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AO JUÍZO DE DIREITO DA VARA ÚNICA DA COMARCA DE PARATY - RJ

A DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,


inscrita no CNPJ sob o nº 01.700.151/0001-15, por seu órgão de atuação - 2º Núcleo
Regional de Tutela Coletiva -, com sede na Avenida 7 de setembro, 300, Aterrado, Volta
Redondo– RJ, com lastro no art. 5°, XXXV e LXXIV, e art. 134, caput, da Constituição da
República, art. 5°, II, da Lei n° 7.347/85, art. 4°, VII, VIII, X e XI, da Lei Complementar n°
80/94 e art. 179, caput, da Constituição do Estado do Rio de Janeiro, vem ajuizar a presente

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

com pedido liminar

em face do:

MUNICÍPIO DE PARATY, pessoa jurídica de direito público interno, inscrita no CNPJ/MF


sob o nº 29.172.475/0001-47, representado por sua Procuradoria, com sede na Rua José
Balbino da Silva nº 142, Pontal, Paraty - RJ, 23970-000 aduzindo para tanto os fundamentos
de fato e de direito abaixo expendidos:

1- DA GRATUIDADE OPE LEGIS

Em razão do disposto no art. 18 da Lei nº. 7.347/85 é dispensado o


adiantamento de custas na ação civil pública.

2- DA LEGITIMIDADE EXTRAORDINÁRIA DA DEFENSORIA PÚBLICA PARA A


DEFESA DOS DIREITOS COLETIVOS LATO SENSU

No caso em apreço, os direitos fundamentais tutelados estão entre


os mais importantes para consubstanciar o Princípio Fundamental da Dignidade da
Pessoa Humana, porquanto os eventos chuvosos - ocorridos nos dias 31 de março, 1 e 2
de abril, do corrente ano, ocasionaram uma série de transtornos no Município de Paraty,
dentre eles, inundações, deslizamentos, óbitos, pessoas feridas, destruições totais e

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parciais de imóveis, e expressivo contingente de pessoas desabrigadas.

O texto do artigo 4º, VII, da Lei Complementar 80, que aduz caber à
Defensoria Pública a promoção de ações coletivas quando o resultado da demanda puder
beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes, revela uma “cláusula legal de potencial
benefício dos necessitados”:

Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre


outras:

VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações


capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos
ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder
beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes.

Ainda que não havendo uma premente situação de pobreza na


acepção jurídica do termo, a magnitude das consequências experimentadas alcançou
vulnerabilidades que transcendem o viés socioeconômico, razão para, por simples
interpretação gramatical do dispositivo, chegar-se à conclusão de que o legislador, se
quisesse, adotaria redação restritiva e exclusiva a grupo de indivíduos hipossuficientes.

Acerca disso, válido é, também, observar que a Lei 7.347/85, do


microssistema processual coletivo, não faz distinção entre a Defensoria Pública e os
demais colegitimados para a propositura de ação coletiva, de forma que se trata de
previsão genérica e ampla, sem qualquer condicionamento à legitimidade da Defensoria
Pública, diverso do tratamento dado às associações.

O Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 733.433,


apreciando o Tema 607 da repercussão geral, fixou tese nos seguintes termos:

A Defensoria Pública tem legitimidade para a propositura da ação


civil pública em ordem a promover a tutela judicial de direitos difusos
e coletivos de que sejam titulares, em tese, pessoas necessitadas.

A expressão “em tese”, contida no enunciado, corresponde ao


reconhecimento da legitimidade ampla, ainda que não irrestrita. É dizer, conforme afirmou
o ministro Barroso no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 3.943, a

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legitimação da Defensoria Pública para o ajuizamento de ações civis públicas somente
pode ser afastada em situações extremas, que fujam por completo da missão institucional
do órgão.

A efetividade dos objetivos fundamentais da República (artigo 3º, I, II


e IV da CF/88) encontra-se diretamente ligada ao acesso à Justiça, sendo que a
interpretação que deve ser conferida aos diretos que se ligam a este último, como é a
assistência jurídica gratuita, deve se voltar para o alargamento do número de pessoas que
possam ser beneficiadas por soluções coletivas dos conflitos.

Ressalta, inquestionavelmente, que o desastre que atingiu a Costa


Verde e, em especial, muitas localidades do Município de Paraty, terá desdobramentos no
tempo, a exigir resiliência, espírito de cooperação e muita tenacidade para superar as
consequências, organizar as estratégias de enfrentamento a fim de dar vazão às
necessidades de retorno ao status anterior, conferindo aos atingidos, sobretudo aqueles
integrantes das comunidades mais vulneráveis e desprovidas de condições, por elas
mesmas, de soerguer suas moradias, recuperar seus espaços de convívio e retomar as
suas atividades econômicas, tratamento proporcional, diversificado e isonômico.

Para esse segmento mais vulnerabilizado, não somente pelos


episódios climáticos, mas por eles potencializado, a Defensoria Pública se faz
imprescindível.

A existência institucional, em sua origem constitucional, já indica a


preponderância da sua função, entre outras, mas fortemente fundamentada, de velar pela
primazia da Dignidade Humana, atuar na redução das desigualdades sociais, fazer
prevalecer a efetividade dos Direitos Humanos e atuar na afirmação do Estado
Democrático e de Direito, como seu instrumento.

Esses objetivos da Defensoria Pública, - fortalecidos pelo Direito de


acesso ao Padrão de Vida Adequado (DPVA), mola propulsora para romper com ciclos de
pobreza, miséria, fome e indignidade -, estão intimamente ligados aos fundamentos,
princípios e objetivos do próprio Estado brasileiro.

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O Estado Democrático de Direito destina-se a assegurar o exercício
dos direitos sociais e individuais e afirmar que a dignidade da pessoa humana é um dos
fundamentos da República, sendo expresso que erradicar a pobreza e a marginalização e
reduzir as desigualdades sociais e regionais são seus objetivos. Finalmente, o respeito aos
direitos humanos é um dos princípios regentes das relações internacionais do Estado
brasileiro,1 e os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros
decorrentes dos tratados internacionais em que o Estado seja parte.2 Além disso, os
tratados de direitos humanos aprovados na forma do parágrafo 3° do Artigo 5° da
Constituição são equivalentes às emendas constitucionais.3

Tratou, portanto, a Lei Complementar 132/2009 de alterar a própria


natureza da função precípua da Defensoria Pública para expandir o conceito de 'assistência
jurídica integral'.4 Aliás, este é também o conceito de acesso à justiça adotado pelas 100
Regras de Brasília sobre Acesso à Justiça das Pessoas em Condição de Vulnerabilidade
('100 Regras') ao dispor, em sua Regra (25) que '[p]romover-se-ão as condições
necessárias para que a tutela judicial dos direitos reconhecidos pelo ordenamento seja
efetiva, adotando aquela medidas que melhor se adaptem a cada condição de
vulnerabilidade'.5 Se a pobreza é uma das condições de vulnerabilidade que, de acordo
com as 100 Regras, justificam a adoção de fórmulas reforçadas de acesso à justiça, 6 é

1 Inciso II do Artigo 4o da Constituição da República Federativa do Brasil.


2 Conforme parágrafo 2o do Artigo 5o da Constituição da República Federativa do Brasil.
3 O parágrafo 3º do Artigo 5 o prescreve: § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos
votos dos respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004).
4 Parte destes argumentos foram extraídos de artigo escrito por Cleber ALVES e Andrea Sepúlveda
BRITO, para a VIII Conferência Internacional da Comissão de Pesquisa em Serviços Legais do Reino Unido
(Legal Services Research Commission), ocorrida na cidade de Cambridge, Inglaterra, de 30 de Junho a 2 de
Julho de 2010, denominado 'Legal Reforms for Legal Aid Delivery in Brazil: independence, accountability and
the reduction of social inequalities'.
5 De forma similar, a Exposição de Motivos das 100 Regras prescreve: 'Pouca utilidade tem que o
Estado reconheça formalmente um direito se o seu titular não pode aceder de forma efetiva ao sistema de
justiça para obter a tutela do dito direito. Se bem que a dificuldade de garantir a eficácia dos direitos afeta
com caráter geral todos os âmbitos da política pública, é ainda maior quando se trata de pessoas em condição
de vulnerabilidade dado que estas encontram obstáculos maiores para o seu exercício. Por isso, dever-se-á
levar a cabo uma atuação mais intensa para vencer, eliminar ou mitigar as ditas limitações. Desta forma, o
próprio sistema de justiça pode contribuir de forma importante para a redução das desigualdades sociais,
favorecendo a coesão social'.
6 A Regra (3) estabelece, de forma não exaustiva, as pessoas consideradas em condição de
vulnerabilidade, da seguinte forma: 'Consideram-se em condição de vulnerabilidade aquelas pessoas que,

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preciso que criemos e implementemos fórmulas adequadas que propiciem as condições
necessárias para que os mais desfavorecidos efetivamente acessem todos os seus direitos,
em tempo minimamente aceitável, razoável, porquanto mais urgentes.

3. DO PODER DE REQUISIÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA E DO ACESSO À


INFORMAÇÃO

O poder de requisição é um aliado essencial na atuação da Defensoria


Pública. Instituição permanente, fundamental à função jurisdicional do Estado tem o ofício
de orientação jurídica, promoção dos direitos humanos e defesa judicial e extrajudicial, dos
direitos individuais e coletivos de maneira íntegra e gratuita aos desvalidos, na forma do
inciso LXXIV do art. 5º da CRFB.
Com atribuições distintas da advocacia, além da atuação estritamente
individual e judicializada, deve assegurar o cumprimento de objetivos institucionais. Dentre
elas, tutelar os interesses e direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos, autorizada
a utilizar-se de todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva
tutela, em qualquer espaço, judicial ou extrajudicial, para garantir aos vulneráveis o
resguardo de seus interesses, evitando o desequilíbrio processual e ampliando a voz da
coletividade nos meios jurídicos e administrativos necessários com eficiência e agilidade,
sempre priorizando a atuação extrajudicial.
Sem o poder de requisição, maior morosidade e sobrecarga do Poder
Judiciário ocorreria. De maneira contrária, ações precisariam ser ajuizadas unicamente com
a finalidade de acesso a documentos e informações, o que afetaria profundamente a
atuação extrajudicial e aumentaria o dispêndio de recursos nas atividades processuais.
Assim sendo, nos dizeres do Ministro Alexandre de Moraes, “longe de
desrespeitar o postulado da isonomia, o poder requisitório da Defensoria Pública acaba por
conferir maior concretude a esse princípio, pois viabiliza o acesso de pessoas carentes a
documentos e informações que, sem o apoio e assistência da Instituição, não teriam tido
condições financeiras ou mesmo conhecimento para sua obtenção, garantindo seus direitos
e seu efetivo acesso à justiça".

por razão da sua idade, gênero, estado físico ou mental, ou por circunstâncias sociais, econômicas, étnicas
e/ou culturais, encontram especiais dificuldades em exercitar com plenitude perante o sistema de justiça os
direitos reconhecidos pelo ordenamento jurídico'.

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Adota-se a dialética de que é indispensável conhecer, num primeiro
momento, para se alcançar uma resolução justa de conflitos, especialmente no que tange
ao âmbito jurídico. Nesse sentido, torna-se fundamental a análise e reunião de
documentos e informações, a fim de atingir maior efetividade.
Assim, a via eleita para a obtenção de informações, diligências e
documentos necessários à correta elaboração, instrução e garantia do resultado prático e
útil do pleito principal coletivo encontra firme assento no art. 4º da Lei n. 7.347/85 e no art.
305 e seguintes do CPC/15, na prerrogativa de requisição (art. 128, X, da LC n. 80/94) e
nos princípios da publicidade e transparência da Administração Pública (arts. 5º, XXXIII, e
37, caput, e § 3º, II, da CRFB/88), ora densificados na Lei Geral de Acesso a Informações
(Lei n. 12.527/11).

Se a Constituição Federal - e também a Lei n. 7347/85 - impõe de


forma explícita, à Defensoria Pública, a missão de tutelar os direitos coletivos, é coerente
e legítimo que também lhe assegure os meios necessários à consecução de tal finalidade,
em tempo razoável (teoria dos poderes implícitos), o que se dá por meio da prerrogativa
de requisição, recentemente reconhecida como constitucional pelo Supremo Tribunal
Federal 78, como expressão do princípio da isonomia e instrumento de acesso à justiça,
viabiliza a prestação de assistência jurídica integral e efetiva, proporcionando as
condições materiais ao desempenho de sua missão constitucional. No ponto, confira-se:

AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO


CONSTITUCIONAL E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO.
DEFENSORIA PÚBLICA. LEI COMPLEMENTAR 80/1994. PODER
DE REQUISIÇÃO. GARANTIA PARA O CUMPRIMENTO DAS
FUNÇÕES INSTITUCIONAIS. GARANTIA CONSTITUCIONAL DE
ASSISTÊNCIA JURÍDICA INTEGRAL E EFETIVA. ADI 230/RJ.
ALTERAÇÃO DO PARÂMETRO DE CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE. ADVENTO DA EC 80/2014. AUTONOMIA
FUNCIONAL E ADMINISTRATIVA DAS DEFENSORIAS.
IMPROCEDÊNCIA. 1. O poder atribuído às Defensoria Públicas de
requisitar de qualquer autoridade pública e de seus agentes, certidões,
exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos,
informações, esclarecimentos e demais providências necessárias ao
exercício de suas atribuições, propicia condições materiais para o
exercício de seu mister, não havendo falar em violação ao texto

7STF. Plenário. ADI 6852/DF e ADI 6862/PR, Rel. Min. Edson Fachin, julgados em 18/2/2022 (Info 1045)
8STF. Plenário. ADI 6865/PB, ADI 6867/ES, ADI 6870/DF, ADI 6871/CE, ADI 6872/AP, ADI 6873/AM e ADI
6875/RN, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgados em 18/2/2022 (Info 1045)

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constitucional. 2. A concessão de tal prerrogativa à Defensoria Pública
constitui verdadeira expressão do princípio da isonomia e instrumento
de acesso à justiça, a viabilizar a prestação de assistência jurídica
integral e efetiva. 3. Não subsiste o parâmetro de controle de
constitucionalidade invocado na ADI 230/RJ, que tratou do tema, após
o advento da EC 80/2014, fixada, conforme precedentes da Corte, a
autonomia funcional e administrativa da Defensoria Pública. 4. Ação
Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente. (STF, ADI
6852/DF, Relator(a) Min. EDSON FACHIN, Tribunal Pleno, julgado em
21/02/2022, DJe 29/03/2022)

CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. RESPEITO À


AUTONOMIA FUNCIONAL DA DEFENSORIA PÚBLICA. TEORIA
DOS PODERES IMPLÍCITOS E ADEQUAÇÃO, RAZOABILIDADE E
PROPORCIONALIDADE NA PREVISÃO LEGAL DO PODER DE
REQUISIÇÃO PARA O EFETIVO EXERCÍCIO DE SUA MISSÃO
INSTITUCIONAL. CONSTITUCIONALIDADE DOS ARTS. 9º, XIV E
XIX, E 36, IX, DA LEI COMPLEMENTAR 251/2003 DO ESTADO DO
RIO GRANDE DO NORTE. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. 1. A
Defensoria Pública foi consagrada na Constituição Federal de 1988 no
rol das funções essenciais à Justiça. A EC nº 45/04 fortaleceu as
Defensorias Públicas Estaduais, assegurando-lhes autonomia
funcional e administrativa. Essas garantias foram estendidas às
Defensorias Públicas da União e do Distrito Federal pela EC nº 74, de
6 de agosto de 2013. Posteriormente, a EC nº 80, de 4 de junho de
2014, estabeleceu como princípios institucionais da Defensoria
Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional. 2.
Lei estadual que confere à Defensoria Pública a prerrogativa de
requisitar de qualquer autoridade pública e de seus agentes certidões,
exames, perícias, vistorias, diligências, processos, documentos,
informações, esclarecimentos e demais providências necessárias ao
exercício de suas atribuições. 3. Previsão legal que atende aos
parâmetros de adequação, razoabilidade e proporcionalidade, e que
tem por finalidade garantir o exercício efetivo das funções
constitucionais da instituição. 4. Aplicação da teoria dos poderes
implícitos – inherent powers –, com o reconhecimento de
competências genéricas implícitas à Defensoria Pública que permitam
o pleno e efetivo exercício de sua missão constitucional, ressalvados
os elementos de informação que dependam de autorização judicial. 5.
Ação Direta julgada improcedente.
(STF, ADI 6875, Relator(a) Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal
Pleno, julgado em 21/02/2022, DJe 17/03/2022)

Logo, a Defensoria Pública detém a prerrogativa de requisitar, de


quaisquer autoridades públicas e de seus agentes, certidões, exames, perícias, vistorias,
diligências, processos, documentos, informações, esclarecimentos e demais providências
necessárias à sua atuação, sendo adequada a presente demanda, diante dos obstáculos

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criados pelo réu, pois se destinam a subsidiar, viabilizar e assegurar o resultado prático
ou útil de pleito coletivo destinado a tutelar uma série de direitos fundamentais (vida digna,
saúde, educação, moradia, assistência social etc.) – e, portanto, de inadmissível restrição
de acesso (art. 21 e art. 32, I e II, e 2º, da Lei n. 12.527/20119).

No plano infraconstitucional, a regra geral da publicidade


administrativa encontra sólido assento na Lei n. 10.257/2011. A esse respeito, confira-se:

Art. 5º É dever do Estado garantir o direito de acesso à


informação, que será franqueada, mediante procedimentos objetivos
e ágeis, de forma transparente, clara e em linguagem de fácil
compreensão.

Art. 6º Cabe aos órgãos e entidades do poder público, observadas as


normas e procedimentos específicos aplicáveis, assegurar a:
I - gestão transparente da informação, propiciando amplo acesso a ela
e sua divulgação;
II - proteção da informação, garantindo-se sua disponibilidade,
autenticidade e integridade; e
III - proteção da informação sigilosa e da informação pessoal,
observada a sua disponibilidade, autenticidade, integridade e eventual
restrição de acesso.

Art. 7º O acesso à informação de que trata esta Lei compreende,


entre outros, os direitos de obter:
V - informação sobre atividades exercidas pelos órgãos e
entidades, inclusive as relativas à sua política, organização e
serviços;
VI - informação pertinente à administração do patrimônio público,
utilização de recursos públicos, licitação, contratos
administrativos; e
VII - informação relativa:
a) à implementação, acompanhamento e resultados dos
programas, projetos e ações dos órgãos e entidades públicas,
bem como metas e indicadores propostos;

9 Lei n. 12.527/2011, Art. 21. Não poderá ser negado acesso à informação necessária à tutela judicial ou
administrativa de direitos fundamentais.
Art. 32. Constituem condutas ilícitas que ensejam responsabilidade do agente público ou militar:
I - recusar-se a fornecer informação requerida nos termos desta Lei, retardar deliberadamente o seu
fornecimento ou fornecê-la intencionalmente de forma incorreta, incompleta ou imprecisa;
II - utilizar indevidamente, bem como subtrair, destruir, inutilizar, desfigurar, alterar ou ocultar, total ou
parcialmente, informação que se encontre sob sua guarda ou a que tenha acesso ou conhecimento em razão
do exercício das atribuições de cargo, emprego ou função pública;
(...)
§ 2º Pelas condutas descritas no caput, poderá o militar ou agente público responder, também, por
improbidade administrativa, conforme o disposto nas Leis nºs 1.079, de 10 de abril de 1950, e 8.429, de 2
de junho de 1992.

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Art. 10. Qualquer interessado poderá apresentar pedido de
acesso a informações aos órgãos e entidades referidos no art.
1o desta Lei, por qualquer meio legítimo, devendo o pedido
conter a identificação do requerente e a especificação da
informação requerida.
Art. 11. O órgão ou entidade pública deverá autorizar ou conceder o
acesso imediato à informação disponível.

Art. 21. Não poderá ser negado acesso à informação necessária


à tutela judicial ou administrativa de direitos fundamentais.

Esse, aliás, é o entendimento manifestado pela Controladoria Geral


da União no “Manual da Lei de Acesso à Informação para Estados e Municípios”10:

O direito de acesso à informação impõe dois deveres principais


sobre os governos. Primeiro, existe o dever de receber do cidadão
pedidos de informação e respondê-los, disponibilizando os dados
requisitados e permitindo também que o interessado tenha acesso
aos documentos originais ou receba as cópias solicitadas. Segundo,
atribui um dever aos órgãos e entidades públicas de divulgar
informações de interesse público de forma proativa ou rotineira,
independentemente de solicitações específicas. Ou seja, o Estado
deve ser, ao mesmo tempo, responsivo às demandas de acesso a
informações e proativo no desenvolvimento de mecanismos e políticas
de acesso à informação.

4. DO CONTEXTO FÁTICO QUE ENSEJOU A PRESENTE

Essa breve introdução se faz necessária ante o comportamento


adotado pelo Município de Paraty, especialmente na pessoa de seu dirigente máximo, de
menosprezar e ignorar as atividades desenvolvidas pela Defensoria Pública, mormente
após os graves eventos da natureza, causadores de severos danos à população paratiense.
O item abaixo, “DA ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PUBLICA E DA
INSUBSISTÊNCIA DAS INFORMAÇÕES PRESTADAS”, retrata com minúcias todas as
iniciativas adotadas pela Defensoria Pública, por meio de seus órgãos de atuação e
também pela Ouvidoria Geral.
Tão logo eclodida a tragédia, equipes da Defensoria Pública, em
momentos vários, realizaram ações, diagnósticos, encaminhamentos, vistorias com visitas

10 Manual disponível em https://www.gov.br/cgu/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/transparencia-


publica/brasil-transparente/arquivos/manual_lai_estadosmunicipios.pdf . Acesso em 30/04/2022.

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domiciliares em praticamente todos os recantos de Ponta Negra, local remoto e de difícil
acesso, exceto naqueles em que havia grande risco de novos deslizamentos, de tudo
comunicando as autoridades locais para que as providências mais imediatas e urgentes
fossem adotadas.
O quadro geral de expedientes remetidos pela Defensoria Pública e
as respostas apresentadas, demonstram que o Município de Paraty não cumpre suas
obrigações.
No lugar de estabelecer diálogo institucional produtivo e dar ênfase
na solução negociada dos graves desdobramentos, que a todos afeta, mas que recaem
sobre os mais pobres com muito mais potencial lesivo, a Autoridade Municipal tem se valido
de mecanismos em rede social e na mídia local para difundir falas desrespeitosas,
ameaçadoras, falseando a verdade e criando no seio da comunidade a insegurança maior
ainda de horizonte das soluções tanto esperadas, a exemplo da reportagem em referência,
transmitida em 12 de maio de 2022, ao vivo, pela pagina oficial da prefeitura, na rede social
facebook11, bem como, pelo programa RJ 1 - TV Rio Sul - em 02 de junho de 202212.

(Vídeo – Reunião transmitida pelo Facebook em 12 de maio de 2022 – Mídia cortada para a parte
interessada, tendo em vista o tamanho do arquivo, que contém 1h 15m 27s) – Link da reunião
completa: https://www.facebook.com/vidalparaty/videos/975417286675314/

Apenas para registro, sem prejuízo da visita aos canais indicados nos
links mencionados no rodapé, o áudio abaixo reproduzido em QR CODE reflete a escolha
equivocada da Autoridade em negar a função da Defensoria Pública, também mencionando
o Ministério Público, usando dela como coação aos moradores, dizendo que aquelas

11 https://www.facebook.com/vidalparaty/videos/975417286675314/
12 Disponível em: https://globoplay.globo.com/v/10632885/

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pessoas que aderissem ao trabalho da Defensoria, ficariam sem os resultados da sua
gestão, comparando, falsamente, ao caso de Brumadinho, cuja entrega de casas teria sido
inviabilizada por ações que partiram de entes não alinhados com aquela prefeitura. Parece
improbidade e é.

(Áudio do Prefeito de Paraty – enviado aos moradores da Comunidade de Ponta Negra em 19 de


maio de 2022).

Como afirmado, a Defensoria Pública realizou diversas atividades no


território de Paraty, dialogando com os órgãos do Município e também com outros entes,
entre eles, o DETRAN RJ e o RCPN, com quem desenvolveu ações para expedição de
documentos pessoais básicos, orientação jurídica, encaminhamentos oficiais e até mesmo
a elaboração de petições para ingresso de ações judiciais mais simples.
Tais ações sociais ocorreram na cidade, em dias úteis e numa delas,
em 28.04.22, a Prefeitura de Paraty participou ativamente, levando serviços seus ao local,
mais exatamente na entrada da cidade, com ampla divulgação 13 nos canais oficiais,
chegando a atingir a marca de 687 atendimentos.

13 Disponível em: Notícias | Prefeitura de Paraty, acesso em 31/05/2022.

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Na semana seguinte, a Defensoria Pública, juntamente com o
DETRAN RJ, diante da inquestionável dificuldade de comparecimento dos moradores de
Ponta Negra, - região costeira extrema que teve o maior volume proporcional de danos e
perdas humanas (vide quadro abaixo), acessada por trilha a pé até a Vila do Oratório de
onde parte o transporte público até o Centro da cidade, ou por pequenos barcos, em viagem
turbulenta de 25 minutos de duração -, organizou nova ação, desta vez especificamente
para aquela comunidade. O evento ocorreu na sede da Associação de Moradores, no dia
05.05.2022, lá comparecendo 2 Defensores Públicos, 3 estagiárias, 2 residentes jurídicos
e 1 servidora, além de 8 servidores do DETRAN RJ, com seus respectivos equipamentos
(máquinas fotográficas digitais, impressoras, scaner e notebooks). Registre-se, um mês
após a atividade, o DETRAN RJ entregou mais de 40 documentos que foram emitidos no

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dia 05.05.2022, durante a Ação Social que só não durou o dia todo pela mudança drástica
dos ventos, obrigando retorno antecipado das equipes, fugindo dos riscos de naufrágio das
pequenas embarcações utilizadas.

Na ocasião, além de todos os serviços prestados na atividade anterior,


as famílias que compareceram ao local (não houve visita porta a porta como nos dias após
a tragédia), responderam ao questionário elaborado pela Defensoria Pública com
indagações diversas sobre todas as dificuldades enfrentadas. Como se constata no quadro
abaixo, as vulnerabilidades que precisam ser atacadas se mostram muito evidenciadas.

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Grande parte das famílias (das 40 residentes 26 responderam ao
questionário), relatou problemas com saúde, educação, transporte, medicamentos, energia

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elétrica, esgotamento sanitário, manejo do lixo e de resíduos, dificuldades quanto ao efetivo
acesso à moradia provisória, ausência de clareza sobre a realidade estrutural de seus
imóveis, entre tantas outras mazelas.

Do que pode ser visto naquele dia, restou muito claro, pelo que se
observa nas fotografias, que há iminentes riscos de escorregamento de pedras gigantes
em direção às casas, algumas ainda não interditadas e com presença de pessoas, não
tendo as mesmas sido contempladas com a promessa de locação social.

Salienta-se que os deslizamentos alteraram o curso do rio, o que pôs


em risco inúmeras casas, sendo necessário que se retire enorme pedra que alterou o curso
anterior. Abaixo se segue fotografia de uma das casas em que o novo curso passa à frente

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( não tendo a Defensoria Pública informações de eventuais medidas tomadas, ainda que
paliativas ou provisórias, tecnicamente recomendáveis):

Vista de cima da área de deslizamento que gerou mudança de curso


do rio:

Alguns moradores apresentaram documentos da Defesa Civil


condenando suas casas de maneira genérica - em 02 (dois) modelos diferentes - e sem
que fosse dado acesso aos estudos que teriam sido produzidos pelo Município sobre a
situação de risco de cada residência. Imagens seguem:

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Outros moradores afirmaram que agentes da Prefeitura condenaram
suas casas “de boca”, sem entregar nenhum documento, houve também quem tenha se
sentido inseguro por residir em casas acima das que foram condenadas pelo Município,
mas que não foram abordados diretamente pelos agentes municipais para prestar qualquer
informação e, por isso, demandam atuação do Poder Público no sentido de aferir a
segurança de suas residências.

Conforme explicitado, um dos moradores informou que muitas


famílias assinaram documentos fornecidos pelo Município “assumindo a responsabilidade
sobre as próprias vidas caso algum novo desastre ocorra”, nessa ocasião, os Defensores
Públicos lá presentes disseram para não assinar nenhum papel sem antes entender seu
teor.

Informaram, ainda, que não houve até o momento da visitação o


pagamento de nenhum benefício assistencial, nem mesmo o aluguel social, tendo recebido
orientações do Município de permanecerem na casa de terceiros enquanto a situação não
fosse resolvida, bem como buscar abrigo na Escola Municipal e na Associação de
Moradores em caso de chuvas - apesar do risco existente nestes locais.

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Outra frente de atuação da Defensoria Pública, de relevância ímpar,
tem relação com a medida adotada pelo Município para abrigar famílias que perderam suas
casas e que não puderam ser acolhidas por vizinhos e familiares.

Assim, a fim de conhecer a dimensão do deletério evento climático,


segundo o relatório preliminar da Secretaria Municipal de Assistência Social, datado do dia
07/04/2022, 75 famílias ficaram desabrigadas, 396 famílias ficaram desalojadas, 76 casas
foram destruídas, 3.650 casas foram danificadas, 10 pessoas ficaram feridas e 06 óbitos
ocorreram. Os bairros mais atingidos foram Patrimônio, Condado, Mangueira, Ilha das
Cobras, Caborê, Patitiba, Corisco/Coriscão/Corisquinho, Pantanal, Paraty Mirim, Jacu,
Taquari, Pedras Azuis, Córrego Micos, Independência. Veja-se:

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Em Ponta Negra, comunidade caiçara acima destacada, apurou-se,
pelo Relatório de Visitação da DPERJ, datado de 19/04/2022, os seguintes números: 07
mortos, 08 casas destruídas, 19 famílias desalojadas, que não tiveram casas destruídas, e
o total de 27 famílias desalojadas (somando-se casas destruídas e condenadas), sendo
imperioso destacar que o estado das moradias, à época da visitação, estava em processo
de apuração.

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O Relatório assinado pela médica da Defensoria Pública, demonstra
o grave quadro de violações a que estão submetidas as 49 pessoas (29 pessoas – Pousada
Aroeira e 20 pessoas – Pousada Israel) que foram levadas para lá. Ali estão ( não há
respostas sobre os desdobramentos, quem saiu, quem ainda está, para onde foram)
pessoas em condições manifestamente insalubres, com acesso limitado aos alimentos e à
água potável, dentre outras dificuldades e incertezas, cuja solução não pode tardar como
tem ocorrido.

Como nas demais narrativas, aqui também a Defensoria Pública


tornou pública a realidade detectada, oficiando ao Município para as providências
elementares e urgentes que o caso exige.

Em resposta, a Autoridade máxima do Município faz ecoar ofensas e


agressões aos membros da Defensoria Pública, dizendo que nada fazemos, que nenhum
recurso levamos, que não temos acesso aos governos para obtenção de verbas, que
apenas cobramos e que todas as providências estão sendo adotadas, negando-se,
peremptoriamente, a fornecer as informações requisitadas, muito menos as medidas
administrativas em curso ou em planejamento para mitigar as graves decorrências da
chuva, reduzir os riscos ainda prementes e reorganizar a cidade, diante do rastro de caos

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deixado pelo evento climático.

Várias são as inserções nas mídias e nas redes sociais com assaques
à instituição. Sobre nenhuma delas a Defensoria Pública teceu qualquer comentário ou
ofereceu resposta no mesmo canal. Os embates regidos pela Democracia quando os
protagonistas são entes estatais, jamais podem ocorrer em palco privado. Espaços para
tais discussões estão constituídos formalmente e devem ser prestigiados, sob pena de
maléfica fulanização, banalizando as funções públicas.

Para buscar as respostas, além de encaminhar os expedientes para


o Gabinete do Prefeito e das Secretarias diretamente envolvidas, verificando que os ofícios
eram recebidos, mas as respostas não se apresentavam e, além disso, a propagação de
ofensas se mostrava recorrente, a Defensoria Pública realçou o papel institucional da
Procuradoria Geral do Município, com a qual passou a buscar canal de diálogo e
aproximação, tentando afastar a autoridade de conduta nada republicana e, sobretudo,
prejudicial ao princípio da cooperação entre os organismos estatais, todos comprometidos
com a boa e adequada solução dos graves dramas vivenciados pela população pobre da
cidade, a quem os máximos esforços devem ser dirigidos, não somente pelo Executivo.

Para tanto, em diversas ocasiões foram remetidas mensagens por


meio de aplicativo de celular para integrantes da PGM. Todas as respostas se mostraram
evasivas e nenhum canal de negociação ou mero encontro institucional foi
viabilizado.

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Lamentavelmente, a postura da PGM de não articular as reuniões
sugeridas nos expedientes, palco para ajustes, esclarecimentos e fixação de atividades,
sem sequer responder aos expedientes especificamente remetidos a ela, além dos contatos
realizados por meio informal de aplicativo de mensagens, nos obrigou a ampliar as medidas
administrativas de convencimento das autoridades a aceitarem espaços de negociação.
Para tanto, em contato com o Ministério Público, após reunião de
esclarecimentos, na qual participaram o Promotor de Justiça da 2ª PJTC de Angra dos
Reis, a Defensora Pública em exercício em Paraty e o Defensor Público do 2º Núcleo
Regional de Tutela Coletiva, ocorrida no dia 02 de junho de 2022, às 14h, ajustou-se que,
conjuntamente, faríamos a convocação de uma reunião com todos os secretários
municipais encarregados das tarefas administrativas e com a PGM, tendo sido
expedida a convocação para encontro presencial na sede do Ministério Público em
Paraty, a realizar-se no dia 21.06, às 14 horas, momento em que seria exigida a
entrega de respostas ao conjunto de indagações formuladas, bem como seria tratada
a questão, direta e pessoalmente, a fim de buscar as soluções, de acordo com as
urgências, tudo em nível de ponderação e diálogo respeitoso entre as instituições.

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Como indicado no expediente acima reproduzido, foi exigida das
autoridades municipais, a fim de evitar deslocamentos inócuos até a cidade de Paraty, que
a confirmação do recebimento e da presença na reunião convocada deveria ocorrer
até o dia 20.06 às 16 horas, permitindo que membros dos órgãos convocantes se
organizassem para as respectivas viagens até lá.
Ocorre que, a despeito da importância da reunião e de sua urgência,
tendo sido sugeridas várias datas ainda durante o mês de maio, sem qualquer interesse do
réu ou de sua PGM, apenas duas secretarias confirmaram presença. A SMS,
tempestivamente, e a SMASDH, muito depois das 16 horas, ainda assim, dizendo que seria
representada por servidores, o que indica desprestígio com as instituições, mormente pela
ausência provável de poder de decisão, sem capacidade de ordenar despesas, por
exemplo.
Diante de tal comportamento, os órgãos envolvidos na convocação,
emitiram comunicação cancelando a reunião e advertindo os destinatários de que
deveriam remeter os documentos até o horário fixado para o encontro presencial, por
meio de correio eletrônico.
Registre-se os endereços para os quais a convocação seguiu são os
mesmos que sempre se utiliza nas comunicações, tanto o oficial de dominio gov.br quanto
o privado gmail, não podendo alegar destino equivocado.

Não fossem bastantes as adversidades e a ausência de respostas


concretas e efetivas com relação às soluções devidas pelo Município, a energia elétrica, ao
menos nas localidades mais afastadas e de difícil acesso, está comprometida e seu
funcionamento é precário até os dias atuais.
Destaque-se que o acesso à internet na região de Ponta Negra
provém de uma antena instalada pelo Presidente da Associação de Moradores
condicionada ao funcionamento de energia elétrica e que as placas de energia solar
existentes estavam, à época da visitação, com defeito, tendo sido retirado o gerador que
havia na localidade, de propriedade do réu.

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Nesse cenário de desabastecimento e precariedade quanto à
prestação de serviços públicos, a comunicação dos moradores resta completamente
prejudicada, tanto que no dia do acidente tiveram dificuldades de pedir socorro, pela
ausência de meios de comunicação, sendo que a Associação de Moradores já havia
requerido ao Município um sistema de comunicação e emergência, mas não obteve
respostas. Assim, no dia do acidente, as pessoas tiveram que subir até o alto de uma pedra
onde há sinal de celular para comunicar a tragédia aos Bombeiros.

Conforme os relatos, o acidente começou por volta das 05h30min da


manhã de 02/04 (madrugada do dia 01 para 02 de abril). Os bombeiros chegaram às
11h30min/12h, porém o contingente considerável só chegou no dia seguinte.

Como salientado, diversas localidades foram afetadas pelo temporal


e dezenas de casas foram destruídas ou sua utilização comprometida, restando às famílias
o abrigo solidário de parentes, vizinhos, amigos ou aceitar a promessa, muito restrita e
confusa, de oferta de locação social pelo Município.
A dificuldade relatada pelos desabrigados que aguardam definição
para obter o aluguel social, reside nas exigências rigorosas para o ajuste. Critérios
inatingíveis são postos pela legislação municipal e nenhuma mitigação se faz quanto a eles.
Com a reduzida oferta de moradias formalmente documentadas, ante o volume de imóveis
atingidos, poucas são as casas que têm comprovação de propriedade e IPTU, estando
disponíveis aquelas que se qualificam como posse e sem cadastro no Fisco Municipal, logo,
sem comprovação dos requisitos.

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Pela incongruência e insubsistência das ações adotadas, os
moradores sentem-se desprotegidos em decorrência da ausência de um plano confiável de
segurança de suas residências, sem haver sequer o estabelecimento de um canal de
comunicação profícuo com o Município.

Outro serviço praticamente inexistente é o de saúde, inclusive quem


se voluntariou na retirada de lama e de escombros propiciados pelo deslizamento, estava,
à época da visita, com feridas e suspeita de infecções, como leptospirose, leishmaniose.
Ademais, até o dia da visita da Defensoria Pública, Ponta Negra estava sem visitação de
médicos há meses, mesmo sendo um dos lugares mais castigados pela tragédia.

Agente comunitária de saúde, Josiana José Costa, que exerce o ofício


na localidade há 10 anos, presente no dia da visitação, informou que Ponta Negra ficou
sem médico por quase um ano e que havia voltado à época, e que este vai à localidade de
vez em quando, destacou que em situações de emergência, é preciso ir ao hospital em
Paraty, situação que com certeza foi agravada em letras garrafais diante do contexto fático
vivido.

Naquela ocasião, a referida Agente Comunitária de Saúde informou a


falta de medicamentos básicos na comunidade e que carecem de pediatra, ginecologista e
que há pessoas com uso de medicamentos controlados, com dificuldade de acesso aos
mesmos, gratuitamente.

A Escola Municipal que chegou a abrigar 02 famílias, serviu como


ponto de apoio de toda a comunidade em dias de chuva, sem condição alguma. Não há
sequer chuveiro no banheiro existente.

Outro ponto de apoio indicado informalmente pelo Município é a


Associação de Moradores, igualmente precária, com vazamentos no telhado. Para piorar,
o rio passa ao lado.

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Segundo moradores, o geólogo enviado pelo Município teria apontado
que as áreas - onde a Escola e a Associação ficam - são consideradas de risco no caso
de fortes chuvas, o que deixa a comunidade insegura em seguir orientações de busca de
apoio nesses lugares.

5. DO DIREITO GARANTIDO AOS MUNÍCIPES

a) Da humanização necessária ao procedimento de evacuação e interdição dos


imóveis.

Como se sabe interdição é o ato administrativo pelo qual o Poder


Público, através do órgão que tecnicamente tenha atribuição para fazê-lo, invocando seu
Poder de Polícia, impede que o proprietário ou possuidor prossiga na utilização do bem por
conta do risco iminente que representa.

Diante dos documentos apresentados a este órgão, não se encontrou


procedimento administrativo que tenha conferido a devida legalidade e transparência
a eventuais atos demolitórios.

Ora, o ato de interdição deve obrigatoriamente encontrar-se motivado


pela existência de fundado receio de ruína e com vistas a prevenir prejuízos à coletividade
ou ao próprio proprietário ou possuidor do imóvel, fundamentado em avaliações técnicas e
científicas de profissional com conhecimentos de engenharia e geologia, possibilitando a
adequada avaliação dos danos sofridos pelo imóvel e do risco que este representa, com a
interdição pelo poder público graduada em perigo gerado pelo bem (risco 1, 2, 3, 4 ou 5) e
providências a serem adotadas para a proteção da coletividade e dos próprios moradores
do imóvel.

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Vê-se que o poder público determinou a evacuação de diversos bens
imóveis, mas não se viu informações acerca da temporariedade ou evacuação definitiva
com a designação de data para a realização da demolição. Ora, é certa a garantia de o
interessado dever ser informado e poder se contrapor aos laudos técnicos que sejam
apresentados pelo Poder Público (art.5º, LV da CRFB, art.8º do CADH e art.14 do PIDCP),
já que somente assim poderá discutir a impossibilidade ou não de reparação dos danos
estruturais do imóvel, ou a viabilidade de realização da contenção da encosta que ameaça
o referido bem.

A demolição, portanto, não é uma consequência direta e imediata da


interdição do imóvel, mas, em verdade, uma medida de última ratio que só deverá ser
adotada pelo Poder Público naqueles casos em que não haja a possibilidade de conserto
dos danos ocasionados à estrutura do edifício ou a possibilidade da estabilização da
encosta que porventura o ameace. A razão para isto, exatamente, é preservar o direito à
moradia do proprietário ou possuidor do imóvel (art.6º da CRFB).

Processo administrativo sem oportunidade de defesa ou com defesa


cerceada é nulo, conforme têm decidido reiteradamente o Supremo Tribunal Federal,
confirmando a aplicabilidade do princípio constitucional do devido processo legal14, ou, mais
especificamente, da garantia de defesa15, aos processos administrativos.

De fato, em que pese a aparente notificação por parte da


municipalidade, os proprietários e possuidores dos imóveis não podem estar alheios
ao processo, sob informações imprecisas ou implícitas, devendo ser informado pelo
Município Réu se houve a devida elaboração de laudo técnico indicando as razões
motivadoras dos atos de interdição e eventuais desfechos advindos de avaliação
demolitória, principalmente, apontando eventuais situações que não a demolição nos
casos que assim ensejam, devendo, caso tenha sido determinado a interdição e demolição
das construções irregulares ou ameaçadas, informar sobre os procedimentos
administrativos mínimos adotados, bem como esclarecer sobre a tomada das medidas
básicas de preservação do patrimônio e encaminhamentos dos moradores do imóvel para

14art.5º, LIV da CRFB: “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”.
15art.5º, LV da CRFB: “aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são
assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”.

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abrigo temporário, com a posterior inclusão em programa de pagamento de aluguel social
e “auxílio novo lar”, bem como nos programas de concessão de moradia definitiva.

b) Da necessidade de adoção de providências para assegurar aos desabrigados e


desalojados moradia à curto, médio e longo prazo (alocação em abrigo temporário,
pagamento de aluguel social e posterior transferência para moradia definitiva):
Como forma de conferir a tutela adequada efetiva e tempestiva aos
diversos munícipes atingidos pelas chuvas torrenciais que assolaram o território municipal,
tornou-se necessário e assim o Município Réu o fez no sentido de abrigá-los em locais
temporários com a organização em termos de estrutura possível de ser envidada na
situação mais crítica, embora a ausência de prospecção e tabulação de dados tenha sido
por ora uma tônica que obstaculizou eventuais tutelas que pudessem ser engendradas por
este e demais órgãos de controle.

Outrossim, em um momento posterior, deve o poder público adotar


medidas que permitam a retiradas das famílias dos abrigos, o que foi realizado
mediante hospedagem social em pousadas existentes no Município, porém a
insubsistência de dados que denotem o quantitativo, bem como as características
dos munícipes que integram esse grupo de desabrigados, tornou impossível sopesar
se as medidas contemplaram todos os necessitados, o mesmo se pode afirmar em
relação ao aluguel social que, embora exista informações de que alguns munícipes
já foram encaminhados à concessão, também não se pode precisar o quantitativo de
beneficiários, por ausência de informações e documentos que lhe dão azo.

Por fim, deve o poder público adotar medidas positivas no sentido


de garantir aos desabrigados condições para alojarem-se em moradia definitiva, seja
por intermédio de construção de casas populares ou por meios de desapropriação de
imóveis particulares ou de requalificação dos espaços atingidos.

Somente seguindo este planejamento de curto, médio e longo


prazo será possível garantir aos desabrigados e desalojados o mínimo de dignidade
e bem estar, preservando seu direito constitucional à moradia durante todo o processo de
realocação.

Corroborando este entendimento e explicando a indissociável

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vinculação entre a dignidade humana e o direito de moradia, tem-se o posicionamento do
mestre Ingo Wolfgang Sarlet, in verbis:

“No caso do direito de moradia, íntima e indissociável vinculação com


a dignidade da pessoa humana resulta inequívoca pelo menos no
âmbito daquilo que se tem designado de um direito às condições
materiais mínimas para uma existência digna e na medida em que a
moradia cumpre essa função. (...) De fato, sem um lugar adequado
para proteger a si próprio e a sua família contra as intempéries, sem
um local para gozar de sua intimidade e privacidade, enfim, de um
espaço essencial para viver com um mínimo de saúde e bem estar,
certamente a pessoa não terá assegurada sua dignidade, aliás, a
depender das circunstâncias, por vezes não terá sequer assegurado
o direito à própria existência física, e, portanto, o seu direito à vida.
Aliás, não í por outra razão que o direito à moradia, tem sido incluído
até mesmo no elenco dos assim designados direitos de subsistência,
como expressão mínima do próprio direito à vida (...)” (SARLET, Ingo
Wolfgang. A Eficácia e Efetividade do Direito à Moradia na sua
Dimensão Negativa (Defensiva): Análise Crítica à Luz de alguns
Exemplos, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008)

c) Da inobservância dos preceitos contidos na normativa internacional de proteção


aos direitos humanos e na interna: direito à igualdade e à não discriminação, à
moradia, à integridade psicofísica e à mitigaçao dos riscos

A hipótese desta demanda coletiva versa sobre um grupo que


enfrenta situação de especial vulnerabilidade. A situação PODE ser enquadrada como
de “deslocados internos”, já que forçados ou obrigados a escapar ou fugir de seu local de
moradia para evitar os efeitos de uma catástrofe, APESAR DE PLENAMENTE
POSSIVEL A RECUPERAÇAO DO ESPAÇO TERRITORIAL. No caso, sobrepõem-se
causas de vulnerabilidade, tais como: pobreza, gênero, pertencimento a minoria étnica,
idade (crianças e idosos).

Sem esquecer-se da situação de vítima dos indivíduos, por estarem


com seu direito à integridade psicofísica violado, em potencial risco
As 100 Regras de Brasília sobre Acesso à Justiça das Pessoas em
Condição de Vulnerabilidade, produzida durante o encontro de todos os Presidentes dos
Tribunais Superiores e Constitucionais dos países do continente americano e Portugal e
Espanha, na XIV Conferência Judicial Ibero-Americana, que teve lugar em Brasília

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duranteos dias 04 a 06 de março de 2008, produziu o seguinte conceito de pessoas em
situação de vulnerabilidade:

Considera-se em condição de vulnerabilidade aquelaspessoas que, por


razão de sua idade, gênero, estado físico ou mental, ou por circunstâncias
sociais, econômicas, étnicas e/ou culturais, encontram especiais
dificuldades em exercitar com plenitude, perante o sistema de justiça
os direitos reconhecidos pelo ordenamento jurídico. (grifamos, regra
3)

Esse documento, produzido por integrantes do Sistema de


Justiça, para ele mesmo, tem o imenso mérito de conectar o direito de acesso à Justiça,
o direito à igualdade e à não discriminação, a fim de transformar o sistema judicial em
instrumento para a defesa efetiva dos direitos das pessoas em condição de
vulnerabilidade. “Pouca utilidade tem que o Estado reconheça formalmente um direito se
o seu titular não pode aceder de forma efetivaao sistema de justiça para obter a tutela do
dito direito”, escreve-se na exposição de motivos das 100 Regras.
Mister que se admita que a noção de vulnerabilidade é
heterodoxa em relação a toda a tradição jurídica anterior. Trata-se dereconhecer que a
cultura jurídica erigida sobre os valores da liberdade e da autonomia de vontade,
respaldados no princípio da igualdade formal seguem sentido diametralmente oposto. A
tradicional ideia de auto- responsabilidade choca-se frontalmente com a de
vulnerabilidade. Esta, ao contrário, baseia-se em outro valor, qual seja: o da igualdade.
O valor da igualdade desenvolve outro princípio diverso do da auto- responsabilidade,
qual seja: o princípio da proteção. Protege-se o maisdébil, o que está em situação
de hipossuficiência, a fim de que se promova a igualdade material. (LORENZETTI,
Ricardo. Acesso a la Justicia de los sectores vulnerables, en Defensa Publica: garantia
de acesso a la justicia, III Congreso de la Asociación Interamericana de Defensorías
Públicas. Buenos Aires, Republica Argentina, 11-13 de junio de 2008. p. 61-74.)
Ocorre que, no caso, as pessoas pobres e todas as que se
sujeitam aos eventos de Abril, residentes em Paraty têm sofrido discriminação.
Sofrem discriminação decorrente da situação de subordinação social em que se
encontram,uma vez que o Município, embora obrigado por uma série de comandos a

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atuar em prol da defesa dos direitos humanos das vítimas, OMITE-SE, negando-se a
cumprir suas obrigações, como já antes demonstrado.
Assentadas as bases constitutivas da discriminação estrutural que
revitimiza os atingidos pelas chuvas, em vias de se verem deslocados internos, uma
questão que se coloca é a proteção que o universo jurídico confere aos direitos
econômicos, sociais e culturais (DESCs). E, nesse sentido, o caminho seguido pelo
sistema interamericano de proteção e defesa dos direitos humanos tem sido analisar os
direitos garantidos pelo Pacto de San José à luz do princípio de náo discriminação,
aponta o professor Claudio Nash (in: El Sistema Interamericano de Derechos Humanos
en Acción: aciertos y desafíos. México: Editorial Porrúa, 2009. p. 115).
O direito à igualdade e à não discriminação constituem uma das
bases sobre as quais se constrói o edifício teórico do Direito Internacional dos Direitos
Humanos e informa a própria noção de Justiça.Desse modo, impõe-se a reinterpretação
da Convenção Americana de Direitos Humanos (CADH) seja a partir da perspectiva dos
titulares do direito (o que é especialmente relevante em contextos pluralistas, comoo do
caso em análise), seja a partir da indivisibilidade dos direitos civis e políticos e
econômicos, sociais e culturais.
O professor Nash aponta, em especial, que esse labor se evidencia
quando se encontra ante um grupo que é objeto de uma situação de discriminação
estrutural. Nesse caso, “a leitura dos direitos e liberdades convencionais e as medidas
de que se disponha para resolver a situação deve se fazer desde a lógica do princípio
da igualdade e não discriminação” (p. 253).

O reflexo da aplicação dessa orientação, no caso concreto tratado


nestes autos, vincula o dever prestacional do Município Réu no que tange à garantia do
direito à integridade psicofísica e do direito à moradia adequada.
A normativa interna e internacional que determina essa proteção
deve ser concretizada no plano real pelo Poder Público, cuja liberdade de conformação
está limitada pela necessidade de efetivação dos direitos básicos do cidadão.
O direito à integridade psicofísica está consagrado de modo
mais ampliado na Convenção Americana de Direitos Humanos do que na C.R.F.B.. No
art. 5.1 da CADH, HÁ EXPRESSA MENÇÃO AO DIREITO DE TODA PESSOA A TER

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RESPEITADA SUA INTEGRIDADE FÍSICA, PSÍQUICA E MORAL. Na C.R.F.B., o
art. 5º, III veda o tratamento desumano ou degradante, a partir do qual se extrai a
tutela da integridade psicofísica.
Insta ressaltar que a proteção da integridade psicofísica é um dos
elementos que consubstancia e densifica o princípio da dignidade da pessoa humana,
epicentro axiológico do ordenamento jurídico brasileiro (C.R.F.B., art. 1º, III) e do Direito
Internacional dos Direitos Humanos.
Em sendo dever prestacional do ente estatal garantir a proteção do
direito à integridade psicofísica que, in casu, se densifica na tutela do direito à moradia
DIGNA, para a população de baixa renda, vitimada pelas chuvas e ainda sob riscos de
novas tragédias, a situação descrita não pode mais perpetuar-se. Desse modo, se estará
contribuindo para a redução das desigualdades sociais, a erradicação da pobreza e a
preservação da dignidade da pessoa humana, fundamentos elementares da República
Federativa do Brasil, marcadamente em situações como a descrita acima (artigo 3º,
CRFB).

No caso sob análise, a omissão do réu que permite que os


ameaçados ao deslocamento interno permaneçam em completo abandono, configura
trato desumano e degradante que produz violação ao direito humano à integridade
psicofísica e, em razão da pobreza, incide com mais ênfase a quem mora nos lugares
ermos da cidade, uma vez que neles, sobrepõem-se fatores de vulnerabilidade, nos seus
mais diversos matizes.

6. DA ATUAÇÃO DA DEFENSORIA PÚBLICA E DA INSUBSISTÊNCIA E


MOROSIDADE DAS INFORMAÇÕES PRESTADAS

Em virtude da referida tragédia climática, foram instaurados, em


05/04/2022, Procedimentos de Instrução que tramitam sob o n.º: E-20/001.003899/2022 e
E- 20/001.004677/2022 junto ao SEI (Sistema Eletrônico de Informação)16 e expediu, nessa
mesma data, o ofício de nº 24/2022 a fim de aquilatar qual o cenário gerado pelo desastre
e quais medidas emergenciais e de caráter assistencial estavam sendo envidadas pelo

16 https://sei.rj.def.br/sip/login.php?sigla_orgao_sistema=DPGERJ&sigla_sistema=SEI

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Município para minorar as consequências danosas aos munícipes.

Antes da obtenção de resposta à missiva supracitada, no dia


07/04/2022 houve - das 19h45 às 20h40, na sede da Prefeitura de Paraty – reunião com
representantes da DPERJ e do Município (Marcio Eleotério da Silva, Secretário de
Assistência Social e Leônidas Santana da Silva, Secretário de Finanças), na qual estes
afirmaram que a Administração Pública Municipal agiu prontamente diante da tragédia; que
foi ajustada cobrança da tarifa mínima com a concessionária de fornecimento d’água para
residências atingidas pelos deslizamentos; que estava em fase de cadastramento o aluguel
social e em tratativas para o fornecimento de benefícios pelo Estado (ex.: Programa
Recomeçar); que o Munícipio não dispõe de Plano de Contingência de Proteção e Defesa
Civil; que não havia preenchido o Formulário Nacional para Registro de Informações de
Famílias e Indivíduos em Situações de Emergências e Calamidades Públicas no âmbito do
(SUAS), mas que iria fazê-lo.

Em resposta ao ofício de n.º: 24/2022, por meio do Ofício SEG n.º:


154/2022, datado do dia 12/04/2022 o Município pediu dilação de prazo para responder
aos itens 4, 5, 9, 10, 11, 14, quanto às outras indagações faltaram dados concretos,
conforme abaixo se observa:

No item 2 do Ofício de n.º: 24/2022, especificamente em relação ao


quantitativo de pessoas inclusas em programas de renda, o Município informou estar
realizando cadastro por parte dos Assistentes Sociais das famílias desabrigadas e que
necessitam receber auxílio aluguel (habitação), mas não explicitou, mesmo que
parcialmente, o cadastro ou ao menos o quantitativo de pessoas que necessitam da referida
política.

No item 3, concernente à existência de atendimento por equipe


multidisciplinar, não foram discriminados dados quantitativos e qualitativos dos profissionais
que integram a equipe, tampouco se especificou, mesmo que parcialmente, o cadastro das
pessoas em situação de risco e desabrigadas que disseram estar fazendo, a fim de informar
e solicitar ao Governo Federal a disponibilização de auxílios federais aos necessitados em
virtude da situação de calamidade.

Ademais, por se tratar de uma situação extrema, não é crível a

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ausência de informações sobre crianças, idosos e eventuais pessoas que estejam em
situação ainda maior de vulnerabilidade, o que por si só inviabiliza a possibilidade de tutelar,
judicial e extrajudicialmente, os direitos desses grupos, lembrando que se houve equipe
multidisciplinar e uma força tarefa embasada na captação de informações, era para ter o
nome, idade, inclusive dos responsáveis, e se eventualmente uma dessas pessoas está
longe de seu núcleo familiar.

Após a concessão de dilação de prazo de 10 dias, conforme ofício de


n.º: 28/2022, expedido no dia 15/04/2022, o Município apresentou resposta, por meio do
Ofício n.º: 064/2022, em 25/04/2022, com o escopo, a princípio, de responder as
informações faltantes, consubstanciadas nos itens constantes no ofício de n.º: 24/2022.
Contudo, sob o pretexto de ter havido o esvaziamento dos abrigos provisórios, o Município
mais uma vez não trouxe cadastro ou eventuais documentos que identificassem os
munícipes que tiveram suas casas atingidas pelo desastre, tampouco detalhamento de
crianças, idosos e demais pessoas que estivessem em situação de vulnerabilidade, até
porque o fato de ter havido a concessão de hospedagem social em pousadas locadas não
alteraria os danos ocasionados pelo desastre.

Observemos as lacunas existentes no expediente do Município:

No item 1, não informaram o número de pessoas que ficaram no


abrigo provisório, tampouco as que necessitaram de hospedagem social nas
Pousadas, que, igualmente, não foram informadas, atrapalhando sobremaneira a
fiscalização e a adoção de medidas pela Defensoria Pública, já que é preciso apurar as
condições de instalação do local e verificar o número de munícipes contemplados pelo
benefício, o que restaria prejudicado de igual modo pela ausência de dados qualitativos
e quantitativos das pessoas abrangidas, primeiramente, pelo abrigo provisório.

No item 2, alínea C, foi genericamente informado o oferecimento de


hospedagem social e aluguel social sem, do mesmo modo, apresentar o cadastro dos
beneficiários. Na alínea D, do mesmo item, informa a inexistência de programa de renda e
que o programa habitacional se encontra em andamento, mas não traz informações mais
apuradas sobre em qual fase se encontra, informando que a demanda cresce
cotidianamente de acordo com os termos de interdição que também não foram

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apresentados e sequer quantificados, mesmo que parcialmente pelo aumento gradual de
novas interdições de moradias.

Se não bastasse a insubsistência das informações prestadas, os itens


13, 14, 16, 17 não foram respondidos, sendo apenas elucidado que cabe à Defesa Civil
respondê-los. No item 18, é informado que parte das famílias e indivíduos mapeados se
encontram em casas de familiares, porém, pelos mesmos motivos esboçados acima, não
há condições de aferir o número de pessoas contempladas com hospedagem social.
Ademais, nesse mesmo item 18, informa-se que as famílias, que já se encontram com os
termos de interdição da Defesa Civil, são encaminhadas para a concessão de benefícios,
sendo que parte já pleiteia o aluguel social junto à Secretaria Municipal de Assistência
Social e Direitos Humanos.

Segundo o Relatório de Visitação do dia 19/04/2022 na Comunidade


Caiçara Ponta Negra, – uma das regiões municipais mais atingidas pelo fenômeno
metereológico - os números noticiados à época pelos moradores foram: 07 óbitos, 08 casas
destruídas, 19 famílias desalojadas (sem casas destruídas), perfazendo o total de 27
famílias desalojadas, destacando-se que o estado das moradias, à época da visitação,
estava em processo de apuração.

Essa visitação identificou uma série de inconsistências referentes à


tragédia climática, tendo sido relatado/identificado, dentre outras problemáticas, que uma
das erosões alterou o curso do rio, fazendo com que passasse à frente das casas dos
moradores; um dos deslizamentos, que vitimou uma família de moradores intensificou o
relevo do local, formando um talude íngreme com uma enorme pedra que pode
propulsionar novas tragédias; os dois pontos de apoio (Associação de Moradores e
Escola Municipal) se situam em área de risco, por estarem próximo ao rio; não há um
sistema de alarme de emergência em casos de altos índices pluviométricos.

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Em decorrência dessa manancial de violações a direitos basilares,
explicitada acima, foi remetda ao Município a Recomendação n.º: 010/2022 em 25/04/2022
- na qual, em apertada síntese, recomendou: elaboração e apresentação de plano de
contingência emergencial para processos geológicos e hidrológicos; sistema de
alerta; sistema de abrigamento (ponto de apoio); sistema de comunicação direta e
rápida com a Defesa Civil e instituições de saúde; sistema emergencial de transporte
e socorro; levantamento cadastral de todas construções; a realização de
cadastramento das famílias residentes nos imóveis e/ou identificação de eventuais
lesados, adoção de procedimento administrativo básico, que compreenda ao menos
vistoria prévia, confecção de laudo técnico indicando o estado físico do imóvel instruído
com fotografias e notificação para que se concretize a ampla defesa e contraditório,
reestabelecimento do curso do rio, fornecimento de gerador elétrico, reativação das
placas de energia solar, manutenção regular da rede de fornecimento elétrico dentre
outras providências.

Neste interregno - entre a visitação e a expedição da Recomendação


n.º: 010/2022, houve uma reunião no dia 20/04/2022 entre o Município e a Comunidade
Caiçara de Ponta Negra que, em virtude dos temas discutidos, foi expedido ofício de n.º:

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033/2022, em 26/04/2022, por este Órgão de Atuação, principalmente devido à listagem
indicada no evento de 39 (trinta e nove) pessoas desabrigadas, bem como a informação de
que já foi elaborado estudo do geólogo sobre a área e, inclusive, apresentado o referido
material aos moradores da localidade.

Assim, as requisições contidas no expediente supracitado foram: a


apresentação de mapa de risco geológico/geotécnico (com as respectivas medidas a
serem adotadas para cada área de risco da Comunidade Tradicional Caiçara de Ponta
Negra); listagem, elaborada pela Prefeitura, sobre as pessoas/famílias desabrigadas e
desalojadas em Ponta Negra; cópia de todos os termos de interdição de imóveis já
entregues na Comunidade; cópia dos relatórios técnicos da Defesa Civil já entregues
na Comunidade.

Em seguida, por meio de vistoria realizada pela Defensoria Pública


junto às Pousadas - em 26/04/2022 - (Pousada Aroeira e Pousada do Israel – Patrimônio)
para onde foram levadas algumas familias, foi obtida a informação de que as pessoas que
lá se encontravam foram informadas por funcionários/representantes do município que a
hospedagem iria se findar no final do mês de abril, além disso, constatou-se uma série de
irregularidades tais como: limitação de acesso à água - inclusive potável; alimentação
inadequada; pessoas com necessidades especiais - alimentares, médicas e farmacêuticas
– não supridas, no caso crianças com deficiência; infantes sem frequentar a escola;
gestante sem acompanhamento pré-natal; ausência de produtos de higiene e fraldas em
quantidade suficiente, dentre outros.

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Por essa razão, foi expedido o ofício de n.º: 37/2022, em 27/04/2022
por este Órgão de Atuação, cujo cerne foram requisições sobre: informações a respeito
de manutenção da hospedagem social; quantidade de benefícios de aluguel social
deferidos, indeferidos e em processamento, com a indicação dos beneficiários; e as
medidas que já foram adotadas para suprir as necessidades de água, alimentação,
higiene e saúde das pessoas que se encontram nessa “hospedagem social”, além do
acesso à educação.

A resposta parcial à missiva se consolidou por meio do ofício de n.º:


066/2022 da Secretaria Municipal de Assistência Social e Direitos Humanos (SMASDH)
datado do dia 29/04/2022, em que, sintaticamente, foi informado: que a manutenção da
hospedagem social é de 90 dias; que a coleta dos documentos começaria em 02/05/2022
pela Psicóloga Vanessa incumbida também de informá-los sobre o prazo de manutenção
da hospedagem social e sobre o trâmite necessário para a concessão de aluguel social;
que foram fornecidos a cada Pousada 10 “PACS” de garrafas d’água de 1,5 litros, com 06
unidades, a cada 2 dias, além de a Pousada servir o café da manhã e a Secretaria social,
por meio de marmitex, o almoço e a janta.

Conforme se observa, inexistiu até o dito momento, mesmo que de


forma parcial, a apresentação de listagens de beneficiários de aluguel social, porquanto,
somente após um mês de hospedagem social, praticamente, que o Município informou

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começar a coleta de documentações e a divulgação dos trâmites para a concessão do
referido benefício.

Quanto à Recomendação n.º: 010/2022, fora obtida inicial e parcial


resposta, por meio do ofício de n.º: 065/2022 da SMASDH, datado em 25/04/2022, sendo
digno de nota que mais uma vez não foram fornecidos dados quantitativos e
qualitativos a respeito do cadastro das famílias atingidas, tampouco daqueles em que
o encaminhamento para percepção de aluguel social estava em curso, o que prejudica
sobremaneira uma avaliação apurada sobre as medidas dispensadas pelo ente municipal.

Em 19/05/2022, através de endereço eletrônico institucional


(tcdp2@defensoria.rj.def.br), o Município enviou diversos documentos, posteriormente
juntados ao Procedimento de Instrução que tramita sob o n.º: SEI E-20/001.003899/2022.
Dentre os mesmos, há memorando da defesa Civil n° 77/2022 que buscou responder a
itens abordados na recomendação em questão, com a remessa, inclusive, de plano
emergencial, (sobre o qual, quando investigado o conteúdo, entende-se as razões pelas
quais há menção expressa à pendência na atualização). Para tanto, há pedido de dilação
de prazo de 30 dias.

Destaque-se que a recomendação n° 010/2022, a qual motivou tal


resposta por parte do Município, é de 25/04/2022, tendo transpassado cerca de 23 dias
com resposta pautada em pleito de dilação de prazo. Esclareça-se ainda que inexistem
informações sobre o plano de contingência emergencial para a Comunidade Tradicional
Caiçara de Ponta Negra e itens como a implementação de “(i) sistema de alerta, (ii) sistema
de abrigamento (ponto de apoio) quando o alerta de chuvas ou deslizamentos é acionado,
(iii) sistema de comunicação direta e rápida com a Defesa Civil e instituições de saúde e
(iv) sistema emergencial de transporte e socorro”.

Os abrigos temporários, Pousada Aroeira e Pousada Israel, se


encontravam nessas condições no dia da vistoria realizada pela Defensoria, destacando-
se:
“[...] no momento da vistoria, havia um total de 29 pessoas, sendo 18
adultos e 11 crianças. Nesse grupo de pessoas, destaca-se a existência
de pessoas em maior situação de vulnerabilidade: 01 gestante de 20
semanas, com relato de dificuldade de acesso ao pré-natal, por estar em
área distinta de seu domicílio original, além de 02 crianças portadoras de

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neuropatia, sendo 01 delas cadeirante.”

“[...] Finalizada a vistoria nas instalações da Pousada Aroeira, a equipe da


Defensoria Pública se dirigiu às instalações da segunda pousada que foi
utilizada como abrigo temporário pelo município de Paraty. Apesar de
informado o nome de “Pousada do Israel”, não foi possível verificar a
identificação do estabelecimento. No local, não há recepção. Segundo
informado, a admissão das pessoas na Pousada do Israel ocorreu na
manhã do dia 12/04/2022, portanto, 06 dias após a admissão na Pousada
Aroeira. [...] Observou-se que não havia uma relação de pessoas
abrigadas, porém, foi informado um número de 06 famílias oriundas de
casas afetadas pelo desastre nas localidades de Patrimônio e Laranjeiras,
totalizando 20 pessoas, sendo 11 adultos (01 idoso) e 09 crianças.”

A informação advinda do plano de contingenciamento (anexado


memorando da Defesa Civil n° 61/2022, datado em 05 de maio de 2022), está não só
incompleta (no que diz respeito a constar tão somente nomes de “desabrigados e
desalojados, sem discriminações ou maiores informações), como incompatível com o
relatório de vistorias realizadas nos abrigos provisórios (pousadas) em 26/04/2022, 09 dias
antes, já que no momento da vistoria, havia um total de 29 pessoas, sendo 18 adultos e
11 crianças, “01 gestante de 20 semanas, com relato de dificuldade de acesso ao pré-natal,
por estar em área distinta de seu domicílio original, além de 02 crianças portadoras de
neuropatia, sendo 01 delas cadeirante” , razão pela qual reitera-se a importância das
informações omitidas ante a não satisfação de esclarecimentos completos, já que torna
inviável a atuação dos órgãos competentes para amparo das respectivas famílias.
Adiante, há resposta colacionada em Memorando n° 285/2022
(Secretaria Municipal de Saúde), Memorando 056/2022 (Central de abastecimento
farmacêutico) e Memorando 36/2022 (Coordenação de vigilância ambiental). Ainda sem
relatos de ações de prevenção a doenças como as acostadas na recomendação, tampouco
sobre a disponibilização de equipe médica para atendimento a toda a comunidade e
acompanhamento devido. Também não há esclarecimento se findou a dificuldade de
obtenção de medicamentos, conhecida a partir de vistoria realizada.
Ato contínuo, em 28/04/2022, a Secretaria Municipal de Saúde e
Defesa Civil enviou - por intermédio do endereço eletrônico institucional
(tcdp2@defensoriarj.def.br), e-mail requerendo dilação de prazo de 10 dias para
responder ao ofício de n.º: 033/2022.

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No dia 04/05/2022, expediu-se ofício (46/2022), requisitando
informações, documentos e providências multiplas, advindas do Relatório de vistorias
realizadas nos Abrigos Provisórios (Pousadas); em 05/05/2022, expediu-se ofício (
52/2022) requisitando informações sobre do termo de Cooperação Técnica em parceria
com o Governo do Estado do Rio de Janeiro, para recebimento do benefício previsto no
Decreto Estadual 48.057 de 03 de maio de 2022 e, em 06/05/2022, ofício (53/2022),
requisitando informações acerca da implementação de medidas congêneres que
pudessem evitar novas tragédias à Comunidade.

Ora, até o presente momento, sem recebimento de respostas dos


mencionados ofícios de n°: 46/2022, de n.º: 52/2022 e de n.º: 53/2022. Assim, veja-se
de forma sucinta a insubsistência das informações prestadas pelo Município:

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Em 05/04/2022 : Aberto Procedimento de Instrução que tramita sob o n.º: E-20/001.003899/2022 junto ao SEI (Sistema Eletrônico de Informação)

Expedido pela Defensoria Pública Respostas do Município Satisfatótio?

Em 05/04/2022 : Finalidade: Conhecer o cenário ocasionado pelo Em 11/04/2022: Teor: Pedido de Dilação de
desastre e quais medidas emergenciais e de Prazo por 30 (trinta) dias com
Ofício de n.º: 24/2022 Ofício n° 061/2022 Não.
caráter assistencial foram envidadas pelo relação à apresentação de
Município aos munícipes. dados mais detalhados
Em 12/04/2022: pela SMASDH.

Ofício SEG n.º: 154/2022 Quanto às indagações


respondidas, faltaram dados
concretos.
Em 25/04/2022:
Ofício n.º: 064/2022.

Em 07/04/2022: Reunião com representantes da DPERJ e do Município ocorrida na sede da Prefeitura de Paraty.

Teor: Insubsistência das


informações. Indagações sem
Em 15/04/2022: Finalidade:Comunicar a dilação de prazo
respostas.
solicitada pelo período de 10 dias.
Ofício n.º: 28/2022 Em 25/04/2022:
(A princípio o objetivo do Ofício
Ofício n.º: 064/2022.
n.º: 064/2022 seria responder

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Em 09/05/2022: informações
faltantes,consubstanciadas nos
MEM. DEFESA CIVIL Nº.
itens constantes no ofício de n.º:
72/2022
24/2022. Contudo, sob o
pretexto de ter havido o
esvaziamento dos abrigos
provisórios, o Município mais
uma vez não trouxe tais Parcialmente

esclarecimentos. MEM.
DEFESA CIVIL Nº. 72/2022 com
informações prestadas de forma
incompleta.

Em 19/04/2022: Visitação da Ouvidoria da DPERJ e deste Órgão de Atuação, na Comunidade Caiçara Ponta Negra – uma das
regiões municipais mais atingidas pelo fenômeno metereológico, sendo constatada uma série de inconsistências e, em
decorrência, o envio por parte da Defensoria Pública da enviou ao Município a Recomendação n.º: 010/2022.

Teor: Resposta de parte dos


quesitos sem o fornecidos dos
Em 25/04/2022: Finalidade: Tomada de providências Em 25/04/2022:
dados quantitativos e
necessárias por parte do Municípios.
Recomendação n.º: qualitativos a respeito do Parcialmente.
Ofício de n.º:
010/2022 cadastro das famílias atingidas,
065/2022 da SMASDH
tampouco daqueles em que o
encaminhamento para
Em 09/05/2022: percepção de aluguel social

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MEM. DEFESA CIVIL estava em curso.
Nº. 72/2022

Em 18/05/2022:

MEM. N°285/2022

Em 20/04/2022 : Reunião realizada entre o Município e a Comunidade Caiçara de Ponta Negra que que, em virtude dos temas discutidos,
foi expedido ofício de n.º: 033/2022, em 26/04/2022.

Finalidade: Envio de material.


(Em virtude de temas discutidos em reunião
Em 26/04/2022: Em 28/04/2022: Teor: Requerimento de dilação
ocorrida em 20/04/2022 foi expedido ofício de
A Secretaria Municipal de de prazo de 10 dias para
Ofício de n.º: 033/2022 n.º: 033/2022, principalmente, devido à listagem
Saúde e Defesa Civil fez envio de resposta.
indicada no evento, de 39 (trinta e nove) pessoas Não
contato com a Defensoria
desabrigadas, bem como a informação de que já
Pública por intermédio do
foi elaborado estudo do geólogo sobre a área).
endereço eletrônico
institucional.

Em 26/04/2022 : vistoria realizada pela Defensoria Pública junto às Pousadas

Em 27/04/2022: Finalidade: requisições de informações a Em 29/04/2022: Teor: Resposta , sem a


respeito de manutenção da hospedagem social; Ofício n.º: 066/2022 da apresentação de listagens de
Ofício de n.º: 37/2022

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quantidade de benefícios de aluguel social Secretaria Municipal de beneficiários de aluguel social.
deferidos, indeferidos e em processamento, com Assistência Social e
a indicação dos beneficiários; e as medidas que Direitos Humanos
já foram adotadas para suprir as necessidades (SMASDH)
básicas. Parcialmente
Em 09/05/2022:

MEM. DEFESA CIVIL Nº.


72/2022

EM 04/05/2022: Finalidade: Requisição de


informações/documentos/providências a partir de
Ofício de n°: 46/2022 Sem resposta Sem resposta
Relatório de vistorias realizadas nos Abrigos
Provisórios (Pousadas) no Município De Paraty
pela Coordenadora de Saúde e Tutela Coletiva.

Em 05/05/2022: Finalidade: Requisição de informações a


respeito do termo de Cooperação Técnica em
Ofício de n.º: 52/2022
parceria com o Governo do Estado do Rio de
Janeiro, para recebimento do benefício concedido Sem resposta Sem resposta X

no Decreto nº: 48.057 de 03 de maio de 2022

Em 06/05/2022: Finalidade: Requisição de


informações/documentos/providências
Ofício de n.º: 53/2022
constatadas após a ação conjunta da Defensoria
Pública e do DETRAN, ocorrida em Ponta Sem resposta Sem resposta X

Negra. .

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7. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS

Como se adiantou, a presente demanda objetiva viabilizar, de


modo liminar, o acesso a informações de interesse coletivo ou geral, necessárias
ao exercício das funções institucionais da Defensoria Pública, que assegure o
resultado prático ou útil da sentença, destinado a tutelar os direitos fundamentais,
bem como decisão de mérito ao planejamento, nas mais diversas searas da
coletividade afetada pelo desastre climático, em especial, a recuperação dos territórios
afetados, a oferta de moradia adequada, formulando-se cronograma e fixando prazos
para as condutas administrativas para alcançar tais objetivos.

Com efeito, a Constituição Federal inseriu o direito à educação, à


saúde, à alimentação, à moradia, à segurança e à assistência social expressamente no
rol dos direitos sociais (art. 6º), integrando-os, portanto, ao catálogo dos direitos
fundamentais e os sujeitando ao regime jurídico reforçado que lhes foi atribuído pelo
constituinte, especialmente o do art. 5º, §1º, da CF/8817 (aplicabilidade direta e imediata
de direitos fundamentais). Os direitos fundamentais sociais impõem ao Estado
prestações positivas (direitos de segunda dimensão), devendo ser cumpridos de forma
solidária e integrada por todos os entes federativos;

Classicamente, de acordo com José Afonso da Silva, as normas


constitucionais, quanto à eficácia, podiam ser divididas em: 1) normas de eficácia plena;
2) normas de eficácia contida; e 3) normas de eficácia limitada, as quais, por sua vez,
podem ser: 3.1) institutivas – facultativas ou impositivas; ou 3.2) programáticas.

De fato, inicialmente, na história do constitucionalismo ocidental e


seguindo uma linha mais rígida da leitura da “separação de poderes”, o universo das
normas de direitos sociais era tido como questão interna aos órgãos políticos do Estado.
Tradicionalmente, portanto, atribuiu-se à natureza das normas constitucionais sobre
direitos sociais o status meramente programático18, ou seja, não autoaplicáveis.

17 CF/88, Art. 5º (...) § 1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
imediata.
18 FERNANDES, Bernardo Gonçalves. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Ed. Juspodivm, 2019,

p. 819-820.
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Nessa linha, no passado, o controle jurisdicional dos atos
administrativos se restringia aos aspectos de legalidade, sendo vedado ao Poder
Judiciário exercer um controle de mérito administrativo (liberdade conferida pelo
legislador ao agente público para exercer juízo de ponderação dos motivos e escolher
os objetos dos atos administrativos). Contudo, a clássica dicotomia entre
discricionariedade (atos discricionários) e vinculação (atos vinculados) foi ressignificada
a partir do fenômeno da constitucionalização do Direito Administrativo 19.

Com o reconhecimento do papel central da Constituição e da


normatividade dos princípios, a legalidade deixa de ser o único parâmetro para
verificação do atuar administrativo. Passa a incidir o princípio da juridicidade, segundo
o qual a atuação administrativa deve ser pautada não apenas pelo cumprimento da lei
(em sentido estrito), mas também pelo respeito às normas constitucionais, inclusive seus
princípios (sejam eles expressos ou implícitos) com o objetivo de efetivar direitos
fundamentais 20.

Assim, inexiste uma suposta discricionariedade ou espaço de


mérito administrativo ao alvedrio da própria Constituição e da máxima efetividade de
suas normas, sob pena de “violenta frustração da vontade constituinte”21.

Não há que se falar, portanto, em violação ao princípio da


separação dos Poderes quando o Poder Judiciário intervém no intuito de garantir a
implementação de políticas públicas com assento constitucional. Afinal, “seria
distorção pensar que o princípio da separação dos poderes, originalmente concebido
com o escopo de garantia dos direitos fundamentais, pudesse ser utilizado justamente
como óbice à realização dos direitos sociais, igualmente relevantes.” 22 Por isso, é firme
o entendimento dos Tribunais Superiores23 no sentido de que o Poder Judiciário pode,
sem que fique configurada violação ao princípio da separação dos poderes, determinar

19 OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 2019,
p. 326.
20 OLIVEIRA, Rafael Carvalho Rezende. Curso de Direito Administrativo. Rio de Janeiro: Forense, 2019,

p. 39.
21 JÚNIOR, Dirley da Cunha. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Editora Juspodivm, 2019, p. 693.
22 STJ. 2ª Turma. REsp 1.488.639/SE, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 16/12/2014.
23 STF. 1ª Turma. ARE 947.823 AgR, Rel. Min. Edson Fachin, julgado em 28/6/2016.

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a implementação de políticas públicas.

Ademais, de acordo com a teoria do mínimo existencial, para que


se possa usufruir dos direitos individuais, antes se faz necessária a garantia de
condições materiais básicas de vida digna, ou seja, um conjunto essencial de direitos
preponderantemente prestacionais, a serem implementados e concretizados pelo
Estado, que possibilitam aos indivíduos uma vida digna. É dizer: de nada valeria
reconhecer a liberdade plena aos indivíduos se inexistissem garantias mínimas para seu
exercício24. Em outras palavras: tais condições materiais elementares constituem-se de
premissas ao próprio exercício dos demais direitos. Mínimo existencial, portanto,
consiste num “conjunto de bens e utilidades básicas imprescindíveis a uma vida humana
digna.”25

Ocorre que, da dinâmica dos fatos narrados, não há dúvida de que


existem, no caso, indícios de que o Município de Paraty não se desincumbiu de sua
missão constitucional, sobretudo por obstaculizar o acesso à informação e deixar
de prestar a adequada proteção social aos desabrigados no âmbito da urgência
que ainda persiste. Daí a extrema importância e necessidade do procedimento de
instrução instaurado que visa apurar lesão ou ameaça de lesão aos direitos
transindividuais da coletividade afetada.

Todavia, a despeito da gravidade do quadro e da importância da


investigação iniciada, como visto o Município se recusou a responder da forma devida a
diversos requisitórios expedidos pela Defensoria Pública exatamente para obter as
informações necessárias ao esclarecimento dos fatos e à instrução tanto do
procedimento instrutório (PI) como da petição inicial coletiva. E assim o fez com o fito de
embaraçar o exercício do papel constitucional atribuído a esta instituição.

Por certo, não é esta a conduta que a Constituição Federal impõe


às entidades e agentes públicos que administram, usam e gerenciam bens e serviços da
coletividade, e que devem atuar exclusivamente em prol do interesse público, razão pela
qual seus atos devem ser objeto da mais ampla divulgação, a fim de permitir, inclusive,

24 MASSON, Nathalia. Manual de Direito Constitucional. Salvador: Editora Juspodivm, 2020, p. 417.
25 NOVELINO, Marcelo. Curso de Direito Constitucional. Salvador: Editora Juspodivm, 2019, p. 523.
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o controle da legalidade e da legitimidade pelos órgãos de controle externo e pelos
administrados, reais titulares dos bens, serviços e interesses geridos pelo Administrador
Público. Negar e/ou restringir o acesso a tais informações, de interesse geral ou coletivo,
importa em conduta ilícita, que pode, inclusive, configurar, em tese, ato de improbidade
administrativa. Não é por outra razão que os arts. 5º, XXXIII, e 37, caput, § 3º, II, da
CRFB/88 elevam o princípio da publicidade e da transparência da Administração Pública
a status constitucional.

Em suma, por quaisquer dos ângulos que se examine a lide, nada


autoriza a recusa injustificada do Município em fornecer as informações
requisitadas pela Defensoria Pública, sobretudo quando se destinam à tutela judicial
de direito humano e fundamental.

8. DO CONHECIMENTO ACERCA DA ATUAL SITUAÇÃO DOS MUNÍCIPES

Na data de 26 de maio de 2022, através de comunicação interna,


foram remetidos TERMOS DE DECLARAÇÃO, com relatos de vítimas da catástrofe.
Os documentos foram elaborados na sede da Defensoria Pública em Paraty, na
presença do Defensor Público lá em exercicio, e se resumem assim:

Jéssica Juliana Antunes Lima relatou que sua casa foi


interditada totalmente, com a perda de todos os móveis e pertences pessoais.

Esclareceu que após o ocorrido, ela e sua familia foram


encaminhadas para a escola “Pequenina Calixto”, onde ficou abrigada por 15
(quinze) dias e, após, levada para uma das pousadas com as quais a Prefeitura
do Município firmou contrato. Destacou que tem 02 (dois) filhos, um de 06 (seis)
anos e outro de 02 (dois) anos e que tem passado necessidade no que diz respeito
a precisar de itens básicos como fraldas, água potável – em quantidade suficiente
para uma família, já que disse ter recebido tão somente 9 (nove) Litros para uso
no período de 15 (quinze) dias - , alimentos para ceia (por exemplo: frutas, leite,
e outros que são fundamentais pra consumo entre as principais refeições), bem
como produtos de higiene pessoal.

Informou ainda sobre conhecer a promessa de que a

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prefeitura forneceria o benefício do aluguel social para aqueles que perderam suas
casas, em conjunto com cartão no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) para que
pudessem comprar móveis e eletrodomésticos. Em que pese ter esclarecido sobre
o recebimento do aluguel em questão, a mesma destacou sobre a dificuldade de
encontrar um lugar, sob a justificativa de que a maioria das casas não aceitam
crianças, tornando expresso que a “Prefeitura não está dando suporte necessário
para conseguir o aluguel, nem para conseguir um auxílio assistencial, ficando sem
saber sobre seu futuro e como irão conseguir se reerguer.”

Caroline Custódio Sousa e de Maurício Marcio Barbosa, os


quais destacaram terem estado na pousada por quase 02 (dois) dias sem o
fornecimento de alimentos; que acionaram a assistência social para conseguir
itens como água potável; que o fornecimento de refeições é restrito ao café da
manhã, almoço e jantar, com arroz e feijão, mas sem qualquer proteína.

As partes ainda destacaram que em reunião com o Prefeito


do Município souberam sobre a entrega de geladeira, fogão, um cartão para
comprar móveis e um cartão de R$ 600,00 para alimentação às vitimas que
perderam suas casas com a chuva. Esclareceram ainda que foi prometido que ao
término do benefício receberiam uma casa, estando atualmente em um aluguel
social de R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais) mas sem o fornecimento dos móveis,
eletrodomésticos ou cartão, com a ajuda do município tão somente no
fornecimento de três colchões e cesta básica. Disseram que estão vivendo de
doações e , inclusive , têm um filho de 01 (um) ano que depende dessa ajuda para
uso de fraldas, pomadas, leite e todo tipo de nutrição.

Os relatos são exemplos das muitas pessoas que representam


famílias inteiras sem lar e com pouca – senão sem nenhuma – assistência.

Ora, reiterando tudo o que até aqui foi exposto, destaca-se fator
limitador para a atuação dessa instituição, sem informações precisas sobre a
concessão de quaisquer benefícios, o que torna a atuação extremamente restrita - ao
contrário do que garante o ordenamento legal e costitucional.

Com os relatos acima, cuja íntegra se encontra anexa, em


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conjunto com imagens que comprovam o alegado, vê-se veemente estado de
vulnerabilidade e manifesta agressão a princípios basilares do ordenamento jurídico,
sendo expressiva a necessidade de atuação na defesa de direitos aos que
perderam relevante parte de suas vidas a partir das chuvas, em grave estado de
vulnerabilidade, cabendo ao réu a prestação de informações, fundamentando-se na
finalidade de reestruturar os territórios, devendo ser um trabalho em conjunto,
mediante cooperação das partes e a devida informação sobre a atual realidade dos
fatos e prestação dos serviços necessários, de natureza transitória e definitiva,
lógica incidente no planejamento de curto, médio e longo prazo.

9. DO PROCESSO ESTRUTURANTE E FIXAÇÃO DE CRONOGRAMA

Concebida a partir do direito processual civil brasileiro, via de regra,


as espécies de litígios são determinadas sob precisão e, assim, acabam por fomentar a
ideia de que o processo deve flutuar entre dois extremos (já que normalmente cabe ao
magistrado escolher um desses dois como o “vitorioso” e o outro como o “perdedor”). O
princípio da demanda – e o coordenado dever de correspondência entre pedido e
sentença – fixa o limite máximo daquilo que o juiz pode conferir ao autor e a somente
julgar sobre aquilo e nos exatos limites daquilo que é apresentado pela parte autora.
Ora, é certo que tal lógica serve razoavelmente bem para os litígios
privados e individuais, em que, diante da predominância da vontade dos particulares, é
normalmente menor a intervenção estatal na gestão dessas relações jurídicas. Contudo,
tal instituto do processo estruturante foge à órbita da lógica binária acima exposta já que
diante do nobre fim ao qual se colima o processo, peculiaridades estruturais são
perseguidas como forma de decisão judicial.
Em outros campos, especialmente na dimensão do direito público,
em que a estrutura processual clássica se torna inútil para a solução do conflito, vê-se
que não há o mesmo efeito a aplicação da ratio da estrutura processual clássica, em
que, o juiz está adstrito a “acolher ou rejeitar, no todo ou em parte, o pedido formulado
pelo autor”.
Como exemplo, cita-se conflitos em que inatingível é a separação
de direitos - como à saúde (ou à vida) - sem transpassar ao interesse da tutela do
patrimônio público do Estado, já que a decisão estará, sempre, interferindo na gestão
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da política de saúde local e embute em seu seio graves questões de política pública, de
alocação de recursos públicos e, consequentemente, de determinação do próprio
interesse público.
Ora, diante de sua dinamicidade, o processo estruturante acaba
por reduzir o assoberbamento do judiciário já que se torna desnecessário o ajuizamento
ulterior de demandas individuais que versem sobre o mesmo objeto litigioso, sendo
pautado na maior flexibilidade da adequação de sua decisão àquilo que exija a situação
concreta e distanciando-se de um processo ortodoxo no qual se pretende uma
determinada solução pontual paro o seu deslinde.
Como exemplo, menciona-se acordo estrutural referente ao caso
das creches de São Paulo – SP (ACP 0150735-64.2008.8.26.002), com fim na
implementação progressiva de vagas, com metas qualitativas que não preveem apenas
a quantidade, mas também se preocupam com a qualidade da prestação do serviço.
Diante do material fornecido – e não fornecido - pelo Município,
especialmente o plano de cotingenciamento em manifesta necessidade de atualização,
a conclusão inevitável é caracterizar um litígio estrutural , cuja correção exige a
elaboração e implementação de um plano, com medidas progressivas, capazes de
alterar, de maneira duradoura, o comportamento do demandado. Por essa razão,
entende a autora que a efetiva mudança de comportamento, capaz de garantir a
segurança ambiental e das pessoas que residem em torno dos locais mais atingidos
pelas fortes chuvas só poderá ser obtida mediante diálogo e a aplicação do princípio da
cooperação entre as partes.
Nesse aspecto, pode-se dizer que a necessidade de
apresentação de um cronograma e de um planejamento calcado em projetos,
tarefa do Município de Paraty, é a causa do litigio.
Um processo estrutural, tal como se propõe, é cíclico. Ele não
transita entre o passado e o futuro, já que detém lógica de melhora progressiva. A
demanda foi proposta após diagnosticar o problema, ou seja, constatar a ausência de
informações precisas e concretas, ou ao menos da programação e da expectativa, com
os cronogramas pertinentes às medidas estruturais cabíveis ao Município de Paraty,
após a ocorrência das conhecidas calamidades e o estado de necessária intervenção

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pública em que se encontram os Munícipes.
Assim, pode-se dizer que a presente ação caracteriza-se por
expressiva dinamicidade. Sucessivamente às etapas de diagnóstico do problema, que
motivou o ajuizamento e a elaboração do plano de contingenciamento, devem surgir
as intervenções urbanísticas, construção, recuperação e requalificação de
moradias, adequação dos serviços essenciais, entre outros elementos da alterada
realidade social dos munícipes, cabalmente atingidos pelas fortes chuvas.
Sendo o processo estrutural prospectivo, tendo o futuro como
tempo que influencia o que se passou, ou seja, projeta-se no futuro os efeitos da decisão
que se almeja, não é tamanha, para o que será julgado, a importância do que se passou
e o que motivou o ajuizamento da presente, mas sim as medidas sucessivas de
restabelecimento e melhoria do quadro afetado, cuja aferição pode ser postergada à
medida em que avançam as fases, detectando-se novas possibilidades de soluções,
especialmente pela natureza técnica das prestações, em sua maioria.
Nesse sentido, a elaboração de cronograma, o direito ao
planejamento e a produção de projetos, com concretização paulatina, como
política pública municipal, devem ser vistos à medida que o plano se desenvolva,
ante novos diagnósticos, os quais geram mudanças nas necessidades do quadro.
Nesse aspecto, é inquestionável que o requisito necessário para
pensar em decisões estruturais já é pressuposto no Brasil, especialmente diante da
sedimentada orientação do Supremo Tribunal Federal, admitindo que os atos de
política pública possam ser controlados pelo Judiciário, especialmente em
atenção aos direitos fundamentais.26
O processo estrutural apresenta-se com vantagens, como a
possibilidade de diálogo entre as partes, sendo colaborativo e isonômico; detém amplo

26 Apenas de modo exemplificativo, confira-se as decisões do STF nos seguintes casos: AgRg na SL
47PE, Pleno, rel. Min. Gilmar Mendes. Dje 29.04.2010; AgRg no RE 628.159/MA, 1.a T., rel. Min. Rosa
Weber, Dje 14.08.2013; AgRg no AgIn 810.410/GO, 1.a T., rel. Min. Dias Toffoli, Dje 07.08.2013; EDcl no
RE 700.227/AC, 2.a T., rel. Min. Carmen Lúcia, Dje 29.05.2013; AgRg no RE 563.144/DF, 2.a T., rel.
Min. Gilmar Mendes, Dje 15.04.2013. Em doutrina, sobre a legitimação dessa atividade judicial, v., o
amplo debate travado no direito norte-americano (FULLER, Lon L.; WINSTON, Kenneth I. The forms and
limits of adjudication. Harvard law review, vol. 92, n. 2, Harvard, dez. 1978, passim; FISS, Owen. The
forms of justice cit., passim; FLETCHER, William A. Ob. cit., passim; EISENBERG, Theodore; YEAZELL,
Stephen C. Ob. cit., p. 494 e ss.).
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aspecto de informações disponíveis e permite lidar com efeitos colaterais, bem como
levar em conta as necessidades de outras políticas públicas. Assim, não se trata de
intervenção porque não se busca intervir na discricionariedade, mas tão somente
informações precisas e concretas, especialmente com os cronogramas
pertinentes e informações das medidas adotadas, como projetos e planejamentos.
Além de fixar em linhas gerais as diretrizes para a proteção do
direito a ser tutelado, criando o núcleo da posição jurisdicional sobre a apresentação de
plano de contingenciamento para a solução de problemas e questões pontuais surgidas
durante sua implementação, busca-se muito mais do que eliminar uma determinada
conduta ilícita, impondo um fazer ou uma abstenção. Ao contrário, almeja-se a
reestruturação da relação burocrática das políticas públicas municipais, de modo a
alterar substancialmente a forma como as interações sociais se travam.
Por isso, são medidas de prazos distintos. Umas mais imediatas e
de execução mais simplória, outras mais sofisticadas, de custo mais elevado a exigir
mais tempo para adoção. Não se trata de uma simples decisão de Estado, mas o
emprego de medidas estruturais que sejam capazes de conceber provimentos em
cascata, de modo que os problemas devam ser resolvidos à medida de sua
prospecção, a partir dos episódios que a eles antecederam.

Por isso espera-se da atuação jurisdicional, também dos demais


integrantes do Sistema de Justiça, postura repleta da criatividade, necessária ao trato
dessas questões. É preciso consciência diante de um processo em que efetivamente se
permita o conhecimento amplo do problema, a gestão adequada do litígio e o respeito
ao exercício da jurisdição, pautado em condições de oferecer à sociedade uma solução
factível e razoável, no sentido de refletir da melhor maneira possível os valores públicos
que devem ser o seu fim último.
E, para que isso seja possível, é evidente a necessidade de se
projetar outro modelo processual. O tema, como se vê, aponta para diversas outras
questões, ainda pouco enfrentadas pela doutrina nacional, mas que detêm inegável
importância.
Nesse sentido, toma-se a liberdade para encaixar frações do artigo

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que pontua a vinculação do ativismo judicial à injunção estruturante do Poder
Judiciário e aos mais positivos efeitos de sua aplicação, mormente em questões
de direito público, envolvendo atividades essenciais vinculadas aos fundamentos e
objetivos da República, entre os quais a erradicação da pobreza, a redução das
desigualdades sociais, que passam, inexoravelmente, pela melhoria substancial de
tantos serviços públicos.
“....Ponto de extrema importância é a defesa do ativismo
judicial, pois este cresce na mesma proporção em que os outros
Poderes não conseguem atribuir ao jurisdicionado criações
legislativas que possam modificar o ambiente que o desagrada.
Não se pode falar em sobreposição do Judiciário em relação a
outros Poderes. De acordo com Marco Jobim o ativismo decorre
do poder que o ordenamento jurídico concede à sociedade para a
busca de políticas públicas quando o Executivo ou o Legislativo não
cumprem corretamente o seu papel. Esse papel mais criativo dos
juízes traz um ônus. Ônus este que traz bônus à cidadania. Se
equação matemática fosse o produto seria uma tutela jurisdicional
mais acertada, consequentemente com maior apoio da sociedade
e que a população em geral confiasse........ Ou seja, o magistrado
pode e deve implementar as structural injunctions para se conseguir
efetividade de suas decisões.... O jurisdicionado brasileiro é credor
da melhor prestação judicial que estiver à sua disposição, pois ele,
nada mais é, do que um consumidor dos serviços do Poder
Judiciário..... Nesse passo, o magistrado ativista é o que o Estado
Constitucional precisa para que se implemente as normas da
Constituição da República de 1988.... As medidas estruturantes
trazem maior eficácia ao mandamento judicial, fazendo com que a
sociedade possa desfrutar da realização dos preceitos
constitucionais..... O processo, atualmente, não é como outrora; ou
seja, proporciona benefícios sociais fazendo com que o magistrado
do século XXI esteja comprometido com o resultado, pois este ecoa
para além do processo....No plano da sociedade atual, o processo
necessita de um juiz ativo que dirija o mesmo pelas tortuosas
vias procedimentais sempre com o fulcro de obter solução justa
para a lide em questão. Ademais, no presente momento do estudo
de processo civil, verifica-se a visão publicista do processo que age
como meio que harmoniza melhoramentos sociais. Ao contrário de
épocas passadas em que o mesmo processo era destinado à
realização de direitos privados (visão privatista). Nesta toada,
atualmente, o juiz tem uma função muito mais ativa do que
anteriormente quando seus poderes eram vistos de forma
restritiva....”

Inolvidável se mostra a nobre lição trazida pelo Procurador da


República Edilson Vitorelli, um dos maiores expoentes deste tema, Doutor em Direito

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pela UFPR e mestre em Direito pela UFMG, que com muita maestria conceituou o que
vem a ser processo estruturante e o seu escopo no bojo das ações coletivas:

Processos estruturais são demandas judiciais nas quais se busca


reestruturar uma instituição pública ou privada cujo comportamento
causa, fomenta ou viabiliza um litígio estrutural. Essa
reestruturaçãoenvolve a elaboração de um plano de longo prazo
para alteração do funcionamento da instituição e sua
implementação mediante providências sucessivas e incrementais
que garantam que os resultados visados sejam alcançados
mediante providências sucessivas e incrementais, que garantam
que os resultados visados sejam alcançados, sem provocar efeitos
colaterais indesejados ou minimizando-os. A implementação dessa
decisão se dá por intermédio de uma execução estrutural, na qual
as etapas do plano são cumpridas, avaliadas e reavaliadas
continuamente do ponto de vista dos avanços que proporcionam.
O juiz atua como um fator de reequilíbrio da disputa de poder entre
os subgrupos que integram a sociedade que protagoniza o litígio.

Diante da inércia do ente municipal, não resta alternativa a


não ser a judicialização para que o Município apresente um cronograma de
efetivas medidas para um planejamento macroscópico, juntamente com a
implementação de ações concretas voltadas ao combate à calamidades como a
presente.
Ou seja, quer-se aqui muito mais do que a elaboração de um “plano
de prevenção de enchentes”, por exemplo, quer-se aqui a elaboração de um
planejamento com os respectivos projetos, fontes de custeio, orçamentos,
financiamentos, repasses de verbas do Estado e da União, seguido da sua efetiva
materialização, nos prazos estabelecidos pela própria Administração.

Não se intenciona adentrar na discricionariedade do Poder


Executivo quanto ao modus operandi da política pública, como será elaborada e
executada e sim, que esta política pública se mostre ao mundo como devida.

O plano e as ações que buscamos ver implementados deverão ser


pensados e elaborados pelo Poder Executivo, através de seus quadros técnicos,
respeitada a sua discricionariedade. Nisso, remanesce a liberdade de escolha do
administrador.

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O que se pretende é apenas compelir o administrador a deixar
a inércia, eis que o cenário de inação vem causando graves prejuízos à população.

Portanto, pretende-se a obtenção de um provimento jurisdicional


que imponha ao réu a obrigação de remodelamento e implementação de uma
política pública voltada ao atendimento do mínimo existencial da dignidade da
pessoa humana, o que deverá ser feito, naturalmente, em etapas sucessivas, visto
que trata-se de política pública complexa, que não há como erigir da noite para o dia.
Em razão disso, pretendemos ver fixados marcos temporais razoáveis para a
implementação dessas metas, de modo a que o réu possa satisfatoriamente cumpri-
las, bem como a que tenhamos um parâmetro para deles exigir o adimplemento.

Ora, em síntese, pode-se dizer que um processo estrutural é


aquele que busca resolver, por intermédio da atuação da jurisdição, um litígio estrutural,
pela reformulação de uma estrutura burocrática, responsável pela existência da violação
que origina o litígio. Essa reestruturação se dará por intermédio da elaboração de um
plano aprovado pelo juiz e sua posterior implementação, geralmente ao longo de
determinado período de tempo. Ela implicará a avaliação e reavaliação dos impactos
diretos e indiretos do comportamento institucional, dos recursos necessários e de suas
fontes, dos efeitos colaterais da mudança promovida pelo processo sobre os demais
atores sociais que interagem com a instituição, dentre outras providências.

10.DO DIREITO SUBJETIVO AO PLANEJAMENTO, VINCULAÇÃO AO RESULTADO


E DA PRESERVAÇÃO DA DISCRICIONARIEDADE ADMINISTRATIVA.

Em sede doutrinária, vemos com muita clareza o reconhecimento


ao direito subjetivo ao planejamento e a vinculação da atuação estatal ao resultado. O
Professor Diogo de Figueiredo Moreira Neto, na sua obra27, indica esse rumo.O autor se
filia à “teoria do resultado”, que vincula todo o processo de realização de políticas
publicas, desde a sua concepção até a entrega do produto à sociedade.

27Ensaio sobre o Resultado como Novo Paradigma do Direito Administrativo” em “Direito Administrativo
– Estudos em Homenagem a Francisco Mauro Dias”, Ed. Lumen Iuris, 2009, p. 3 e ss
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Na realidade, essa promissora doutrina se vem consolidando dentro de uma nova
concepção das próprias relações entre os cidadãos e a administração pública,
especificamente voltada à afirmação de seu dever funcional de proporcionar resultados
concretos e materializados em uma boa e justa atribuição de bens e serviços às pessoas,
como um proprium da função administrativa.
Decorrem como corolários, que o processo integral, compreendido,
portanto, em todas as suas etapas, não estará concluído sem a cabal efetivação do
resultado material de sua execução e que o resultado inalcançado ou parcialmente
alcançado tê-lo- á sido, em principio, em razão da má administração. Este resultado,
portanto, ele próprio - e não apenas o complexo de processos intermediados para
alcançá-lo – tanto pode como deve ser submetido aos mesmos critérios que presidiram
aos trâmites juspolíticos levados a efeito desde a formulação, passando pelo
planejamento e pela orçamentação, até a sua execução administrativa, ou seja:
também devem estar conformados aos princípios da legitimidade e da eficiência. Surge
então, uma dimensão finalísitica de resultado - e não de intenções– referida a um
conceito de legitimidade, que compreende a eficiência da ação governamental,
indispensável para a compreensão da incidência desses fundamentos que depassam a
mera juridicidade da orientação teleológica de uma política pública, seja na sua
formulação, seja na sua execução.
Do mesmo modo, pauta-se o magistério de Rafael Veras de
Freitas, com importantes ponderações sobre o assunto28. Veja-se:
“Nesse desiderato, o direito à boa administração pública é norma
implícita de direta e imediata eficácia em nosso sistema constitucional, a
impelir o controlador de fazer as vezes de administrador negativo,
isto é, a terçar armas contra a discricionariedade exercida fora dos
limites ou aquém dos limites – a saber, de maneira extremada ou
deficiente.
Ora, como se pode perceber, o “Direito à Boa Administração”, que deve
estar presente no plano de governo, se decompõe em prestações
estatais, seja por meio de abstenções (direitos de primeira geração), seja
por meio de prestações (direitos de segunda geração), seja por meio da
proteção a direitos difusos (direitos de terceira geração).

28“O Dever de Planejamento como Corolário ao Direito Fundamental à Boa Administração Pública” em
“Direito Administrativo – Estudos em Homenagem a Francisco Mauro Dias”, Ed. Lumen Iuris, 2009, p.
243 e ss, cita Juarez Freitas (Discricionariedade administrativa e o direito à boa administração pública.
São Paulo: Malheiros, 2007, p. 1),
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Dessa forma, observa-se que, pelo alto grau de vinculação entre
todas essas gerações de direitos ao princípio da dignidade da pessoa humana, o Direito
à Boa Administração corresponde a um direito fundamental subjetivo do administrado,
possuindo, portanto, aplicabilidade imediata, nos termos do artigo 5° §1°, da Constituição
da República.
O planejamento deve refletir no exercício da função de administrar,
sujeita ao principio da legalidade (juridicidade). Nesse passo, o Administrador deve
planificar a sua atuação, definindo, dentro dos limites da lei, os objetivos de sua gestão.

Em conclusão, diz o Eminente Professor, “pode-se afirmar que o


dever de planejamento e de vinculação, que corresponde a uma decorrência lógica da
legitimação para a atuação estatal, materializa-se por meio da garantia de que aos
administrados será garantido o direito subjetivo fundamental à Boa Administração
Pública”.
Considerando os fundamentos acima expostos, a presente ação
deve ser vista como instrumento hábil a viabilizar a efetivação das obrigações
estatais, previstas no texto da Constituição Federal e nas diversas legislações aqui
citadas. Modificar a flagrante ilegalidade da conduta omissiva até aqui adotada pela
Administração Pública Municipal, inerte diante da atestada situação de iminentes riscos
a que está submetida a população residente na área objeto da lide, é seu o propósito.
É certo que, ainda que tivessem sido cumpridas todas as medidas
recomendadas e todas as informações requisitadas tivessem sido prestadas, na forma
devida, mesmo assim não estariam esgotadas as ações estruturantes que devem ser
implementadas, a fim de que tenhamos uma adequada prestação do serviço público para
prevenir que eventos como aqueles tornem a acontecer, reiteradamente com severos
danos a cada temporal.
Isto posto, a respeito da necessidade e possibilidade de
intervenção judicial na política pública em questão, no que se fundamenta o Direito ao
Planejamento, além do vasto entendimento doutrinário cabe trazer à baila precedente do
STJ no qual a Corte reconheceu a possibilidade de o Poder Judiciário determinar a

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realização de intervenções do Poder Público com serviços de drenagem e, como
exemplo, no caso, entendeu o Tribunal que, uma vez comprovada a imprescindibilidade
da medida, revelar-se-á perfeitamente possível a intervenção do Poder Judiciário para
compelir o Poder Público a agir. Veja-se:

“RECURSO ESPECIAL Nº 1.804.607 - MS (2019/0043834-0) RELATOR


: MINISTRO HERMAN BENJAMIN RECORRENTE : MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL RECORRIDO :
MUNICÍPIO DE DOURADOS PROCURADORE S : JOSÉ ROBERTO
CARLI E OUTRO(S) - MS002541 ROSELY DEBESA DA SILVA -
MS004903 RECORRIDO : ENGEPAR - ENGENHARIA E
PARTICIPACOES LTDA ADVOGADO : ADEMAR OCAMPOS FILHO -
MS007818 EMENTA AMBIENTAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL
CIVIL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ENXURRADAS E ALAGAMENTOS.
OBRAS DE DRENAGEM EM PROL DO MEIO AMBIENTE. PREJUÍZO À
SAÚDE PÚBLICA. RISCO DE VIDA DA POPULAÇÃO. PROTEÇÃO
POR VIA DA ACP. ESFERA DE DISCRICIONARIEDADE DO
ADMINISTRADOR. INGERÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO.
POSSIBILIDADE. 1. Cuida-se de inconformismo contra acórdão do
Tribunal a quo que, com argumento na proteção do princípio da
separação dos Poderes, denegou o pleito de realização de obras de
drenagem no Município de Dourados, necessários para conter os
alagamentos, devastação das áreas florestais pela força das águas,
queda de muros causada pelas enxurradas, abertura de crateras que
tomam as ruas da cidade, causando risco à saúde e à vida das pessoas.
2. Na origem, o Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul
ajuizou Ação Civil Pública visando obrigar os recorridos a adotar
providências quanto à adequação e à manutenção do sistema de
drenagem de água pluviais em alguns bairros do Município de
Dourados, notadamente no Centro Social Marista de Dourados (bairro
João Paulo II), Jardim Universitário, Jardim das Primaveras e nos Altos
do Indaiá. Argumenta que inexiste sistema eficiente de drenagem de
águas dos rios nos locais apurados, por falta tanto de estrutura física
como de manutenção ou improficiência dos sistemas implantados. 3.
Nesse contexto, cinge-se a controvérsia a verificar a possibilidade de
intervenção judicial em matéria de saneamento, ante a morosidade
em se implementar o sistema de drenagem de águas pluviais no
Município de Dourados. 4. Nesse diapasão, observa-se que há
contradictio in adjecto no acórdão recorrido, uma vez que ele demonstra
claramente ter havido sérios alagamentos em certos bairros da cidade
e que o responsável seria o Executivo através de projetos de
drenagem, contudo não considera violados os arts. 2º, I e III, e 3º da Lei
11.445/2007 e o art. 3º da Lei 8.080/1990. Ao reverso, o aresto eterniza
a omissão do Executivo, engessando o Judiciário. 5. Consoante a
posição do Supremo Tribunal Federal: "O Poder Judiciário, em
situações excepcionais, pode determinar que a Administração
Pública adote medidas assecuratórias de direitos
constitucionalmente reconhecidos como essenciais, sem que isso
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configure violação do princípio da separação de poderes" (AI
708.667 AgR, Relator(a): Min. Dias Toffoli, Primeira Turma, julgado em
28/2/2012). Nesse sentido: RE 595.595 AgR/SC – Rel Min. Eros Grau,
julgado em 28.4.2009, DJe 29.5.2009. 6. O STJ tem firme orientação
de que, ante a demora ou inércia do Poder competente, o Poder
Judiciário poderá determinar, em caráter excepcional, a
implementação de políticas públicas para o cumprimento de
deveres previstos no ordenamento constitucional, sem que isso
configure invasão da discricionariedade ou afronta à reserva do
possível (REsp 1.367.549/MG, Rel. Ministro Humberto Martins, Segunda
Turma, DJe 8.9.2014). 7. Comprovado tecnicamente ser imprescindível,
para o meio ambiente, a realização de obras de drenagem, tem o
Judiciário legitimidade para exigir o cumprimento da norma. REsp
575.998/MG, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Turma, DJ 16.11.2004, e REsp
429.570/G0, Rel. Min. Eliana Calmon, Segunda Turma, DJ 22.3.2004. 8.
Recurso Especial provido.”

Assim sendo, deve ser rechaçada qualquer alegação no sentido de


que a pretensão aqui ventilada seria atentatória ao princípio da separação dos poderes,
à reserva do possível ou qualquer coisa que o valha, porquanto, na linha do acima
demonstrado, revela-se plenamente possível a intervenção do Poder Judiciário diante
da constatação da omissão ilegítima do Poder Público em questões afetas à dignidade
da pessoa humana.
Estabelecer quais medidas são cabíveis e adequadas no caso
concreto, de forma a reduzir o risco detectado a padrões de normalidade, constitui o
dever, sujeito à discricionariedade, da Administração Pública. Não pretendemos
subtrair, em hipótese alguma, do Poder Executivo tal prerrogativa para, nos limites da
legalidade, decidir a forma pela qual enfrentará e solucionará a situação de risco
existente, protegendo, assim, a população afetada.
Contudo, proteger as pessoas do risco existente é dever legal e
constitucional, sobre o qual não há margem para discricionariedade. Não é dado ao
Administrador escolher se as pessoas suportarão o risco detectado com as próprias
vidas ou não. Seu espaço de escolha restringe-se à forma pela qual o risco será
mitigado a padrões civilizados e aceitáveis.
De modo algum se pode admitir que o Poder Público simplesmente
nada faça, deixe o tempo passar sem adotar qualquer medida realmente efetiva.Não
está contemplado na discricionariedade deixar que o pior aconteça quando há ciência
inequívoca do risco. Não há qualquer conveniência ou oportunidade reservada ao
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Administrador sobre a necessidade legal e constitucional de se assegurar o direito à vida,
quando tal direito está tão claramente ameaçado.

Na realidade, tal conduta omissiva e seus nocivos efeitos alcança


a seara da responsabilidade civil. A forma como tal direito será assegurado é que pode
ser considerada discricionária. Dai surge a necessidade de intervenção do Poder
Judiciário, de modo a combater a inércia estatal e viabilizar a concretização de tais
direitos.
Nesse sentido pauta-se no Direito da População, sob estado de
veemente vulnerabilidade, na apresentação de Planejamento por parte do Município de
Paraty a fim de que, nos termos de um processo estruturante, novas situações como a
presente sejam evitadas. Veja-se decisão do Ministro Celso de Mello, no julgamento da
Ação por Descumprimento de Preceito Fundamental nº 45 (ADPF MC/DF), ocorrido em
29/4/2004:

É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções


institucionais do Poder Judiciário - e nas desta Suprema Corte, em
especial - a atribuição de formular e de implementar políticas públicas
(JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, "Os Direitos Fundamentais na
Constituição Portuguesa de 1976", p. 207, item n. 05, 1987, Almedina,
Coimbra),pois, nesse domínio, o encargo reside, primariamente, nos
Poderes Legislativo e Executivo. Tal incumbência, no entanto, embora
em bases excepcionais, poderá atribuir-se ao Poder Judiciário, se e
quando os órgãos estatais competentes, por descumprirem os encargos
político-jurídicos que sobre eles incidem, vierem a comprometer, com tal
comportamento, a eficácia e a integridade de direitos individuais e/ou
coletivos impregnados de estatura constitucional, ainda que
derivados de cláusulas revestidas de conteúdo programático".

Nesse sentido, almeja-se que o cenário de caos urbano presente


no Município de Paraty - com alagamentos, desmoronamentos e soterramentos e
prejuízos ao patrimônio privado e público, perda de vidas, de dignidade, de moradia –
não se perpetue, mas evitadas novas situações dramáticas, já que violadas garantias
constitucionais reconhecidas como essenciais, como é o caso da educação, da saúde,
da alimentação, da moradia, da segurança e da assistência social. Outrossim, medidas
que envolvem o planejamento de curto, médio e longo prazo devem ser asseguradas por

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decisão judicial.
Ora, o Município tem o dever legal de fiscalização e de manutenção
dos rios, canais, encostas, dentre outros. Com efeito, nos termos do art. 23 da
Constituição – que arrola as competências materiais comuns dos entes federativos -, é
competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

“VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de


suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; IX - promover
programas de construção de moradias e a melhoria das condições
habitacionais e de saneamento básico; (...)”.
Na mesma esteira, o art. 30 da Constituição da República estabelece o
seguinte:
“Art. 30. Compete aos Municípios: V - organizar e prestar, diretamente ou
sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de
interesse local, incluído o de transporte
coletivo, que tem caráter essencial; (...); VIII - promover, no que couber,
adequado ordenamento territorial, mediante planejamento
e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano;”

E por fim, sem quaisquer dúvidas acerca da responsabilidade do


Município pela implementação adequada de políticas públicas de ordenação urbana,
estabelece o art. 182 da Constituição que:

“Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder


Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por
objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade
e garantir o bem-estar de seus habitantes.
§ 1º O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para
cidades com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da
política de desenvolvimento e de expansão urbana.
§ 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano
diretor.”

Na seara da regulamentação federal de normas gerais, não


podemos deixar de mencionar a Lei 12.608/2012, que criou a Política Nacional de
Proteção e Defesa Civil, a qual visa, dentre outros objetivos, o estabelecimento de uma
política de controle de desastres. De acordo com os artigos 8º e 9º do referido diploma,
compete aos Municípios:
“Art. 8º Compete aos Municípios:
I - executar a PNPDEC em âmbito local; II - coordenar as ações do
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SINPDEC no âmbito local, em articulação com a União e os Estados;
III - incorporar as ações de proteção e defesa civil no planejamento
municipal; IV - identificar e mapear as áreas de risco de desastres; V -
promover a fiscalização das áreas de risco de desastre e vedar novas
ocupações nessas áreas; VI - declarar situação de emergência e estado
de calamidade pública; VII - vistoriar edificações e áres de risco e
promover, quando for o caso, a intervenção preventiva e a evacuação da
população das áreas de alto risco ou das edificações vulneráveis; VIII -
organizar e administrar abrigos provisórios para assistência à população
em situação de desastre, em condições adequadas de higiene e
segurança; IX - manter a população informada sobre áreas de risco e
ocorrência de eventos extremos, bem como sobre protocolos de
prevenção e alerta e sobre as ações emergenciais em circunstâncias de
desastres; X - mobilizar e capacitar os radioamadores para atuação na
ocorrência de desastre; (...) XIII - proceder à avaliação de danos e
prejuízos das áreas atingidas por desastres; XIV - manter a União e o
Estado informados sobre a ocorrência de desastres e as atividades de
proteção civil no Município; (...)

Art. 9º Compete à União, aos Estados e aos Municípios:

I - desenvolver cultura nacional de prevenção de desastres, destinada ao


desenvolvimento da consciência nacional acerca dos riscos de desastre
no País; II - estimular comportamentos de prevenção capazes de evitar
ou minimizar a ocorrência de desastres; III - estimular a reorganização do
setor produtivo e a reestruturação econômica das áreas atingidas por
desastres; IV - estabelecer medidas preventivas de segurança contra
desastres em escolas e hospitais situados em áreas de risco; V - oferecer
capacitação de recursos humanos para as ações de proteção e defesa
civil; e VI - fornecer dados e informações para o sistema nacional de
informações e monitoramento de desastres.”

Oportuno destacar que a Lei 12.340/2010 também exibe os


procedimentos a serem tomados pelo Poder Público ao constatar a ocupação
desordenada suscetível a riscos. In verbis:

“Art. 3º-B. Verificada a existência de ocupações em áreas


suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande
impacto, inundações bruscas ou processos geológicos ou
hidrológicos correlatos, o município adotará as
providências para redução do risco, dentreas quais,
a execução de plano de contingência e de obras de
segurança e, quando necessário, a remoção de
edificações e o reassentamento dos ocupantes em local
seguro.
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§ 1o A efetivação da remoção somente se dará mediante
a prévia observância dos seguintes procedimentos:
(Incluído pela Lei nº 12.608, de 2012)
I - realização de vistoria no local e elaboração de laudo
técnico que demonstre os riscos da ocupação para a
integridade física dos ocupantes ou de terceiros; e
(Incluído pela Lei nº 12.608, de2012)
II - notificação da remoção aos ocupantes
acompanhada de cópia do laudo técnico e, quando for o
caso, de informações sobre as alternativas oferecidas
pelo poder público paraassegurar seu direito à moradia.
(Incluído pela Leinº 12.608, de 2012)” (Grifo nosso)

Desse modo, as referidas ações de combate às tragédias


climáticas deveriam ser prioridade na aplicação dos recursos pelo Poder Público,
razão pela qual o controle judicial deve ser incisivo, impondo deveres à administração.
Tais situações, uma vez consolidadas, passam a exigir
intervenções que mitiguem o risco de novas ocorrências, preservando o direito à
habitação.
É evidente que a solução mais adequada a evitar os desastres
em áreas de risco são medidas preventivas, de planejamento e controle do uso do solo
urbano, estabelecendo-se, a partir daí, as restrições à sua ocupação com as garantias
de reassentamento em local próximo.
No caso em análise, a omissão afigura-se como específica, ou
seja, aquela em que o poder público, ciente de eventuais adversidades, mantém-se
inerte, criando, por consequência, ocasião para ocorrência doevento em situação que
tinha a obrigação de agir para coibi-lo.

Sob o prisma constitucional, é manifesto que execuções de


políticas públicas para promoção de efetivação de direitos fundamentais, tais quais o
direito à incolumidade física, à moradia e ao meio ambiente equilibrado, gozam de
prioridade máxima, sendo descabida a avocação de escusas voltadas a evadir o
Município de suas responsabilidades.

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Note-se, outrossim, que a escusa da reserva do possível esbarra
na garantia da intangibilidade do mínimo existencial, que abarca os direitos sociais
garantidos pela Constituição Federal no seu artigo 6º, entre eles a moradia e a
segurança, postos em cheque nas áreas de encostas, sobretudo em comunidades
favelizadas.
O caráter preventivo e protetivo da execução de obras alicerça
a dignidade da pessoa humana e como já dito, não merece o tratamento desidioso que
vem sendo dado pelo Município Réu, uma vez que reconhecida a ameaça de lesões
irrecuperáveis, nada o u p o u c o faz a fim de evitar o problema.

Colaciona-se precedentes deste Egrégio Tribunal de Justiça,com


entendimento similar:

“Apelação. Ação Civil Pública. Morro do Adeus. Necessidade


de adoção de políticas públicas destinadas à contenção de
riscos de desmoronamentos e deslizamentos na localidade.
Interesse de agir do Parquet. Sentença que merece ser
anulada. Diante da perícia elaborada por empresa contratada
pelo Município do Rio de Janeiro, constatou-se a existência
de áreas dealto e médio risco de deslizamentos no Morro do
Adeus, e, que, ao contrário do afirmado pela sentença, ainda
não foi comprovada a adoção de medidas preventivas pelos
recorridos no Morro doAdeus. Os representantes eleitos pela
sociedade fluminense, principalmente, aquela habitante de
áreas menos favorecidas, devem implementar medidas
necessárias à contenção de riscos de deslizamentos e
desmoronamentos, provocados pelas fortes chuvas, que
castigam as áreas de encostas. Assim, presentes os
requisitos da verossimilhança e do periculum in mora,
restabeleço a tutela antecipada deferida as fls.97 em sua
forma integral, até a comprovação das medidas
efetivamente adotadas pelos recorridos. Precedentes deste
E.Tribunal. Provimento do apelo para anular a sentença
monocrática. Art.557, §1º-A, do CPC.” (TJRJ. APELAÇÃO
CÍVEL. Processo 0486025-60.2011.8.19.0001. DES. HELDA
LIMA MEIRELES. TERCEIRA CÂMARA
CÍVEL 19/12/2012) (Grifo nosso)
“Direito Constitucional e Administrativo. Ação Civil Pública.
Obras de estabilização de rocha situada em área particular e
em área pública. Risco de deslizamento. Responsabilidade
solidária do Condomínio e do Município do Rio de
Janeiro. Preliminares de falta de interessede agir e
ilegitimidade passiva rejeitadas. Utilidade e necessidade
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da proteção jurisdicional caracterizados. Direito à
incolumidade dos moradores e transeuntes da localidade.
Hipótese de defesa de interesses coletivos no
cumprimento das normas de direito urbanístico. Omissão
do Município nas atividades de fiscalização e garantia da
segurança do local. Aplicação do artigo 3º-B da Lei nº
12.340/2010, bem como dos artigos 30, XIX, "f"; 422 e seus
parágrafos; e 461, X, "e" da Lei Orgânica Municipal.
Responsabilidade do Condomínio pelas medidas de
contenção porventura necessárias ao longo dos anos, na
forma do artigo 1.228, § 1º doCódigo Civil e do artigo 27, da
Lei Estadual nº 1.547/67. Intervenção do Poder Judiciário
autorizada pelo descumprimento de normas constitucionais e
infraconstitucionais. Precedentes. Recursos desprovidos.”
(TJRJ. Apelação Cível. Processo 0222645-
86.2007.8.19.0001. DES. MARCO ANTONIO IBRAHIM.
VIGESIMA CÂMARA CÍVEL 13/08/2014) (Grifo nosso)

A alternativa que resta, direcionada a impedir a ocorrência de


novas tragédias, são as medidas de natureza estruturante. Ou seja, execução das
obras necessárias,após a apresentação de projetos, planejamentos, cronograma,
formas de custeio,garantindo aos munícipes o direito de prosseguir morando na cidade
com a segurança e a habitabilidade necessárias, no mínimo.

Por conseguinte, ante a vasta legislação, não restam dúvidas


quanto a responsabilidade do Poder Público em concretizar projetos voltados ao
ordenamento territorial e melhorias nas condições habitacionais.

Assim, sendo manifesta a possibilidade do Poder Judiciário em


assegurar que o Poder Executivo adote medidas concretas, sendo este o seio sobre o
qual se fundamenta o direito ao Planejamento, o perigo de dano decorrente da demora
revela-se presente na medida em que a deficiência no planejamento e na implementação
das políticas públicas e de suas consectárias ações e programas (como se vê nas
respostas do Município réu, medidas em sua grande maioria arroladas de forma subjetiva
e sem cronologia) vem colocando em risco a qualidade de vida e a integridade física da
população, além do patrimônio público e privado como um todo, já que quanto mais
inação e menos eficazes forem eventuais medidas, mais dispêndio econômico terá o
Município para recompor questões não previamente fomentadas.
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11. DO PEDIDO LIMINAR

A tutela provisória de urgência concilia os requisitos do juízo de


probabilidade do direito (conhecido como fumus boni iuris) com o perigo de dano ou risco
ao resultado útil do processo (periculum in mora), além da ausência de perigo de
irreversibilidade dos efeitos da decisão (ausência periculum in mora inverso), permitindo
que determinado resultado se produza, provisoriamente, desde logo.

Assim, nos termos do art. 300 do Código de Processo Civil,


configurada a probabilidade do direito invocado, consubstanciada na
responsabilidade do demandado no dever de garantir, mediante políticas públicas,
a promoção, proteção e recuperação da vida digna aos munícipes, soma-se o
perigo de dano ou o risco de resultado útil do processo pautado na concreta
possibilidade de sérios agravos causados pelo sofrimento e transtornos proveninentes
das fortes chuva, inexorável é a constatação de que, sem a concessão da liminar
requerida e a apresentação de cronograma adequado para reestabelecer a dignidade
dessa população, ficarão os Munícipes de Paraty expostos ao agravamento da
vulnerabilidade em que já se encontram.
No caso, o fumus boni iuris encontra-se consubstanciado em todos
os documentos acostados e na recalcitrância do Município em fornecer as informações
requisitadas, como se verá adiante, em flagrante afronta à ordem jurídica. O periculum
in mora, por seu turno, evidencia-se no fato de que o pleito principal coletivo visa, em
última análise, amparar os direitos fundamentais das pessoas em situação de
vulnerabilidade, afetadas pela recente tragédia climática, a exigir a pronta atuação do
Estado através do devido planejamento de reestruturação do Município de Paraty. Por
fim, a concessão do pleito cautelar não importa em qualquer perigo para a Administração
Pública (ausência de periculum in mora inverso).

Da análise do exposto, conclui-se que a concessão da


tutela de urgência é imperiosa, uma vez que são evidentes a plausibilidade do
direito alegado e o perigo de dano, suficientes para a formação do convencimento desse
Juízo em sede de cognição sumária, sendo de rigor o seu deferimento.

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Para tanto, requer:

Seja obrigado o Município a prestar/fornecer, no prazo de 10 dias:

a- Informações atualizadas quanto ao número de famílias


afetadas pelo desastre que ficaram desabrigadas ou desalojadas, indicando qual a
solução adotada para cada uma das famílias quanto à oferta de moradia, onde
estão abrigadas e quais os serviços emergenciais estão disponibilizados e modo
de acesso aos mesmos, com relação nominal e quantitativa por faixa etária,
especificando portadoras de deficiência, grávidas, recém nascidos ao tempo da
ocorrência, idosos, contendo dados de contato telefônico;

b- Informações da situação atual, nos mesmos moldes acima,


dos acolhidos (por grupo familiar) nas pousadas indicadas no Ofício nº46,
anexo, bem como apresentar as respostas a cada uma das indagações elencadas
na missiva aqui reproduzida, quais sejam:
• o quantitativo de benefícios de aluguel social deferidos,
indeferidos e em processamento, além da indicação dos
beneficiários;
• documentação comprobatória da alimentação fornecida
nas pousadas, no período do café-da-manhã, almoço e jantar,
apresentando, caso haja, o cardápio;
• o acesso às escolas ou a realização das atividades
escolares das crianças e adolescentes, tendo em vista a
distância da unidade escolar;

c- Informações sobre as medidas intersetoriais com utlização da estrutura orgânica


do Município, contendo:

• lista atualizada e respectivos contratos de locação


social;

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• lista atualizada de candidatos ao aluguel social ainda
não contemplados e quais as exigências ainda não
cumpridas;
• lista atualizada das familias abrigadas em casas de
parentes, familiares e amigos;
• termos de adesão e lista de beneficiados em relação ao
Programa Recomeçar do Governo Estadual;
• emprego das verbas provenientes de repasse federal
realizado pela Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil
do MDR;
• existência de outras linhas de repasse de verbas
específicas para habitação;

d- Quanto à comunidade de Ponta Negra, especificamente, informar:


• estágio das obras de contenção no rio, a fim de retorná-
lo ao curso original, em caráter definitivo;
• cronograma emergencial para intervenção na pedra que
se encontra pendente no cume do talude, representando
considerável risco para a população, indicando se a rocha
será implodida, sustentada, contida ou quaisquer medidas
congêneres que possam evitar novas tragédias na localidade;
• implementação de ponto de apoio em local seguro,
mediante a construção de toldo, galpão ou outra edificação
segura que abrigue toda a comunidade, até o resgate ou
retorno para a casa;

• implementação de sistema de alerta de emergência,


para aviso da população em caso de iminência de
tempestades e inundações;

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e- Em prazo não superior a 60 dias, com relação a todo o
território afetado pelo evento climático, seja determinado ao Réu que apresente
projetos, planejamentos, respectivos prazos, cronogramas, fontes de custeio,
financiamentos, segundo as estratégias eleitas pelos órgãos técnicos do
Município, ainda que em elaboração, apontando as respectivas localidades
contempladas, envolvendo serviços de drenagem, contenção de encostas,
requalificação, recuperação e construção de moradias e programas de
reassentamento;

f- Com relação ao benefício do aluguel social, DETERMINAR


ao réu que viabilize a inclusão imediata de todas as famílias ainda em abrigo
provisório, incluindo pousadas, ou em casas de familiares, parentes e vizinhos,
abstendo-se de exigir comprovação de regularidade formal dos imóveis ofertados,
diante da escassez de bens com registro imobiliário e cadastro de IPTU,
mantendo-o enquanto não ofertada alternativa habitacional definitiva, cujo
valor deverá ser corrigido anualmente pelo índice oficial aplicado no mercado de
locações.

12. DOS PEDIDOS

Em face de todo o exposto, SEM PREJUÍZO DA DESIGNAÇÃO DE


AUDIENCIA, como prevista na legislação processual, a Defensoria Pública requer:

Seja o Município condenado a adotar as medidas administrativas


capazes de mitigar os riscos e reduzir a exposição da população aos mesmos,
apresentando
• Plano de Contingência específico para as regiões mais atingidas e com
maior número proporcional de moradias destruídas, indicando as medidas
de engenharia aptas a, entre outras, remover pedras nas encostas que
sofreram escorregamento, recuperar o curso natural de rios e córregos,
construir pontos de apoio para abrigamento em caso de novos eventos
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climáticos, instalar sistema de alerta fontes alternativas de energia elétrica
(placas solares ou geradores térmicos) nos casos de supressão do
fornecimento pela queda de árvores, especialmente na região costeira, cujo
acesso é extremamente reduzido,

bem como a:

• Elaborar projetos, planejamento e cronogramas das atividades de


recuperação das áreas afetadas, discriminando as que se mostram
suscetíveis à reocupação ordenada, ainda que gradual;
• Elaborar projetos, planejamento e cronogramas das atividades de
reconstrução das moradias destruídas nas mesmas localidades ou do
reassentamento em local próximo;
• Elaborar projetos, planejamento e cronogramas das obras viárias,
drenagens, contenção de encostas, apontando prazos, procedimentos
instaurados para licitação, recursos disponíveis, previsão orçamentária,
repasses estaduais, federais e financiamentos;
• Requalificar, Reconstruir, Recuperar as moradias nas áreas suscetiveis
de reocupação, após a sua reurbanização, implementar os serviços
públicos essenciais e respectivos equipamentos,
• Fornecer unidades habitacionais em local preferencialmente próximo de
onde houve a remoção, nos territórios não recuperáveis, previamente
urbanizado e instalar serviços públicos essenciais e respectivos
equipamentos e, enquanto perdurarem as medidas viabilizadoras da solução
definitiva de enfrentamento ao desastre e
• Manter o aluguel social, cujas parcelas deverão ser corrigidas anualmente
pelo índice oficial aplicado no mercado de locações, devendo o réu se abster
de exigir comprovação de regularidade formal dos imóveis ofertados, diante
da escassez de bens com registro imobiliário e cadastro de IPTU.

2º Núcleo Regional de Tutela Coletiva


Avenida Sete de Setembro, nº 300, Bairro Aterrado, Volta Redonda/RJ, CEP:27213-160
Requer, por fim a citação do Município de Paraty, na pessoa de seu
representante legal, para, querendo, oferecer resposta, julgando ao final, procedentes
os pedidos, confirmando os termos pretendidos como tutela de urgência, impondo os
ônus da sucumbência, cujos honorários advocatícios deverão reverter ao Centro de
Estudos Jurídicos da Defensoria Pública Geral do Estado do Rio de Janeiro, intimando-
se o Ministério Público, nos termos da Lei n. 7.347/85.

Pretende provar o alegado por documentos suplementares,


testemunhas, pericias, inspeção judicial e depoimento pessoal do representante legal
do réu.
Reitera a importância de AUDIENCIA, presidida pelo Juízo, com
o fim de obtenção de ajustes possíveis das pretensões mais urgentes, sem prejuízo
da análise da liminar, no que remanescer.

Dá à causa o valor de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais).

Termos em que,
Pede Deferimento.

Volta Redonda, 22 de junho de 2022

JOAO HELVECIO DE CARVALHO


Defensor Público
Mat.: 820.973-6
PÂMELA LÉO DA SILVA DIAS FAUSTINO
Residente Jurídica
Mat.: 2020015

RENAN DE OLIVEIRA LOPES


Residente Jurídico

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