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Vol. II.

de casos

II

No dia 1 de Outubro, por documento particular autenticado, Alda vendeu a


Bruna um apartamento, por 200.000 euros, a pagar um mês depois.
No contrato de compra e venda nada foi dito quanto ao lugar do pagamento
do preço, mas ficou convencionado que Alda entregará as chaves do
apartamento no domicílio de Bruna, no dia 15 de Outubro.

1.ª hipótese: No dia 3 de Outubro, por telefone, Alda e Bruna combinam


que o preço deverá ser entregue por Bruna, na data prevista, na residência de
Carla, amiga de ambas. Qual a validade deste acordo?

875 + 772

O lugar e o tempo do cumprimento n são clausulas sujeitas a forma; são


estipulações acessórias.

2.ª hipótese: Admita agora que do documento autenticado constava a


seguinte cláusula: “O preço deverá ser pago por Bruna no domicílio de Alda”.
Qual a validade do acordo de 3 de Outubro?
222 n2
Mota pinto – os pactos modificativos, as estipulações acessórias
ou essenciais de um contrato, estão isentos de forma escrita pq nao
cabem no art 221 n2. Entende que a situação é ainda abrangida pela
forma legal
MRR – se estamos perante uma clausula que não se abrange no
221 n2, pq é uma clausula acessória, não se aplicam os motivos quanto á
exigência de forma, e se não está abrangido pelo 221 ent aplicamos o reg
222 da forma voluntaria, em especial o n2 para concluirmos que é
valida.
Não é valida pelo 221 n2, mas pelo 222 n2. Temos que passar
pelo 221 n2 sempre, no entanto.
Adotam a forma voluntaria, 222º n2, porque é uma disposição
posterior.
(ligeiramente adaptado a partir de CARLOS LACERDA BARATA,
Teoria geral do Direito civil – Casos práticos, AAFDL, Lisboa, 2012,
4.ª ed., p. 109)

III

Antónia, às portas da morte, escreve a Benedita, sua afilhada, no dia do


casamento desta: “Dou-te todos os meus anéis”. Ao que Benedita responde:
“Agradeço à madrinha.”
Quando dias depois, em reunião familiar, Antónia entrega os anéis a
Benedita esta assinala que falta um anel – o que tem um valiosíssimo relógio
incorporado. Antónia responde dizendo que se trata de um relógio, e não de um
anel – de resto, o seu relógio do dia-a-dia. Quid iuris?

Eduardo - Negocio jur bilateral gratuito, em que apenas 1 das partes tem
proveito económico. Art 940º. Temos 2 dclarações (a primeira expressa, a
segunda ‘’agradeço à madrinha’’ – tacita). Forma – 947 n2; não sendo
acompanhada da entrega da coisa, só pode ser feita por escrita. Cumpre a
forma. 948 – capacidade para doar; 950 – capacidade passiva, da benetida;
efeitos essenciais – 954 (transmissão da propriedade, obrigação de entregar a
coisa); ‘’todos os meus aneis’’ declaração negocial, há uma forma escrita que é
cumprida; sobre a interpretação – teoria subjetivista, tínhamos de olhar para a
vontade da antonia; teoria objetivista – atribuir relevo ao sentido do
declaratário. O CC regula a interpretação do 236-238. 236 – visão mais
objetivista, sem esquecer elementos subjetivos. Não aplicou 236 n2. Chegou à
conclusão que um declaratário ia deduzir que esse relogio anel era incluído ou
perceber que não era incluído todos os aneis.
Mariana – contrato gratuito; sendo um problema de interp da declaração de
antonia, 236 é possível excluir o n2 pq não sabia a vontade real de antonio;
aplicamos o n1 com um pendor mais objetivista – no entanto, há uma restrição
da 2º parte que refere a teoria da responsabilidade ‘’o sentido normal que od
elcaratario extrair tem que ser imputado’’ ou seja tem que se assumir que pode
haver mais um sentido; logo vamos ao 237 que atende ao sentido jur que
realiza maior equilíbrio. 238 – para este contrato existe uma forma, que é
escrita (conceção mais objetivista) Antonia disse mais do que queria (não
queria incluir o relogio/anel) – fazemos uma analise restritiva. Conclusao: este
anel não seria entregue.
Prof - 945 – aceitação da doação; não é um caso de obrigações, referir a
questão do artigo 945+947 e dizer que, como foi feito por escrito (mas não é
solene), os efeitos produzem-se pelo acordo entre as partes (consensual) + 945
n3 – o contrato já produziu efeitos, pq foi uma doação de bens moveis por
forma escrita e a aceitação tbm foi feita por forma escrita.
Como a MRR refere na sua tese, primeiro vamos ao 236 e nos negó cios
formais o 238 funciona como um crivo para verificarmos se os critérios do
236 podem ser incluídos no 238, e se nã o couber temos um problema do
sentido de declaraao. 1º passo: 236(quer seja formal ou nã o). N2 – para a
MRR merece preferência aplicativa, ou seja, é o 1º art que devemos aplicar,
porque nos diz ‘’sempre que’’ indicia que este critério prevalece sobre os
critérios adicionais no n1. ‘’é possível…’’ Preferência aplicativa do 236 n2
pelo ‘’sempre que’’ e uma vantagem pratica que e dispensar o n1 quando é
claro que a declaraçã o vai valer pelo real declarante, pq o declaratá rio
sabia qual era esse sentido. A MRR tbm diz há uma ligaçã o entre o 236 n2
e a falsa demonstratio (quando as partes se exprimiram erradamente, mas
como sabem o sentido real é esse que vale). O 236 n2 nã o se limita a estes
casos de falsa demonstratio, mas abrange todos os casos mesmo quando as
partes se exprimiram de forma adequada (pq se conhece o sentido real da
declaraçã o). 236 n1 tem vá rios elementos que devemos analisar: 4
elementos: declaratá rio normal; ser colocado na posiçã o do real
declaratá rio; seja possível deduzir um comportamento do declarante;
salvo se este nã o pode razoavelmente…? O que é um declaratá rio normal?
é uma pessoa normal, nã o precisa de ser um medico, ter mais ou menos
diligencia, +/- inteligente, desligado de posiçõ es de boa e má fé, etc.
236 – Nã o abrange as situaçõ es unilaterais; está destinado em situaçõ es
em que há um declarante e um declaratá rio, e nã o as declaraçõ es que nã o
tem um destinatá rio.
Posiçã o real do declaratá rio – MRR diz que este homem neutro vai
mergulhar no corpo do real declaratá rio e olhar para as circusntancias
circundantes; vai ter acesso à info disponível ao real declaratá rio. A MRR
diz que temos de distinguir as ativs intelectuais dos elementos
‘’exteriores’’ (na medida em que sã o elementos alvos de interpretaçã o).
No nosso caso, a questã o colocava-se face a 2 elementos: por um lado,
sabemos que a antonia usa o anel durante o dia a dia e podemos perguntar
se o declaratá rio real sabia isso? Sim, podemos considerar que sim porque
existem laços familiares. Outro elemento: o facto de ela estar à s portas da
morte (isto nã o era um testamento e por si é invalido), mas é relevante da
perspetiva do que é que o real declaratá rio ia interpretar: ela está doente,
em breve nã o está cá mais e quer desfazer-se dos seus bens todos; quer
dispor-se dos aneis porque já nã o os vais usar mais. A MRR faz a questã o
‘’e se o declaratá rio normal tiver sido mais diligente?’’ se o padrao medio
da diligencia tinha feito mais questõ es sobre se o anel estava incluído ou
nã o. A MRR diz que nã o podemos fazer esse exercício hipotético de acordo
com uma diligencia acrescida, só podemos atuar com dados conhecidos.
Deduzir o comportamento do declarante: MRR refere o caso das
negociaçõ es que existiram antes, os usos sociais.
Saber se o declarante queria ou nã o atuar com det sentido: se chegar ao
sentido da frase temos que analisar se esse sentido pode ou nã o ter ainda
imputado algum declarante (cf – cedência à teoria mitigada da
responsabilidade?). Nestas situaçõ es, como refere a MRR nã o é saber se o
declarante queria aquele sentido ou pensou naquele sentido, mas o que
releva é saber se o declarante tivesse agido sensatamente teria
considerado aquele sentido.
O declaratá rio normal colocado na situaçã o de B (afilhada) teria uma
declaraçã o escrita que diz que ‘’todos os aneis sã o teus’’, mas eu sei que
aquele anel, à partida, tem um caracter de relogio e fica aqui uma duvida
‘’será que se enquadra em todos os aneis?’’.
Se analisamos o contexto fora da situaçã o em si, há 2 sentidos possíveis
q podem ser extraídos da declaraçã o: (prox aula 237 e 238)

Qual a diferença entre um bom pai de família e homem medio? Bom pai
de família – homem diligente, direto, é uma definiçã o moral; pode nã o
coincidir com o homem medio – modelo em branco criado para exemplos
de conceçõ es, é um critério menos exigentes, nem todas as pessoas sã o
corretas, diligentes, praticam a boa fé, etc.

MRR – interpretação sobre os negócios das declarações (está online)

IV

António fez saber por anúncio num jornal: “Vendo ratos, a 5€ cada um”.
Indicava, ainda, uma morada e um número de telefone.
Bcd, laboratório, precisava de ratos/cobaias. Ao ler o anúncio, Carlos,
empregado do laboratório, enviou de imediato uma carta a António em que
dizia pretender comprar 30 ratos. Em anexo à carta enviou vale postal, no valor
de 150 euros.
Alguns dias depois Carlos adquiriu uma gaiola e dirigiu-se à morada
indicada, para ir buscar os ratos. Qual não foi o seu espanto quando António
lhe pretendeu entregar 30 ratos de computador. Carlos recusa, afirmando que
aquilo que comprou (e pagou) foram 30 ratos animais. Quid iuris?

Art 224 – a declaraçã o negocial que tem um destinatá rio é eficaz assim
que chega ao seu poder ou dele é conhecida. (a declaraçã o de Carlos
chegou a Antó nio)

Artigo 236º n2 - A declaraçã o negocial vale com o sentido


correspondente à vontade real do declarante, desde que essa vontade seja
conhecida do declaratá rio. (a vontade real de Carlos nã o é conhecida por
Antó nio)

Estamos perante um erro de declaraçã o, em que a vontade real


(portanto, a vontade efetivamente pretendida) de Carlos era comprar 30
ratos animais, e nã o 30 ratos de computador.

O erro de declaraçã o é regulado pelo art. 247º CC , que nos diz que
‘’quando a vontade declarada nã o corresponde à vontade real do autor, a
declaraçã o é anulá vel, desde que o declaratá rio conhecesse o elemento
sobre que incidiu o erro’’ + art 251º ‘’o erro que atinja os motivos
determinados da vontade, quando se refira à pessoa do declaratá rio ou ao
objeto do negocio, torna este anulá vel nos termos do artigo 247’’.

O negó cio é entã o anulá vel e nã o produz efeitos, pelo que o dinheiro
deverá ser restituído a Carlos.

Art 289 n1 - Quanto à anulabilidade há efeitos jurídicos e sã o


destruídos retroativamente se o negó cio for anulado. (o dinheiro deve ser
devolvido)

Pequena nota: o anú ncio de Antó nio era pouco explicito; no entanto,
existiam meios de contacto que podiam ser utilizados para esclarecer tais
dú vidas antes de proceder a um efetivo negó cio, nomeadamente através do
telemó vel. ???? A boa fé aqui em causa é uma boa fé subjetiva e ética, porque o
art. 291º n3 diz que o 3º tinha que se informar minimamente (no exemplo do Bento,
ele foi ao registo e nada lá era suspeito).

João, residente em Évora, escreve a Luís, residente no Porto, comunicando-


lhe que tem, para venda, um puro sangue lusitano, por 50.000 €. Ao receber a
carta, Luís telefona a João e pergunta se pode ir conhecer o cavalo, tendo sido,
de imediato, combinada a visita para 2 dias depois.
Luís desloca-se a Évora com Marta, veterinária, e Nuno, jockey. Assim que
se aproximam do cavalo, os 3 visitantes percebem que o animal está
gravemente doente.
Luís, indignado, desinteressa-se da compra e exige que João pague as despesas
de deslocação das 3 pessoas a Évora. Acresce que Luís já tinha contratado
Nuno para se apresentar com o cavalo numa exposição no mês seguinte, pelo
que Luís reclama de João o pagamento de uma indemnização correspondente
ao que terá de pagar a Nuno e ao montante de que não beneficiará com a
participação na exposição.

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