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Atividade Online – AO02

Curso: Programa de Ensino e Aprendizagem em Rede - PEAR


Professor(a): Dr. Ulisses Terto Neto
Nome da disciplina: Diversidade, Cidadania e Direitos
Discente: Maria Carolina Costa Silva

Atividade 02 - Resenha

Com base no material estudado (capítulo de livro), elabore resenha.

Antes de realizar o trabalho, ler o texto:

RODRIGUES, Flávio Luís Freire, A Construção da Crítica em Resenhas Produzidas por Alunos
[2013] Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, SC, v. 13, n. 2, p. 273-297. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/ld/v13n2/a04v13n2.pdf. Acesso em 9/8/2021.

Resposta
Resenha-resumo: A (re)invenção dos direitos humanos, de Joaquín Herrera Flores.

Os direitos humanos se converteram no desafio do século XXI. Um desafio que é ao mesmo


tempo teórico e prático. Para que tenhamos uma prova do que dizemos, basta citar textos
internacionais como por exemplo a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Desde 1948 até nossos dias, assistimos cotidianamente a esse trabalho levado a cabo pela
comunidade internacional para que os seres humanos possam controlar seus destinos.
O contexto em que surgiram os textos citados (1948 e 1966) é bem diferente do que temos hoje
em dia (2007). A Declaração e os Pactos se situam no contexto da Guerra Fria entre dois grandes
sistemas de relações sociais que se enfrentavam para conseguir a hegemonia mundial.
Esses textos surgiram em uma época em que colocavam-se em prática políticas públicas
decididamente interventoras sobre as consequências mais perversas da aplicação do mercado à
sociedade.
Os textos citados tiveram de conviver com o final dos processos descolonizados e o progressivo
surgimento de novas nacionalidades e novos atores internacionais.
Atualmente, estamos diante de um novo contexto social, econômico, político e cultural que, para
fixar uma data de início, se desenvolve politicamente a partir da queda do Muro de Berlim e do
anúncio do “fim da história” por parte dos auto proclamados vencedores da Guerra Fria.
Há quatro décadas o Estado controlava as consequências do mercado (poluição, destruição do
patrimônio histórico-artístico, entre outros) aplicando medidas interventoras. Na atualidade é o
mercado que impõe regras aos Estados por meio de instituições globais como o Fundo Monetário
Internacional, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio.
Assistimos durante as últimas décadas à substituição dos direitos obtidos (garantias jurídicas para
acesso a determinados bens, como o emprego ou as formas de contratação trabalhista) por aquilo
que agora se denominam “liberdades” (que destaca a liberdade de trabalhar e não exige políticas
públicas de intervenção).
Entramos em um contexto em que a extensão e a generalização do mercado “livre” fazem com
que os direitos comecem a ser considerados como “custos sociais” das empresas, que devem
suprimi-los em nome da competitividade.
Nosso compromisso, na qualidade de pessoas que refletem sobre os direitos humanos reside em
“colocar frases” às práticas sociais de indivíduos e grupos que lutam cotidianamente para que
esses “fatos” que ocorrem nos contextos concretos e materiais em que vivemos possam ser
transformados em outros mais justos, equilibrados e igualitários. Por isso, a verdade é posta por
aqueles que lutam pelos direitos.
Temos os direitos como algo que nos impulsiona à criação de direitos, com o objetivo de outorgar-
lhes um reconhecimento e uma aplicação universal (o que os direitos significam para tal
perspectiva tradicional).
Os direitos são algo que já temos pelo fato de sermos seres humanos absolutamente à margem
de qualquer condição ou característica social. A ideia que inunda todo o discurso tradicional
reside na seguinte fórmula: o conteúdo básico dos direitos é o “direito a ter direitos”. Os direitos
humanos, mais que direitos “propriamente ditos”, são processos, ou seja, o resultado sempre
provisório das lutas que os seres humanos colocam em prática para ter acesso aos bens
necessários para a vida.
Os direitos humanos não devem confundir-se com os direitos positivados no âmbito nacional ou
internacional. Uma constituição ou um tratado internacional não criam direitos humanos. Admitir
que o direito cria direito significa cair na falácia do positivismo mais retrógrado que não sai de seu
próprio círculo vicioso.
Os direitos humanos são uma convenção cultural que utilizamos para introduzir uma tensão entre
os direitos reconhecidos e as práticas sociais que buscam tanto seu reconhecimento positivado
como outra forma de reconhecimento ou outro procedimento que garanta algo que é exterior e
interior a tais normas. Os direitos virão depois das lutas pelo acesso aos bens.As normas jurídicas
resultantes servirão para garantir um determinado acesso a tais bens.
Quando falamos de direitos humanos, falamos de dinâmicas sociais que tendem a construir
condições materiais e imateriais necessárias para conseguir determinados objetivos genéricos que
estão fora do direito (os quais, se temos a suficiente correlação de forças parlamentares, veremos
garantidos em normas jurídicas).
Ao lutar por ter acesso aos bens, os atores e atrizes sociais que se comprometem com os direitos
humanos colocam em funcionamento práticas sociais dirigidas a nós dotar, todas e todos, de
meios e instrumentos (políticos, sociais, econômicos, culturais ou jurídicos) que nos possibilitem
construir as condições materiais e imateriais necessárias para poder viver.
Promovemos processos de direitos humanos porque necessitamos ter acesso aos bens exigíveis
para viver e porque eles não caem do céu, nem vão correr pelos rios de mel de algum paraíso
terrestre. O acesso aos bens, sempre e em todo momento, insere-se em um processo mais amplo
que faz com que uns tenham mais facilidade para obtê-los e que a outros seja mais difícil ou até
mesmo impossível de obter.
Começamos a lutar pelos direitos porque consideramos injustos e desiguais tais processos de
divisão do fazer humano. Todos precisamos dispor de condições materiais, imateriais e concretas
que permitam o acesso aos bens necessários para a existência. Estamos, assim, delineando a
direção que deveriam tomar essas lutas para acesso aos bens: a mera sobrevivência ou a
dignidade. Estamos marcando os fins que buscaremos na hora de levar adiante tais práticas
sociais.
Entenda-se por dignidade não o simples acesso aos bens, mas que tal acesso seja igualitário e
não esteja hierarquizado “a priori” por processos de divisão do fazer que coloquem alguns, na hora
de ter acesso aos bens, em posições privilegiadas, e outros em situação de opressão e
subordinação. A dignidade é um fim material. Trata-se de um objetivo que se concretiza no acesso
igualitário e generalizado aos bens que fazem com que a vida seja “digna” de ser vivida.
Se existe um fenômeno que resiste à suposta “neutralidade” científica, são os direitos humanos,
sobretudo para uma teoria como a nossa, que se compromete a refletir intelectualmente e a propor
dinâmicas sociais de luta contra os processos hegemônicos de divisão do fazer humano.
Para nós, o conteúdo básico dos direitos humanos não é o direito a ter direitos. Para nós, o
conteúdo básico dos direitos humanos será o conjunto de lutas pela dignidade, cujos resultados,
se é que temos o poder necessário para isso, deverão ser garantidos por normas jurídicas, por
políticas públicas e por uma economia aberta às exigências da dignidade.

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