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Mariana Gomes, nº 17

Escola Secundária Pinheiro e Rosa


10º ano - Turma E

Podemos universalizar os Direitos Humanos numa sociedade global?


A universalidade dos Direitos Humanos constitui um problema ético e moral
que consiste em definir um consenso sobre a finalidade universal dos Direitos
Humanos.
Neste ensaio pretendo defender a universalidade dos Direitos Humanos,
tendo em conta que esses direitos são aplicáveis a todas as pessoas,
independentemente da sua nacionalidade, etnia, religião ou renome social; assim
como, delinear os pontos fundamentais da discussão da universalidade na aplicação
dos Direitos Humanos num cenário mundialmente globalizado, sendo a
universalidade caracterizada pela sua capacidade de impor a todas as sociedades
sem distinção.
Para começar, é importante determinar o conceito dos Direitos Humanos: a
Declaração dos Direitos Humanos foi reformulada após a segunda Guerra Mundial,
é um documento de grande importância a nível internacional, pois constitui direitos
pertinentes a todos os seres humanos, independente de cor, raça, religião, sexo,
riqueza ou nacionalidade, representando assim uma valorização do indivíduo na
sociedade, conferindo-lhe segurança e proteção, direitos e deveres. São estes
direitos que defendem os aspetos essenciais à caracterização do Homosapiens,
como Ser Humano, tais como, a dignidade, a liberdade, a vida e a segurança, que
ditam a forma como devemos nos visionar uns aos outros, com respeito e
reconhecimento.
Mas de que forma seria possível desenvolver argumentos éticos para
conceituar os direitos humanos, diante da universalidade dos mesmos e perante a
diversidade cultural e moral existente na sociedade contemporânea? Este entrave
pode ser solucionado quando ao se estabelecer uma distinção entre os sentidos das
palavras ética e moral, compreendendo-se o conteúdo que o fundamento ético
representa nesta construção conceitual. A ética, como uma área da filosofia, é a
ciência da conduta humana que tem por objeto de estudo as ações humanas. A
moral, por sua vez, é o objeto de estudo da ética, visto que caracteriza-se por
constituir o conjunto de normas de conduta ou de costumes que são adotados por
um determinado grupo social. Neste contexto, cabe à ética discutir as diversas
morais, de modo a definir uma forma mais abrangente do comportamento humano,
extraindo dos factos morais e fundamentos comuns a eles aplicáveis. Assim, por
todos estes fatores, o uso da fundamentação ética revela-se apropriada para a
elaboração de uma definição de direitos humanos, uma vez que a sua capacidade
de diálogo com as diversas morais facilita a aproximação intercultural e o
estabelecimento de valores universais que formam o conjunto conceitual desta
categoria de direitos, afastando-se, com o seu uso, o risco da sua impraticabilidade
em certos contextos culturais.
Um segundo argumento que defende a tese de que os direitos humanos
devem ser considerados, por todos, como universais baseia-se na questão do
Universalismo Cultural. Esta consiste na defesa de que todos os seres humanos

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possuem um valor intrínseco, decorrente da sua condição humana que é
intransmissível e de aplicação universal. A dignidade que provém da existência
humana, por si só, justifica a proteção conferida pelos direitos humanos, e que,
como já dito anteriormente, perpassa as diferentes culturas e estruturação sociais.
Se a dignidade humana é o aspeto comum à conexão entre todos os seres
humanos, formando, neste sentido, uma comunidade universal, então as diferenças
geográficas, étnicas, políticas, económicas e religiosas são dispensáveis para a
limitação no seu âmbito de aplicação. Isto para dizer que os direitos humanos foram
concebidos na medida referente ao respeito à personalidade do indivíduo como tal,
e direito ao seu pleno desenvolvimento como membro da sua sociedade, ou seja,
baseiam-se na filosofia política do liberalismo e concentram-se nos direitos naturais
do indivíduo, isto é, a ideia universal de justiça e o conjunto de normas e direitos
que já nascem incorporados ao Homem, como o direito à vida; e não da sociedade
e cultura.
Um filósofo que sustenta a universalidade sobre estas bases, embora mais
centrado no fator valorativo, é Kant, o qual, através daquilo a que chamou de
imperativo categórico, constrói e estabelece a ideia de que existem ações e direitos
sujeitos à universalização. Este aponta que a racionalidade, sendo algo próprio ao
indivíduo, é o instrumento canalizador para a ação propriamente dita. Com isto, a
razão, deve levar em conta o outro, e consequentemente a coletividade. Tendo
como exemplo, a citação "A liberdade de cada um termina onde começa a liberdade do
outro" (1) , explicita adequadamente essa noção, uma vez que, o direito à liberdade
só se dá devido à existência do outro e pelo o outro, logo, é universal. Nesse
sentido, os direitos humanos são universais, não só pelo facto de incidirem sobre os
seres humanos, mas principalmente por se concretizarem e terem validade pela
interação entre os mesmos.
Os defensores do relativismo cultural rejeitam, por sua vez, a universalidade
dos direitos humanos. Segundo esta tese, a identidade e a diversidade culturais e
os costumes dos povos devem ser respeitados no que diz respeito ao modo de
distribuição de direitos e liberdades individuais e coletivas que prevalece em
determinado contexto social. Na medida em que há culturas e sistemas morais
distintos, é impossível determinar princípios morais de validade universal que
comprometam todas as pessoas da mesma maneira, de acordo com os relativistas.
A título de exemplo, um pensamento que remete para este panorama é o do
historiador alemão Oswald Spengler, que ressalta:
“Toda a cultura tem o seu próprio critério, no qual começa e termina a sua
validade. Não existe moral universal de nenhuma natureza.” (2)
Assim, podemos compreender que através deste instituto os indivíduos
adquirem hábitos pertencentes ao meio em que se inserem, sendo que por conta de
tal razão reproduzem atividades diversas, entregando-se a crenças e realizando
rituais, em prol da fé que professam e dos hábitos que lhes são impostos. Porém, o

(1) Herbert Spencer, filósofo inglês 2


(2) Spengler Gottfried Arnold Oswald, "O Declínio do Ocidente”, 1918
princípio básico dos direitos humanos fundamenta-se na ideia de que todo o ser
humano possui valores e direitos a ele inerentes, simplesmente pelo seu atributo de
humano, logo, não há de ser admissível a moderação destes direitos em relação à
diversidade cultural existente no âmbito internacional. Uma outra crítica do
Universalismo ao Relativismo é a afirmação de que a cultura e a religião seriam
utilizadas como fatores de legitimação de práticas e costumes abusivos e violadores
de direitos humanos, como os já mencionados anteriormente.
Para concluir, podemos considerar os direitos humanos universais vivendo
numa sociedade global, uma vez que esses direitos são aplicáveis a todas as
pessoas, independentemente da sua nacionalidade, etnia, religião ou grupo social.
Além disso, muitos países e organizações internacionais têm adotado tratados e
convenções que reconhecem e protegem os direitos humanos em todo o mundo,
procurando garantir o seu respeito e aplicação. Entretanto, é importante
conscientizar as pessoas sobre a importância desses direitos e das
responsabilidades de cada indivíduo em respeitar e promover os mesmos. A
discórdia hoje existente entre as visões universalista e relativista dos direitos
humanos é de superação necessária para que se estabeleça um padrão universal
de direitos humanos, que transcenda as diferentes culturas, costumes e religiões
sem que com estas entrem em conflito.

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