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AO JUÍZO DE DIREITO DA _____ VARA CÍVEL DA COMARCA DE


DUQUE DE CAXIAS – RJ.

PRIORIDADE DE TRAMITAÇÃO – PESSOA IDOSA

JOÃO NOGUEIRA DOS SANTOS, brasileiro, casado, aposentado,


portador da carteira de identidade n° 02.460.962-0, expedida pelo IFP,
inscrito no CPF sob o n° 176.446.317-04, residente e domiciliado na Rua
Martins Moreno, s/n°, lote 20, quadra 20, Vila Guanabara, Duque de Caxias
– RJ, CEP. 25.086-230, telefones de contato (21) (21) 965875178, (21)
964026931 e (21) 966238169, e-mail: contato@infoisrael.com.br, pela
Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, vem propor:

AÇÃO PARA FORNECIMENTO DE REMÉDIO


COM PEDIDO TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

pelo procedimento comum, em face do MUNICÍPIO DE DUQUE DE


CAXIAS, pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o n°
29.138.328/0001-50, com sede na Alameda Dona Esmeralda, n° 206, Jardim
Primavera, Duque de Caxias – RJ, CEP: 25.215-260, e ESTADO DO RIO DE
JANEIRO, pessoa jurídica de direito público, inscrita no CNPJ sob o n°
42.498.600/0001-71, situado na Rua do Carmo do Carmo, n° 27, Centro,
Rio de Janeiro – RJ, CEP 20.010.090, por intermédio dos seus procuradores,
pelos fatos e fundamentos jurídicos a seguir expostos:

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Inicialmente, afirma, de acordo com o que dispõem o caput do


artigo 98 c/c caput e parágrafo 3º do artigo 99, ambos do NCPC, não
possuírem recursos suficientes para arcar com as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios, motivo pelo qual exerce neste ato
o direito constitucionalmente assegurado à assistência jurídica integral e
gratuita com o patrocínio da Defensoria Pública, nos termos do inciso LXXIV
do artigo 5º e caput do artigo 134, ambos da CRFB/88 c/c artigo 185 do
NCPC, fazendo jus à gratuidade de justiça.

DA PRIORIDADE NA TRAMITAÇÃO DO PROCESSO

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Assinado por MARILIA CORREA PINTO DE FARIAS
Date: 5/19/22 1:41:10 PM -03:00
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Como faz prova o documento em anexo, a parte autora é pessoa


idosa, com idade igual ou superior a 60 anos, devendo ser observado o
regime de tramitação prioritária, com a devida identificação própria, na
forma do artigo 1.048, do Código de Processo Civil.

DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU DE MEDIAÇÃO

A parte autora manifesta, desde logo, o seu desinteresse na


realização de audiência de conciliação ou de mediação – art. 319, inc. VII,
do CPC, eis que foi frustrada a tentativa de obtenção dos medicamentos pela
via administrativa. Ademais, como é consabido, os réus vêm perenemente
negando os pedidos de concessão de medicamentos dos assistidos, o que se
traduz em milhares de litígios no Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro.

DOS FATOS

A parte autora, que conta com mais de 60 (sessenta) anos de idade,


é portadora de Hérnia Discal e Discopatia Degenerativa (CID 10 M51),
conforme laudo médico que segue anexo. Em razão de seu quadro clínico, a
parte autora necessita dos seguintes medicamentos:

• Amitriptilina 10mg, sendo necessárias 30 (trinta) doses por


mês;

• Pregabalina 60mg, sendo necessárias 30 (trinta) doses por


mês;

• Ciclobenzaprina 10mg, sendo necessárias 30 (trinta) doses por


mês

• Famotidina 40 mg, sendo necessárias 30 (trinta) doses por


mês;

• Diacereina 50mg, sendo necessárias 60 (sessenta) doses por


mês;

• Glucosamina 1000mg, sendo necessárias 30 (trinta) doses por


mês;

• Condroitina 1000mg, sendo necessárias 30 (trinta) doses por


mês;

• Magnesio 120 mg, sendo necessárias 30 (trinta) doses por mês;

• Citalopran 23 mg, sendo necessárias 30 (trinta) doses por mês;

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• Ácido Fólico 7,1 mg, sendo necessárias 30 (trinta) doses por


mês.

Por não ter conseguido obter os medicamentos acima descritos, o


autor buscou atendimento na Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro.
Contudo, mesmo após a expedição do ofício nº V118/2022, a parte autora
não conseguiu os referidos medicamentos.

Vale ressaltar que a parte autora sofre de dor crônica,


necessitando dos medicamentos acima para ter o mínimo de qualidade de
vida, conforme pode se extrair do laudo médico anexo.

Ora Exa., a parte autora não pode ficar ao arbítrio do Poder Público
para conseguir os medicamentos de que necessita para viver com o mínimo
de dignidade. Já decorreram mais de 60 (sessenta) dias desde que o paciente
fez a solicitação administrativa pelo ofício da expedido pela Defensoria
Pública e, ainda assim, não recebeu os medicamentos pleiteados.

Assim, é a presente para o fornecimento dos medicamentos acima


mencionados.

A vida, um dos bens jurídicos mais essenciais ao ser humano, deve


ser encarada como direito supra estatal, sendo dever do Estado tutelá-la
sempre que ameaçada. No caso em tela, afigura-se essencial sua
intervenção, vez que a enfermidade apresentada pela parte autora é
potencialmente ameaçadora de sua vida.

Tendo em vista que os réus não estão lhe fornecendo o


medicamento acima, pedido oportunamente por via administrativa, faz-se,
então, necessária a tutela provisória para o seu fornecimento e aplicação.

Destaca-se, por derradeiro, que configura dever constitucional de


todos os entes Federativos zelar pela vida e pela dignidade de seus cidadãos,
cabendo ainda ao Poder Judiciário agasalhar o pleito daqueles que têm seu
direito violado.

DO DIREITO

DO DIREITO À SAÚDE

Ao abrirmos a Constituição da República, nos deparamos com o


título “Dos Princípios Fundamentais”, cujo artigo 1o garante que:

A República Federativa do Brasil, formada pela união


indissolúvel dos Estados, Municípios e do Distrito Federal,

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constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem


como fundamentos:
...
III- a dignidade da pessoa humana

Foi além o Poder Constituinte originário, assegurando no art. 196:

Art. 196 – A saúde é direito de todos e dever do Estado,


garantido mediante políticas sociais e econômicas que
visem à redução do risco de doença e outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua
promoção, proteção e recuperação.

A Lei 8.080/90 que dispõe sobre a promoção, proteção e


recuperação da saúde, esclarecendo acerca da constituição do Sistema Único
de Saúde (SUS), concretiza em seus artigos 4o e 6o, inciso I, alínea “d”, essa
obrigação do Estado em sentido lato:

Art. 4o – conjunto de ações e serviços de saúde, prestado


por órgãos e instituições públicas federais, estaduais e
municipais, da Administração Direta e Indireta e das
Fundações mantidas pelo Poder Público, constitui o
sistema único de Saúde (S.U.S.).

Art. 6o – Estão incluídas no campo de atuação do S.U.S.:


I - Executar ações:...
d - de assistência terapêutica integral, inclusive
farmacêutica

A responsabilidade solidária entre a União, Estados, Distrito Federal


e Municípios, em tema de saúde do cidadão, já foi exaustivamente abordado
por diversos Tribunais apesar de um ente federativo sempre pretender
deslocar sua tarefa primária para outro.

No caso vertente é inexplicável qualquer tipo de alegação que


porventura venha a ser lançada pelo Estado, no intuito de eximir-se de sua
obrigação, sob pena de ofensa direta à Constituição Federal que dispõe em
seu artigo 23, I, conforme o abaixo transcrito:

Art. 23 - É competência comum da União dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios:
...
I - cuidar da saúde e assistência pública, de proteção e
garantia das pessoas portadoras de deficiência;

O Superior Tribunal de Justiça reconhece o direito ao fornecimento


de remédios e a responsabilidade solidária dos entes federados, senão
vejamos:
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1. Tratando-se de fornecimento de medicamentos, cabe


ao Juiz adotar medidas eficazes à efetivação de suas
decisões, podendo, se necessário, determinar até mesmo,
o sequestro de valores do devedor (bloqueio), segundo o
seu prudente arbítrio, e sempre com adequada
fundamentação.
2. Recurso Especial provido. Acórdão submetido ao
regime do art. 543-C do CPC e da Resolução
08/2008 do STJ. (REsp 1069810 RS, Rel. Ministro
NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA SEÇÃO,
Julgado em 23/10/2013, DJE 06/11/2013)

No mesmo escopo, estão os verbetes da súmula do Tribunal de


Justiça do Estado do Rio de Janeiro:

Nº. 181 "Presente o interesse processual na ação


proposta em face de entes estatais com vistas à obtenção
de prestação unificada de saúde."
REFERÊNCIA: Processo Administrativo nº. 0013667
68.2011.8.19.0000- Julgamento em 22/11/2010 -
Relator: Desembargadora Leila Mariano. Votação
unânime.

Nº. 180 "A obrigação dos entes públicos de fornecer


medicamentos não padronizados, desde que reconhecidos
pela ANVISA e por recomendação médica, compreende se
no dever de prestação unificada de saúde e não afronta o
princípio da reserva do possível."
REFERÊNCIA: Processo Administrativo nº. 0013667
68.2011.8.19.0000 - Julgamento em 22/11/2010 -
Relator: Desembargadora Leila Mariano. Votação
unânime.

Nº. 179 "Compreende-se na prestação unificada de


saúde a obrigação de ente público de fornecer produtos
complementares ou acessórios aos medicamentos, como
os alimentícios e higiênicos, desde que diretamente
relacionados ao tratamento da moléstia, assim declarado
por médico que assista o paciente."
REFERÊNCIA: Processo Administrativo nº. 0013667
68.2011.8.19.0000- Julgamento em 22/11/2010 -
Relator: Desembargadora Leila Mariano. Votação
unânime.

Nº. 178 "Para o cumprimento da tutela específica de


prestação unificada de saúde, insere-se entre as medida
de apoio, desde que ineficaz outro meio coercitivo, a
apreensão de quantia suficiente à aquisição de

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medicamentos junto à conta bancária por onde transitem


receitas públicas de ente devedor, com a imediata entrega
ao necessitado e posterior prestação de contas."
REFERÊNCIA: Processo Administrativo nº. 0013667
68.2011.8.19.0000 - Julgamento em 22/11/2010 -
Relator: Desembargadora Leila Mariano. Votação
unânime.

Nº. 116 "Na condenação do ente público à entrega de


medicamento necessário ao tratamento de doença, a sua
substituição não infringe o princípio da correlação, desde
que relativa à mesma moléstia".
Referência: Súmula da Jurisprudência Predominante nº.
2006.146.00004. Julgamento em 09/10/2006. Relator:
Desembargador Marcus Tullius Alves. Votação unânime.

Nº. 115 "A solidariedade dos entes públicos, no dever de


assegurar o direito à saúde, não implica na admissão do
chamamento do processo".
Referência: Súmula da Jurisprudência Predominante nº.
2006.146.00004. Julgamento em 09/10/2006. Relator:
Desembargador Marcus Tullius Alves. Votação unânime.

Nº. 65 "Deriva-se dos mandamentos dos artigos 6º e 196


da Constituição Federal de 1988 e da Lei nº. 8080/90, a
responsabilidade solidária da União, Estados e Municípios,
garantindo o fundamental direito à saúde e conseqüente
antecipação da respectiva tutela".
Referência: Súmula da Jurisprudência Predominante nº.
2001.146.00004. Julgamento em 05/05/2003. Relator:
Desembargadora Marianna Gonçalves. Votação unânime.
Registro do Acórdão em 15/09/2003.

Diante do exposto, é dever dos réus garantir o fornecimento dos


medicamentos e insumos indispensáveis à manutenção da saúde da parte
autora, e obrigação do Poder Judiciário agasalhar o pleito, sob pena de negar
vigência à Lei Fundamental.

Além disso, é sempre de bom tom relembrar que se não for para
fornecer saúde, segurança e educação à população, não há por que existir
um Estado Democrático de Direito.

DA POSSIBILIDADE DE INCLUSÃO E/OU MODIFICAÇÃO DE


MEDICAMENTOS MESMO APÓS A CONTESTAÇÃO. DA AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ESTABABILIZAÇÃO DA DEMANDA.

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É cediço na jurisprudência que, nas ações em que se pleiteia o


fornecimento de insumos e/ou medicamentos, o bem jurídico perseguido é
a tutela da saúde e não o item especificamente considerado.

Por conseguinte, a supressão, alteração ou inclusão de novos


medicamos, poderá ser feita por simples petição nos autos a qualquer
momento, inclusive após a prolação de sentença, pois, não havendo
modificação na causa de pedir, não há que se falar em violação ao princípio
da estabilização da demanda, tampouco da correlação.

Vejamos recente acórdão do Superior Tribunal de Justiça que


acolheu a tese acima menciona:

PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO


INTERNO NO RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA.
DELEGAÇÃO DO JUÍZO AUXILIAR DA VICE-PRESIDÊNCIA.
POSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO DE FÁRMACO.
DIREITO FUNDAMENTAL À VIDA E À SAÚDE.
DESNECESSIDADE DE QUE A PRESCRIÇÃO DO
MEDICAMENTO SEJA SUBSCRITA POR MÉDICO DO SUS.
AGRAVO INTERNO DO ENTE FEDERAL A QUE SE NEGA
PROVIMENTO. 1. Nos termos do que decidido pelo
Plenário do STJ, aos recursos interpostos com fundamento
no CPC/1973 (relativos a decisões publicadas até 17 de
março de 2016) devem ser exigidos os requisitos de
admissibilidade na forma nele prevista, com as
interpretações dadas até então pela jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça (Enunciado Administrativo 2).
2. Conforme a tese fixada pelo STF em sede de
Repercussão Geral, a responsabilidade dos Entes
Federados pelo direito à saúde é solidária, podendo
figurar no polo passivo qualquer um deles em conjunto ou
isoladamente (RE 855.178/PE, Rel. Min. Luiz Fux, DJe
16.3.2015, Tema 793). Deste modo, a determinação para
o fornecimento do fármaco pode ser dirigida à UNIÃO - já
que, existindo solidariedade passiva, qualquer dos
devedores pode ser chamado a cumprir a obrigação. 3. A
substituição ou complemento do fármaco
inicialmente pleiteado, após a prolação da
sentença, não configura inovação do pedido ou da
causa de pedir, mas mera adequação do tratamento
para a cura da enfermidade do paciente (AgInt no
REsp. 1.503.430/SP, Rel. Min. GURGEL DE FARIA,
DJe 22.11.2016). No mesmo sentido: AgRg no REsp.
1.577.050/RS, Rel. Min. REGINA HELENA COSTA,
DJe 16.5.2016; AgRg no AREsp. 752.682/RS, Rel.
Min. ASSUSETE MAGALHÃES, DJe 9.3.2016. 4. É
possível a determinação judicial ao fornecimento de

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medicamentos com base em prescrição elaborada por


médico particular, não se podendo exigir que o a receita
seja subscrita por profissional vinculado ao SUS.
Julgados: REsp. 1.794.059/RJ, Rel. Min. HERMAN
BENJAMIN, DJe 22.4.2019; AgInt no REsp. 1.309.793/RJ,
Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, DJe 7.4.2017;
AgInt no AREsp. 405.126/DF, Rel. Min. GURGEL DE
FARIA, DJe 26.10.2016. 5. A alegada incompetência do
Juiz Auxiliar fundamenta-se no fato de o Magistrado ter
deferido nova tutela antecipada, ao acatar a substituição
do fármaco pleiteado. Entretanto, como já exposto, a
modificação empreendida consiste em simples ajuste do
tratamento, sem qualquer alteração objetiva na
demanda. 6. Agravo Interno do Ente Federal a que se
nega provimento. (STJ, AgInt no RMS 47.529/SC, Rel.
Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA
TURMA, julgado em 17/06/2019, DJe 25/06/2019)

Vale ressaltar que o entendimento vai ao encontro de diversos


princípios constitucionais e processuais, dentre eles os princípios da
celeridade e economia processual, visto que beira a teratologia exigir que,
para o mesmo quadro clinico, a parte ajuíze diversas ações judiciais para
tutelar o mesmo bem jurídico, qual seja, a saúde.

DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA

Como é cediço, o art. 300 e §§, do Código de Processo Civil


autorizam que seja concedida, liminarmente, medida satisfativa dos efeitos
da tutela jurisdicional, desde que existam elementos que certifiquem a
possibilidade do direito (fumus boni iuris) e o risco de dano no caso concreto
(periculum in mora). Neste escopo, surgem as primeiras manifestações
doutrinárias1:

143. (art. 300, caput) A redação do art. 300, caput,


superou a distinção entre os requisitos da concessão para
a tutela cautelar e para a tutela satisfativa de urgência,
erigindo a probabilidade e o perigo na demora a requisitos
comuns para a prestação de ambas as tutelas de forma
antecipada.

Assim sendo, persistem como pressupostos gerais para o


deferimento da tutela satisfativa (antecipada) os requisitos da fumus boni
iuris e do periculum in mora.

No tocante ao pressuposto específico: reversibilidade da tutela


provisória satisfativa – art. 300, § 3º, do CPC, numa primeira análise, há
1
ENUNCIADOS DO FÓRUM PERMANENTE DE PROCESSUALISTAS CIVIS, Vitória, 01º, 02 e 03 de maio de 2015.

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clara violação de princípios fundamentais, mas para que o novo CPC não seja
taxado de inconstitucional pelos tribunais, mais uma vez é indispensável a
interpretação doutrinária da questão:

Deve prevalecer para o § 3º do art. 300 do novo CPC a


vencedora interpretação que se firmou a respeito do § 2º
do art. 273 do CPC atual, única forma de contornar o
reconhecimento de sua inconstitucionalidade substancial:
a vedação da concessão da tutela de urgência nos casos
de irreversibilidade não deve prevalecer nos casos em que
o dano ou o risco que se quer evitar ou minimizar é
qualitativamente mais importante para o requerente do
que para o requerido. Subsiste, pois, implícito ao sistema
– porque isso decorre do ‘modelo constitucional’ – o
chamado ‘princípio da proporcionalidade’, a afastar o rigor
literal desejado pela nova regra.2

Note-se que a ampla defesa e o contraditório não restarão


prejudicados, mas apenas diferidos no tempo. Do contrário, o direito à saúde
e ao acesso à ordem jurídica justa restariam irremediavelmente aniquilados
no caso em tela. Repisa-se que “a tutela provisória de urgência poderá ser
concedida liminarmente quando o perigo de dano ou de ilícito, ou risco de
resultado útil do processo estiverem configurados antes ou durante o
ajuizamento da demanda.”3 Ainda, condicionar no caso vertente a apreciação
do pedido liminar à resposta da parte ré implicaria em inaceitável, permissa
venia, dupla omissão dos mesmos.

Ademais, não há que se falar em impossibilidade do deferimento da


antecipação dos efeitos da tutela contra a Fazenda Pública, uma vez que o
presente caso não enseja o aumento de despesa nem de quadro de
servidores, já que os entes federados já recebem grande verba da
arrecadação de tributos para a efetivação do direito fundamental à saúde.

Dessa forma e por todo o já exposto, faz jus a parte autora à


antecipação total dos efeitos da tutela de mérito pleiteada.

DA DESNECESSIDADE DE NOVA CONSULTA AO SISTEMA NAT

Cumpre salientar que o caso já foi submetido ao sistema


denominado NAT -Núcleos da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro,

2
BUENO, Cassio Scarpinella – Novo Código de Processo Civil anotado/Cassio Scarpinella Bueno. São Paulo:
Saraiva, 2015. p. 219.
3
DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probatório, ações probatórias,
decisão, precedente, coisa julgada e antecipação dos efeitos da tutela / Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael
Alexandria de Oliveira – 10. Ed. – Salvador: Ed. Jus Podvim, 2015. v.2. pág. 579

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tendo sido verificado que os medicamentos estão padronizados para o


quadro clínico da autora. Contudo, apesar disso, não estão sendo fornecidos.

Desse modo, verifica-se que antes do ajuizamento dessa ação, foi


buscada uma solução pela via administrativa, com esforço da própria
Defensoria Pública, através de seu Núcleo de primeiro atendimento, no
sentido de resolver a questão diretamente com o órgão responsável via
sistema/convênio criado entre a Secretaria Estadual de Saúde e a
Defensoria. Entretanto, lamentavelmente, a resposta foi negativa.

Aqui, neste ponto, salvo melhor juízo, cabe ressaltar a


DESNECESSIDADE do envio do presente caso NOVAMENTE para o sistema
NAT a fim de verificar a possibilidade de resolução administrativa, o que só
prolongaria o sofrimento e a espera da autora e não traria nenhum tipo de
resposta diferente da que já fora dada.

DO PEDIDO

Pelo exposto, requer:

a) A concessão da gratuidade de justiça e prioridade de tramitação;

b) O deferimento da tutela provisória de urgência incidental,


oficiando-se os réus, no sentido de disponibilizar a parte autora os
medicamentos reclamados, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 (mil
reais);

c) A citação dos réus para, querendo, contestar o presente pedido,


sob pena de revelia;

d) A inversão do ônus da prova, consoante o art. 373, § 1º, do CPC.

e) A procedência do pedido, determinando-se que os réus forneçam


à parte autora, em definitivo, o necessário à manutenção de sua saúde, nos
moldes do pedido no item “b”, sob pena da mesma multa diária de R$
1.000,00 (mil reais);

f) A intimação do Ministério Público;

g) A intimação pessoal do Defensor Público em exercício nesta Vara,


conforme prerrogativa conferida no artigo 186, parágrafo 1º, do CPC.

h) A condenação dos Réus ao pagamento das custas processuais e


honorários advocatícios, estes a serem recolhidos em guia própria em favor
em proveito do CENTRO DE ESTUDOS JURÍDICOS DA DEFENSORIA PÚBLICA

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GERAL DO ESTADO, nos termos da Lei Estadual n. 1.146/87, Banco


Bradesco, ag. 6898-5, conta 0214-3, consoante o disposto na Lei Estadual
no 1.146/87;

A parte autora empregará todos os meios legais, bem como os


moralmente legítimos, ainda que não especificados no CPC, para provar a
verdade dos fatos em que se funda o pedido e influir eficazmente na
convicção do juízo.

Não obstante, considerando as peculiaridades do caso concreto e a


magnitude dos réus torna-se obrigatória a inversão do ônus da prova, com
fulcro no art. 373, § 1º, do CPC, o que ora se requer.

Dá à presente o valor de R$ 5.112,00 (cinco mil cento e doze reais).

Termos em que
Pede deferimento.

Duque de Caxias, 19 de maio de 2022.

Marilia Corrêa P. Farias


Defensora Pública
Mat. 930.817-2

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Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário
Tribunal de Justiça
Comarca de Duque de Caxias 35
Cartório da 4ª Vara Cível
Rua General Dionizio, 764 Sala 204CEP: 25075-095 - 25 de Agosto - Duque de Caxias - RJ Tel.: 3661-9100 e-mail:
dcx04vciv@tjrj.jus.br

Fls.
Processo: 0016313-02.2022.8.19.0021
Processo Eletrônico

Classe/Assunto: Procedimento Comum - Fornecimento de Medicamentos

Autor: JOÃO NOGUEIRA DOS SANTOS


Réu: MUNICIPIO DE DUQUE DE CAXIAS
Réu: ESTADO DO RIO DE JANEIRO

___________________________________________________________

Nesta data, faço os autos conclusos ao MM. Dr. Juiz


Gabriel Almeida Matos de Carvalho

Em 19/05/2022

Decisão
1. Defiro a gratuidade de justiça. Anote-se.

2.Trata-se de ação que tramita pelo procedimento comum, com pedido de tutela provisória de
urgência, ajuizada por JOÃO NOGUEIRA DOS SANTOS em face do MUNICÍPIO DE DUQUE DE
CAXIAS e do ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

O autor, pessoa idosa com 75 anos de idade, foi diagnosticado com Hérnia Distal e Discopatia
Degenerativa (CID 10 M51).

Conforme laudo médico, inserido no indexador 16, foi indicado ao autos os medicamentos
Amitriptilina 10 mg (30 doses/mês), Pregabalina 60 mg (30 doses/mês), Ciclobenzaprina 10 mg
(30 doses/mês), famotidina 40 mg (30 doses/mês), Diacereina 50 mg (60 doses/mês),
Glucosamina 1000 mg ( 30 doses/mês), Condroitina 1000 mg (30 doses/mês), Magnésio 120 mg
(30 doses/mês), Citalopran 23 mg (30 doses/mês) e Ácido Fólico 7,1 mg (30 doses/mês).

Postula a parte autora, em sede de tutela de urgência, que as rés, solidariamente, forneçam os
medicamentos supracitados.

Aduz a autora que não dispõe de condições financeiras para arcar com os custos do
medicamento, motivo pelo qual recorre ao judiciário com o fim de ver compelidos os réus a lhe
fornecerem gratuitamente o tratamento receitado.

É o breve relatório. Decido.

A saúde é direito do autor e dever do Estado, direito este que deriva dos mandamentos dos artigos
6º e 196 da Constituição Federal de 1988 e da Lei Federal nº 8.080/90, que regula o Sistema
Único de Saúde - SUS.

O artigo 196 da Constituição Federal dispõe que a saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à "redução do risco de doenças e de

110 ALANMOTTA
Estado do Rio de Janeiro Poder Judiciário
Tribunal de Justiça
Comarca de Duque de Caxias 36
Cartório da 4ª Vara Cível
Rua General Dionizio, 764 Sala 204CEP: 25075-095 - 25 de Agosto - Duque de Caxias - RJ Tel.: 3661-9100 e-mail:
dcx04vciv@tjrj.jus.br

outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação", o que ampara o pedido formulado na inicial.

A proteção à saúde também encontra respaldo no verbete sumular nº 65 do TJ/RJ: "Deriva-se dos
mandamentos dos artigos 6º e 196 da Constituição Federal de 1988 e da Lei nº 8080/90, a
responsabilidade solidária da União, Estados e Municípios, garantindo o fundamental direito à
saúde e consequente antecipação da respectiva tutela."

Destacam-se, outrossim, os termos do art. 23, II, da Constituição Federal, dispositivo que firma a
competência dos entes integrantes da federação, entre eles os municípios, para zelar pela saúde
da população, garantindo ao indivíduo os direitos à vida e à integridade física. Trata-se de
competência comum, a subsidiar a criação de obrigação solidária imponível às três esferas
federativas.

Isto posto, uma vez que presentes a verossimilhança das alegações e a prova inequívoca do
direito alegado, bem como o fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, estando
presentes os pressupostos autorizadores, concedo em parte a TUTELA PROVISÓRIA DE
URGÊNCIA, e determino que o Estado do Rio de Janeiro e o Município de Duque de Caxias, no
prazo de 10 (dez) dias, forneçam à autora os medicamentos Amitriptilina 10 mg (30 doses/mês),
Pregabalina 60 mg (30 doses/mês), Ciclobenzaprina 10 mg (30 doses/mês), famotidina 40 mg (30
doses/mês), Diacereina 50 mg (60 doses/mês), Glucosamina 1000 mg ( 30 doses/mês),
Condroitina 1000 mg (30 doses/mês), Magnésio 120 mg (30 doses/mês), Citalopran 23 mg (30
doses/mês) e Ácido Fólico 7,1 mg (30 doses/mês), conforme prescrição médica, sob pena de
sequestro dos valores correspondentes em quaisquer das contas correntes tituladas pelos réus,
até decisão ulterior em contrário no presente feito.

Intime(m)-se para o cumprimento da tutela de urgência, por OJA de plantão.

3. Intime-se a parte autora, na pessoa de seu patrono, da presente Decisão. Dê-se vista à DPGE.

4. Tendo em vista a natureza do direito postulado na demanda, deixo de designar audiência de


conciliação, nos termos do art. 334, §4º, II do novo CPC (Lei 13.105/2015).

5. Cite(m)-se, nos termos do §3º do art. 242, para o oferecimento de resposta no prazo de 30
(trinta) dias, a teor do art.335, c/c art. 183, todos do novo CPC.

Duque de Caxias, 20/05/2022.

Gabriel Almeida Matos de Carvalho - Juiz de Direito

___________________________________________________________

Autos recebidos do MM. Dr. Juiz

Gabriel Almeida Matos de Carvalho

Em ____/____/_____

Código de Autenticação: 434Q.ZZM3.YCKV.LMC3


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Øþ

110 ALANMOTTA

GABRIEL ALMEIDA MATOS DE CARVALHO:33452 Assinado em 20/05/2022 17:25:23


Local: TJ-RJ
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TJRJ DCX CV04 202205691782 11/08/22 14:10:16137269 PROGER-VIRTUAL


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