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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE


Promotoria de Defesa dos Direitos do Consumidor
e dos Serviços de Relevância Pública

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA


CÍVEL DA COMARCA DE ARACAJU – ESTADO DE SERGIPE

Risco Grave e Iminente à Saúde Pública

“Além do RISCO À SAÚDE PÚBLICA ficou evidente que a indústria também, em tese,
adulterou os seus produtos, por expô-los ao consumo humano com a aparência e as características gerais de
outro produto registrado junto ao DIPOA/MAPA(…)”(Comunicação de Irregularidades Graves – Ministério da
Agricultura e Pecuária – Inspeção Sergipe - Documento nos autos)

“Frente aos achados encontrados pela equipe do SIF local, tendo em vista o grande impacto à
saúde pública, considerando que, segundos os cálculos da própria indústria foram fabricados e expostos ao
consumo humano aproximadamente 10.000.000 (dez milhões) de litros de leite- UHT sem inspeção prévia de
nenhum órgão de fiscalização competente(...)”(Comunicação de Irregularidades Graves – Ministério da Agricultura e
Pecuária – Inspeção Sergipe - Documento nos autos)

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SERGIPE, através


da Promotoria de Defesa do Consumidor da capital, com fuste no artigo 129, inciso II
e III, 196, 197 e 227, todos da Constituição Federal, compaginados com os artigos 1°,
inciso II e IV, 5° e 12 da lei 7347/85, artigos, 1º, III, 5º, caput e inciso XXXII, 127,
129, inciso III, da Constituição Federal, artigo 25, inciso IV da Lei 8.625/93, artigo
5º, “caput” da Lei 7.345/85; artigos 6º, 18, 81, 82, 83,84 e 117 da Lei 8078/90, Lei
1283/1950, regulamentada pelo Decreto 9.013/2017, Lei 7889/1989, dispositivos da
Lei 6437/77 e RDC/ANVISA 655/2022, vem perante Vossa Excelência, propor a
presente AÇÃO CÍVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA DE
URGÊNCIA INAUDITA ALTERA PARS contra LATICÍNIOS SANTA MARIA
LTDA, pessoa jurídica de direito privado, através de sua representação legal, inscrita
no CNPJ sob o nº 04.439.268/0001-85, com endereço na rua Alzira Souza Dantas,
s/n, Portal do Sertão, na cidade de Nossa Senhora da Glória, Estado de Sergipe, CEP
49.680.000, detentora da marca NATVILLE, pelas razões fáticas e jurídicas que
seguem:

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DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO


SAÚDE DO CONSUMIDOR – INTERESSE INDISPONÍVEL
TUTELA PROTETIVA – ORDEM SANITÁRIA

Antes mesmo de adentrarmos no néctar da matéria que será


versada, ressai a necessidade de reforço das asserções pertinentes à legitimidade do
Ministério Público para o ajuizamento da presente Ação Civil Pública, existindo
expressa determinação legal e sedimentado entendimento jurisprudencial, na defesa
dos interesses mais caros da sociedade, notadamente quando se encontra em defesa
dos direitos indisponíveis assegurados pela Constituição Federal como a tutela do
consumidor, em particular, a sua saúde.

Especificamente no que pertine ao direito do consumidor, a


legitimidade do Ministério Público deflui do texto constitucional, artigos 127 e 129,
III, bem como o artigo 82 da Lei 8070/90, inserindo o Ministério Público como um
dos legitimados para defesa coletiva dos cidadãos, zelando pelo pleno exercício da
cidadania, na defesa de direitos de relevante interesse social.

O Ministério Público, ao ajuizar a Ação Civil Pública contra a


LATICÍNIOS SANTA MARIA LTDA – NATVILLE, firma sua pretensão atrelado ao
seu perfil constitucional, na qualidade de guardião da sociedade, vez que possui,
dentre outras, conforme fustigado, a atribuição de promover a Ação Civil Pública,
objetivando proteger interesses difusos e coletivos, nos moldes esquadrinhados nos
artigos 129, III da Constituição Federal, compaginado com o artigo 1º da Lei
7347/85, aditado pelo artigo 110 da Lei 8078/90 e ainda o exercício da atividade
protetiva dos interesses individuais homogêneos, estes últimos decorrentes de origem
comum, bastando se bispar do artigo 81, inciso III em cotejo com o artigo 82, inciso
I; artigos 91 e 92 todos do Código do Consumidor.

Vislumbrando a narrativa fática que advirá será facilmente


constatada que a presente demanda se encontra atrelada à defesa dos interesses de
todos os consumidores de leite UHT integral e desnatado e Soro de Leite em Pó
parcialmente desmineralizado 40%, na condição de destinatários finais de produtos
sensíveis, colocados no mercado pela requerida, em um espaço ampliado, em reforma
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de indústria, sem o cumprimento das exigências legais, inexistindo aprovação prévia


do projeto das instalações de reforma e ampliação junto ao DIPOA/MAPA, com
produção sem controle de qualidade e fabricação sem autorização do órgão sanitário,
devendo ser afastados quaisquer vícios que exponham a segurança e continuidade da
atividade.

A legitimação para agir nas ações coletivas encontra-se atrelada à


figura da substituição processual e a sua análise possui duas fases, a primeira quando
se verifica a autorização legal para que possa o Ministério Público substituir os
titulares coletivos do direito afirmado e a segunda, quando é formalizado o controle
“in concreto” da adequação da legitimidade para aferir se estão realmente presentes
os elementos que assegurem a representatividade adequada dos direitos em epígrafe.

O que nos parece ser mais importante é que a presente ação


coletiva emerge de uma sistemática inteiramente diferenciada, daquela em que se
assenta o processo tradicional, de caráter individual, devendo ser considerada dentro
de suas peculiaridades, notadamente quanto a eficácia da procedência da Ação Civil
Pública, considerando o disposto no artigo 103 do Código Protetivo, que trata dos
efeitos da coisa julgada.

Somente a voo de pássaro registramos, ainda, que referente à


legitimação do Ministério Público para defender juridicamente interesses
indisponíveis, de ordem pública e social, ressai do próprio conceito de ações e
serviços de relevância pública, adotado pelo artigo 197 do texto constitucional, norma
preceptiva, devendo ser entendido desde a verificação de que a Constituição adotou
como um dos fundamentos da República a dignidade da pessoa humana.

Assim, a tutela dos interesses sociais nada mais é do que a tutela


dos interesses da própria sociedade, vale dizer difusos e coletivos, sendo estes todos
ligados a uma gama determinada de pessoas, sem que se possa individualizar cada
uma delas, devendo o Ministério Público, como instituição de previsão
constitucional, imprescindível ao Estado democrático de direito, que tem como
finalidade precípua a manutenção e tutela da correta observância da lei,
principalmente quando haja indisponibilidade ou coletividade dos interesses, zelar

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pelo pleno exercício de suas funções, tutelando os interesses preditos.

Volvendo ao versado no item anterior, adotando-se a sistemática


das ações coletivas de consumo, evita-se a ocorrência de dano coletivo, reconhecendo
que a vida do consumidor é um bem legalmente protegido, sendo essencial que além
da simples declaração da norma jurídica, seja integralmente respeitada e plenamente
garantida ao cidadão-consumidor sua eficácia, atendendo às necessidades sociais,
afastando qualquer possibilidade de abusividade.

Consoante a melhor doutrina, muitas vezes, uma mesma situação


pode importar em lesões concomitantes a mais de uma categoria de direitos
transindividuais, conforme o professor Hugo Mazzilli, “in verbis”:

“Para a defesa na área cível dos interesses individuais


homogêneos, coletivos e difusos e, em certos casos, até
mesmo para a defesa do próprio interesse público, existem
as chamadas ações civis públicas ou ações coletivas. Nelas,
não raro se discutem interesses transindividuais de mais de
uma natureza. Assim, numa ação coletiva, que vise a
combater aumentos ilegais de mensalidades escolares, bem
como pretenda a repetição do indébito, estaremos
discutindo a um só tempo, interesses coletivos em sentido
estrito(a ilegalidade em si do aumento, que é compartilhada
de forma indivisível por todo o grupo lesado) e, também
interesses individuais homogêneos(a repetição do indébito,
proveito divisível entre os integrantes do grupo lesado) (A
Defesa dos interesses difusos em juízo, Editora Saraiva)

Assim, os fatos apurados no inquérito civil, que acompanha a


presente, geraram, e ainda podem gerar, lesões aos interesses de consumidores que
venham a utilizar produtos colocados no mercado de consumo pela empresa
LATICÍNIOS SANTA MARIA LTDA – NATVILLE, diante da impropriedade
verificada na raiz da produção, o quer torna incontroversa a legitimidade ativa do
Ministério Público no presente caso.

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DA LEGITIMIDADE PASSIVA
ANÁLISE

Consoante ressabido, legitimado passivo é aquele que, acaso


julgado procedente o pedido, sofrerá o ônus dele decorrente, encargo este apto a
propiciar e fornecer os meios à efetiva realização do direito pretendido pelo autor. A
empresa LATICÍNIOS SANTA MARIA LTDA - NATVILLE é responsável, diante
das falhas repetidas, mantendo obra irregular de reforma e ampliação da indústria
existente sem aprovação de Projeto pelo DIPOA/MAPA e, mais grave, promovendo a
fabricação de leite UHT e soro de leite em pó, colocando no mercado de consumo
produto impróprio, na forma das legislações consumerista e sanitária.

Indubitável, pois, que a empresa produziu irregularmente os


produtos retromencionados, bastando se bispar do conteúdo das Infrações apontadas
pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, através do Departamento de Inspeção de
Produtos de origem animal, devidamente adunadas aos autos, através de fiscalização
empreendida, detectando, ainda, o descumprimento de determinação para paralisação
da obra de ampliação e reforma da área predita, ou seja, a requerida não só
desobedeceu ordem legal do agente fiscalizador como ainda agigantou o problema,
passando a operar no espaço.

Lamentavelmente, a postura adotada pela empresa não segue o


esquadrinhamento exigido pela Código de Defesa do Consumidor, no que diz respeito
à segurança do consumidor, muito menos as regras sanitárias e processos adequados
de produção, merecendo o corretivo pertinente.

DOS FATOS
SINOPSE
O Ministério Público do Estado de Sergipe, através da
Promotoria de Defesa do Consumidor da capital, tomou conhecimento, através de
representação formulada pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, através da
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Coordenadoria do 2º Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, que a


empresa LATICÍNIOS SANTA MARIA LTDA – NATVILLE estaria fabricando Leite
UHT integral e desnatado e Soro de Leite em pó impróprios ao consumo humano,
aduzindo, em iniciais esclarecimentos, in verbis:”(...)Na penúltima inspeção do
Ministério da Agricultura e pecuária (MAPA) no estabelecimento já registrado
sob o SIF nº 2669, na data de 09/11/2022, verificou-se que o mesmo realizava
obra de ampliação das suas instalações e equipamentos com vistas a construir,
pelos achados in loco, uma fábrica de leite em pó, leite UHT e leite
condensado(produtos que não são fabricados atualmente por esta planta) sem
aprovação prévia de projeto de reforma e ampliação junto ao Departamento de
Inspeção de Produtos de Origem Animal(DIPOA/MAPA), rito processual
obrigatório neste Ministério gerando, portanto, obras irregulares. Na
oportunidade a empresa foi intimada a suspender imediatamente as suas
obras.”(Destaque nosso)

Mantendo a denúncia, disse que: “ Durante a última


fiscalização realizada no dia 16/05/2023, foi detectado que as obras haviam
evoluído, apesar da condição inicial continuar presente, ausência de projeto de
reforma e ampliação aprovado junto ao DIPOA/MAPA – embora já tivéssemos
determinado a sua paralisação em novembro de 2022”

Observamos aqui o primeiro e grave problema, a empresa,


tentando ampliar o seu espaço de produção, iniciou a obra sem qualquer preocupação
com aprovação do projeto, mesmo sabendo que constitui condição inicial de
procedibilidade da ação empreendida e, em total desrespeito às normas vigentes,
conforme denúncia do MAPA, na fiscalização, os fiscais perceberam “(…) que a
empresa estocava nessa mesma planta, SIF 2669(que possui um funcionamento
legal somente para a produção de queijos, requeijão, manteiga e bebida láctea)
uma quantidade significativa de LEITE UHT INTEGRAL E DESNATADO DA
MARCA NATVILLE(…)”

Em continuidade, afirma o MAPA que os produtos


encontrados tinham em sua apresentação rotulagem, elemento essencial do produto
ofertado ao consumidor, “carimbos de dois SIFs distintos do mesmo grupo

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empresarial, o SIF 549, localizado em União dos Palmares-AL, fábrica aprovada


junto ao MAPA para produzir leite UHT; e o SIF2669, correspondente à
indústria de Sergipe, a qual estava sendo fiscalizada e em liberação deste órgão
para a referida produção, e também sem haver identificação clara na rotulagem
da verdadeira unidade fabricante do produto, não sendo possível identificar pelo
rótulo a sua origem”

Aqui começamos a traduzir o rosário de irregularidades


praticadas pela empresa LATICÍNIOS SANTA MARIA LTDA – NATVILLE, a uma;
porque manteve a reforma e ampliação de espaço sem projeto aprovado pelo MAPA,
contrariando a determinação do agente de fiscalização para paralisação das obras; a
duas, porque foram encontrados pelos fiscais leites UHT integral e desnatado e soro
de leite em pó desmineralizado na empresa; quanto ao leite UHT, havia a aposição de
dois SIFs na rotulagem, sem especificação da unidade produtora, conforme
determinação legal e, o mais grave, a empresa, SIF 2669, não tem autorização para
fabricar leite UHT nem soro de leite em pó desmineralizado.

O MAPA, em representação formalizada no Ministério Público


Estadual confirma que: “(…) o SIF 2669, localizado no município de Nossa S. da
Glória/SE não possui autorização para a fabricação de leite UHT, portanto nem
poderia possuir a referida embalagem de UHT. Na tentativa de justificar a
irregularidade a empresa inicialmente informou que todo o produto havia sido
produzido na unidade de União dos Palmares-AL, SIF 549, porém, foi verificado
em diversos elementos de convicção que a empresa estava em pleno
funcionamento(…)” “(…) o que seria algo muito grave, por se tratar de produtos
fabricados sem autorização e sem inspeção prévia do órgão responsável, o
Serviço de Inspeção Federal/MAPA, condição sine qua non para sua
comercialização e exposição ao consumo.”

E não somente o leite UHT integral e desnatado encontrado em


SIF não autorizado, mas também o Soro de Leite em Pó Parcialmente
Desmineralizado 40%, “(...)com rotulagem do SIF 4502, indústria pertencente ao
mesmo grupo empresarial e autorizada para fabricar soro de leite em pó,
localizada em Canindé do São Francico/SE. Mais uma irregularidade grave

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cometida pelo SIF 2669, com vista a tentar dar uma falsa impressão de
legalidade ao produto industrializado de forma precária e sem autorização.

É importante frisar que a empresa, segundo assertivas do MAPA,


confessou a produção irregular e “(…) Frente aos achados encontrados pela
equipe do SIF local considerando que, segundos os cálculos da própria indústria,
foram fabricados e expostos ao consumo humano mais de 10.000.000(dez
milhões) de litros de leite sem inspeção prévia de nenhum órgão de fiscalização
competente”

A empresa vem praticando uma sequência de irregularidades,


conforme relata o MAPA, aduzindo que: “(...)gostaríamos de destacar vasto
histórico de infrações julgadas, junto ao relatório SICAR(28712886) e a
habitualidade e reincidência da indústria em descumprir a legislação sanitária,
objeto da fiscalização do Ministério da Agricultura e Pecuária(MAPA)”

Diante das assertivas apresentadas pelo MAPA e também pelo


Ministério Público Federal em Sergipe, através de ofício, encaminhado em
06/06/2023, com pedido de providências pela Promotoria de Defesa do Consumidor
do Ministério Público Estadual, diante da necessidade de apreensão e recolhimento
dos produtos impróprios ao consumo, podendo causar risco iminente à saúde pública,
foi instaurada Notícia de Fato e posterior Inquérito Civil, tombado sob o número
10.23.01.0139, visando apurar os fatos narrados, especialmente para que novos
produtos irregulares não fossem colocados no mercado de consumo e recolhimento
dos que já alcançaram os consumidores.

O MAPA, em seguimento, em documento intitulado


“Comunicação de Irregularidades Graves”, informa, ratificando a conduta
intrépida da empresa LATICÍNIOS SANTA MARIA LTDA – NATVILLE após ter
sido detectada a obra irregular, em fiscalização ocorrida em 09/11/2022, recebendo
intimação para suspensão imediata, conforme instruído no processo SEI nº
21054.001404/2022-52, deu continuidade, inclusive com equipamentos construídos à
revelia.

Informa o MAPA, relatando a última fiscalização, no dia


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16/05/2023: “(…) quando já estávamos encerrando as nossas atividades naquele


dia, visualizamos linhas (tubulações) comunicando a plataforma da empresa em
direção à fábrica que estava em reforma(leite UHT e produtos lácteos em pó).”
“(…) O fato nos chamou atenção de imediato, tendo em vista que, além da obra
ocorrer de forma irregular, ainda existia a possibilidade de nova planta estar em
funcionamento, o que seria algo muito grave, por se tratar de produtos
fabricados sem autorização do MAPA e sem inspeção prévia do órgão
responsável, o Serviço de Inspeção Federal.”

Sabemos que a requerida, em sua unidade de Sergipe, não tem


autorização para produzir leite UHT integral e desnatado e, quanto ao soro de leite
em pó, a autorização existe, mas para a fábrica da cidade de Canindé do São
Francisco e não em Glória, constituindo o SIF, conforme já fustigado, condição sine
qua non para comercialização e exposição do produto no mercado consumerista.

O MAPA narra detalhes da fiscalização: “(…) Frente aos dois


achados que se correlacionavam(rotulagem irregular e comunicação por linhas
de produtos entre as suas áreas da empresa) procedemos à fiscalização da nova
área, que estava em obras.” (…) a fábrica nova(construída à revelia, sem
autorização do MAPA), linha de comunicação entre ambas as fábricas e a
plataforma da fábrica antiga, de onde saía toda a matéria-prima utilziada para
fabricação do UHT e Produtos em Pó.”

E não é só, porém: “(...)iniciamos a fiscalização na nova área,


aonde existia a suspeita que poderia estar em funcionamento irregular. A todo
momento estávamos acompanhados por representantes da indústria. De
imediato percebemos que as entradas principais estavam bloqueadas- por
barricaas constituídas de tapumes de madeira(28713075) com o obejtivo de
obstruir os acessos e visavam embaraçar a ação fiscalizatória. Então, acessamos
a área pelo final da linha, por um depósito da empresa. De imediato localizamos
grande quantidaade de LEITE UHT INTEGRAL E DESNATADO DA MARCA
NATVILLE, os mesmos das fotos 28712901, bem como, embalagens primárias
de leite UHT e tampas plásticas prontas para uso. Também localizamos o
produto acabado SORO DE LEITE EM PÓ PARCIALMENTE

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DESMINERALIZADO 40%, com rotulagem do SIF 4502(empresa do mesmo


grupo) e insumos para fabricação de leite UHT, como estabilizantes(por
exemplo, citratos de sódio e fosfatos de sódio)”

Como se observa, Excelência, da narrativa fática até aqui


apresentada, a requerida não possui autorização para fabricar o Leite UHT integral e
desnatado na empresa localizada em Nossa Senhora da Glória, SIF 2669, a produção
de leite é autorizada para o SIF 549 , fábrica de União dos Palmares, em Alagoas,
assim como, na fábrica de Nossa Senhora da Glória, SIF 2669, não há autorização
para produção de soro de leite em pó desmineralizado 40%, essa autorização existe
apenas para a empresa da cidade de Canindé do São Francisco, SIF 4502, mas ambos
estavam sendo produzidos irregularmente com o SIF 2669, na fábrica de Nossa
Senhora da Glória e, pior, eram lançados os dois SIFs na rotulagem do Leite UHT
integral e desnatado, sem qualquer identificação do local de fabricação, o que é
proibido.

Os rótulos são elementos essenciais de comunicação entre


produtos e consumidores, sendo indispensáveis na oferta do produto, constituindo
falta gravíssima a sua ausência ou mesmo a disposição equivocada, capaz de induzir
o consumidor a erro, notadamente na hipótese de responsabilidade pelo fato do
produto, artigo 12 do Código de Defesa do Consumidor, emergindo a
responsabilidade supletória do comerciante quando o consumidor, eventualmente,
sofrer um dano e não puder ser identificado o fabricante, ou seja, a conduta irregular
da empresa não só potencializa o dano ao consumidor como também gera
responsabilidade dieta do fornecedor de serviço na cadeia produtiva, já que não se
consegue identificar o fabricante adequadamente.

Não existem desculpas ou evasivas para o fato narrado pelos


fiscais do MAPA, nem mesmo a escusa de que os produtos, especialmente o leite
UHT foram fabricados na fábrica de União dos Palmares e estavam aqui apenas
armazenados, pois, conforme narrativa dos fiscais: “(…) entramos na sala de envase
do leite UHT, na qual estava com todos os equipamentos instalados e ligados,
inclusive com os insumos utilizados na esterilização das embalagens primárias
de UHT(solução peróxido). Seguindo no fluxo reverso, adentramos na sala de

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tratamento térmico UHT, na qual o esterilizador ainda estava aquecido pelo


último uso e todos os equipamentos instalados e ligados. Nesta área existe um
tanque alsafe, no qual estava estocado o leite UHT “a granel” pronto para
envase, e mais quatro tanques, provavelmente de leite padronizado(três deles
continham leite). Encontramos sacolas com insumos junto à plataforma destes
tanques. Dessa forma restava identificada a fabricação irregular de leite UHT
pela indústria e a suspeita inicial havia sido confirmada.”

Ao arremate, finaliza o MAPA, com relação a fabricação


imprópria do leite UHT, narrando a fiscalização na empresa, ocorrida em 16/05/2023:
“(…) além da ausência de adoção formal do autocontrole auditável, sem os
correspondentes registros determinados pela norma, contrariando assim a
descrição do processo produtivo, a elaboração irregular se deu em cumprir
minimamente procedimentos pré-estabelecidos de manipulação segura, com o
fim de garantir a inocuidade do produto, posto que, fora obtido em ambiente
ainda em construção, tudo isso aliado à precária higiene do ambiente, pela
movimentação de pessoas e materiais alheios a produção, elevando o risco de
contaminação durante o fluxo, situação agravada pela ausência de barreira
sanitária instalada, que é o primeiro controle determinado pela norma para
mitigação da contaminação cruzada na elaboração dos produtos durante a
circulação de colaboradores entre áreas limpa e suja.”

Ainda importa transcrever as informações apresentadas pelos


fiscais do MAPA, com relação ao soro de leite em pó, quando afirmam:
“(...)Configurada a produção irregular de leite UHT, nos direcionamos para a
área de fabricação de produtos lácteos em pó. As entradas estavam fechadas
com tapumes de madeira, provavelmente para dificultar o acesso d fiscalização e
a identificação da irregularidade pela nossa equipe.” “(…) De imediato
localizamos produto(provavelmente soro em pó) dentro da parte baixa da torre
no leito vibrofluidizador e no compartimento da peneira.(…)” “(…) Também
localizamos a instalação de vapor ativa demonstrando que a a´rea de fato estava
em uso pela indústria.”

Por todos os cantos emergem irregularidades que não podem ser

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espancadas, até porque, diante da vasta quantidade de achados físicos pelos agentes
do MAPA, com registros fotográficos e por vídeos existentes, ressaindo a forma
nítida das desconformidades praticadas pela requerida, em sua fábrica na cidade de
Nossa Senhor ada Glória; ainda foram encontrados registros documentais dos
processos de fabricação de leite UHT e soro de leite em pó, que, segundo o MAPA,
“vão desde controles de fabricação de UHT, fechamentos diários, relatórios de
turno, dentre outros.”
RISCO IMINENTE À SAÚDE PÚBLICA E AOS INTERESSES DOS
CONSUMIDORES
EXTENSÃO E CIRCUNSTÂNCIAS DOS FATOS – AUSÊNCIA DE
PROGRAMAS DE AUTOCONTROLE

RESPONSABILIDADE DA EMPRESA PELA QUALIDADE HIGIÊNICO-


SANITÁRIA E TECNOLÓGICA DOS PRODUTOS

Diante das irregularidades expositadas, o MAPA emitiu Termos


de Intimações à empresa Laticínios Santa Maria Ltda-Natville, SIF 2669, entre eles o
002/1954/2023, por indícios relevantes de insegurança alimentar, com risco à saúde
dos consumidores, sendo necessárias adoção de medidas cautelares informadas, já
que não houve a prática formal de autocontrole auditável, situação agravada pela
ausência de barreira sanitária instalada no ambiente fabril, que constitui, conforme os
agentes de fiscalização, “o primeiro controle determinado pela norma para
mitigação da contaminação cruzada na elaboração dos produtos, barreira esta
que tem por objetivo bloquear a circulação livre de colaboradores entre áreas
limpa e suja”.
A importância dos programas de autocontrole preditos está
atrelada a necessidade de garantia de qualidade higiênico-sanitária e tecnológica dos
produtos, através da implantação de regular Sistema de Controle de Qualidade capaz
de antecipar a materialização dos perigos à saúde pública, gerando registro de
informações, viabilizando o controle continuado e periódico pelo Serviço de
Inspeção.
O que informa o MAPA, em ofício endereçado à empresa,
tombado sob o número 32/2023/INSP-SE/2SIPOA/DIPOA/SDA/MAPA, é
justamente o contrário, in verbis: “(…) o que se viu durante a apuração in loco, foi
um desarrazoado comportamento da empresa no sentido de negar os fatos,
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principalmente pela afirmação de que não produzira o produto apreendido no


estabelecimento. S.I.F 2669 e o que fora apreendido pela Inspeção tratava-se de
produtos oriundos de estabelecimento autorizado na forma da lei, pertencente
ao mesmo grupo(S.I.F 549) e que ali foram encontrados porque a empresa
realizava uma manobra fiscal para efeito de adaptar-se ao fisco, com vista a
diminuir o impacto na incidência dos impostos.”
Entretanto, continua: “(…) Não foi difícil a argumentação cair
por terra, pois a empresa não conseguiu escamotear por muito tempo, nem
manter a burla à inspeção, como ficou constatado pela descrição abaixo: A
empresa tentou obstruir o local onde vinha produzindo e armazenando irregularmente
produtos, com barricadas e isolamento dos acessos principais. Os insumos utilizados na
produção do Leite UHT foram encontrados em caixas de isopor, presos por equipamentos
pesados encaixotados sobrepostos em paredões, camuflados em equipamentos, materiais e
ferramentas, dentro do almoxarifado de manutenção mecânica, após minuciosa busca. Os
registros referentes ao quantitativo produzido, foram localizados em caixas de madeira da
mesa da sala de controle do almoxarifado estabelecimento.”
Os agentes do MAPA, em inspeção na empresa solicitou os
registros gerados pelo monitoramento e verificação, previstos nos autocontroles
necessários da empresa ou outro documento de suporte, mas nada foi apresentado,
nem mesmo as análises laboratoriais básicas de rotina, absolutamente necessárias e
legalmente exigidas para controle da seleção e qualidade do leite e derivados formam
exibidas, nem mesmo identificadas.
Segundo o MAPA, a empresa “não registrou captação do leite,
em obediência às Instruções Normativas nº 76/2018 e nº 77/2018 do MAPA, bem
como omitiu a entrada da matéria-prima, sua fabricação e comercialização no
Sistema de Informações Gerenciais do Serviço de Inspeção Federal do MAPA
(PGA-SIGSIF), pois supostamente sabiam da ilegalidade que praticavam, posto
que, o registro formal só pode ser inserido na plataforma se os produtos fossem
autorizados e inspecionados pelo MAPA.”
O que se vislumbra, Excelência, é a total ausência de todos os
elementos de controle exigidos pelas normas regulamentadoras para garantia da
qualidade higiênico-sanitária dos produtos expostos ao consumo, não sendo possível
assegurar, neste diapasão, a inocuidade, qualidade e integridade dos produtos em
comento, gerando o potencial risco de dano à saúde pública, atingindo diretamente os
consumidores.
A empresa, em resposta ao Procedimento administrativo do
MAPA e respondendo a intimação retromencionada, em 19/05/2023 informou que
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foram adotadas providências com a suspensão imediata da construção, interrupção de


comercialização dos produtos e o envio de comunicação via e-mail para 10 clientes
identificados que receberam os lotes do produto, objeto da matéria versada, aduzindo,
ainda, sobre a Intimação nº 002/1954/2023 que a mesma foi emitida em razão de a
empresa fabricar e comercializar leite UHT, integral e desnatado, sem registro no
MAPA, mas isso não importa em dizer que o produto é impróprio ao consumo,
implicando em seu recolhimento.

A requerida informa, mesmo diante de todas as provas


evidenciadas, produzindo leite UHT integral e desnatado e soro de leite em pó
desmineralizado 40%, sem possuir SIF, utilizando o registro de outras empresas, que
não configura efetivamente risco ao consumidor e adulteração correspondente da
rotulagem, aduzindo: “(…) não estamos diante de nenhuma das hipóteses que
admita a exigência de recolhimento de produtos, pois, como já dito, o
recolhimento só se dará quando os produtos representem riscos à saúde pública
ou que tenham sido adulterados. Dito isto, informamos, desde já, que os
produtos comercializados pela LATICÍNIOS SANTA MARIA LTDA não
representam qualquer risco à saúde pública e tão pouco foram adulterados,o que
inibiria qualquer exigência de recolhimento do produto(…)”

Ora, assim, diante da intensidade do refute formalizado, fica


evidenciado que a empresa não concorda com o recolhimento do produtos impróprios
no mercado de consumo, já que considera inexistente o risco à saúde pública,
explicando talvez a razão pela qual houve devolução insignificante de produtos,
diante da estimativa inicial da empresa de ter produzido em torno de 10.000.000(dez
milhões) de litros de leite de forma irregular, hoje já atingindo o volume aproximado
de quase 13.000.000(treze milhões) de litros.

Em Termo de Intimação nº 06/1954/2023, lançado pelo MAPA à


empresa, a motivação descrita é: “Por fabricar e comercializar o produto Leite
UHT(integral e desnatado) sem os devidos controles higiênicos-sanitários, devido
às condiç~eos precárias da fábrica de Leite UHT, ainda em fase de construção,
sem barreira sanitária, e pela ausência de programa de autocontrole
atualizados, validados e implantados que comprovem o atendimento aos

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requisitos higiênico-sanitários e tecnológicos estabelecidos no Decreto nº


9.013/2017 e suas atualizações, bem como em normas complementares, com
vistas a assegurar a inocuidade, a identidade, a qualidade e a integridade dos
seus produtos, desde a obtenção e a recepção da matéria-prima, dos ingredientes
e dos insumos, até a expedição destes, não podendo, assim, garantir a segurança
dos seus produtos, podendo causar RISCO IMINENTE À SAÚDE PÚBLICA E
AO INTERESSE DOS CONSUMIDORES conforme amplamente. A título de
exemplificação, podemos citar alguns achados in loco que coadunam com as não
conformidades apontadas:

* Ausência das análises de recepção da matéria-prima, que


são realizadas antes da recepção do leite cru refrigerado, para fins de avaliação
da sua conformidade e aptidão como o consumo humano.

* Não realização das análises de fraudes do leite, como as


adições de consdervantes/inibidores do crescimento microbiano(por exemplo
formol e peróxido); neutralizantes de acides (por exemplo, soda cáustica);
reconstituintes da densidade e do índice crioscópico, que são legalmente exigidos
e sem os quais é impossível garantir que substâncias estranhas à sua composição
(que são historicamente utilizadas para fraudar este produto) estejam presentes,
substâncias essas que podem causar graves riscos à saúde dos consumidores.

* Não realização das análises de resíduos de produtos de uso


veterinário e contaminantes, em especial os produtos de uso veterinário como
antibióticos que deixam resíduos no leite e tornam este produto impróprio para
o consumo humano e animal – causa comum de condenação da matéria-prima
junto às indústria de laticínios.

* Não realização das análises da Rede Brasileira de


Laboratórios de Controle da Qualidade do Leite -RBQL (laboratórios
controlados pelo MAPA) dos quais destacamos as de resíduos de produtos de uso
veterinário, as contagens de células somáticas (neste caso, principalmente células
inflamatórias presentes em maior número no leite em vacas com infecção da
grândula mamária, principalmente mastite subclínica) e as de contagem padrão

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em placas (análise microbiológica que avalia o grau de contaminação do leite,


decporrente principalmente de falhas procedimentais e de higiene ao longo da
cadeia produtiva);

*Não realização de controle junto às propriedades rurais


para fins de garantia das exigências trazidas pelo Regulamento Técnico do
Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e da Tuberculose
animal – PNCEBT, que determina que o leite cru que provém diretamente de
propriedades rurais somente poderá ser recebido por estabelecimento de leite e
derivados mediante a regularidade da vacinação do rebanho contra a
brucelose(zoonose clássica – doença transmitida entre animais e pessoas);

*Ausência de comprovação da procedência/origem do leite


utilizado como matéria-prima junto à fabricação do leite UHT, causando perda
irreversível da sua identificação e rastreabilidade, não podendo assim garantir
nenhum outro controle realizado pela indústria;

*Ausência de controle formais do uso dos seus insumos,


materiais de higiene e embalagens junto à linha de fabricação do leite UHT,
como suas fichas técnicas e a regularidade junto ao órgão regulador da saúde
(ANVISA) com vistas a garantir a sua utilização em indústria de alimentos;

*Ausência dos controles formais de esterilização das


embalagens primárias cartonadas junto à envasadora de leite UHT, bem como
do próprio sistema, para garantir a sua condição de envase asséptico;

* Ausência dos controles formais de integridade das


embalagens primárias do leite UHT após o envase, com vistas a garantir a
eficiência da hermeticidade;

* Ausência de análises laboratoriais externas dos seus


produtos acabados com o objetivo de validação dos seus processos produtivos,
em especial quanto aos critérios microbiológicos, físico-químicos e de tolerância;

* Ausência de estufa de incubação para leite UHT, bem como


dos controles de tempo e temperatura relativos a esta etapa;
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* Ausências das análises pós incubação, exigidas pela RTIQ


do produto, dentre elas as de modificações que alteram as embalagens,
estabilidade ao etanol 68%v/v; variação de acidez em amostra embalada e não
incubada e características sensoriais;

* Ausência de self life

* Ausência de controle relativo a contaminação cruzada, em


pontos específicos presentes na linha de fabricação do leite UHT(procedimentos
sanitários operacionaia);

* Ausência de implantação do PPHO(procedimentos


descritos, desenvolvidos, implantados, monitorados e verificados pelo
estabelecimento, com vistas a estabelecer a forma rotineira pela qual o
estabelecimento evita a contaminação direta ou cruzada do produto e preserva
sua qualidade e integridade, por meio de higiene, antes, durante e depois das
operações) junto à linha de fabricação de leite UHT;

* Ausência de controles de monitoramento da água de


abastecimento para que seja garantida a sua potabilidade, em pontos de coleta
na fábrica de leite UHT;

*Vedações deficientes junto a fábrica de UHT, permitindo a


entrada de poeira e demais partículas dispersas no ar, em especial no ambiente
de obras no qual a empresa se encontrava no momento da verificação oficial.
Algumas partes estavam fechadas com lonas plásticas e tapumes de madeira;

* Ausência de implementação do APPCC para o leite


UHT(sistema que identifica, avalia e controla perigos que são significativos para
a inocuidade dos produtos de origem animal) podendo ocasionar, sem o referido
controle, a presença de perigos físicos, químicos e microbiológicos junto ao
produto final que podem causar riscos diretos à saúde dos consumidores, sendo
este um dos principais programas de autocontrole de indústria de alimentos,
exigido pela norma vigente para todas as empresas registradas junto ao Serviço
de Inspeção Federal;

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* Ausência de barreira sanitária junto às entradas de


funcionários da fábrica de leite UHT.”

Como se observa, Excelência, para fins de validação do processo


produtivo, alguns controles básicos deveriam ser realizados pela requerida, visando a
correção dos seus processos produtivos com garantia de qualidade e da aptidão de
suas matérias-primas e dos seus produtos para consumo humano, por isso, por todos
os cantos, existe sim risco à saúde pública, vez que o leite UHT, integral e desnatado
foi fabricado, até o dia da fiscalização, sem passar pelas etapas citadas na Intimação
do Mapa à empresa, não possuindo inspeção prévia do Serviço de Inspeção federal.

Ainda em expediente encaminhado à requerida, o MAPA


informa: “Além do RISCO À SAÚDE PÚBLICA, ficou evidente que a indústria
também, em tese, ADULTEROU os seus produtos, por expô-los ao consumo
humano com a aparência e as características gerais de outro produto registrado
junto ao DIPOA/MAPA e que se denominava como este sem que o seja, ao
utilizar embalagens primárias com a indicação dos SIFs 549 e 2669, sem que o
fabricante do produto fosse claramente identificado na rotulagem por meio de
texto informativo, código ou outra forma que assegure a informação correta,
levando os consumidores e a equipe de fiscalização ao engano, trazendo uma
falsa sensação de legalidade de um um produto fabricado de forma precária e
sem autorização do órgão de controle, fato este identificado durante a
verificação oficial do local, quando a empresa alegou inicialmente que todo o
produto com a rotulagem dupla(dos SIFs 549 e 2669), objeto das ações
cautelares, havia sido fabricado no SIF 549(Unidade Natville de Alagoas, a que
possui autorização legal para fabricação do leite UHT) apresentando, inclusive
notas fiscais de transferência, quando na verdade ficou comprovado que foram
de produzidos pelo SIF 2669(que não possui esta autorização) e a rotulagem
irregular foi utilizada possivelmente para “esquentar” o produto fabricado sem
autorização.”

Importante, ainda, destacar que a requerida, tentou de todas as


formas alegar que os produtos encontrados pelo MAPA, em fiscalização, eram
produzidos na cidade de Alagoas(Leite UHT) e na fábrica de Sergipe, em Canindé do

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São Francisco(soro de leite em pó) e, com relação ao leite UHT, chegaram a informar
que: “(…) no sentido de burlar e embaraçar a fiscalização, tentou demonstrar
por fotos de embalagens dos produtos, que a produção sim, provinha do SIF 549,
de Palmares/AL, argumentando que a numeração da máquina de envase Tetra
Pak “displicentemente” teve, por equívoco, o número trocado, o que teria gerado
a confusão.”

Enfim, “(…) quando não conseguiram mais prosperar


recorrendo às contraditórias informações repassadas à inspeção, trouxeram a
informação de que sim, de forma irregular, produziram na planta não
autorizada aproximadamente 10 milhões de litros de leite e em sequência,
apresentaram um relatório dos produtos para recolhimento, um total ainda não
finalizado de 12 milhões de litros comercializados”

Assim, não há mais necessidade de asserções pertinentes ao


assunto posto, inexistindo dúvidas quanto ao risco sanitário, evidenciando risco à
saúde pública, atingindo o consumidor de forma direta, sem nem mesmo ter
conhecimento dos fatos graves perpetrados pela empresa.

Todo o cerne da questão reside na necessidade de recomposição


do dano e, evidentemente a necessidade de recolhimento dos produtos distribuídos e
que alcançaram, certamente, os consumidores, vez que, conforme assertivas dos
autos, a produção teve início em 01/02/2023 até 16/05/2023, com extensão ainda de
validade do produto, sendo necessário não somente o recolhimento, mas também o
recall, na forma da lei.

Mesmo com as medidas já adotadas administrativamente pelo


MAPA, a grande preocupação do autor emerge da pequena quantidade de leite
retirado do mercado e, embora a empresa alegue em seu material informativo que
providenciou o recolhimento, o mesmo atingiu apenas a rede de fornecedores da
cadeia produtiva e, mesmo assim, o documento de apresentação informa assim: “(…)
LATICÍNIOS SANTA MARIA LTDA(NATVILLE), inscrita no CNPJ
04.439.268/0001-85 e SIF2669, vem informar que em razão de fiscalização
realizada pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento(MAPA) em

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seu estabelecimento entre os dias 17 e 20 de maio, foram constatadas


irregularidades na produção dos leites UHT integral e desnatado de 1 litro,
produzido entre 01 de fevereiro e 17 de maio de 2023. Por isso orientamos que
comercialização e consumo deve ser imediata e cautelarmente interrompida.
Em razão disso, vimos por meio desta convocar voluntariamente o recolhimento
dos produtos para que entrem em contato conosco por meio do e-mail
recolhimento@natville.com.br para substituição dos produtos sem custo para o
cliente.”

Ora, Excelência, recolhimento de produto que importe em risco à


saúde pública não é realizado dessa forma, “convocando voluntariamente” os seus
distribuidores e fornecedores, mas realizando ações pró-ativas, promovendo o
recolhimento com indicação de reembolso correspondente, a medida adotada não se
garante, eficaz para retirada do produto do mercado o mais rápido possível, já que
quase todos devem permanecer com data de validade não expirada.

Recolhimento importa em plano estabelecido de ação imediata


do fabricante, nos moldes definidos no artigo 8º e seguintes da RDC 655/2022, que
dispõe sobre o recolhimento dos alimentos e sua comunicação à ANVISA e aos
consumidores, mediante mensagens de alerta.

Na hipótese dos autos, constituindo risco grave à saúde pública,


por todas as informações apresentadas pelo MAPA, colhidas em fiscalização
realizada, ficou evidenciado que os consumidores já adquiriram e até já utilizaram o
produto colocando no mercado de forma irregular pela requerida, portanto, não basta
o recolhimento nos fornecedores, mas também se faz necessária a mensagem de
alerta, com plano de mídia imediato para livrar o consumidor de qualquer agravo a
sua saúde.

DA IDENTIFICAÇÃO DOS LOTES – COMUNICAÇÃO À ANVISA


RECOLHIMENTO – NECESSIDADE
MENSAGEM DE ALERTA – INFORMAÇÕES AOS CONSUMIDORES

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A primeira condição para cumprimento das exigências da


RDC 655/2022 da ANVISA, na hipótese versada de risco à saúde do consumidor, por
ter a requerida colocado no mercado de consumo do Estado de Sergipe e em outros
estados da federação produtos impróprios, leite UHT integral e desnatado e soro de
leite em pó desmineralizado 40% é a definição dos lotes e também a identificação,
com endereço, de todos os estabelecimentos envolvidos na aquisição e distribuição
dos produtos.
Segundo informações dos autos administrativos no MAPA,
a requerida informou que mandou comunicado, por e-mail e fez contato com as
empresas adquirentes dos produtos, não fazendo menção a nenhuma mensagem de
alerta ao consumidor, resistindo, ao processo, vez que entende que, na hipótese
versada, não há risco a saúde pública, como se bastasse a simples realização de
exame para análise dos produtos apreendidos cautelarmente, por amostragem, para
isenção de responsabilidade por eventuais riscos pela produção irregular, lembrando
que a empresa é reincidente em outras práticas denunciadas pelo MAPA e fabricou
“clandestinamente”, já que não havia autorização dos órgãos sanitários.

Causou preocupação o fato de o MAPA, em documento


apresentado à empresa, adunado aos autos, informar que: “(…) detém informações
de conduta recente praticada pela administradora em meio às obrigações
compromissadas e comunicadas ao Ministério da Agricultura, orientando os
clientes no sentido de desconsiderar o comunicado de recolhimento dos
produtos, cancelando assim o comando de segregação, antes emitido pela
empresa, o que requer diligências mais acuradas por parte do Órgão, pois
configuraria simulação de Recall, para que possa apurar a informação e decidir
caso constatada a falta sobre os desdobramentos frente a gravidade do fato.”

Na hipótese versada, não basta o recolhimento dos produtos


das unidades distribuidoras, já que os consumidores também foram atingidos pela
colocação do produto no mercado, havendo necessidade de recall, com a mensagem
de alerta, de forma pública, garantindo assim, que a informação consiga alcançar os
consumidores adquirentes dos produtos, na condição de destinatário final.

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De acordo com as regras insertas no Código de Defesa do


Consumidor, o fornecedor não poderá colocar no mercado consumerista produto que
sabe ou deveria saber ser capaz de provocar riscos à saúde do consumidor e, tendo
conhecimento da existência do potencial defeito, após a inserção do produto no
mercado, tem a obrigação de promover a comunicação do fato às autoridades e aos
consumidores, providenciando o recolhimento, adotando a rastreabilidade ao longo
da cadeia produtiva e promovendo o recall, fazendo chegar ao consumidor a
informação, minimizando as suas consequências.

Tanto o recolhimento como o recall são instrumentos de


contenção de eventual dano, contudo o recolhimento dos produtos representa a
segurança sempre que forem introduzidos no mercado sem o devido controle de
qualidade, segurança e em desacordo com a legislação, evidenciando potencial risco à
saúde pública, como na hipótese tratada nos autos, já o recall, sempre se faz
necessário, quando a abrangência do problema ultrapassa os canais de distribuição e
já atingiu os consumidores, estes já adquiriram os produtos e alguns até já
consumiram.
O Ministério Público, assim que tomou conhecimento dos
fatos, diante da gravidade apontada, oficiou o MAPA para que pudesse identificar os
produtos, por lotes, viabilizando o acompanhamento das ações pertinentes por
rastreabilidade, sendo informado que: “(…) Esclarecemos que, como se tratou de
uma produção irregular, sem a devida formalização por parte da empresa nas
plataformas oficiais do MAPA, quanto aos dados de produção, bem como não
foram apresentados os registros exatos aos servidores durante a fiscalização, as
informações que foram apuradas pela nossa equipe é que o produto foi
fabricado na planta de Nossa Senhora da Glória-SE pelo menos a partir de
janeiro de 2023. Quanto à numeração específica do lote, a empresa traz em suas
embalagens a descrição "L1", conforme achados in loco, o que não faz muita
diferença ao ser interpretada isoladamente, para fins de rastreabilidade e
identificação dos produtos. Dessa forma, para que os produtos possam ser
identificados de forma correta, devemos levar em consideração o período de
fabricação, que ocorreu entre os meses de JANEIRO ATÉ O DIA 17 DE MAIO
DE 2023(conforme achados in loco). Ressaltamos que o produto pode ser Leite

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UHT Integral(embalagem predominantemente azul e branca) ou Leite UHT


Desnatado (embalagem predominantemente verde e branca)”
Pouco importa se a infração ocorreu por descuido, falha
operacional ou descaso com a saúde do consumidor (culpa em sentido lato). Evitar o
defeito do produto é dever legal de todos os fornecedores da cadeia de produção, sob
pena de responsabilidade pelo fato do produto.

Dos fatos narrados, decorrem diversas consequências jurídicas,


não se mostrando precoce qualificar como desidiosa a conduta da empresa para com
os consumidores, já que, ignorando as consequências desses atos para a Saúde
Pública e, a despeito de já ter sido intimada para suspender a obra da fábrica até
aprovação de projeto pertinente, “optou” por manter a conduta, como fartamente
comprovado, chegando ao absurdo de produzir na planta “interditada” e colocar no
mercado de consumo produtos cuja não conformidade e segurança se apresentam
desde o nascedouro, já que não há S.I.F para produção de leite UHT e soro de leite
em pó desmineralizado 40% na fábrica localizada na cidade de Nossa Senhora da
Glória.

O Recall, no caso em epígrafe é absolutamente necessário,


porque o produto já foi distribuído ao consumidor, bastando se bispar da identificação
dos lotes por datas, conforme o MAPA, todos os produtos, Leite UTH integral e
desnatado e soro de leite em pó demineralizado 40%, produzido entre janeiro/2023 a
17/05/2023, já tendo chegado ao consumidor final, cabendo a mensagem de alerta
para: proteger a saúde pública, informando aos consumidores da presença no
mercado de um alimento potencialmente inseguro; facilitar a identificação eficaz e
eficiente dos produtos afetados e promover a remoção da cadeia de distribuição,
dando a destinação adequada, sob orientação dos órgãos técnicos.

A rastreabilidae necessária, aplicada a segurança de alimento,


possui a serventia de se poder recuperar toda a história das etapas de fabricação,
distribuição e utilização dos produtos, visando garantir, com mais precisão, o alcance
dos instrumentos de remoção e recall, razão pela qual é de fundamental importância a
rotulagem precisa dos produtos porque, através dela, identificamos informações de
rastreabilidade, a exemplo do número de lote e código do produto.
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Mais uma vez, a irregularidade praticada pela empresa dificulta o


processo, vez que, conforme as assertivas do MAPA, o produto leite UHT, integral e
desnatado possui aposição de dois SIFs, o da fábrica da cidade de Nossa Senhora da
Glória e a de União dos Palmares/AL, sem identificação precisa do real fabricante e,
com relação ao soro de leite em pó, o SIF informado é o 4502, referente a fábrica da
cidade de Canindé do São Francisco.

Ressalva o autor que algumas medidas emergenciais foram


adotadas pelo MAPA, diante da gravidade do problema, e uma delas foi justamente,
utilizando a rastreabilidade, determinar o recolhimento dos produtos, conforme
assertivas: “(...)A rastreabilidade e o recolhimento dos produtos envolvidos,
dentre outras exigências, foram determinadas pelo TERMO DE INTIMAÇÃO
Nº 002/1954/2023 (28646150), no dia 17/05/2023, e o seu prazo de cumprimento
era de até 24 horas.”

E, mais: “(...)A quantidade de produtos fabricados, bem como


o destino das expedições consta no relatório de rastreabilidade apresentado pela
indústria (28998390), no qual é possível inferir uma quantidade total de
12.687.108 litros (doze milhões, seiscentos e oitenta e sete mil, cento e oito litros)
de Leite UHT Integral e Desnatado, distribuídos para inúmeros Estados da
Federação.”

Entretanto, Excelência, veja o que diz o MAPA, com relação a


quantidade recolhida: “(...)Quanto ao recolhimento dos produtos pela indústria,
em que pese a determinação oficial pelo SIF local para que fosse realizada a
partir de 17/05/2023 (28646150), conforme verificado em nossa última visita ao
estabelecimento, que ocorreu no dia 02/06/2023, apenas 2 pallets com produtos
foram recolhidos, totalizando 2.040 litros de Leite UHT,
APROXIMADAMENTE 0,016% DO VALOR TOTAL apresentado por eles. Ou
seja, em mais de 15 dias, este foi o resultado do recolhimento até a presente data,
valor praticamente insignificativo frente ao total de mais de 12 milhões de litros
de leite UHT.”

Isso acontece pela ineficácia da política de recolhimento da

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fábrica, SIF 2669, porquanto, apenas informa o problema aos distribuidores,


solicitando que entrem em contato com serviço de atendimento, quando a medida
deve importar em ação, diligência efetiva da empresa, para retirar os produtos do
mercado de consumo, ressaindo a necessidade de intervenção judicial pretendida.

Conforme definido em RDC 655/2022 da ANVISA, “a


mensagem de alerta deve ser elaborada com informações concisas, primando pela
clareza e objetividade, de modo a evitar o uso de termos técnicos, informações
ambíguas ou insuficientes ao entendimento do consumidor”, conforme preceitua o
artigo 31 da predita Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA, devendo o texto
da mensagem conter, no mínimo: “denominação de venda, marca, lote, prazo de
validade, número de regularização junto ao órgão competente, quando aplicável,
conteúdo líquido e tipo de embalagem; motivo do recolhimento; riscos ou agravos à
saúde dos consumidores; recomendações aos consumidores, contemplando os locais
disponibilizados para reparação ou troca do produto; telefone e/ou outros meios de
contato de atendimento ao consumidor; e imagem do produto.”

Importante, ainda, descrever que a mensagem de alerta deve ser


veiculada às expensas da empresa interessada e dimensionada de forma a garantir a
informação aos consumidores, com precisão, acerca dos lotes dos produtos objeto do
recolhimento, a saber o leite UHT, integral e desnatado e o Soro de Leite em Pó
desmineralizado 40%, fabricados, segundo o MAPA, fabricados, segundo o MAPA,
em resposta ao pleito autoral, de “JANEIRO DE 2023 ATÉ O DIA 17 DE MAIO DE
2023”

Vejamos o que informa o Código de Defesa do Consumidor:

“Art. 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de


consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de
nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.
1° O fornecedor de produtos e serviços que, posteriormente à sua introdução no
mercado de consumo, tiver conhecimento da periculosidade que apresentem,
deverá comunicar o fato imediatamente às autoridades competentes e aos
consumidores, mediante anúncios publicitários.

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2° Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo anterior serão


veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do fornecedor do produto
ou serviço.

Apenas para melhor avaliar o procedimento adotado pela


empresa, após verificação dos fatos, com a fiscalização do MAPA e o recebimento da
intimação para recolhimento dos produtos, houve adoção de algumas ações pueris,
sem qualquer controle específico, vez que, entendendo a empresa que seus produtos
não apresenta risco à saúde pública, não fez comunicação a ANSIVA, que somente
tomou conhecimento através dos agentes do MAPA, portanto, não há controle sobre
as ações de recolhimento dos produtos.

Isso fica claramente demonstrado quando comparamos a


quantidade de leite colocada no mercado de consumo, quase 13.000.000(treze
milhões) de litros e o que foi recolhido, segundo o MAPA, até o dia 02/06/2023,
apenas 2 pallets com produtos, totalizando 2.040 litros de Leite UHT,
APROXIMADAMENTE 0,016% DO VALOR TOTAL .

Conforme a RDC 655/2022 da ANVISA, a requerida deveria


efetuar o recolhimento de lotes dos produtos que representam risco ou agravo à saúde
do consumidor, implicando a retirada do mercado em imediata suspensão da
comercialização dos respectivos lotes dos produtos e a segregação das unidades em
todas as empresas da cadeia produtiva e, partir dessa diligência, iniciar o
procedimento de recolhimento e comunicar o fato à Anvisa, conforme procedimentos
estabelecidos no Capítulo III da Resolução retromencionado, mas, o que na verdade
fez a requerida foi encaminhar e-mails aos distribuidores, não havendo comprovação
efetiva se todos receberam, solicitando o comparecimento para substituição dos
produtos, conforme trecho da nota apresentada: “convocar VOLUNTARIAMENTE
o recolhimento dos produtos para que ENTREM EM CONTATO CONOSCO
por meio do e-mail recolhimento@natville.com.br para substituição dos
produtos sem custo para o cliente.”(Destaque nosso)

Como se observa não houve, até a presente data, ação efetiva da


empresa, fabricante, visando o recolhimento dos produtos, até porque, de forma

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explícita, informa que inexiste risco à saúde pública, mesmo diante de todas as
considerações apresentadas pelo MAPA.

O objetivo do recall é proteger o consumidor de acidentes


ocasionados por defeitos. Um dos aspectos mais relevantes é a ampla e correta
divulgação dos avisos de risco de acidente na mídia (jornal, rádio e televisão), com
informações claras e precisas quanto ao objeto do recall, descrição do defeito e
riscos, além das medidas preventivas e corretivas que o consumidor deve tomar.

Estamos tratando de produtos que foram fabricados sem a


execução de BPFs – Boas Práticas de Fabricação, conforme relata o MAPA, que é
fundamental para promover a qualidade das operações interna, garantindo
segurança ao consumidor final. As diretrizes vão desde o projeto das instalações
industriais, passando pelas condições dos insumos, é preciso seguir tudo com
muito critério, pois qualquer inadequação pode ocasionar sérios transtornos a
saúde dos consumidores.

É justamente disso que estamos tratando, produtos que foram


fabricados em planta não autorizada, utilizando SIFs de outras empresas, espaço
ainda em obras, sem controle de qualidade e segurança para o fábrico, portanto, a
impropriedade dos produtos nasce quando de sua fabricação, induzindo ao
entendimento de potencial risco à saúde pública, não necessariamente devendo ser
realizado exames laboratoriais nos produtos para definição de sua nocividade, a
simples colocação dos produtos no mercado de consumo, quando fabricados
clandestinamente, já importa em risco.

Evitar inconformidades, portanto, é uma questão de saúde


pública, por isso a importância das Boas Práticas na fabricação dos produtos,
justamente para que sejam empreendidos checklists de verificação periódica,
instruções de trabalho, Procedimentos Operacionais Padrão (POPs) e inspeções de
qualidade, ou seja, a necessidade de implementação tem a finalidade de prevenir
perigos biológicos, químicos e físicos nos alimentos.

Importante destacar que, no caso da requerida, segundo o MAPA


não havia nem mesmo “(…) implantação do PPHO(procedimentos descritos,
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desenvolvidos, implantados, monitorados e verificados pelo estabelecimento,


com vistas a estabelecer a forma rotineira pela qual o estabelecimento evita a
contaminação direta ou cruzada do produto e preserva sua qualidade e
integridade, por meio de higiene, antes, durante e depois das operações) junto à
linha de fabricação de leite”

Por todos os cantos emerge a potencialidade do risco à saúde


pública, sendo absolutamente necessárias as ações de recolhimento e o recall,
objetivando evitar danos aos consumidores pelo considerável risco de contaminação
dos produtos. Isto se justifica pelo fato de que a irregularidade na fabricação dos
produtos, representa desvios de qualidade, os quais motivaram as ações
retromencionadas. Os produtos já apresentam irregularidades no seu nascedouro, não
sendo aceitável que se aguarde a ocorrência do defeito, ensejando a responsabilidade
pelo fato do produto e, mais grave, se de fato houver a contaminação informada pelo
MAPA, consumidores serão atingidos de forma imediata, não só como destinatários
dos produtos, mas quando adquirem produtos outros confeccionado com o leite UHT,
integral ou desnatado e soro de leite em pó desmineralizado 40%, produzidos sem a
segurança necessária.

DOS RISCOS SANITÁRIOS – EVENTUAIS DANOS AOS CONSUMIDORES


CORREÇÃO NECESSÁRIA

A Constituição da República Federativa do Brasil define, como


direito fundamental, a defesa do consumidor, senão vejamos:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de


qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do
direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: XXXII - o Estado
promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor;” (g.n.).

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Perceba, Excelência, que o comando é impositivo, e não uma


mera diretiva, razão pela qual se conclui que ao Estado cabe a defesa do consumidor,
na forma da Lei, in casu, o Código de Defesa do Consumidor.

De outro giro, a CRFB/88, no art. 170, determina que a ordem


econômica seja orientada pelo princípio da defesa do consumidor, senão vejamos:

“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização


do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os
ditames da justiça social, observados os seguintes
princípios: V - defesa do consumidor;”

Logo, a atuação empresarial na ordem econômica deve ser


pautada pela defesa do consumidor, sendo esta, portanto, um limite ao livre
desempenho daquelas atividades.

O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 6º, prevê que:

“Art. 6º São direitos básicos do consumidor: I - a


proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos
provocados por práticas no fornecimento de
produtos e serviços considerados perigosos ou
nocivos; II - a educação e divulgação sobre o consumo
adequado dos produtos e serviços, asseguradas a
liberdade de escolha e a igualdade nas contratações; III
- a informação adequada e clara sobre os diferentes
produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade
e preço, bem como sobre os riscos que apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e
abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais,
bem como contra práticas e cláusulas abusivas ou
impostas no fornecimento de produtos e serviços; V - a
modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam
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prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de


fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas; VI - a efetiva prevenção e reparação de
danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e
difusos; VII - o acesso aos órgãos judiciários e
administrativos com vistas à prevenção ou reparação de
danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou
difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa
e técnica aos necessitados; VIII - a facilitação da
defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do
ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação
ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências; IX – (Vetado); X - a
adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em
geral.”

Tal dispositivo guarda estreita relação com o artigo 4º do citado


Código de Defesa do Consumidor, que, no seu caput, insere o respeito à saúde e
segurança do consumidor entre os objetivos da Política Nacional de Relações de
Consumo, e, no inciso II, alínea d, traz o “Princípio da Garantia da Adequação” – os
produtos e serviços devem apresentar padrões adequados de qualidade, de segurança,
de durabilidade e de desempenho, a serem assegurados ao consumidor pelo Estado.

Código do Consumidor é de clareza solar, quando afirma:

“Art. 18. omissis. § 6° São impróprios ao uso e


consumo: I - os produtos cujos prazos de validade
estejam vencidos; II - os produtos deteriorados,
alterados, adulterados, avariados, falsificados,
corrompidos, fraudados, nocivos à vida ou à saúde,
perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as
normas regulamentares de fabricação, distribuição
ou apresentação;”

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A obrigação acima aventada decorre diretamente da lei, não


podendo a requerida desviar-se da obrigação, colocando no mercado de consumo
produtos fabricados em planta cujo projeto não foi aprovado pelo DIPO/MAPA, com
ordem de paralisação de reforma e ampliação, sem programas de autocontrole,
conforme já fustigado, promovendo irregularidades também nas rotulagens dos
produtos, tanto do leite UHT, porque o consumidor, em ocorrência de defeito, não
pode identificar adequadamente o fabricante, pela presença de dois SIFs e, ainda, por
identificação, no soro de leite em pó, de SIF de outra fábrica, diversa da que
produziu, pelo que se impõe a imediata intervenção do Poder Judiciário, de sorte a
fazê-lo cumprir o que dispõe a norma de regência.

Vale a transcrição do artigo 10, inciso IV da Lei 6.437/77:

Art . 10 - São infrações sanitárias:

(...)

IV - extrair, produzir, fabricar, transformar, preparar,


manipular, purificar, fracionar, embalar ou reembalar, importar, exportar,
armazenar, expedir, transportar, comprar, vender, ceder ou usar alimentos,
produtos alimentícios, medicamentos, drogas, insumos farmacêuticos, produtos
dietéticos, de higiene, cosméticos, correlatos, embalagens, saneantes, utensílios e
aparelhos que interessem à saúde pública ou individual, sem registro, licença, ou
autorizações do órgão sanitário competente ou contrariando o disposto na
legislação sanitária pertinente:

pena - advertência, apreensão e inutilização, interdição,


cancelamento do registro, e/ou multa;
O MAPA informou nos autos de Inquérito Civil, em resposta ao
Ministério Público que: “(...)Quanto ao conteúdo do parágrafo 11, da Informação
242/2023/DINSP/CSI/CGI/DIPOA/SDA/MAPA -"Somente mediante o
conhecimento de todos os lotes implicados neste processo e a quantidade
fabricada, e sem que o estabelecimento tenha providenciado o recolhimento de
toda a produção envolvida, é que poderá ser informada a ANVISA para
apreensão dos lotes envolvidos nesta irregularidade."

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Considerando, entretanto, a gravidade da matéria e o fato de


terem sido distribuídos uma quantidade total de 12.687.108 litros(doze milhões,
seiscentos e oitenta e sete mil, cento e oito litros) de Leite UHT Integral e Desnatado,
distribuídos para inúmeros Estados da Federação e somente terem sido recolhidos,
com dados da última visita ao estabelecimento feita pelo MAPA, no dia 02/06/2023,
apenas 2 pallets com produtos foram recolhidos, totalizando 2.040 litros de Leite
UHT, ou seja, conforme informado anteriormente, apenas quase 0,016% do valor
total apresentado pela empresa, mesmo após 15 dias da ocorrência, motivada a
comunicação a ANVISA.
Decorre do comando normativo contido no art. 6º do CDC que o
consumidor tem direito à efetiva reparação dos danos sociais sofridos, vez que
expostos à prática irregular pela comercialização de produtos impróprios e, ainda,
pela prática de atos que dificultaram e até mesmo obstacularizaram a ação
fiscalizadora das autoridades sanitárias competentes o exercício de suas funções

As irregularidades narradas, e amplamente demonstradas nos


autos, inegavelmente são aptas a causar gravíssimos danos aos consumidores de
produtos expostos à venda, em desacordo com a legislação vigente, problema que
deve ser solucionado com urgência, sob pena de sujeitar o consumidor à
possibilidade de agravo pelo uso de produtos em condições impróprias e
inadequadas.

De mais a mais, como demonstrado acima, os fatos narrados são


de relevante significância, bem como intoleráveis, haja vista que desequilibram a
relação de consumo, causando potencial risco ao consumidor, que sequer percebe que
foi lesado, ante a confiança que deposita no consumo de produtos da marca padrão no
Estado.

DO DANO SOCIAL
PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL

Para além dos danos morais e materiais, nos ensina o professor

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Antônio Junqueira de Azevedo que os danos sociais são lesões à sociedade, no seu
nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a
respeito da segurança – quanto por diminuição de sua qualidade de vida,
correspondendo ao art. 81, parágrafo único, inciso I do CDC.

Importante ressaltar que o dano social não se confunde com o


dano moral coletivo, pois, enquanto neste a vítima é determinada ou passível de
determinação, naquele, a vítima é indeterminada.

Ao ocorrer o descumprimento das normas de ordem sanitária


pela empresa e violação de dispositivos legais que garantem a segurança e qualidade
dos produtos, em sua fabricação e distribuição, e ainda não respeitando a ordem de
interdição do local de ampliação e reforma sem aprovação de projeto, não adotando
as providências de alcance necessário para livrar o mercado de consumo de produtos
inadequados, demonstrando a violação as regras básicas de saúde pública, de forma
reiterada, impõem-se o dever de indenizar os prejuízos dela decorrentes, em sede de
responsabilização civil.

Mais precisamente ao dano social, o pleito de compensação


deriva da compreensão pela necessária repressão a conduta praticada pela empresa
Laticínios Santa Maria Ltda-Natville, assumindo caráter pedagógico, conforme lições
pertinentes sobre o dano. Citando mais uma vez o professor supramencionado, os
danos sociais “são causa, pois, de indenização punitiva por dolo ou culpa grave,
especialmente, repetimos, se atos que reduzem as condições coletivas de
segurança, e de indenização dissuasória, se atos em geral de pessoas jurídica,
que trazem uma diminuição do índice de qualidade de vida da população.

A requerida, além da prática reprovável, violando normas de


ordem sanitária, ainda dificultou a ação dos fiscais do MAPA, produzindo embargo
ao ato de fiscalização regulamentar em matéria de saúde pública, sendo informado
pelos fiscais que: “(...)As entradas estavam fechadas com tapumes de madeira,
provavelmente para dificultar o acesso à fiscalização e a identificação da
irregularidade pela nossa equipe.”

Conforma explica Flávio Tartuce, os danos sociais são difusos e a


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sua indenização deve ser destinada não para a vítima imediata, mas sim para um
fundo de proteção, neste caso, do consumidor, ou mesmo para uma instituição de
caridade, sendo esta uma aplicação da função social da responsabilidade civil.
Igualmente, reconhece essa possibilidade o CDC, em seu art. 100, parágrafo único, ao
reconhecer que o produto da indenização poderá ser revertido para o fundo criado
pela lei n° 7347/85.

Assim, a empresa deverá promover compensação pecuniária aos


consumidores expostos à prática irregular. A reparação do dano social, representa
para a população um reconhecimento pelo Direito de valores sociais essenciais, como
por exemplo, a imagem do serviço, recompondo a cidadania de todos. É o que se
pede!

Mais do que comprovado nos autos a necessidade de


responsabilização da requerida, não só no que tange aos prejuízos eventualmente
sofridos pelos consumidores, potenciais adquirentes de produtos do estabelecimento
comercial, na seara social, conforme a Lei 7.347/85, assim como, a obrigação
específica de não mais fabricar, colocar no mercado de consumo, armazenar e
acondicionar , de forma irregular os produtos retromencionados,

No caso em comento, a conduta da empresa Laticínios Santa


Maria Ltda-Natville, violando regras de ordem sanitária, fabricando produtos, sem
S.I.F, em local inadequado, colocando no mercado de consumo, sem qualquer cautela
de segurança, induzindo o consumidor a eventual erro já que faz aposição, em
rotulagem, de dois SIFs, sem identificação do real fabricante, para fins de
responsabilização pelo fato do produto, expondo o consumidor a eventual risco e,
ainda, a ação reprovável de causar embaraço a ação dos fiscais do MAPA,
importando em correção necessária e pedagógica.

Assim, a irreparabilidade da conduta, ainda que coletivamente,


demonstraria um enorme contrassenso, já que a coletividade de consumidores ficaria
sem uma justa reparação pela ação irregular, ou seja, não basta somente a correção do
procedimento, com a obrigação de fazer, mas a reparação do dano social causado,
porque a postura adotada pela requerida, repercute socialmente, provocando danos

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imateriais para a coletividade.

Os atos negativamente exemplificados causam lesão a


tranquilidade e ao bem-estar coletivo de vida e não devem ser repetidos, no sentido
de que sobre eles não cabe dizer “imagina se todas as vezes fosse assim”. A ação
irregular da empresa, de forma renovada, provoca um rebaixamento do nível coletivo
de vida, aniquilando a confiança da população não somente na empresa violadora das
normas, mas também provoca desconfiança generalizada, caso não haja correção
devida.

Não se deve confundir a função punitiva do dano social com


dano moral, muito embora as funções das indenizações se pareçam, porque, no dano
social há um novo dano cuja vítima é a sociedade, devendo o quantum indenizatório
possuir a serventia de reparar o dano a ela causado, justamente pela redução da
qualidade de vida, punindo o agressor e funcionando como desestímulo à atividade
abusiva desenvolvida, fazendo, inclusive, com que outras empresas não incorram no
mesmo erro.

Segundo as lições do mestre Antônio Junqueira Azevedo, “esse


tipo de indenização aplica-se especialmente às pessoas jurídicas que cometem
atos ilícitos em suas atividades que visam atender ao público.”

Cai à laço!

E diz mais: “(...) a pena tem em vista um fato passado


enquanto que o valor de desestímulo tem em vista o comportamento futuro; há
punição versus prevenção (...) O valor por desestímulo, por outro lado, voltando
a comparação com punição, é especialmente útil quando se trata de empresa,
pessoa jurídica, agindo no exercício de suas atividades profissionais, em geral
atividades dirigidas ao público(...).”

Assim, Excelência, a indenização por dano social pode revestir-


se de caráter dissuasório, quando visar o desestímulo por parte da empresa a não
cometer o ato abusivo no futuro, não só com relação a fabricação irregular e outras
inadequações sanitárias, mas também a ação de obstaculizar a ação dos fiscais

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sanitários.

A conduta da requerida, sob o fundamento de prática abusiva,


merece uma justa reparação, cujo valor deverá ser mensurado pela sempre digna
autoridade julgadora, consoante a conduta socialmente reprovável e a natureza
sancionadora da responsabilidade civil, valendo-se da regra-geral para arbitramento
da reparação dos danos extrapatrimoniais pedido, considerando a gravidade do dano e
sua extensão(quase 13.000.000 de litros de leite, com distribuição para vários
Estados), bem como a capacidade econômica da empresa, de forma a coibir novas
práticas que venham a desrespeitar o consumidor.

Em analogia, no que couber, aos critérios de fixação do dano


moral, alguns itens deverão ser observados para se arbitrar o dano social e, conforme
Sérgio Cavalieri Filho:

“Creio também, que este é outro ponto onde o


princípio da lógica do razoável deve ser a bússola
norteadora do julgador. Razoável é aquilo que é
sensato, comedido, moderado; que guarda certa
proporcionalidade. A razoabilidade é o critério que
permite cotejar meios e fins, causas e consequências,
de modo a aferir a lógica da decisão(...) importa dizer
que o juiz, ao valorar o dano moral, deve arbitrar
uma quantia que, de acordo com seu prudente
arbítrio, seja compatível com a reprovabilidade da
conduta ilícita, a intensidade e duração do sofrimento
experimentado pela vítima, a capacidade econômica
do causador do dano, as condições sociais do
ofendido, e outras circunstâncias mais que se fizerem
presentes.”

Assim, extrai-se que dos principais critérios utilizados para fixar


a indenização por dano social devemos desconsiderar o sofrimento da vítima, já que
não é possível determinar quantas pessoas foram atingidas pela conduta danosa,

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muito menos o sofrimento que cada uma delas suportou, todavia, a culpa do agente
ofensor, responsável pela prática abusiva, é extremamente importante, devendo a
indenização ser fixada considerando o grau de culpa do agente, por culpa ou dolo, ou
seja, deverá ser ponderada a real intenção que o agente possuía ao adotar a conduta
que resultou no dano, para que a verba a ser definida sirva de punição pela prática
reprovável ou mesmo como dissuasão, para que o ofensor tenha mais cautela e não
venha a reincidir no erro.

Importante considerar, volvendo ao versado no item anterior, que


a empresa Laticínios Santa Maria Ltda-Natville já havia sido intimada para que
paralisasse a reforma e ampliação da área onde produziu os produtos impróprios, já
que não possuía projeto aprovado pelo MAPA, entretanto, mesmo recebendo a
intimação predita, não só continuou com a irregularidade como passou a operar a
planta sem S.I.F, produzindo produtos perecíveis e sensíveis, Leite UHT, desnatado e
integral e soro de leite em pó desmineralizado 40%, sem regras básicas de proteção
para segurança do produto, importando, em violação das regras sanitárias,
notadamente quando o MAPA informa ao Ministério Público que:
“(...)Preliminarmente, gostaríamos de destacar o vasto histórico de infrações
julgadas, junto ao relatório SICAR(2871886) e a habitualidade e reincidência da
indústria em descumprir a legislação sanitária, objeto da fiscalização do
Ministério da Agricultura e Pecuária.”

Não serão necessários maiores circunlóquios!

A tese do professor Antônio Junqueira de Azevedo, conforme já


fustigado, encontra-se esquadrinhada não na indenização que visa somente a
compensação da vítima pelo dano sofrido, moral ou patrimonial, já que, nesta
hipótese, não se leva em consideração as possíveis medidas a inibir o agente lesivo de
praticar novamente atos danosos. É justamente nesse cenário que surge o dano social,
onde a indenização possuirá o caráter punitivo e dissuasório do causador do dano.

Dano Social evidenciado.

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DO DANO REGIONAL – CIDADES DO ESTADO ATINGIDAS PELA


IRREGULARIDADE
COMPETÊNCIA DA VARA DA CAPITAL PARA JULGAMENTO DA
DEMANDA

Conforme fartamente narrado nos autos, várias cidades do


Estado de Sergipe foram atingidas pela fabricação irregular dos produtos da
requerida, bastando se bispar da relação dos fornecedores apresentada pela empresa,
o que, na hipótese, ressai a incidência do artigo 93 e incisos do Código de Defesa do
Consumidor, porquanto, mesmo a fábrica, objeto da fiscalização do MAPA, estando
localizada na cidade de Nossa Senhora da Glória, a competência para processamento
e julgamento da presente Ação Civil Pública, será das Varas da Capital.
Estamos falando de um problema que atingiu um vasto
número de consumidores espalhados na grande maioria das cidades do Estado de
Sergipe, emergindo alguns outros Estados também, mas que não chega a caracterizar
dano nacional de grande extensão, pelas suas características, tomando a lesão
dimensões geograficamente maiores no Estado, já que os produtos foram distribuídos
para comerciantes de vários municípios, atraindo, por isso, ao foro da capital de
Sergipe a competência para julgar a presente demanda.
No microssistema de tutela coletiva, a Lei 7457/85 – Ação
Civil Pública, no seu artigo 2º, estabelece a competência para propositura da ação no
foro do local onde ocorreu o dano, assim também o Código Consumerista, em seu
artigo 93, inciso I, quando se tratar de dano de âmbito local, todavia, no inciso II,
dispõe que, em caso de danos de âmbito nacional ou regional, é competente para a
causa o juízo do foro da capital do Estado ou Distrito Federal.
Estamos tratando de dano regional mais evidenciado, por
suas características, todavia, na improvável hipótese de ser considerado em âmbito
nacional, em razão da distribuição dos produtos para outros Estados da Federação,
mesmo assim, estaremos diante de competência territorial concorrente e a escolha
fica ao critério do autor da ação, com o objetivo de proporcionar maior comodidade
na defesa dos interesses transindividuais lesados e facilitar o acesso à Justiça, como
vislumbramos na hipótese versada, onde a maioria dos distribuidores está localizada
no Estado de Sergipe, espalhados pelos variados municípios e na capital, ou seja,
mesmo existindo cidades de outros Estados que receberam o produto, a grande
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concentração continua no Estado de Sergipe.


Apenas para robustecer as asserções apresentadas,
reproduzindo entendimento dos Tribunais, a Ação Civil Coletiva deve ser processado
e julgada no foro da capital do Estado ou no Distrito Federal, se o dano tiver âmbito
nacional ou regional, em interpretação clara do artigo 93,II do CDC, inexistindo
exclusividade do Distrito Federal para as ações coletivas de âmbito nacional, isso
porque o artigo predito, ao fazer referência à Capital do Estado ou Distrito Federal,
invoca competências territoriais concorrentes, conforme já fustigado

DA INVERSÃO DO ÔNUS PROBATÓRIO


DIRITOS DOS CONSUMIDORES – FACILITAÇÃO DA DEFESA
CRITÉRIOS OBJETIVO E SUBJETIVO – PRESENTES

O artigo 6º, VIII do Código de Defesa do Consumidor determina


a possibilidade de inversão do ônus probatório, com base nos requisitos de
verossimilhanças nas informações apresentadas e hipossuficiência do consumidor
atingido, constituindo, para o microssistema das relações de consumo, princípio de
ordem pública e interesse social.

O professor Humberto Theodoro (2004, p. 106) conceitua ônus


da prova como uma “conduta processual exigida da parte para que a verdade dos
fatos por ela narrados seja admitida pelo Juiz”, assim o ônus da prova não é apenas
obrigação do autor da ação, de provar ser verdadeira a sua alegação, mas é uma
conduta processual primordial para a decisão do feito.

O conceito, entretanto, trazido à baila por Kazuo Watanabe, dá


margem para o que o Código consumerista chamou de inversão do ônus da prova,
aduzindo o doutrinador que “o ônus da prova incumbe à parte que detiver
conhecimentos técnicos e informações específicas sobre os fatos, ou maior facilidade
em sua demonstração.”

Assim, a inversão do ônus da prova nada mais é do que incutir ao


detentor do poder econômico ou mesmo do conhecimento técnico, a obrigação de

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provar contrariamente às alegações verossímeis apresentadas, sendo a parte que sofre


o malefício hipossuficiente, como na hipótese versada nos autos.

O jurista Alexandre Freitas Câmara, analisando o instituto da


inversão do ônus da prova à luz da teoria da prova do processo civil, afirmou que:
“Deste modo, a aplicação da teoria dinâmica do ônus da prova se revela como uma
forma de equilibrar as forças na relação processual, o que nada mais é do que uma
aplicação do princípio da isonomia. Assim, penso que a aplicação da teoria
dinâmica do ônus da prova independe de qualquer previsão expressa em lei, e se dá
no direito brasileiro por aplicação dos princípios constitucionais que regem o
processo”

O Código consumerista é corolário do princípio da isonomia,


tratando os “desiguais na medida de suas desigualdades”, suprindo a vulnerabilidade
do consumidor hipossuficiente em face do fornecedor, detentor do conhecimento
técnico e, a hipossuficiência aqui nada tem relação com a condição social do
consumidor, não sendo analisada a sua situação econômico-financeira e sim a sua
vulnerabilidade e na capacidade reduzida de produção de provas.

Sobre o assunto, mister colacionar o seguinte julgado:

“Processo: REsp 802832 / MG. RECURSO


ESPECIAL 2005/0203865-3. Relator(a): Ministro
PAULO DE TARSO SANSEVERINO (1144). Órgão
Julgador: S2 - SEGUNDA SEÇÃO. Data do
Julgamento: 13/04/2011. Data da Publicação/Fonte:
DJe 21/09/2011. Ementa: RECURSO ESPECIAL.
CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE POR VÍCIO
NO PRODUTO (ART. 18 DO CDC). ÔNUS DA
PROVA. INVERSÃO 'OPE JUDICIS' (ART. 6º, III,
DO CDC). MOMENTO DA INVERSÃO.
PREFERENCIALMENTE NA FASE DE
SANEAMENTO DO PROCESSO. A inversão do
ônus da prova pode decorrer da lei ('ope legis'), como

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na responsabilidade pelo fato do produto ou do serviço


(arts. 12 e 14 do CDC), ou por determinação judicial
('ope judicis'), como no caso dos autos, versando
acerca da responsabilidade por vício no produto (art. 18
do CDC). Inteligência das regras dos arts. 12, § 3º, II, e
14, § 3º, I, e. 6º, VIII, do CDC. A distribuição do
ônus da prova, além de constituir regra de
julgamento dirigida ao juiz (aspecto objetivo),
apresenta-se também como norma de conduta para
as partes, pautando, conforme o ônus atribuído a
cada uma delas, o seu comportamento processual
(aspecto subjetivo). Doutrina. Se o modo como
distribuído o ônus da prova influi no
comportamento processual das partes (aspecto
subjetivo), não pode a inversão 'ope judicis' ocorrer
quando do julgamento da causa pelo juiz (sentença)
ou pelo tribunal (acórdão). Previsão nesse sentido do
art. 262, §1º, do Projeto de Código de Processo Civil.
A inversão 'ope judicis' do ônus probatório deve
ocorrer preferencialmente na fase de saneamento do
processo ou, pelo menos, assegurando-se à parte a
quem não incumbia inicialmente o encargo, a
reabertura de oportunidade para apresentação de
provas. Divergência jurisprudencial entre a Terceira e a
Quarta Turma desta Corte. RECURSO ESPECIAL
DESPROVIDO.”

Como critério objetivo para inversão do ônus da prova temos a


hipossuficiência do consumidor, na hipótese versada, todos os cidadãos expostos à
prática irregular, adquirindo, eventualmente, produtos impróprios ao consumo
humano, já que pouco ou nenhum recurso técnico possuem para discutir a matéria e,
ainda, o critério subjetivo, atrelado a verossimilhança das informações apresentadas
nos autos, diante dos documentos colacionados.

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DA IMPOSSIBILIDADE DE CELEBRAÇÃO DE TERMO DE


AJUSTAMENTO DE CONDUTA EM AUDIÊNCIA PRÉVIA DE
CONCILIAÇÃO – GRAVIDADE DA MATÉRIA VERSADA.
NECESSIDADE DE CONCESSÃO DA TUTELA ANTECIPADA

O Ministério Público informa que não é favorável a designação


de audiência prévia de conciliação, com fuste no artigo 334 do NCPC, diante da
gravidade da matéria em epígrafe, pleiteando a concessão da medida de urgência,
já que importa em ações de recolhimento e recall, com forma de garantir menor
impacto ao consumidor final. Permanece, todavia, disponível para tratativas
conciliatórias posteriores, que importem na pacificação social, com solução do
conflito e restabelecimento do direito do consumidor.

DA TUTELA DE URGÊNCIA

Inicialmente, convém estabelecer algumas assertivas iniciais, à


vista do realinhamento do Caderno Procedimental Civil, porquanto, anteriormente, as
medidas de urgência tinham regime jurídico próprio e estavam, em linhas gerais,
subordinadas aos requisitos essenciais, como os da relevância do direito e do risco de
dano, previstos no artigo 273, para as medidas antecipatórias de tutela e no artigo
804, para as medidas de natureza cautelar.

O novo ordenamento procedimental civil, por sua vez, unifica,


sob uma mesma disciplina, as medidas urgentes cautelares e antecipatórias e, ainda,
põe em destaque outra contraposição, distinguindo a tutela de urgência da tutela de
evidência.

A diferença é relevante no que pertine aos pressupostos para


deferimento da medida, porquanto, a tutela de urgência, seja ela satisfativa ou

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cautelar, será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do


direito e o perigo do dano ou o risco ao resultado útil do processo, com fuste no
artigo 300 do CPC. A tutela de evidência, ao contrário, é cabível diante do grau de
plausibilidade da pretensão do autor, independentemente da demonstração do perigo
de dano ou de risco ao resultado útil do processo, conforme artigo 311 do CPC.

No caso em epígrafe, há de se reconhecer que as asserções


alinhadas em sueltos anteriores, demonstram a pretensão deduzida na Ação Civil
Pública, notadamente porque estamos tratando de saúde pública e o risco que sofre o
consumidor ao ficar exposto a práticas reprováveis de oferta de produtos impróprios
ao consumo humano com potencial risco de agravo.

Assim, as provas que compõem a presente Ação, não só


evidenciam a clara irregularidade praticada pela empresa requerida, expondo,
potencialmente, o consumidor a riscos de danos à saúde e de prejuízos
econômicos, bem como traz notícia da dificuldade imposta ao trabalho da
fiscalização sanitária, violando ordem de paralisação de obras, fabricando
produtos sensíveis sem a autorização devida e sem as técnicas necessárias,
autocontrole, para garantir a segurança ao consumo.

A probabilidade do direito, na hipótese versada, é tão forte que


dispensa mesmo a verificação do perigo da demora, visto que as assertivas
arremessadas se encontram suficientemente demonstradas, prima facie através de
prova documental que as consubstanciam líquida e certa e da qual, ao que se
vislumbra, ressai a possibilidade da repetição da ação irregular, com fabricação de
produtos em ambiente com alto risco sanitário.

Dentro desse contexto, ressai a plausibilidade jurídica da


pretensão autoral, fumus boni iuris, na forma do artigo 273, caput, do antigo CPC,
mas também, considerando as normativas do NCPC, de hipótese caracterizadora de
evidência para efeito de antecipação de tutela, ex vi do artigo 311, IV da legislação
procedimental predita e o periculum in mora, conforme já fustigado no suelto
anterior, já que nem mesmo as multas aplicadas paralisaram a ofensa ao direito dos
consumidores.

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São graves os prejuízos aos consumidores de produtos, na


hipótese de não ser concedida a liminar, vez que continuarão, por tempo indefinido e
ao talante da requerida, expostos à prática reprovável, muitos sem conhecimento da
presente Ação e das fiscalizações sanitárias realizadas; por outro giro, não promoverá
qualquer prejuízo para a requerida seu deferimento, até porque se tem em mira,
necessariamente, o fiel cumprimento da lei, pelo que ressai o pleito autoral de
deferimento initio litis.

Analisadas as asserções, emerge, ainda, que o fundamento da


demanda é de relevância social, não só pelo número de pessoas potencialmente
atingidas pela concretização da irregularidade apontada, vários Estados receberam os
produtos, além de diversas cidades do Estado de Sergipe, mas também por se tratar de
direito constitucionalmente assegurado podendo, a autoridade julgadora, de forma
liminar, antecipar, até mesmo o provimento derradeiro, inclusive determinando
medidas satisfativas ou que assegurem o resultado prático da obrigação a ser
cumprida.

A fabricação irregular de leite UHT e soro de leite em pó


desmineralizado 40% poderá gerar graves danos à saúde do consumidor,
configurando acidente de consumo por defeito do produto, ofendendo o direito à
segurança e a saúde e, o pior, o consumidor nem mesmo saberá os efeitos do produto
em seu organismo, sendo importante ressaltar que o simples fato de violar normas
sanitárias na fabricação, notadamente em atividade de alto risco, já importa em
responsabilização do agente, estando ou não o produto contaminado. Ninguém espera
pra ver!

A concessão de medida liminar em ação civil pública encontra


previsão legal expressa no artigo 12, caput, da Lei 7.347/85 e, ante a ausência, neste
diploma, de previsão acerca dos requisitos para o deferimento da medida liminar,
aplicam-se as regras do Código de Processo Civil atinentes à tutela antecipatória:
“Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo.”

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Com efeito, os requisitos legais insertos em lei para concessão da


tutela de urgência, ora requerida, se encontram presentes, estando evidenciada a
responsabilidade da empresa, não só pelas asserções já fustigadas, mas também por
nem mesmo possuir registros gerados pelo monitoramento e verificação, na
fabricação dos produtos, que deveriam constar em autocontrole do estabelecimento e
que não existiam, não foram apresentados no ato de fiscalização; nem as análises
laboratoriais básicas de rotina, legalmente exigidas para controle, seleção e qualidade
do leite e derivados foram apresentados.

Vejamos depoimento de fiscal do MAPA, em relatório adunado


aos autos, narrando o ato de fiscalização: (…) a inspeção encarregada de buscar
conformidade da produção, mantendo os procedimentos fundamentados
contínua e sistemática de todos os fatores que de algum modo poderiam
interferir na qualidade higiênico-sanitária dos produtos expostos ao consumo da
população, viu-se diante da ausência de todos os elementos de controle exigidos
pela Norma Regulamentadora, visto que não foram gerados, em razão da
produção sabidamente contrária à lei.

Na questão em epígrafe, ressai a necessidade de ser concedida


medida liminar, emergindo os pressupostos essenciais a saber: o “fumus boni iuri” e o
“periculum in mora”, ressaindo a lição do professor Luiz Guilherme Marioni, sobre a
efetividade do processo:

“l. A problemática da tutela antecipatória requer seja


posto em evidência o seu eixo central: o tempo é a
dimensão fundamental na vida humana, no processo ele
desempenha idêntico papel, pois processo também é
vida. O tempo do processo angustia os litigantes; todos
conhecem os males que a pendência da lide pode
produzir. Por outro lado, a demora processual é tanto
mais insuportável quanto menos resistente
economicamente é a parte, o que vem a agravar a quase
que insuperável desigualdade substancial no

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procedimento. O tempo, como se pode sentir, é um dos


grandes adversários do ideal de efetividade do processo.

2. Mas o tempo não pode servir de empeço à realização


do direito. Ora, se o Estado proibiu a autotutela,
adquiriu o poder e o dever de tutelar de forma efetiva
todas as situações conflitivas concretas. O cidadão
comum, assim, tem direito à tutela hábil à realização do
seu direito. E não somente um direito abstrato de ação.
Em outras palavras, tem o direito à adequada tutela
jurisdicional.

3. O princípio da inafastabilidade não garante apenas


uma resposta jurisdicional, mas a tutela que seja capaz
de realizar, efetivamente, o direito afirmado pelo autor,
pois o processo, por constituir a contrapartida que o
Estado oferece ao cidadão diante da proibição da
autotutela deve chegar a resultados equivalente aos que
seriam obtidos se espontaneamente observados os
preceitos legais. Dessa forma, o direito à adequada tutela
jurisdicional garantido pelo princípio da
inafastabilidade é o direito à tutela adequada à realidade
de direito material e à realidade social.”

Assim, o provimento tardio da pretensão poderá ser inócuo para


prevenir os danos causados aos consumidores, que poderão continuar expostos a
oferta de produtos impróprios, sofrendo eventual acidente de consumo e, no dizer de
Norberto Bobbio, citado por Maria Angélica Resende Silveira, “in” Estatuto do
Paciente (Uma Ideia): “o problema grave de nosso tempo, com relação aos
direitos humanos, não é mais o de fundamentá-los e sim de protegê-los.”

É importante destacarmos que a concessão da liminar, na


hipótese versada, guarda harmonia com a salvaguarda do direito coletivo, visando
atenuar o prosseguimento da ofensa à saúde pública e a ação inadequada patrocinada

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pela indústria Laticínios Santa Maria Ltda-Natville, especialmente quando promove o


funcionamento de fábrica, cuja planta no possui projeto aprovado, passando a
produzir produtos sem as especificações regulares.

Não temos dúvidas, Excelência, que, sob a égide do Código de


Defesa do Consumidor, o artigo 84 enseja ao juiz que liminarmente, no bojo da
própria ação condenatória, conceda a tutela específica da obrigação ou determine as
providências que assegurem o resultado prático equivalente ao adimplemento,
porquanto, a prática reiterada da irregularidade, acrescida da ação reprovável da
empresa ao sofrer o procedimento fiscalizatório, torna difícil a correção do problema.

No caso em comento, cabível a concessão da liminar pretendida


para, “initio litis” assegurar a interrupção dos danos apontados.

Diz, Luiz Guilherme Marinoni:

“Se o tempo é dimensão da vida humana e se o bem


perseguido no processo interfere na felicidade do
litigante que o reivindica, é certo que a demora do
processo gera, no mínimo, infelicidade pessoal e
angústia, e reduz as expectativas de uma vida mais feliz.
O cidadão concreto, o homem nas ruas, não pode ter os
seus sentimentos, as suas angústias e as suas decepções
desprezadas pelos responsáveis pela administração
pública.”

A não concessão da ordem liminar representará verdadeira


negação de vigência a princípios de ordem pública e interesse social, além de
permanente lesão sofrida pelos cidadãos, restando demonstrada a urgência que a
situação requer.

Vale ressaltar que, no tocante as alterações trazidas pelo novo


CPC, especificamente no instituto da tutela de urgência, que tem por finalidade
distribuir o ônus do tempo do processo entre as partes, fazendo com que o litigante
que não tenha razão suporte o fardo da duração do processo, destacamos a lição de

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Fredie Didier Jr., ao analisar o instituto criado pelo novo CPC: “Seu objetivo é
distribuir o ônus que advém do tempo necessário para transcurso de um
processo e a concessão da tutela definitiva. Isso é feito mediante a concessão de
uma tutela imediata e provisória para a parte que revela o elevado grau de
reprovabilidade de suas alegações (devidamente provadas), em detrimento da
parte adversa e a improbabilidade de êxito em sua resistência – mesmo após
instrução processual.”

É evidente o risco de dano irreparável ou de difícil reparação em


caso de demora na prestação jurisdicional, já que os direitos sob tutela continuarão,
sem margem de dúvidas, a ser atingidos, diante da provável repetição dos atos pela
requerida e continuidade da oferta dos produtos no mercado consumerista.

Assim, apresentadas as asserções alinhadas, estando evidenciado o


desrespeito as regras sanitárias e de defesa do consumidor, impõe-se a concessão da
tutela de urgência, na forma do artigo 300 do NCPC e artigo 84, §3º da Lei 8078/90,
para que seja determinado a empresa Laticínios Santa Maria Ltda-Natville:

A) Suspensão imediata das obras de construção da nova área


anexa ao parque fabril(fábrica de leite em pó, UHT e lei condensado)da unidade
da empresa na cidade de Nossa Senhora da Glória, com retomada apenas após a
apresentação de Projeto de reforma e ampliação devidamente aprovado pelo
DIPOA/MAPA, com proibição de funcionamento para fabricação de produtos
no local até emissão de Alvará pelos órgãos sanitários;

B) Informar, colacionando documentação comprobatória, no


prazo de até 24(vinte e quatro) horas, sobre a quantidade de leite UHT, integral
e desnatado, em litros, e Soro de Leite em Pó Demineralizado 40%, produzidos
no espaço sem autorização, indigitando a identificação pela rotulagem, bem
como a rastreabilidade dos produtos preditos, fabricados no duplo S.I.F 2669 e
S.I.F 549, entre os meses de janeiro e maio de 2023, por data de fabricação e lote,
após a sua expedição;

C) Apresentar, no prazo de até 24(vinte e quatro) horas,


Plano de Recolhimento, em atendimento ao Programa de Autocontrole,
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Rastreabilidade e Recolhimento, promovendo, em igual prazo, as Ações para


execução do Plano predito, informando às empresas distribuidoras, localizadas
no Estado de Sergipe e nos Estados onde houve distribuição, sobre o
recolhimento, a ser efetivado pela requerida, dos produtos fabricados
irregularmente, entre os meses de janeiro e maio de 2023, Leite UHT integral e
desnatado( S.I.F 2669 e S.I.F 549) e Soro de Leite em Pó Desmineralizado 40%
(utilizado S.I.F 4502), com imediata suspensão da comercialização dos
respectivos lotes dos produtos e a segregação das unidades em todas as empresas
da cadeia produtiva, mantendo registros da comunicação, devendo apresentá-los
ao MAPA e a Anvisa, juntamente aos relatórios do recolhimento, indigitando a
quantidade recolhida semanalmente;

D) Apresentar, no prazo de 24(vinte e quatro) horas, ao


MAPA – Ministério da Agricultura e Pecuária, através da Coordenação do 2º
Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, o Plano de Autocontrole,
Rastreabilidade e Recolhimento, informado no item anterior, devendo conter:
Identificação dos Produtos, as ordens de Interrupção da distribuição e
Segregação do estoque, Rastreabilidade externa, Comunicação aos
distribuidores, Recolhimento efetivo dos Produtos, Registro da quantidade
recolhida, Emissão e envio de Relatórios, Destino dos produtos , devendo juntar
aos autos os comprovantes do cumprimento respectivo;

E)Promover, no prazo de até 24(vinte e quatro) horas o


RECAAL, ex vi do artigo 10 e seus parágrafos do Código de Defesa do
Consumidor, com Mensagem de Alerta aos Consumidores, devendo providenciar
a veiculação da mensagem acerca do recolhimento dos produtos, Leite UHT
Integral e Desnatado e Soro de Leite em Pó Desmineralizado 40%, com as
características esquadrinhadas nos itens anteriores, às suas expensas, com
informações concisas, primando pela clareza e objetividade, de modo a evitar o
uso de termos técnicos, informações ambíguas ou insuficientes ao entendimento
do consumidor, devendo conter em seu texto, no mínimo as seguintes
informações: I - denominação de venda, marca, lote, prazo de validade, número
de regularização junto ao órgão competente, quando aplicável, conteúdo líquido
e tipo de embalagem; II - identificação da empresa; III - motivo do
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recolhimento; IV –potencial riscos ou agravos à saúde dos consumidores; V -


recomendações aos consumidores, contemplando os locais disponibilizados para
reparação ou troca do produto; VI - telefone e/ou outros meios de contato de
atendimento ao consumidor; e VII - imagem do produto; formalizando
encaminhamento do conteúdo informativo e plano de mídia, com o período de
veiculação, à ANVISA;

F) Promover, no prazo de até 24(vinte e quatro) horas, a


veiculação da Mensagem de Alerta aos consumidores, inserta no item anterior,
na imprensa, rádio e televisão e também na página eletrônica e nas mídias
sociais da empresa, quando houver, em local de destaque e de fácil visualização,
estas últimas, até a finalização do recolhimento, sem prejuízo da divulgação em
outras mídias;

G) Promover, no prazo de até 15(quinze) dias, a rotulagem


adequada de todos os produtos fabricados pela empresa Laticínio Santa Maria-
NATVILLE, informando, de forma clara e precisa, a identificação do fabricante
dos produtos, considerando a existência da matriz e filiais da empresa e
utilização de dois S.I.Fs nas embalagens, devendo fazer aposição de marca ou
sinal característico, de forma a não induzir o consumidor a erro quando da
identificação necessária;

H) Cominação de multa, em valor não inferior a R$ 1.000,00


(mil reais) por dia de descumprimento da tutela de urgência pretendida, a ser
fixado por Vossa Excelência, revertido para o Fundo de reconstituição do bem
lesado, inserto na Lei 7347/85 ou para depósito em conta a ser providenciada por
ordem judicial, pelo descumprimento da tutela de urgência;

Para dar efetividade à medida antecipatória, requer o autor que a


constatação de eventuais descumprimentos das obrigações estipuladas seja admitida,
conforme já fustigado, por meio de fiscalização da Vigilância Sanitária, do Ministério
Público e MAPA.

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DOS PLEITOS DERRADEIROS

Diante das asserções que emergem dos autos, colacionando os


documentos pertinentes, requer, por último, o Ministério Público a citação da
LATICÍNIOS SANTA MARIA - NATVILLE, através de sua representação legal, para
integrar o processo, na forma do artigo 238 do novo Caderno Procedimental Civil,
julgando, por derradeiro, procedente a presente Ação Civil Pública, condenando em
tutela definitiva a:

A) Suspensão imediata das obras de construção da nova área


anexa ao parque fabril (fábrica de leite em pó, leite UHT e leite condensado), da
unidade da empresa na cidade de Nossa Senhora da Glória, com retomada
apenas após a apresentação de Projeto de reforma e ampliação devidamente
aprovado pelo DIPOA/MAPA, com proibição de funcionamento para fabricação
de produtos no local até emissão de Alvará pelos órgãos sanitários, não mais
promovendo a fabricação de produtos sem os protocolos sanitários pertinentes,
evidenciando controle de qualidade e segurança;

B) Informar, colacionando documentação comprobatória, no


prazo de até 24(vinte e quatro) horas, sobre a quantidade de leite UHT, integral
e desnatado, em litros, e Soro de Leite em Pó Demineralizado 40%, produzidos
no espaço sem autorização, indigitando a identificação pela rotulagem, bem
como a rastreabilidade dos produtos preditos, fabricados no duplo S.I.F 2669 e
S.I.F 549, entre os meses de janeiro e maio de 2023, por data de fabricação e lote,
após a sua expedição;

C) Apresentar, no prazo de até 24(vinte e quatro) horas,


Plano de Recolhimento, em atendimento ao Programa de Autocontrole,
Rastreabilidade e Recolhimento, promovendo, em igual prazo, as Ações para
execução do Plano predito, informando às empresas distribuidoras, localizadas
no Estado de Sergipe e nos Estados onde houve distribuição, sobre o
recolhimento, a ser efetivado pela requerida, dos produtos fabricados
irregularmente, entre os meses de janeiro e maio de 2023, Leite UHT integral e
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desnatado( S.I.F 2669 e S.I.F 549) e Soro de Leite em Pó Desmineralizado 40%


(utilizado S.I.F 4502), com imediata suspensão da comercialização dos
respectivos lotes dos produtos e a segregação das unidades em todas as empresas
da cadeia produtiva, mantendo registros da comunicação, devendo apresentá-los
ao MAPA e a Anvisa, juntamente aos relatórios do recolhimento, indigitando a
quantidade recolhida semanalmente, seguindo a orientação do MAPA e ANVISA
quanto à destinação final;

D) Apresentar, no prazo de 24(vinte e quatro) horas, ao


MAPA – Ministério da Agricultura e Pecuária, através da Coordenação do 2º
Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, o Plano de Autocontrole,
Rastreabilidade e Recolhimento, informado no item anterior, devendo conter:
Identificação dos Produtos, as ordens de Interrupção da distribuição e
Segregação do estoque, Rastreabilidade externa, Comunicação aos
distribuidores, Recolhimento efetivo dos Produtos, Registro da quantidade
recolhida, Emissão e envio de Relatórios, Destino dos produtos, devendo juntar
aos autos os comprovantes do cumprimento respectivo;

E)Promover, no prazo de até 24(vinte e quatro) horas o


RECAAL, ex vi do artigo 10 e seus parágrafos do Código de Defesa do
Consumidor, com Mensagem de Alerta aos Consumidores, devendo providenciar
a veiculação da mensagem acerca do recolhimento dos produtos, Leite UHT
Integral e Desnatado e Soro de Leite em Pó Desmineralizado 40%, com as
características esquadrinhadas nos itens anteriores, às suas expensas, com
informações concisas, primando pela clareza e objetividade, de modo a evitar o
uso de termos técnicos, informações ambíguas ou insuficientes ao entendimento
do consumidor, devendo conter em seu texto, no mínimo as seguintes
informações: I - denominação de venda, marca, lote, prazo de validade, número
de regularização junto ao órgão competente, quando aplicável, conteúdo líquido
e tipo de embalagem; II - identificação da empresa; III - motivo do
recolhimento; IV –potencial riscos ou agravos à saúde dos consumidores; V -
recomendações aos consumidores, contemplando os locais disponibilizados para
reparação ou troca do produto; VI - telefone e/ou outros meios de contato de
atendimento ao consumidor; e VII - imagem do produto; formalizando
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encaminhamento do conteúdo informativo e plano de mídia, com o período de


veiculação, à ANVISA;

F) Promover, no prazo de até 24(vinte e quatro) horas, a


veiculação da Mensagem de Alerta aos consumidores, inserta no item anterior,
na imprensa, rádio e televisão e também na página eletrônica e nas mídias
sociais da empresa, quando houver, em local de destaque e de fácil visualização,
estas últimas, até a finalização do recolhimento, sem prejuízo da divulgação em
outras mídias;

G) Promover, no prazo de até 15(quinze) dias, a rotulagem


adequada de todos os produtos fabricados pela empresa Laticínio Santa Maria-
NATVILLE, informando, de forma clara e precisa, a identificação do fabricante
dos produtos, considerando a existência da matriz e filiais da empresa e
utilização de dois S.I.Fs nas embalagens, devendo fazer aposição de marca ou
sinal característico, de forma a não induzir o consumidor a erro quando da
identificação necessária;

H) Condenação ao pagamento de indenização por danos


sociais no importe mínimo de R$ 2.000.000,00 (Dois Milhões de reais), a serem
revertido ao Fundo de Reconstituição do Bem Lesado(consumidor), de que trata
a Lei 7347/85 ou para reversão em obras e insumos para Instituições
assistenciais, devidamente cadastrada e autorizada, na forma da lei;

I) Cominação de multa, em valor não inferior a R$ 1.000,00


(mil reais) por dia, pelo descumprimento da decisão judicial, a ser fixado por
Vossa Excelência, revertido para o Fundo de reconstituição do bem lesado,
inserto na Lei 7347/85 ou para depósito em conta a ser providenciada por ordem
judicial, pelo descumprimento do comando sentencial;

Requer, ainda, a inversão do ônus da prova, de acordo com o


disposto no artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, por se tratar de demanda
de proteção ao consumidor, com fuste na verossimilhança das assertivas apresentadas
e hipossuficiência dos usuários dos serviços de transporte, tudo conforme razões
expendidas na peça proemial do processo.
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Protesta provar os fatos arguidos por todos os meios de provas


permitidos em direito, notadamente depoimento pessoal do representante da
requerida, sob pena de confissão, oitiva de testemunhas, documentos e todos os meios
de provas admitidos em direito.

Requer, ainda, a dispensa do pagamento de custas, emolumentos


e outros encargos, desde logo, à vista do disposto no artigo 18 da Lei nº 7.347/85 e no
artigo 87 do Código de Defesa do Consumidor, bem como a intimação pessoal do
requerente, com endereço na Avenida Conselheiro Carlos Alberto Sampaio, nº 505,
bairro Capucho, nesta cidade ou através do sistema informatizado pertinente, de todos
os atos e termos do processo, nos termos do artigo 236, §2º do Caderno Procedimento
Civil ou através do Gabinete Eletrônico da Promotoria de Defesa do Consumidor do
Ministério Público de Sergipe.

Dá-se à causa o valor de R$ 1.000,00 (mil reais).

Nestes termos,

Pede deferimento.

Aracaju, 12 de junho de 2023

EUZA MARIA GENTIL MISSANO COSTA


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