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Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul

RECURSO ELEITORAL Nº 0600022-37.2020.6.12.0043

Origem: Itaporã (43ª Zona Eleitoral – Dourados)

Recorrente(s): MUNICÍPIO DE ITAPORÃ

Advogado(a)(s): CHARLLES POVEDA – MS9422-A e CAIO FÁBIO CARDOSO RIBEIRO –


MS22824-A

Recorrido(a)(s): JUSTIÇA PÚBLICA ELEITORAL

Relator(a): Juiz DANIEL CASTRO GOME DA COSTA

EMENTA

RECURSO ELEITORAL. PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA DIVULGAÇÃO DE


PUBLICIDADE INSTITUCIONAL EM PERÍODO VEDADO. EXCEPCIONALIDADE
DA VEDAÇÃO DISPOSTA ART. 73, VI, b , VII, DA LEI Nº
9.504/1997. CAMPANHA MUNICIPAL DE PREVENÇÃO DA COVID-19 E
ORIENTAÇÃO DA POPULAÇÃO. PROMULGAÇÃO DA EMENDA
CONSTITUCIONAL Nº 107/2020. PROVIMENTO NEGADO.

1. A publicidade institucional relacionada à Covid-19, ante a promulgação da


Emenda Constitucional nº 107/2020, independe de autorização da Justiça Eleitoral para a sua
divulgação no segundo semestre de 2020 (art. 73, VI, b, da Lei nº 9.504/1997 c.c. art. 1º, VII,
da EC nº 107/2020).

2. O limite de gastos previsto no art. 73, VII, da Lei nº 9.504/1997 não está sujeito
a autorização da Justiça Eleitoral para a sua flexibilização

3. Negado provimento.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os Juízes deste Tribunal


Regional Eleitoral, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, que ficam
fazendo parte integrante desta decisão colegiada, à unanimidade e de acordo com o parecer,
em negar provimento ao recurso, mantendo incólume a sentença que indeferiu o pedido de
autorização para veiculação de publicidade em âmbito municipal, nos termos do voto do relator.

Sala das Sessões do Tribunal Regional Eleitoral.

Em Campo Grande, MS, 24/08/2020.

Juiz DANIEL CASTRO GOMES DA COSTA, Relator.

Assinado eletronicamente por: DANIEL CASTRO GOMES DA COSTA - 25/08/2020 11:02:54 Num. 2858709 - Pág. 1
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RELATÓRIO

1. Tratam os autos de recurso interposto pelo MUNICÍPIO DE ITAPORÃ em face


da sentença proferida pelo Juízo da 43ª Zona Eleitoral de Dourados, que jurisdiciona aquele
município, indeferindo pedido de autorização para divulgação de campanha publicitária de
prevenção e conscientização referente à Covid-19, durante o período vedado de três meses
que antecede às eleições, excedendo a média de gastos para o primeiro semestre do ano das
eleições, enquanto durarem os efeitos da calamidade pública, com fundamento no art. 73, VI, b
, VII, da Lei nº 9.504/1997 (ID 267059).

2. Alega o recorrente que da data da publicação da sentença a situação de


Itaporã, referente a incidência de casos da Covid-19 agravou-se, justificando, assim, a
reconsideração da sentença recorrida para autorizar o pedido.

3. Com vista dos autos, a Procuradoria Regional Eleitoral manifestou-se pelo


desprovimento do recurso.

4. É o relatório.

VOTO

5. Como relatado, trata-se de recurso interposto pelo MUNICÍPIO DE ITAPORÃ


em face da sentença proferida pelo Juízo da 43ª Zona Eleitoral de Dourados, que jurisdiciona
aquele município, indeferindo pedido de autorização para divulgação de campanha de
prevenção e controle da Covid-19, no âmbito municipal, com o intuito de afastar a incidência da
vedação contida no art. 73, VI, b, VII da Lei nº 9.504/1997.

6. Com efeito, a regra do citado dispositivo legal proíbe a divulgação de


publicidade institucional nos três meses anteriores ao pleito, inclusive campanha de entidade
da administração indireta, limitando os gastos com publicidade no primeiro semestre do ano de
eleição à média de gastos do primeiro semestre dos três últimos anos que antecedem o pleito.
Tal restrição legal tem por objetivo assegurar a igualdade de oportunidade entre os candidatos
a cargos eletivos. In verbis:

Art. 73. São proibidas aos agentes públicos, servidores ou não, as seguintes
condutas tendentes a afetar a igualdade de oportunidades entre candidatos nos
pleitos eleitorais: (...)

VI- nos três meses que antecedem o pleito: (...)

b) com exceção da propaganda de produtos e serviços que tenham concorrência


no mercado, autorizar publicidade institucional dos atos, programas, obras,
serviços e campanhas dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou
das respectivas entidades da administração indireta, salvo em caso de grave e
urgente necessidade pública, assim reconhecida pela Justiça Eleitoral; (...)

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VII - realizar, no primeiro semestre do ano de eleição, despesas com publicidade
dos órgãos públicos federais, estaduais ou municipais, ou das respectivas
entidades da administração indireta, que excedam a média dos gastos no primeiro
semestre dos três últimos anos que antecedem o pleito;

7. Todavia, como destacado no parecer ministerial, de acordo com a Emenda


Constitucional nº 107/2020 que adiou a data do pleito de 2020, o prazo para a realização de
gastos com publicidade institucional foi estendido até 15 de agosto de 2020, obedecida a
média dos gastos dos dois primeiros quadrimestres dos três últimos anos que antecedem ao
pleito.

8. Além dessas alterações, a Emenda Constitucional nº 107/2020 também previu


a possibilidade de veiculação no segundo semestre de 2020, de publicidade institucional de
atos e campanhas relacionadas ao enfrentamento e orientação da população quanto à
Covid-19, ressalvada a possibilidade de apuração de conduta abusiva. In verbis:

Art. 1º As eleições municipais previstas para outubro de 2020 realizar-se-ão no


dia 15 de novembro, em primeiro turno, e no dia 29 de novembro de 2020, em
segundo turno, onde houver, observado o disposto no § 4º deste artigo.

§ 3º Nas eleições de que trata este artigo serão observadas as seguintes


disposições: (...)

VII - em relação à conduta vedada prevista no inciso VII do caput do art. 73 da Lei
nº 9.504, de 30 de setembro de 1997, os gastos liquidados com publicidade
institucional realizada até 15 de agosto de 2020 não poderão exceder a média
dos gastos dos 2 (dois) primeiros quadrimestres dos 3 (três) últimos anos que
antecedem ao pleito, salvo em caso de grave e urgente necessidade pública,
assim reconhecida pela Justiça Eleitoral;

VIII - no segundo semestre de 2020, poderá ser realizada a publicidade


institucional de atos e campanhas dos órgãos públicos municipais e de suas
respectivas entidades da administração indireta destinados ao enfrentamento à
pandemia da Covid-19 e à orientação da população quanto a serviços públicos e
a outros temas afetados pela pandemia, resguardada a possibilidade de apuração
de eventual conduta abusiva nos termos do art. 22 da Lei Complementar nº 64, de
18 de maio de 1990.

9. Nesse contexto, impende notar que a média de gastos com despesas de


publicidade, para as eleições de 2020, se baliza pela média dos dois primeiros quadrimestres
dos três anos anteriores ao pleito, sendo inclusive permitida a realização de publicidade
institucional no segundo semestre de 2020, desde que relacionada a atos e campanhas para
enfrentamento da Covid-19 e orientação da população, respeitada a média gastos.

10. Destarte, ainda que se trate de hipótese de caso de excepcional premência, a


direcionar para ações que não podem ser proteladas sob pena de nefastas consequências,
sobretudo por se tratar de saúde pública, tenho que, no presente caso, torna-se despicienda a
autorização desta Justiça Especializada para a realização de publicidade institucional, a teor do
art. 1º, § 3º, VII e VIII, da Emenda Constitucional nº 107/2020, que excepcionou os limites de

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gastos e período de vedação para divulgação de publicidade institucional para as eleições de
2020.

11. Contudo, verifico das artes gráficas juntadas com a inicial (ID
2676709) que, além de destacarem de um modo geral, orientações quanto às medidas de
proteção, às formas de transmissão e os sintomas relacionadas à Covid-19, também contêm as
marcas dos governos federal e municipal, em desacordo ao disposto no art. 37, § 10, da
Constituição Federal. In verbis:

Art. 37. (...)

§ 1º A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos


públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela
não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção
pessoal de autoridades ou servidores públicos.

12. Por conseguinte, tendo em vista que a alegada excepcionalidade para a


realização de campanha publicitária, a ser realizada pela administração municipal de Itaporã,
dirigida à prevenção e conscientização da população quanto à Covid-19, encontra-se
autorizada para o segundo semestre de 2020 pela Emenda Constitucional nº 107/2020, desde
que respeitado o limite da média dos gastos dos dois primeiros quadrimestres dos três anos
anteriores à eleição, resta prejudicado o pedido de autorização para veiculação de publicidade
institucional em período vedado.

13. Por fim, destaco que, independente do agravamento da pandemia do


Covid-19 no município de Itaporã, a flexibilização do limite de gastos, previsto no art. 73, IV, da
Lei nº 9.504/1997 e art. 1º, VIII, da Emenda Constitucional nº 107/2020, não está sujeita à
autorização da Justiça Eleitoral, ante a falta de previsão legal.

14. Ante o exposto, e de acordo com o parecer ministerial, nego provimento ao


recurso.

EXTRATO DA ATA - DECISÃO

Conforme consta na ata de julgamentos, a DECISÃO foi a seguinte:

À unanimidade e de acordo com o parecer, este Tribunal Regional negou


provimento ao recurso, mantendo incólume a sentença que indeferiu o pedido de autorização
para veiculação de publicidade em âmbito municipal, nos termos do voto do relator.

Presidência do(a) Exmo(a). Des(a). JOÃO MARIA LÓS.

Relator(a), o(a) Exmo(a) Juiz(a) DANIEL CASTRO GOMES DA COSTA.

Procurador(a) Regional Eleitoral, o(a) Exmo(a). Dr(a). PEDRO GABRIEL


SIQUEIRA GONÇALVES.

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Tomaram parte no julgamento, além do(a) relator(a), os Exmos. Senhores Juízes:
Des. DIVONCIR SCHREINER MARAN, CLORISVALDO RODRIGUES DOS SANTOS,
ARIOVALDO NANTES CORRÊA (Membro Substituto), JOSÉ HENRIQUE NEIVA DE
CARVALHO E SILVA e JULIANO TANNUS.

Sala das Sessões do Tribunal Regional Eleitoral.

Em Campo Grande, MS, 24 de agosto de 2020.

HARDY WALDSCHMIDT
Secretário da Sessão

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