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Sentido Amplo: pode designar-se por relação jurídica neste sentido toda a situação ou
relação da vida social que é juridicamente relevante, de modo que é disciplinada pelo
Direito. A relação jurídica não abrange, por isso, todas as relações da vida social mas
apenas aquelas que, sendo susceptíveis de regulamentação jurídica, são ordenadas pelo
Direito. Assim, a relação jurídica é a relação da vida social disciplinada pelo Direito,
sendo atribuído a uma pessoa um direito subjectivo e imposta a outra pessoa uma
obrigação correspondente de respeitar aquele direito.
Sentido Restrito: Pode designar-se por relação jurídica toda a relação da vida social
disciplinada pelo Direito, mas só quando esta relação apresenta uma determinada
fisionomia típica. Como sabemos, a ordem jurídica contém para a conformação das
relações jurídicas no âmbito da autonomia privada um numerus clausus de tipos. Desta
maneira, a ordem jurídica condiciona, relativamente à forma e conteúdo, embora em
grau variável, a conformação de relações jurídicas, constituídas no exercício da
autonomia privada.
Direito Subjectivo:
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Poder de exigir ou pretender ---- » dever jurídico
O dever jurídico que corresponde ao direito de exigir chama-se obrigação civil – o seu
cumprimento pode ser obtido judicialmente.
O dever jurídico que respeita a um direito de pretender diz-se obrigação natural – ela
não é exigível em tribunal.
Relação jurídica em sentido abstracto: é uma relação virtual que equivale a determinado
tipo (à sua fisionomia típica) tal como ele está regulamentado na lei, quer dizer,
corresponde ao tipo negocial legal.
Relação jurídica concreta: é uma relação jurídica em que as regras da relação em sentido
abstracto ganham vida num caso concreto mediante a aplicação a este caso concreto do
tipo regulamentado na lei.
Sintetizando, pode dizer-se que a relação jurídica abstracta é uma relação virtual ou em
potência; ao passo que a relação jurídica concreta é uma relação jurídica real ou em
acto.
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relações jurídicas deste tipo possuem em comum, ou seja, uma forma-padrão definidora
de todas elas. Exs: o casamento, a propriedade, a compra e venda.
Estrutura externa da relação jurídica: Corresponde aos elementos que, no seu conjunto,
definem o conteúdo da relação jurídica, contribuem todos para o estabelecimento do
vínculo, mas não fazem parte dele, sendo-lhe assim exteriores. Uma coisa é o próprio
vínculo, uma outra são os elementos que concorrem para que este se constitua. Os
elementos, no seu conjunto, representam a estrutura externa da relação jurídica:
- sujeitos;
- objectos;
- factos jurídicos e
- garantia.
Diz Manuel de Andrade, podemos representar a relação jurídica por uma linha recta. Os
pontos terminais dessa linha serão as pessoas entre as quais a relação jurídica se
estabelece. São os sujeitos da relação jurídica. Por outro lado, essa relação jurídica…
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pode incidir sobre determinado objecto… Além disso, ela deriva de determinada
causa… o chamado facto jurídico. Finalmente, para que o poder jurídico, facultado ao
titular do direito subjectivo… tenha sequência… predispõe a ordem jurídica meios
coercitivos adequados, tendentes a que tal poder obtenha… a sua realização efectiva. É
a garantia.
Direito Subjectivo que se traduz num poder de “exigir” ---» garantia: acção judicial
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Direito Subjectivo potestativo ---» o obrigado não pode furtar-se ao cumprimento, uma
vez que os efeitos se lhe impõem, de modo que fica pura e
simplesmente sujeito a eles. Desta maneira, o direito potestativo é
garantido de modo infalível: a garantia apresenta-nos aqui uma
configuração sui generis (até se podia dizer que os direitos
potestativos não possuem garantia, como elemento distinto deles,
sendo esta já abrangida pelo seu exercício.
Regime das pessoas singulares: art.º 66.º a 156.º CC (simultaneamente com o regime
dos direitos de personalidade (arts, 70.º a 81.º).
Art.º 66.º, n.º 1: os homens possuem personalidade jurídica por si, sem qualquer
necessidade de uma concessão ou de um reconhecimento ou de uma outra atribuição
expressa pela lei, pois a sua personalidade resulta do simples facto do nascimento com
vida.
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Mas pessoa em sentido jurídico não é apenas a pessoa singular… Também temos as
pessoas colectivas: organizações erigidas pelos homens e às quais a ordem jurídica
atribuiu personalidade. As pessoas colectivas têm fundamentalmente como substrato ou
organizações de pessoas (sociedades, associações) ou conjunto de bens, massas
patrimoniais (fundações, institutos) que se encontram estruturados e organizados em
função de um fim comum a realizar, o qual transcende as potencialidades individuais.
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Nos exemplos referidos podemos observar que a lei distingue entre o direito e a
correspondente obrigação, por um lado, e entre aquilo sobre que o próprio direito
subjectivo incide, por outro. Este “aquilo” é o objecto mediato da relação jurídica.
Objecto mediato da relação jurídica: apenas pode ser o que é susceptível de estar sujeito
ao domínio do homem e que é susceptível de lhe ser atribuído pela ordem jurídica em
termos tais que a sua vontade é juridicamente decisiva para o objecto assim atribuído. O
objecto do direito é aquilo sobre que recai o poder do sujeito. Objecto mediato é aquilo
sobre que podem incidir os poderes que caracterizam o direito subjectivo.
Exs: uma coisa, um produto intelectual, uma prestação e até um direito… O homem não
pode ser objecto de direito “porque apenas pode fazer parte de uma relação jurídica
conforme a sua condição de sujeito…, não como mero objecto de decisões de outrem.
O protótipo dos objectos de direito, dos objectos mediatos da relação jurídica, são as
coisas.
Coisas corpóreas: quando sobre estas pode recair um poder de domínio (exs: animais,
objectos em sentido comum…)
Coisas incorpóreas: sobre elas recai um poder de utilização exclusiva (exs: patentes,
programas de computadores, software)
De modo igual não existem dúvidas de que um direito pode er objecto de relações
jurídicas [exs: penhor de direitos (arts. 679.º e ss.), compra e venda (art.º 879.º, a), 2.ª
altern.), doação (art.º 954.º, a), 2.ª alter.), usufruto de direitos de crédito (arts. 1439.º,
1446.º, 1463.º e 1464.º), usufruto de acções ou partes sociais (art.º 1467.º) e hipoteca
sobre direitos (art. 668.º, n.º 1, als. D), c) e e).
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As coisas como objectos mediatos da relação jurídica
Art.º 202.º, n.º 1 – “Diz-se coisa tudo aquilo que pode ser objecto de relações jurídicas”.
Críticas:
- Consideram esta definição desnecessária, de tipo manualístico;
- Consideram-na incorrecta por compreender – devido à pretendida equiparação de
“coisa” e “objecto da relação jurídica” – além das coisas propriamente ditas “ainda as
prestações, os direitos e até… pessoas, já que todas estas realidades podem ser objecto
de relações jurídicas.
O CC fala dos “factos jurídicos” no subtítulo III, do título II da Parte Geral, depois de
tratado “Das coisas”.
Dividido em 3 capítulos:
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2) Actos jurídicos (art.º 295.º);
3) Normas relativas à repercussão do tempo nas relações jurídicas (arts. 296.º a
333.º).
Assim, o CC não trata de todos os factos jurídicos, pois estão dela excluídos, dentro da
mesma lógica que separa a responsabilidade contratual da extracontratual, os factos
ilícitos e afins e, além disso, certos factos involuntários (legais e naturais), distribuídos
por vários lugares da lei, bem como as consequências (legais) dos actos jurídicos.
Assim, o subtítulo III não dá um tratamento exaustivo dos factos jurídicos.
É a vontade que provoca o próprio facto ao qual se dirige, o que não quer
dizer que a vontade abranja, de modo igual, os seus efeitos (a vontade pode abrangê-los
ou não, ser relevante ou irrelevante para eles) – decisiva para a voluntariedade do facto
jurídico é a vontade a seu respeito (e não a respeitos dos seus efeitos), mesmo que se
trate de uma vontade de algum modo deficiente ou incompleta.
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1.a) Factos lícitos (que estão de acordo com a ordem jurídica); pode acontecer
que um facto lícito seja antecedido ou influenciado por um comportamento ilícito de
outrem (ex: coacção moral, dolo…) – e este comportamento não tira a qualidade de
ilícito à actuação do próprio agente, que está em conformidade com a lei, mas afecta a
sua validade.)
1.b) Factos ilícitos: que são contrários à ordem jurídica; os efeitos jurídicos
produzidos por um facto ilícito traduzem-se numa sanção civil. A sanção civil procura
restabelecer os interesses privados da pessoa ofendida/reparar os danos sofridos ----»
danos patrimoniais: ou por restauração natural (restabelecimento do estado anterior),
ou por restituição por equivalente (indemnização pecuniária quando o restabelecimento
não é possível ou viável); danos morais: a indemnização pecuniária tem carácter
reparatório e de compensação.
Os factos voluntários lícitos também são chamados actos jurídicos em sentido lato,
conceito que compreende:
- os negócios jurídicos (art.º 217.º a 294.º);
- os simples actos jurídicos / actos jurídicos em sentido restrito (art.º 295.º);
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Negócio jurídico: produz os seus efeitos jurídicos porque estes foram queridos pela
vontade; o negócio jurídico é um acto volitivo-final quanto aos efeitos previstos; é um
acto criador a respeito da conformação de relações jurídico-privadas. A origem, o
conteúdo e as consequências de um negócio jurídico são o resultado da vontade, mesmo
que as partes não tenham pensado em todos os feitos possíveis, visto estes poderem ser
reconduzidos à sua origem volitiva.
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c) O esquema classificativo; distinções complementares
Outras distinções
Factos jurídicos positivos (que, sendo acções e não simples omissões, se traduzem
numa alteração de um estado de coisas ou situação de facto preexistentes) e
Factos jurídicos negativos (que, não sendo acções, consistem na perduração ou
manutenção do estado de coisas anterior;
Negócio jurídico é uma declaração de vontade privada que visa a produção de um efeito
jurídico conforme a ordem jurídica por causa de ter sido querido pelas partes.
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O negócio jurídico mais importante é o contrato.
Nulidade: o negócio jurídico não produz nenhum dos efeitos jurídicos previstos e
intencionados, podendo, no entanto, dar origem a alguns feitos jurídicos laterais,
estabelecidos na lei, ou certas situações de facto.
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- provisoriedade quanto aos efeitos produzidos, num caso, e certeza quanto aos
efeitos não produzidos, noutro.
No negócio jurídico nulo, o qual nem sequer começou a produzir os seus efeitos
jurídicos pretendidos, não é possível destruir retroactivamente os mesmos, logo, é
apenas proposta uma acção visando a declaração de nulidade do negócio, nos termos
dos arts. 285.º (modifica uma situação jurídica existente) e 286.º (acção essencialmente
declarativa).
Nulidade ---» pode ser invocada por qualquer interessado ou declarada oficiosamente
pelo tribunal.
Anulabilidade ---» Só a pode invocar “as pessoas em cujo interesse a lei a estabelece”.
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Contagem dos prazos: art. 279.º (art.º 296.º)
Prescrição (art.º 298.º, n.º1, 300.º a 327.º): tem como efeito que o beneficiário (o
devedor) tem a faculdade de se opor ao exercício do direito prescrito (art.º 304.º, n.º1)
sem, no entanto, este direito se extinguir (art.º 304.º, n.º 2) – apenas acontece que o
direito de exigir (obrigação civil) fica reduzido a um direito de pretender (obrigação
natural). É uma excepção peremptória (conduz à absolvição do pedido); a prescrição
para ser eficaz tem de ser invocada pelo beneficiário.
Prazo ordinário de prescrição é de vinte anos (art.º 309.º, 311.º, n.º1), mas há prazos
inferiores (art. 310.º, 316.º, 317.º).
Todos os prazos começam a correr a partir do momento em que o direito podia ser
exercido (art.º 306.º).
Suspensão da prescrição (art.º 318.º a 322.º); Interrupção (arts. 323.º a 327.º)
Interrupção = o tempo decorrido fica inutilizado, começando a corre novo prazo
Suspensão = o período durante o qual ela se verifica não é incluído no cálculo da
contagem do prazo da prescrição.
Caducidade (arts. 298.º, n.º2, 328.º a 333.º) – o direito extingue-se a partir do momento
em que expirou o prazo dentro do qual deveria ter sido invocado. É apreciada
oficiosamente pelo tribunal (art.º 333.º, n.º 1), a não ser quando a caducidade está à
disposição das partes (ex: art.º 416.º, n.º 2 e art.º 333.º, n.º 2 e 303.º CC)
Enquanto que o direito continua a existir, o direito caducado perdeu a sua existência.
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Personalidade, capacidade jurídica, capacidade de agir e incapacidades
Art,.º 67.º - a capacidade jurídica consiste em que as pessoas podem ser sujeitos de
quaisquer relações jurídicas, salvo disposição legal em contrário.
Art.º 67.º = capacidade de gozo; as disposições que impedem o gozo de certos direitos
têm carácter de excepção, e estas ocorrem quando se verificam certas “qualidades
minguantes” na própria pessoa a respeito de determinados direitos estritamente
pessoais. Assim, elas podem surgir em relação ao casamento, à perfilhação e à feitura
do testamento, conforme está expresso na lei.
A capacidade negocial, de gozo e de exercício
A capacidade negocial pressupõe a capacidade jurídica. Mas uma pessoa pode ter
capacidade jurídica sem possuir simultaneamente a capacidade negocial.
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Enquanto a capacidade jurídica, como capacidade de gozo, significa a susceptibilidade
de ser sujeito de relações jurídicas ou de ter direitos subjectivos, a capacidade negocial
respeita à idoneidade de se tornar sujeito de relações jurídicas ou titular de direitos
subjectivos.
Se estes direitos forem de natureza estritamente pessoal, de modo que não podem ser
assumidos por outrem em nome e em vez do titular, a capacidade para se tornar titular
daqueles direitos chama-se capacidade negocial de gozo (art.º 1600.º, 1601.º, 1591.º,
1850.º, 2188.º)
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