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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUÍZA DE DIREITO – HELOISA

CARIELLO – RELATORA DO PROCESSO 0600161-61.2022.6.08.0000 EM


TRÂMITE NO EGRÉGIO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO ESTADO
DO ESPÍRITO SANTO

Processo nº 0600161-61.2022.6.08.0000

LEONARDO PASSOS MONJARDIM E OUTROS, já


devidamente qualificados nos autos em destaque, vêm respeitosamente à presença de
Vossa Excelência, por seu advogado ao final assinado, em atenção ao que dispõe o R.
Despacho de Id. 9043744, nos termos do art. 7º, parágrafo único, da Resolução TSE nº
22.610/2007, apresentar suas

ALEGAÇÕES FINAIS

nos autos da Ação de Perda de Mandato Eletivo em Razão


de Desfiliação Partidária sem Justa Causa, nos termos dos fundamentos fáticos e jurídicos
que passa a expor, para, ao final, requerer.

1
1. DA TEMPESTIVIDADE DAS ALEGAÇÕES FINAIS.

Compulsando os autos observa-se que foi determinado pelo


Magistrado o prazo de 02 (dois) dias para apresentação de alegações finais, nos termos
do Art. 7º, parágrafo único, da Resolução TSE nº 22.610/2007, a partir da data de
publicação da intimação, a qual ocorreu em 23/09/2022 (sexta-feira).

Em sendo assim, tem-se que o prazo final para apresentação


das alegações finais se dará em 26/09/2022 (segunda-feira). Logo, evidenciada a
tempestividade da presente manifestação.

2. DA SÍNTESE DA DEMANDA.

Trata a presente de ação que pleiteia a decretação da perda


do cargo eletivo do vereador do município de Vitória/ES, Gilvan Aguiar Costa, ora
Requerido pelo fato do mesmo ter se desfiliado da agremiação à qual se elegeu sem que
fosse demonstrada qualquer razão para tanto.

Pois bem, nas Eleições de 2020, o Requerido se elegeu pelo


Partido PATRIOTA ao cargo de Vereador do Município de Vitória/ES com 1.560 (mil,
quinhentos e sessenta) votos para o exercício de mandato na Legislatura de 2021/2024.

Registra-se que o Requerido se filiou ao Partido


PATRIOTA na data de 02/04/2020 sem que tenha havido qualquer requerimento de
desfiliação até a presente data.

2
No entanto ao se consultar o sistema de filiaweb na data de
26 de abril de 2022 que, conforme Portaria nº 09/2022 do TSE é a data em que é dada
ciências das alterações de filiação partidária, se constatou que o Requerido estaria filiado
ao partido político Requerido.

O que se percebe é que o Requerido simplesmente achou


por bem deixar o partido que o acolheu e lançou como candidato a vereador e resolveu
integrar às fileiras do partido ora requerido, por razões de cunho pessoal e estratégico
para sua campanha de Deputado Federal, mais especificamente para filiar-se ao Partido
do Presidente Jair Bolsonaro e angariar eventuais benefícios.

Considerando que a atual legislação prevê a


desconsideração da filiação mais antiga, percebe-se que se torna cristalina a
caracterização de uma desfiliação sem justa causa o que, por sua vez, é vedado pelo
Ordenamento Jurídico Eleitoral.

Sendo esse o contexto, denota-se que o Senhor Gilvan


Aguiar Costa se desfiliou do PATRIOTA para integrar os quadros do Partido Liberal sem
o reconhecimento prévio de justa causa ou anuência do partido Requerente, razão
pela qual deverá perder o mandato de Vereador, nos termos do art. 22-A da Lei nº
9.096/95.

Por outro lado, tenta o Requerido Gilvan, a todo custo,


imputar aos Requerentes que os motivos que o teriam levado a se desfiliar teria sido por
conta de um suposto ‘grave preconceito e prejuízo” e por ter o partido PATRIOTA
supostamente “desviado reiteradamente o seu programa partidário”.

3
Tais alegações não restaram comprovadas, razão pela qual
deve ser julgada procedente a presente ação.

A mera menção de existência de grave discriminação


pessoal ou mudança substancial ou o desvio reiterado do programa partidário sem serem
acompanhadas de provas robustas e substanciais, não importa no reconhecimento da Justa
Causa para sua desfiliação, como será demonstrado logo abaixo.

3. DA INFIDELIDADE PARTIDÁRIA – DESFILIAÇÃO SEM JUSTA CAUSA

É certo que o Requerente, seja pelas provas juntadas aos


autos, seja pela oitiva das testemunhas arroladas, demonstrou de maneira cabal que a saída
do vereador do partido PATRIOTA ocorreu sem justa causa e de forma oportunista,
visando única e exclusivamente aproveitar o fato de o atual Presidente da República, Jair
Bolsonaro, ter se filiado ao partido Requerido ao qual o vereador se filiou, não existindo
qualquer justa causa para tal, muito menos ter havido qualquer discriminação pessoal ou
desvirtuamento do programa partidário, restando demonstrada então a “infidelidade
partidária” apta a gerar a cassação de seu diploma.

Qualquer tentativa de se mencionar grave discriminação


política pessoal trata-se em verdade de comportamento absolutamente contraditório
(venire contra factum proprium), que fere os princípios da boa-fé e segurança jurídica e,
por essa razão, é firmemente rechaçado pelo ordenamento jurídico pátrio.

Os prints abaixo comprovam que o vereador foi


convidado/convocado para diversas reuniões e sequer respondeu a mensagem pelo
whatsapp, diferentemente do que afirmaram suas testemunhas e suas alegações em sede
de contestação de que o partido não o valorizava.

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Merece destaque, ainda, que a referida reunião mencionada
nas mensagens acima era referente à escolha dos candidatos a serem apoiados pela
Executiva de Vitória nas eleições 2022.

Conforme exposto por prova testemunhal, a reunião


ocorrida em 1º de fevereiro de 2022 teria definido que os candidatos a serem apoiados
pela Executiva Municipal para o cargo de Deputado Federal e Deputado Estadual seriam
o próprio Gilvan, para Deputado Federal e o Cabo Leo para Deputado Estadual.

Tal escolha foi amplamente difundida por vários veículos


de comunicação especializados, como pode ser verificado abaixo1.

Como pode haver grave discriminação pessoal neste caso,


se o próprio Requerido teria sido escolhido para representar o partido nas eleições para o
cargo de Deputado Federal?

1
https://politicacapixaba.com.br/executiva-municipal-do-patriota-de-vitoria-fecha-apoio-a-candidatura-
de-gilvan-da-federal/bastidores-do-poder/

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O testemunho do Sr. Márcio Emerenciano corrobora a
afirmação do partido de que o requerido, assim como todos os demais membros do Partido
Patriota, era convidado para reuniões que ocorriam junto à executiva de Vitória.

A testemunha ainda afirma de forma clara e precisa, quando


questionado sobre se algum membro já teria sido proibido ou impedido de frequentar
esses eventos, que as “reuniões sempre foram abertas e qualquer pessoa que tivesse o
interesse em participar, mesmo que não fizesse parte do partido, mas estivesse envolvido,
indiretamente, dentro do contexto, poderia participar sem problema algum”.

Outro ponto que merece destaque na fala do Sr. Márcio é o


descaso do Sr. Gilvan para com as reuniões do Partido Patriota. Quando questionado se
o Sr. Gilvan teria sido impedido de participar das reuniões do partido a testemunha
responde:

Márcio: Não, nunca foi impedido. Todas as pessoas,


inclusive, nessas reuniões eu nunca vi a presença do Sr.
Gilvan, a não ser na época da convenção do nosso partido
para decidir quem seriam os candidatos a vereador.

Mais a frente é questionado à testemunha sobre o teor da


reunião que teria ocorrido no início de 2022.

Dr. Igor: Essa reunião então ela não tratou sobre quem
seriam os candidatos do PATRIOTA?
Marcio: Em 2022? Em 2022 foi-se falado inclusive na
possibilidade de nós termos um candidato a Deputado
Federal, que seria, o que nós queríamos, que era uma pessoa
de dentro do PATRIOTA pra ser o candidato a Deputado
Federal.
Dr. Igor: E nessa reunião não foi cotado o nome do Sr.
Gilvan para ser candidato a Federal?

6
Márcio: Pelo contrário! Nós queríamos que ele fosse o
candidato, tanto que em outras vezes, eu mesmo em reunião
do Dr. Leonardo [Monjardim], nós já tínhamos falado que
queríamos o Gilvan como nosso candidato. A gente queria
ele como candidato, só que ele não se dispôs a ficar no
Patriota.

Ainda no tocante a essa suposta discriminação, a própria


testemunha do Requerido, o Sr. Carlos Luiz Zaganelli, afirmou que o Requerido era um
dos nomes cotados pelo Patriota para figurar como candidato a Deputado Federal. Senão
vejamos:

Dr. Igor: Nessa reunião, foram discutidos alguns nomes


para serem os candidatos a Deputado Federal e a Deputado
Estadual. O senhor saberia informar quem estaria sendo
cotado para Deputado Federal?
Carlos: O Gilvan, com certeza.
Dr. Igor: O Gilvan estava sendo cotado para Deputado
Federal?
Carlos: Cotado para Deputado Federal. Em fevereiro sim.
Pelo PATRIOTA.
[...]
Carlos: Até onde eu tinha conhecimento, sim a [executiva]
municipal, inclusive queria botar o Gilvan pra Federal.
[...]
Dr. Igor: Sobre a candidatura do Gilvan pra vereador, lá
atrás, quando foi feita a convenção [...] o senhor havia dito
que foi o Deputado Favatto que deu a palavra final e
colocou o Gilvan na chapa para vereador?
Carlos: Foi. Rafael, aos quarenta e cinco do segundo tempo,
segundo informações que eu obtive, mandou botar, porque
eles já tinham combinado com o Gilvan que ele iria entrar
sim para a chapa.
[...]

7
Dr. Igor: Sobre a convenção. A palavra final para colocar o
Gilvan foi do Rafael Favatto?
Carlos: Pelo o que eu soube, sim. Não estive na convenção,
mas pessoas ligadas a eles me afirmaram que o Gilvan só
entrou porque o Favatto mandou.
Dr. Igor: Recapitulando então. O Rafael Favatto colocou
ele, deu a palavra final para colocar ele como candidato pelo
PATRIOTA e houve uma convenção no início desse ano
para colocar o Gilvan como candidato a Deputado Federal.
Carlos: Não sei se foi uma convenção, mas teve uma
reunião em fevereiro que sim. Em fevereiro o Gilvan botou
a intenção dele de vir a Federal e, inclusive, a municipal
falou sim, claro, não criaram obstáculos.

Basta uma simples análise do texto contido na contestação


apresentada pelo Requerido a respeito da matéria para verificarmos que não passam de
ilações sem qualquer fundamento ou sequer pautada em fatos verídicos. Senão vejamos:

Facilmente se atesta a citada discriminação quando se


verifica a ausência de atuação do ora requerido na
agremiação. Não é de conhecimento de ninguém que o
Gilvan da Federal tenha sido requisitado para uma
assembleia, uma reunião. Não é de conhecimento que o
Requerido tenha assinado, neste tempo de dedicação ao
patriota, qualquer ata de assunto de importante relevância
na forma do estatuto. Não se sabe de qualquer comunicado,
comunicação ou convite feitos pelos diretórios, ora
requerentes, sobre qualquer tratativa seja de comissão,
seja estatutária, seja partidária ou ao menos um convite a
um café. Nada!

Ora, como verificado pelos depoimentos das testemunhas,


não faltaram convites às reuniões do Partido. O que se ocorrera, por outro lado, foi um
completo descaso por parte do Sr. Gilvan, que mesmo quando convidado para reunião

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que o consagrou como o candidato a Deputado Federal pelo partido, o mesmo quedou-se
inerte e sequer respondeu a mensagem convite. Ademais, sabe-se que impera na
organização Partidária a informalidade, razão pela qual não há como prosperar os
argumentos.

Ademais, inobstante haja convite expresso ao mesmo, a


Legislação e o Estatuto definem as formas de cientificação dos membros sendo que o
requerido não apresentou um fato concreto de discriminação pessoal.

Todas as testemunhas, afirmaram não terem presenciado


grave discriminação pessoal, tendo as testemunhas dos Requeridos alegado apenas, sem
qualquer prova, que o requerido estaria descontente com o rumo que o partido
PATRIOTA estaria tomando, o que, por sua vez, não pode ser utilizado como argumento
ensejador de uma justa causa para sua desfiliação, pois se trata de sentimento pessoal.

É facilmente perceptível, portanto, que não ocorrera


qualquer ato de discriminação por parte do partido PATRIOTA em face do Sr. Gilvan,
muito pelo contrário, o que se vislumbra é que não apenas ele não foi discriminado, mas
sim favorecido pelo PATRIOTA.

Outro ponto utilizado pelo Requerido a fim de tentar


justificar sua saída do partido PATRIOTA seria o suposto desvio reiterado do programa
partidário do partido PATRIOTA.

Tal argumentação também não merece prosperar, não


podendo estar mais distante da realidade dos fatos.

Afirma o Requerido, em sua contestação, que “são


flagrantes as infrações ao Estatuto do Patriota pelo presidente Rafael Favatto. Nele pode
ser identificado claramente o objetivo do partido, bem como o DEVER de cada filiado
e/ou representante. A falta de compromisso na defesa de seus princípios acarreta
penalidade por infidelidade partidária”.

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Tal argumento possui como pilar principal o fato do
presidente do Partido PATRIOTA, Dr. Rafael Favatto, ter, durante o período de pandemia
em que nós vivemos, enaltecido algumas vezes a postura adotada pelo Governador do
Estado, Renato Casagrande.

O Dr. Favatto, como médico, entendeu que o modo que a


pandemia foi tratada, no âmbito do Estado do Espírito Santo, foi correta e digna de elogios
por parte da área médica, vez que teria impedido uma situação mais gravosa ao povo
capixaba, opinião do Parlamentar que não se confunde com qualquer ato partidário.

Mas a alegação falaciosa de alinhamento com o Governador


não ocorreu e, diga, também não seria motivo para justa causa. Mas apenas para que não
restem dúvidas tais fatos foram esclarecidos e é corroborado pelos depoimentos das
testemunhas ouvidas de que o Deputado Estadual não tinha um alinhamento automático
com as pautas do governo do Estado. Senão vejamos alguns trechos selecionados a fim
de demonstrar essa situação:

Sr. Marcio Emerenciano:


Dr. Igor: O senhor saberia dizer se o Partido PATRIOTA é
da base aliada do Governo Estadual atual?
Marcio: Absolutamente! Ele nunca foi. Na verdade, tinham
algumas votações que eram interesse da maioria do povo
capixaba, evidentemente o partido, através do nosso
Deputado Favatto, ele apoiava algumas votações, mas
parceria com o Governo do Estado, nunca foi. Pelo meu
conhecimento, não. Absolutamente.
Dr. Igor: Então o partido PATRIOTA nunca participou de
nenhuma coligação ou demonstrou apoio ao atual Governo?
Marcio: Não. Nada, nada, nada. Nenhuma.
Dr. Igor: Saberia me dizer se o Deputado Estadual, Rafael
Favatto, já que foi tocado no nome dele, apoia ou já apoiou
o atual Governador, candidato a reeleição, Renato
Casagrande?
Marcio: Olha, que eu saiba, não.

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Dr. Igor: Saberia dizer se o Rafael Favatto, ou qualquer
outro membro do PATRIOTA que seja, praticou algum ato
que fosse contra as diretrizes e os princípios do partido
PATRIOTA?
Marcio: Não! Absolutamente! O nosso partido, na verdade,
ele preza a família. É um partido pautado, a pauta, vamos
falar assim, a pauta direitista.

Não há que se falar em qualquer desvio do programa


partidário ou violação aos princípios do partido PATRIOTA.

O partido Requerente sempre foi um partido que defendeu


os ideais da Direita, sem nunca se aliar ou se desviar para pautas que fossem contra tais
princípios.

A própria testemunha dos Requeridos, o Deputado Estadual


Capitão Assumção, quando inquirida pela própria procuradora dos Requeridos, foi claro
quando do seu depoimento no tocante ao Deputado Rafael Favatto. Senão vejamos:

Capitão Assumção:
Dra. Mariana: Eu queria saber, deputado, se o senhor tem
conhecimento, até porque o senhor participa do plenário da
Assembleia, do posicionamento do Rafael Favatto, autor da
ação, a Casagrande. Ele se posiciona contra ou a favor aos
projetos que o Casagrande traz junto à assembleia?
Capitão: Olha, eu não acompanho a vida parlamentar do
Deputado Rafael, mas a maior parte dos deputados, nas
pautas que são boas para os capixabas, a maior parte dos
deputados vota favorável, independente do posicionamento
do Governo. É até meio confuso de eu defender assim,
porque até mesmo eu, muitas as vezes os projetos são
bons para os capixabas eu voto favorável.
[...]

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Dra. Mariana: Deputado, o senhor sabe, o senhor viu, o
senhor presenciou o Rafael Favatto, autor da ação,
caminhando com Casagrande, ao lado de Casagrande,
evidenciando situações esquerdistas no plenário da
Assembleia, ou até mesmo se posicionando de forma
ideológica de esquerda?
Capitão: Eu dentro da Assembleia, eu tenho um mandato
muito voltado para as categorias de segurança pública e a
última vez que eu me recordo que eu precisei do apoio dele
[Favatto], e a gente precisa sempre estar em sintonia com
outros parlamentares, ele votou favorável a uma matéria
que era um redutor, acredito que uns dois anos atrás, que
mais sargentos pudessem participar de um curso de
habilitação de sargentos. Era uma matéria muito
polêmica onde o Secretário Chefe da Casa Civil estava
ligando para os deputados e nós conseguimos, eu
consegui convencer o deputado, Dr. Rafael, a votar com
a gente essa matéria. Inclusive, até elaboramos juntos a
minuta da ementa modificativa que fez com que mais
sargentos pudessem ir ao curso naquele período,
acredito que dois anos atrás.

Quando inquirido pelo patrono dos autores, o discurso da


testemunha também demonstrou que não houve qualquer tipo de desvio dos princípios do
Partido PATRIOTA ou de seus membros. Senão vejamos:

Dr. Igor: O senhor saberia dizer qual é a profissão do


Deputado Rafael Favatto?
Capitão: Acredito que ele seja médico obstetra.
Dr. Igor: Médico né? Então é possível dizer que ele é
bem ligado às questões da Saúde, né?
Capitão: Sim.
Dr. Igor: A colega, dra. Mariana, ela fez uma pergunta a
respeito de uma certa admiração pelo jeito que o Secretário

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da Saúde, Nésio Fernandes ele estava tratando o período da
pandemia aqui no Espírito Santo. O senhor poderia dizer se
isso teria alguma relação com a profissão do Rafael Favatto
e o jeito que estava sendo lidado?
Capitão: Isso com certeza, né. Ele [Favatto] tem uma
bandeira voltada pra saúde e estava falando para um
Secretário que ele achava que estava conduzindo bem o
período da pandemia. Foi um momento muito difícil para
todos os deputados.
[...]
Dr. Igor: Por último. O senhor foi filiado ao partido
PATRIOTA por algum tempo, um tempo bastante
considerável né? O senhor poderia me informar o viés
político do PATRIOTA qual seria?
Capitão: É de direita.
Dr. Igor: E, inclusive, foi um dos partidos que o Presidente
Jair Bolsonaro cogitou de lançar a candidatura dele, a
reeleição dele, não foi isso?
Capitão: Correto!

É claro e notório que o Partido PATRIOTA é e sempre foi


de Direita. Tentar afirmar algo contrário disso é algo completamente sem qualquer tipo
de fundamento fático.

Em verdade, tenta o requerido, a todo custo, induzir este


juízo ao erro de acreditar que teria tido uma justa motivação para deixar as fileiras do
partido PATRIOTA, o que não condiz com a verdade, conforme fartamente demonstrado
pelos depoimentos colhidos nos autos.

As próprias testemunhas arroladas pelos Requeridos


demonstraram que não houve qualquer desvio do programa partidário ou qualquer
vestígio de discriminação em face do Sr. Gilvan.

13
O que é de conhecimento geral, na verdade, é que o Senhor
Gilvan buscou se filiar ao partido Requerido com o único intuito de estar no mesmo
partido que o atual presidente da República, Jair Bolsonaro, conforme amplamente
divulgado pelos meios de comunicação.

(Jornal A Tribuna, Edição de 01 de março de 2022, página 16)

Certamente o Requerido não teria deixado o partido


Requerente se a filiação do Presidente Bolsonaro ao PATRIOTA tivesse sido confirmada.

Comprova este fato a utilização oportuna pelo Requerido


em sua campanha para deputado federal do número 2222, em alusão ao número 22 do
candidato a Presidente Jair Bolsonaro, corroborando seu intuito meramente estratégico e
visando interesses pessoais de sair candidato num partido que tivesse o mesmo número
do candidato a Presidente da República, Jair Bolsonaro.

Assim, acerca do conteúdo das oitivas, verifica-se que não


ficou demonstrada a ocorrência da aventada grave discriminação política pessoal ou
desvio reiterado do programa partidário. O que se tem, em verdade, seria um certo
favoritismo pelo Requerido, eis que teria sido escolhido para ser o nome do Partido para
ser candidato a Deputado Federal, não podendo se falar sequer de indício de perseguição
política que tornasse insustentável a sua permanência na agremiação.

Conforme a jurisprudência do Egrégio Tribunal Superior


Eleitoral, para que se configure grave discriminação política pessoal é necessário "(...)
que o filiado comprove que a divergência com o partido extrapole a discussão
política e constitua fato objetivamente discriminatório contra si e, além do mais, em

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sua essência, seja grave" (TSE, PET 3019/DF, REL. MIN. ALDIR PASSARINHO
JÚNIOR, ACÓRDÃO DE 25/08/10).

Ainda, mesmo que o requerido não tivesse sido apontado


como nome viável para concorrer ao cargo de Deputado Federal pelo PATRIOTA, o que
por si só já afastaria a tese de grave discriminação pessoal., também não teria a parte
Requerida qualquer argumento apto a afim de configurar a referida hipótese de justa causa
para a desfiliação.

Em recentíssimo julgado, resta claro qual é o entendimento


majoritário das Cortes Eleitorais pátrias. Senão vejamos:

AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR


INFIDELIDADE PARTIDÁRIA. RESOLUÇÃO TSE Nº
22.610/2007. VEREADOR. ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE
JUSTA CAUSA A AUTORIZAR A DESFILIAÇÃO SEM A
PERDA DO MANDATO ELETIVO. DEFESA DO
REQUERIDO. PRELIMINAR DE ILEGALIDADE DAS
PROVAS. OS LINKS DESCRITOS NA INICIAL, PELO QUE
CONSTA, APENAS CONTÉM O PRONUNCIAMENTO DE
DESFILIAÇÃO DO REQUERIDO, O QUE ESTÁ
DEVIDAMENTE COMPROVADO PELA PROVA
DOCUMENTAL. REDUNDÂNCIA DO ELEMENTO DE
PROVA QUE NÃO PODE LEVAR AO RECONHECIMENTO
DE ILEGALIDADE. PRELIMINAR AFASTADA. MÉRITO.
JUSTIFICATIVA DE DESFILIAÇÃO LASTREADA,
PRECIPUAMENTE, NA AUSÊNCIA DE
CONVOCAÇÕES PARA REUNIÕES PARTIDÁRIAS,
BEM COMO POR NÃO TER SIDO O MANDATÁRIO
INDICADO COMO OPÇÃO PARA CONCORRER AO
CARGO DE DEPUTADO ESTADUAL. GRAVE
DISCRIMINAÇÃO POLÍTICO PESSOAL. ART. 22–A,
INCISO II, DA LEI Nº 9.096/95. NÃO CONFIGURADA.
AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DE QUE A
DIVERGÊNCIA COM O PARTIDO EXTRAPOLOU A
DISCUSSÃO POLÍTICA E CONSTITUIRIA FATO

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DISCRIMINATÓRIO E GRAVE CONTRA O
VEREADOR. PRECEDENTES. OS PARTIDOS POLÍTICOS
POSSUEM AUTONOMIA PARA DEFINIR E ADOTAR OS
CRITÉRIOS DE ESCOLHA, SEJA COM RELAÇÃO A
CANDIDATOS PARA A DISPUTA DAS ELEIÇÕES, SEM
OBRIGATORIEDADE DE VINCULAÇÃO ENTRE
CANDIDATURAS. DIREITO ASSEGURADO
CONSTITUCIONALMENTE. ART. 17, § 1º, DA
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. PRELIMINAR AFASTADA.
NO MÉRITO, PROCEDÊNCIA DO PEDIDO, PARA
DECRETAR A PERDA DO MANDATO ELETIVO POR
INFIDELIDADE PARTIDÁRIA. COM DETERMINAÇÕES.
(TRE-SP - AJDesCargEle: 06001546820226260000 SÃO JOSÉ
DOS CAMPOS - SP 060015468, Relator: Des. Marcelo Vieira
de Campos, Data de Julgamento: 12/09/2022, Data de
Publicação: DJE - DJE, Tomo 203)

AÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO POR


INFIDELIDADE PARTIDÁRIA, COM BASE NA
RESOLUÇÃO TSE Nº 22.610/2007. CARGO DE VEREADOR.
ALEGAÇÃO DE JUSTA CAUSA PARA A DESFILIAÇÃO:
GRAVE DISCRIMINAÇÃO PESSOAL E MUDANÇA DE
POSTURA PARTIDÁRIA. - TRATA-SE DE PEDIDO
DECRETAÇÃO DE PERDA DE CARGO ELETIVO,
FUNDAMENTADO NA RES. TSE Nº 22.610/2007,
FORMULADO PELO PARTIDO REQUERENTE, EM FACE
DO MANDATÁRIO REQUERIDO QUE SE DESFILIOU DA
AGREMIAÇÃO PELO QUAL SE ELEGEU NAS ELEIÇÕES
DE 2012, FILIANDO-SE AO PARTIDO REQUERIDO. - O
RECONHECIMENTO DE JUSTA CAUSA PARA A
DESFILIAÇÃO PARTIDÁRIA, CONSISTENTE NA GRAVE
DISCRIMINAÇÃO PESSOAL, NECESSITA" QUE O
FILIADO COMPROVE QUE A DIVERGÊNCIA COM O
PARTIDO EXTRAPOLE A DISCUSSÃO POLÍTICA E
CONSTITUA FATO OBJETIVAMENTE
DISCRIMINATÓRIO CONTRA SI E, ALÉM DO MAIS, EM
SUA ESSÊNCIA, SEJA GRAVE "(TSE, PET 3019/DF, REL.

16
MIN. ALDIR PASSARINHO JÚNIOR, ACÓRDÃO DE
25/08/10). PROVA DOS AUTOS QUE NÃO
INDIVIDUALIZA QUALQUER ATO DISCRIMINATÓRIO
PRATICADO PELO PARTIDO EM DETRIMENTO DO
MANDATÁRIO. - A CONFIGURAÇÃO DA JUSTA CAUSA
ELENCADA PELA LEGISLAÇÃO COMO MUDANÇA
SUBSTANCIAL OU DESVIO REITERADO DO PROGRAMA
PARTIDÁRIO SE DÁ QUANDO, NECESSARIAMENTE, HÁ
MODIFICAÇÕES ESTATUTÁRIAS QUE ALTEREM
CONSIDERAVELMENTE OS PROGRAMAS E
IDEOLOGIAS DO PARTIDO POLÍTICO, O QUE NÃO
OCORREU NO CASO EM TELA. - OS PARTIDOS
POLÍTICOS POSSUEM AUTONOMIA PARA DEFINIR E
ADOTAR OS CRITÉRIOS DE ESCOLHA, SEJA COM
RELAÇÃO A CANDIDATOS PARA A DISPUTA DAS
ELEIÇÕES, SEJA NO TOCANTE AO REGIME DE SUAS
COLIGAÇÕES, SEM OBRIGATORIEDADE DE
VINCULAÇÃO ENTRE CANDIDATURAS, POIS É UM
DIREITO ASSEGURADO CONSTITUCIONALMENTE ( §
1º DO ART. 17 DA LEI MAIOR) E CUJO EXERCÍCIO,
SALVO NO CASO DE ABUSO DEVIDAMENTE
COMPROVADO, NÃO PODE SER RESTRINGIDO .
PROCEDÊNCIA DO PEDIDO, COM DETERMINAÇÕES".
(TRE/SP, PETIÇÃO nº 37603, Acórdão, Relatora Des. Diva
Prestes Marcondes Malerbi, Publicação: DJESP, Data
27/06/2014) (grifo nosso).

Os partidos políticos não podem ser utilizados como


meros “hospedeiros” de políticos que possuem o claro intuito de apena utilizá-los
para se favorecerem na campanha eleitoral.

Ademais, os políticos devem sempre zelar pela vontade de


seus eleitores que confiaram em suas ideologias de trabalho e com a ideologia e estratégia
de governo de sua agremiação. O mandato eletivo deve ser coerente com o que foi
apresentado durante a campanha eleitoral e deve ser respeitado até o final de seu curso

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Assim, a grave discriminação pessoal prevista na Resolução
TSE 22.610/2007, e incluída na Lei nº 9.096/95, com a introdução do artigo 22-A, deve
ter contornos mais estritos que os alegados pelo vereador requerido. A jurisprudência
exige que se comprovem atos individualizados em desfavor daquele que deixa a
agremiação, bem como a gravidade apta a configurar a justa causa para desfiliação,
o que não se comprovou no caso concreto, configurando, assim, a infidelidade partidária
por parte do Senhor Gilvan.

4. DOS PEDIDOS.

Ante todo o exposto requer-se seja a presente Ação de Perda


de Mandato por Desfiliação Sem Justa Causa julgada TOTALMENTE
PROCEDENTE, uma vez que a desfiliação do requerido ocorreu sem justa causa, nos
moldes da Resolução TSE 22.610/07 e Lei 9.096/95.

Nestes termos,
Pede Deferimento.

Vitória/ES, 26 de setembro de 2022

IGOR DE SOUZA SANTOS


OAB/ES 34.510

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