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PROCESSO Nº: 0800105-03.2019.4.05.

8503 - AÇÃO PENAL - PROCEDIMENTO


ORDINÁRIO
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
RÉU: CARLOS CEZAR LISBOA DA FONSECA
ADVOGADO: Eduardo Souza Santos
ADVOGADO: Antonio Henrique Menezes De Melo
ADVOGADO: Joana Vieira Dos Santos
RÉU: IVANILDO MACEDO DOS SANTOS
ADVOGADO: Eduardo Souza Santos
ADVOGADO: Antonio Henrique Menezes De Melo
ADVOGADO: Joana Vieira Dos Santos
RÉU: MARIVAL SILVA SANTANA
ADVOGADO: Elisio Augusto De Souza Machado Junior
8ª VARA FEDERAL - SE

SENTENÇA "TIPO D"

1. Relatório

Trata-se de ação penal proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL em face de


IVANILDO MACEDO DOS SANTOS, CARLOS CEZAR LISBOA DA FONSECA e
MARIVAL SILVA SANTANA, imputando, a todos eles, a prática do delito tipificado no art.
1º, inciso I do Decreto-lei nº 201/1967, em concurso de pessoas, e, em relação a IVANILDO
MACEDO DOS SANTOS e CARLOS CEZAR LISBOA DA FONSECA, a prática dos delitos
tipificados no art. 1º, inciso VII do Decreto-lei nº 201/1967.

Consta da exordial que, "de forma livre, consciente e voluntária, entre os anos de 2012 e 2014,
IVANILDO MACEDO DOS SANTOS, atuando na qualidade de prefeito do município de
Riachão do Dantas/SE e juntamente com CARLOS CEZAR LISBOA DA FONSECA, ex-
Secretário dos Transportes, deu destinação diversa a recursos públicos oriundos do PNATE
(Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar), mediante pagamento indevido à
empresa VIAÇÃO SANT´ANA LTDA., administrada por MARIVAL SILVA SANTANA,
por serviços não utilizados e em descumprimento aos normativos legais, conduta que se amolda
à norma contida no art. 1º, inciso I do Decreto-lei nº 201/1967. Outrossim, IVANILDO
MACEDO DOS SANTOS e CARLOS CEZAR LISBOA DA FONSECA igualmente deixaram
de apresentar documentação necessária para a prestação de contas dos mesmos recursos
do PNATE, conduta que se adequa às normas contidas no art. 1º, inciso VII do Decreto-lei nº
201/1967."

Sustenta o MPF que a fiscalização da Controladoria Geral da União (CGU) comprovou diversas
condutas ilegais, na aplicação de recursos federais oriundos do PNATE e na execução do
Programa Caminho da Escola, por meio do qual foram disponibilizados ônibus, para transporte
escolar.

Alega que os aditivos formalizados no contrato administrativo, celebrado com a empresa Viação
Sant'ana Ltda, no qual foram utilizadas verbas do PNATE, não levou em consideração a
aquisição dos ônibus escolares, por meio do Programa Caminho da Escola, sendo que algumas
rotas eram feitas tanto pelos veículos locados, quanto pelos ônibus cedidos pelo programa.
Notificados, os réus apresentaram defesa prévia.

Pela defesa de IVANILDO (id. 4058503.2686549), foi informado que não houve os prejuízos
citados na inicial, na medida em que, com o início de sua gestão como prefeito, foi realizado um
novo contrato, que em comparação com aquele de 2009, a quantidade de veículos e os valores
foram muito inferiores, demonstrando economia e equilíbrio nas constas publicas.

Em sua defesa prévia, MARIVAL salienta que a fiscalização realizada pela CGU, no ano de
2014, ocorreu após dois anos dos fatos apontados na denúncia, ressaltando que tais conclusões
se pautaram em presunção de não prestação do serviço, sem qualquer pesquisa empírica para
aferir a prestação do serviço, tais como entrevista com alunos e professores. Ademais, afasta sua
responsabilidade, restringindo as consequências descritas na inicial à conduta exclusivamente
do Município de Riachão do Dantas:

"Tudo leva a concluir, Excelência, que o Município de Riachão do Dantas foi omisso no seu
dever de fiscalização, deixando de apresentar todas as informações necessárias aos órgãos de
controle externo. Essa postura negligente do gestor público - que, inclusive, deu causa à rejeição
de sua prestação de contas, consoante Parecer nº 2505/2016 às fls. 460-461 - não pode ser
objetivamente imputada ao Sr. Marival Silva Santana, porquanto não tivesse ele a
responsabilidade ou dever funcional de praticar qualquer ato administrativo voltado a suprir a
culpa imputável à má-gestão da Administração Pública Municipal."

Por fim, faz referência a notas fiscais, relação de veículos utilizados no trsnporte escolar, bem
como certidões negativas de débitos trabalhistas, com comprovantes de pagamentos a
terceirizados, todos encartados nos autos, devidamente atestadas pelos gestores municipais, de
forma a demonstrar a efetiva prestação do serviço, com sua devida fiscalização pelo Município.

Após, a denúncia foi recebida (id. 4058503.2908679) em relação ao delito do art. 1º, inciso I, do
Decreto-Lei nº 201/67, e rejeitada quanto a prática do delito do art. 1º, inciso VII do Decreto-
Lei nº 201/67.

Citados, os réus apresentaram sua resposta à acusação.

A defesa de MARIVAL SILVA SANTANA interpôs embargos de declaração diante da decisão


que recebera a denúncia, alegando cerceamento de defesa, pois o MPF deixou de juntar
documentos que fundamentassem a denúncia, além dos pedidos formulados pelo recorrente não
foram apreciados pelo Juízo antes do recebimento da denúncia (4058503.3002734).

Foi determinada, ao MPF, por meio da decisão de id. 4058503.3179894, a juntada da


documentação apreendida com o acusado MARIVAL, constante no Auto de Apreensão nº
247/2017.

Manifestou o MPF que a referida documentação já se encontra digitalizada nos autos, sendo que
os originais foram encaminhados a este Juízo. Com base nisso, determinou-se a certificação
acerca da referida documentação (4058503.3509508), pela Secretaria do Juízo, e a intimação da
defesa de MARIVAL para acessar a documentação já disponibilizada em Secretaria (id
4058503.4445521).

Ivanildo Macedo dos Santos (id. 4058503.3299274) e Carlos Cezar Lisboa da Fonseca (id.
4058503.3303665), em peças diversas arguiram as mesmas preliminares: a) inépcia da
denúncia, por ser imprecisa e genérica; b) atipicidade da conduta, por ausência de tipo penal
descrito no art. 1º, inciso I do Decreto-lei nº 201/67; c) inexistência de justa causa para o
prosseguimento da ação penal por ausência de dolo.
Já Marival Silva Santana (id. 4058503.5114367) ratificou os argumentos da defesa preliminar e
se resguardou para apresentar os argumentos de sua defesa em momento oportuno, quando das
alegações finais.

Em decisão de id. 4058503.5464476, foram afastadas as preliminares de inépcia da inicial e


falta de justa causa, sendo, também, rejeitada a absolvição sumária, por não estar presente
nenhuma das hipóteses do art. 397 do CPP.

Em audiência de instrução e julgamento realizada em 26 de maio de 2022 (id


4058503.5937921), estando presentes os réus, procedeu-se à oitiva das testemunhas de acusação
e de defesa e, em seguida, ao interrogatório dos denunciados.

Em sede de diligências complementares, foi determinada, na forma do art. 402 do CPP, a


intimação do Município de Riachão do Dantas, para apresentação de documentos, os quais
foram apresentados, através do ofício de id. 4058503.6259787.

Foram apresentadas alegações finais, em forma de memoriais, pela acusação (id.


4058503.6546021) e defesas de Ivanildo Macedo dos Santos e Carlos Cezar Lisboa da Fonseca
(id. 4058503.6631472).

A defesa do réu Marival, apesar de intimada, deixou de apresentar suas razões finais.

Em suas razões finais, o Ministério Público Federal requereu a condenação dos réus, reiterando
os fatos aludidos na inicial, sendo estes corroborados pelo depoimento da José Joel Avila
Santos.

Em suas alegações finais, a defesa de Ivanildo e Carlos Cezar requereu sua absolvição,
sustentando, com base nos depoimentos colhidos em sede de instrução judicial, a ausência do
dolo específico de desviar em proveito próprio ou alheio ou intenção de provocar dano ao
erário, bem como falta de base probatória e materialidade do delito.

É o relatório. Passo a decidir.

2. Fundamentação

2.1. Dos fundamentos para a condenação dos réus

Os fatos imputados aos réus consistem na destinação indevida de recursos públicos, oriundos do
PNATE (Programa Nacional de Apoio ao Transporte do Escolar), mediante pagamento à
empresa VIAÇÃO SANT´ANA LTDA., administrada por MARIVAL SILVA SANTANA, por
serviços não utilizados e em descumprimento aos normativos legais.

A sínteses da acusação é no sentido de que o Sr. Ivanildo, prefeito de Riachão do Dantas, teria
desviado recursos do Programa Nacional de Apoio ao Transporte Escolar, em benefício da
empresa Viação Santana, nos anos de 2012 a 2014, com a qual o município teria contrato de
transporte escolar desde o ano de 2009.

As condutas consistem no fato de se ter destinado, em substituição, ônibus oficiais (recebidos


do programa Caminho da Escola) para fazer rotas dos ônibus locados da empresa, nos anos de
2012 a 2014, sem reduzir o pagamento do valor contratado.

Teria, dessa forma, efetuado pagamento por serviços não prestados, desviando os recursos
indevidamente em favor da Viação Santana.
Na denúncia, o parquet imputa aos réus os tipos penais insculpidos art. 1º, inciso I do Decreto-
lei nº 201/1967.

A materialidade delitiva foi demonstrada pelas provas constantes do inquérito policial,


notadamente a) Relatório de Demandas Externas nº 00224.000895/2014-61, constantes do IPL
442/2016 (id. 4058503.2546303, p. 05-30); b) Contrato Administrativo nº 47/2009 (f. 62-68 do
IPL 442/2016), que se refere à locação de veículos com a empresa VIAÇÃO SANT´ANA
LTDA; e c) oitiva, em juízo, da testemunha de acusação JOSE JOEL AVILA SANTOS.

Constam do Relatório de Demandas Externas, a constatação de diversos ilícitos, cometidos na


execução das verbas advindas do PNATE, principalmente decorrente da manutenção do
Contrato Administrativo nº 47/2009, que, dos diversos objetos da avença, constava a prestação
de transporte escolar.

A realização desse serviço público se dava por intermédio de recursos do PNATE. Contudo, as
rotas cobertas, na maioria delas, eram as mesmas daquelas já abarcadas por veículos oficiais,
obtidos pelo Programa Caminho da Escola. Constatou-se, através de fiscalização in loco, que
não houve redução ou, até mesmo, adequação do objeto correspondente ao aludido contrato
administrativo.

Na verdade, o que aconteceu foi a renovação do contrato, sem, ao menos, conter aditivos que
lhe promovessem uma adequação, ora no seu valor, ora no objeto.

Na "consolidação dos resultados" do citado relatório (id. 4058503.2546303, p. 6), a CGU, com
base em trabalhos de fiscalização, constatou diversas falhas relativas à aplicação dos recursos
federais, merecendo destaque a seguinte conclusão:

"Já em relação ao PNATE e ao Caminho da Escola, constatou-se falta de conservação dos


veículos, ausência de controle de itinerários, divergência, despesas incompatíveis com os do
quantitativo de veículos contratados objetivos do programa, pagamento por serviços não
realizados falta de curso especializado dos condutores de documentação obrigatória veículos de
transporte escolar, sendo recomendada a devolução dos recursos empregados em despesas
incompatíveis com os objetivos do programa e com serviços não realizados."

Mais a frente, aponta, ainda, que a irregularidades na aplicação dos recursos do PNATE, seriam:
despesas realizadas incompatíveis com os objetivos do programa; pagamento de serviços não
recebidos; informações insuficientes dos comprovantes de despesas; ausência de controle do
itinerário dos veículos contratados; e divergência do quantitativo de veículos contratados.

Especificamente em relação a cada irregularidade, foram atestados os seguintes fatos,


devidamente transcritos no relatório:

"2.1.1. Despesas realizadas incompatíveis com os objetivos do programa

Fato: Da análise dos extratos bancários da conta específica do programa e dos relatórios
financeiros extraídos do sistema de contabilidade da Prefeitura foram identificados pagamentos
incompatíveis com os objetivos do programa:

[...]

2.1.2. Pagamentos por serviços não recebidos


Fato: Por meio dos Ofícios SMCI nº 108/2014, de 28 de novembro de 2014 e 112/2014, de 18
de dezembro de 014, o gestor municipal informou roteiros cobertos por veículos oficiais, que
coincidem com roteiros licitados pelo procedimento de Concorrência nº 001/2009, que originou
o Contrato nº 047/2009, firmado com a Viação Santana Ltda-ME, então vigente [...] Ressalta-se
que no período de 2010 a 2013 o município recebeu por meio do Programa Caminho da Escola
seis ônibus para o transporte de alunos, no entanto, nesse ínterim não houve qualquer alteração
do contrato inicial para supressão de roteiros.

[...]

2.2.4. Divergência no quantitativo de veículos contratados

Fato: Nos exercícios 2012 e 2013 o Contrato de Prestação de Serviço de Transporte vigente era
o de nº 047/2009, oriundo da Concorrência nº 001/2009, que teve sua vigência estendida até 28
de fevereiro de 2014 por meio do 11º Termo Aditivo, de 27 de fevereiro de 2013, o qual previa
a contratação de veículos para o atendimento de dezenove roteiros [...]"

Em relação à ausência do controle de itinerário dos veículos contratados, o Munícipio, através


do Ofício/GABPREF/008/2015, informou que não dispunha dos referidos controles, "pois,
como sendo roteiros fixos, dispensamos sua utilização".

No que tange às informações insuficientes nos comprovantes de despesa, o Município também


demonstra desídia na condução dos recursos públicos, uma vez que, em resposta à CGU,
assinala que não detalhava, nos documentos fiscais e similares, as despesas relativas a cada
serviço prestado.

Disso, consoante consta no mencionado relatório, ocasionou um prejuízo ao Erário de


aproximadamente de R$ 20.677,00 (vinte mil, seiscentos e setenta e sete reais) mensais (id.
4058503.2546303, p. 22), em favor da Viação Sant´anna.

A autoria delitiva atribuída aos réus IVANILDO MACEDO DOS SANTOS e CARLOS
CEZAR LISBOA DA FONSECA também resta suficientemente demonstrada, na medida em
que, consoante já explanado, houve, por parte dos gestores municipais, a manutenção dos
contratos de locação de veículos, sem realizar adequações necessárias, diante do advento das
verbas do PNATE, consoante já exaustivamente demonstrado acima.

O réu MARIVAL alega em seu depoimento que, desde 2013, havia se desvinculado da empresa
de transporte. Até 2012, o aditamento do contrato administrativo (id. 4058503.6259855, p. 4)
vinha sendo assinado pelo réu, sendo que, a partir de 2013, o contrato passou a ser subscrito por
outra pessoa (id. 4058503.6259856, p. 4), sendo tal fato repetido nos aditivos subsequentes
(2016, id. 4058503.2694602; 2015, id. 4058503.2694605; 2014, id. 4058503.2694607).

Apesar de, após 2013, MARIVAL não constar nos instrumentos contratuais, como representante
da empresa, o réu esteve à frente da empresa no ano de 2012, que se inseriu no período no qual
foram apuradas as irregularidades pela CGU, já que a fiscalização foi realizada nos anos de
2012 a 2014.

Inverossímil, assim, as alegações do réu de que não esteve à frente da empresa no período,
constante na denúncia, da pratica dos ilícitos.

Convém salientar que, com base no Relatório de Demandas Externas nº 00224.000895/2014-61,


constantes do IPL 442/2016 (id. 4058503.2546303, p. 15-16), foi constatado o pagamento de
verbas oriundas do PNATE por serviços que não foram prestados pela VIAÇÃO SANT´ANA
LTDA., administrada por MARIVAL SILVA SANTANA.
[...] Ressalta-se que no período de 2010 a 2013 o município recebeu por meio do Programa
Caminho da Escola seis ônibus para o transporte de alunos, no entanto, nesse ínterim não houve
qualquer alteração do contrato inicial para supressão de roteiros.

Diante da ausência de controle do itinerário dos veículos contratados com a empresa de


transporte (p. 19, id. ), das informações insuficientes nos comprovantes de despesa (p. 18, id. ),
divergência no quantitativo de veículos contratados (p. 19 a 20, id. ), concluiu o órgão de
controle federal no pagamento de serviços não recebidos no valor de 20.677,00 (vinte mil,
seiscentos e setenta e sete reais) mensais (id. 4058503.2546303, p. 22), em favor da Viação
Sant´anna.

De volta à conduta dos gestores municipais, as respostas às indagações da CGU às


irregularidades apontadas na aplicação das referidas verbas públicas, evidenciam total descaso
na gestão das verbas federais, no cumprimento de programa essencial para consecução dos
objetivos do ensino público.

Da mesma forma, a responsabilidade penal dos réus restou, deveras, comprovada.

A imputação da conduta dos gestores foi tipificada pelo parquet, no inciso I do art. 1º do
Decreto-Lei n. 201/1967:

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder
Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores:

I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio;

[...]

§1º Os crimes definidos neste artigo são de ação pública, punidos os dos itens I e II, com a pena
de reclusão, de dois a doze anos, e os demais, com a pena de detenção, de três meses a três
anos.

Quanto às provas existentes nos autos, há nítida contradição entre as documentais e os


depoimentos prestados em juízo.

Os ofícios SMCI nº 104/2014 e 112/2014 (ids 4058503.2546330 e 4058503.2546331),


remetidos à Controladoria Geral da União pelo Secretário de Controle Interno do Município de
Riachão do Dantas, em 28/11/2014 e 18/12/2014, informam, de maneira específica, os
itinerários, veículos e condutores, utilizados no transporte escolar.

No ano de 2012, o transporte escolar, custeado pelo PNATE, teve 07 trajetos, envolvendo 05
ônibus, dos quais 03 eram oficiais e 04 eram locados da Viação Santana.

De igual forma, no ano de 2013, foram 10 trajetos e 10 ônibus, dos quais 06 eram oficiais e
apenas 04 da viação Santana.

Em 2014, foram 12 trajetos e 12 ônibus, dos quais 08 eram oficiais e apenas 04 da viação
Santana.

Não obstante o número de ônibus que efetivamente teriam prestado serviços, a Viação Santana
recebeu pela integralidade do contrato pactuado em 2010 e renovado seguidamente até 2014,
correspondente à locação de 17 ônibus e 2 vans para operarem os 19 trajetos indicados no
contrato objeto da licitação.
Em contrariedade ao ofício indicando os quantitativos, as provas testemunhais (id.
4058503.5937920), baseadas no depoimento do ex-secretário da Educação Edson Soares Farias
e Lúcio Flávio, assessor do controle interno do Município, convergiram no sentido de que, até
2014, os ônibus oficiais não substituíram os ônibus locados, ambos ressaltaram que os novos
veículos foram utilizados para complementar o transporte, dada a enorme lotação em alguns
itinerários e o surgimento de novos alunos e de novas localidades, para transportar em
decorrência do fechamento de escolas.

O ex-secretário de educação, José Joel Ávila Santos, em seu depoimento judicial (ID.
4058503.5937920), disse que não se lembrava quantos ônibus eram oficiais e quantos eram
contratados, não se recordando, ainda, da existência de controle documental da destinação dos
ônibus oficiais, o que demonstra a falta de cuidado dos gestores na utilização dos recursos
federais.

Em seus interrogatórios, os três réus negaram peremptoriamente que tenha havido pagamento
sem a prestação de serviço, afirmando que a chegada dos ônibus oficiais não significou a
redução do serviço prestado pela contratada, ou seja, do número de ônibus locados ao município
e nem do efetivo uso dos mesmos para transporte dos alunos e, também, que os ônibus oficiais
foram utilizados para atenuar a lotação em alguns roteiros.

Confrontando a prova documental consistente nos ofícios mencionados com os depoimentos


colhidos em juízo, tenho como prevalecente a prova documental.

Não só por se tratar de documento revestido de fé pública, mas pela clareza, precisão e
completude dos dados que informa, que não foram infirmados pela defesa, quer pela ausência de
documentos que corroborassem os testemunhos e se contrapusessem aos referidos ofícios, quer
pelo fato de terem sido ouvidas apenas testemunhas ligadas à administração e ocupantes, à
época, de cargos de comissão do prefeito réu.

Dessa forma, admitido como prevalente a prova documental que afirmou que ônibus oficiais
fizeram o transporte das linhas de responsabilidade da empresa contratada, nos anos de 2012 a
2014, e considerando que o contrato foi pago sem abatimento dos serviços feitos pelos ônibus
oficiais, tenho como comprovada a materialidade do fato e a consequente responsabilidade
penal dos acusados.

Com base na prova documental, bem como no depoimento da testemunha José Joel Ávila
Santos, as condutas de IVANILDO, CARLOS CEZAR e MARIVAL encontram-se amoldadas
no tipo penal do inciso I do art. 1º do Decreto-Lei n. 201/1967, na medida em que houve a
demonstração, conforme relatórios da CGU, do desvio de verbas públicas em favor da empresa
VIAÇÃO SANT´ANA LTDA. Foi comprovado a não adequação do contrato administrativo de
locação de veículos de transporte escolar, com a redução do seu objeto ou do valor da avença,
mesmo com a destinação de veículos oficiais, do programa Caminha da Escola.

Assentadas estas premissas, passo à dosimetria da pena, partindo da pena privativa de liberdade.

2.2. Dosimetria da pena para IVANILDO MACEDO DOS SANTOS

2.2.1 Pena privativa de liberdade.

Inicialmente, observo que, da análise das circunstâncias do art. 59 do CP, entendo que a
culpabilidade (reprovabilidade) deve ser valorada de forma neutra. O fato de ocupar o cargo de
Prefeito, o que ocasionaria uma maior reprovabilidade, já está inserido no próprio tipo penal,
impossibilitando agravar-lhe a pena. Da mesma forma, o baixo prejuízo resultante da conduta
impede analisar negativamente o vetor da culpabilidade, pois não se extrapolou os limites
razoáveis do tipo, para conferir uma maior reprovabilidade da conduta.

Quanto aos antecedentes, na data dos fatos, ocorridos em 2012 a 2014, não constam dos autos
nenhuma condenação contra os réus, não havendo, assim, antecedentes a serem valorados
negativamente.

Também, não há elementos para negativar as circunstâncias referentes à conduta social, à


personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias do crime.

Quanto ao comportamento da vítima, que deve ser necessariamente neutra (STJ. 5ª Turma. HC
541.177/AC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 04/02/2020), também não tem o condão de
exasperar a pena.

Como todas as circunstâncias se mantiveram neutras, fixo a pena base em 02 (dois) anos de
reclusão.

Na segunda fase de aplicação da pena, não foram constatadas agravantes, nem atenuantes.

Ausente outra causa de aumento ou ainda qualquer causa de diminuição da pena, fixo a pena
definitiva em 02 (dois) anos de reclusão, a serem cumpridos em regime inicial aberto, nos
termos do art. 33, § 2º, do CP.

Tendo em vista que a pena privativa de liberdade aplicada não é superior a 04 (quatro) anos, que
o crime foi praticado sem violência ou grave ameaça e que as circunstâncias do art. 59 do CP
são favoráveis, converto dita penalidade, nos termos do art. 44 do CP, em duas penas
restritivas de direitos, quais sejam: a) prestação de serviços em entidade pública ou assistencial
pelo tempo da pena em definitivo, à razão de 01 (uma) hora de tarefa por dia de condenação,
sendo-lhe facultado cumprir a pena em menor tempo, desde que não inferior a 01 (um) ano, em
entidade a ser definida pelo juízo da execução e; b) prestação pecuniária no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais), conforme situação econômica do réu, informada no interrogatório,
podendo ser efetuada de forma parcelada.

2.3 Dosimetria da pena de CARLOS CEZAR LISBOA DA FONSECA

2.3.1 Pena privativa de liberdade.

Inicialmente, observo que, da análise das circunstâncias do art. 59 do CP, entendo que a
culpabilidade (reprovabilidade) deve ser valorada de forma neutra. O fato de ocupar o cargo de
Secretário do Município, o que ocasionaria uma maior reprovabilidade, já está inserido no
próprio tipo penal, impossibilitando agravar-lhe a pena. Da mesma forma, o baixo prejuízo
resultante da conduta impede analisar negativamente o vetor da culpabilidade, pois não se
extrapolou os limites razoáveis do tipo, para conferir uma maior reprovabilidade da conduta.

Quanto aos antecedentes, na data dos fatos, ocorridos em 2012 a 2014, não constam dos autos
nenhuma condenação contra os réus, não havendo, assim, antecedentes a serem valorados
negativamente.

Também, não há elementos para negativar as circunstâncias referentes à conduta social, à


personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias do crime.
Quanto ao comportamento da vítima, que deve ser necessariamente neutra (STJ. 5ª Turma. HC
541.177/AC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 04/02/2020), também não tem o condão de
exasperar a pena.

Como todas circunstâncias se mantiveram neutras, fixo a pena base em 02 (dois) anos de
reclusão.

Na segunda fase de aplicação da pena, não foram constatadas agravantes, nem atenuantes.

Ausente outra causa de aumento ou ainda qualquer causa de diminuição da pena, fixo a pena
definitiva em 02 (dois) anos de reclusão, a serem cumpridos em regime inicial aberto, nos
termos do art. 33, § 2º, do CP.

Tendo em vista que a pena privativa de liberdade aplicada não é superior a 04 (quatro) anos, que
o crime foi praticado sem violência ou grave ameaça e que as circunstâncias do art. 59 do CP
são favoráveis, converto dita penalidade, nos termos do art. 44 do CP, em duas penas
restritivas de direitos, quais sejam: a) prestação de serviços em entidade pública ou assistencial
pelo tempo da pena em definitivo, à razão de 01 (uma) hora de tarefa por dia de condenação,
sendo-lhe facultado cumprir a pena em menor tempo, desde que não inferior a 01 (um) ano, em
entidade a ser definida pelo juízo da execução e; b) prestação pecuniária no valor de R$
5.000,00 (cinco mil reais), conforme situação econômica do réu, informada no interrogatório,
podendo ser efetuada de forma parcelada.

2.4 Dosimetria da pena de MARIVAL SILVA SANTANA

2.4.1 Pena privativa de liberdade.

Inicialmente, observo que, da análise das circunstâncias do art. 59 do CP, entendo que a
culpabilidade (reprovabilidade) deve ser valorada de forma neutra. O baixo prejuízo acarretado
aos cofres municipais, bem como o pouco tempo em que esteve a frente da empresa, resulta em
uma conduta que impede analisar negativamente o vetor da culpabilidade, pois não se
extrapolou os limites razoáveis do tipo, para conferir uma maior reprovabilidade da conduta.

Quanto aos antecedentes, na data dos fatos, ocorridos em 2012 a 2013, não constam dos autos
nenhuma condenação contra o réu, não havendo, assim, antecedentes a serem valorados
negativamente.

Também, não há elementos para negativar as circunstâncias referentes à conduta social, à


personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias do crime.

Quanto ao comportamento da vítima, que deve ser necessariamente neutra (STJ. 5ª Turma. HC
541.177/AC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 04/02/2020), também não tem o condão de
exasperar a pena.

Como todas circunstâncias se mantiveram neutras, fixo a pena base em 02 (dois) anos de
reclusão.

Na segunda fase de aplicação da pena, não foram constatadas agravantes, nem atenuantes.
Ausente outra causa de aumento ou ainda qualquer causa de diminuição da pena, fixo a pena
definitiva em 02 (dois) anos de reclusão, a serem cumpridos em regime inicial aberto, nos
termos do art. 33, § 2º, do CP.

Tendo em vista que a pena privativa de liberdade aplicada não é superior a 04 (quatro) anos, que
o crime foi praticado sem violência ou grave ameaça e que as circunstâncias do art. 59 do CP
são favoráveis, converto dita penalidade, nos termos do art. 44 do CP, em duas penas
restritivas de direitos, quais sejam: a) prestação de serviços em entidade pública ou assistencial
pelo tempo da pena em definitivo, à razão de 01 (uma) hora de tarefa por dia de condenação,
sendo-lhe facultado cumprir a pena em menor tempo, desde que não inferior a 01 (um) ano, em
entidade a ser definida pelo juízo da execução e; b) prestação pecuniária no valor de R$
10.000,00 (dez mil reais), conforme situação econômica do réu, informada no interrogatório,
podendo ser efetuada de forma parcelada.

2.5 Fixação do valor mínimo para reparação dos danos

Na exordial acusatória, bem como nas alegações finais, o MPF requereu que fosse fixado, na
forma do art. 387, IV, do CPP, quando da condenação, o valor mínimo para reparação do dano
causado ao erário.

Nesse ponto, tendo ocorrido requerimento expresso do órgão ministerial, é cabível a apreciação
do pleito pelo magistrado, uma vez que devidamente submetido ao contraditório.

Em sede de apuração de irregularidades, nos termos do Relatório de Demandas Externas nº


00224.000895/2014-61, constantes do IPL 442/2016 (id. 4058503.2546303, p. 05-30) foi
constatado um prejuízo de R$ 20.677,00 (vinte mil, seiscentos e setenta e sete reais) (id.
4058503.2546303, p. 22).

Em sendo assim, com fulcro no art. 387, IV, do CPP, fixo como valor mínimo para reparação
dos danos causados pela infração, o valor de R$ 20.677,00 (vinte mil, seiscentos e setenta e sete
reais), acrescido de correção monetária (Súmula 43 do STJ) e juros a contar do ato ilícito
(Súmula 54 do STJ).

Ressalte-se, por fim, que este é o montante mínimo da reparação civil, não havendo óbice para
que se busque, na esfera cível, sua complementação, caso se verifique que o dano aos cofres da
autarquia previdenciária ultrapassa o patamar ora fixado.

3. Dispositivo

Ante o exposto, julgo PROCEDENTE a denúncia e:

a) condeno o réu IVANILDO MACEDO DOS SANTOS pela prática do crime previsto no
inciso I do art. 1º do Decreto-Lei n. 201/1967, a 02 (dois) anos de reclusão, a serem cumpridos
em regime inicial aberto, nos termos do art. 33, § 2º, do CP. A pena privativa de liberdade será
convertida em: a) prestação de serviços em entidade pública ou assistencial pelo tempo da pena
em definitivo, à razão de 01 (uma) hora de tarefa por dia de condenação, sendo-lhe facultado
cumprir a pena em menor tempo, desde que não inferior a 01 (um) ano, em entidade a ser
definida pelo juízo da execução e; b) prestação pecuniária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais).
b) condeno o réu CARLOS CEZAR LISBOA DA FONSECA pela prática do crime
previsto no inciso I do art. 1º do Decreto-Lei n. 201/1967, a 02 (dois) anos de reclusão, a serem
cumpridos em regime inicial aberto, nos termos do art. 33, § 2º, do CP. A pena privativa de
liberdade será convertida em: a) prestação de serviços em entidade pública ou assistencial pelo
tempo da pena em definitivo, à razão de 01 (uma) hora de tarefa por dia de condenação, sendo-
lhe facultado cumprir a pena em menor tempo, desde que não inferior a 01 (um) ano, em
entidade a ser definida pelo juízo da execução e; b) prestação pecuniária no valor de R$
5.000,00 (cinco mil reais).

c) a) condeno o réu MARIVAL SILVA SANTANA pela prática do crime previsto no inciso I
do art. 1º do Decreto-Lei n. 201/1967, a 02 (dois) anos de reclusão, a serem cumpridos em
regime inicial aberto, nos termos do art. 33, § 2º, do CP. A pena privativa de liberdade será
convertida em: a) prestação de serviços em entidade pública ou assistencial pelo tempo da pena
em definitivo, à razão de 01 (uma) hora de tarefa por dia de condenação, sendo-lhe facultado
cumprir a pena em menor tempo, desde que não inferior a 01 (um) ano, em entidade a ser
definida pelo juízo da execução e; b) prestação pecuniária no valor de R$ 10.000,00 (dez mil
reais)

d) fixo, ainda, como valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração, a quantia
de R$ 20.677,00 (vinte mil, seiscentos e setenta e sete reais), acrescido de acrescido de correção
monetária (Súmula 43 do STJ) e juros a contar do ato ilícito (Súmula 54 do STJ), que se deu na
constatação do prejuízo, referente a data de confecção do Relatório de Demandas Externas nº
00224.000895/2014-61, em 14/12/2014.

Custas na forma da lei.

Com o trânsito em julgado, registre-se a condenação no Sistema PJe e comunique-se ao


Tribunal Regional Eleitoral, para fins do disposto no artigo 15, III, da Constituição Federal. Em
seguida, adotem-se as medidas necessárias para o início da execução das penas.

Publicação e registro automáticos. Intimem-se.

Lagarto/SE, data infra.

JAILSOM LEANDRO DE SOUSA

Juiz Federal da 8ª Vara

Processo: 0800105-03.2019.4.05.8503
Assinado eletronicamente por: 2305151744542770000000
JAILSOM LEANDRO DE SOUSA - Magistrado 7000831
Data e hora da assinatura: 12/06/2023 09:46:51
Identificador: 4058503.6981633

Para conferência da autenticidade do documento:


https://pje.jfse.jus.br/pjeconsulta/Processo/ConsultaDocum
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