Você está na página 1de 27

Unidade 2

Base dos Direitos Humanos

Objetivo:
• Conhecer os argumentos que justificam e fundamentam os direitos humanos,
buscando as bases históricas e ético-filosóficas, a fim de qualificar o
posicionamento com subsídios críticos.

Conteúdo programático:
• Uma breve história social dos direitos humanos;
• Elementos para uma história dos direitos humanos no Brasil;
• Bases ético-filosóficas dos direitos humanos;
• É impossível fundamentar os direitos humanos;
• Não é necessário fundamentar os direitos humanos;
• É possível e necessário fundamentar os direitos humanos;
• Algumas referências contemporâneas.

Direitos Humanos e Cidadania 26


1 INTRODUÇÃO
Refletir sobre bases para os direitos humanos é ocupar-se daquilo que dá
sustentação para os direitos humanos. Para isso há diversas maneiras de formulação
e de abordagem. Optamos por trabalhar com duas perspectivas, uma histórica
e outra epistemológico-filosófica. Na primeira há uma versão que trabalha com
uma perspectiva geracional e outra multidimensional. Na segunda uns entendem
esse debate como busca de fundamentação, outros a afirmação da legitimidade.
Entendemos que é diferente falar de uma ou da outra.
No que diz respeito às bases históricas dos direitos humanos é fundamental fazer
um resgate da construção processual e dos contextos nos quais vão se constituindo
as condições para a afirmação, a declaração e também para a implementação dos
direitos humanos. Para isso faremos breves referências em geral, mas particularmente
ao processo de sua afirmação no Brasil.
No que diz respeito às bases epistemológico-filosóficas, apresenta-se o debate
e as posições e as distinções as perspectivas da fundamentação e da legitimação. A
fundamentação é um exercício pelo qual se apresenta as razões que sustentam uma
determinada posição, conceito ou teoria. A legitimação é exercício pelo qual se agrega
motivos para que haja convencimento sobre certas posições, conceitos ou teorias.
Note-se que uma boa teoria, conceito ou posição é aquela que, além de
fundamentada, é legítima (e vice-versa). No caso dos direitos humanos, espera-se
que, além de fundamentados, sejam legítimos (e vice-versa). Um posicionamento, por
legítimo que seja, por urgente, por positivo, exige que sejam apresentados argumentos
consistentes e abertos à crítica racional, ou seja, exige fundamentar, construir sentido,
para posições, conceitos ou teorias.

2 BASES HISTÓRICAS
Os direitos humanos nascem e se afirmam no processo histórico. É nas lutas
populares que nascem os direitos humanos. É porque os que não têm direitos exigem
reconhecimento, maior liberdade e distribuição equitativa dos bens públicos que os
direitos humanos, fazem lutas, “põem a boca no mundo”, que direitos passam a ser
garantidos. É porque as vítimas de violações dos direitos humanos reclamam reparação
que os direitos precisam ser efetivados. É porque continuam na luta, mesmo contra
todo tipo de “dono” e todo tipo de “cerca”, enfrentando todo tipo de adversidade e
repressão, que a sociedade toda passa a ter direitos. Por isso que os direitos humanos
são construção histórica que nasce das lutas populares. Por isso que são afirmados
historicamente na luta permanente dos povos, das pessoas, das vítimas, contra a
exploração, o domínio, a vitimização, a exclusão e todas as formas que reduzem o
ser humano.
Direitos Humanos não nascem das Declarações, dos Tratados, dos Pactos, em
suma, das leis, sejam elas internacionais ou nacionais. A positivação dos direitos gera
condições, instrumentos e mecanismos para que possam ser exigidos publicamente,
o que é muito importante, mas também tende a enfraquecer sua força constitutiva
e instituinte, como processo permanente de geração de novos conteúdos, de novos

Direitos Humanos e Cidadania 27


direitos, e de alargamento permanente do seu sentido. Ao serem institucionalizados
em documentos jurídicos, os direitos humanos passam a ser exigência para todos.
É esta perspectiva que dá base para uma história social dos direitos humanos, que
é o que pretendemos na brevidade do possível apresentar em seguida, primeiro
considerando o processo geral e depois com elementos da dinâmica brasileira.

2.1 Uma breve História Social dos Direitos Humanos


Uma perspectiva não evolucionista e não geracional de compreensão da
história dos direitos humanos orientará nossa construção. Ela contrasta com posições
que indicam haver gerações de direitos. As gerações coincidiriam com a afirmação
processual dos direitos. Assim, de primeira geração seriam os direitos civis e políticos,
de segunda os direitos sociais, de terceira os direitos de solidariedade e de quarta os
novos direitos. A base para contestar esta afirmação é o principal documento histórico
dos direitos humanos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU, 1948),
que contém nela o conjunto dos direitos, sem distinguir os que vieram antes dos que
foram se sucedendo.
Os direitos humanos, assim como todas as conquistas sociais e políticas, não
nascem prontos e nem de uma única vez, como bem lembra Norberto Bobbio. Se uma
de suas características é a historicidade, então sua construção também é histórica e
situada em contextos próprios. Os direitos humanos também não são concessões do
poder ou dádivas de líderes bondosos. São parte de processos conflitivos que resultam
em documentos que nascem dos embates e debates próprios das convergências e das
divergências próprias de seu momento de definição.
Ainda que a ideia de uma declaração de direitos não seja nova e possa remontar
às sociedades mais antigas, sua explicitação como possibilidade específica é uma
construção moderna. A ideia de direitos como proteção dos sujeitos, da cidadania,
das singularidades ou dos indivíduos contra o poder e o arbítrio dos soberanos e do
Estado, e não a serviço deles é uma construção que bebe dos ideais de autonomia e
de liberdade próprios das construções modernas.
Assim que, os direitos humanos nascem dos movimentos sociais e políticos que
reivindicam a liberdade de expressão, a liberdade de religião e de crença, a liberdade de
organização e de participação na vida política. Este conjunto de direitos vai constituir
a base dos movimentos liberais por direitos e serão fundamentais para construir
processos de emancipação civil e política. Os direitos ao trabalho, à justa remuneração,
ao descanso, à organização sindical, vão ser fundamentais para constituir uma nova
dinâmica de emancipação que será a emancipação social e nascem do movimento
operário. O direito à saúde, à previdência e assistência, à educação, à cultura, à moradia
e o conjunto dos direitos sociais constituem outra dinâmica da emancipação como
maneira de enfrentar a “questão social” na perspectiva dos direitos e não como caso
de polícia. Assim, o direito à proteção da maternidade e da infância, entre outros
significarão outra dimensão da emancipação pelo reconhecimento e afirmação de
novos sujeitos de direitos, mesmo que ainda muito vinculados com as garantias de

Direitos Humanos e Cidadania 28


direitos sociais. Estas emancipações todas guardam relações com grandes movimentos
sociais e políticos, organizados em vários lugares do mundo e que têm na luta dos
burgueses, dos trabalhadores, das mulheres, particularmente nos séculos XVIII e XIX.
A organização das mulheres e os feminismos serão fundamentais para colocar na
agenda a emancipação feminina e com ela os direitos sexuais e reprodutivos, além do
enfrentamento da violência. Os movimentos negros e de afrodescendentes em diáspora
serão fundamentais para que a luta contra a discriminação e antirracista ganhasse
espaço e fosse reconhecida como direito. Os movimentos indígenas têm sido chave
para o reconhecimento de direitos dos povos indígenas à autodeterminação, o que
também se estende a todos/as como direito que se articula às lutas anticoloniais. A luta
das pessoas com deficiência leva ao reconhecimento de sua condição e a necessidade
de proteção especial como forma de fortalecer sua emancipação como sujeitos de
direitos. Da mesma maneira as lutas ambientais passaram a exigir o reconhecimento
de direitos ambientais e, mais do que eles, direitos dos animais e da mãe terra. Esta
lista, que não é completa, mostra a estreita vinculação histórica dos direitos humanos
em suas formulações normativas, com as lutas concretas dos sujeitos de direitos.
O processo histórico de construção dos direitos humanos começa com a
denúncia da inexistência de direitos, da necessidade dos direitos dos “sem direitos”,
sendo que é a organização e a luta destes/as que faz chegar à sociedade a necessidade
da afirmação, do reconhecimento, da promulgação de documentos protetivos que são
pactuados e, posteriormente a luta por sua adoção e sua efetivação. Este processo aqui
rapidamente descrito mostra que os direitos humanos são sempre parte de processos
de luta. É luta para que sejam “notados”, é luta para que sejam formalizados, é luta
para que sejam realizados.
A luta por direitos humanos acompanha a resistência à desumanização
e de promoção de realidades mais humanizadas presente na história. E os seres
humanos foram (e talvez continuem sendo) bastante hábeis em produzir formas de
desumanidade. Por isso é que se fala de luta, no sentido de buscar alternativas, de
não aceitar as coisas como estão e de construir pontes para novas realidades.
A luta das mulheres, a luta dos/as negros/as, a luta das pessoas com deficiência,
a luta das crianças e adolescentes, a luta dos/as idosos/as, a luta dos/as indígenas, a
luta dos povos tradicionais, a luta dos/as encarcerados/as, a luta dos/as homossexuais,
a luta dos/as trabalhadores/as, a luta dos/as refugiados/as, migrantes, apátridas; dos/
as doentes mentais, a luta contra o colonialismo, a luta contra a escravidão, a luta
contra o racismo, a luta contra o machismo, a luta contra a xenofobia, são todas lutas
por direitos humanos, são lutas contra todas as formas de desumanização.
O documento com maior adesão em termos de direitos humanos é a Declaração
Universal dos Direitos Humanos (a chamaremos de Declaração), promulgada pela
Organização das Nações Unidas (ONU), em 10 de dezembro de 1948. Naquele
momento o mundo estava saindo de uma das experiências mais terríveis, o Holocausto
e a Segunda Guerra Mundial. Afirmar os direitos humanos foi a forma encontrada para
dizer “nunca mais!” Ao totalitarismo, “nunca mais!” À eliminação em massa de seres
humanos, “nunca mais!” À guerra. Em contrapartida, sim aos “direitos humanos, à
democracia, à paz e ao desenvolvimento”.

Direitos Humanos e Cidadania 29


A Declaração foi promulgada dois anos depois da criação da ONU. Foi uma
das primeiras medidas. Isto porque, na Carta da ONU, já estava enunciado, entre seus
propósitos, “promover e estimular o respeito aos direitos humanos e às liberdades
fundamentais para todos” (art. 1º, 3). A elaboração da Declaração foi um processo
longo que exigiu muitos debates, enfrentou muitas controvérsias e resistências. O
texto que conhecemos resultou de muitas votações.
A Declaração foi elaborada pela Comissão de Direitos Humanos (CDH/ONU),
atendendo ao mandato do Conselho Econômico e Social em decisão de 16/02/1946.
Foi iniciada na sessão plenária da CDH/ONU de janeiro/fevereiro de 1947. Foi conduzida
por um comitê de elaboração do qual participaram representantes de oito países
(Austrália, Chile, China, EUA, França, Líbano, Reino Unido e União Soviética). A primeira
minuta do texto foi anunciada em dezembro de 1947. Recebeu sugestões até a sessão
da CDH/ONU realizada em maio de 1948. Daí em diante, a Comissão trabalhou até
16 de junho para finalizar o texto que apresentou ao Conselho Econômico e Social.
O Conselho encaminhou o texto para a Assembleia Geral em agosto de 1948.
A proposta de Declaração foi analisada na terceira Assembleia Geral, que
funcionou em Paris, de setembro a dezembro de 1948. Na discussão final houveram
1400 votações antes do texto chegar ao plenário. Na sessão de 10 de dezembro de
1948, o plenário votou e o resultado registrou 48 votos a favor, nenhum contra, oito
abstenções e duas ausências. A Resolução 217-A (III) da Assembleia Geral tornou
pública a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 10 de dezembro de 1948.
Por isso até hoje este dia é conhecido como o Dia Mundial dos Direitos Humanos.
Hoje as Nações Unidas têm 193 Estados membro que reconhecem a DUDH.
O texto da Declaração é composto de um Preâmbulo, no qual são apresentados
“considerandos”, que servem de “justificativa” para a Declaração, e de trinta artigos,
cada um deles tratando de diferentes direitos humanos.
Assim como a Declaração, outros documentos foram fruto de muitos debates
e embates. Por isso um estudo contextualizado dos documentos é fundamental para
que se entenda o que neles é enunciado, já que tudo o que neles se afirma resultou
dos acordos possíveis num determinado contexto. Dois são exemplos emblemáticos
neste sentido, um de divergência e outro de convergência. O de divergência é fruto
da guerra fria e foi a promulgação dos Pactos Internacionais: um de direitos civis e
políticos (PIDCP) e ouro dos direitos econômicos, sociais e culturais (PIDESC), ambos de
1966. O exemplo de convergência é a Declaração e Programa de Ação da II Conferência
Mundial dos Direitos Humanos (realizada em Viena, Áustria, de 14 a 25 de junho de
1993), praticamente adotada por unanimidade de 171 Estados participantes. Foram
dois momentos diferentes da história e que produziram documentos com conteúdos
e com adesões também diferentes. São mostras concretas da historicidade e da
contextualidade dos direitos humanos.

Direitos Humanos e Cidadania 30


2.2 Elementos para uma História dos Direitos Humanos no Brasil
O Brasil nasceu contra os direitos humanos porque desde o início do processo
de colonização há vidas que não valem ou vidas que são matáveis. Assim trataram-
se os indígenas, esses “sem nenhuma seita (religião)” (como foram descritos por
Colombo), o que foi entendido como sendo seres sem alma, não humanos, tendo sido
“convertidos” a gente por bula papal (1537); os negros/as africanos/as, esses que “são
coisas”, vendáveis como “peças” nos mercados de escravos, libertos sem as condições
para viver por ter sido a abolição desacompanhada da reforma agrária e do acesso
à escola; assim as mulheres (indígenas e negras), estupradas pelos colonizadores ou
pelos senhores da Casa Grande, como relata Gilberto Freyre. O Brasil nasce genocida
e, mantém esta marca ao longo de sua história, a intensifica, produzindo uma
interseccionalidade sinistra que dá preferência a jovens, negros, mulheres, pobres, para
serem vidas matáveis; dá preferência a mulheres, negras, jovens e pobres, para serem
vidas matáveis. Defensores e defensoras de direitos humanos, historicamente tratados
como “defensores de bandidos” estão neste contexto potencialmente ameaçados por
representarem oposição política ao status da ordem.
Esta é uma herança que é nada fácil de ser enfrentada e superada. Por isso é
que, ainda que tenham sido feitos muitos passos, ainda o Brasil está muito longe de
efetivamente realizar os direitos humanos.
No processo de elaboração e de promulgação, o Brasil, como membro fundador
da ONU, participou por seus diplomatas da elaboração da Declaração. Ele foi escolhido
para ser o orador que fez a apresentação do texto para o plenário da Assembleia,
em 10 de dezembro. Austregésilo de Athayde (1948), em seu discurso, disse que a
Declaração não resultara da imposição de “pontos de vista particulares de um povo
ou de um grupo de povos, nem doutrinas políticas ou sistemas de filosofia”. Para
ele, “a sua força vem precisamente da diversidade de pensamento, de cultura e de
concepção de vida de cada representante. Unidos formamos a grande comunidade
internacional do mundo e é exatamente dessa união que decorre a nossa autoridade
moral e política”.
Mas, o momento da construção e promulgação dos principais Atos Internacionais
de Direitos Humanos coincidiu com a ditadura civil-militar que comandou o Brasil de
1964 a 1985. É com a abertura democrática que o debate sobre os direitos humanos
é retomado no Brasil. Na sociedade civil, é nos anos 1970 que se criam as primeiras
organizações de direitos humanos que passam a denunciar a tortura e o desaparecimento
de opositores da ditadura e também a exigir a anistia. Estes movimentos, junto com
o movimento dos operários, a luta das mulheres e dos estudantes será fundamental
para a superação da ditadura. O processo, apesar dos reveses, cresceu e se consolidou
em movimentos e organizações sociais que se instituíram na década de 1980 e que
participaram ativamente da vida social e política do país. Entre estas organizações
está o Movimento Nacional de Direitos Humanos, fundado em 1982.
O processo constituinte é um marco determinante para a incorporação dos
direitos humanos. Seja pela ação dos parlamentares constituintes que vinham das
lutas sociais e por direitos, seja pelas milhões de assinaturas apresentadas em emendas

Direitos Humanos e Cidadania 31


populares, a Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, chamada
por Ulisses Guimarães de “constituição cidadã”, tem incorporado nela uma lista
significativa dos direitos humanos (lá estão os direitos civis no artigo 5º, os direitos
sociais no artigo 6º, os direitos políticos no artigo 14, também são incorporados
direitos das crianças e adolescentes, das mulheres, dos/as trabalhadores, de indígenas
e quilombolas, contra o racismo e a discriminação e tantos outros). Esse momento
não é sem contradições, pois a Emenda Constitucional nº 001 foi apresentada no
dia 06 de outubro de 1988 e pedia a pena de morte no Brasil (ela tramitou e só foi
declarada inconstitucional pelo Parlamento dez anos depois).
O final da década de 1980 foi marcado por um conturbado momento histórico:
o fim das alternativas reais à sociedade de mercado, de um lado; e a consciência
crescente de que, no subterrâneo da retórica dos direitos, vicejava sorrateiramente
o neoliberalismo, por outro. Foi um tempo de proclamação do fim das utopias.
Contraditoriamente, a sociedade brasileira, vivia os tempos de institucionalização de
parte de seus ideais, com a nova Constituição. Com eles, a inauguração da construção
de bases para a realização dos direitos humanos. Foi um tempo também de eleição
de uma aventura política que resultou inviabilizada através do movimento do
impeachment. A mesma força que levou a Constituição a ser pautada pelos direitos
humanos, consideradas as circunstâncias, viu-se assolada por um governo que depunha
contra ela. As forças populares resistiram, no mesmo espírito, mesmo sem conseguir
com isso instaurar a abertura de novo ciclo político e, sobretudo, a implementação
de transformações econômicas e sociais estruturantes.
Ainda assim, o momento marcou a adesão do Brasil aos Atos internacionais
de Direitos Humanos, se dará depois da promulgação da Constituição, na década de
1990. É neste momento que os Pactos e Convenções internacionais são ratificados,
assim como o Brasil adere ao Sistema Interamericano de Direitos Humanos, abrindo
condições para que violações de direitos humanos possam ser apresentadas à Comissão
Interamericana e também à Corte Interamericana de Direitos Humanos. Um dos
resultados mais conhecidos dessa nova ação internacional é a Lei Maria da Penha,
resultado da condenação do Brasil no sistema interamericano de direitos humanos.
Era também o período do Ciclo Social no qual foram realizadas Conferências
Mundiais sobre os mais diversos temas, sempre com abertura para participação das
organizações não governamentais, tanto em espaços formais quanto em espaços
paralelos de formulação e de pressão dos governos. O Brasil sediou a ECO-1992,
a Conferência Mundial para Meio Ambiente, realizada no Rio de Janeiro. Teve
participação expressiva em várias delas, especialmente na II Conferência Mundial dos
Direitos Humanos, realizada em Viena, em 1993. Nela o corpo diplomático brasileiro
teve atuação destacada nos debates e na sistematização da Declaração e Programa
de Ação, aprovado por consenso dos países presentes.
Na volta de Viena, governo e sociedade civil construíram uma Agenda Brasileira
de Direitos Humanos a fim de dar seguimento às resoluções da Conferência. A Agenda
resultou em várias iniciativas: em 1993, a criação da Procuradoria Federal dos Direitos
do Cidadão (PFDC), pelo Ministério Público Federal; o Poder Executivo enviou ao
Congresso Nacional o Projeto de Lei que criva o novo Conselho Nacional de Direitos

Direitos Humanos e Cidadania 32


Humanos (1994) – que só veio a ser aprovada e sancionada em 2014 – e também
criou a Secretaria Nacional de Direitos Humanos (1996), ligada ao Ministério da Justiça
(depois transformada Secretaria Especial dos Direitos Humanos, hoje com status de
Ministério); em 1995, a Câmara dos Deputados criou a Comissão de Direitos Humanos
(CDH/CD) – o Senado Federal só criou em 2003; a partir de 1996, a CDH/CD em conjunto
com organizações da sociedade civil e outras instituições públicas, passou a organizar
anualmente as Conferências Nacionais de Direitos Humanos (foram onze, sendo que
a partir da nona passou a ser convocada pelo poder executivo); também em maio
de 1996, o Poder Executivo decretou o Programa Nacional de Direitos Humanos (o
primeiro, que veio a ser substituído pelo segundo, em 2002 e pelo terceiro, em 2009,
atualmente em vigor).
A sociedade civil, através de diversas organizações, participou ativamente do
processo institucional e também desenvolveu iniciativas autônomas. Entre as principais
iniciativas independentes estão: a introdução do debate sobre Direitos Humanos
Econômicos, Sociais e Culturais, cujo marco é a publicação, pelo MNDH, CPT e FIAN,
do texto Direitos Econômicos, seu tempo chegou, em dezembro de 1997; a construção
do Informe da Sociedade Civil sobre cumprimento do PIDESC, sob a coordenação
do MNDH, da CDH/CD e da PFDC, visando forçar o governo brasileiro a apresentar o
informe oficial, apresentado ao Comitê DESC da ONU, em maio de 2000, sendo que
a análise oficial ocorreu em maio de 2003, resultando nas primeiras Observações
Conclusivas sobre o Brasil; a apresentação de informe alternativo da sociedade civil
e os debates sobre o cumprimento da Convenção contra a Tortura (em 2000), o que
acelerou a vinda do Relator Especial da ONU sobre Tortura, Dr. Nigel Rodley, no mesmo
ano e, a partir dela a acolhida e acompanhamento da visita de vários Relatores Especiais
da ONU. Nesta mesma esteira, várias iniciativas de articulação foram sendo realizadas,
tanto nacionais quanto internacionais. Uma memória de todo este processo mereceria
atenção mais destacada, mas poderá ser feita em outro momento.
Neste processo, um destaque especial para a IX Conferência Nacional de
Direitos Humanos (2004), que foi a primeira a ser precedida de conferências estaduais,
todas convocadas oficialmente e dirigidas por um Grupo de Trabalho que reunia
representantes do poder público e da sociedade civil. O tema central foi a construção do
Sistema Nacional de Direitos Humanos (SNDH). A proposta foi formulada e apresentada
originalmente em 2001, pelo Movimento Nacional de Direitos Humanos e, em síntese,
sugere mudanças estruturais na forma de desenvolver a atuação em direitos humanos
no país. Amplamente incorporada e aprovada pela IX Conferência, viu pouco ou quase
nenhum empenho da parte do governo federal para sua implementação.
Nos anos mais recentes o que se tem notado é um processo crescente de
desmonte das políticas e das ações em direitos humanos nos diversos órgãos do Poder
Executivo, ainda que permaneçam iniciativas fortes no Parlamento e em outros órgãos
públicos, além da crescente presença de instituições estaduais de direitos humanos,
particularmente os Conselhos Estaduais de Direitos Humanos, hoje presentes na
maioria das unidades federadas.

Direitos Humanos e Cidadania 33


3 BASES ÉTICO-FILOSÓFICAS DOS DIREITOS HUMANOS
No debate sobre os direitos humanos, o processo de fundamentação reúne
pensadores/as em três grupos: um que defende que não é necessário fundamentar
os direitos humanos; outro que defende que é impossível fundamentar os direitos
humanos; e o terceiro que defende que é possível e necessário fundamentar os direitos
humanos. Estas questões, que envolvem aspectos jurídicos, lógicos, filosóficos, éticos e
políticos, imbricados, por vezes convergentes, noutras divergentes é o que nos ocupa
nesta seção.

3.1 É Impossível Fundamentar os Direitos Humanos


A defesa da posição de que é impossível fundamentar os direitos humanos se
orienta por dois princípios: a) a partir do momento que a comunidade internacional
assumiu explicitamente os instrumentos e os mecanismos de direitos humanos (através
de Declarações, Pactos, Convenções e Tratados) e que os Estados os incorporaram às
legislações nacionais não faz mais sentido discutir se os direitos humanos são ou não
fundamentados; b) existem certos valores reconhecidos como comuns, entre eles os
direitos humanos, que são evidentes, daí porque não precisam de fundamentação.
Por isso, ocupar-se deste assunto é desnecessário, por não gerar novidades e, mais
do que isso, por deslocar o debate, evitando o que seria o foco central, que é gerar
condições para a realização dos direitos humanos.
Esta posição é defendida por Norberto Bobbio, um dos mais eminentes
defensores dos direitos humanos. No seu livro mais famoso, A era dos direitos, diz
que os direitos humanos são direitos que temos e não direitos que queremos ter. Por
isso, não faz sentido e é desnecessária uma fundamentação [absoluta] dos direitos
humanos. Sua célebre afirmação é de que “O problema fundamental em relação aos
direitos do homem, hoje, não é tanto o de justificá-los, mas o de protegê-los” (2004,
p. 24). Isso porque, segundo ele, a questão não é tanto filosófica quanto política,
afinal: “Não se trata de saber quais e quantos são esses direitos, qual sua natureza
e seu fundamento, se são direitos naturais ou históricos, absolutos ou relativos, mas
sim qual é o modo mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes
declarações, eles sejam continuamente violados” (2004, p. 25).
Note-se que está claramente expressa a posição que acreditava já não ser
necessário debater e nem mesmo elaborar sobre os fundamentos dos direitos humanos.
Para Bobbio, inclusive, há um perigo no debate sobre a fundamentação pois se
poderia buscar uma posição que quisesse um fundamento absoluto, o que para ele
é uma ilusão. Diz: “O fundamento absoluto é o fundamento irresistível no mundo de
nossas ideias, do mesmo modo como o poder absoluto é o poder irresistível” (2004,
p. 36). É explícito ao afirmar que “toda busca do fundamento absoluto é, por sua
vez, infundada” (2004, p. 37).
Ele apresenta quatro dificuldades desta “ilusão”. A primeira é que os direitos
humanos são “uma expressão muito vaga”, suas definições “são tautológicas”,
para sua definição é necessário incluir o que ele chama de “termos avaliativos” que,

Direitos Humanos e Cidadania 34


segundo ele levam à dificuldade de que “os termos avaliativos são interpretados de
modo diverso conforme a ideologia assumida pelo intérprete (2004, p. 37). A segunda
é que os direitos humanos “constituem uma classe variável”, já que as mudanças
das condições históricas levam a mudanças no elenco dos direitos de modo que,
“que parece fundamental, numa época histórica e numa determinada civilização,
não é fundamental em outras e em outras culturas” (2004, p. 38), ou seja, “não se
concebe que seja possível atribuir um fundamento absoluto a direitos historicamente
relativos” (2004, p. 38). A terceira é que os direitos humanos são de uma classe
“heterogênea”, pois guardam pretensões muito diversas entre si, muitas delas até
incompatíveis e novos direitos precisam eliminar direitos estabelecidos, como, por
exemplo, o “reconhecimento do direito de não ser escravizado implica a eliminação
do direito de possuir escravos; o reconhecimento do direito de não ser torturado
implica a supressão do direito de torturar”. Esta condição, para Bobbio, faz com que
“direitos que têm eficácia tão diversa não podem ter o mesmo fundamento (2004,
p. 40). Enfim, “dois direitos fundamentais, mas antinômicos, não podem ter, um e
outro, um fundamento absoluto, ou seja, um fundamento que torne um direito o seu
oposto, ambos inquestionáveis e irresistíveis” (2004, p. 41). Para Bobbio, a busca por
um fundamento absoluto dos direitos humanos pode ter levado em alguns casos a
“um pretexto para defender posições conservadoras” (2004, p. 42).
Finalmente, o quarto aspecto é de saber se “a busca do fundamento absoluto,
ainda que coroada de sucesso, é capaz de obter o resultado esperado, ou seja, de
conseguir do modo mais rápido e eficaz o reconhecimento e a realização dos direitos
do homem” (2004, p. 42). Ele responde dizendo: “Não se pode dizer que os direitos
do homem tenham sido mais respeitados nas épocas em que os eruditos estavam
de acordo em considerar que haviam encontrado um argumento irrefutável para
defendê-los” (2004, p. 43). Além disso, aduz que “apesar da crise dos fundamentos,
a maior parte dos governos existentes proclamou pela primeira vez, nessas décadas,
uma Declaração Universal dos Direitos Humanos” (2004, p. 43). No fundo, Bobbio se
antecipava a um debate que viria forte e hoje ainda mais, no sentido de tentar recolocar
um fundamento naturalista dos direitos humanos, sem o qual não ganhariam sentido
e sustentação. Daí porque, diz que “agora, não se trata tanto de buscar outras razões,
ou mesmo (como querem os jusnaturalistas redivivos) a razão das razões, mas de pôr
as condições para uma mais ampla e escrupulosa realização dos direitos proclamados”
(2004, p. 43).
A filósofa Victória Camps defende a posição de que os direitos humanos estão
entre os valores “evidentes”, por isso não precisam de fundamentação. Na obra Os
Paradoxos do Individualismo se pergunta:” O que é uma fundamentação filosófica e
quem deve reconhecê-la como boa?”. Ela responde que: “É evidente que devem existir
direitos básicos que defendam a pessoa e obriguem a que ela seja respeitada, e que
devem existir quer cheguemos ou não a acordo sobre sua fundamentação religiosa,
natural, histórica ou racional”. E também se pergunta: “Se existe acordo sobre os
direitos ou as normas que importância tem o desacordo sobre a sua fundamentação?”,
ao que reponde “[...] insisto que a fundamentação não faz falta nenhuma. Os valores

Direitos Humanos e Cidadania 35


éticos básicos são tão óbvios que pertencem à semântica da própria ética” (1996, p.
59, para todas do parágrafo).

3.2 Não é Necessário Fundamentar os Direitos Humanos


A posição de que não é necessário fundamentar os direitos humanos defende
que há dificuldade de estabelecer até a própria ideia de direitos humanos. Segundo
eles, mesmo quando os direitos humanos são admitidos, resulta impossível construir
uma fundamentação. As várias posições, em grandes linhas, se juntam em duas
correntes: uma relativista e a outra positivista.
Os relativistas defendem que não é possível sustentar valores comuns e muito
menos interesses ou utilidades comuns. Por que: a) os princípios são incompatíveis
entre si; b) não existem pressupostos (nem racionais e nem empíricos) que justifiquem
decisões sobre valores; c) valores diferentes e até opostos podem ser todos legítimos
e nenhum deles é mais verdadeiro ou mais justificado do que o outro. Afinal, valores
são relativos, entre eles direitos humanos. Entre os que defendem esta posição está
um importante jurista e filósofo do direito, Hans Kelsen.
O jurista e filósofo do direito Hans Kelsen, em O que é Justiça? Diz que, “se
há algo que a história do conhecimento humano pode nos ensinar é a inutilidade
de encontrar por meios racionais uma norma de conduta justa que tenha validade
absoluta, isto é, uma norma que exclua a possibilidade de considerar como injusta a
conduta oposta” (1998, p. 58). Ele defende que a razão humana “só pode conceber
valores relativos, isto é, que o juízo com o qual julgamos algo como justo não pode
pretender jamais excluir a possibilidade de um juízo de valor oposto” (1998, p. 58).
Ele se pergunta, “Porém, qual a moral dessa filosofia relativista da justiça? Há alguma
moral? Não seria o caso de um relativismo amoral ou imoral como muitos afirmam?
Há alguma moral?” (1998, p. 59). A estas questões ele mesmo responde: “Não o creio.
O princípio moral que subjaz a uma teoria relativista dos valores, ou que da mesma
se pode deduzir, é o princípio da tolerância; em outras palavras, a exigência de boa
vontade para não impedir sua exteriorização pacífica (1998, p. 59).
Os positivistas defendem que é impossível fundamentar valores. Por que: a)
não são suscetíveis de serem confirmados; b) são construções que não respondem à
fórmula do ser e sim a do dever ser (caem na falácia naturalista); c) não são passíveis
de verificação empírica e, por isso, não têm condições de validade objetiva. Afinal,
valores não podem ser conhecidos, apenas revelam posições subjetivas ou certos
“sentimentos morais”.
Entre os defensores desta posição estão vários positivistas e neopositivistas,
entre eles Felix Oppenheim que, em Ética e Filosofia Política, diz que: “Os princípios
éticos básicos não têm um status cognoscitivo; não podem ser conhecidos como falsos
nem como verdadeiros, porque não são falsos, nem verdadeiros, já que não afirmam,
nem negam algo que venha ao caso” (1976, p. 37). Ou seja, “[...] se qualquer princípio
ético básico é questão de compromisso subjetivo, então os princípios éticos básicos
sobre as regras jurídicas que devem ser decretadas e obedecidas tampouco têm status
cognoscitivo” (1976, p. 68).

Direitos Humanos e Cidadania 36


Os representantes do chamado emotivismo moral também defendem posições
neste sentido. Entre eles está Charles Stevenson, para quem, em Sobre a Lei e a Justiça,
diz que “[...] nos juízos de valor a resposta (por parte de quem escuta) e o estímulo (por
parte de quem fala) traduzem-se em uma determinada manifestação de emoções”.
Isso faz com que “[...] a afirmação por parte de um sujeito de que algo é bom traduz a
aprovação de que os demais compartilhem essa estimulação (emoção persuasiva)”. Ele
observa que, “Porém, em qualquer caso, enquanto os argumentos descritivos podem
ser verdadeiros ou falsos, os argumentos estimativos ou persuasivos não podem ser
julgados à luz desse critério, senão exclusivamente, pelo da sua eficácia de convicção
em relação a seus destinatários” (1958, p. 274, para todas do parágrafo).

3.3 É POSSÍVEL E NECESSÁRIO FUNDAMENTAR OS DIREITOS HUMANOS


Há um grande grupo defensores, das mais diversas posições, que comungam
com a compreensão de que direitos humanos são conteúdos que precisam ser
fundamentados e esta é uma tarefa possível e necessária. Porque: a) os conteúdos
éticos e jurídicos não são dados, por isso precisam de fundamentação; b) diferentes
tradições e culturas não necessariamente compreendem da mesma forma o conteúdo
dos direitos humanos, sobretudo o que significa dignidade humana; c) direitos
humanos são históricos e, por isso estão em permanente construção e reconstrução,
por isso são necessários sempre novos acordos e fundamentações.
Ainda que a lista de possibilidades a apresentar neste caso seja bastante ampla,
apresentaremos um dos representantes modernos, Immanuel Kant, e um dos críticos
da modernidade, Karl Marx.
A modernidade tem no direito um elemento constitutivo das relações sociais
e políticas. O debate entre contratualistas, liberais e republicanos foi intenso e legou
consequências muito consistentes para a humanidade, particularmente a ideia de
que os seres humanos não mais podem depender da natureza ou de divindades: eles
podem constituir-se desde sua autonomia. Junto com esta ideia está a de dignidade,
um valor intrínseco que não tem equivalente. Esta é a ideia forte que encontra no
filósofo Immanuel Kant a sua mais bela expressão.
Na Fundamentação da Metafísica dos Costumes, Kant diz que “No reino dos
fins tudo tem um preço ou uma dignidade. Quando uma coisa tem um preço, pode-se
pôr em vez dela qualquer outra como equivalente; mas quando uma coisa está acima
de todo o preço e, portanto, não permite equivalente, então ela tem dignidade”,
sendo que daí conclui que: “Portanto a moralidade e a humanidade, enquanto capaz
de moralidade, são as únicas coisas que têm dignidade” (GMS, BA 77, IV 68). Ele
afirma claramente que “Todo ser humano tem um direito legítimo ao respeito de seus
semelhantes e está, por sua vez, obrigado a respeitar todos os demais”. Isto se coloca
desta forma, porque “A humanidade é ela mesma uma dignidade, pois o ser humano
não pode ser usado meramente como um meio por qualquer ser humano (quer por
outros quer, inclusive, por si mesmo), mas deve sempre ser usado ao mesmo tempo
como um fim”. O não ser tomado como meio e ser sempre e unicamente um fim é o

Direitos Humanos e Cidadania 37


que constitui a dignidade. Esta é a razão que faz com que o humano “se encontra na
obrigação de reconhecer, de um modo prático, a dignidade da humanidade em todo
o outro ser humano. Portanto, cabe-lhe um dever relativo ao respeito que deve ser
demonstrado a todo outro ser humano” (GMS, § 38, A 139-140, IV 600, para todos
os casos). Esta compreensão toma como imperativo prático o seguinte: “age de tal
maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa, quanto na pessoa de qualquer
outro, sempre e simultaneamente como fim e nunca simplesmente como meio (GMS,
BA 66-67, IV 61).
A crítica à proposta moderna de direitos humanos nascida da Revolução Francesa
foi feita, entre outros, por Karl Marx. Para ele, os direitos proclamados abrigam e
promovem a emancipação política, mas não tem força de promover a emancipação
humana. Ele faz uma crítica contundente a uma expressão que ainda é muito corrente,
a de que os direitos de um, vão até onde começam os direitos do outro. Ademais,
os direitos estão condicionados pela propriedade privada, vindo a se constituir em
direitos dos proprietários, ficando de fora deles os não-proprietários. É fundamental
retomar a Marx, inclusive para afastar certas compreensões equivocadas a respeito
de sua posição.
Karl Marx, em Sobre a Questão Judaica, tendo diante de si as Convenções
e Declarações francesas pós revolucionárias, dizia que os direitos humanos (droits
de l`homme) se distinguem dos direitos do cidadão (droits du citoyen): “os assim
chamados direitos humanos, os droits de l’homme, diferentemente dos droits du
citoyen, nada mais são do que os direitos do membro da sociedade burguesa, isto
é, do homem egoísta, do homem separado do homem e da comunidade (2010, p.
48). “[...] trata-se da liberdade do homem como mônada isolada recolhida dentro
de si mesma” (2010, p. 49). E logo adiante explicita: “o direito humano à liberdade
não se baseia na vinculação do homem com os demais homens, mas, ao contrário,
na separação entre um homem e outro” (2010, p. 49). E explica: “Trata-se do direito
a essa separação, o direito do indivíduo limitado, limitado a si mesmo. A aplicação
prática do direito humano à liberdade equivale ao direito humano à propriedade
privada” (2010, p. 49). Esta liberdade se traduz em sua aplicação prática na propriedade
privada: “O direito humano à propriedade privada, portanto, é o direito de desfrutar
a seu bel prazer (à son gré), sem levar outros em consideração, independentemente
da sociedade, de seu patrimônio e dispor sobre ele, é o direito ao proveito próprio”
(2010, p. 49). Daí que, segundo ele, os outros homens não são a “realização, mas,
ao contrário, a restrição de sua liberdade” (2010, p. 49).
No que diz respeito à igualdade, Marx diz o seguinte: “A égalité, aqui em seu
significado não político, nada mais é que igualdade da liberté acima descrita, a saber:
que cada homem é visto uniformemente como mônada que repousa em si mesma”
(2010, p. 49). No que diz respeito à segurança, diz que: “A segurança é o conceito social
supremo da sociedade burguesa, o conceito da polícia, no sentido de que o conjunto
da sociedade só existe para garantir a cada um de seus membros a conservação de
sua pessoa, de seus direitos e de sua propriedade” (p. 50). Isto porque “Através do
conceito da segurança, a sociedade burguesa não se eleva acima do seu egoísmo. A
segurança é, antes, a asseguração do seu egoísmo” (2010, p. 50).

Direitos Humanos e Cidadania 38


Assim que, com base nestas compreensões, conclui que: “nenhum dos assim
chamados direitos humanos transcende o homem egoísta, o homem como membro
da sociedade burguesa, a saber, como indivíduo recolhido ao seu interesse privado e
ao seu capricho privado e separado da comunidade [...]” (2010, p. 50). E prossegue,
“O único laço que os une é a necessidade natural, a carência e o interesse privado, a
conservação de sua propriedade e de sua pessoa egoísta” (2010, p. 50). Em outras
palavras: “a cidadania, a comunidade política, é rebaixada pelos emancipadores à
condição de mero meio para a conservação desses assim chamados direitos humanos
e que, portanto, o citoyen é declarado como serviçal do homme egoísta” (2010, p.
50), ou seja, “não o homem como citoyen, mas o homem como bourgeois é assumido
como o homem propriamente dito e verdadeiro” (2010, p. 50).
A consequência deste processo, segundo Marx, é que “o homem não foi
libertado da religião. Ele ganhou a liberdade de religião. Ele não foi libertado da
propriedade. Ele ganhou a liberdade de propriedade. Ele não foi libertado do egoísmo
do comércio. Ele ganhou a liberdade de comércio” (2010, p. 53). Nisso consiste o limite
da revolução burguesa e os direitos por ela proclamados. Para Marx, a emancipação
humana será realizada, “plenamente”, quando “[...] o homem individual real tiver
recuperado para si o cidadão abstrato e se tornado ente genérico na qualidade de
homem individual” e isso vale para os diversos aspectos “[...] na sua vida empírica, no
seu trabalho individual, nas suas relações individuais”. Em outras palavras, isso ocorrerá
“[...] quando o homem tiver reconhecido e organizado suas “forces propres” [forças
próprias] como forças sociais e, em consequência, não mais separar de si mesmo a
força social na forma da força política (2010, p. 54 para todos os casos). Em suma, a
“emancipação política é a redução do homem, por um lado, a membro da sociedade
burguesa, a indivíduo egoísta independente, e, por outro, a cidadão, a pessoa moral”.

4 ALGUMAS REFERÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS


Vários pensadores do século XX abrem possibilidades novas para tratar dos
direitos humanos, particularmente aqueles que construíram seus posicionamentos na
segunda metade do século: eles já conviveram com os direitos humanos depois de
terem sido proclamados pelas Nações Unidas, em 1948.
Algumas posições ilustram a diversidade das perspectivas: Hannah Arendt e
sua proposta de direitos humanos como direito a ter direitos; Enrique Dussel e sua
proposta de transformação do sistema de direito vitimário; Raimon Panikkar e a
proposta da interculturalidade; Ernst Tugendhat e a proposta de direitos humanos
como respeito universal; Jurgen Habermas e sua proposta de direitos humanos acima
da soberania popular; Karl-Otto Apel e a fundamentação dos direitos humanos pela
razão argumentativa; Franz Hinkelammert e a necessidade da inversão dos direitos
humanos.
Eles abordam uma diversidade significativa de questões, desde os aspectos da
fundamentação dos direitos humanos, o seu sentido ético e político, o seu alcance e

Direitos Humanos e Cidadania 39


suas limitações, entre os mais diversos aspectos. Apresentamos, ainda que brevemente
a proposta de alguns pensadores contemporâneos sobre os direitos humanos
Karl-Otto Apel, filósofo alemão, membro da chamada Ética do Discurso, defende
que “A justificação da universalidade dos direitos humanos nunca positivável de modo
definitivo [...] pode hoje validamente ser substituída por uma reflexão transcendental
sobre as condições de possibilidade moralmente normativas do discurso argumentativo
como tal”. Isso significa que, assim como a ética pode ser fundada ultimamente de
modo reflexivo, também o podem os direitos humanos. Ele defende que em sua
proposta de ética do discurso já estão contidos os “fundamentos incontestáveis
da dignidade humana e dos direitos humanos”. Segundo ele, “do ponto de vista
filosófico, é possível sustentar como universalmente válidos, por exemplo, num debate
intercultural” (1997, p. 350).
Ele entende que a adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanos de
1948 “indica que os direitos humanos já não são mais entendidos como demandas da
‘soberania popular’, mas como tendencial limitação desta e também da soberania dos
Estados particulares [...]” (1997, p. 365). Isto significa uma perspectiva universalista
bastante desenvolvida e que impediria que qualquer Estado específico pudesse se
recusar, em nome da sua soberania ou da soberania de seu povo, de realizar os direitos
humanos, ou mesmo que um governante pudesse invocar a soberania popular para
revogar direitos humanos.
Para Apel, a necessidade moral de “fazer valer os direitos humanos contra as
configurações de fato na institucionalização legal (ou eventualmente na Constituição)
– das democracias particulares e também as do estrangeiro” confunde-se com “a
sua fundamentação última ético-discursiva (implícita, a meu ver, na exigência de
corresponsabilidade pelas leis por parte de todos os envolvidos) ou sua codificação
(positivação) num direito cosmopolita” (1997, p. 367). Ele entende que ali está “uma
tarefa ao mesmo tempo moral e política no sentido de uma ética do discurso como
ética da responsabilidade referida à história” (1997, p. 368).
Hannah Arendt, filósofa política judia-alemã que fugiu do nazismo e se instalou
nos Estados Unidos é uma das mais importantes contribuições para a luta contra o
totalitarismo vivido no século XX. Em sua obra A condição humana, defende que “a
pluralidade humana, condição básica da ação e do discurso, tem o duplo aspecto
da igualdade e diferença” (2004, p. 188). Eles se combinam entre si. No que diz
respeito à igualdade, diz que “Se não fossem iguais, os homens seriam incapazes de
compreender-se entre si e aos seus ancestrais, ou de fazer planos para o futuro e prever
necessidades das gerações vindouras”. No que diz respeito à diferença diz que “Se
não fossem diferentes, se cada ser humano não diferisse de todos os que existiram,
existem ou virão a existir, os homens não precisariam do discurso ou da ação para se
fazerem entender” (2004, p. 188).
Em As Origens do Totalitarismo, defende que “a privação fundamental dos
direitos humanos se manifesta, primeiro e acima de tudo, na privação de um lugar
no mundo que tome a opinião significativa e a ação eficaz” (1989, p. 330). Daí que a
condição política, a condição da ação é fundamental para os direitos humanos. Aqueles
que estão nesta condição “são privados não do seu direito à liberdade, mas do direito

Direitos Humanos e Cidadania 40


à ação; não do direito de pensarem o que quiserem, mas do direito de opinarem”
(1989, p. 330). Estes, antes de perderem a proteção legal perdem seu lugar, seu lar,
“o que significava a perda de toda a textura social na qual haviam nascido e na qual
haviam criado para si um lugar peculiar no mundo” (1989, p. 327). Aquele que já não
tem lugar é o que se chama de apátrida e para ele, a segunda perda é “da proteção
do governo, e isso não significava apenas a perda da condição legal no próprio país,
mas em todos os países” (1989, p. 327). É neste contexto que vai afirmar que o: “o
direito de ter direitos, ou o direito de cada indivíduo de pertencer à humanidade,
deveria ser garantido pela própria humanidade” (1989, p. 332).
Ernst Tugendhat, filósofo alemão, autor, entre outras obras de Lições sobre
Ética, atuou como professor visitante em vários países da América Latina, inclusive no
Brasil, defende o que chama de “moral do respeito universal e igualitário”. Segundo
ele, esta é “a única moral que pode ter uma pretensão plausível de realizar a ideia de
um ser humano bom (parceiro de cooperação)”. Segundo ele, nesta proposta “está
implicado que o comportamento moral consiste em reconhecer o outro como sujeito
de direitos iguais; isto significa que às obrigações que temos em relação ao outro
correspondem por sua vez direitos” (1996, p. 362). Ele então se pergunta “O que
significa ter um direito?”. Ele responde que “O direito subjetivo é designado desta
maneira apenas por ser o direito de alguém, portanto, de um sujeito” (1996, p. 363).
Em outras palavras, há uma relação de obrigação na base dos direitos. E o conceito
de direitos humanos, segundo ele “é um conceito centrai da moral política” (1996,
p. 363).
Na conferência apresentada na UFRGS, em 10 de dezembro de 1998, com
o título A “Controvérsia sobre os Direitos Humanos”, Tugendhat defendeu que “a
inclusão dos direitos socioeconômicos no sistema dos direitos humanos não constitui
somente uma extensão do conteúdo senão também uma mudança no sentido formal
dos direitos humanos”. Para ele, essa mudança consiste que com esses direitos, o
que se percebe é “que o perigo para o indivíduo não é somente o poder do Estado,
senão o poder econômico dos outros indivíduos, e a obrigação do Estado legítimo
não consiste então em somente respeitar ele mesmo os espaços dos indivíduos senão
em protegê-los, da mesma forma, contra o poder de outras pessoas e instituições”.
Afirmou que, “a resistência contra a introdução dos direitos socioeconômicos
como verdadeiros direitos humanos se baseia, a parte do conceito restrito de liberdade,
particularmente, sobre dois argumentos: primeiro que são vagos e segundo que
custam dinheiro”. Tomando por base o livro Basic Rights (1982), de Henry Shue, diz
que “ambas as coisas podem se dizer igualmente próprias aos direitos clássicos”. Ele
aduz um terceiro argumento que sustenta a dificuldade da instituição dos direitos
socioeconômicos. Para ele, “consiste na globalização da economia e da consequente
maior dificuldade para o Estado individual de submeter as regras da economia sob as
leis estatais”. Ele diz que, ainda que a questão seja pertinente, “não se deve confundir
a questão da dificuldade da instalação dos direitos humanos com a questão da sua
própria legitimidade. A perspectiva da legitimidade exigiria a implantação destes
direitos (ademais a globalização não deveria ser uma escusa fácil para não se fazer
absolutamente nada)” (1999, p. 85-86, para todos os casos).

Direitos Humanos e Cidadania 41


Giorgio Agamben, importante filósofo político italiano, autor de Estado de Exceção,
entre outros livros do seu projeto filosófico, no texto “Para além dos direitos humanos”
(tradução nossa), de 1998, faz uma reflexão bastante consistente sobre os limites
dos direitos humanos. Diz que “é tempo de deixar de olhar a Declaração dos direitos
de 1789 até hoje como proclamação de valores eternos, meta-jurídicos, tendentes a
vincular o legislador a seu respeito, e de considerá-la segundo aquela que é a sua função
real no Estado Moderno”. Com força diz que “os direitos do homem representam,
em verdade, sobretudo a figura originária da inscrição da vida nua, natural, na ordem
jurídico-política do Estado-nação”, que “entra agora em primeiro plano no controle do
Estado e se torna, por assim dizer, o seu fundamento terreno”, já que, para o Estado-
nação moderno, a vida humana se torna o “fundamento da própria soberania”. Isso
de modo que “as Declarações de direitos serão agora vistas como lugar em que se
efetua a passagem da soberania régia de origem divina à soberania nacional”, uma
transformação que terá consistentes consequências biopolíticas.
Para Agamben, “o princípio de natividade e o princípio de soberania, separados
no Ancien Régime, unem-se a partir de agora irrevogavelmente, a fim de constituir o
fundamento do novo Estado-nação” Para ele, nessa junção há um “engodo implícito”
que consiste em “que o nascimento se torna imediatamente nação, de modo que não
possa haver qualquer intervalo entre os dois momentos”. É por esta razão que “esses
direitos são, pois, atribuídos ao homem apenas na medida em que ele é pressuposto
imediatamente evanescente (ainda que não deva vir a lume como tal) do cidadão”
(1998, p. 24-25, para todas as citações).
Franz Hinkelamert, economista, filósofo e teólogo alemão radicado na Costa Rica
tem uma contribuição chave para pensar os direitos humanos com o olhar decolonial
e latino-americano. Em sua obra O Sujeito e a Lei, constrói uma análise refinada do
tema no contexto capitalista e fala da “inversão dos direitos humanos”, que acontece
“transformando-os em resultado de uma ação meio-fim na qual se buscam os meios
calculáveis para realizar o fim” (2003, p.114). E prossegue: “Para que eles sejam um
fim é preciso objetivá-los. Entretanto, como fins objetivados, transformam-se em
instituições. A instituição pode se impor e, em consequência, pode ser realizada por
meios calculáveis adequados” (2003, p. 114).
Ocorre que “a instituição se identifica agora com os direitos humanos” como
democracia, mercado, competição, eficiência institucionalizada e sendo que as
instituições são transformadas em fins o que resta é encontrar meios para que elas
se imponham. Todavia, no processo de imposição das instituições “é necessário violar
os direitos humanos em nome dos quais precisamente atua, de modo que os direitos
humanos como fins devoram os direitos humanos do ser humano concreto, que estão
na sua origem” (2003, p. 115). Caracteriza-se, deste modo, a inversão dos direitos
humanos que passam a ser imperativos “para violar os próprios direitos humanos”
(2003, p. 115).
Os direitos humanos interpelam os meios usados para tingir fins, de modo que a
questão dos direitos humanos é fazer a “discussão sobre a compatibilidade dos meios
a respeito destes direitos” (2003, p. 115). Os direitos humanos são parâmetros de
julgamento dos meios de modo a saber se efetivamente garantem a dignidade. Eles,

Direitos Humanos e Cidadania 42


são, neste sentido base para “uma rebelião”. Qual rebelião? “A rebelião do ser humano
como sujeito vivente que se rebela contra sua transformação em objeto. Rebela-se
igualmente contra ser tratado como objeto de direitos humanos como fins” (2003,
p. 116, tradução nossa para todos os casos). Em outras palavras, rebela-se contra a
inversão dos direitos humanos.
Enrique Dussel, filósofo argentino radicado no México, um dos fundadores
da Filosofia da Libertação, é um dos autores mais produtivos da ética da libertação
nos dias atuais. Tem inúmeras obras, entre as quais Ética da Libertação na idade da
globalização e da exclusão (1998). Mas é em 20 Teses sobre Política que buscamos os
subsídios para esta abordagem. Segundo Dussel, “Os sistemas do direito são históricos
[...] e sofreram continuamente mudanças constantes. A questão é definir os critérios
e tais mudanças; discernir aqueles direitos que são a) perenes; b) os que são novos;
e c) os que se descartam como próprios de uma época passada” O fundamental é
perceber como emergem os novos direitos, “que são os que irrompem como conflito
ou reivindicação de necessidades não satisfeitas dos novos movimentos sociais; lutas
do povo pelos novos direitos” (2007, p. 149).
Dussel faz uma crítica às teses do direito natural que, segundo ele, é eurocêntrico.
O direito natural “seria como uma lista de direitos próprios do ser humano como tal,
universalmente falando” (2007, p. 149). Segundo ele, está e uma solução que não
se sustenta pois “historicamente são descobertos novos direitos”, mas não como se
fossem descobertos dentro de uma lista prévia e a priori do direito natural, de modo
que o “direito natural é uma hipótese metafísica desnecessária e inútil” (2007, p. 150).
O que existe historicamente é um determinado direito vigente, positivo. Por isso que
os novos direitos não são tirados dos direitos naturais, “emergem, pelo contrário, das
lutas populares”.
Para Enrique Dussel são os novos movimentos sociais que “a partir de sua
corporalidade vivente e enferma, de ser vítimas excluídas do sistema de direito” que
fazem emergir os direitos substantivamente desde a práxis crítica e libertadora. Ele
dá o exemplo das feministas sufragistas britânicas: elas “descobrem que as mulheres
não votam para eleger os representantes políticos. Esta negatividade é vivida como
uma “falta-de direito a” um direito vivido como necessário pela intersubjetividade
das mulheres conscientes [...], mas inexistente positivamente” (2007, p. 150).
Segundo Dussel, “os novos direitos se impõem a posteriori, pela luta dos
movimentos, que descobrem a “falta-de” como “novo-direito-a” certas práticas
ignoradas ou proibidas pelo sistema vigente” (2007, p. 150). Ainda que no começo o
processo do novo direito esteja somente como parte da subjetividade dos oprimidos
ou excluídos”, a conquista resultante de sua luta “rebelde se impõe historicamente
o novo direito, e se adiciona como um direito novo à lista dos direitos positivos”. A
dinâmica é tal que, “ao mesmo tempo em que se vão incorporando novos direitos ao
sistema dos direitos vigente, vão caindo em descrédito alguns direitos pertencentes
a uma idade superada da história da comunidade política, do povo” (2007, p. 150).
Neste sentido, os direitos humanos são luta dos oprimidos, das vítimas, dos “sem-
direitos” por novos direitos.

Direitos Humanos e Cidadania 43


Raimon Panikkar, filósofo e religioso indiano e basco, portanto com uma
formação cristã e hindu, faz uma ponte entre estas duas culturas e tradições
religiosas. É o propositor do chamado diálogo intercultural, que se baseia na noção
de interculturalidade. Num texto traduzido e publicado no Brasil com o nome “Seria
a noção de direitos humanos um conceito universal?” revela uma posição desafiadora
dos direitos humanos.
Panikkar se pergunta: “Afirma-se que os direitos humanos são universais [...]
faz algum sentido questionarem-se as condições de universalidade quando a própria
questão das condições de universalidade em si está longe de ser universal?” (2004, p.
207). E, diante dos aspectos histórico, pergunta-se se seria a noção de direitos humanos
um conceito ocidental? Em resposta vê, segundo ele, “apenas duas possibilidades: ou
a noção de diretos humanos universais é ocidental, ou não o é” (2004, p. 207). Ele
alerta, no entanto, que é preciso observar que “há uma questão anterior implicada na
pergunta sobre se a noção de direitos humanos é um conceito ocidental. É a questão
relacionada à própria natureza dos direitos humanos, e ela submete diretamente esta
noção ao escrutínio intercultural” (2004, p. 208).
Ele se questiona diante da imposição do universalismo dos direitos humanos
como uma “continuação da síndrome colonial”. Esta síndrome, segundo ele, consiste
na “crença de que os conflitos de uma cultura particular [...] detêm, se não o
monopólio, pelo menos o privilégio de possuir um valor universal que as qualifica para
ser difundidas por todo o planeta” (2004, p. 208). O debate sobre a universalidade
dos direitos humanos requer, portanto, enfrentar o colonialismo que por muitas vezes
tem sido usado como um modo de ação dos direitos humanos.
A saída que ele encontra é ver nos direitos humanos “uma janela através da
qual uma cultura determinada concebe uma ordem humana justa para seus indivíduos,
mas os que vivem naquela cultura não enxergam a janela” (2004, p. 210). Segundo
ele, “[...] para isso, precisam da ajuda de outra cultura, que, por sua vez, enxerga
através de outra janela. Eu creio que a paisagem humana vista através de uma janela
é, a um só tempo, semelhante e diferente da visão de outra” (2004, p. 210). Mas,
ele se pergunta: “deveríamos estilhaçar a janela e transformar os diversos portais em
uma única abertura, com o consequente risco de colapso estrutural, ou deveríamos
antes ampliar os pontos de vista tanto quanto possível e, acima de tudo, tornar as
pessoas cientes de que existe, e deve existir, uma pluralidade de janelas?” E responde
“A última opção favoreceria um pluralismo saudável” (2004, p. 210).
Sua concepção de cultura o leva a defender que “Não existem valores
transculturais, pela simples razão de que um valor existe como tal apenas em um
dado contexto cultural” (2004, p. 221). Ele, no entanto, alerta que “pode haver
valores interculturais, ou, podemos dizer, uma crítica intercultural é de fato possível”.
Esta crítica não trata de “[...] avaliar um construto cultural a partir das categorias
de outro”. O que pretende é” [...] compreender e criticar um problema humano
específico com as ferramentas de compreensão de diferentes culturas envolvidas, e, ao
mesmo tempo, na consideração temática de que a própria consciência e, mais ainda,
a formulação do problema, já são culturalmente condicionadas” (2004, p. 221 para
todos os casos). Segundo ele, “A questão que se nos coloca é, portanto, examinar o

Direitos Humanos e Cidadania 44


possível valor intercultural da questão dos direitos humanos, um esforço que começa
pela delimitação cultural do conceito” (2004, p. 221). A possibilidade de os direitos
humanos serem valor intercultural é o que apesenta como desafio para nosso tempo.
Esta proposta de crítica intercultural, segundo ele “não invalida a Declaração
de Direitos Humanos, mas oferece novas perspectivas para uma postura crítica interna
e estabelece os limites da validade dos direitos humanos” (2004, p. 226). Assim,
oferece “[...] a um só tempo, ambas as possibilidades para ampliar seus domínios,
se o contexto mudar, e de uma fecundação mútua com outros conceitos de homem
e realidade” (2004, p. 226). A possibilidade do diálogo intercultural é o que poderia
abrir espaço para a “fecundação mútua” entre diferentes formas de compreender a
realidade, a humanidade, seus direitos.

Acesse
O texto completo da DUDH
www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf

Para assistir

Pequenos vídeos sobre os artigos da Declaração Universal dos Direitos


Humanos preparado pela Youth for Human Rights (dublado).
Disponível em www.youthforhumanrights.org/ e www.youtube.com/
watch?v=RNfIuGQYeTQ

Saiba mais

“E eles não conhecem nenhuma seita nem idolatria, excetuando que todos
acreditam que o poder e o bem estão no céu, e tinham a firme crença que eu,
com estes navios e pessoas, vinha do céu, e nesta suposição me recebiam em
todos os cantos, depois de terem perdido o medo” (Colombo, 2009, p. 61). Mais
de 50 anos depois, na Disputa de Valiadollid, posição semelhante foi sustentada
por Ginés de Sepúlveda contra Bartolomé de Las Casas. Em Democrates Alter,
assim diz Sepúlveda: “[...] estes homúnculos nos quais apenas encontrarás
vestígios de humanidade, que não somente não possuem ciência alguma, senão
que nem sequer conhecem as letras, e nem conservam qualquer monumento
de sua história, senão que vaga lembrança de algumas coisas consignadas em
certas pinturas, e tampouco têm leis escritas, senão instituições e costumes
bárbaros” (Sepúlveda, 1892, p. 309).

Direitos Humanos e Cidadania 45


Saiba mais

DISCURSO DE APRESENTAÇÃO DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS


HUMANOS
Austregésilo de Athayde
“A Delegação do Brasil quer exprimir aqui, nesta Assembleia Plenária das Nações
Unidas, a satisfação do seu governo ante a obra realizada pela Terceira Comissão,
na Terceira Assembleia Geral, redigindo e aprovando a Declaração Universal dos
Direitos do Homem. Estamos em face de um documento que não será talvez
sem defeitos, mas todos nós que trabalhamos durante mais de dois meses
para estabelecer essa Declaração não ignoramos esses defeitos. A perfeição
não está sempre ao alcance dos homens e é de nossa natureza que tudo o
que é humano seja igualmente perfectível. O importante para a humanidade é
que nossa longa, e por vezes penosa tarefa, esteja concluída e haja resultado
nessa Declaração e ainda que todos os povos representados na Assembleia das
Nações Unidas a aprovem em testemunho de boa vontade. Realizamos uma
obra de colaboração. Cada um de nós fez concessões, tanto as grandes quanto
as pequenas potências, porque nossa ideia não era impor pontos de vista
particulares de um povo ou grupo de povos, nem doutrinas políticas ou sistemas
de filosofia. Se nosso trabalho resultasse de uma imposição qualquer e não fosse
de uma cooperação intelectual e moral das nações, não estaria evidentemente à
altura de nossa responsabilidade, nem responderia ao espírito de compreensão
universal que é a própria base de nossa organização internacional. A sua força
vem precisamente da diversidade de pensamento, de cultura e de concepção de
vida de cada representante. Unidos formamos a grande comunidade do mundo
e é exatamente dessa união que decorre a nossa autoridade moral e política.
Declaramos, solenemente, em nome de todos os homens e mulheres que os
seus direitos devem ser protegidos por todos os povos agindo, coletivamente,
em nome da Justiça internacional. A Delegação Brasileira, de conformidade
com a tradição do seu país e com as instruções de seu goverXno, deu caloroso
apoio às ideias mais generosas e liberais da declaração. Tentou ao mesmo tempo
ligar a Declaração dos Direitos do Homem aos sentimentos mais profundos das
massas, inserindo em seu texto a expressão da origem superior do homem,
no sentido do seu destino eterno, sem o qual não se poderia entender nem
justificar a razão dos direitos que asseguram a sua dignidade. O Brasil sente-se
feliz em haver trazido um pouco de sua experiência e de seu idealismo a essa
obra comum das Nações Unidas, convencido de que a Declaração Universal dos
Direitos do Homem abrirá à Humanidade uma nova era de liberdade e justiça”
Fonte: Revista Brasileira, da Academia Brasileira de Letras, nº. 12, p. 118-119.
Para mais informações ver a biografia de Austregésilo de Athayde: em www.
academia.org.br/academicos/austregesilo-de-athayde

Direitos Humanos e Cidadania 46


Saiba mais

A Bula Sublimis Deus, de Paulo III, de 29 de maio de 1537, é que


reconheceu indígenas como seres com alma. Nela se pode ler: “Desejosos
de prover amplo remédio para estes males, definimos e declaramos pela
presente Encíclica [...] que, [...] os ditos índios e todos os outros povos
que venham a ser descobertos pelos cristãos, não devem em absoluto ser
privados de sua liberdade ou da posse de suas propriedades, ainda que
sejam alheios à fé de Jesus Cristo; e que eles devem livre e legitimamente
gozar de sua liberdade e da posse de sua propriedade; e não devem de
modo algum ser escravizados; e se o contrário vier a acontecer, tais atos
devem ser considerados nulos e sem efeito. [...] que os mesmos índios e
quaisquer outros povos devem ser convertidos à fé de Jesus Cristo através
do anúncio da palavra de Deus e pelo exemplo de uma vida boa e santa”.

Saiba mais

Segundo Ramón Grosfoguel os: “quatro genocídios/epistemicídios ao longo


do século XVI são: 1. Contra os muçulmanos e judeus na conquista de Al-
Andalus em nome da “pureza do sangue”; 2. Contra os povos indígenas do
continente americano, primeiro, e, depois, contra os aborígenes na Ásia; 3.
Contra africanos aprisionados em seu território e, posteriormente, escravizados
no continente americano; e 4. Contra as mulheres que praticavam e transmitiam
o conhecimento indo-europeu na Europa, que foram queimadas vivas sob a
acusação de serem bruxas” (2016, p. 31).

Saiba mais

A Anistia Internacional denunciava que o Brasil é o país das Américas


que mais mata defensores/as de direitos humanos (2018). Ver http://
observatoriodasmetropoles.net.br/wp/anistia-internacional-brasil-e-pais-
das-americas-que-mais-mata-defensores-de-direitos-humanos/

Direitos Humanos e Cidadania 47


Saiba mais

Assim se pronunciou seu mais conhecido arauto, Edmund Burke, em “Reflexões


sobre a revolução em França” (1790), onde diz: “Os direitos que esses teóricos
da Constituição pretendem obter são todos absolutos em que pese sua verdade
metafísica, são moral e politicamente falsos. Os direitos do homem encontram-se
em uma espécie de meio-caminho, impossível de ser definido, mas que se pode,
contudo, discernir. Os direitos dos homens nos diferentes governos compreendem
suas vantagens, as quais são contrabalançadas pelo equilíbrio entre as diversas
formas de bem, algumas vezes entre o bem e o mal; e, vezes ainda, entre o mal
e o mal” (1982, p. 91).

Para assistir

Filme “A História dos Direitos Humanos” mostra a história da construção


dos direitos humanos e os desafios para sua realização nos dias atuais. Um
documentário da United for Human Rights (2009).
Disponível em http://br.humanrights.com/ e www.youtube.com/watch?v=kcA6Q-
IPlKE

Saiba mais

Conheça mais sobre as diversas lutas por direitos humanos no Brasil e no mundo.
Disponível em www.dhnet.org.br

Acesse
O texto completo da DUDH
www.ohchr.org/EN/UDHR/Documents/UDHR_Translations/por.pdf

Direitos Humanos e Cidadania 48


Para assistir

Pequenos vídeos sobre os artigos da Declaração Universal dos Direitos


Humanos preparado pela Youth for Human Rights (dublado).
Disponível em www.youthforhumanrights.org/ e www.youtube.com/
watch?v=RNfIuGQYeTQ

Para assistir

Sugere-se o documentário sobre os 20 anos pós Conferência de Viena.


Disponível em https://youtu.be/I4bTmVyAXDg

Saiba mais

Sugere-se ver o projeto da Usina de Valores “Jesus e os Direitos Humanos”.


Disponível em https://usinadevalores.org.br/jesusdh/

Para assistir

Sugere-se o Documentário “Para todos em todo lugar” sobre os bastidores


da elaboração da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em
https://youtu.be/D4p3aJvFq3A

REFERÊNCIAS

Para as Bases Históricas


ALVES, Lindgren J. A. Os direitos humanos como tema global. São Paulo:
Perspectiva,1994.

ATHAYDE, Austregésilo. Discurso na ONU. Revista Brasileira, Academia Brasileira de


Letras, nº. 12, p. 118-119.

BURKE, E. Reflexões sobre a revolução em França. 2. ed. Brasília: UnB, 1997.

Direitos Humanos e Cidadania 49


CALDEIRA, Teresa Pires de Rio. Cidade de Muros: crime, segregação e cidadania em
São Paulo. São Paulo: Editora 34; Edusp, 2000.

CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. Direitos Humanos ou ‘Privilégios de Bandidos’?


Desventuras da democratização brasileira. Novos Estudos, São Paulo, Cebrap, n. 30,
p. 162-174, jul. 1991.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil. O longo caminho. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2001.

COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 7 ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.

DAGNINO, Evelina (Org.). Sociedade civil e espaços públicos no Brasil. São Paulo: Paz
e Terra, 2002.

DUSSEL, Enrique 1492: O Encobrimento do Outro. A origem do mito da modernidade.


Petrópolis: Vozes, 1993.

GOHN, Maria da Glória. História dos movimentos e lutas sociais. A construção da


cidadania dos brasileiros. 2 ed. São Paulo: Loyola, 2001.

GROSFOGUEL, Ramón. A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas:


racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século
XVI. Revista Sociedade e Estado, vol. 31, n. 1, p. 25-49, Jan./Abr. 2016.

HERKENHOFF, João Baptista. Direitos Humanos: a construção universal de uma utopia.


São Paulo: Santuário, 1997.

HOBSBAWN, Eric. A era das Revoluções (1789-1848). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
HOBSBAWN, Eric. Era dos Extremos. São Paulo, Cia das Letras, 1995.

HUNT, Lynn. A invenção dos direitos humanos: uma história. Trad. Rosaura Eichenberg.
São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

JOSAPHAT, Carlos. Las Casas. Todos os direitos para todos. São Paulo: Loyola, 2000.
LYRA, Rubens Pinto (Org.) Direitos Humanos: os desafios do século XXI. Uma abordagem
interdisciplinar. Brasília: Brasília Jurídica 2002.

MBAYA, Etienne-Richard. Gênese, evolução e universalidade dos direitos humanos


frente à diversidade de culturas. Estudos Avançados. São Paulo, USP, v. 11, n. 30,
p. 17-41, 1997 Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ea/v11n30/v11n30a03.pdf.
Acesso em 20/10/2019.

Direitos Humanos e Cidadania 50


MÉSZÁROS, István. Marxismo e direitos humanos. In: Filosofia, Ideologia e Ciência
Social. Ensaios de negação e afirmação. São Paulo: Editora Ensaio, 1993.

OLIVEIRA, Luciano. Imagens da democracia. Os direitos humanos e o pensamento


político da esquerda no Brasil. Recife: Pindorama, 1996.

SOARES, Gláucio Dillon; D’ARAUJO, Maria Celina (Orgs.). 21 anos de regime militar.
Balanços e perspectivas. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 1994.

TODOROV, Tzvetan. A conquista da América. A questão do outro. São Paulo: Martins


Fontes, 1999.

TOSI, Giuseppe (org.). Direitos Humanos: História, teoria e prática. João Pessoa: UFPB,
2005. Disponível em www.cchla.ufpb.br/ncdh/wp-content/uploads/2015/11/2005.
DH_.-historia-teoria-pr%C3%A1tica.pdf

TRINDADE, Augusto A. Cançado. A Proteção Internacional dos Direitos Humanos e o


Brasil. Brasília: UnB, 1998.

TRINDADE, Augusto A. Cançado. Tratado de Direito Internacional dos Direitos


Humanos. Porto Alegre: S. A. Fabris Ed., 1997. 3 vol.

TRINDADE, José D. de Lima. História Social dos Direitos Humanos. 3. ed. São Paulo:
Peirópolis, 2011.

Para as bases Filosóficas

AGAMBEN, Giorgio. Al dilà dei diritti dell’uomo. In: Mezzi senza fine: notte sulla
politica. Torino: Bolatti Boringhieri, 1998, p. 20-29 (do original). Trad. Murilo Duarte
Costa Corrêa. Disponível em www.oestrangeiro.net/politica. Acesso em 11 de março
de 2012.

APEL, Karl-Otto. Dissoluzione dell’ética del discorso? Sull’architettonica della


differenziazione dei discorsi in Fatti e Norme de Habermas. In: Discorso, veritá,
responsabilitá. La ragione della fondazione: con Habermas contro Habermas. Trad.
Virginio Marzocchi. Napoli: Guerini, 1997 [Tradução nossa] [Ver: Com Habermas,
contra Habermas. São Paulo: Landy, 2004].

ARENDT, Hannah. As origens do totalitarismo. Trad. R. Raposo. São Paulo: Cia. das
Letras, 1989

ARENDT, Hannah. A condição humana. Trad. Roberto Raposo. 10. ed. Rio de Janeiro:
Forense Universitária, 2004.

Direitos Humanos e Cidadania 51


BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:
Campus, 1992 [ver também a edição de 2004 - Rio de Janeiro: Elsevier].

CAMPS, Victoria. Paradoxos do Individualismo. Lisboa: Antropos e Relógio d’Água,1996.


CARBONARI, Paulo César (Org.). Sentido filosófico dos direitos humanos: leituras do
pensamento contemporâneo. Passo Fundo: IFIBE, 2006 (vol. 1); 2009 (vol. 2), 2013
(vol. 3).

CARBONARI, Paulo César. Direitos humanos: sugestões pedagógicas. Passo Fundo:


IFIBE; Brasília: SDH, 2014.

DUSSEL, Enrique. 20 teses sobre política. Trad. Rodrigo Rodrigues. São Paulo: Expressão
Popular; Buenos Aires: CLACSO, 2007.

HABERMAS, J. Direito e democracia: entre facticidade e validade. Trad. F. B. Siebeneichler.


Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1997, v.1.

HINKELAMMERT, Franz. El sujeto y la ley: el retorno del sujeto reprimido. Heredia,


Costa Rica: EUNA, 2003.

KANT, Immanuel. Fundamentação da Metafísica dos Costumes [Grundlegung zur


Metaphysik der Sitten (GMS)]. In: Werke in sechs Bänden. Bd. IV. Hrsg. von Wilhelm
Weischedel. Darmstadt: Wissenschaftliche Buchgesellschaft, 1998. Tradução Robinson
dos Santos. KANT, Immanuel. A metafísica dos costumes. Trad. Edson Bini. Bauru:
Edipro, 2003.

KELSEN, Hans. O que é Justiça? A Justiça, o Direito e a política no espelho da ciência.


Trad. Luís Carlos Borges. São Paulo: Martins Fontes, 1998.

MARX, Karl. Sobre a Questão Judaica. Trad. Nélio Schneider. São Paulo: Boitempo, 2010.
OPPENHEIM, Felix E. Ética e Filosofia Política. Trad. A. Ramírez e J.J. Utrilla. México:
FCE, 1976.

PANIKKAR, Raimon. Seria a noção de direitos humanos um conceito universal? In:


BALDI, César Augusto (Org.). Direitos humanos na sociedade cosmopolita. Rio de
Janeiro: Renovar, 2004. p. 205-238.

TUGENDHAT, Ernst. A Controvérsia sobre os Direitos Humanos [Conferência apresentada


na UFRGS em 10 de dezembro de 1998]. Revista da Faculdade de Direito da UFRGS,
Porto Alegre, v. 17, p. 77-87, 1999.

TUGENDHAT, Ernst. Décima sétima lição: Direitos Humanos. In: Lições sobre Ética.
Trad. Ernildo Stein, Ronai Rocha et al. Petrópolis: Vozes, 1996. p. 362-392.

Direitos Humanos e Cidadania 52

Você também pode gostar