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UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO

Licenciatura em Direito

Nome de estudante: Nelson Simão Fernando

Tema: A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral

Beira, Maio de 2022


UNIVERSIDADE ABERTA ISCED

FACULDADE DE DIREITO

Licenciatura em Direito

Tema: A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral

Trabalho de Campo a ser submetido na


Coordenação do Curso de Licenciatura em
Direito do ISCED.

Tutor:

Nome de estudante: Nelson Simão Fernando

Beira, Maio de 2022


Índice

1. Introdução............................................................................................................................ 4
2. A Vida Humana Como Valor Ético .................................................................................... 5
3. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida ............................................................ 6
4. Pessoa como Categoria Ética .............................................................................................. 9
5. Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa ............................................................................ 10
6. Pessoa na sua Relação com os Outros ............................................................................... 11
7. O significado ético da relação da pessoa com os outros ................................................... 12
8. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral ............................................................... 12
9. Conclusão .......................................................................................................................... 14
10. Bibliografia .................................................................................................................... 15
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1. Introdução

Entre a liberdade e a moral existe uma relação intrínseca que faz da liberdade o fundamento
do agir moral e deste o resultado e a expressão daquela. Um acto moral só pode ser moral se
for incondicionalmente livre. Para Kant (1988), o acto moral é aquele que encontra o fim em
sí mesmo, que é absoluto, praticado por obediência à lei prática, como o cumprimento do
dever.

A liberdade é a razão de ser da lei moral e a afirmação do sujeito que age como pessoa, com
boa vontade e que, mesmo agindo por dever, age livremente pois obedece à sua própria lei.
Por isso, para a liberdade é a condição da lei moral e a lei moral é a condição sob a qual
primeiramente podemos nos tornar conscientes da liberdade. Daí que, a liberdade é a razão de
ser da lei moral, e esta a razão de conhecer da liberdade. Portanto, se a liberdade fundamenta
a Lei moral, então a lei moral manifesta a liberdade. Observemos a relação entre a liberdade e
a moralidade, no dizer de Kant (1988: 95-96):“Não basta que atribuamos liberdade à nossa
vontade, seja porque razão for, senão tivermos também razão suficiente para a atribuirmos a
todos os seres racionais.

Pois como a moralidade nos serve de lei somente enquanto somos seres racionais, tem ela que
valer também para todos os seres racionais; e como não pode derivar-se senão da propriedade
da liberdade, tem que ser demonstrada a liberdade como propriedade da vontade de todos os
seres racionais, e não basta verificá-la por certas supostas experiências da natureza humana
(se bem que isto seja absolutamente impossível e só possa ser demonstrado a priori), mas sim
temos que demonstrá-la como pertencente à actividade dos seres racionais em geral e dotados
de uma vontade.
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2. A Vida Humana Como Valor Ético

Para Costa et al (1998), qualquer acção humana que tenha algum reflexo sobre a vida das
pessoas e seu meio ambiente, deve necessariamente implicar o reconhecimento de valores e
uma avaliação de como estes poderão ser afectados. O primeiro desses valores é a própria
pessoa, com as peculiaridades que são inerentes à sua natureza, inclusivamente as suas
respectivas necessidades materiais, psíquicas e espirituais.

Atenção, ignorar a valorização destes aspectos ao praticar actos que produzam algum efeito
sobre a pessoa humana, seja directa ou indirectamente sobre ela através de modificações do
meio em que ela existe, é neste caso reduzir a pessoa a uma condição de “coisa” ou “objecto”,
retirando dela a sua dignidade.

Esta situação é válida tanto para as acções do governo como para as actividades que afectam a
natureza, para empreendimentos económicos, acções individuais ou colectivas, como também
para criação e aplicação de tecnologia ou para qualquer actividade no campo da ciência. Entre
os valores inerentes a condição humana está na “vida”. Embora sua origem permaneça um
mistério, tendo-se conseguido, no máximo associar elementos que a produzem ou saber que
em certas condições ela se produz, o que se tem como certo é que sem ela a pessoa humana
não existe como tal, razão pela qual é de capital importância para a humanidade o respeito a
origem, à conservação e a extinção da vida.

Como foi assinalado por Aristóteles e por muitos outros pensadores, e as modernas ciências
que se ocupam do ser humano e do seu comportamento o confirmam, o ser humano é
associativo por natureza. Por necessidade material, psíquica (incluindo as necessidades
intelectuais e afectivas), espiritual, todo o ser humano depende dos outros para viver, para
desenvolver sua vida e para a sua sobrevivência.

A percepção desse facto, é que faz da vida um valor, tanto nas sociedades que se consideram
mais evoluídas e complexas quanto naquelas que são julgadas de simples e rudimentares,
Costa et al. (1998). Deste modo, reconhecida a vida como um valor, foi que se chegou ao
costume de respeitá-la, o que se tornou uma espécie de conduta para todos os povos, embora
com algumas variações decorrentes de peculiaridades culturais existentes em cada uma delas.
De acordo com Costa et al. (1998), independentemente de crenças religiosas ou de convicções
filosóficas ou políticas, a vida é um valor ético.

Na convivência necessária com outros seres humanos, cada pessoa é condicionada por esse
valor e pelo dever de respeitá-lo, tenha ou não consciência do mesmo. A par disso, é oportuno
lembrar que tanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos, editada pela ONU em 1948,
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quanto os Pactos de Direitos Humanos que ela aprovou em 1966 proclamam a existência de
uma dignidade essencial e intrínseca, inerente à condição humana.

3. Os Direitos Humanos: Defesa da Pessoa e da Vida

A expressão Direitos Humanos já diz, claramente, o que este significa. Direitos Humanos são
os direitos do homem. São direitos que visam resguardar os valores mais preciosos da pessoa
humana, ou seja, direitos que visam resguardar a solidariedade, a igualdade, a fraternidade, a
liberdade, a dignidade da pessoa humana. No entanto, apesar de facilmente identificado, a
construção de um conceito que o defina, não é uma tarefa fácil, em razão da amplitude do
tema.

Os Direitos Humanos colocam-se como uma das previsões absolutamente necessárias a todas
as Constituições, no sentido de consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação
de poder e visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana." São direitos que visam
salvaguardar os valores mais preciosos da pessoa humana, tais como a solidariedade, a
dignidade. Há que salientar que, os Direitos Humanos devem ser reconhecidos em qualquer
Estado, grande ou pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e económico
que essa nação adopta”.

Sendo assim, podemos entender "Por direitos humanos ou direitos do homem são,
modernamente, isto é, aqueles direitos fundamentais que o homem possui pelo facto de ser
homem, por sua própria natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente”. Podemos
afirmar, portanto, que Direitos Humanos constituem aqueles direitos inerentes à pessoa
humana, que visam resguardar a sua integridade física e psicológica perante seus semelhantes
e, perante o Estado em geral. De forma a limitar os poderes das autoridades, garantindo,
assim, o bem-estar social através da igualdade, fraternidade e da proibição de qualquer
espécie de discriminação. Todas as pessoas têm portanto direitos iguais.

Os Direitos Humanos colocam-se como uma das previsões absolutamente necessárias a todas
as Constituições, no sentido de consagrar o respeito à dignidade humana, garantir a limitação
de poder e visar o pleno desenvolvimento da personalidade humana. Todas as pessoas têm
direitos e são indiscutíveis e inalienáveis. Encontram-se descritos na Declaração Universal
dos Direitos Humanos, adoptada em 1948 pelas Nações Unidas. No final da Idade Média, no
século XIII, aparece a grande figura conhecida no mundo inteiro, Santo Tomás de Aquino,
que tem elevada importância para a recuperação do reconhecimento da dignidade essencial da
pessoa humana.
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Muito embora, sendo um pensador cristão, Santo Tomás de Aquino retomou Aristóteles, sob
muitos aspectos e procurou fixar conceitos universais. Dos estudos, pondo-se de parte alguns
pontos de suas ideias que se apoiam em dogmas de fé, resultam noções fundamentais que
foram e podem ser acolhidas mesmo por quem não aceite os princípios cristãos. Tomando
neste caso, a vontade de Deus como fundamento dos direitos humanos, Santo Tomás de
Aquino, condena as violências e as discriminações, dizendo que o ser humano possui Direitos
Naturais que devem ser sempre respeitados, chegando a afirmar o direito de rebelião dos que
forem submetidos a condições indignas.

Nessa mesma época nasce a burguesia, uma nova força social, composta por plebeus que
foram acumulando riqueza mas continuavam excluídos do exercício do poder político e, por
isso, eram também vítimas de violências, discriminações e ofensas à sua dignidade. Durante
alguns séculos foram ainda mantidos os privilégios da nobreza, que, associada à Igreja
Católica, tornara-se uma considerável força política e usava a fundamentação teológica dos
Direitos Humanos para sustentar que os direitos dos reis e dos nobres decorriam da vontade
de Deus. E assim, estariam justificadas as discriminações e as injustiças sociais. Os séculos
XVII e XVIII trouxeram elementos novos, que acabaram pondo fim aos antigos privilégios.

No campo das ideias, surgiram grandes filósofos políticos, que reafirmaram a existência dos
direitos fundamentais da pessoa humana, sobretudo os direitos à liberdade e à igualdade, mas
dando como fundamento desses direitos a própria natureza humana, descoberta e dirigida pela
razão. Isto favoreceu a eclosão de movimentos revolucionários que, associando a burguesia e
a plebe, ambas interessadas na destruição dos seculares privilégios, levaram à derrocada do
antigo regime e abriram caminho para a ascensão política da burguesia.

Os pontos culminantes dessa fase revolucionária foram a independência das colónias Inglesas
da América do Norte, em 1776 e a Revolução Francesa, que obteve a vitória em 1789. A nova
situação criada a partir daí foi inteiramente favorável à burguesia, mas adiantou muito pouco
para os que não eram grandes proprietários. Em 1789 foi publicada a Declaração dos Direitos
do Homem, onde se afirmava, no seu primeiro artigo, que “todos os homens nascem e
permanecem livres e iguais em direitos”, mas, ao mesmo tempo, admita “distinções sociais”,
as quais, conforme a Declaração, deveriam ter fundamento na “utilidade comum” Costa et al.
(1998).

Logo foram achados os pretextos para essas distinções, instaurando-se, desse modo, um novo
tipo de sociedade discriminatória, com novas classes de privilegiados, estabelecendo-se
enorme distância entre as camadas mais ricas da população, pouco numerosas, e a grande
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massa dos mais pobres. Sob o pretexto de garantir o direito à liberdade, esquecendo
completamente a igualdade, foram criadas novas formas políticas que passaram a caracterizar
o Estado liberal burguês, o mínimo possível de interferência nas actividades económicas e
sociais, supremacia dos objectivos do capitalismo, com plena liberdade contratual, garantia da
propriedade como direito absoluto, sem responsabilidade social, e ocupação de cargos e das
funções públicas mais relevantes apenas por pessoas do sexo masculino e com independência
económica. As diferenças devem portanto ser fonte de aprendizagem e de enriquecimento, e
não motivo de descriminação.

As injustiças acumuladas, as discriminações formalmente legalizadas, o uso dos órgãos do


Estado para sustentar privilégios dos mais ricos e de seus serviçais acarretaram sofrimentos,
miséria, violência e inevitáveis revoltas, agravadas pelas disputas, sobretudo de natureza
económica, entre os participantes dos grupos sociais mais favorecidos, em âmbito nacional e
internacional.

Essa produção de injustiças teve como consequências a perda da paz, com duas guerras
mundiais no século XX, chegando-se a extremos, jamais imaginados, de violência contra a
vida e a dignidade da pessoa humana. Um aspecto paradoxal da história dos direitos humanos
é que, apesar de serem direitos de todos os seres humanos, o que deveria levar à conclusão
lógica de que nenhuma pessoa é contra os insumos, pois não é razoável que alguém se
posicione contra seus próprios direitos, não é isso o que se tem verificado. Existem pessoas
que colocam suas ambições pessoais, busca de poder, prestígio e riqueza acima dos valores
humanos, sem perceber que desse modo eliminam qualquer barreira ética e semeiam a
violência, criando insegurança para si próprias e para o seu património.

Isto explica as violências na Idade Média, com o estabelecimento dos privilégios da nobreza e
a servidão dos trabalhadores. Essa é, também, a raiz das agressões sofridas pelos índios da
América Latina com a chegada dos europeus. Assinala-se também que existem pessoas
ingénuas, mal informadas ou excessivamente temerosas, que não chegam a perceber o jogo
malicioso dos dominadores, feito especialmente através dos meios de comunicação de massa.
A defesa dos direitos humanos é apresentada como um risco para a sociedade, uma subversão
dos direitos patrimoniais, aterrorizando-se essas pessoas com a afirmação de que a defesa dos
mais pobres significa uma caminhada para a pobreza generalizada, pois existem bens
suficientes para serem distribuídos.
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4. Pessoa como Categoria Ética

Todos sabemos que somos animais da classe dos mamíferos, da ordem dos primatas, da
familia dos hominideos, do género homo, da espécie sapiens, que o nossso corpo é uma
máquina com trinta bilhões de células, controlada e procriada por um sistema genético que se
constistuiu no decurso de uma longa evolução natural de 2 a 3 bilhões de anos, o cérebro com
que pensamos, a boca com que falamos, a mão com que escrevemos, são órgãos biológicos,
mas este conhecimento é tão inoperante como o que nos informa que o nosso organismos é
constituído por combinações de carbono, de hidrogénio, de oxigénio e azoto”.(Morin, 1975:
15).

O relato de Edgar Morin, acima citado, mostra-nos que somos diferentes relativamente aos
outros animais. O homem é um ser capaz de dizer sim ou não a algo. Portanto, é o sujeito que
manifesta a sua autonomia em relação a natureza e ao mundo que o rodeia. O homem possui
qualidades que o constitui como um sujeito impar no universos dos outros animais tais como:
a conscieência de si mesmo, reter opassado, prever o futuro, dar nomes aos objectos,
ultrapassando os limites graças a sua imaginação. Fortes, (1995). Perante estes factos
podemos concluir que a realidade humana não se limita no ser biológico, uma vez que exige e
comporta outras vertentes como psicológica, social, cultural e moral. Por isso, o ser humano é
o resultado de vários processos: biológicos, psicológicos, sociais, culturais e morais. Estes
factores encontram- se conjugados numa complexa relação interindividual.

É nesse contexto que o homem se descobre a si mesmo como um indivíduo pensante, e


descobre a existência dos outros como a condição da sua existência. Falemos de seguida deste
indivíduo biológico e social. Do ponto de vista da Ética, existe a consciência moral que é a
faculdade de distinguir o bem do mal, de que resulta o sentimento do dever ou da interdição
de se praticarem determinados actos, a aprovação ou remorso por havê-los praticado. A ética
ou filosofia moral é a parte da Filosofia que se ocupa com a reflexão a respeito das noções e
princípios que fundamentam a vida moral. A instauração do mundo moral exige do homem a
consciência crítica, que chamamos de consciência moral. Vidal, (2007). Trata-se do conjunto
de exigências e das prescrições que reconhecemos como válidas para orientar a nossa escolha
é a consciência que discerne o valor moral dos nossos actos.

Para um acto ser considerado moral deve ser livre, consciente, intencional. Mas é preciso que
não seja um acto solitário e sim solidário. Costa, (1998). O acto moral supõe a solidariedade,
a reciprocidade com aqueles com os quais nos comprometemos. E o compromisso não deve
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ser entendido como algo superficial e exterior, mas como o acto que deriva do ser total do
homem, como uma promessa pela qual se encontra vinculado a comunidade.
Dessa característica decorre a exigência da responsabilidade. É ser responsável, aquele que
responde por seus actos, isto é, a pessoa consciente e livre assume a autoria do seu acto,
reconhecendo-o como seu e respondendo pelas consequências dele.

O comportamento moral é consciente, livre e responsável. É também obrigatório, e cria um


dever. Fortes, (1995), mas a natureza da obrigatoriedade moral não reside na exterioridade;
pois é moral justamente porque deriva do próprio sujeito que se impõe a necessidade do
cumprimento da norma. Mas a obediência a lei livremente escolhida não é prisão, ao
contrário, é liberdade. Isto é, o ser consciente da disciplina e da obediência é um ser livre. A
consciência moral avalia a situação, consulta as normas estabelecidas, as interioriza como
suas ou não, toma decisões e julga seus próprios actos.

5. Carácter Sagrado e Absoluto da Pessoa

A pessoa tem um valor absoluto que não pode ser instrumentalizado em função seja de que
for. A pessoa não pode ser reduzida a simples meio, mas deve ser sempre considerada como
um fim em si mesma. É a este carácter irrecusável que afirmamos que a pessoa tem um valor
sagrado e absoluto.

 Singularidade: A singularidade faz com que a pessoa possua uma essência individual
que a torna única, irrepetível, insubstituível. Jamais existirá um outro Sócrates, Platão,
o Galilleu igual ou indéntico àquele que conhecemos pela história.
 Autonomia: A autonomia é uma propriedade que faz da pessoa o princípio das suas
acções. Por isso, um ser autónomo é aquele que se rege pela sua prória lei. Esta
característica confere a pessoa uma dignidade especial. Pois é por se sentir autónoma
que a pessoa se sente sujeito, isto é, uma realidade distinta e superior ao mundo das
coisas que a circundam. Importa referir que, a manifestação mais elevada da
autonomia está na capacidade de se governar a si mesma, na capacidade de ser lei para
si mesma, na capacidade do exercício da liberdade e auto - determinação.
 Abertura: A abertura significa que apesar de ser um princípio do seu agir, a pessoa é
um projecto aberto e comunicante: um projecto aberto ao mundo que o circunda, um
projecto aberto aos outros que descobre como coexistente e coactuantes, um projecto
aberto ao transcendente enquanto possibilidade de encontrar nessa abertura o sentido
da vida.
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6. Pessoa na sua Relação com os Outros

A pessoa é um Ser com os outros. Este é um primeiro dado da existência humana. Pois o ser
humano vem ao mundo graças e mediação de outrem, cresce, vive e colabora com outrém.
Esta relação com o outro é uma relação constituitiva da própria existência individual. Se o ser
humano existe então ele está no mundo com os outros.

De acordo com Vidal, (2007) a moralidade e a ética estão intimamente relacionados com os
outros porque o sujeito com os outros, funda algum tipo de exiência moral e ética, a destacar:

 A relação com o outro como concorrente;

 A relação com o outro como contrato, e;

 A relação com o outro, com um tu-como-eu, pela reciprocidade e harmonia .

a) A relação com o outro como concorrente: ela depende bastante da forma como
observamos o outro e do tipo de relação estabelecida. Se olhamos para o outro como (alguém
alheio a mim), aquele com quem não tenho nada a ver, aquele que aparece no meu dia-a-dia
como um concorrente com quem e contra quem devo competir. Isto é, como aquele que
dispuda o meu lugar, como adversário e inimigo, então a relação com ele será de oposição,
disputa, conflito e até mesmo de aniquilação.

Nos dias de hoje é frequente observar que a relação com o outro é de oposição e guerra,
precisamente porque encara-se o outro como o “outro”; estranho, como aquele que não tenho
nada a ver. Observe-se o nosso dia-a-dia os conflitos, a concorrência desleal entre empresas,
etc.

b) A relação com o outro como contrato: esta ralação com o outro perspectiva o eu e o
outro como apenas indivíduos que estabelecem contratos entre si poque não podem sobreviver
um sem o outro, e porque precisam de encontrar uma forma de assegurar a defesa dos seus
interesses distintos e antagónicos.

Esta é uma dimensão individualista em que a relação com o outro tem um carácter de uma
relação acidental e estratégica. Poranto, segundo essa visão eu preciso do outro para poder
sobreviver e satisfazer as necessidades. Deste modo de relação com o outro ainda não satisfaz
a dimensão moral ou ética de sermos-uns-com-os-outros.

c)Relação com o outro, com um tu-como-eu: Esta perspectiva procura abordar o outro
como um “outro-eu”, com um eu-como-eu, ou seja, um tu-como-eu aquém gratuitamente e
com prazer concede a dignidade de pessoa. Esta relação está cheia de experiências. E, é na
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experiência de acolhimento, de reconhecimento, do amor, da amizade, do enamoramento que


encontramos a dimensão mais profunda da relação com o outro como uma relação positiva e
feliz, isto é, uma relação com enorme peso moral e ético.

É nessas experiência que acabamos de referir e outras em que os outros tem efectivamente o
sentido ético da responsabilidade por nós. É só nessa dimensão que encontramos o verdadeiro
sentido ético de sermos-uns-com-os-outros. Pois, é por detrás do reconhecimento onde reside
o outro que é um valor, que o outro tem dignidade própria, de que o outro é um imperativo
ético e de que o outro pode assumir obrigações morais e arcar com a responsabilidade ética
pelo seu bem-estar e felicidade.

7. O significado ético da relação da pessoa com os outros

A relação da pessoa com os outros só pode ter significado ético se a própria pessoa se
apresentar como um valor ético. A pessoa é um fim autónomo do universo porque é racional e
livre. Por isso, o valor da pessoa emerge nas relações interpessoais. É na relação com os
outros que a pessoa encontra os vínculos éticos mais profundos. Esses vínculos expressam-se
de diversos níveis:

 Em primeiro lugar, como respeito pela pessoa do outro, tal como se apresenta no
encontro interpessoal. A pessoa é única, original, insubstituível. Ela é fim em si
mesma e nunca pode ser instrumentalizada e reduzida a um simples meio seja do que
for;
 Em segundo lugar, a promoção como uma forma de libertação. Na relação
interpessoal, o outro se apresenta, muitas vezes, em estado de alienação: é o pobre, o
oprimido, o explorado, o esfomeado, o desempregado, etc. Face a estas situações é
necessário agir sob o risco do significado ético da relação pessoal possa ficar reduzida
a um mero moralismo forma. Por isso, a relação interpessoal é activa, criadora,
libertadora. Portanto, o valor ético da pessoa é o fundamento de uma ética social e é o
critério para se decidir sobre os deveres que a consciência moral nos impõe.

8. A Liberdade Como Fundamento do Agir Moral

Entre a liberdade e a moralidade existe uma relação intrínseca que faz da liberdade o
fundamento do agir moral e deste o resultado e a expressão daquela. Um acto moral só pode
ser moral se for incondicionalmente livre. Para Kant (1988), o acto moral é aquele que
encontra o fim em sí mesmo, que é absoluto, praticado por obediência à lei prática, como o
cumprimento do dever.
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A liberdade é a razão de ser da lei moral e a afirmação do sujeito que age como pessoa, com
boa vontade e que, mesmo agindo por dever, age livremente pois obedece à sua própria lei.
Por isso, para a liberdade é a condição da lei moral e a lei moral é a condição sob a qual
primeiramente podemos nos tornar conscientes da liberdade. Daí que, a liberdade é a razão de
ser da lei moral, e esta a razão de conhecer da liberdade. Portanto, se a liberdade fundamenta
a Lei moral, então a lei moral manifesta a liberdade.

Observemos a relação entre a liberdade e a moralidade, no dizer de Kant (1988: 95-96):“Não


basta que atribuamos liberdade à nossa vontade, seja porque razão for, senão tivermos
também razão suficiente para a atribuirmos a todos os seres racionais. Pois como a moralidade
nos serve de lei somente enquanto somos seres racionais, tem ela que valer também para
todos os seres racionais; e como não pode derivar-se senão da propriedade da liberdade, tem
que ser demonstrada a liberdade como propriedade da vontade de todos os seres racionais, e
não basta verificá-la por certas supostas experiências da natureza humana (se bem que isto
seja absolutamente impossível e só possa ser demonstrado a priori), mas sim temos que
demonstrá-la como pertencente à actividade dos seres racionais em geral e dotados de uma
vontade. Digo, pois: Todo o ser que não pode agir senão sob a ideia da liberdade, é por isso
mesmo, em sentido prático, verdadeiramente livre”.

Valem todas as leis que estão inseparavelemente ligadas à liberdade, exactamente como se a
vontade fosse definida como livre em si mesma e de modo válido na filosofia teórica.
Portanto, todo o ser racional que tem uma vontade tem que atribuir-lhe necessariamente a
ideia da liberdade, sob a qual ele unicamente pode agir.

Ora é impossível pensar numa razão que com a sua própria consciência recebesse de qualquer
outra parte uma direcção a respeito dos seus juízos, pois que então o sujeito atribuiria a
determinação da faculdade de julgar, não à sua razão, mas a um impulso. Ela tem de
considerar-se a si mesma como autora dos seus princípios, independemente de influências
estranhas; por conseguinte, como razão prática ou como vontade de um ser racional, tem de
considerar-se a si mesma como livre; isto é, a vontade desse ser só pode ser uma vontade
própria sob a ideia da liberdade, e, portanto, é preciso atribuir, em sentido prático, a tal
vontade vinda de todos os seres racionais.
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9. Conclusão

Concluisse desta forma que todos os seres humanos nascem livres e iguais e em direitos.
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de
fraternidade”. O que se convencionou chamar de “Direitos Humanos”, são exactamente os
direitos correspondentes à dignidade dos seres humanos. São direitos que possuímos não
porque o Estado assim decidiu, através de suas leis, ou porque nós mesmos assim o fizemos,
por intermédio dos nossos acordos. Direitos humanos, por mais pleonástico que isso possa
parecer, são direitos que possuímos pelo simples facto de que somos “Seres Humanos”. Os
Direitos Humanos são uma ideia política com base moral e que estão intimamente
relacionados com os conceitos de justiça, igualdade e democracia. Eles são uma expressão do
relacionamento que deveria prevalecer entre os membros de uma sociedade e entre indivíduos
e Estados. Os Direitos Humanos devem ser reconhecidos em qualquer Estado, grande ou
pequeno, pobre ou rico, independentemente do sistema social e económico que essa nação
adopta.
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10. Bibliografia

Arruda, M ta al. (2007). Fundamentos de Ética Empresarial e Económica. 3ªed São Paulo:
Editora Atlas.

Costa, S. (2003) Ética nas Empresas. Porto: Edições Afrontamento. VÁZQUEZ, A. S. Ética.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.

Aristóteles, (2007). Ética a Indomado. São Paulo: Editora Martim Clarete.

Lourenço, J & Vicente, J. (1995) Do Vivido ao Pensado. Porto: Porto Editora.

Almeida, J. R. (1998) Os Valores ético -políticos, Porto: Edições Salesianas, s/d

Kant, E. (1988). Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Lisboa: edições 70.

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