolescente, que corrobora com


os dispositivos anteriores e reafirma a prioridade no acesso à saúde:

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do


poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos
referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e
à convivência familiar e comunitária.

Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde,


mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o
nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições
dignas de existência.

O documento pessoal anexado em seq. 1.2 comprova que o autor nasceu em 28/12/2019 e,
portanto, tem 3 anos de idade, sendo uma criança.

O laudo médico acostado aos autos (seq. 1.7) demonstra que o autor está em
acompanhamento devido a transtorno do espectro autista (TEA) – CID 10: F84.0, bem como
apresenta “déficit significativo nas habilidades de comunicação verbal expressiva, déficit do no
contato visual, déficit na reciprocidade social, comportamento extremamente agitado e
impulsivo, preenchendo critérios para transtorno de hiperatividade (CID 10: F90.0)”. Ainda, no
mencionado documento pontua-se a necessidade de serem realizadas 10 sessões semanais
de psicologia DENVER, duas sessões semanais fonoaudiologia, sessão de terapia
ocupacional com integração sensorial.

Conforme se verifica da nota técnica do NAT-JUS (seq. 57.1), há entendimento favorável


quanto às terapias pugnadas na inicial, veja-se:
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Considerando as peculiaridades do caso, a gravidade da situação do infante –apresenta déficit
significativo nas habilidades de comunicação verbal expressiva, no contato visual, na
reciprocidade social, além de comportamento extremamente agitado e impulsivo – bem como a
necessidade de atendimento especializado e contínuo em favor da criança, como bem
pontuado pelo Ministério Público (seq. 60.1), de rigor o deferimento da tutela de urgência
pugnada.

Ainda, quanto ao local em que o acompanhamento deve ser realizado, considerando a


ausência de disponibilização das modalidades específicas pelo Poder Público neste momento
(seq. 1.11), entende-se pela necessidade de ser deferido o requerimento da forma pugnada
pela parte autora.

Por fim, em sendo informado pela parte requerida a existência de profissionais próprios
habilitados para o desenvolvimento das diligências ora deferidas, estas podem ser
implementadas por profissionais do ente público.

Pelo exposto, DEFIRO o pedido de tutela provisória de urgência, a fim de determinar que
a parte ré disponibilize em favor do infante Augusto Bortoletto Schmeiske Ruivo, de
imediato, 10 sessões semanais de psicologia DENVER, 2 sessões por semana de
fonoaudiologia e terapia ocupacional com integração sensorial em 1 sessão semanal
(seq. 1.7), além de consultas trimestrais com neuropediatra, a serem implementadas por
seus próprios profissionais, desde que habilitados para tal ou diretamente junto a
clínica Instituto Esperança – Centro de Intervenção Precoce LTDA, no prazo de 15
(quinze) dias, sob pena de multa diária no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), sem
prejuízo de responsabilidade criminal por crime de desobediência.

III – Dispenso a realização de prévia audiência de conciliação, uma vez que a parte Ré sempre
tem manifestado desinteresse em sua realização. Caso haja interesse neste caso específico,
poderá formular requerimento nos autos.
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IV – Cite-se a parte ré para que apresente contestação, no prazo legal, bem como para
cumprir a presente decisão.

V – Ofertada contestação, à parte autora para manifestação, no prazo legal.

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VI – Em seguida, dê-se vista ao Ministério Público.

Intimem-se.

Maringá, data de inserção no sistema.

Robespierre Foureaux Alves


Juiz de Direito Substituto

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