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Índice

1. Introdução:................................................................................................................................1

1.1 Objectivos..................................................................................................................................2

1.1.1 Objectivo geral........................................................................................................................2

1.1.2 Objectivos específicos............................................................................................................2

1.1.3 Metodologia usada..................................................................................................................2

2. Definindo Democracia.............................................................................................................3

2.1 Principais elementos da Democracia.........................................................................................3

2.2 Direitos Humanos......................................................................................................................3

Conceitos,........................................................................................................................................3

2.2.1 Características dos Direitos Humanos....................................................................................4

2.3 Direitos Humanos e Igualdade...................................................................................................5

2.4 A VALORAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS.....................................................................6

2.4.1 O DIREITO NATURAL........................................................................................................7

2.5 Declaração Universal dos Direitos Humanos............................................................................8

2.6 Relação entre Democracia e Direitos Humanos......................................................................10

2.6.1 “Conferir poder a quem? Para que?......................................................................................11

3. Conclusão...............................................................................................................................13

4. Referências bibliográficas......................................................................................................14

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1. Introdução:
A liberdade, o respeito dos direitos humanos e o princípio da organização de eleições honestas e
periódicas são valores que constituem elementos essenciais da democracia. Por sua vez, a
democracia proporciona o quadro natural para a protecção e a realização efectiva dos direitos
humanos. Esses valores são encarnados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e
desenvolvidos no Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, que consagra uma série
de direitos políticos e liberdades civis que constituem os pilares de uma verdadeira democracia.

O principal desafio que enfrenta as democracias contemporâneas refere-se à produção


equilibrada dos seus mais importantes atributos: a estabilidade política e a representatividade.
Para um melhor entendimento conceitual, convém analisar a democracia como ideia e, por outro
lado, como sistema de governo. A democracia como forma de governo consiste na democracia
política e a democracia como ideia, pode ser caracterizada de forma genérica como um modo de
vida - social ou moral.

A democracia é entendida como um regime político que melhor protege e promove os direitos
humanos. É definida ainda, como regime fundado na soberania popular, na separação e
desconcentração de poderes, com pleno respeito aos direitos humanos.

Esta breve abordagem procura agregar o conceito democracia política e democracia social; ou
seja, reúne as liberdades civis, a separação e o controle sobre os poderes, a alternância e a
transparência no poder, a igualdade jurídica e a busca da igualdade social, a exigência da
participação popular na esfera pública, a solidariedade, o respeito à diversidade e a tolerância.
Para a democracia, o abandono das instituições públicas onde os cidadãos são iguais é mais
funesto que a má distribuição de rendas. Michael Walzer destaca que:

O princípio da igualdade está melhor servido não pela garantia da distribuição de rendas
igualitárias, mas pela fixação de limites ao imperialismo de mercado que transforma os bens
sociais em mercadorias. O dinheiro passa a ter domínio em outras esferas que não a económica.
A igualdade civil e social sugere uma aproximação daquilo que seria a igualdade económica.
(WALZER apud LASCH, 1985, p.31)

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1.1 Objectivos

1.1.1 Objectivo geral

 Descrever, caracterizar e compreender a Democracia e Direitos Humanos.

1.1.2 Objectivos específicos

 Definir a conceitualização de Democracia e Direitos Humanos,


 Descrever e compreender as suas características;

 Explicar os elementos da democracia;

 Descrever a possível relação entre Democracia e Direitos Humanos.

1.1.3 Metodologia usada

Para a realização deste trabalho foi feita uma revisão bibliográfica e foram colectadas
informações na base de fontes virtuais.

Lakatos e Marconi acreditam que metodologia é a pesquisa bibliográfica que permite o


pesquisador entre em contacto directo com tudo que foi escrito e possibilita o encontro com
aspectos importantes com o tema.

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2. Definindo Democracia
“A democracia é baseada na vontade livremente expressa do povo para determinar seus próprios
sistemas, político, económico, social e cultural e sua participação completa em todos os aspectos
de suas vidas.” Essa assertiva da Declaração de Viena é, talvez, o melhor ponto de partida. Como
todas as definições plausíveis, está enraizada na etimologia do termo, o grego demokratia,
literalmente, governo ou poder (kratos) do povo (demos).

2.1 Principais elementos da Democracia

Em 2000, a Comissão recomendou uma série de medidas legislativas, institucionais e práticas


importantes que visavam consolidar a democracia (resolução 2000/47); e, em 2002, a Comissão
declarou que os elementos que se seguem eram essenciais à democracia:

 Respeito dos direitos humanos e das liberdades fundamentais


 Liberdade de associação

 Liberdade de expressão e de opinião

 Acesso ao poder e ao seu exercício, de acordo com o Estado de direito

 Realização de eleições livres, honestas e periódicas por sufrágio universal e voto secreto,
reflexo da expressão da vontade do povo

 Um sistema pluralista de partidos e organizações políticas

 Separação de poderes

 Independência da justiça

 Transparência e responsabilidade da administração pública

 Meios de comunicação social livres, independentes e pluralistas

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2.2 Direitos Humanos

Conceitos,
Direitos Humanos são valores, princípios e normas que se referem ao respeito à vida e à
dignidade. A expressão refere-se a organizações, grupos e pessoas que atuam na defesa desse
ideário. Os direitos humanos estão consagrados em declarações, convenções e pactos
internacionais, sendo a referência maior a Declaração Universal dos Direitos Humanos.

2.2.1 Características dos Direitos Humanos

 Naturais: Dizem respeito à dignidade da natureza humana, existem antes de qualquer lei
e não precisam estar nele especificado para sua efetivação.

 Universais: Estão acima das fronteiras geopolíticas. Referem-se à pessoa humana na sua
universalidade, sem qualquer distinção de etnia, nacionalidade, sexo, classe social, nível
de instrução, religião, opinião política, orientação sexual, ou de qualquer tipo de
julgamento moral. Abrange os direitos da cidadania.

 Históricos: Mudam ao longo do tempo num mesmo país e são reconhecidos de forma
diferente em países distintos.

 Indivisíveis e interdependentes: Não podem ser fraccionados; nem considerados


cumpridos, se separados.

Dalmo Dallari ressalta que os direitos humanos/fundamentais que nos devem ser garantidos
desde o nascimento, é condição mínima para que possamos nos tornar úteis à humanidade. Além
disso, precisamos poder usufruir dos benefícios que a vida em sociedade pode nos trazer. Assim
sendo, define que:

“Esse conjunto de condições e possibilidades associa as características naturais dos seres


humanos, a capacidade natural de cada pessoa e os meios de que a pessoa pode valer-se como
resultado da organização social. É a esse conjunto que se dá o nome de direitos humanos” (1998,
p. 7)

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Benevides nos dá o seguinte conceito de direitos humanos, sintetizando o que foi exposto até
aqui

“Direitos humanos são aqueles direitos fundamentais, a partir do núcleo fundador do direito à
vida, que decorrem do reconhecimento da dignidade de todo ser humano, sem nenhuma
distinção, e que, hoje, fazem parte da consciência moral e política da humanidade. Em sua
noção contemporânea, são herdeiros do iluminismo e dos mais generosos ideais do liberalismo
político e das revoluções do século18”(in Carvalho, 2004, p. 43)

Direitos Humanos são aqueles direitos comuns a todos os seres humanos, sem distinção de raça,
nacionalidade, sexo, etnia, nacionalidade, orientação sexual, nível socioeconómico, religião,
instrução, opinião política e julgamento moral, e que têm como pressuposto fundamental e,
óbvio, o direito à vida. Decorrem do reconhecimento da dignidade intrínseca a todo ser humano
e difere dos outros direitos do cidadão (embora estes estejam, ai incluídos em grande parte)
porque os direitos humanos extrapolam as condições legais e as fronteiras, as quais definem
cidadania e nacionalidade. A ausência de cidadania jurídica, por exemplo, não implica na
ausência de direitos humanos. Nesse momento, torna-se necessário, para fins didácticos e de
compreensão histórica, classificar os direitos humanos em três gerações as quais, correspondem
de certa forma, àqueles ideais a Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Por
Liberdade, engloba os direitos civis, políticos e as liberdades individuais, fruto da longa marcha
das ideias liberais e têm sua inserção marcada pelas conquistas libertárias. Por Igualdade,
entendem-se os direitos económicos e sociais (basicamente vinculados ao mundo do trabalho).
Por Fraternidade, entendem-se os direitos decorrentes da solidariedade, alguns falam em
fraternidade planetária. Corresponde ao direito à autodeterminação dos povos e passou incluir
mais recentemente, o direito ao desenvolvimento, o direito à paz, ao meio ambiente saudável, ao
usufruto dos recursos naturais qualificados como património comum da humanidade.

2.3 Direitos Humanos e Igualdade


No curso de seu meio século de existência a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
cumpriu um papel fundamental na história da humanidade. Reacendeu as esperanças de todos os
oprimidos, fornecendo linguagem autorizada à semântica de suas reivindicações. Proporcionou
bases legislativas às lutas políticas pela liberdade e, inspirou a maioria das constituições na
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positivação dos direitos da cidadania. Lançou a pedra fundamental aos alicerces de uma nova
disciplina jurídica, o Direito Internacional dos Direitos Humanos. Estabeleceu parâmetros para
aferição da legitimidade de qualquer governo, substituindo a eficácia da força bruta pela força
ética.

Mobilizou agências governamentais e não-governamentais para actuações solidárias, esboçando


uma sociedade civil transcultural como possível embrião de uma verdadeira comunidade
internacional. É fato que nenhuma dessas conquistas se verificou sem controvérsias, sem lutas.
Não deixa de ser curioso que a Declaração de 1948, que surgiu com uma configuração de
manifesto, meramente recomendatório, tenha conseguido repercussão tão generalizada, quando
era politicamente válido questionar sua universalidade. Mais paradoxal é a situação em que se
encontra agora. Essa Declaração introjetou-se no âmago da sociedade civil e suas várias
manifestações encontram-se na formação de comunidades civis organizadas no combate à
violência, à exploração do trabalho infantil, trabalho escravo, no combate à AIDS, Comissão de
Defesa dos Direitos Humanos, formação de grupos de combate á violência contra mulher,
étnicos raciais e género, Entidades não-governamentais - ONG’s - de defesa ao meio-ambiente e
ao homem do campo, entre outros.

2.4 A VALORAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS


Segundo Pinheiro (2008, p.02), apesar do reconhecimento dos Direitos Humanos terem longas
raízes antigas, seu reconhecimento é moderno, seus frutos são modernos. Mas sua concretização
está longe de se esgotar, pois é infindável a conquista por novos direitos. Mas muitas vezes se
faz necessário resgatar os antigos direitos.

Ainda segundo pinheiro (2008, p. 02), não foram esgotadas as possibilidades dos Direitos
Humanos, longe disso, pois a cada etapa da nossa evolução implica a conquista de novos
direitos. Isto significa uma reconquista de algo que se perdeu no passado distante, quando os
seres humanos foram divididos em proprietários e não proprietários (SILVA, 2004, p. 153).

Para compreender os princípios dos Direitos Humanos mister se faz estudar o passado, o
presente e o futuro, compreender como os Direitos Humanos foram abordados em cada fase da

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história. Segundo Pinheiro (2008, p. 02), que os ordenamentos jurídicos devem reconhecer as
exigências de dignidade, liberdade e igualdade humanas.

Segundo Silva (2004, p. 93), no que tange ao princípio constitucional da dignidade da pessoa
humana: [...] “ é um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do
homem, desde o direito à vida” [...].

Valorizar os Direitos Humanos é valorizar o homem, é valorizar a vida. Para Montoro apud
Marcilio e Pussoli (1998, p.15), “ as pessoas não são sombras, não são aparências, são realidades
concretas e vivas”.

Segundo Pinheiro (2008, p. 03), o reconhecimento da dignidade do ser humano como valor
fundamental é de suprema importância e convivência para a elaboração de qualquer estudo sobre
os Direitos Humanos. E nas palavras de Silva (2004, p. 105, grifo nosso), “valor supremo que
atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem”.

Para Comparato, (2003, p. 57), os Direitos Humanos são inerentes ao próprio ser humano, sem
estar conectado com qualquer particularidade de pessoas ou grupo. Não se pode falar em Direitos
humanos sem abordar a dignidade e não se pode falar em dignidade sem abordar os Direitos
Humanos.

2.4.1 O DIREITO NATURAL


Para entendermos o verdadeiro conceito de Direitos Humanos, e para fazermos uma correta
contextualização histórica, mister se faz que entendamos a noção de Direito Natural.

Segundo Radbruch, (1979, p. 61-62): “O direito natural da antiguidade, por exemplo, girava em
torno da antítese: natureza-normas; o da Idade Média, em torno da antítese direito divino-direito
humano; o dos tempos modernos, em torno da antítese: direito positivo-razão individual”.

Disse Bobbio (1992, p. 117): [...] “o homem é um animal político que nasce num grupo social, a
família, e aperfeiçoa sua própria natureza naquele grupo social maior, auto-suficiente por si
mesmo, que é a polis; e, ao mesmo tempo, era necessário que se considerasse o individuo em si
mesmo, fora de qualquer vínculo social e político, num estado, como o estado de natureza”.

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Prestar atenção no bem e evitar fazer o mal, é o preceito máximo do Direito Natural. O homem
possui instinto de preservação, autoconservação da espécie humana, união dos ser, formação da
família, a busca pela verdade, participação na sociedade. A natural inclinação do homem. Assim,
seria de Direito Natural essa natural inclinação da criatura humana, estabelecida pela natureza.

E nesse sentido disse Nader (1996, p. 124): “A lei natural, na filosofia tomista, é a participação
da criatura racional na lei eterna. É um reflexo parcial da razão divina, que permite aos homens
conhecer princípios da lei eterna”.

2.5 Declaração Universal dos Direitos Humanos


Tecnicamente sem nenhuma força jurídica, apenas uma recomendação da assembleia Geral das
Nações Unidas, e retomando as ideias da Revolução Francesa e, principalmente sob os impactos
das perversidades cometidas na Segunda Guerra Mundial, foi redigida a Declaração dos Direitos
Humanos a 10 de Dezembro de 1948, tendo como reconhecimento a trindade de valores
supremos a igualdade, fraternidade e liberdade entre os seres humanos.

Para Comparato (2003, p. 224), na elaboração da declaração houve um excesso de formalismo,


uma vez que os Direitos Humanos são mais importantes que todas as declarações, constituições,
leis ou tratados. Os Direitos Humanos são independentes.

Constatamos no seu artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos que todas as
pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Todos somos dotados de razão e devemos
agir em relação uma das outras com espírito de fraternidade, ou seja, este ai contido no artigo 1º
a tríade igualdade, liberdade e fraternidade, mas constatamos que estes princípios são exercidos
com plenitude apenas em nossos pensamentos. Pois impera na sociedade actual uma imensa
desigualdade, principalmente no que tange a distribuição de rendas, que é tão desigual e
desumana.

No seu 2º artigo a declaração fala sobre a liberdade, mas como disse antes liberdade temos
apenas no ato de pensar, e na maioria das vezes não podemos nem exteriorizar nossos
pensamento em palavras, pois já somos julgados e, condenados pela sociedade.

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No seu artigo 3º a declaração diz que toda pessoa tem direito à vida, a liberdade e a segurança
pessoal. Basta ligarmos a televisão em qualquer noticiário, abrirmos os jornais, nas capas de
revistas, constataremos que a violência é crescente, e que nunca, na história da humanidade, tais
direitos foram tão desrespeitados.

No seu artigo 4º nos diz que ninguém será mantido como escrava, lembra-nos que findou-se a
escravidão. Mas o que vemos é inacreditável, filhos são mantidos escravos pelos próprios pais,
trabalhadores são mantidos como escravos nas fazendas, e todos somos escravos de um sistema
ingrato, desleal e desumano, onde o mais pobre é o que mais sofre.

No artigo 5º a declaração diz que ninguém poderá sofrer qualquer espécie de tortura, nem a
tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante. Convido à todos para irmos à África, ou
nas periferias e favelas da América Latina, ou nos bairros pobres de nossas cidades. O que
constataremos? Sofrimentos, torturas, desigualdades, etc, etc...

Infelizmente constatamos que todos os artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos de
1948 são desrespeitados. Países estão criando leis que cada vez mais promovem a desigualdade
entre os seres humanos, infringindo assim cada artigo da referida declaração. Principalmente no
que tange ao 30º artigo da declaração, onde está instituído que nenhum Estado, grupo ou pessoa
pode exercer qualquer actividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de qualquer dos
direitos e liberdades estabelecidos na referida declaração.

Assim, podemos constatar que temos o instrumento adequado, ou seja, a Declaração Universal
dos Direitos Humanos, para obedecer e segui-lo fielmente, mas isso não acontece, pelo contrário,
constatamos justamente o oposto, um total desrespeito ao tão importante e humanista tratado.

Mister se faz que nos unamos e façamos valer nossos direitos, não compactuando com tal
desigualdade, para não dizer maldade, que alguns seres humanos e instituições infringem à
outros seres humanos, geralmente menos favorecidos e marginalizados.

Infelizmente constatamos que a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 são apenas
lindas teorias sobre os direitos fundamentais dos seres humanos, pois a prática muito se difere de

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tais teorias, mas tais teorias são anseios dos homens, e isso nos dá esperança, pois tais anseios
poderão um dia serem vividos em plenitude pelos seres humanos, bastando que para isso o
querer seja maior que o desejo.

2.6 Relação entre Democracia e Direitos Humanos


Já notamos que normas internacionais de direitos humanos exigem um governo democrático.
Nesse sentido, existe uma conexão necessária entre direitos humanos (como definidos
positivamente na Declaração Universal) e democracia. Mas o elo não corre na direcção contrária.

Democracia, como discutirei abaixo, contribui só contingencialmente para a realização da


maioria dos direitos humanos internacionalmente reconhecidos. “Democracia plena”, o que quer
que possa significar, não precisa significar realização completa de direitos humanos
internacionalmente reconhecidos – a menos que estipulemos que o faz, em cujo caso tudo que
temos é uma tautologia desinteressante.

Direitos de participação democrática constituem uma pequena selecção de direitos humanos


internacionalmente reconhecidos. E aqueles direitos se aplicam igualmente contra governos
democráticos e não-democráticos. ‘Todos são iguais perante a lei e têm o direito, sem qualquer
discriminação, à igual protecção da lei.” (Declaração Universal, Artigo 7) O povo, não menos do
que um restrito segmento da sociedade, está impedido de negar a qualquer indivíduo ou grupo
protecção igual da lei. “Todos têm o direito ao trabalho, à escolha livre de emprego, a condições
justas e favoráveis de trabalho e à protecção contra o desemprego.” (Artigo 23) Essa exigência se
põe tanto para governos democráticos quanto para qualquer outra forma de governo.

Pode ser o caso que todo o povo está menos propenso a violar os direitos humanos do que
qualquer outro segmento particular. Mas, em muitos casos, não está. Pode ser o caso que uma
população emancipada está mais propensa a usar seus direitos humanos de forma democrática.
Mas frequentemente não o fazem. Sem negar as afinidades entre democracia e direitos humanos
– especialmente o compromisso compartilhado com uma ideia de dignidade política igual para

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todos – enfatizarei, a seguir, os conflitos possíveis entre a lógica da democracia e a lógica dos
direitos humanos individuais.

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2.6.1 “Conferir poder a quem? Para que?
A democracia visa conferir poder ao povo, para assegurar que o povo, ao invés de outro grupo na
sociedade, governe. A democracia exige que a autoridade soberana seja dirigida num caminho
particular. Exige pouco do povo soberano, que precisamente porque é soberano é livre, conforme
a Declaração de Viena expressa, “para determinar seus próprios sistemas político, económico,
social e cultural.”

Os direitos humanos, por outro lado, visam conferir poder aos indivíduos, para assegurar que
cada pessoa receba certos bens, serviços e oportunidades. Os direitos humanos estabelecem,
assim, um conjunto de restrições substantivas no espectro aceitável de sistemas políticos,
económicos e sociais assim como a legislação comum e prática administrativa de qualquer
governo, democrático ou não. Mais importante do que quem deve governar – o que é
solucionado com uma resposta democrática – os direitos humanos preocupam-se com como o
povo (ou qualquer outro grupo) governa. Os direitos humanos limitam mais do que conferem
poder ao povo e seu governo, exigindo desses que façam certas coisas e se abstenham de fazer
outras.

A vontade do povo frequentemente diverge dos direitos dos cidadãos individuais, não importa
como essa vontade é averiguada – a menos que estipulemos que o povo não queira nada
inconsistente com os direitos humanos internacionalmente reconhecidos.

Os governos frequentemente são eleitos para servir os interesses de uma maioria eleitoral, mais
do que os direitos de todos. A democracia directa de pequena escala, como o povo de Atenas
ilustra tão dramaticamente, pode ser tão intolerante e paranóica como qualquer outra forma de
governo. O destino de direitos humanos internacionalmente reconhecidos nas “democracias dos
povos” (regimes de partidos de vanguarda) tem sido, pelo menos, tão ruim como na maioria de
outras formas de governo.

“As democracias dos povos” marxistas oferecem um exemplo particularmente surpreendente das
diferenças nos projectos políticos implícitas nos slogans “todos direitos humanos para todos” e
“todo poder para o povo”. Quaisquer que sejam os problemas práticos do mundo real dos
regimes stalinistas, existe um sentido profundo no qual a ideia marxista da ditadura do
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proletariado é a culminação do ideal democrático clássico, actualizado numa visão igualitária
profunda do proletariado como a classe universal. Aqueles que insistem em perseguir os
interesses de classe (ou outro egoísta) inconsistentes com aqueles do proletariado estão, em nome
da democracia, coagidos a agir de conformidade com o bem de todos. Qualquer outra alternativa
seria, num sentido muito real, antidemocrático.

A resposta dos defensores dos direitos humanos seria “ tanto pior para a democracia.” Os direitos
humanos são profundamente antidemocráticos, sob qualquer definição plausível de democracia
sem um modificador que construa sobre direitos humanos. De fato, num regime democrático, a
função mais importante dos direitos humanos é “frustrar a vontade do povo” quando aquela
vontade se intromete nos bens, serviços e oportunidades garantidas a todos pelos direitos
humanos. Por exemplo, a Suprema Corte dos Estados Unidos é frequentemente criticada como
sendo antidemocrática, no sentido de que regularmente frustra a vontade do povo. É. E aquele é
um propósito central da revisão constitucional: assegurar que o povo não exerça sua soberania
em caminhos que violação.

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3. Conclusão
Poder projectar o futuro, vislumbrar perspectivas dignas da existência, poder expressar sua
maneira de entender o mundo por meio de crenças, manifestações culturais e práticas sócio -
políticas, com qualidade de vida, habitando em ambiente sustentável e agradável, com
assistência médica, alimentos de qualidade, infra-estrutura urbana e rural, lazer são
características que sintetizam o cidadão do mundo contemporâneo. As interpretações feitas pelas
Declarações de Viena de 1993 e de Beijing em 1995, deixaram de ser dirigidas apenas contra o
Estado. Ao proteger mais claramente os direitos da mulher, das crianças, dos indígenas e das
minorias oprimidas dentro das sociedades nacionais, os direitos humanos tornaram-se também
instrumentos contra a ‘capilaridade do poder’ exercido por agentes não-estatais.

A democracia, a cidadania e os direitos estão sempre em processo de construção. Isso significa


que não podemos determinar para certas sociedades uma lista de direitos. Essas reivindicações
serão sempre historicamente determinadas. Como bem verificou Hannah Arendt (1998): "o que
permanece inarredável, como pressuposto básico, é o direito a ter direito".

O processo de construção democrática, implica a criação de espaços sociais de lutas e a definição


de instituições permanentes para expressão política. Distingue-se, da cidadania passiva - aquela
que é outorgada pelo Estado, como ideia moral de tutela e do favor - da cidadania activa, aquela
que institui o cidadão como portador de direitos e deveres, mas essencialmente criador de
direitos para abrir espaços de participação e possibilitar a emergência de novos sujeitos políticos.

Com as questões indicadas nesse artigo não se pretendeu esgotar análises sobre identidade,
direitos humanos e globalização, mas, sim intencionou-se explorar um pouco a complexidade
dos contextos contemporâneos em torno de justiça social e democracia.

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4. Referências bibliográficas
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new world order. Cambridge: Poly Press, 1995.
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4) CHAUI, Marilena. Cultura e democracia. São Paulo: Brasiliense, 1984.
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8) HONNETH, Axel. Luta por reconhecimento: gramática moral dos conflitos. São
Paulo: Ed. 34, 2003, p.07-26.
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