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Direitos = Exigências legítimas que cada indivíduo merece justamente e que devem ser

reconhecidas e aceites por outras pessoas numa base de igualdade. Há uma reciprocidade
entre direitos e deveres: para merecer os direitos que exijo para mim devo igualmente cumprir
certos deveres perante os outros, reconhecendo e permitindo-lhes os mesmos direitos que
reivindico para mim. Se acredito que tenho direito à liberdade de expressão, devo permitir e
possibilitar que as outras pessoas tenham tanta liberdade de expressão como eu próprio: o
direito a exprimir livremente as suas ideias ou convicções é objetivamente comum ou universal
para todos os seres humanos. Ser livre na defesa de direitos comuns exige o dever de respeitar
e permitir numa base igual e imparcial que os outros seres humanos tenham os mesmos
direitos. Tenho, pois, o dever de respeitar a opinião e a livre expressão das outras pessoas,
acerca dos mais diferentes assuntos, mesmo que não concorde com as suas ideias, mas tenho
o dever de permitir-lhe o uso da palavra e o direito comum de se expressar. ‘Ser livre é ser
livre com’, é assumir que há direitos comuns e que há deveres, responsabilidades de parte a
parte, na promoção igual desses direitos. Os direitos condicionam a liberdade, limitam-na e
possibilitam o seu exercício em simultâneo.

Direitos morais = todo o conjunto de direitos que as pessoas têm em virtude de serem
pessoas segundo um certo ideal de bem moral. Os direitos humanos são direitos morais
universais que cada ser humano possui pelo simples facto de pertencer à espécie humana,
independentemente da sua origem étnica, cultural, nacionalidade, sexo, condição social
económica, religiosa ou política. Porque somos membros de uma suposta espécie ou natureza
humana, temos direitos que definem um sentido universal do justo, do que é correto, ou do
que é assumido como um bem moral. Há que reter, apesar disso, a ideia de uma certa
perspetiva ‘especista’ sobre a posição arrogante dos seres humanos. E que dizer dos direitos
da Terra? E dos animais não humanos? O que permite justificar essa suposta superioridade ou
privilégios dos seres humanos no nosso planeta? A acusação de ‘especismo’ leva-nos a
repensar o fundamento moral dos direitos humanos e a rever a sua perspetiva de avaliação
face a outras realidades não humanas. Os seres humanos têm direitos morais porque têm uma
dignidade, quer dizer, devem ser tratados com respeito, pois são pessoas, como tal, a pessoa
tem uma dignidade num sentido filosófico kantiano do termo: a pessoa é um fim em si mesmo,
possui um valor incondicional, absoluto; logo, não deve ser usada como meio,
instrumentalizada, ou tratada como se fosse um objeto. Não se deve retirar o valor intrínseco
ao ser humano, ‘coisificar’ a pessoa, desprezando a sua dignidade ou maltratando-a. Mas isto
não pode significar que deve haver interesse moral exclusivo pela dignidade humana.
Retomamos as questões anteriores: e os animais não humanos? E a natureza em geral? Por
que razão só os seres humanos são a exceção? O facto de os animais não humanos não terem
consciência do que são deveres não significa que não tenham direitos reconhecidos, e este
reconhecimento dos direitos dos animais, a exigência de respeitá-los, é uma obrigação a
assumir por seres inteligentes e racionais, os seres humanos, dotados de consciência moral.

Direitos legais = todos os direitos emanados do poder político e que são concedidos aos
indivíduos em função de pertencerem a um dado Estado ou nação que institui nos códigos
escritos de leis, por via de deliberações políticas, através de atos de governação, o que é
permitido ou não fazer nos limites definidos pela legalidade e no âmbito da soberania de um
país. Podem existir países cujos direitos legais negam e recusam certos direitos morais
consignados nos direitos humanos universais, mas isso não significa que os direitos humanos
não deixem de ser universalmente válidos como direitos morais que todos os seres humanos
devem ver reconhecidos. Estados que não cumprem ou desrespeitam os direitos humanos são
por isso mesmo alvo de condenação moral, de sanções de vária ordem e de acusações
internacionais de serem Estados injustos.

Será possível criticar a tese do objetivismo moral?


Dado tratar-se de uma tese filosófica, o seu estatuto de ideia razoável ou de razões que podem
parecer-nos plausíveis, não a torna imune à crítica. Pelo contrário. Pode ser uma tese
verosímil, mas existem críticas no sentido da sua refutação, podemos tentar mostrar que os
objetivistas morais estão simplesmente errados. Ser ‘verosímil’ significa uma aproximação à
verdade, uma ideia que pode ser provavelmente verdadeira. Só que ‘verosímil’ não é ser
definitivamente verdadeiro, não é equivalente a uma verdade infalível ou irrefutável. Vamos
fazer uso da imaginação e expor algumas objeções críticas ou contra-argumentos à tese
objetivista moral.

-Uma primeira crítica é que se torna impossível fazer a distinção entre as noções de ‘facto’ e de
‘valor’, o que parece ser contraintuitivo. Os objetivistas dizem-nos que os valores existem
como os factos, só que são seres ou realidades de outra ordem. Mas entre ser e dever-ser há
todo um abismo, um hiato, que não parece ser resolvido pela dissolução dos dois níveis de
realidades, a saber, o mundo real dos factos e o mundo idealizado pelo sujeito, o mundo
criado pela ação humana e pelo poder da nossa mente, o mundo cultural dos valores na sua
imensa diversidade. Neste caso, os subjetivistas argumentam que a sua tese é que assegura a
verdade sobre a origem e natureza dos valores: os seres humanos são a sua fonte criadora,
não há valores que não dependam da esfera subjetiva da mente humana. Só há valores porque
existem seres humanos como seus autores, criadores e avaliadores. Se deixasse de existir uma
espécie humana, sem os seus membros enquanto sujeitos, deixariam de existir valores.

-Uma segunda crítica refere que não há valores comuns a todos os seres humanos, não há
valores universais, pelo que não devem ser tratados como se fosse ‘coisas’ objetivas. Supor
que os valores são como as ‘coisas’, os ‘factos’, é uma abstração, uma ficção criada pela
imaginação humana. A realidade humana na sua diversidade cultural desmente a existência de
tais entidades metafísicas objetivas a que se chamam ‘valores universais’. Neste caso, os
relativistas culturais argumentam que todos os valores expressam a diversidade humana na
sua imensa pluralidade e, por isso, não existem de facto valores transculturais ou objetivos.
Todos os valores humanos devem ser confinados aos limites de cada realidade cultural, sob
pena de se tornarem abstrações vazias.

-Uma terceira crítica aos objetivistas refere-se à possibilidade de uma resposta baseada no
intersubjetivismo, na solução axiológica por consenso. Os valores podem ser encarados como
comuns e universais, não porque resultem de entidades objetivas equiparadas a factos, mas
porque, numa dada ocasião histórica, os povos decidiram por negociação e acordo
intersubjetivo estabelecer um certo conjunto de valores como normas e princípios
orientadores, por exemplo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948). Neste
sentido, os valores são interpretados numa perspetiva pragmática e intersubjetivista, sem que
seja preciso projetar um mundo ideal ou um plano metafísico ideal de valores separado do
mundo real em que vivemos.

-Uma quarta crítica à tese do objetivismo moral: não há natureza humana universal. Os
objetivistas costumam afirmar que há valores morais que expressam direitos e que estes, para
serem universais, representam uma natureza humana. Só que isso é um erro, uma falácia:
pressupõe que há uma ‘natureza humana fixa e determinada’, supõe que há uma ‘essência’
comum, imutável, eterna, que se aplica a toda a humanidade. Nada disso está provado. Pelo
contrário, o que mais existe no mundo é uma clara indefinição do que significa ser humano.
Basta observar a imensa diversidade humana, a multiplicidade de códigos morais, as
diferenças de comportamentos e de normas e valores, afinal, o que traduz a enorme
diversidade cultural humana, para mostrar que não há uma via única, essencialista, de definir a
natureza humana. Podemos afirmar que não há natureza humana alguma a definir, todos os
seres humanos existem livremente e criam-se em diversas realidades múltiplas e não há
nenhuma abstração objetivista que consiga captar a sua natureza comum.

-Uma quinta objeção crítica à tese objetivista moral pode ser assumida pela posição do
relativismo cultural. Os objetivistas morais são, na realidade, etnocentristas encapuçados.
Quando os defensores dos Direitos Humanos acusam certos países e as suas culturas de não
respeitar os valores e princípios ditos ‘universais’, essa acusação é injusta e pressupõe um juízo
de tipo etnocêntrico. Na verdade, dizem os relativistas culturais, os Direitos Humanos são uma
invenção da cultura europeia ocidental e de raiz cristã, representam, a seu ver, uma outra
forma de impor uma vontade colonialista intelectual, como se só os europeus ocidentais e
norte-americanos tivessem a visão certa dos valores e a pretendessem impor aos restantes
países e culturas. Ora, esta imposição é um abuso de poder e uma ingerência injustificada,
defendem os relativistas culturais. Até porque os valores implícitos nos chamados Direitos
Humanos são culturalmente condicionados e configurados a uma matriz cultural específica: a
visão axiológica da consciência filosófica europeia e cristã da realidade. Esta crítica tem um
fundamento cultural de âmbito civilizacional: é como se existissem mais do que culturas
diferentes, civilizações em conflito, em choque, que promovem uma mundivisão da realidade
humana segundo quadros de valores próprios. A acusação de etnocentrismo intelectual
relativamente aos chamados valores fundados nos direitos humanos pode, não obstante, ser
rebatida: não se trata de considerar valores europeus ou ocidentais – é preciso considerar os
valores morais dos direitos humanos na perspetiva transcultural, isto é, numa abstração
universalista. Ninguém quer impor valores culturais a ninguém. O que está em causa é a
observação, o respeito universal, pelas pessoas, seja em que cultura for. A acusação de
etnocentrismo intelectual, levantada contra os defensores dos direitos humanos, não é feita
de boa-fé, ou tende a forçar um erro de perspetiva para evitar ou fugir ao seu cumprimento.
Não é por acaso que essa acusação surge de Estados não democráticos, de ditaduras, ou de
regimes políticos que se apelidam de ‘democráticos’ mas cujas práticas são totalitárias,
opressivas, ditatoriais, opressoras e lesivas da vida e liberdades fundamentais. Só para
enumerar alguns desses países: Coreia do Norte, China, Irão, Rússia, Cuba, Venezuela, Síria. O
objetivismo moral permite alcançar progressos morais no mundo e é preferível a qualquer
conceção de valores relativista: obriga-nos a pugnar por um mundo melhor, por uma
humanidade mais digna e respeitadora para com os nossos semelhantes, obriga-nos a ser
protagonistas ativos nas nossas vidas e a assumir atitude crítica contra todas as formas de
discriminação injusta e infratoras dos direitos humanos. Os direitos humanos não negam a
diversidade cultural – respeitam-na e toleram o que for aceitável, na condição de não existir
práticas culturais que coloquem em causa a dignidade humana. Não temos apenas os direitos
que a cultura e sociedade em que vivemos nos proporcionam: há valores mais elevados e
nobres que impedem que maltratem as pessoas segundo práticas ou costumes culturais
arcaicos. Os direitos humanos são valores objetivos que consagram um papel humanizador da
própria noção de cultura. Se os seres humanos são seres culturais, isso significa que somos
capazes de construir um mundo melhor para vivermos juntos em comunidade e de modo mais
digno e pacífico. Por esse motivo, a cultura separa os seres humanos da animalidade, da
bestialidade, da desumanidade. É esta linha de fronteira que interessa frisar: a cultura evolui,
os valores morais podem ser melhores, e há um desejo de progresso moral que nos aproxima
de um ideal objetivo de humanidade fraterna. Se formos capazes de idealizar tal mundo de
cultura e esse horizonte universal de direitos humanos, podemos tentar, pela ação, ao longo
do tempo, concretizar esse ideal utópico. Ora, uma abordagem relativista não consegue
alcançar esse ideal utópico

Definição de cultura – É o meio próprio em que habita o ser humano; os seres humanos
não têm uma natureza, têm um mundo a que chamam cultura. A cultura é o meio criado pela
ação humana, pela sua inteligência e imaginação, composto pelo universo dos valores
materiais e espirituais. Os valores ou elementos materiais da cultura são as obras produzidas
pela atividade humana, os edifícios, as estradas, as pontes, os monumentos e que são visíveis
na experiência direta do mundo, nas sociedades. Por outro lado, os elementos espirituais da
cultura, os valores espirituais, são constituídos pelo património imaterial criado pelo intelecto
humano, os saberes, as crenças, a língua, os costumes e tradições, a história, expressos na
arte, na ciência, na tecnologia, na filosofia, na religião, na política, na moralidade, nos saberes
transmitidos de geração em geração. A cultura é o produto humano que resulta do esforço de
adaptação da humanidade ao meio ambiente e traduz-se numa imensa diversidade de
respostas, explicáveis pelas diferenças entre padrões de cultura. Deste modo, não há apenas
uma cultura, existem culturas, uma diversidade cultural humana, variável no espaço e no
tempo, permitindo a identidade cultural de cada comunidade ou povo.

Diversidade cultural: é a existência de uma multiplicidade de culturas humanas,


diferentes no espaço e no tempo, em função de diferentes padrões de cultura.

Padrões de cultura: Os padrões de cultura referem-se a todas as produções espirituais


das comunidades humanas que definem o que é próprio de cada povo, a sua identidade
cultural, as suas tradições, normas, valores e comportamentos que são aceitáveis ou
interditos, a língua, a história, os modos típicos de ver, sentir, pensar e agir de cada etnia
(povo). Os padrões culturais são muito diferentes entre si e variam no espaço e no tempo,
explicando a extraordinária complexidade das culturas humanas. É por causa da coexistência
de padrões de cultura muito diferentes entre si no espaço e no tempo histórico que existe uma
imensa diversidade cultural humana.

Aculturação-processo de assimilação cultural pelo qual as culturas se influenciam entre si


ao nível dos seus padrões ou modelos, um processo que origina mudanças nos modos de ser,
ver, pensar, agir e sentir. Por exemplo, a aquisição de hábitos alimentares de outras culturas
ou vestuário, ou comportamentos que reproduzem os modelos de outras realidades culturais.
O uso quotidiano de telemóvel é disso um bom exemplo.

Tese central do etnocentrismo: há uma cultura dominante que procura impor-se a


outras culturas, quer por via de influência pacífica (aculturação por assimilação), quer por
ações violentas, por tentativa de subjugação violenta ou destruição pura e simples
(aculturação por destruição, por exemplo, pelo genocídio ou etnocídio cultural). Tese central
do relativismo cultural: todas as culturas são válidas e boas, devemos agir no sentido de
preservar a sua identidade e património. Assim, devem-se evitar juízos de avaliação moral, ou
de outros valores, e evitar interferir ou influenciar os padrões culturais existentes em cada
cultura. Há que preservar as diferenças culturais.

Tese central do interculturalismo: todas as culturas são boas e devem


dialogar/interagir entre si abertamente, devem relacionar-se reciprocamente, promovendo
uma atitude de troca, de partilha, de diálogo e de influências. Deve existir uma atitude de
tolerância ativa e crítica, relativamente à interpretação, mudança e adoção/rejeição de valores
universais e objetivos. A tolerância é submetida a critérios objetivos ou intersubjetivos, com
base em consensos.

Problema filosófico da tolerância – Face às diferenças culturais existentes no mundo,


e perante a existência de sociedades multiculturais, os conflitos e divergências face a membros
de culturas diferentes é um problema real e um desafio para as sociedades humanas. Tolerar
significa a capacidade de uma pessoa ou grupo social de aceitar outra pessoa ou grupo social,
que tem uma atitude diferente das que são as aceites como normais no seu próprio grupo.
Assim, a partir da tolerância, é garantida a aceitação de diferenças sociais e a liberdade de
expressão. Tolerar algo ou alguém é permitir que um costume, uma atitude, continue a existir
e a ser praticado, mesmo que a pessoa não concorde com tal valor, pois admite-se que se
discorde. Podemos discordar que as mulheres sejam obrigadas a usar um véu a cobrir a cabeça
e o rosto, de acordo com códigos e costumes islâmicos; mas podemos tolerar esse costume,
permiti-lo. Uma pessoa de fé cristã pode não concordar com outras doutrinas religiosas, mas,
apesar dessa discordância, tolera, admite, a sua prática. A base da tolerância é a exigência de
uma atitude de respeito recíproco: eu tolero os teus costumes se tu respeitares os meus. Se
podemos respeitar-nos mutuamente, apesar de diferentes, podemos conviver em comunidade
de modo pacífico. A tolerância é um apelo a uma convivência pacífica que admite a
coexistência de diferenças culturais. O problema que se coloca é saber quais os limites para o
que se pode e deve tolerar e segundo que critérios se pode estabelecer a avaliação das
normas, valores e comportamentos que estamos dispostos a aceitar. Será que devemos tolerar
tudo e todos? Será que devemos nunca ser tolerantes? Parece ser razoável descobrir critérios
entre os extremos para fundamentar o valor da tolerância. E o problema filosófico reside
precisamente em determinar e discutir quais são os critérios que podemos adotar

Tese subjetivista axiológica – Todos os valores são relativos à opinião, sentimentos e


escolhas de cada pessoa e são verdadeiros apenas segundo o critério de preferência pessoal.
Em contexto moral, isso significa que devemos tolerar (consentir e permitir) as opções de vida
e escolhas dos indivíduos – cada um tem a sua verdade e ninguém pode arrogar a si qualquer
poder especial para criticar os valores e estilos de vida de cada indivíduo. Tolerar outras
opiniões, crenças, ou valores de outras pessoas significa aqui que outras pessoas têm direito a
tê-las, embora nós até nem concordemos com isso, mas respeitamos e permitimos essas
liberdades. O subjetivista recusa a existência de padrões de avaliação objetivos, universais ou
absolutos. A sua tese é equivalente a relativismo individual. Cada juízo de valor é verdadeiro
ou falso em função das preferências, escolhas e sentimentos de cada indivíduo. Toda a
verdade, em questões de valores, reside no ponto de vista de cada um. Assim, se uma pessoa é
favorável à eutanásia e outra condena essa prática como imoral, para um subjetivista isso
significa que as duas pessoas emitem juízos verdadeiros: as duas estão certas nas suas
convicções
Subjetivismo moral-Todos os valores são projeções de preferências individuais e
pessoais, dependem das escolhas, gostos, sentimentos, e crenças de cada indivíduo, pelo que
não há uma verdade comum, universal ou objetiva sobre as preferências valorativas. Cada
indivíduo define o que é a verdade ou a falsidade nos juízos de valor.

Relativismo moral/cultural-Todos os valores são projeções dos modelos ou padrões


em vigor nas mais diversas sociedades e culturas humanas. Os valores dependem do que é
socialmente aprovado no interior de cada cultura, pelo que não há uma verdade comum,
universal ou objetiva sobre quadros de valores que transcenda os padrões de cultura
específicos de cada sociedade. Cada sociedade define o que é a verdade ou a falsidade nos
juízos de valor. O que vale é o que depende do que cada sociedade aprova como
culturalmente correto, num dado espaço e num dado tempo. Os relativistas culturais
defendem assim que todos os valores são mutáveis, concretos, historicamente condicionados,
expressam o que a maioria sociocultural julga ser o mais adequado.

Objetivismo moral-Todos os valores são entidades ou seres universais, comuns a todos


os seres humanos, transcendem os domínios da subjetividade das preferências individuais e
superam os quadros de valores culturalmente instituídos. Os juízos de valor são verdadeiros ou
falsos e devem ser encarados como ‘factos’ de outra ordem, ideais normativos que expressam
a ordem objetiva do ‘dever-ser’ como se esta fosse aplicável de modo válido para todos os
seres humanos. Os valores são propriedades objetivas do mundo.

Absolutismo moral-Todos os valores são entidades ou seres que existem em si e por si,
num plano metafísico, e representam uma ordem fixa, eterna, do que deve ser a realidade e
em particular as obrigações morais. Os juízos de valor são verdadeiros ou falsos e nunca
admitem qualquer possibilidade de exceção ou de incumprimento. Os valores morais
absolutos são imperativos de consciência, válidos para todos os seres humanos, seja para que
cultura ou sociedade for.

Argumento da diversidade ou do desacordo-Todos os valores são expressão das


preferências dos sujeitos ou das comunidades culturais, variáveis em preferências individuais e
de cultura para cultura. Como cada um é o critério da sua verdade, as preferências individuais
determinam tudo o que há para saber sobre valores. O mesmo se aplica a cada
sociedade/cultura – o que a maioria aceita como valor é o que se toma por verdadeiro. Dada a
diversidade de opiniões e de padrões culturais, não há verdades universais e objetivas no
campo dos valores.

Análise crítica do argumento da diversidade ou do desacordo


Se cada indivíduo fosse a medida da valoração, como é que poderíamos viver uns com os
outros? Nem sequer se poderia discutir seriamente o que quer que seja. Imagine que na
avaliação de uma disciplina o aluno afirmava que devia passar segundo a sua opinião, mas que
o professor não concordava e opinava que devia reprovar. Os dois não podem ter razão em
simultâneo. Um tem de estar errado, afirmaria o objetivista. Do facto das pessoas divergirem
entre si nas mais diversas matérias não quer dizer que não haja um critério comum e objetivo
entre elas, no caso, critérios de avaliação universais para cada disciplina. Se tudo se reduzisse à
mera expressão de opiniões, a conclusão seria o ceticismo.
Argumento da «estranheza dos valores»
Os valores parece que são seres ou entidades bizarras face ao mundo físico e dos objetos com
os quais lidamos no quotidiano – se sabemos que uma mesa é composta por átomos, é
porque existem de facto átomos. Mas quando dizemos que uma ação é boa, temos de supor
que há uma entidade presente na realidade, a ‘bondade’. Todavia, nada de empírico ou de
factual nos permite ter acesso à ‘bondade’ no mundo. Quem nos pode garantir que há uma tal
entidade? Mesmo supondo que é um ser mental, uma ideia, ou um conceito, como é que
podemos saber se existe? A falta de indícios físicos lança suspeita sobre os valores.

Crítica ao argumento da «estranheza dos valores»


O objetivista pode responder ao desafio da «estranheza dos valores» afirmando uma analogia
com certos objetos do mundo físico. Ao atribuir valor ao ouro isso deve-se à existência de
certas propriedades objetivas existentes no metal, como o brilho, maleabilidade, durabilidade,
e até a raridade. Estas propriedades não dependem do sujeito, mas são reconhecidas por este
quando perceciona o ouro. O mesmo acontece quando percebemos a ‘bondade’ numa ação –
há algo na ação, uma propriedade ou qualidade intrínseca, que é reconhecida pelo sujeito
como ‘boa’. Deste reconhecimento não podemos inferir simplesmente que os valores são
inexistentes.

Argumento da tolerância
Se ninguém tem a certeza sobre a verdade ou a falsidade acerca do que é certo ou errado,
então podemos promover a tolerância entre as pessoas, evitando impor-lhes os nossos valores
pessoais ou culturais. Devemos ser tolerantes, quer dizer, reconhecer que todas as opiniões
acerca do que é certo ou errado são igualmente aceitáveis e dignas de respeito. Ser tolerante é
ser bom.

Crítica ao argumento da tolerância


‘Ser tolerante é ser bom’. Este juízo é relativo ou objetivo? Se for aceite como verdade
universal e objetiva, quer os subjetivistas, quer os relativistas, incorrem em autocontradição.
Não parece ser razoável defender que devemos ser tolerantes para com todos os juízos de
valor. Imaginemos que alguém (intolerante) afirma: ‘É bom e justo matar quem não concorda
connosco’. Vamos continuar a tolerar os intolerantes em nome da subjetividade e do
relativismo?

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