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PETIÇÃO 11.

219 DISTRITO FEDERAL

RELATOR : MIN. LUIZ FUX


REQTE.(S) : ALESSANDRO VIEIRA
ADV.(A/S) : CAIO CHAVES MORAU
REQDO.(A/S) : VALMIR DOS SANTOS COSTA
ADV.(A/S) : SEM REPRESENTAÇÃO NOS AUTOS

DESPACHO: Trata-se de interpelação judicial deduzida pelo


Senador da República Alessandro Vieira, com fundamento no art. 144 do
Código Penal, contra Valmir dos Santos Costa, ex-candidato ao cargo de
Governador do Estado de Sergipe nas eleições de 2022.
O interpelante pretende que o interpelado esclareça afirmação
registrada durante entrevista concedida ao Jornal da Fan, da Rádio Fan
FM, realizada em 17 de abril de 2023, materializada nas seguintes
palavras:
“Eu já tava fora, só ia poder ser candidato em 2028, e aí pra mim
(sic) me livrar eu declarei apoio ao Rogério, mas foi uma declaração
para aquele momento, eu não tenho entendimento político de
continuidade de fazer política com o Rogério.
A minha linha era não declarar apoio nem a Fábio e nem a
Rogério, tá certo? É minha linha porque ambos trabalhou (sic) para
me deixar inelegível e me tirar do pleito eleitoral, como todos, como
Alessandro, como outras pessoas políticas também, o mesmo discurso
eu mantenho. Tá certo?
Agora não teve entendimento, não teve nada, então eu tinha que
ficar elegível, por que se fosse você, você faria o quê, Fernando? Se
dissesse: “Você tem possibilidade de ficar elegível e seu filho voltar
para a Assembleia. Você já tá morto, já saiu, terminou o primeiro
turno, isso na segunda-feira, terminou a eleição no domingo, na
segunda recebi um telefonema. Aí disse: “Você tem possibilidade de
ficar elegível e o seu filho voltar para a Assembleia, você quer voltar,
declara apoio, a A ou a B, ambos votaram em Lula, tanto um quanto o
outro, eu era bolsonarista. A única diferença de Rogério é que Rogério
era PT. Todo mundo sabe que eu fiz. Se não eu tava inelegível até
2028.
[...]

Documento assinado digitalmente conforme MP n° 2.200-2/2001 de 24/08/2001. O documento pode ser acessado pelo endereço
http://www.stf.jus.br/portal/autenticacao/autenticarDocumento.asp sob o código 729D-49B2-0517-2E5B e senha 21AA-6501-B64B-51F6
PET 11219 / DF

No segundo turno, eu não tinha opção: para ficar elegível, eu


tinha que declarar apoio à ‘A’ ou a ‘B’. Não tinha alternativa. Escolhi
a menos traumática para mim, aqui na região do Agreste. Eu já estava
fora, só poderia ser candidato em 2028 e aí, para me livrar, declarei
apoio a Rogério, mas foi uma declaração para aquele momento. Não
tenho entendimento político de continuidade em fazer política com
Rogério, nem com ninguém. Vou continuar fazendo política com o
nosso agrupamento.
[...]
Todos os meus adversários queriam me deixar fora do páreo, pois
sabiam que nós ganharíamos no primeiro turno. Eu não quero me
aprofundar, mas todo mundo sabe os motivos de tudo isso ter
acontecido. Foi para me tirar do processo e não deixar Valmir ser
governador do Estado. Isso é fato.”

O interpelante diz que as “declarações apresentadas representam


alegações dúbias, equívocas e ambíguas, para além de não desvelarem a totalidade
de seus destinatários”, ressaltando que tais declarações lançaram as
seguintes suspeitas aos ouvintes:

“a) o interpelante teria ‘trabalhado’ para deixar o interpelado


inelegível e fora do pleito eleitoral;

b) o Senador Rogério Carvalho (PT/SE) teria exercido influência


sobre magistrados para adequar o resultado do julgamento do
interpelado aos seus anseios políticos;

c) Ministros do Tribunal Superior Eleitoral, alguns dos quais


oriundos desta Suprema Corte, teriam sido ilicitamente influenciados
para a prolação de decisão favorável ao interpelado.”

O interpelante justifica a competência desta Suprema Corte “pelo teor


da entrevista concedida pelo interpelado, a qual envolve não apenas o
interpelante, atualmente em exercício de mandato como Senador e candidato ao

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Governo de Sergipe no último pleito eleitoral, como também outro Senador da


República (Rogério Carvalho - PT/SE), atingindo igualmente a honra e
respeitabilidade de membros do Tribunal Superior Eleitoral e do próprio Supremo
Tribunal Federal, não expressamente identificados, configurando-se a aludida
incerteza quanto aos destinatários”.
É o relatório.
Nos termos do artigo 144 do Código Penal, “Se, de referências, alusões
ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode
pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz,
não as dá satisfatórias, responde pela ofensa”.
O requerente considera dúbia a afirmação do interpelado, no sentido
de que “teria ‘trabalhado’ para deixar o interpelado inelegível e fora do pleito
eleitoral”. As declarações consideradas ambíguas foram proferidas em 17
de abril do ano corrente, razão pela qual não se operou a decadência.
Nestes termos, cite-se o requerido quanto ao teor da presente Petição
originária, para, querendo, apresentar as explicações solicitadas na inicial,
no prazo de 10 dias.
Publique-se.
Brasília, 16 de maio de 2023.

Ministro LUIZ FUX


Relator
Documento assinado digitalmente

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