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A EFICÁCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO

1. A formação do negócio jurídico

A) As modalidades da declaração negocial; os seus elementos

Para haver um negócio jurídico é preciso a existência de, pelo menos, uma declaração
de vontade que o integre. Quer dizer, o primeiro passo para o negócio jurídico consiste
numa declaração de vontade.

A declaração negocial é composta por 2 elementos: o objectivo ou externo e o


subjectivo ou interno. O primeiro corresponde às modalidades em que a vontade pode
ser revelada; o segundo corresponde à vontade que motiva a declaração negocial.

 Comecemos pelo primeiro elemento…

Art.º 217.º Declaração expressa e declaração tácita


1. A declaração negocial pode ser expressa ou tácita: é expressa, quando feita
por palavras, escrito ou qualquer outro meio directo de manifestação da
vontade, e tácita, quando se deduz de factos que, com toda a probabilidade a
revelam.
2. O carácter formal da declaração não impede que ela seja emitida
tacitamente, desde que a forma tenha sido observada quanto aos factos de que a
declaração se deduz.

Art.º 218 O silêncio como meio declarativo


O silêncio vale como declaração negocial, quando esse valor lhe seja atribuído por lei,
uso ou convenção.

A declaração negocial pode ser:


a) Expressa: quando é feita por palavras, escrito ou qualquer outro meio directo de
manifestação da vontade (ex: gestos ou sinais); há, portanto, uma manifestação directa
da vontade. (Art.º 217.º, n.º1, 1.ª parte)

b) Tácita: quando se deduz de factos que, com toda a probabilidade, “a” revelem,
referindo-se o “a” à vontade (art.º 217.º, n.º 1, 2.ª parte); é, portanto, uma manifestação
indirecta da vontade que se baseia num comportamento concludente do declarante. O
comportamento destina-se principalmente ou simultaneamente a um outro fim, mas
permite a conclusão no sentido da existência de uma dada vontade negocial. Assim, o
comportamento declarativo não aparece como visando directamente de uma maneira
frontal a exteriorização da vontade que se considera declarada por essa forma.
Ex: Quem estaciona o seu automóvel num parque de estacionamento,
sujeito ao pagamento de um preço, visa de uma maneira directa estacionar o carro mas
revela, implicitamente, ainda a vontade de aceitar o preço estabelecido).

c) Feita por meio da atribuição de valor declarativo ao silêncio (que se distingue da


declaração tácita, onde há uma “manifestação”): o silêncio em termos de declaração
negocial, por via de regra, não vale nada (art.º 218.º), apenas valendo como declaração
negocial, nos casos expressamente previstos, ou seja, quando esse valor lhe seja
atribuído por lei, uso ou convenção.

- Art.º 923.º, n.º 2 (aceitação da proposta de venda a contento):


“1. A compra e venda feita sob reserva de a coisa agradar ao comprador vale como
proposta de venda.

2. A proposta considera-se aceite se, entregue a coisa ao comprador, este não se


pronunciar dentro prazo de aceitação, nos termos do n.º1, do artigo 228.º.

3. A coisa deve ser facultada ao comprador para exame.”

- Art.º 1163.º (aprovação por silêncio), falando aqui a epígrafe do preceito em


aprovação tácita (!):
Comunicada a execução ou inexecução do mandato, o silêncio do mandante por tempo
superior àquele em que teria de pronunciar-se, segundo os usos ou, na falta destes, de
acordo com a natureza do assunto, vale como aprovação da conduta do mandatário,
ainda que este haja excedido os limites do mandato ou desrespeitado as instruções do
mandante, salvo acordo em contrário.

- Art.º 417.º Código Comercial (conversão dos contratos condicionais em contratos


perfeitos);

- Art.º 22.º, n.º 2 da Lei sobre o Contrato de Agência (ratificação do negócio do


principal, quando o agente tenha celebrado o mesmo sem os respectivos poderes de
representação).

 Definidas as modalidades para declarar a vontade, o elemento objectivo ou


externo), passemos agora a descrever o elemento subjectivo ou interno que subjaz –
como pressuposto lógico – àquela declaração: a vontade.
3 sub-elementos:
a) Vontade de acção: é a vontade dirigida à execução da
própria acção mediante a qual se manifesta a vontade negocial (por ex., a vontade
de falar, de escrever, de fazer gestos…). Não há vontade de acção, nem acção
negocial no caso de movimentos inconscientes ou de reflexos ou no caso de
coacção física. Por outro lado, há vontade de acção e acção negocial quando o
declarante age sob coacção moral.
b) Vontade (ou consciência) de declaração: Existe
quando o declarante tem a consciência de que o seu comportamento ou a sua
manifestação (art.º 217.º, n.º1, 1.ª e 2.ª partes) significam uma declaração
negocial, num sentido qualquer, ou podem ser entendidos neste sentido. O
elemento essencial da vontade de declaração é a consciência de criar uma
vinculação jurídica. Faltando esta, não há uma declaração negocial.
c) Vontade negocial: é a vontade dirigida a um
negócio jurídico concreto incidindo sobre um determinado objecto ou referindo-se
a uma qualidade precisa. A não coincidência entre a vontade negocial e a
declaração feita pode levar a um erro na declaração. A vontade negocial não se
confunde com os motivos (por ex, para fazer uma prenda, para aproveitar uma
baixa de preços, para readquirir uma antiga propriedade familiar…), os quais não
possuem qualquer relevância jurídica.

Apesar de, como ficou exposto, a declaração negocial ser formada pelos elementos
interno (vontade) e externo (declaração), ela constitui um todo.
Se um dos referidos sub-elementos faltar de todo, ou for deficiente, ou se o elemento
objectivo não obedecer às exigências legais, a declaração negocial é atingida por esse
facto e, conforme os casos, não existente ou inválida (nula ou anulável), repercutindo-se
a invalidade sobre os seus efeitos, ou simplesmente irregular (podendo ser rectificada).

B) A forma da declaração negocial; a sua distinção da publicidade

Em sintonia com o princípio da liberdade declarativa, o Código estabelece o princípio


da liberdade de forma, de acordo com o disposto no art.º 219.º:
A validade da declaração negocia não depende da observância de forma especial,
salvo quando a lei a exigir.

Deste modo, os declarantes não são obrigados, por via de regra, a adoptar uma forma,
facto que não exclui, porém, que eles próprios resolvam, dentro do princípio da
liberdade de forma, escolher voluntariamente uma forma qualquer. Neste caso fala-se da
forma convencional.
Art.º 222.º, n.º 1 – prevê o caso de o autor da declaração ter adoptado, de livre vontade,
a forma escrita e diz, ao circunscrever o âmbito desta forma voluntária, que ela não
afecta ou prejudica eventuais estipulações acessórias verbais, desde que correspondam à
vontade do declarante.
Art.º 223.º - Regula situações em que as partes convencionaram ou estipularam entre si
uma determinada forma voluntária (portanto, não só a simples forma escrita, como no
art.º 222.º) e prevê, em atenção à altura em que a estipulação foi feita, dois tipos de
efeitos diferentes provocados pela forma escolhida.
Art.º 223.º Forma Convecional
1. Podem as partes estipular uma forma especial para a declaração; presume-se,
neste caso, que as partes se não querem vincular senão pela forma
convencionada.
2. Se, porém, a forma só for convencionada depois de o negócio estar concluído
ou no momento da sua conclusão, e houver fundamento para admitir que as
partes se quiseram vincular desde logo, presume-se que a convenção teve em
vista a consolidação do negócio, ou qualquer outro efeito, mas não a sua
substituição.

Assim, a exigência de forma feita voluntariamente pode, por isso mesmo que se trata de
uma forma voluntária, ser afastada pelas partes, através de uma determinação ulterior ou
sucessiva em sentido contrário.

Princípio da liberdade declarativa ----» art.º 217.º CC -----» excepções: arts. 590.º, n.º 2;
595.º, n.º2; 731.º, n.º2 e 957.º, n.º1.

Princípio da liberdade de forma ----» art.º 219.º CC -----» excepções: arts. 875.º, 947.º,
981.º ou 1710.º -----» aqui a observância da forma legal é um pressuposto de validade
do negócio.

As finalidades e razões justificativas para a imposição da forma legal são


principalmente as seguintes:
1.º - a ponderação da decisão em ordem a evitar soluções precipitadas ou irreflectidas,
como meio de protecção das partes;
2.º - a clareza acerca do momento exacto da conclusão de um negócio, separando-o da
fase de negociações;
3.º - a clareza a respeito do próprio conteúdo do negócio;
4.º - a segurança da prova;
5.º - uma assistência profissionalmente competente, destinada a averiguar, em jeito de
controlo prévio, ainda a capacidade negocial dos intervenientes;
6.º - a cognoscibilidade para terceiros, uma vez que os notários, por ex, estão, em
princípio, obrigados a prestar verbalmente informações relativas aos actos, registos e
documentos arquivados, ao abrigo da publicidade notarial;
7.º - o controlo para preservar interesses da comunidade ou de terceiros;
8. – a dificultação do negócio em certas situações ou circunstâncias específicas, ditada
por razões “sociais”, como acontece, por exemplo, com as vendas ao domicílio ou as
vendas por correspondência.
Da forma dos negócios deve distinguir-se a sua publicidade. Quer dizer, certos negócios
estão – em seguida à sua celebração por meio de acto formal ou não – sujeitos a
publicidade, nomeadamente a registo; a publicidade ou a falta dela em nada afectam o
negócio, tendo apenas como consequência a inoponibilidade do negócio a terceiros,
embora produzindo todos os efeitos em relação às partes (na verdade, os terceiros não
são supostos de conhecer o negócio, precisamente por lhe faltar a publicidade. Todavia,
em certas situações legalmente previstas há consequências mais severas para a
inexistência de publicidade, como por exemplo, o registo do contrato de sociedade
comercial é necessário para a existência da sociedade comercial.

Acrescente-se por fim, que o formalismo legal ainda conhece – tal como sucede com a
forma convencionada – a “forma ad probationem”, sem relevância para a validade do
negócio.

C) A perfeição da declaração negocial

Não é apenas relevante para uma declaração negocial o seu conteúdo, de acordo com o
modo em que a vontade se manifesta, ou a sua forma, observada por virtude da lei ou
convenção, mas ainda o momento da sua eficácia (ou perfeição) antecedido, por seu
lado, ainda o momento da emissão. Ao aspecto estrutural junta-se um elemento
temporal: o desenvolvimento da declaração no tempo.

Ou seja, para que os efeitos jurídicos de uma declaração negocial se produzam é preciso
que esta, depois de ter sido feita ou formulada, se tone eficaz, perfeita.
Existência de uma declaração negocial
Momentos sequenciais:
1.º - exteriorização, quando a declaração é Fenómenos que se
Fenómenos
verificam do lado
formulada ou manifestada, exprimindo o
que se
do declaratário,
declarante a sua vontade; verificam
sendodoo
2.º - expedição, quando a declaração, depois de lado do
pressuposto lógico
exteriorizada, é expedida pelo declarante; declarante
de ambos a anterior
emissão da
3.º - recepção, quando a declaração chega ao declaração negocial
poder do seu destinatário ou declaratário em
termos que normalmente lhe permitam tomar
conhecimento do seu conteúdo (entrada na esfera
de poder do declaratário);
4.º - conhecimento, quando o destinatário ou
declaratário toma, de facto, conhecimento da
declaração que lhe foi dirigida

Porém…
Nem todas as declarações negociais apresentam as fases descritas em cima, em que
aparece, primeiro, um declarante e, em seguida, um declaratário.

Declarações receptícias VS Declarações Não Receptícias

Ex: Uma proposta contratual Ex: Um testamento

Dirigem-se a um destinatário ou Não se dirigem a um destinatário,


declaratário; Os momentos acima de maneira que nelas não se
mencionados, embora podem verificar os momentos da
logicamente separáveis, podem recepção e do conhecimento por
coincidir no tempo. parte de um declaratário, mas
apenas o da exteriorização e da
expedição do lado do declarante.

No que diz respeito ao momento em que a declaração negocial ganha eficácia, ou seja, o
momento em que começa a produzir os seus efeitos, existem quatro teorias, ligadas às
diversas fases que a declaração pode percorrer:

1.º - segundo a teoria da exteriorização basta a simples exteriorização da vontade;

2.º - segundo a teoria da expedição, a declaração negocial ganha eficácia quando é


expedida;

3.º - segundo a teoria da recepção, a perfeição obtém-se no momento em que a


declaração chega ao poder do seu destinatário;
4.º - segundo a teoria do conhecimento ou teoria da percepção é decisivo o momento em
que o destinatário toma conhecimento da declaração.

Art.º 224.º Eficácia da declaração negocial

1. A declaração negocial que tem um destinatário torna-se eficaz logo que chegue
ao seu poder ou é dele conhecida (declarações receptícias); as outras, logo que
a vontade do declarante se manifesta na forma adequada (declarações não
receptícias).
2. É também considerada eficaz a declaração que só por culpa do destinatário não
foi por ele oportunamente recebida.
3. A declaração recebida pelo destinatário em condições de, sem culpa sua, não
poder ser conhecida é ineficaz.

Quanto às declarações receptícias, é necessário e suficiente que se verifique um dos dois


pressupostos enunciados, ou a chegada ao poder ou o conhecimento, para que a
declaração negocial se torne eficaz. Assim, a perfeição da declaração negocial surge
pelo pressuposto que se verificar primeiro, combinando, nesta medida, a teoria da
recepção (“… logo que chega ao poder…”), com a teoria do conhecimento (“… logo
que … é dele conhecida”). Acrescente-se, ainda, que para se dar a chegada ao poder
não é conceitualmente necessário que a declaração negocial chegue ao poder imediato
do próprio declaratário, bastando o depósito no local indicado para o efeito em
condições normais ou a entrega (ou a comunicação) a uma pessoa autorizada para
receber a declaração.

Art.º 224, n.º 2 e 3 ----» regras auxiliares para as declarações receptícias;


n.º 2 ---» desvio ao critério da chegada ao poder (a declaração é tida
como eficaz apesar de não ter chegado ao poder, quando isso foi culposamente
impedido pelo destinatário, por exemplo, o destinatário recusa-se a receber a carta do
carteiro)
n.º 3 ---» clarificação do conceito da chegada ao poder (tem por ineficaz
uma declaração recebida pelo destinatário em condições de ele, sem culpa sua, não
poder tomar conhecimento dela (exs.: uma carta dirigida a um analfabeto; normalmente
não será eficaz a denúncia de um contrato, mediante o depósito na caixa de correio,
quando o destinatário se encontra em férias, na altura das férias gerais, de modo que não
se pode contar com a sua presença)

Art.º 224.º, n.º1, 2.ª parte -----» declarações não receptícias: tornam-se eficazes logo
que a vontade se manifesta na forma adequada (aplica-se, igualmente, este regime às
declarações receptícias abrangidas pelo art.º 225.º):
- teoria da exteriorização: ex., testamento (art.º 2179.º);
- teoria da expedição: ex., promessa pública (art.º 459.º).

Art.º 226.º (Morte, Incapacidade ou indisponibilidade superveniente)

2. A conclusão do contrato

Art.º 232.º Âmbito do acordo de vontades


O contrato não fica concluído enquanto as partes não houverem acordado em todas as
cláusulas sobre as quais qualquer delas tenha julgado necessário o acordo.

A) A proposta contratual e a sua aceitação

A conclusão do contrato faz-se mediante uma proposta, formulada pelo proponente, e a


aceitação desta proposta, proveniente do aceitante, que conduzem ao acordo entre
ambos.

1.ª declaração ---» proposta contratual, formulada pelo proponente.

Convite a Contratar (não é uma


declaração negocial, uma vez que falta a vontade do
autor do convite de se vincular juridicamente, a vontade
ou consciência de declaração; Ex: envio de catálogos)
A proposta tem que ser concreta e determinada, clara e completa, embora certos
pormenores laterais e não essenciais (por exemplo, o tamanho ou número de
embalagens para certa quantidade de mercadorias) possam ser deixados à consideração
da outra parte.

Art.º 230.º Irrevogabilidade da proposta


1. Salvo declaração em contrário, a proposta de contrato é irrevogável depois de
ser recebida pelo destinatário ou de ser dele conhecida.
2. Se, porém, ao mesmo tempo que a proposta, ou antes dela, o destinatário
receber a retractação do proponente ou tiver por outro meio conhecimento
dela, fica a proposta sem efeito.
3. A revogação da proposta, quando dirigida ao público, é eficaz, desde que seja
feita na forma da oferta ou em forma equivalente.

Deste artigo decorre que todas as propostas são, em princípio, irrevogáveis, a não ser
que haja excepções, de resto admitidas logo no início do n.º 1. Todavia, a proposta
nunca pode ser revogada depois de ter sido aceite, suposto que a aceitação leve à
conclusão do contrato (art.º 406.º, n.º1, 2.ª parte “… e só pode modificar-se ou
extinguir-se por mútuo consentimento dos contraentes ou nos casos admitidos na lei.”).

Na hipótese da retractação do proponente, prevista no n.º2 do art.º 230.º (para os casos


em que ainda não se deu a eficácia de acordo com o art.º 224.º, n.º 1, 1.ª parte e n.º 2,
sem que se verifiquem os pressupostos do art.º 224.º, n.º 3), pode acontecer que a
chegada ao poder da proposta e a chegada ao poder da retractação ocorram em alturas
diferentes, sendo simultâneo, porém, o momento do conhecimento ---» aqui é decisivo o
momento do conhecimento efectivo

N.º 3, do art.º 230.º ---» corresponde às regras dos arts. 224, n.º1, 2.ª parte e 225.º.

Art.º 231.º, n.º 1 -----» completa o princípio da irrevogabilidade

Art.º 228.º Duração da proposta contratual

1. A proposta do contrato obriga o proponente nos termos seguintes:


a) Se for fixado pelo proponente ou convencionado pelas partes um prazo
para a aceitação, a proposta (feita numa das modalidades do art.º 217.º)
mantém-se até o prazo findar; (mantém-se até ao fim do prazo)
b) Se não for fixado prazo, mas o proponente pedir resposta imediata, a
proposta (feita numa das modalidades do art.º 217.º) mantém-se até que,
em condições normais (tempo de comunicação ou transporte ou
transmissão regulares), esta e a aceitação cheguem ao seu destino;
c) Se não for fixado prazo e a proposta for feita a pessoa ausente
(virtualmente numa das modalidades do art.º 217.º) ou, por escrito, a
pessoa presente, manter-se-á até cinco dias depois do prazo que resulta
do preceituado na alínea precedente (cumula os prazos da alínea b).
2. O disposto no número anterior não prejudica o direito de revogação da
proposta nos termos em que a revogação é admitida no artigo 230.º.

Quanto aos casos em que não foi fixado prazo, nem pedida uma resposta imediata e a
proposta foi dirigida, verbalmente, a um presente, entende-se que não há razões para
não conceder ao destinatário um período de reflexão, de acordo com as circunstâncias,
antes de aceitar.

Se não se aceitar a proposta tempestivamente, ou seja, dentro do prazo, ela extingue-se e


caduca, ficando o proponente completamente desvinculado e desobrigado da mesma.
Por isso, se em consequência de uma aceitação tardia a proposta tiver caducado, a
formação do contrato depende de nova proposta e de nova aceitação (art.º 229.º, n.º2, 2.ª
parte).

A conclusão do contrato pressupõe assim, sempre, uma proposta e a sua aceitação,


devendo a aceitação ocorrer e tornar-se eficaz, em princípio, dentro do prazo em que a
proposta de contrato obriga o proponente.

Regra: a aceitação deve ser feita ao proponente.


Excepções: a aceitação não tem de ser levada ao conhecimento ou ao poder do próprio
proponente (art.º 234.º):
Quando a proposta, a própria natureza ou circunstâncias do negócio, ou os usos
tornem dispensável a declaração de aceitação, tem-se o contrato por concluído logo
que a conduta da outra parte mostre a intenção de aceitar a proposta.

Declaração negocial tácita, não receptícia

Depois de se tornado eficaz, a aceitação é – tal como uma proposta – irrevogável.

A aceitação pode ser revogada anteriormente, em conformidade com as regras do art.º


235.º, n.º 2, onde se lê: “A aceitação pode ser revogada mediante declaração que ao
mesmo tempo, ou antes dela, chegue ao poder do proponente ou seja dele conhecida.”
---» não se aplica ao disposto no art.º 234.º (onde há uma declaração tácita).

Art.º 233.º Aceitação com modificações

A aceitação com aditamentos, limitações ou outras modificações importa a rejeição da


proposta; mas, se a modificação for suficientemente precisa, equivale a nova proposta,
contanto que outro sentido não resulte da declaração.

A esta nova proposta, a contra-proposta, aplicam-se, necessariamente, todas as regras


estabelecidas nos arts. 224.º, 226.º, 228.º a 235.º, simplesmente se invertendo os papéis
(o originário proponente torna-se destinatário e o originário aceitante passa a ser
proponente).

Para a conclusão do contrato são necessárias sempre uma proposta eficaz e a sua
aceitação eficaz e tempestiva, bem como a concordância entre as partes
contratantes, resultante da convergência entre o conteúdo da proposta e aceitação.
O momento da conclusão do contrato é o da eficácia
da declaração de aceitação ou, sendo esta dispensada, a altura da respectiva
conduta exterior. Os casos em que o silêncio conduz à formação do contrato estão
expressamente tipificados na lei.
B) Os efeitos da conclusão do contrato, nomeadamente os seus efeitos reais

Artigos relevantes: 408.º, 796.º (exemplificados pelos arts. 874.º e 879.º);

Art.º 408.º
1. A constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa determinada dá-se
por mero efeito do contrato, salvas as excepções previstas na lei.

Art.º 796.º
1. Nos contratos que importem a transferência do domínio sobre certa coisa ou
que constituam ou transfiram um direito real sobre ela, o perecimento ou
deterioração da coisa por causa não imputável ao alienante corre por conta
do adquirente.

Art.º 874.º

Compra e venda é o contrato pelo qual se transmite a propriedade de uma coisa, ou


outro direito, mediante um preço.

Art.º 879.º ---» efeitos essenciais da celebração do contrato de compra e venda:

a) A transmissão da propriedade da coisa ou da titularidade do direito, como


efeito imediato, ao produzir-se no próprio momento da sua conclusão;
b) A obrigação de entregar a coisa, como comportamento subsequente à própria
celebração do negócio;
c) A obrigação de pagar o preço, igualmente um comportamento posterior ao
consenso negocial.

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