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04/08/2020 · Processo Judicial Eletrônico - TRE-RJ

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO DE JANEIRO

ACÓRDÃO

MANDADO DE SEGURANÇA (120) - 0600409-89.2020.6.19.0000 - Rio de Janeiro - RIO DE JANEIRO


 

RELATOR: DESEMBARGADOR ELEITORAL PAULO CESAR VIEIRA DE CARVALHO FILHO

IMPETRANTE: JORGE DA SILVA

Advogados do IMPETRANTE: IARA CRISTINA DE ALMEIDA - GO54879, CAMILA DUFRAYER COELHO


SILVEIRA - GO49177, KAROLINNE DA SILVA SANTOS PENA - GO33883, BRUNO AURÉLIO RODRIGUES DA
SILVA PENA - GO33670

IMPETRADO: CLÁUDIO LUIS BRAGA DELL'ORTO

EMENTA

MANDADO DE SEGURANÇA. ATENDIMENTO DE URGÊNCIA


DURANTE A SUSPENSÃO DO ATENDIMENTO PRESENCIAL
DEVIDO À PANDEMIA DA COVID-19. NÃO
COMPARECIMENTO DO REQUERENTE. NEGATIVA DE
REAGENDAMENTO. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO
ADEQUADA DE JUSTA CAUSA. INOCORRÊNCIA DE
ARBITRARIEDADE. NECESSIDADE DE COMPARECIMENTO
PESSOAL DO ELEITOR. ART. 9º, § 1º, DA RESOLUÇÃO TSE
21.538/03. INEXISTÊNCIA DE CONFLITO COM O ESTATUTO
DO IDOSO. CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE. INEXISTÊNCIA
DE VIOLAÇÃO A DIREITO LÍQUIDO E CERTO. DENEGAÇÃO
DA ORDEM.
1. De acordo com o art. 4º, § 3º, do Provimento VPCRE nº 01/2020, que
disciplinou o atendimento aos eleitores durante o período de suspensão do
atendimento presencial em decorrência da pandemia da COVID-19, uma vez
marcados dia e hora para o comparecimento do eleitor, os faltosos serão tidos
como desistentes do pedido de atendimento eleitoral formulado.

2. O impetrante não compareceu ao cartório no dia e hora agendados,


comunicando, por e-mail, que não poderia fazê-lo em razão do seu estado de
saúde.

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3. Como esclareceu o Vice-Presidente e Corregedor deste Tribunal, foi


concedida a oportunidade de novo atendimento aos eleitores que
demonstraram cabalmente a impossibilidade de comparecimento por razões
médicas. No caso sob análise, porém, não houve apresentação de
comprovação adequada, motivo pelo qual o reagendamento não foi autorizado
pela Vice-Presidência e Corregedoria. Não houve, portanto, qualquer
arbitrariedade, ao contrário do que afirma o impetrante.

4. Quanto à alegação de que o § 3º do art. 4º do Provimento VPCRE nº 01/2020


seria ilegal por violar o disposto no art. 15, § 5º, do Estatuto do Idoso, que veda
a exigência de comparecimento do idoso enfermo a órgãos públicos, cumpre
ressaltar, em primeiro lugar, que as operações no cadastro eleitoral possuem
um regramento próprio, qual seja, a Resolução TSE nº 21.538/03, que exige, em
seu art. 9º, § 1º, a presença do eleitor em cartório para realizar quaisquer
operações no Cadastro Eleitoral. A exigência é plenamente justificada, pois se
trata de ato personalíssimo que envolve a correta identificação do eleitor,
inclusive com uso de tecnologia biométrica, e o título de eleitor é emitido e
entregue na mesma ocasião. Desse modo, o suposto conflito entre o Estatuto
do Idoso (norma geral) e a Resolução TSE n.º 21.538/03 (norma especial) é
meramente aparente, resolvendo-se pela aplicação do critério da
especialidade.

5. Ainda que assim não fosse, o art. 15, § 5º, do Estatuto do Idoso não garante
ao idoso enfermo o direito de atendimento independentemente de
comparecimento pessoal, como quer crer o impetrante. Com efeito, o diploma
legal em comento dispõe que, quando o atendimento for do interesse do
idoso, este deve se fazer representar por procurador legalmente constituído,
ou seja, o procurador deve comparecer ao órgão público, representando o
idoso enfermo, o que não ocorreu no presente caso.

6. Inexistência de violação de direito líquido e certo do impetrante.

7. DENEGAÇÃO da ordem.

ACORDAM OS MEMBROS DO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO RIO DE JANEIRO, NOS TERMOS DA


DECISÃO QUE SEGUE:

POR UNANIMIDADE, DENEGOU-SE A ORDEM, NOS TERMOS DO VOTO DO RELATOR.

 
RELATÓRIO
 

Trata-se de mandado de segurança, com pedido liminar, impetrado


por JORGE DA SILVA, apontando como autoridade coatora o Desembargador
Cláudio Luís Braga Dell’Orto, Vice-Presidente e Corregedor Regional Eleitoral
deste Tribunal.

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Relata o impetrante que pretende se candidatar nas próximas eleições,


razão pela qual requereu, no dia 31/03/2020, a transferência de seu domicílio
eleitoral para atendimento da exigência prevista no art. 9º, caput, da Lei 9.504/97,
qual seja, domicílio eleitoral na circunscrição do pleito por no mínimo 6 (seis)
meses.

Salienta que, em razão da exigência de presença do eleitor para a


efetivação do requerimento, efetuou o agendamento para o dia 06/04/2020, nos
termos do Provimento VPCRE nº 01/2020, que disciplinou o atendimento aos
eleitores no período de suspensão do atendimento presencial em decorrência da
pandemia da Covid-19.

Assevera que, no dia 05/04/2020, foi internado em razão de um


agravamento do seu estado de saúde, permanecendo em internação hospitalar até
o dia 09/04/2020, o que o impossibilitou de comparecer ao cartório eleitoral no
dia agendado para o seu atendimento.

Esclarece que o impedimento foi comunicado ao TRE/RJ por e-mail


enviado no dia em que o atendimento estava agendado, tendo sido requerido o
reagendamento. Não obstante, recebeu no dia 10/04/2020 uma resposta da
“Equipe Fale Conosco” do TRE/RJ informando que, com base no art. 4º, § 3º, do
Provimento VPCRE nº 01/2020, o não comparecimento no dia e horário
estabelecidos para o atendimento presencial importa a desistência do
requerimento e, consequentemente, o não cumprimento do requisito legal de
domicílio na circunscrição por pelo menos seis meses.

Alega que, por ter mais de 70 anos de idade e estar


enfermo, pertencendo ao grupo de risco aumentado em caso de contágio pelo novo
coronavírus, possui o direito líquido e certo de transferir o seu domicílio eleitoral
sem que lhe seja exigido o comparecimento pessoal, uma vez que a Lei n.º
10.741/2003 (Estatuto do Idoso) estabelece em seu art. 15, § 5º, que é vedado
exigir o comparecimento do idoso enfermo perante os órgãos públicos.

Conclui, assim, que o § 3º do art. 4º do Provimento VPCRE nº


01/2020 é ilegal, por violar o disposto no art. 15, § 5º, do Estatuto do Idoso, e
arbitrário, por impor indevidamente a desistência do requerimento em caso de não
comparecimento do requerente no dia e horário agendados, ainda que a ausência
seja justificada.

Ressalta que há perigo de dano irreversível, uma vez que o impetrante


não poderá concorrer ao cargo por ele almejado se não for efetivada a transferência
de seu domicílio eleitoral para o município do Rio de Janeiro.

Por tais motivos, requer, liminarmente, que seja determinada a


imediata suspensão do § 3º do art. 4º do Provimento VPCRE nº 01/2020, bem
como o processamento do requerimento de transferência de seu domicílio
eleitoral, independentemente de seu comparecimento pessoal.

Ao final, pugna pela concessão da segurança para que seja revogado o


dispositivo questionado e efetivada a transferência requerida.

A liminar pleiteada foi indeferida na decisão de id. 10932659.

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Informações prestadas pela autoridade apontada como coatora (id.


11210209).

Parecer da Procuradoria Regional Eleitoral opinando pela denegação


da ordem (id. 11241559).

É o relatório.

(O Advogado Bruno Aurélio Rodrigues da Silva Pena usou


da palavra para sustentação.)

VOTO

A Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso LXIX, e a Lei do


Mandado de Segurança (Lei nº 12.016/2009), em seu art. 1º, estabelecem que será
concedido mandado de segurança para a proteção de direito líquido e certo que
não seja amparado por outro remédio constitucional, sempre que for violado por
ilegalidade ou abuso de poder por parte da autoridade coatora, ou quando houver
justo receio de que isso ocorra.

No presente caso, porém, não se verifica a existência da ilegalidade


arguida.

Analisando-se os autos, observa-se que, na forma e no prazo


determinados no art. 2º, caput e § 1º, do Provimento VPCRE nº 01/2020, que
disciplinou o atendimento aos eleitores durante o período de suspensão do
atendimento presencial em decorrência da pandemia da COVID-19, o impetrante
encaminhou mensagem eletrônica solicitando a transferência de seu domicílio
eleitoral, ressalvando que não poderia comparecer pessoalmente ao cartório em
razão de sua condição de saúde e idade (id. 10907159).

Em resposta, o impetrante foi comunicado que o seu comparecimento


presencial em cartório era imprescindível para a realização da operação cadastral
(id. 10907509 e 10907559).

Marcados dia e hora para o comparecimento (06/04/2020, às 12h), o


impetrante não compareceu ao cartório, comunicando, por e-mail, que não poderia
fazê-lo em razão do seu estado de saúde (id. 10907959).

Neste ponto, destaca-se que o art. 4º, § 3º, do Provimento VPCRE nº


01/2020 estabelece que os faltosos serão tidos como desistentes do pedido de
atendimento eleitoral formulado. Não obstante, em suas informações (id.
11210209), o Vice-Presidente e Corregedor Regional Eleitoral deste Tribunal
esclareceu que foi concedida a oportunidade de novo atendimento aos eleitores
que demonstraram cabalmente a impossibilidade de comparecimento por razões
médicas.

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No caso sob análise, porém, não houve apresentação de comprovação


adequada. Apesar de o impetrante ter solicitado o reagendamento mencionando a
sua entrada e possível internação no Hospital Central da Polícia Militar do Rio de
Janeiro, o único documento encaminhado junto com o e-mail em questão foi um
atestado médico datado de 03/04/2020 (id. 10907759), o qual, apesar de indicar a
necessidade de realização de quarentena para prevenção em relação à COVID-19,
não comprova a impossibilidade de comparecimento do eleitor. Esse o motivo pelo
qual o reagendamento não foi autorizado pela Vice-Presidência e Corregedoria,
como esclarecido nas já citadas informações prestadas nestes autos. Não houve,
portanto, qualquer arbitrariedade, ao contrário do que afirma o impetrante.

Quanto à alegação de que o § 3º do art. 4º do Provimento VPCRE nº


01/2020 seria ilegal por violar o disposto no art. 15, § 5º, do Estatuto do Idoso, que
veda a exigência de comparecimento do idoso enfermo a órgãos públicos, cumpre
ressaltar, em primeiro lugar, que as operações no cadastro eleitoral possuem um
regramento próprio, qual seja, a Resolução TSE nº 21.538/03, que exige, em seu
art. 9º, § 1º, a presença do eleitor em cartório para realizar quaisquer operações no
Cadastro Eleitoral. A exigência é plenamente justificada, pois se trata de ato
personalíssimo que envolve a correta identificação do eleitor, inclusive com uso de
tecnologia biométrica, e o título de eleitor é emitido e entregue na mesma ocasião.
Desse modo, o suposto conflito entre o Estatuto do Idoso (norma geral) e a
Resolução TSE n.º 21.538/03 (norma especial) é meramente aparente, resolvendo-
se pela aplicação do critério da especialidade.

Ainda que assim não fosse, o art. 15, § 5º, do Estatuto do Idoso não
garante ao idoso enfermo o direito de atendimento independentemente de
comparecimento pessoal, como quer crer o impetrante. Com efeito, o diploma legal
em comento dispõe que, quando o atendimento for do interesse do idoso, este deve
se fazer representar por procurador legalmente constituído, ou seja, o procurador
deve comparecer ao órgão público, representando o idoso enfermo, o que não
ocorreu no presente caso. Confira-se:

Art. 15 (…)

(...)

§ 5º É vedado exigir o comparecimento do idoso enfermo perante os órgãos


públicos, hipótese na qual será admitido o seguinte procedimento:

I - quando de interesse do poder público, o agente promoverá o contato


necessário com o idoso em sua residência; ou (Incluído pela Lei nº 12.896, de
2013)

II - quando de interesse do próprio idoso, este se fará representar


por procurador legalmente constituído.

Inexistindo, assim, violação de direito líquido e certo do impetrante,


deve ser denegada a ordem pleiteada.

Por todo o exposto, voto pela denegação da segurança.

Rio de Janeiro, 27/07/2020

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Desembargador PAULO CESAR VIEIRA DE CARVALHO FILHO

Assinado eletronicamente por: PAULO CESAR VIEIRA DE CARVALHO


FILHO
03/08/2020 13:23:02
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ID do documento: 11615259

20072816524115700000011083246
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