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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

ACÓRDÃO

RECURSO ESPECIAL ELEITORAL Nº 0601218-35.2020.6.09.0040 – SENADOR CANEDO – GOIÁS

Relator: Ministro Benedito Gonçalves


Recorrentes: Jesus Nazareno da Silva e outro
Advogados: Gilmar de Oliveira Mota – OAB: 7022/GO e outro
Recorrido: Partido Republicano da Ordem Social (PROS) – Municipal
Advogados: Luana Capuzo Santiago Borelli – OAB: 40561/GO e outro
Recorrido: Celismar de Lima Neves
Advogado: Paulo Goyaz Alves da Silva – OAB: 5214/DF
Recorridas: Maria Carmelita Gomes Ferreira e outras
Advogado: Amarildo Domingos Cardoso – OAB: 10547/GO
Recorridos: Robson Henrique de Oliveira e outro
Advogado: Dalmy Alves de Faria – OAB: 4287/GO
Recorrida: Ana Claudia Rodrigues de Paula
Recorrido: Belarmino Ferreira Filho
Recorrido: Clayton Luiz da Silva
Recorrido: Darci de Barros Garcia Junior
Recorrida: Elinete Gomes Meira
Recorrido: Epitácio de Oliveira Barros
Recorrido: Fábio Nunes Silva
Recorrido: Geraldo Siqueira do Amaral
Recorrido: José Auricelio Martin Rodrigues
Recorrido: Juliano da Silva Miranda
Recorrida: Maria Emilia de Carvalho
Recorrida: Maria Eterna do Nascimento
Recorrido: Mauricio Martins Rodrigues
Recorrido: Selio Rodrigues de Oliveia Junior
Recorrido: Silvio Antonio Pereira dos Santo
Recorrido: Vicente Paulo da Luz
Recorrido: Ledyr Silva de Oliveira

AGRAVO. CONVERSÃO. RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÕES 2020. VEREADOR. AÇÃO DE


INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE). FRAUDE. COTA DE GÊNERO. ART. 10, § 3º,
DA LEI 9.504/97. CANDIDATAS FICTÍCIAS. PROVAS ROBUSTAS. ÓBICE RELEVANTE À
CANDIDATURA. INDEFERIMENTO. RENÚNCIA. SUBSTITUIÇÃO. AUSÊNCIA. INÉRCIA
DOLOSA. VOTAÇÃO INEXPRESSIVA. AUSÊNCIA DE MOVIMENTAÇÃO FINANCEIRA.
PROVIMENTO.

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1. Recurso especial interposto contra aresto do TRE/GO em que se julgaram improcedentes
os pedidos formulados em Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) proposta em desfavor
do Diretório do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) de Senador Canedo/GO e dos
candidatos que compuseram sua chapa proporcional nas Eleições 2020, pela prática de fraude
à cota de gênero quanto a duas candidaturas femininas (art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97).

2. De acordo com o entendimento desta Corte, a fraude à cota de gênero deve ser aferida
caso a caso, a partir das circunstâncias fáticas de cada hipótese, notadamente levando-se em
conta aspectos como falta de votos ou votação ínfima, inexistência de atos efetivos de
campanha, prestações de contas zeradas ou notoriamente padronizadas entre as candidatas,
dentre outras, de modo a transparecer o objetivo de burlar o mínimo de isonomia entre
homens e mulheres que o legislador pretendeu assegurar no art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97.

3. Em recentíssimo julgado, este Tribunal consignou que as agremiações partidárias devem se


comprometer ativamente com o lançamento de candidaturas femininas juridicamente viáveis,
minimamente financiadas e com pretensão efetiva de disputa. Nessa perspectiva, sobrevindo
impugnação ao registro, devem os partidos, quando houver tempo hábil, substituir aquelas que
não reúnam condições jurídicas para serem deferidas ou sobre as quais paire dúvida razoável
sobre a sua viabilidade, ou, ainda, proceder às adequações necessárias à obediência da
proporção mínima entre os gêneros, sob pena serem consideradas fictícias (REspEl 0600965-
83/MA, Rel. Min. Floriano de Azevedo Marques, DJE de 15/9/2023).

4. No que se refere à candidata Maria Eterna, depreende-se a fraude a partir do seguinte


quadro fático: (a) em 25/9/2020 – apenas dois dias depois de formalizado o pedido de registro
–, o partido teve ciência do intuito da candidata de não disputar o pleito, ainda que, naquela
ocasião, ela tenha apresentado termo de renúncia sem firma reconhecida em cartório; (b) em
15/10/2020, ela entregou o documento com a formalidade necessária, mas a grei, sem
justificativa, retardou por cinco dias o seu protocolo no juízo eleitoral, efetuando-o somente em
20/10/2020; (c) em 24/10/2020 a renúncia foi homologada pelo juiz eleitoral. Havia, portanto,
tempo hábil à substituição da candidata – já que o prazo, no pleito em referência, se encerrou
em 26/10/2020 –, mas o partido deixou de promovê-la, assim como não reduziu de forma
proporcional o número de candidatos homens.

5. Também quanto à candidata Maria Eterna, há outros elementos que confirmam que sua
candidatura foi meramente fictícia, haja vista que: (a) obteve votação zerada; (b) prestação de
contas sem registro de despesas; (c) efetuou propaganda eleitoral em favor de candidato
adversário.

6. Quanto à candidatura de Maria Carmelita, a fraude revela-se a partir dos seguintes


elementos: (a) seu pedido de registro foi indeferido por sentença publicada em 24/10/2020,
devido à falta de quitação eleitoral, tendo em vista que suas contas do pleito de 2014 foram
julgadas como não prestadas; (b) a grei, além de não interpor recurso contra a sentença de
indeferimento do registro, em nenhum momento tomou o cuidado de providenciar a sua

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substituição.

7. A referida candidatura mostrava-se natimorta desde o início, considerando que, nos termos
da Súmula 42/TSE, resultante de jurisprudência consolidada há quase 15 anos, “a decisão que
julga não prestadas as contas de campanha impede o candidato de obter a certidão de
quitação eleitoral durante o curso do mandato ao qual concorreu, persistindo esses efeitos,
após esse período, até a efetiva apresentação das contas”. Além disso, não se pode eximir a
grei de responsabilidade, visto que descumpriu o dever de avaliar com antecedência a
possibilidade mínima de êxito do registro de candidatura que pleiteou, assumindo por sua
conta e risco o lançamento de candidata que apresentava óbice relevante, além de não a ter
substituído a tempo e modo.

8. O intuito de burlar a regra do art. 10, § 3º, da Lei das Eleições fica ainda mais evidente
porque a candidata apresentou: (a) votação inexpressiva: obteve 11 votos em município com
mais de 150.000 habitantes; (b) prestação de contas sem registro de despesas.

9. A reforma do aresto a quo não demanda reexame de fatos e provas, vedado pela Súmula
24/TSE, mas a análise de fatos públicos e notórios disponíveis no Sistema Divulgacand desta
Justiça especializada.

10. No que tange à inelegibilidade – aplicável apenas a quem tiver “contribuído para a prática
do ato” (art. 22, XIV, da LC 64/90) –, extrai-se das razões recursais que os recorrentes não
pugnaram pela incidência da sanção. Assim, deixo de decretá-la quanto a Maria Carmelita e,
ainda, aos dirigentes partidários que não integraram o processo (por sua vez, em relação a
Maria Eterna, ela própria formalizou a desistência da candidatura logo no início do período
eleitoral).

11. Agravo provido para conhecer do recurso especial e lhe dar provimento para: (a) cassar os
candidatos vinculados ao Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários (DRAP) do
Diretório do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) de Senador Canedo/GO; (b) anular
os votos obtidos pela chapa proporcional, com o recálculo dos quocientes eleitoral e partidário
(art. 222 do Código Eleitoral).

Acordam os ministros do Tribunal Superior Eleitoral, por unanimidade, em dar provimento ao


agravo para conhecer do recurso especial, dando-lhe provimento para: (a) cassar os candidatos vinculados ao
Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários (DRAP) do Diretório do Partido Republicano da Ordem
Social (PROS) de Senador Canedo/GO; (b) anular os votos obtidos pela chapa proporcional, com o recálculo
dos quocientes eleitoral e partidário, e determinar, ainda, a imediata execução do acórdão, independentemente
de publicação, comunicando-se com urgência ao TRE/GO, nos termos do voto do relator.

Brasília, 9 de novembro de 2023.

MINISTRO BENEDITO GONÇALVES – RELATOR

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RELATÓRIO

O SENHOR MINISTRO BENEDITO GONÇALVES: Senhor Presidente, trata-se de agravo


interposto Jesus Nazareno da Silva e Wilian Rodrigues do Nascimento, candidatos ao cargo de vereador de
Senador Canedo/GO em 2020, contra decisum da Presidência do TRE/GO em que se inadmitiu recurso
especial manejado em detrimento de aresto assim ementado (ID 159.309.279):

RECURSO ELEITORAL. ELEIÇÕES 2020. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE).


EXTINÇÃO SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO. FALTA DE INTERESSE JURÍDICO PRESUMIDA PELO NÃO
COMPARECIMENTO DOS AUTORES À AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO. VIOLAÇÃO AO DEVIDO PROCESSO
(ART. 10 DO CPC). ERROR IN PROCEDENDO. CASSAÇÃO DA SENTENÇA. CAUSA MADURA. MÉRITO.
ALEGAÇÃO DE FRAUDE AO PERCENTUAL DE GÊNERO (ART. 10, § 3º, DA LEI 9.504/97). SUPOSTAS
CANDIDATURAS FICTÍCIAS DE MULHERES. MEROS INDÍCIOS EXTRAÍDOS DE CONTIGÊNCIAS NORMAIS
AOS CERTAMES ELEITORAIS. DOLO OU MÁ-FÉ NÃO COMPROVADOS. FRAUDE REPELIDA.
IMPROCEDÊNCIA. RECURSO PROVIDO EM PARTE.

1. A ausência dos autores da AIJE à oitiva testemunhal não autoriza presumir que tenham perdido o interesse de
agir, mesmo porque os autores não arrolaram testemunha. De todo modo, não lhes foi oportunizado manifestar a
respeito, o que, per se, violou o direito ao contraditório explicitamente garantido no art. 10 do CPC, consumando
error in procedendo a impor a cassação da sentença e, considerando a madureza da causa, passar ao
julgamento do mérito.

2. A configuração de fraude à proporcionalidade fixada no art. 10, §3º, da Lei nº 9.504/1997 exige provas
inconcussas de fatos/circunstâncias do caso concreto que possam se somar denotando segura convicção sobre
premeditado objetivo (má-fé ou dolo) de burlar a citada regra.

3. No caso sob exame, alegou-se como indício de fraude tão-só a não substituição de uma candidata que
renunciou e de outra cujo RRC foi indeferido. Porém, não se comprovou qualquer fato/circunstância peculiar ao
caso e que estivesse em direta convergência com os apontamentos indiciários, ilidindo-se suposta premeditação
ou má-fé por parte das candidatas ou de sua sigla partidária.

4. Verificou-se que a sentença indeferitória do RRC da candidata Maria Carmelita transitou em julgado há menos
de 20 (vinte) dias das eleições 2020, o que impossibilitava sua agremiação de substituí-la, rechaçando o
ventilado intuito fraudulento.

5. A despeito de a renúncia da candidata Maria Eterna ter sido homologada quando ainda restavam 2 (dois) dias
do prazo para substitui-la, não se comprovou que o partido recorrido tenha sido intimado, no processamento do
seu DRAP, especificamente para lhe determinar que readequasse o percentual de gênero de sua chapa
proporcional (art. 36 da Resolução TSE nº 23.609/2019), situação que repele o pretenso indício de fraude pela
não substituição da candidata que renunciou; conduta que, isoladamente, poderia configurar apenas negligência
ou incúria da agremiação.

6. Recurso Eleitoral conhecido e provido em parte para cassar a sentença extintiva e, no mérito, julgar
improcedente os pedidos da AIJE.

Na origem, os agravantes ajuizaram Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) em desfavor


do Diretório do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) de Senador Canedo/GO e dos candidatos que
compuseram sua chapa proporcional nas Eleições 2020. Aduziram, em síntese, fraude no preenchimento da
cota mínima de gênero a que alude o art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97, por serem fictícias as candidatas Maria
Carmelita Gomes Ferreira e Maria Eterna do Nascimento, visto que a primeira teve o seu registro indeferido,
enquanto a segunda renunciou à candidatura e, em ambos os casos, o partido não solicitou substituição,

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embora dispusesse de tempo hábil para esse fim.
Em primeiro grau, o processo foi extinto sem resolução do mérito por ausência de interesse
processual (art. 485, VI, do CPC/2015), sob o fundamento de que os autores não compareceram à audiência de
oitiva de testemunhas (ID 159.309.232).
O TRE/GO deu provimento parcial ao recurso eleitoral para anular a sentença e, no mérito, de
imediato (art. 1.013, § 3º, do CPC/2015), julgar improcedentes os pedidos formulados na ação.
Os embargos de declaração foram rejeitados por unanimidade.
No recurso especial, com pedido de tutela de urgência, alega-se que o PROS de Senador
Canedo/GO descumpriu, de forma deliberada, a cota de gênero estabelecida no art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97,
tendo em vista que (ID 159.309.298):

a) quanto a Maria Eterna do Nascimento, “[a] prova, inconteste, do seu desejo de não
candidatura, está consignado no documento juntado aos autos, pelo próprio partido, no qual este
declara, textualmente, que a candidata na data de 24/09/2020, protocolou, junto ao partido
PROS, do qual era a sua Vice-Presidente, o seu PEDIDO DE RENÚNCIA, mas que o PROS, de
forma DELIBERADA e FRAUDULENTA, retardou a juntada do pedido de renúncia, só o
fazendo, perante a Justiça Eleitoral, no dia 20/10/2020” (fl. 10);

b) “a prova da GRITANTE FRAUDE e do absoluto desejo de não candidatura, se constata nas


próprias redes sociais da ‘candidata’ Maria Eterna, pedindo voto e fazendo campanha para o
candidato a Vereador CARPEGIANE SILVESTRE, que concorreu com o nº 25.123, como mostra
registros feitos a partir do dia 07/10/2020” (fl. 11);

c) “o partido foi cientificado do indeferimento da candidata Maria Carmelita e mesmo assim


manteve-se inerte, bem como tinha pleno conhecimento do desejo de não candidatura de Maria
Eterna, ante os 02 (dois) pedidos de renúncia protocolados” (fl. 13);

d) “Maria Carmelita, teve o seu pedido de registro indeferido [...] haja vista que a candidata não
tinha quitação eleitoral, por ter sido candidata nas eleições de 2018 e teve as contas de
campanha julgadas como não prestadas” (fl. 13);

e) “tanto na data do indeferimento da primeira candidata mulher como da renúncia da segunda


candidata mulher, o prazo para substituição e preenchimento de vaga remanescente ainda
estava aberto, todavia, o partido PROS de Senador Canedo, preferiu burlar a cota de gênero” (fl.
15);

f) “[o] TSE entende que caso as supostas candidaturas sejam apresentadas em desacordo com
as formalidades legais, ensejam, por certo, o indeferimento do DRAP” (fl. 17);

g) “[a]s duas candidatas (indeferida e renunciante) nunca tiveram o animus de ser candidata,
porquanto não fizeram campanha, não confeccionaram material de campanha e tiveram suas
prestações de contas zeradas ou em valores ínfimos” (fls. 18-19);

h) houve “explícito dolo e má-fé deliberados pela COMISSÃO PROVISÓRIA DO PROS EM


SENADOR CANEDO em deliberadamente requerer registro de candidaturas de mulheres que
não possuíam requisitos de elegibilidade e de propositalmente manter-se inerte, embora
devidamente intimado do indeferimento dos registros de suas candidatas” (fl. 26).

O recurso foi inadmitido pela Presidência do TRE/GO (ID 159.309.300), o que ensejou agravo
(ID 159.309.305).
Apresentaram-se contraminuta e contrarrazões (IDs 159.309.312 e 159.309.315).

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O e. Min. Alexandre de Moraes denegou a tutela de urgência durante o recesso forense (ID
159.332.057).
A d. Procuradoria-Geral Eleitoral opinou pelo provimento do recurso (ID 159.524.170).
É o relatório.

VOTO

O SENHOR MINISTRO BENEDITO GONÇALVES (relator): Senhor Presidente, verifico que os


agravantes infirmaram os fundamentos da decisão agravada e que o recurso especial inadmitido preenche os
requisitos de admissibilidade. Desse modo, dou provimento ao agravo e passo ao exame do apelo nobre, nos
termos do art. 36, § 4º, do RI-TSE.
Na espécie, atribui-se ao Partido Republicano da Ordem Social (PROS) de Senador Canedo/GO
a prática de fraude nas Eleições 2020, consistente na apresentação de duas candidaturas fictícias com a
finalidade de atender à cota de gênero prevista no art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97.
Consoante o § 3º do art. 10, da Lei 9.504/97, “do número de vagas resultante das regras
previstas neste artigo, cada partido ou coligação preencherá o mínimo de 30% (trinta por cento) e o máximo de
70% (setenta por cento) para candidaturas de cada sexo”.
A regra em apreço, em conjunto com inúmeras e igualmente relevantes disposições
constitucionais e legais, tem como objetivo precípuo fomentar, garantir e proteger a efetiva participação
feminina nas eleições como mecanismo de concretização da isonomia de gênero (art. 5º, I, da Constituição
Federal), da cidadania (art. 1º, II, do texto constitucional), da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III) e do
pluralismo político (art. 1º, V).
Trata-se, ainda, de medida essencial que visa amainar notório paradoxo: de um lado, as
mulheres constituem a maioria da população brasileira (51,1%), porém, ainda assim, são subrepresentadas no
jogo político-democrático – nas Eleições 2022, apenas 33% das candidaturas são de mulheres, ao passo que,
segundo a Inter-Parliamentary Union, o Brasil ocupa a 142ª (centésima quadragésima segunda) posição no
ranking de representatividade das mulheres no parlamento.
Diante desse cenário, o Tribunal Superior Eleitoral firmou histórica jurisprudência, no leading
case no REspEl 193-92/PI, Rel. Min. Jorge Mussi, DJE de 4/10/2019, no sentido de que “a fraude da cota de
gênero em eleições proporcionais implica a cassação de todos os candidatos registrados pela legenda ou pela
coligação”.
Ainda de acordo com a jurisprudência, a caracterização da fraude deve ser aferida caso a caso,
a partir das circunstâncias fáticas de cada hipótese, notadamente levando-se em conta aspectos como
ausência de votos ou votação ínfima, inexistência de atos efetivos de campanha, prestações de contas zeradas
ou notoriamente padronizadas entre as candidatas, dentre outras.
Para reforçar esse entendimento, trago à colação julgado desta Corte, nos seguintes termos:

ELEIÇÕES 2020. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL


ELEITORAL. FRAUDE À COTA DE GÊNERO. ART. 10, § 3º, DA LEI 9.504/97. CONFIGURADO.
PROVIMENTO.

1. A fraude à cota de gênero de candidaturas femininas representa afronta aos princípios da igualdade, da
cidadania e do pluralismo político, na medida em que a ratio do art. 10, § 3º, da Lei 9.504/1997 é ampliar a
participação das mulheres no processo político-eleitoral.

[...]

3. Existência de elementos suficientemente seguros para a condenação dos Investigados, diante da


comprovação do ilícito eleitoral: (i) as 4 (quatro) candidatas não obtiveram nenhum voto; (ii) as contas

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apresentadas são absolutamente idênticas, em que registrada uma única doação estimável realizada
pela mesma pessoa, no valor de R$ 582,00 (quinhentos e oitenta e dois reais); (iii) não houve atos
efetivos de campanha; (iv) não tiveram nenhuma despesa; (v) não apresentaram extratos bancários ou
notas fiscais; e (vi) o Partido das Investigadas não investiu recursos em suas campanhas.

[...]

(AgR-AREspE 0600651-94/BA, redator para acórdão Min. Alexandre de Moraes, DJE de 30/6/2022) (sem
destaque no original)

No mesmo sentido, decisum de minha relatoria, em que reproduzi precedente da lavra do d.


Ministro Sérgio Banhos na linha de que:

[...] “as circunstâncias indiciárias relativas à elaboração das prestações de contas, associadas aos
elementos de prova particulares de cada candidata – relações de parentesco entre candidatos ao mesmo
cargo, votação zerada ou ínfima, não comparecimento às urnas, ausência de atos de propaganda, entre
outros –, seriam suficientes para demonstrar, de forma robusta, a existência da fraude no cumprimento
dos percentuais de gênero previstos no art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97” (REspe 409-89/SP, Rel. Min. Sérgio
Banhos, DJE de 13/3/2020).

[...]

(ED-REspEl 0600743-91/SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJE de 2/8/2022) (sem destaque no original)

Em acréscimo, frise-se que, em recentíssimo julgado, esta Corte Superior assentou que as
agremiações partidárias – condutoras exclusivas das candidaturas no âmbito do processo eleitoral – devem se
comprometer ativamente com o lançamento de candidaturas femininas juridicamente viáveis, minimamente
financiadas e com pretensão efetiva de disputa.
Nessa perspectiva, se houver impugnação ao registro, devem os partidos, quando houver tempo
hábil, substituir candidaturas que não reúnam condições jurídicas para serem deferidas ou sobre as quais paire
dúvida razoável sobre a sua viabilidade ou, ainda, por outros meios, fazer as adequações necessárias à
obediência da proporção mínima de candidaturas masculinas e femininas, sob pena de virem a ser
consideradas fictícias para os fins de fraude à cota de gênero (art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97). Confira-se:

ELEIÇÕES 2020. RECURSO ESPECIAL ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL.


DOCUMENTO NOVO. PRECLUSÃO. DESENTRANHAMENTO. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO
CARACTERIZAÇÃO. FRAUDE À COTA DE GÊNERO. NÃO SUBSTITUIÇÃO DAS CANDIDATAS. ÓBICES À
ELEGIBILIDADE FLAGRANTES OU PRESUMÍVEIS. CANDIDATURAS FICTAS. PROVIMENTO PARCIAL.

[...]

Mérito – afronta ao art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97 e dissídio jurisprudencial

[...]

6. A evolução normativa, doutrinária e jurisprudencial sobre os dispositivos que impactam a promoção de


candidaturas do gênero sub-representado, no caso do gênero feminino, aponta para a necessidade do
lançamento de candidatas efetivas, com condições mínimas de partida, de participação na campanha eleitoral e
de obtenção de resultados.

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[...]

9. Mesmo quando consideradas as particularidades de cada colégio eleitoral, as agremiações partidárias,


como pessoas jurídicas essenciais à realização dos valores democráticos, devem se comprometer
ativamente com a concretização dos direitos fundamentais – são dotados de eficácia transversal –
mediante o lançamento de candidaturas femininas juridicamente viáveis, minimamente financiadas e
com pretensão efetiva de disputa.

10. Sobrevindo questionamento à candidatura do gênero sub-representado, o partido deve, se ainda


viável a substituição nos autos do DRAP, fazer as adequações necessárias à proporção mínima de
candidaturas masculinas e femininas. Não o fazendo a tempo e modo, as candidaturas femininas
juridicamente inviáveis, ou com razoável dúvida sobre a sua viabilidade, podem ser consideradas fictas
para fins de apuração de alegada fraude ao disposto no art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97.

11. Do exame das premissas fáticas registradas pela instância ordinária, extrai-se o seguinte:

a) o registro da candidatura de Eloide Oliveira da Silva foi indeferido por ausência de comprovante de
escolaridade, na véspera do prazo fatal para a substituição dos candidatos;

b) a candidatura de Maria Amelia Soares dos Santos Borges foi indeferida por ausência de quitação eleitoral,
mesmo tendo a candidata ajuizado, antes do período eleitoral, pedido de regularização com tutela de urgência,
com a finalidade de fazer cessar os efeitos da inadimplência no dever de prestar contas eleitorais da campanha
de 2016;

c) embora não tenha havido intimação do partido para a adequação do DRAP, é incontroversa a respectiva
ciência sobre a situação jurídica das candidatas, mais especificamente a inexistência de comprovante de
escolaridade de Eloide Oliveira da Silva e a não quitação eleitoral de Maria Amelia Soares dos Santos Borges,
decorrente da omissão do dever de prestar contas no pleito anterior;

d) a despeito do indeferimento do registro, não houve notícia de que as candidatas buscaram medidas jurídicas
para reverter o resultado provisório do processo de registro de candidatura;

e) as candidatas somente participaram de atos de campanha até o indeferimento do registro de candidatura,


muito embora o art. 16-A da Lei 9.504/97 possibilitasse a continuidade da campanha com a mera interposição de
recurso da decisão contrária a seus interesses.

12. A partir do parâmetro hermenêutico de que o lançamento de candidaturas femininas deve ser efetivo,
minimamente viável no plano jurídico, a insistência do partido em manter, como integrantes de sua cota
mínima, candidatas com óbices relevantes ao deferimento dos respectivos registros, associada à inação
das candidatas para a defesa de suas candidaturas e para a consequente continuidade das campanhas,
evidencia a fraude ao art. 10, § 3º, da Lei 9.504/97, mediante o preenchimento ficto da cota de gênero por
quem não tinha a pretensão nem as condições jurídicas para participar do pleito.

13. Se o partido agravado decidiu manter candidaturas femininas juridicamente inviáveis, ou sobre as
quais pairava razoável dúvida, fê-lo por conta e risco e sob pena de, uma vez desatendido o mínimo
legal, ver reconhecida a fraude aos comandos normativos alusivos à promoção da participação da
mulher na política e na representação de cargos parlamentares.

[...]

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(REspEl 0600965-83/MA, Rel. Min. Floriano de Azevedo Marques, DJE de 15/9/2023) (sem destaques no
original)

A partir dessas considerações, passo ao exame do caso dos autos, em que se impugnam as
candidaturas de Maria Carmelita Gomes Ferreira e de Maria Eterna do Nascimento, havendo elementos
robustos a evidenciar o descumprimento da ação afirmativa em análise.
A fraude à cota de gênero na candidatura de Maria Carmelita Gomes Ferreira revela-se, de
início, a partir dos seguintes elementos preliminares:

(a) a candidata teve o seu pedido de registro às Eleições 2020 indeferido, por meio de sentença
publicada em 24/10/2020, devido à ausência de quitação eleitoral, tendo em vista que suas
contas do pleito de 2014 foram julgadas como não prestadas e não há notícia de que procurou
regularizar a situação (processo 0600439-80, acessível ao público por meio do Sistema
Divulgacand);

(b) a grei, além de não interpor recurso contra a sentença de indeferimento do registro, em
nenhum momento tomou o cuidado de providenciar a substituição da candidata.

Assim, ao tempo em que se requereu o registro de Maria Carmelita ao pleito de 2020, sua
candidatura era juridicamente inviável devido à falta de quitação eleitoral. Isso porque, nos termos da Súmula
42/TSE, resultante de jurisprudência consolidada há quase 15 anos, “a decisão que julga não prestadas as
contas de campanha impede o candidato de obter a certidão de quitação eleitoral durante o curso do mandato
ao qual concorreu, persistindo esses efeitos, após esse período, até a efetiva apresentação das contas”.
Por conseguinte, a referida candidatura mostrava-se natimorta desde o início, considerando o
intransponível óbice da falta de quitação eleitoral.
Além disso, não se pode eximir a grei de responsabilidade, visto que descumpriu o seu dever de
avaliar com antecedência a possibilidade mínima de êxito do registro de candidatura que pleiteou. Ao agir
dessa forma, assumiu, por sua conta e risco, o lançamento de candidata que apresentava óbice relevante ao
deferimento, além de não a ter substituído a tempo e modo nem ter feito as adaptações necessárias para
preservar a proporção entre candidatos de cada gênero.
Não bastasse o vício que macula a candidatura de Maria Carmelita desde o seu nascedouro – e
quanto ao qual o partido não adotou nenhuma providência –, o intuito de burlar a regra do art. 10, § 3º, da Lei
das Eleições fica ainda mais evidente porque a candidata apresentou:

(a) votação inexpressiva: obteve 11 votos em município com mais de 150.000 habitantes;

(b) prestação de contas sem registro de despesas, conforme se verifica pelo Sistema
Divulgacand;

No que se refere à candidata Maria Eterna do Nascimento, registrou-se no aresto a quo os


seguintes detalhes:

(a) em 25/9/2020, a candidata apresentou ao diretório partidário o seu pedido de renúncia à


candidatura, mas a funcionária da grei exigiu-lhe o reconhecimento de firma em cartório,
providência concretizada somente em 15/10/2020;

(b) no mesmo dia 15/10/2020, a candidata entregou o termo de renúncia ao partido, que o
apresentou em juízo somente em 20/10/2020, vindo a ser homologado pelo juiz eleitoral em
24/10/2020.

A partir desse quadro fático, depreende-se a fraude à cota de gênero na candidatura de Maria

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https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 0601218-35.2020.6.09.0040
Eterna, uma vez que, em 25/9/2020 – apenas dois dias depois de ter formalizado o pedido de registro junto à
Justiça Eleitoral e antes do início do período de propaganda –, o partido teve ciência do intuito da candidata de
não disputar o pleito, ainda que, naquela ocasião, ela tenha apresentado documento sem assinatura
reconhecida em cartório. Mesmo que se considere a data em que a candidata entregou o documento com firma
reconhecida (15/10/2020), a grei, sem justificativa, retardou por cinco dias o seu protocolo ao juízo eleitoral,
efetuando-o somente em 20/10/2020.
Ainda que não fosse o suficiente, a renúncia foi homologada pelo juiz eleitoral em 24/10/2020.
Havia, portanto, tempo hábil à substituição da candidata – já que o prazo, no pleito em referência, se encerrou
em 26/10/2020 –, mas o partido, de forma deliberada, optou por não diligenciar no sentido de substituir a
candidata renunciante ou de reduzir de forma proporcional o número de candidatos homens, o que lhe
propiciou um maior número de candidaturas masculinas.
Em hipóteses similares, esta Corte Superior registrou que a omissão injustificada da grei diante
do indeferimento ou da renúncia de candidatas, assim como a falta de providência no sentido de substituí-las,
denota inércia dolosa, apta a demonstrar a fraude. Nesse sentido, destacam-se:

RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÕES 2016. VEREADOR. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO


(AIME). FRAUDE. COTA DE GÊNERO. ART. 10, § 3º, DA LEI 9.504/97. CANDIDATURAS FICTÍCIAS.
INDEFERIMENTO. REGISTRO. AUSÊNCIA DE RECURSO E DE SUBSTITUIÇÃO. OMISSÃO DOLOSA.
PRESTAÇÕES DE CONTAS PADRONIZADAS. NEGATIVA DE PROVIMENTO.

[...]

4. Na espécie, extrai-se do aresto a quo que a fraude à cota de gênero se revelou da seguinte forma: (a)
quatro candidaturas femininas lançadas pela Coligação Por uma Santa Isabel Melhor tiveram seus
registros indeferidos por total ausência de documentos obrigatórios; (b) não houve qualquer espécie de
irresignação, seja mediante embargos declaratórios ou recurso eleitoral, pelas supostas candidatas ou
pela respectiva legenda, a fim de anexar os documentos faltantes; (c) a grei em nenhum momento tomou
o cuidado de providenciar a substituição. Essas circunstâncias, em sua somatória, denotam a inércia
dolosa.

[...]

(REspEl 0000972-04/PA, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJE de 26/10/2022) (sem destaque no original)

-----------------------------

RECURSO ORDINÁRIO. ELEIÇÕES 2018. DEPUTADO ESTADUAL. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO


ELETIVO (AIME). FRAUDE À COTA DE GÊNERO. ART. 10, § 3º, DA LEI 9.504/97. CANDIDATURAS
FICTÍCIAS. PROVAS ROBUSTAS. PROVIMENTO.

[...]

14. O contexto não autoriza concluir que essas falhas decorreram de erros administrativos da grei, conforme
entendeu a Corte de origem, pois, de um modo geral, nota-se a precariedade – ou má-fé – com que foram
instruídos os pedidos de registro, com uso de fotografia de pessoa diversa (como ocorreu com Solange) e de
recorte de imagem extraída da internet (tal como se deu com Roseli). Além disso, os partidos conduziram os
acontecimentos de forma a retardar a renúncia de Márcia, tornar inviável a de Rosimere e, quanto a uma
terceira (Creuza), nem sequer a comunicou sobre o indeferimento do registro para que pudesse sanear a
falha, o que enfraquece a justificativa de que não houve tempo hábil para substituí-las.

[...]

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https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 0601218-35.2020.6.09.0040
(RO-El 0601884-67/RO, Rel. Min. Benedito Gonçalves, DJE de 30/9/2022) (sem destaque no original)

Também quanto à candidata Maria Eterna, há outros elementos que confirmam que sua
candidatura foi meramente fictícia, haja vista que:

(a) obteve votação zerada;

(b) prestação de contas sem registro de despesas;

(c) efetuou propaganda eleitoral em favor de candidato adversário (Carpegiane Silvestre).

Ressalte-se que a reforma do aresto a quo não demanda reexame de fatos e provas, vedado
pela Súmula 24/TSE, mas a análise de fatos públicos e notórios disponíveis no Sistema Divulgacand desta
Justiça especializada.
Caracterizada a fraude, tem-se como consequência a cassação de toda a chapa beneficiada,
sob pena de perpetuar a burla à previsão de mínima isonomia de gênero prevista no art. 10, § 3º, da Lei
9.504/97, e a inelegibilidade daqueles que efetivamente praticaram ou anuíram com a conduta, nos termos do
remansoso entendimento desta Corte Superior:

ELEIÇÕES 2016. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO (AIME). AÇÃO
DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL ELEITORAL (AIJE). FRAUDE NA COTA DE GÊNERO. PROVAS ROBUSTAS.
COMPROVAÇÃO. PROVIMENTO.

[...]

3. Caracterizada a fraude e, por conseguinte, comprometida a disputa, a consequência jurídica é: (i) a


cassação dos candidatos vinculados ao DRAP, independentemente de prova da sua participação, ciência
ou anuência; (ii) a inelegibilidade àqueles que efetivamente praticaram ou anuíram com a conduta; e (iii)
a nulidade dos votos obtidos pela Coligação, com a recontagem do cálculo dos quocientes eleitoral e
partidários, nos termos do art. 222 do Código Eleitoral.

[...]

(REspEl 764-55/PR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, DJE de 18/5/2021) (sem destaque no original)

No que tange à inelegibilidade – que, nos termos do art. 22, XIV, da LC 64/90, aplica-se apenas
àqueles que “hajam contribuído para a prática do ato” –, saliente-se que os recorrentes não pugnaram pela
incidência da sanção em seu recurso.
Por conseguinte, deixo de decretá-la quanto a Maria Carmelita e, ainda, aos dirigentes
partidários que não integraram o processo. Em relação a Maria Eterna, como se viu, ela própria formalizou a
desistência de sua candidatura logo no início do período eleitoral.
Ante o exposto, dou provimento ao agravo para conhecer do recurso especial e lhe dar
provimento para: (a) cassar os candidatos vinculados ao Demonstrativo de Regularidade de Atos Partidários
(DRAP) do Diretório do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) de Senador Canedo/GO; (b) anular os
votos obtidos pela chapa proporcional, com o recálculo dos quocientes eleitoral e partidário (art. 222 do Código
Eleitoral).
Determino, por fim, a reautuação do feito e a imediata execução do aresto, independentemente
de publicação, comunicando-se com urgência ao TRE/GO.
É como voto.

Assinado eletronicamente por: BENEDITO GONÇALVES 22/11/2023 13:30:09


https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 0601218-35.2020.6.09.0040
EXTRATO DA ATA

REspEl nº 0601218-35.2020.6.09.0040/GO. Relator: Ministro Benedito Gonçalves.


Recorrentes: Jesus Nazareno da Silva e outro (Advogados: Gilmar de Oliveira Mota – OAB: 7022/GO e outro).
Recorrido: Partido Republicano da Ordem Social (PROS) – Municipal (Advogados: Luana Capuzo Santiago
Borelli – OAB: 40561/GO e outro). Recorrido: Celismar de Lima Neves (Advogado: Paulo Goyaz Alves da Silva
– OAB: 5214/DF). Recorridas: Maria Carmelita Gomes Ferreira e outras (Advogado: Amarildo Domingos
Cardoso – OAB: 10547/GO). Recorridos: Robson Henrique de Oliveira e outro. Advogado: Dalmy Alves de
Faria – OAB: 4287/GO. Recorrida: Ana Claudia Rodrigues de Paula. Recorrido: Belarmino Ferreira Filho.
Recorrido: Clayton Luiz da Silva. Recorrido: Darci de Barros Garcia Junior. Recorrida: Elinete Gomes Meira.
Recorrido: Epitácio de Oliveira Barros. Recorrido: Fábio Nunes Silva. Recorrido: Geraldo Siqueira do Amaral.
Recorrido: José Auricelio Martin Rodrigues. Recorrido: Juliano da Silva Miranda. Recorrida: Maria Emilia de
Carvalho. Recorrida: Maria Eterna do Nascimento. Recorrido: Mauricio Martins Rodrigues. Recorrido: Selio
Rodrigues de Oliveia Junior. Recorrido: Silvio Antonio Pereira dos Santo. Recorrido: Vicente Paulo da Luz.
Recorrido: Ledyr Silva de Oliveira.
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, deu provimento ao agravo para conhecer do recurso
especial, dando-lhe provimento para: (a) cassar os candidatos vinculados ao Demonstrativo de Regularidade de
Atos Partidários (DRAP) do Diretório do Partido Republicano da Ordem Social (PROS) de Senador Canedo/GO;
(b) anular os votos obtidos pela chapa proporcional, com o recálculo dos quocientes eleitoral e partidário, e
determinou, ainda, a imediata execução do acórdão, independentemente de publicação, comunicando-se com
urgência ao TRE/GO, nos termos do voto do relator.
Composição: Ministros Alexandre de Moraes (presidente), Cármen Lúcia, Nunes Marques,
Benedito Gonçalves, Raul Araújo, Floriano de Azevedo Marques e André Ramos Tavares.
Vice-Procurador-Geral Eleitoral: Paulo Gustavo Gonet Branco.

SESSÃO ORDINÁRIA REALIZADA POR MEIO ELETRÔNICO DE 3 A 9.11.2023.

Assinado eletronicamente por: BENEDITO GONÇALVES 22/11/2023 13:30:09


https://consultaunificadapje.tse.jus.br/ 0601218-35.2020.6.09.0040

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