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Istituto Superior de Ciências de Educação a Distância - ISCED

Delito Olindo Luís

As Técnicas Internacionais de Proteção dos Direito Humanos

Quelimane Abril de 2022


Istituto Superior de Ciências de Educação a Distância - ISCED

Delito Olindo Luís

Quelimane, abril de 2022

Índice
0.Introdução.......................................................................................................................4

0.1.Objectivos:...................................................................................................................5

0.2.Metodologia.................................................................................................................5
1.Conceitos-Chaves...........................................................................................................6

1.0.1.A REVOLUÇÃO DOS DIREITOS.........................................................................8

1.1.2.OS SISTEMAS REGIONAIS DE DIREITOS HUMANOS.................................10

1.0.2.A CRIAÇÃO DOS PACTOS DOS DIREITOS HUMANOS...............................13

1.0.3.O PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS................14

2.0.O PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E......14

2.0.1.A CONFERÊNCIA MUNDIAL DE DIREITOS HUMANOS..............................15

2.0.2.PRINCIPAIS INSTRUMENTOS NORMATIVOS DO SISTEMA GLOBAL.....16

2.0.3.MECANISMOS DO SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS...16

HUMANOS.....................................................................................................................16

3.0.CONCLUSÃO...........................................................................................................21

4. Bibliografia..................................................................................................................22
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0.Introdução

Foi durante o século XIX que os direitos humanos começaram a constar nos textos das
Constituições nacionais, quer através dos seus artigos quer de simples alusões nos seus
preâmbulos. Não obstante, foi no século XX que assistimos à sua emancipação jurídica
e política. Com efeito, ao longo do século passado, assistiu-se a diversos conflitos
internacionais que desencadearam actos desumanos e cruéis entre seres humanos. Estas
atrocidades tiveram maior impacto no decorrer da Segunda Guerra Mundial, com um
desprezo geral pela vida, representado pelo elevado número de mortes e pela ausência
de direitos e liberdades fundamentais. Assim, tornou-se imperativo reformular o sistema
internacional, de modo a evitar os erros do passado. Com a proclamação dos direitos
humanos, cada homem tornou-se numa unidade de direitos, deixando de ter apenas
obrigações.
A utilização dos sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos não implica,
portanto, em abandonar o uso dos sistemas nacionais. Ambos devem ser fortalecidos, na
perspectiva do pleno respeito aos direitos humanos. No plano internacional,o desafio é,
através de instrumentos e mecanismos de proteção, ampliar o respeito aos direitos
humanos.
O sistema de proteção dos direitos humanos das Nações Unidas tem como principais
órgãos a Assembléia Geral a cujo organismo compete, principalmente, legislar em
matéria de direitos humanos o Conselho Econômico e Social (ECOSOC) a cujo
organismo cabe promover o respeito dos direitos humanos; coordenar as atividades da
ONU e suas agências especializadas; elaborar estudos, relatórios e recomendações sobre
assuntos de interesse social, econômico, cultural e educacional; e o Conselho de
Segurança a cujo organismo compete desenvolver operações pela manutenção da paz;
decidir sobre “graves violações” aos direitos humanos que ponham em risco a paz
mundial; e estabelecer tribunais penais internacionais.
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0.1.Objectivos:
Geral:

 Compreender as técnicas internacionais de proteção dos direito humanos.

Específicos:

 Identificar os pactos dos direitos humanos;


 Descrever as funções das conferências mundias de direitos humanos.

0.2.Metodologia
Para a elaboração do trabalho usou-se a metodologia de pesquisa bibliográfica, que é
um apontamento geral sobre os principais trabalhos já realizados, revestidos de
importância por serem capazes de fornecer dados actuais e relevantes relacionados com
o tema”. Portanto, este método consistiu na escolha selectiva dos autores que abordam
sobre o tema em estudo.
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1.Conceitos-Chaves
O conceito de Direitos Humanos existente em cada período temporal e em cada
localidade do globo vária de acordo com a concepção político ideológica presente.
Outro problema existente para a sua conceituação é a variação terminológica empregada
para designar tais direitos. Entre elas há as expressões direitos naturais, direitos
positivos, direitos do homem, direitos individuais, direitos públicos subjetivos,
liberdades fundamentais, liberdades públicas, garantias individuais, direitos do homem e
do cidadão, entre outras.
Podemos postular três grandes concepções fundamentais acerca dos direitos da pessoa
humana: as concepções idealistas, as conceções positivistas e, as conceções crítico-
materialistas (ARAÚJO FILHO, 1998).

 As concepções idealistas realizam a fundamentação dos direitos humanos em


uma visão metafísica, repleta de abstrações por meio da identificação de valores
transcendentais que se podem expressar tanto pela vontade divina quanto pela
razão natural humana. Seriam denominados, não direitos humanos, mas, sim,
direitos naturais.
Considerados naturais por serem inerentes à natureza do homem ou por serem resultado
da força da natureza humana.
Inicia-se com Aristóteles e solidifica-se no decorrer do tempo a concepção da
perenidade dos direitos naturais, coexistindo com aqueles direitos mutáveis no espaço e
no tempo. Tal direito natural seria independente de decretos, opiniões ou vontades dos
seres humanos.
Aristóteles parecia afirmar que o que fosse regido pela natureza não se encontraria
sujeito a lugares ou a tempos específicos, sendo, portanto, universal e atemporal
(GINZBURG, 2001).

SAO TOMAS DE AQUINO, precursor do jusnaturalismo cristão, estabelecia um


entretecimentodo direito divino, da lei humana e dos poderes políticos, sendo que os
dois últimos encontravam-se, necessariamente, subordinados ao primeiro. O soberano
na Idade Média expressava a vontade divina exercendo absolutamente seus poderes.
Não havia uma nítida separação entre o espaço de interesse particular do soberano, da
aristocracia feudal, do clero e do interesse público. Os valores considerados essenciais à
pessoa humana eram definidos e legitimados pela vontade divina.
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Hobbes, considerado o pai do jusnaturalismo moderno, considerava o direito natural à


liberdade atribuída a cada homem de usar seu próprio poder (seu julgamento e sua
razão) para preservar a sua própria vida.

 A segunda das concepções, as positivistas, as quais fundamentaram os direitos


da pessoa humana, reconhecia os direitos como fundamentais por meio da ordem
jurídica positiva. O que a definiria seria a noção de justo, pois se encontra
ordenado. Não mais haveria o entendimento de que a criação dos direitos dava-
se por um poder superior ao Estado.

Passou a ser vista tal criação como expressão verdadeira da vontade estatal, legitimadas
e efetivadas pelo poder público. A lei passou a compreender o direito, ou seja, o direito
encontrava-se restrito à lei, somente existiria um determinado direito se na lei encontra-
se expresso. Se, por um lado, tal concepção preza pela segurança, tornar o direito
produto exclusivamente do Estado, torna-o indiferente às exigências, necessidades
sociais de justiça.

 A última concepção, a crítico materialista, fundamenta-se na obra de Karl Marx.


Segundo ela seriam os direitos resultantes de uma luta de classes. Partindo-se
das supracitadas perspectivas, foi possível alcançar uma afirmação e a criação de
novas visões acerca dos direitos indispensáveis aos seres humanos.

Conformariam o conjunto de normas e de princípios localizados em Constituições ou


declarações realizadas por organismos internacionais e indispensáveis ao Estado
Democrático de Direito no que se refere às garantias e proteções ao homem. Segundo a
concepção de Pablo Lucas Verdú (1994), caracterizar-se-ia o Estado Democrático de
Direito pela igualdade dos cidadãos perante a lei um sistema hierárquico de normas que
garantem a segurança jurídica, legalidade da administração, separação dos poderes
como meio para alcançar e garantir a liberdade e frear possíveis abusos.

Há ainda direitos econômicos e sociais baseados no trabalho e na fundamentação em


uma sociedade justa, em que não há exploração econômica nem política que impeçam a
participação plena dos cidadãos no processo político. Não pode haver a exploração do
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homem pelo homem, havendo, portanto, uma tentativa de superação do neocapitalismo


(VERDÚ, 1994).

Os direitos humanos
O que se convencionou chamar “direitos humanos” são exatamente os direitos
correspondentes à dignidade dos seres humanos. São direitos que possuímos não porque
o Estado assim decidiu, através de suas leis, ou porque nós mesmos assim o fizemos,
por intermédio dos nossos acordos. Direitos humanos, por mais pleonástico que isso
possa parecer, são direitos que Possuímos pelo simples fato de que somos humanos.

Sujeitos e objetos dos direitos humanos


Quem dispõe de um direito é chamado de sujeito de direito. Por outra parte, matéria ou
assunto do qual o direito trata recebe o nome de objeto de direito.

1.0.1.A REVOLUÇÃO DOS DIREITOS


A Construção histórica se iniciou com a Magna Carta Inglesa na Idade Média. Em 1628,
veio a Petition of Rights, a qual foi antecedente da Bill of Rights (1689), considerada a
segunda Magna Carta.

A Declaração de Direitos da Virgínia em 1776 é considerada a primeira Declaração de


direitos fundamentais. Em 1776 teve, ainda, a Declaração de Independência americana,
a qual não tinha uma natureza jurídica tão expressiva quanto a Declaração de Direitos
da Virgínia, mas obteve maior repercussão. Em 1787 veio a Constituição Norte
Americana, que apresentava diversos dispositivos relativos às liberdades fundamentais.
Os americanos, em regra, com a notável exceção, ainda aí, de Thomas Jefferson,
estavam mais interessados em firmar a sua própria independência e estabelecer seu
próprio regime político do que em levar a ideia de liberdade a outros povos.
(COMPARATO, 2001, p. 127). Finalmente, em 1789, houve, na França, a aprovação
pela Assembleia Nacional Francesa da Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão. Tal documento constituiu uma das importantes repercussões da Revolução
Francesa. Kant (apud COMPARATO, 2001) afirma ter sido tal Revolução
correspondente ao próprio direito de liberdade.
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Em 1848, houve a promulgação da Constituição Francesa. Essa, entretanto não buscou a


reintrodução dos direitos sociais proclamados em 1791 e 1793. Discussões acaloradas
ocorreram apenas acerca dos direitos do trabalho. A Convenção de Genebra em 1864
inaugurou o direito humanitário na esfera internacional. A Constituição Mexicana de
1917 foi de extrema importância, pois foi a primeira a lançar os direitos trabalhistas
como direitos fundamentais juntamente com as liberdades individuais e os direitos
políticos. Em 1919 a Constituição Alemã que, apesar de ter sobrevivido por pouco
tempo, trouxe ideias que influenciariam a evolução das instituições políticas do
Ocidente. Dividia-se entre organização do Estado e direitos e deveres fundamentais.

Termo que aparece como semelhante à terminologia direitos humanos é o direito


natural, entretanto não podemos confundi-los. O direito natural diferencia-se, pois há a
extração dos direitos dos homens do Direito Natural. Conceitos universais que, mesmo
quando não escritos, têm legitimidade e vigência.

Diferencia-se, assim, da concepção positivista como já ficou demonstrado no decorrer


do texto. Direitos individuais foram utilizados como denominadores durante o século
XVIII caracterizando os direitos dos seres humanos isolados. Introduzidos pela
Revolução Francesa, atualmente, são assegurados pelas constituições dos diversos
países. Tais direitos exigem responsabilidade social para exercê-los, não é por serem
individuais que pressupõem a prática incondicionada.

A nível internacional, a proclamação dos direitos humanos traduziu-se na criação de


instrumentos e mecanismos de promoção e protecção destes direitos inalienáveis,
significando um ponto de viragem na história mundial com a instauração de uma nova
ordem política e social.
Neste sentido, do diálogo entre os vencedores da Segunda Guerra Mundial e outros
treze representantes da ONU nasceu a Declaração Universal de Direitos Humanos
(DUDH), que representa um guia internacional de orientação dos Estados. Embora não
vinculativa pois na época a maioria dos Estados não se queria comprometer
juridicamente, actualmente representa um dos principais instrumentos internacionais de
direitos humanos, apontando para a existência de direitos irrevogáveis e inerentes a
todos os seres humanos, assim como para os princípios da igualdade e da fraternidade.
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Apesar disso, a DUDH foi elaborada e aprovada num contexto político delicado,
chegando a ser apelidada de “cinzenta”, demonstrando o profundo cepticismo em
relação à força efectiva que representaria no contexto internacional. Era, portanto,
fundamental assegurar que os governos e os Estados que assinassem instrumentos
internacionais de direitos humanos garantissem os meios para a sua concretização,
evitando a violação continua destes direitos fundamentais.

1.1.2.OS SISTEMAS REGIONAIS DE DIREITOS HUMANOS


Paralelamente ao Sistema Global de Proteção aos Direitos Humanos, surgem os
sistemas regionais, os quais serão analisados nesse capítulo. Cada sistema normativo
regional de direitos humanos funciona de uma maneira. Desta forma, será apresentado
brevemente o Sistema Europeu, o Africano e o Árabe; e mais detalhadamente o Sistema
Interamericano de direitos humanos.
É de grande relevância apontar que esses sistemas regionais estão longe de enfraquecer
a universalidade conhecida no capítulo anterior, muito pelo contrário, eles procuram
fortalecer com um nível adicional de suas garantias, se aproximando ao ambiente em
que devem sem exercidos esses direitos (ALVES, 1997).

SISTEMA REGIONAL EUROPEU


O sistema regional europeu de direitos humanos possui como base a Convenção
Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e das Liberdades Fundamentais
aprovada em 1950 em Roma, Itália. (ACCIOLY; SILVA; CASELLA, 2012).
Dessa forma, Mazuolli (p. 35, 2010) expõe que compete a Convenção:
Estabelecer padrões mínimos de proteção naquele Continente, institucionalizando um
compromisso dos Estados partes de não adotarem disposições de direito interno
contrárias às normas da Convenção, bem assim de estarem aptos a sofrer demandas na
Corte Europeia de Direitos Humanos caso desrespeitem as normas do tratado em
relação a quaisquer pessoas sob sua jurisdição.

Assim, tem-se a Convenção como instrumento de exposição de direitos a serem


protegidos no continente europeu. A Convenção Europeia é composta por três sessões e
inúmeros protocolos adicionais, onde são elencados todos os direitos a serem
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assegurados; a estrutura e competência do seu órgão principal; a Corte Europeia de


Direitos Humanos e algumas disposições diversas. (CONSELHO EUROPEU, 2015).
O sistema possui a Corte Europeia de Direitos Humanos, com sede em Estrasburgo,
França, como sua corte especializada. (ACCIOLY; SILVA; CASELLA, 2012).

A Corte Europeia foi o primeiro tribunal de direitos humanos mundiais. Ela possui
função consultiva, onde analisa juridicamente sobre a interpretação e disposição da
Convenção e de seus Protocolos e função contenciosa onde analisa e julga caso de
violações de direitos estabelecidos pela sua Convenção e Protocolos através do
recebimento de petições individuais de alegações de violações de direitos humanos por
parte dos Estados-membros e queixas de Estados-membros em face de outro Estado-
membro. (MAZZUOLI, 2010).

É caracterizado por Alves (1997) como o sistema regional mais desenvolvido, devido a
seu enquadramento nas instituições comunitárias, e por possuir objetivos
integracionistas, com traços supranacionais. Confirmado por Mazzuoli (2013), quando
cita seu maior amadurecimento comparado aos outros sistemas, devido ao seu maior
tempo de existência, sua Convenção mais avançada e pela extensa jurisprudência de sua
Corte em favor aos Direitos estabelecidos por este.

SISTEMA REGIONAL AFRICANO


O Sistema Regional Africano de Direitos Humanos é composto pela Carta Africana de
Direitos do Homem e dos Povos adotada em Banjul, Gâmbia em 1981, que entrou em
vigor em 1986; e por dois órgãos responsáveis pela sua aplicação, a Comissão Africana
de Direitos Humanos e dos Povos, e pela Corte Africana de Direitos Humanos e dos
Povos. (ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS 2011c).

A Carta Africana é composta pelo seu preâmbulo, e posteriormente dividida em três


partes. A primeira parte é composta pelos direitos e deveres, a segunda pelas medidas de
salvaguarda, dentre elas a criação da Comissão Africana, que possuí como função
promover e proteger os direitos assegurados na parte anterior, e a terceira parte,
composta por dispositivos adicionais. (TAQUARY, 2015).
A Comissão Africana de Direitos Humanos e dos Povos é responsável pela proteção e
promoção dos Direitos Humanos e pela interpretação da Carta Africana. Ela é composta
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por onze membros, que possuem mandato de seis anos, possíveis de renovação.
(COMISSÃO AFRICANA DE DIREITOS HUMANOS, 2015).
A Corte Africana de Direitos Humanos e dos Povos entrou em vigor em 2004 e possui
sede na Republica Unida da Tanzânia. Possui como objetivo complementar e reforçar as
funções da Comissão Africana. (TRIBUNAL AFRICANO DE DIREITOSHUMANOS
E DOS POVOS, 2015).
O sistema africano de proteção aos direitos humanos possui assim, estrutura coincidente
ao sistema americano, sendo regido por dois principais órgãos, uma Comissão e uma
Corte.

SISTEMA REGIONAL ÁRABE


Diferenciando-se dos sistemas apontados, o sistema regional árabe de proteção aos
direitos humanos não é um sistema regional de proteção aos direitos humanos completo.
A liga árabe criada em 1945, no Cairo, Egito, foi inicialmente assinada pelo Egito,
Emirado da Transjordânia, Iraque, Líbano, Síria e Iêmen. Devido ao baixo número de
países que a ratificou, ela não teve muita expressão no âmbito das Nações Unidas na
época. Contudo, hoje já é composta por vários países e é considerado o símbolo da
unidade árabe (ACCIOLY; CASSELA; E SILVA, 2012).
A Liga cria, em 2008, a Carta Árabe de Direitos Humanos, que apesar de ser o tratado
regente do sistema, é um instrumento fundado pela religião islâmica, gerando inúmeras
críticas pela ONU. Junto a isso, apesar de prever um comitê como órgão de proteção,
até hoje não foi criado nenhum órgão específico para proteção dos direitos citados na
sua carta. (MAZZUOLI, 2013).
Dessa forma, pode-se analisar uma grande dificuldade na proteção aos direitos
humanos, devido à restrição religiosa de sua Carta e a falta de órgãos de supervisão.

SISTEMA REGIONAL INTERAMERICANO


Inicia-se o estudo do Sistema Interamericano de Direitos Humanos a partir da Nona
Conferencia Internacional Americana realizada em Bogotá em 1948; nela foi aprovada a
Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem, primeiro documento
internacional de direitos humanos de abrangência geral e a Carta da OEA que proclama
os Direitos Fundamentais do indivíduo, como princípio da Organização
(ORGANIZAÇÃO DOS ESTADOS AMERICANOS 2011b). Por outro lado, o
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principal instrumento do Sistema Interamericano de Direitos Humanos é a Convenção


Americana de Direitos Humanos.

1.0.2.A CRIAÇÃO DOS PACTOS DOS DIREITOS HUMANOS


MOISES (2007:159-161), Ora, se a nível internacional a DUDH constituiu o ponto de
partida para reconhecimento e protecção dos direitos humanos, num segundo momento
foram criados:

 O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP);


 e o Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC).

A vinculação dos Estados ao sistema de protecção internacional dos direitos humanos é


completada pelos protocolos facultativos a ambos os Pactos, através dos quais os países
reconhecem aos respectivos comités da ONU competência para receber e examinar
queixas de violações dos direitos consagrados.
Concretamente, a nível internacional, os mecanismos de promoção destes direitos visam
encorajar os Estados a adoptarem normas internacionais de direitos humanos,
monitorizar a sua situação e oferecer assistência técnica. Por sua vez, os mecanismos de
protecção pretendem assegurar o respeito por esses direitos, incluindo quando um
Estado viola as disposições das convenções de que seja parte, assegurando também que
os cidadãos sejam ouvidos (através de queixas apresentadas).

Portanto, a ONU delimitou o caminho a percorrer pela comunidade internacional quanto


à promoção e protecção destes direitos. Desde a proclamação da DUDH, essa
organização tem vindo a elaborar inúmeros tratados e outros instrumentos de direitos
humanos, bem como a desenvolver actividades de controlo da sua aplicação,
nomeadamente através da criação de comités e de outros órgãos especializados de
direitos humanos.
No sistema da ONU existem duas categorias de órgãos de direitos humanos:
os órgãos saídos da Carta das Nações Unidas (CNU) e os órgãos criados pelos tratados.
Assim, os órgãos incluídos na primeira categoria recebem a sua legitimidade através da
CNU e não pela ratificação de qualquer tratado internacional de direitos humanos,
sendo que a sua jurisdição recai sobre todos os Estados-membros da ONU. Neste
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sentido, no presente trabalho, dar-se-á especial atenção ao Conselho de Direitos


Humanos da ONU (CDH) e ao seu mecanismo subsidiário: a Revisão Periódica
Universal (RPU).

1.0.3.O PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS


Na perspectiva de GLEDEN (2003:20), em primeiro lugar, deve ser esclarecido que
foram elaborados dois Pactos, um para os direitos humanos civis e políticos, e outro
para os direitos humanos econômicos, sociais e culturais, em decorrência do maior
poder político das nações ocidentais, que, conforme a sua natureza capitalista e liberal,
alegavam que deveriam ser elaborados dois Pactos distintos, visto que a implementação
dos direitos humanos civis e políticos poderia ocorrer de imediato, enquanto que os
direitos humanos econômicos, sociais e culturais só poderiam ser concretizados a longo
prazo.
Por outro lado, as nações socialistas, tradicionalmente regidas pelo forte
intervencionismo estatal, como forma de garantir os direitos sociais, defendiam uma
posição exatamente contrária quanto à auto-aplicação e a implementação a longo prazo
dos direitos.
O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (ICCPR, em inglês, International
Covenant on Civil and Political Rights) só entrou em vigor em 23 de março de 1976.
Até maio de 2002, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos já havia sido
ratificado por 148 Estados, que, com isso, comprometeram-se a promover e garantir os
direitos nele constantes. Tal número comprova a dimensão tomada pelo Pacto, e o
reconhecimento da importância de se garantir direitos como a vida e a liberdade.

2.0.O PACTO INTERNACIONAL DE DIREITOS ECONÔMICOS, SOCIAIS E


CULTURAIS
Na visão de TRINDADE (2002:44-50), A exemplo do Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos, o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
(ICESCR, leia-se International Covenant on Economic, Social and Cultural Rights), só
entrou em vigor dez anos após a sua aprovação, em 03 de janeiro de 1976, após
conseguir o número mínimo de 35 ratificações necessário para o início da sua vigência).
Trinta e quatro anos depois, este Pacto reafirma a sua força como um consenso mundial,
tendo obtido até maio de 2002 um total de 145 ratificações.
15

Segundo a redação do art. 2º (1) do Pacto, os Estados comprometem-se “a adotar


medidas, tanto por esforço próprio como pela assistência e cooperação internacionais,
principalmente nos planos econômico e técnico, até o máximo de recursos disponíveis,
que visem a assegurar, progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno
exercício dos direitos reconhecidos no presente Pacto incluindo, em particular, a adoção
de medidas legislativas”.
O problema da proteção e realização dos direitos humanos econômicos, sociais e
culturais, decorrente do disposto no PIDESC, tem na implementação progressiva apenas
a primeira das dificuldades. Como refletem preocupações consideradas mais relevantes
pelos países do Oriente, principalmente os socialistas, acabam por perder a sua
visibilidade dentro de um cenário internacional onde os grandes atores são os poderosos
Estados capitalistas desenvolvidos.

2.0.1.A CONFERÊNCIA MUNDIAL DE DIREITOS HUMANOS


Para TRINDADE (2002:57-61), Se havia críticos que se referiam à Declaração
Universal dos Direitos Humanos como um instrumento produzido por um reduzido
número de Estados, e que não configurava, de maneira alguma, um consenso mundial,
principalmente devido ao processo de descolonização que permeou toda a segunda
metade do século XX e fez surgir diversos novos Estados, as Conferências Mundiais
que se seguiram à adoção dos dois Pactos de 1966 vieram a enfraquecer tais críticas.
Anteriormente à Conferência de Viena, que é considerada como a mais importante pela
sua maior amplitude, ocorreu a I Conferência Mundial de Direitos Humanos, de 22 de
abril a 13 de maio de 1968 em Teerã (Irã), com a participação de 84 Estados, além de
representantes de organismos internacionais e organizações não-governamentais.
 A maior contribuição da Conferência de Teerã para a proteção dos direitos
humanos foi a “asserção de uma nova visão, global e integrada, de todos os
diretos humanos”.
De 14 a 25 de junho de 1993, realizou-se em Viena (Áustria) a II Conferência Mundial
de Direitos Humanos, que teve como resultados práticos a Declaração de Viena e o
Programa de Ação, na verdade um só instrumento dividido em duas partes operativas:
 O primeiro reavaliou princípios básicos do Direito Internacional dos Direitos
Humanos, com destaque à universalidade destes;
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 enquanto que o último foi direcionado aos órgãos de supervisão dos direitos
humanos, tendo como ponto principal a ratificação universal e sem reservas dos
instrumentos internacionais de direitos humanos.

Ambos foram adotados pelo consenso de 171 Estados, perfazendo como objetivo
comum da comunidade internacional o fortalecimento e o aperfeiçoamento da proteção
dos direitos humanos em nível mundial, de modo a assegurar a observância universal
dos direitos humanos decorrentes da dignidade inerente à pessoa humana. Tanto a
Conferência de Teerã, de 1968, como a de Viena, de 1993, foram importantes para a
avaliação global de questões relacionadas aos direitos humanos e para a reafirmação de
sua universalidade.

2.0.2.PRINCIPAIS INSTRUMENTOS NORMATIVOS DO SISTEMA GLOBAL


DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Levantamos aqui alguns pontos relacionados aos principais instrumentos normativos de
proteção dos direitos humanos, no plano das Nações Unidas, Segundo ALMEIDA
(1948:99).
A saber:
 A Declaração Universal de Direitos Humanos, o Pacto Internacional de Direitos
Civis e Políticos, o Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais;
 A Declaração sobre o Direito ao Desenvolvimento, a Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, a
Convenção sobre os Direitos da Criança, a Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial e a Convenção contra
a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes.

2.0.3.MECANISMOS DO SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS

HUMANOS
Os mecanismos de proteção dos direitos humanos podem ser de dois tipos:
convencionais e extra-convencionais. Seu funcionamento está sob a responsabilidade
17

direta da Comissão de Direitos Humanos da ONU. Esta, por sua vez, tem sua atuação
balizada pelo Conselho Econômico e Social (ECOSOC).

Segundo ALMEIDA (1948:90), Passamos a distinguir os mecanismos convencionais e


não convencionais:
Os mecanismos convencionais de proteção dos direitos humanos são assim chamados
porque foram estabelecidos através de convenções. De uma maneira geral, são
organismos compostos por especialistas que atuam em sua responsabilidade individual,
portanto, com independência em relação aos países dos quais são provenientes. À
exceção do Comitê sobre os Direitos da Mulher, integrado por 23 membros, do Comitê
sobre os Direitos da Criança e do Comitê contra a Tortura, integrados por 10 membros,
os demais comitês são formados por 18 membros. Esses comitês têm a competência de
examinar relatórios dos governos e da sociedade civil, na perspectiva do monitoramento
da implementação dos tratados nos estados-partes.
São os seguintes os comitês responsáveis pelo monitoramento dos tratados que
constituem os treaty-monitoring bodies no âmbito das Nações Unidas:
 Comitê de Direitos Humanos:
Monitora a implementação do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (art. 28)
Comitê contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou Degradantes
Monitora a implementação da Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis,
Desumanos ou Degradantes (art. 22);

 Comitê sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial:


Monitora a implementação da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial (art. 14);
 Comitê sobre os Direitos da Criança:
Monitora a implementação da Convenção sobre os Direitos da Criança (art. 43);

 Comitê sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a


Mulher:

Monitora a implementação da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de


Discriminação contra a Mulher (art. 21).
 Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais:
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Monitora a implementação do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e


Culturais (criado por resolução do Conselho Econômico e Social).

Ao serem responsabilizados pelo exame de relatórios fornecidos pelos estados-partes (e


pela sociedade civil desses estados), os comitês de monitoramento dos tratados de
direitos humanos elaboram pareceres que têm a finalidade de auxiliar os países a
melhorar a implementação daqueles tratados, no plano interno. Na avaliação do Comitê
de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, “embora as observações finais do Comitê,
em particular suas sugestões e recomendações não sejam de caráter legalmente
vinculante, elas revelam a opinião do único órgão de especialistas encarregado de fazer
essas declarações e capaz de fazê-las.

Mecanismos extra-convencionais (Procedimentos especiais/special procedures)

De acordo ALMEIDA (1948:90-97),Os mecanismos extra-convencionais de proteção


dos direitos humanos são aqueles criados através de resolução de órgãos legislativos da
ONU, como a Comissão de Direitos Humanos, o Conselho Econômico e Social ou a
Assembléia Geral. Eles não resultam de convenções, embora, em última instância,
sejam autorizados por elas, no sentido de que medidas devem ser tomadas pelos
estados-partes para assegurar o cumprimento dos tratados, nos termos, por exemplo, do
que estabelece o art. 2. do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais. Constituem os “mecanismos”, “mandatos” ou“sistema de procedimentos
especiais”, através do qual as Nações Unidas buscam avançar na implementação dos
direitos humanos.
Os mecanismos extra-convencionais das Nações Unidas datam de 1979, e foram criados
com a finalidade de examinar violações cometidas pelos países. Na ocasião, havia a
avaliação de uma certa impotência da ONU diante das massivas e graves violações aos
direitos humanos ocorridas em diversas partes do mundo. Os relatores especiais,
representantes especiais ou experts independentes têm seu mandato estabelecido pela
Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas, órgão ao qual devem prestar contas
anualmente, durante a reunião da Comissão, em Genebra.
A Comissão estabelece dois tipos de mandatos:
 temáticos – quando se referem a situações específicas de direitos;
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 humanos – e por países – quando se referem à situação dos direitos humanos


em determinados países.
Embora sejam considerados mecanismos extra-convencionais da ONU, os relatores
especiais são os “experts em missão” previstos na Convenção sobre Privilégios e
Imunidades das Nações Unidas, de 194630, instrumento que, de alguma forma, respalda
convencionalmente a sua acção, (BIELEFELDT, 2000).
Actualmente, existem os seguintes relatores especiais, representantes especiais ou
experts independentes relacionados a temas de direitos humanos:

 Relator Especial sobre Execuções Sumárias, Arbitrárias ou Extra-judiciais;


 Relator Especial sobre a Independência dos Juízes;
 Relator Especial sobre a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou
Degradantes;
 Representante Especial sobre Refugiados Internos;
 Relator Especial sobre Intolerância Religiosa;
 Relator Especial sobre o Uso de Mercenários como Meio de Impedir Exercício
do Direito à Auto-determinação dos Povos;
 Relator Especial sobre Racismo, Discriminação Racial e Xenofobia;
 Relator Especial sobre a Venda de Crianças, Prostituição e Pornografia Infantil;
 Relator Especial sobre a Eliminação da Violência contra a Mulher;
 Relator Especial sobre os Efeitos do Lixo Tóxico e Produtos Perigosos para o
Gozo dos Direitos Humanos;
 Relator Especial sobre o Direito à Educação;
 Relator Especial sobre Direitos Humanos e Extrema Pobreza;
 Relator Especial sobre o Direito à Alimentação;
 Relator Especial sobre o Direito Moradia Adequada;
Expert Independente sobre os Efeitos do Ajuste Estrutural nas Políticas de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e Direito ao Desenvolvimento;
 Representante Especial sobre Defensores de Direitos Humanos;
 Representante Especial sobre a Proteção de Crianças Afetadas por Conflitos
Armado;
 Relator Especial sobre o Direito à Saúde.
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Os seguintes países possuem, atualmente, relatores especiais: Afeganistão, Guiné


Equatorial, República Islâmica do Irã, Iraque, Myamar, Territórios Ocupados da
Palestina, Sudão, Ex-Iugoslávia, República Democrática do Congo, Ruanda, Burindi,
Camboja, Haiti e Somália, (BIELEFELDT, 2000).
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3.0.CONCLUSÃO

O sistema das Nações Unidas para a proteção dos direitos humanos reflete o
desenvolvimento da Organização das Nações Unidas em seu primeiro cinquentenário.
Ao longo desse tempo, apesar da enorme dificuldade em consolidar o projeto de um
organismo internacional garantidor de um padrão de negociação da convivência pacífica
entre os países do mundo, foi possível à ONU estabelecer um sistema de proteção que –
amparado nos princípios da universalidade e da indivisibilidade dos direitos humanos –
viabilizasse alguma proteção para tais direitos. É patente, no entanto, a distância que
ainda existe no padrão de proteção dos direitos humanos civis e políticos em relação aos
direitos humanos econômicos, sociais e culturais.
O grande desafio que se coloca é o do estabelecimento de mecanismos de
justiciabilidade para os direitos humanos econômicos, sociais e culturais. Para tanto,
vem a contribuir o projeto de Protocolo Facultativo ao Pacto de Direitos Econômicos,
Sociais e Culturais – há vários anos em processo de negociação no âmbito da ONU. A
possibilidade de apresentação de comunicações ou denúncias individuais ao Comitê de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, prevista no projeto de Protocolo, daria um
sentido à capacidade de exigibilidade de tais direitos.
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4. Bibliografia

Almeida, Guilherme Assis de. A Declaração dos Direitos Humanos de 1948.


BIELEFELDT, Heiner. Filosofia dos direitos humanos. São Leopoldo: Unisinos, 2000.
BOBBIO, Norberto. A Era dos direitos. Rio de Janeiro: Editora Campus, 1992.
Bernstorff, Jochen v. The changing fortunes of the Universal Declaration of Human
Rights. The European Journal of International Law, v. 19, n. 5, p. 903- 924, 2008;
EDMUNDSON, William. Uma introdução aos direitos. São Paulo: Martins Fontes,
2006.
TRINDADE, José Damião de Lima. História social dos direitos humanos. São Paulo:
Peirópolis, 2002.
Moisés, Cláudia. Direito internacional dos direitos humanos: instrumentos básicos. 2.
ed.São Paulo: Atlas, 2007.
Glendon, Mary A. The forgotten crucible: the latin american influence on the universal
human rights idea. Havard Human Rights Journal, v. 16, p. 27-39, 2003.

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