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Aula 01
INTRODUÇÃO AOS
DIREITOS HUMANOS
A primeira tarefa de um Curso de Direitos Humanos será a sua definição. Para tanto,
iniciamos denunciando que o conceito de Direitos Humanos não é uniforme, unívoco, mas de
diversas significações, variando entre autores e correntes teóricas. A perspectiva adotada aqui
será elencar alguns elementos comuns, acerca dos quais a discussão é pacífica.
Em seu Curso de Direito Constitucional Positivo, José Afonso destaca diversos
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termos empregados usualmente, como sendo da mesma categoria dos direitos humanos:
direitos naturais, direitos do homem, direitos individuais, direitos públicos subjetivos,
direitos fundamentais, liberdades fundamentais e liberdades públicas1. A Declaração
Universal dos Direitos Humanos preferiu a expressão ‘direitos humanos’, como forma de
contemplar homem e mulher, ao contrário do título ‘Declaração dos Direitos do Homem’,
de 1789, por ocasião da Revolução Francesa.
Duas correntes se destacam nessa tarefa. A primeira, composta por filósofos e
juristas, define os direitos humanos como equivalentes de direitos naturais, isto é, inerentes
ao ser humano. Já a segunda corrente, também composta por filósofos e juristas, prefere
definir os direitos humanos como o conjunto de direitos fundamentais, necessários à
realização integral do ser humano.
Eduardo R. Rabenhorst, doutor em Filosofia e professor na Universidade Federal
da Paraíba, propõe que o tema seja analisado a partir de seus pressupostos mais básicos, ou
seja, partindo da definição do que quer dizer o termo ‘direito’.
Etimologicamente, direito significa ‘aquilo que é reto, correto, justo’. Hoje, no
entanto, o significado é mais abrangente, e compreende o contrário daquilo que se chama
injustiça, ação deletéria injustificadamente despejada sobre um ser humano. Também
denota o ‘reconhecimento daquilo que nos é devido’.2
1
Curso de Direito Constitucional Positivo. Pg. 179.
2
Veja em “O que são Direitos Humanos?” In <http://www.dhnet.org.br/dados/cursos/edh/redh/01/01_rabenhorst_oqs_dh.pdf> . Acessado
em Junho de 2009.
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São direitos que possuímos não porque o Estado assim decidiu, através de suas leis,
ou porque nós mesmos assim o fizemos, por intermédio de nossos acordos. Direitos
humanos, por mais pleonástico que isso possa parecer, são direitos que possuímos
pelo simples fato de que somos humanos.
Vale ainda fazer uso de precisas conceituações elencadas por Daniela Paes Moreira
Samaniego, professora de Direito na Universidade de Cuiabá, extraída da pena de diversos
autores e juristas, relacionados em seu artigo Direitos Humanos como Utopia.5
Kuschel termina sua definição ressaltando o lugar de primazia dos direitos humanos,
afirmativa que nos revelará, em sua discussão, parte da razão de seu surgimento: “Portanto,
segundo sua essência, os direitos humanos precedem o direito estatal e religioso e até
determinam, por sua vez, o direito estatal e religioso”.6
Como iremos destacar em aula posterior, acerca da história do surgimento,
manifestação e positivação – reconhecimento e tutela, por parte do Estado – os direitos
humanos surgem contrapostos a duas instituições presentes na Idade Média – na verdade, em
toda a antiguidade - caracterizadas por práticas a eles antagônicas: a Religião e o Estado.
A religião, em sua tese de que só Deus poderia ser considerado sujeito de direitos,
caracterizava-se, parcialmente, por fazer cumprir leis que hoje são consideradas negadoras do
ser humano: Censuras, intolerâncias e guerras, penas de morte aos hereges, etc. Obviamente
que esta não era a única face da Igreja, visto suas grandes e preciosíssimas contribuições
5
In: < http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=76 >. Acessado em Junho de 2009.
6
In: Fundamentação atual dos direitos humanos entre judeus, cristãos e muçulmanos. Cadernos Teologia Pública. Ano IV – N. 28 – 2007.
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Parece-me que ninguém a formulou melhor que Michael Ignatieff, quando afirma:
“[Os] direitos humanos são a linguagem mediante a qual os indivíduos criaram uma
defesa de sua autonomia contra a opressão da religião, do Estado, da família e do
grupo”.7
negados, nem mesmo pela pessoa que imagina poder negociar com eles. São irrenunciáveis,
ou seja, mesmo que o ser humano queira dispor desses direitos, não dá a outrem a liberdade
de ofender tais direitos. Exemplo ilustrativo desse fato é que o Código Penal Brasileiro
considera como crime qualquer ajuda que alguém possa oferecer a outrem que queira cometer
suicídio (Art. 122 CP). O fato de que alguém esteja disposto a se suicidar – aparentemente
renunciando o direito à vida – não dá a ninguém o direito de tirar – ou ajudar a tirar - essa
vida. A vida é um direito indisponível e intransferível, até mesmo pelo e para o próprio
sujeito. Outro exemplo estaria na possibilidade do desejo de alguém doar um órgão de seu
corpo, sem o qual não viveria. Em periclitando sua vida, tal disposição se torna contraditória
com os direitos humanos, sendo proibida, portanto.
Já a efetividade é o entendimento de que tais direitos devem ser tutelados e efetivados
pelo Poder Público, usando dos meios necessários para tanto, inclusive a própria força física.
Partem do reconhecimento de que há, além da contínua presença de conflitos entre vontades,
uma concreta desigualdade de poder, o que representa que, salvo intervenção do Estado, as
pessoas ou grupos minoritárias em poder sucumbirão aos arbítrios egoísticos dos detentores
do poder.
FONTES:
SÍTIOS ELETRÔNICOS:
ATIVIDADES
As atividades referentes a esta aula estão disponibilizadas na ferramenta “Atividades”.
Após respondê-las, envie-nas por meio do Portfólio- ferramenta do ambiente de aprendizagem
UNIGRAN Virtual. Em caso de dúvidas, utilize as ferramentas apropriadas para se comunicar
com o professor.
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