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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DE INFÂNCIA E

JUVENTUDE DA COMARCA DE SÃO BERNARDO DO CAMPO -SP

ISAAC PINHEIRO BATISTA, nascido em 18 de abril de 2013, filho


de, RANIERI TAIANNA PINHEIRO BATISTA e IGOR FLAVIO APARECIDO BATISTA,
representado por sua genitora, brasileira, casada, auxiliar de limpeza, portadora da
cédula de identidade RG nº. 46.364.795-6, inscrita no CPF/MF sob o n.º 384.825.108-
60, residente e domiciliada na Rua Peruíbe, nº 8, casa 02, bairro Montanhã o, CEP
09784-275, Sã o Bernardo do Campo/SP, por meio da Defensoria Pú blica do Estado de
Sã o Paulo dispensada a apresentaçã o de instrumento de mandato, conforme o artigo
128, inciso XI da Lei Complementar nº 80/1994, vem, respeitosamente, à presença
de Vossa Excelência, com fulcro nos artigos 5°, inciso LXIX, 6º, 205 e 208, inciso IV, da
Constituiçã o da Repú blica, e artigos 3º, 4º, 53 e 54 do Estatuto da Criança e do
Adolescente, e dos artigos 300, 497, 536, 815 e seguintes do Có digo de Processo Civil
propor,

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER com pedido de tutela antecipada,

em face do MUNICÍPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO – SP, pessoa jurídica de


direito pú blico interno, representado por seu Prefeito, com sede no Paço Municipal,
13ºandar, Centro, CEP 09750-901, Sã o Bernardo do Campo – SP e do ESTADO DE SÃO
PAULO, ente da Federaçã o, pessoa jurídica de direito pú blico interno, que deve ser
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citado, conforme preceitua o artigo 12, inciso II, Có digo de Processo Civil, na pessoa do
seu Chefe do Poder Executivo, sito na Av. Morumbi, 4.500 - Portã o 2 - Morumbi – Sã o
Paulo – SP, CEP 05650-905, ou por meio da Procuradoria Geral do Estado, com sede
na Rua Pamplona, 227, Jardim Paulista, Sã o Paulo -SP, CEP 01405-000, pelos motivos
de fato e de direito que a seguir passa a expor:

1. DOS FATOS

O Requerente é criança com apenas 10 (dez) anos e 3 (três) meses


de idade e possui diagnó stico de diabetes mellius tipo 1 (CID E10.9) desde 2021 e
faz tratamento intensivo de insulinoterapia.

Em razã o do quadro acima exposto, ISAAC necessita de no mínimo


7 medidas de glicosimetria para aplicar a dose de insulina correta e corrigir a
hipoglicemia de forma precisa, conforme demonstrado em relató rio médico anexo a
esta petiçã o.

Atualmente o autor utiliza o dispositivo fornecido pelo Sistema


Ú nico de Saú de (SUS) para realizar as medidas, tal equipamento precisa que a ponta
do dedo seja furada em cada medida, ou seja, está realizando diariamente 7 punçõ es.
Apó s o reiterado uso, as punçõ es causam dor e sensibilidade no local, fazendo com
que algumas medidas nã o sejam realizadas, o que pode ocasionar grave descontrole
da doença.

Desta forma, em busca de um controle efetivo e que cause menos


desconforto ao menor, foi indicado o uso do Medidor de glicose FreeStyle Libre, já
que o equipamento consegue medir a glicose sem a necessidade de tantas pulsõ es
diá rias.

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O medidor indicado, funciona com um sensor aplicado na pele e
com a aproximaçã o do leitor. Dessa forma, consegue estabelecer os níveis de glicemia
durante os dias e as semanas e cada sensor dura 14 dias, por isso, seria necessá rio
apenas uma pulsão a cada duas semanas.

Além de que, o dispositivo consegue informar como estará a


glicemia em alguns minutos a frente, o que auxilia na aplicaçã o de insulina, com
melhor definiçã o de horá rio e quantidade.

Com essa indicaçã o, a genitora entã o fez a solicitaçã o do


equipamento para o poder pú blico por via administrativa, já que se trata de
equipamento de elevado custo. O monitor completo, com leitor e sensores custa a
partir de 400 (quatrocentos) reais.

Porém, o requerimento foi negado pela secretaria de saú de. Alega


que o SUS já fornece dispositivo para controle da doença e que o referido monitor nã o
se enquadra nos insumos fornecidos pelo poder pú blico.

Diante da necessidade do Requerente, cabe ao Poder Pú blico a


proteçã o de direitos fundamentais, em especial do direito à vida e a saú de adequada,
como no presente caso.

E, em face da sua negativa, resta ao Judiciá rio esse socorro.

2. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Conforme entendimento assente na doutrina pá tria é dever do


Estado fornecer gratuitamente nã o só medicamentos, mas tudo o mais que for

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necessário àquele que deles necessite para a conservação de sua saúde. Neste
ponto, vale trazer à baila o entendimento do autor pá trio Pedro Lenza, que aduz que:

“A saú de é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante


políticas sociais e econô micas que visem à reduçã o do risco de
doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitá rio à s
açõ es e serviços para sua promoçã o, proteçã o e recuperaçã o”

Devendo este direito ser garantido de modo indistinto por todos


os entes da federaçã o- Uniã o, Estados, Distrito Federal e Municípios- conforme prevê a
Constituiçã o Federal nos artigos 6º, 23 II e 196, caput, todos da Constituiçã o Federal
como descritos abaixo:

“Art. 6º Sã o direitos sociais a educaçã o, a saú de, a alimentaçã o, o


trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteçã o à maternidade e à infâ ncia, a assistência aos
desamparados, na forma desta Constituiçã o”.

“Art.23: É competência comum da Uniã o, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios (...)
II- cuidar da saú de e assistência pú blica, da proteçã o e garantia
das pessoas portadoras de deficiência;”

“Art.196: A Saú de é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econô micas que visem à reduçã o do
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e
igualitá rio à s açõ es e serviços para sua promoçã o, proteçã o e
recuperaçã o.”

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A Constituiçã o Federal, em seu artigo 227, impõ e à familia, à
comunidade, à sociedade e ao poder pú blico, o dever de assegurar, com absoluta
prioridade, a efetivaçã o dos direitos fundamentais relativos à criança, ao adolescente
e ao jovem, colocando-os a salvo de toda forma de negligência e discriminaçã o.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, por sua vez, assegura:

Art. 4º “É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral


e do poder pú blico assegurar, com absoluta prioridade, a
efetivaçã o dos direitos referentes à vida, à saú de, à alimentaçã o, à
educaçã o, ao esporte, ao lazer, à profissionalizaçã o, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitá ria”.

Diante destes dispositivos nã o há o que se negar quanto ao


direito do autor, bem como quanto à responsabilidade do Estado em garantir tal
direito, visto que estã o presentes as condiçõ es de saú de e a ausência de recursos
financeiros para aquisiçã o do medidor.

Ressalta se que o uso do referido equipamento nã o é um luxo,


mas uma necessidade, pois a sua utilizaçã o previne uma possível majoraçã o da
doença, além de melhorar a qualidade de vida do autor que sofre com dores devido as
pulsõ es contínuas.

A Constituiçã o Estadual, por sua vez, declara:

“Art.219: A saú de é direito de todos e dever do Estado.


Pará grafo ú nico: os Poderes Pú blicos Estadual e Municipal
garantirã o o direito à saú de mediante:

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(...)

4- atendimento integral do indivíduo, abrangendo a promoçã o,


preservaçã o e recuperaçã o da saú de.” (grifos nossos).

Neste diapasã o, faz-se necessá rio concluir que a saú de é um


direito pú blico subjetivo, nã o podendo ficar ao livre alvedrio do Estado a decisã o
acerca do fornecimento ou nã o de medicamentos, equipamentos e tudo o mais que for
imprescindível à sobrevivência dos indivíduos que nã o têm condiçõ es financeiras para
arcar com o custo de tais medicamentos e insumos e que, infelizmente, deles
necessitam.

Analisando o dispositivo constitucional supramencionado, afirma


o Exmo. Sr. Min. Gilmar Mendes o seguinte:

“Incluído no â mbito da seguridade e ostentando o status de direito


fundamental, com referência expressa no caput dos arts. 6º e 196
da Constituiçã o, a saú de é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econô micas que visem à
reduçã o do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso
universal e igualitá rio à s açõ es e serviços para sua promoçã o e
recuperaçã o. Configura direito pú blico subjetivo, que pode ser
exigido do Estado, ao qual é imposto o dever de prestá -lo”

Inequívoco que o direito a saú de é uma das vertentes do direito à


vida, sendo, ainda, um corolá rio do valor fonte de todo o ordenamento jurídico pá trio,
qual seja, a Dignidade da Pessoa Humana.

Corroborando a assertiva acima exposta, vale a transcriçã o do

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entendimento de José Afonso da Silva acerca do tema:

“o direito à saú de há de ser informado pelo princípio de que o


direito igual à vida de todos os seres humanos significa também
que, nos casos de doenças, cada um deve receber tratamento
condigno de acordo com o estado atual da ciência médica,
independentemente de sua situaçã o econô mica, sob pena de nã o
ter muito valor sua consignaçã o em normas constitucionais.”

Cumpre esclarecer também que a Lei Orgâ nica da Saú de (Lei nº


8.080/90), traz inú meras outras disposiçõ es que também asseguram o direito à saú de,
e consequentemente o acesso à medicamentos.

Art. 2º - A saú de é um direito fundamental do ser humano devendo


o Estado prover as condiçõ es indispensá veis ao seu pleno
exercício.
Pará grafo 1º - O dever do Estado de garantir a saú de consiste na
reformulaçã o e execuçã o de políticas econô micas e sociais que
visem a reduçã o de riscos de doenças e de outros agravos e no
estabelecimento de condiçõ es que assegurem acesso universal e
igualitá rio à s açõ es e aos serviços para a sua promoçã o, proteçã o e
recuperaçã o.
Exatamente nesses moldes, em capítulo nominado “Da Família,
da Criança, do Adolescente, do Jovem e do Idoso”, a Constituiçã o Federal timbrou em
seu art.227º, in verbis:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o

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direito à vida, à saú de, à alimentaçã o, à educaçã o, ao lazer, à
profissionalizaçã o, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e
à convivência familiar e comunitá ria, além de colocá -los a salvo de
toda forma de negligência, discriminaçã o, exploraçã o, violência,
crueldade e opressã o.

Com isso, é claro que há insuficiência no equipamento já ofertado


pelo SUS, já que não basta apenas fornecer o insumo como também se adaptar as
questões da pessoa necessitada, respeitando o princípio da dignidade da pessoa
humana. No caso em epígrafe há claramente uma necessidade de adaptação de
um novo equipamento que forneça as medições necessárias ao tratamento do
autor, sem a necessidade de dor e sofrimento sete vezes ao dia todos os dias de
sua vida.

Desta forma, devem os demandados serem condenados ao


fornecimento do dispositivo, Medidor de Glicose FreeStyle Libre, conforme
receituá rio médico, por tempo indeterminado, visto ser seu uso imprescindível,
segundo prescriçã o médica anexa.

3. DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA

A medida pleiteada é de extrema urgência, já que, conforme


salientado, o Requerente necessita do medidor para nã o ter prejudicada suas
necessidades vitais, e, nã o condiçõ es financeiras de arcar com o item por ser pessoa
pobre na acepçã o jurídica do termo. Nestes termos, presente o periculum in mora.

O fumus boni juris decorre da pró pria situaçã o em que se encontra


o Autor, já que nã o dispõ e de meios financeiros para adquirir o equipamento

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necessá rio. A prova é inequívoca neste sentido, conforme demonstram os documentos
anexos. Presente está a verossimilhança da alegaçã o.

Assim, pode ser concedida a tutela antecipada de acordo com o


artigo 300 do CPC, estando presentes todos os fundamentos para sua concessã o, para
nã o causar gravames maiores a autora, bem como forma de manutençã o do direito à
vida, que poderiam ser resolvidos pelo Poder Pú blico com a responsabilidade de
fornecer o remédio indicado, a fim de se evitar danos irrepará veis, sendo imposta
multa diá ria ao Requerido, por dia de descumprimento, no valor que Vossa Excelência
julgar cabível, mas nã o inferior a R$ 1.000,00 (hum mil reais).

4. DOS PEDIDOS E DOS REQUERIMENTOS

Expostos os fundamentos fá ticos e jurídicos, requer-se:

1 – O deferimento da ANTECIPAÇÃO DE TUTELA pleiteada,


inaudita altera pars, determinando-se o custeio e fornecimento do medidor
supracitado, conforme prescriçã o médica, sob pena de multa diá ria nã o inferior a R$
1.000,00 (hum mil reais);

2 - A citaçã o pessoal do Requerido, para responder aos termos da


presente demanda;

3 - A intimaçã o do digníssimo representante do Ministério Pú blico;

4 - A concessão dos benefícios da Justiça Gratuita, nos termos


do artigo 5.º, inciso LXXIV, da Constituiçã o Federal, bem como da lei n.º 1060/50, por
ser a autora pobre na acepçã o jurídica do termo, nã o tendo condiçõ es para prover as

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despesas do processo sem se privar dos recursos indispensá veis ao pró prio sustento e
respectiva família, conforme declaraçã o anexa;

5 - A observâ ncia do disposto na Lei Complementar Federal n.º


80/94, que dispõ e sobre prazos em dobro e intimações pessoais à Defensoria
Pú blica do Estado, bem como sobre a dispensa da juntada de procuraçã o “ad judicia”;

6 - Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em


direito admitidos, especialmente perícia, depoimento pessoal da representante legal
da Requerente, testemunhas e novos documentos, se for o caso;

7 – Ao final, a PROCEDÊNCIA integral da presente demanda, para


que seja condenado o município à fornecer o Medidor de Glicemia – FreeStyle Libre
gratuitamente.

Atribui-se a causa o valor de R$ 1.000,00 (um mil reais).

Nestes termos, pede deferimento.

Sã o Bernardo do Campo, 20 de julho de 2023

FERNANDA FERNANDES GOMES ROZO


Defensora Pú blica
13ª Defensoria Pú blica da Unidade Sã o Bernardo do Campo

VANESSA LIMA
Estagiá ria de Direito

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