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GRANDE DO SUL
Ijuí (RS)
2014
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Ijuí (RS)
2014
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AGRADECIMENTOS
RESUMO
O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise dos movimentos sociais e
as conquistas, consolidações e ampliações dos Direitos Humanos através desses movimentos.
Para isso foi realizada uma retrospectiva histórica dos direitos humanos verificando de que
forma se deu seu desenvolvimento no decorrer dos anos, desde a conquista de sua primeira
geração de direitos com a Revolução Francesa, até os dias atuais. Ainda, analisou-se também,
como perspectiva central, os movimentos e conquistas voltados para a América do sul,
concernentes aos ocorridos no Brasil após o período da ditadura. Não pretende-se esgotar as
possíveis análises sobre a questão, no entanto, delimitou-se o estudo no período que
compreende o fim da Ditadura militar, visto que esse foi o momento histórico no qual todas as
manifestações foram fortemente reprimidas. Nessa perspectiva compreende-se e demonstra-se
através de resultados obtidos por diversos movimentos, em diferentes épocas, em prol dos
direitos humanos, que a participação popular torna-se elemento preponderante na luta pela
conquista e ampliação dos direitos.
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO......................................................................................................................08
1 DIREITOS HUMANOS......................................................................................................10
1.1 Aspectos históricos dos Direitos Humanos.....................................................................10
1.2 As Gerações de Direitos Humanos nascidas pós Revolução Francesa.........................16
1.3 Sistema internacional de proteção dos direitos humanos: a inserção do Brasil..........21
CONCLUSÃO............................................................................................................... ..........44
INTRODUÇÃO
homem e, vêm evoluindo com o passar dos anos e hoje encontra-se em sua 4° geração de
direitos.
Em relação ao segundo capítulo, por estar voltado mais para a questão dos
movimentos sociais, no primeiro item abordam-se os aspectos históricos dos movimentos
sociais ocorridos no Brasil, tendo como paradigma os movimentos ocorridos na Europa e
Estados Unidos. A contribuição dos movimentos sociais para a conquista dos direitos
humanos, analisando de forma mais detalhada e específica alguns movimentos ocorridos após
a abertura democrática com a queda da Ditadura Militar em 1985.
1 DIREITOS HUMANOS
Destacamos, preliminarmente, que não serão abordados todos os fatores históricos que
influenciaram para a construção de uma visão moderna de direitos humanos devido a
limitação do presente trabalho. No entanto, serão elencados os principais fatos históricos
concernentes para uma boa compreensão do tema.
Quanto a questão terminológica que adotaremos para nos referir aos Direitos humanos,
pois há várias, conforme André Ramos Tavares (2002, p. 352), podemos encontrar, no que
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tange aos Direitos Humanos, as seguintes expressões: “direitos naturais, direitos humanos,
direitos do homem, direitos individuais, direitos públicos subjetivos, liberdades fundamentais,
liberdades públicas e direitos fundamentais do homem”, entre outras. Todas relativas e
relacionadas aos direitos individuais, sociais, econômicos e políticos.
Para Maria Victoria Benevides, citada por Herkenhoff (2011, p.13), Direitos do
Homem “são aqueles direitos considerados fundamentais a todos os seres humanos, sem
distinção de sexo, nacionalidade, etnia, cor da pele, classe social, profissão, condição de saúde
física e mental, opinião política, religião, nível de instrução e julgamento moral.”
No entanto, a expressão “homem” sofreu diversas críticas por se achar que o sexo
feminino estaria excluído de usufruir desses direitos. (HERKENHOFF, 2011, p.14). Nesse
sentido, Ingo Wolfgang Sarlet (2009, p. 31), expressa o seguinte comentário:
Dessa forma, o autor refere-se àqueles direitos reconhecidos e que estão positivados
constitucionalmente, assegurando, assim, os direitos de cada ser humano a ter uma vida mais
digna, como nos explica José Afonso da Silva (2009, p. 178): “trata-se de situações jurídicas
sem as quais a pessoa humana não se realiza, não convive e, às vezes, nem mesmo
sobrevive.”
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Para José Joaquim Gomes Canotilho apesar dos termos serem usados como sinônimos,
há algumas distinções que precisam ser feitas:
Verificamos não ser tarefa das mais fáceis conceituar os direitos humanos, pelo fato de
serem várias as ideias terminológicas que cercam o tema. A doutrina tem tentado construir
alguns conceitos não sem algum receio de trazer algo insatisfatório para o leitor. Até porque,
como pontua José Afonso da Silva (2005, p. 175).
É o caso, por exemplo, de Herkenhoff (2011, p. 39) quando nos diz que a sociedade
antiga não conheceu o fenômeno da Limitação do Poder do Estado, e que nem por isso
deixaram de privilegiar a pessoa humana na criação da ideia de direitos humanos, pois,
segundo o mesmo autor, a simples técnica de estabelecer limites através de constituições e leis
não garantem que elas sejam respeitadas. Assim, destaca o autor que os direitos humanos
podem ser reconhecidos na Antiguidade pelos seguintes códigos:
Conforme Herkenhoff (2011, p.42), a técnica de limitar o poder pela lei teve suas
raízes históricas implantadas no século XIII, por volta do ano 1215, quando os barões e bispos
impuseram ao Rei João Sem Terra a Carta Magna. Esse ficou sendo, também, o marco do
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Constitucionalismo que nada mais é que um conjunto de regras visando limitar o poder
político e estabelecer direitos e garantias em prol da sociedade.
Assim, concordamos com Gilmar Antônio Bedin (2002, p. 19), quando diz que, os
direitos humanos surgiram em meados do século XVII e XVIII. Ainda, nos esclarece o
referido autor:
[...] na ordem natural a cidade tem precedência sobre a família e sobre cada
um de nós individualmente, pois o todo deve necessariamente ter
precedência sobra as partes [...] De fato, cada indivíduo isoladamente não é
auto-suficiente, consequentemente em relação à cidade ele é como as outras
partes em relação a seu todo [...] (BEDIN, 2002, p. 21).
Por isso não podermos falar ainda, em proteção aos direitos humanos no mundo
antigo, pois, deveria ocorrer primeiro essa ruptura com o passado, com a figura deôntica do
dever e não do direito.
A história costuma dividir a sociedade medieval em três classes: o Clero com a função
de oração, ensino, cuidar dos enfermos; os Nobres imbuídos de administrar, vigiar e proteger;
e o povo, o único que trabalhava para manter os demais. A respeito comenta Miaille (1979),
citado por Darcisio Corrêa (2010, p. 381):
O que é preciso notar é que cada uma dessas categorias políticas é regida por
regras de direito específicas. O Clero tem as suas próprias jurisdições, tal
como a nobreza; o imposto não é devido nem pelo clero nem pela nobreza,
enquanto é pesadamente cobrado sobre os rendimentos do terceiro estado,
etc.
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Conforme José Damião de Lima Trindade (2002, p. 24), burgueses era uma
denominação genérica dos habitantes dos “burgos”, pequenas cidades que surgiam nos
cruzamentos de rotas comerciais. Formadas na grande maioria por pessoas livres que, aos
poucos foram acumulando algum capital nas práticas do comércio.
Ainda, segundo o mesmo autor, nos séculos XV e XVI, essa classe estava bem
diversificada em vários ramos de atividades e muito influente na maioria das cidades da
Europa Ocidental. A sociedade Feudal já havia se tornado um empecilho para esses
empreendedores, dificultando seu progresso e maior enriquecimento, assim, ansiavam maior
liberdade para os seus negócios. Portanto, viam com bons olhos e interesse as reivindicações
dos camponeses, porque a seu modo, também sentiam as amarras do feudalismo.
É num clima de extrema insatisfação popular que o povo foi às ruas protestar contra os
privilégios da Nobreza, aos tributos e, principalmente à servidão imposta. A intenção era
derrubar o governo absolutista do Rei Luis XVI, alicerçada, ainda, na teoria do direito divino
dos Reis. A Revolução utilizou como tema: “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”.
revolucionárias. Uma vez que, essa doutrina reconhece o fundamento do Estado, não como
uma ordem divina, mas, como uma convenção estipulada entre seus membros.
Como podemos acompanhar no item anterior, vencida a Revolução de 1789, que ficou
conhecida como Revolução Francesa, tem inicio a uma evolução histórica dos Direitos
Humanos surgida da luta contra a opressão e da tirania imposta aos povos pelos governos
absolutistas. Pode não ter sido um fenômeno isolado, como veremos mais adiante, mas, foi
extremamente importante para o acontecimento de alguns fenômenos contemporâneos
relativos a conquista de direitos.
Salientamos que, as gerações de direito não são estáticas, ou seja, elas evoluem no
tempo de acordo com as necessidades da sociedade, as mudanças históricas e outros fatores
que de alguma forma contribuem para que a sociedade se modifique e atendam aos anseios do
homem. Portanto, podemos dizer que, as gerações de direito elencadas aqui não serão as
mesmas para sempre, elas sofrerão modificações com o passar do tempo. Como bem sublinha
Norberto Bobbio (2002, p. 18).
Entendemos que a primeira geração de direitos tenha surgido das lutas do povo pela
opressão causada pelos governos tiranos de orientação absolutista. Assim, em 26 de agosto de
1789, pressionado pelo povo e pelos deputados o Rei Luis XVI é obrigado a sancionar a
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, considerada, também, a mais importante
declaração dos direitos fundamentais, pois, foi a que teve maior repercussão e relevância para
a história dos direitos humanos.
Lembra-nos Flávio de Campos Pinheiro (2008, p. 06), citado por Flávio Rodrigo
Masson Carvalho (2008) que:
Foi na idade Média que surgiu os antecedentes mais diretos das declarações
de direitos, com a contribuição da teoria do direito natural. Podemos citar
como exemplo a magna Carta (1225), a Petition of Rights (1628), o Hábeas
Corpus Amendment Act (1679) e o Bill of Rights (1689), a Declaração de
Independência dos Estados unidos da América (1776), a Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão (1789), a Convenção de Genebra (1864),
a Constituição Mexicana (1917), a Constituição de Welmar (1919), Carta
das Nações Unidas (1945), e finalmente a mais aceita entre todas as nações
a Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948).
E numa segunda proposta, pontua Bedin (2002, p. 42), temos a classificação proposta
por: Germán Bidart de Campos (1991), Celso Lafer (1991) e Paulo Bonavides (1993). Para
estes autores, os direitos do homem podem ser classificados da seguinte maneira:
No entanto, para o professor Bedin (2002, p. 42) essa divisão apresenta uma grande
lacuna em não abranger e, não poderia mesmo, pois foi proposta somente em 1950, um
fenômeno novo que é a questão dos direitos do homem no âmbito internacional. Portanto,
como referência, utilizaremos a proposta de classificação feita pelo referido professor. Qual
seja:
direitos não foram concebidos pelo Estado, mas conquistados em face do poder exercido
arbitrariamente”.
Segundo Bedin (2002, p. 43), esses direitos estabelecem um marco divisório entre a
esfera pública e a esfera privada, característica fundamental da sociedade moderna. Na
especificação feita por Bedin citado por Darcísio Corrêa (2006, p. 173) os principais direitos
civis podem ser assim elencados:
O direito à vida é o mais elementar de todos, é através dele que o ser humano é capaz
de realizar seus sonhos, suas vontades, como afirma José Afonso da Silva, citado por Bedin
(2002, pag. 44), que ele “constitui a fonte primária de todos os outros bens jurídicos.” Faz
parte de nosso cotidiano de tal maneira que, qualquer ameaça em restringí-lo, torna-se uma
questão polêmica, como é o caso, hoje, do aborto e da eutanásia.
Quanto aos direitos de segunda geração, por outro lado, se caracterizam pelo fato de os
direitos por ela compreendidos serem considerados direitos positivos, isto é, direitos de
participar do Estado, e, são denominados, também, de direitos políticos. (BEDIN, 2002, p.
56).
Nesse sentido trazemos as considerações de André Ramos Tavares (2009, p. 470),
acerca das liberdades políticas:
Englobam ainda, o direito ao sufrágio universal, ou seja, “um direito público subjetivo
de natureza política, que tem o cidadão de eleger, ser eleito e de participar da organização e
das atividades do poder estatal.”, Carlos Fayt citado por Bedin (2002, p. 57). Foram direitos
conquistados no decorrer do século XIX consolidando-se no início do século XX.
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo
voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei,
mediante:
I - plebiscito;
II - referendo;
III - iniciativa popular.
Entendemos que essa geração engloba dois tipos de direitos, segundo José Afonso da
Silva (1993) citado por Bedin (2002, p. 63), que seriam: “os direitos relativos ao homem
trabalhador; e os direitos relativos ao homem consumidor”. Quanto aquele se refere ao
homem enquanto produtor de bens e partícipe de uma relação de emprego, e quanto a esses ao
homem como sujeito que consome bens e serviços públicos.
Assim, destaca Piovesan (2013, p. 190) que, se a “Segunda Grande Guerra significou a
ruptura, o pós-guerra tomou ares de reconstrução dos direitos humanos.” Ainda, a certeza de
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que essa reconstrução e efetiva proteção não fiquem no âmbito de um único Estado mas,
estenda-se a todos, pois, trata-se de tema a orientar a ordem internacional contemporânea.
O Direito Humanitário, foi a primeira expressão utilizada para destacar que há limites
no plano internacional à liberdade e à autonomia dos povos, ainda que em caso de conflito
armado. É o direito que se aplica na hipótese de guerra proteger militares postos fora de
combate (feridos, doentes, náufragos, prisioneiros), e população civil, ainda, assegurar a
observância de direitos fundamentais, como assevera Piovesan (2013, p. 183).
Destacamos que o Direito Humanitário faz parte do Direito Internacional, por isso,
rege as relações entre dois ou mais Estados através de tratados ou convenções, uma boa parte
dos acordos encontram-se firmados nas convenções de Genebra de 1949. Esses acordos
restringem o uso de certas armas e a utilização de alguns métodos de combate, para, evitar
assim, entre outras coisas, o sofrimento desnecessário.
A Convenção de Viena de 1969 define tratado internacional em seu art. 2, “a”, como
sendo “um acordo internacional concluído por escrito entre Estados e regido pelo Direito
internacional, quer conste de um instrumento único, quer de dois ou mais instrumentos
conexos, qualquer que seja sua denominação específica.”
Quanto a Liga das Nações, criada pelo Tratado de Versalhes, sua Sede era em Genebra
na Suíça, e sua forma de organização é bem parecida com a da atual ONU, sendo composta de
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Seu objetivo principal era reunir todas as nações e, dessa forma, arbitrar e mediar os
conflitos entre as mesmas, no entanto, o que pareceu ser uma ótima alternativa para a
manutenção da paz mundial, com o tempo mostrou-se frágil e, os primeiros sinais de fracasso
começaram a aparecer. Assim, em não ter obtido êxito na prevenção da Segunda Guerra
Mundial acabou por ser dissolvida em sua 21ª sessão, em 18 de abril de 1946.
Nesse sentido, destaca Piovesan (2013, p.464), que o sistema internacional de proteção
aos direitos humanos é constituído de um modelo global, e outro regional, ambos formados
por tratados, convenções, recomendações, etc.
O Sistema Global de proteção dos direitos humanos tem como fonte normativa
imediata a Carta das Nações Unidas de 1945, ao estabelecer que os Estados- partes devem
promover a proteção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais. A referida Carta é
formada por tratados internacionais que refletem a consciência ética contemporânea, na
medida em que invoca o consenso internacional acerca de temas centrais dos Direitos
Humanos (PIOVESAN, 2013, p. 233).
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De acordo com Piovesan (2013, p. 371), o fim da Guerra Fria possibilitou a criação de
um novo cenário para a efetivação e, afirmação dos Direitos Humanos. Como avalia Louis
Henkin, citado pela mesma autora:
A partir de então o Brasil vem aos poucos ratificando vários tratados internacionais de
proteção aos direitos humanos. Com isso, o País já é signatário de importantes tratados de
direitos humanos, como destaca Piovesan (2013, p. 375), sendo que, iniciou-se com a
validação em 1° de fevereiro de 1984, da Convenção sobre a eliminação de todas as formas de
Discriminação contra a mulher.
contexto internacional, simbolizando, dessa maneira, o seu aceite para com a ideia
contemporânea de globalização dos direitos humanos (PIOVESAN, 2013, p. 377).
Assim sendo, segundo Maria da Glória Gohn (2012, p. 20), um dos pioneiros a utilizar
o termo “movimentos sociais” foi Lorenz Von Stein em 1842, atribuindo ao termo o sentido
de uma luta contra determinada situação. Pois, os primeiros estudos realizados tendo como
objeto as ações sociais coletivas similares aos movimentos sociais da atualidade eram tidos
como distúrbios populares.
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Importante contribuição nesse sentido é feita por Gohn (1995, p. 44), para teorizar os
movimentos sociais de forma que mais se aproxime do nosso objetivo:
Destaca Gohn (2012, p. 27), existir três correntes teóricas a respeito dos movimentos
sociais: “a histórico-estrutural, a culturalista-identitária e a institucional/organizacional-
comportamental.”
A primeira, tido como “clássica” tem suas fontes teóricas a partir de autores como
Marx, Gramsci, Lenin e outros. Sua abordagem até os anos de 1950 retratam o movimento
social inserido em lutas de classes e subordinados, ligados aos meios de produção, conhecidos
também, como movimentos operários, em suas lutas contra o sistema capitalista de produção.
Quanto aos Movimentos Sociais no Brasil, podemos dizer que eles remontam a
história da escravidão como marco inicial, reconhecido por todos os historiadores brasileiros.
Os quilombos foram, justamente, a expressão marcante da luta por direito e por justiça, uma
vez que sofreram uma das fases mais terríveis da nossa história, que foi a existência da
escravidão humana.
Notamos que os movimentos sociais ligados aos direitos humanos tiveram um papel
importantíssimo na redemocratização política do país. Segundo Solon Eduardo Annes Viola
(2008).
Uma novidade nos movimentos sociais na atualidade, segundo Maria da Glória Gohn
(2010, p. 12), é a sua organização em “redes” sociais e temáticas compostas por associações
comunitárias, fóruns, conselhos, câmaras, assembleias e, que podem ser agrupadas em três
grandes blocos:
A intenção dessa articulação em redes temáticas como nos esclarece Ilse Scherer-
Warren (2004), é aproximar atores sociais diversificados que tenham uma mesma identidade
social, tanto a nível local quanto global, a fim de ganhar visibilidade, ou seja, impressionar,
causar maior impacto frente as reivindicações na esfera pública. Como exemplo na luta pelos
direitos humanos em face da exclusão social, podemos destacar além de outras redes de
organização o Fórum Social Mundial.
Portanto, depois dessa retomada histórica dos Movimentos sociais passaremos para o
próximo item, com o intuito de verificarmos na prática os resultados dos movimentos sociais
quanto aos avanços na conquista e ampliação dos direitos humanos no Brasil.
2.2 Direitos Humanos e a sua conquista por meio dos movimentos sociais
O que ocorre é que as promessas feitas à população quando não cumpridas, não
efetivadas, ou ainda, quando reivindicadas e não acolhidas, tornam-se aspirações para
manifestações seja de cunho político ou social. Ou seja, a sociedade civil é o palco de origem
para os clamores e anseios por justiça social, portanto, a organização em defesa dos direitos
humanos foi a resposta encontrada para enfrentar esses abusos, demonstrando assim, caráter
coletivo e universal, uma vez que muitos se beneficiam com os resultados.
Os anos 1970 foram de pouca atuação já que a maioria dos movimentos sociais agia na
clandestinidade, os poucos que ocorreram procuravam satisfazer as necessidades mínimas de
sobrevivência da população pobre. Ainda assim, a década ficou marcada pelo ressurgimento
dos movimentos sociais na conjuntura política brasileira. Através dos setores populares, os
movimentos que surgiram reivindicavam creches, habitação, transporte, postos de saúde e
melhorias em favelas, reflexo da péssima situação econômica sofrida pelo Brasil durante o
período do Regime Militar. (GOHN, 1995, p. 104).
A década de 1980 ficou marcada pelo movimento pelas “Diretas Já”, como ficou
conhecido, as pessoas queriam de volta o direito de participar da vida política do pais, ou seja,
direitos referentes a segunda geração, vistos anteriormente e que foram tolhidos pela
Ditadura. O povo queria de volta o direito de poder escolher o Presidente do País pelo voto
direto, com isso, o movimento ficou conhecido como um dos maiores movimentos de massa
do país. E, em 1985 ocorre o retorno do Poder Civil, culminando com uma nova Constituição
em 1988 e as eleições diretas para presidente em 1989.
A Organização das Nações Unidas as definem como “entidades civis sem fins
lucrativos, de direito privado, que realizam trabalhos em benefício de uma coletividade”.
Porém, na década de 1960, elas eram utilizadas como uma espécie de “assessoria” aos
movimentos sociais realizados na clandestinidade. As ONGs proporcionavam um ambiente de
discussão sobre temas relativos às “etnias, gêneros, crianças e adolescentes; ao meio
ambiente, às questões urbanas e rurais; à comunicação, à educação, aos direitos humanos”
mas, não se comprometiam com a direção política dos movimentos sociais (ADILSON
CABRAL, 2014).
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Portanto, convém nesse momento abordar de forma mais detalhada esses movimentos,
principalmente os relacionados com a luta pelos direitos humanos, ocorridos após o período
da ditadura enfrentado pelo nosso país e, que se revela ponto preponderante desse item para
demonstrar a relação efetiva entre os movimentos sociais e as conquistas realizadas em favor
dos direitos humanos. Os movimentos seriam os seguintes:
a) Luta pela moradia: Hoje denominado Movimento Nacional de Luta pela Moradia
(MNLM), foi criado em 1990 depois de várias ocupações de áreas e conjuntos habitacionais,
tendo como proposta principal acabar com o déficit habitacional, buscando a mobilização e a
organização nacional dos movimentos pela moradia, unificando forças com todos os sem-
tetos, inquilinos, mutuários e ocupantes. O movimento conta hoje como seus apoiadores a
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a Central Única dos Trabalhadores
(CUT), e vínculo com o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), além de estar
organizado em 14 estados da União. (WIKIPEDIA, 2014, grifo nosso)
distribuição das terras rurais para quem nela trabalha. Suas principais formas de atuações são
as ocupações, acampamentos, marchas, assim como, manifestações de solidariedade para com
outros movimentos (SCHERER-WAREN, 2014, grifo nosso).
riscos para sua saúde em um hospital, de forma plenamente legal.” (VIOMUNDO, 2014, grifo
nosso).
Nessas últimas três décadas o movimento tem conseguido importantes avanços, como
é o caso da criação dos Centros de Atenção Psicossociais (Caps), para atendimento e
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tratamento dos doentes. Além do que, maior investimento por parte do Ministério da Saúde
quanto à forma do tratamento dos enfermos que passou a ser não apenas com medicamentos
mas, com acompanhamento de profissionais da área.
Compreendemos que, para alguns a intervenção militar de 1964 seria algo passageiro,
ou seja, um ato realizado pelo exército como uma espécie de poder moderador, em que, esse
poder viria a corrigir eventuais desvios na rota política do país. Mas, o que ocorreu realmente
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não passou nem perto, para desapontamento daqueles que acreditavam e apoiavam o golpe
militar (HERRKENHOFF, 2011, p. 98).
II, III, VIII e IX, consagrando, dessa forma, o primado pelos Direitos Humanos. (PIOVESAN,
2013, p. 101).
Portanto, em nome dessa prevalência dos Direitos Humanos, o Brasil está ao mesmo
tempo reconhecendo a existência de limites e condicionamentos à noção de soberania Estatal.
Dessa forma, rompe-se com a concepção tradicional da soberania absoluta, porém, vale
ressaltar, que é de extrema importância para o sucesso das ratificações dos instrumentos
internacionais de proteção dos Direitos Humanos essa ruptura.
O Programa original conferiu maior ênfase à garantia e proteção aos direitos civis,
hoje conta com a versão PNDH 3, que tem como diretriz a garantia da igualdade na
dissemelhança com respeito às diferentes crenças, liberdade de culto e garantia da laicidade
do Estado brasileiro, prevista na Constituição Federal. Ainda, de acordo com o Portal Brasil
(2014):
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Dando continuidade aos programas relacionados aos Direitos Humanos são criados
diversos outros programas tanto Federais quanto Estaduais, além da realização de
conferências como estratégias para formular e disseminar o tema.
Destaca-se, ainda, na órbita interna, a atuação do Ministério Público, por meio de seus
promotores e Procuradores de Justiça, em defesa da cidadania e dos direitos humanos, de
forma autônoma, nas mais diversas áreas e instâncias. Para isso, o Ministério Público conta
com Promotorias de justiça espalhadas em todo o território nacional, defendendo o cidadão
nas questões relativas à saúde, educação, direito do idoso, discriminação racial, e diversas
outras áreas.
Por conta do empenho por parte do governo e dos órgãos não governamentais, através
dos movimentos sociais, podemos perceber importantes avanços em relação aos direitos
humanos no Brasil. Podemos destacar a diminuição na taxa de mortalidade infantil nas
últimas duas décadas; progressos quanto ao combate à violência doméstica e, ainda, avanço
quanto a união civil de pessoas do mesmo sexo.
Por outro lado, o País deixa a desejar quanto ao fazer cumprir, ou seja, o respeito aos
direitos humanos não são observados como deveriam. Por conta disso destacamos a violência
policial e sua impunidade; a superlotação dos presídios brasileiros; a pobreza que apesar de
ter diminuído ainda assola grande parte da população, revelando, talvez falta de estratégia por
parte do governo federal, estadual e municipal.
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CONCLUSÃO
Ante o exposto, pode-se concluir que os movimentos sociais em defesa dos direitos
humanos foram preponderantes e estiveram presentes nos eventos mais importantes da
história da humanidade, em relação às conquistas e ampliação desses direitos, combinando
uma multiplicidade de formas de ação em sua trajetória, desde audiências com autoridades à
passeatas, carreatas, ocupações de áreas públicas, vigílias e, ainda, formação de alianças com
políticos e partidos políticos.
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