Você está na página 1de 24

DIREITOS HUMANOS

Professor: Me. Fernando Cavaleiro de Macedo

1. Conceito de direitos humanos: São direitos subjetivos que se direcionam ao poder


público e protegem valores fundamentais (KIRSTE, 2016). ex: poder de tirar própria
vida, pessoa não pode ser
1.1. São elementos desse do conceito: julgada por isso.
a) Direito Subjetivo: Exigências de um sujeito de direitos contra outro sujeito de direito
sobre um determinado objeto de reivindicação (KIRSTE, 2016);
b) Obrigação fundamental: proibição do Poder Público impedir o exercício de
determinadas liberdades e limitação da competência do Poder Público para que não haja
fora da lei (KIRSTE, 2016).
1.2. Os Direitos Humanos podem ser:
a) Suprapositivos: não baseados em documentos jurídicos, servindo à realização de
deveres morais (KIRSTE, 2016);
b) Positivos: são acordados internacionalmente em declarações, convenções ou
constituições (KIRSTE, 2016).

OUTROS CONCEITOS DE DIREITOS HUMANOS

a) A perspectiva garantista:

Segundo Luigi Ferrajoli, configuram direitos humanos-fundamentais “todos aqueles


direitos que são atribuídos universalmente a todas as pessoas, enquanto
cidadãos ou enquanto capazes de agir”. O autor desenvolve, portanto, uma
definição formal ou estrutural de direitos humanos, pois não nos diz “quais são” ou
quais “deveriam ser”, mas tão somente “o que são direitos fundamentais”
(FERRAJOLI, Luigi. Por uma teoria dos direitos e dos bens fundamentais).

Para ele, os direitos humanos são formatados sob a arquitetura de regras gerais que
se aplicam igualmente a todas as pessoas (universalidade), sendo subtraídos da
esfera de disponibilidade política e de disponibilidade do mercado. Ou seja, os direitos
humanos são, por sua própria natureza, inalienáveis e indisponíveis.
Nas palavras de Ferrajoli, “esses direitos, não só são indisponíveis, como
funcionam como limites e restrições à legislação e, mais em geral, ao poder
político da maioria. Eles desenham aquela que chamamos de ‘esfera do
indecidível (que não)” (FERRAJOLI, Luigi. Por uma teoria dos direitos e dos bens
fundamentais).

Nesse sentido, temos os direitos de liberdade (expectativas negativas), que


consistem em imunidades contra determinadas ações estatais e definem a esfera
daquilo que nenhuma maioria pode decidir fazer (v.g. nenhuma maioria pode decidir
que um homem seja condenado à morte ou privado da liberdade pessoal sem um
processo). Por outro lado, temos os direitos sociais (expectativas positivas), as quais
correspondem – face às funções públicas – deveres de prestação (v.g. de assistência
médica ou de instrução) e que definem a esfera daquilo que nenhuma maioria pode
decidir não fazer (v.g. como não fornecer a alguém a assistência médica ou o ensino
fundamental). estado não pode
deixar de fazer
De acordo com Ferrajoli, todos os direitos fundamentais são (e se justificam
enquanto) leis dos mais fracos em alternativa às leis dos mais fortes que
vigorariam na sua ausência: “em primeiro lugar o direito à vida, contra a lei de quem
é mais forte fisicamente; em segundo lugar, os direitos de imunidade e de liberdade,
contra a lei de quem é mais forte politicamente; em terceiro lugar, os direitos sociais,
que são os direitos à sobrevivência, contra a lei de quem é mais forte social e
economicamente” (FERRAJOLI, Luigi. Por uma teoria dos direitos e dos bens
fundamentais).

Tais direitos foram conquistados como forma de limitação dos poderes


selvagens e na defesa dos sujeitos mais fracos contra as leis dos mais fortes –
igrejas, soberanos, maiorias, aparatos policiais ou judiciários, empregadores,
poderes paternos ou maritais. “E responderam, todas as vezes, a um “nunca mais”
estipulado contra a violência ou a prevaricação gerada pela ausência de limites e de
regras” (FERRAJOLI, Luigi. Por uma teoria dos direitos e dos bens fundamentais).

b) A perspectiva da teoria crítica:


Outra definição muito relevante é aquela fornecida por Joaquim Herrera Flores no
sentido de que “direitos humanos são processos institucionais e sociais que
possibilitam a abertura e a consolidação de espaços de luta pela dignidade
humana” (HERRERA FLORES, Joaquim. A (re)invenção dos direitos humanos).
Ou seja, eles são o resultado histórico dos processos de luta social e política por
dignidade.

Desse modo, “a universalidade dos direitos somente pode ser definida em função
da seguinte variável: o fortalecimento de indivíduos, grupos e organizações na
hora de construir um marco de ação que permita a todos e a todas criar as
condições que garantam de um modo igualitário o acesso aos bens materiais e
imateriais que fazem com que a vida seja digna de ser vivida”. Para esse autor, a
universalidade não pode ser uma consideração abstrata, mas sim um objetivo concreto
na realização dos direitos humanos. Mais do que um ponto simples ponto de partida,
a universalidade dos direitos humanos precisa ser tomada como um ponto de chegada,
ou seja, de confluência, fruto de processos conflitivos, discursivos, de confronto e de
diálogo.

“O relevante é construir uma cultura dos direitos que acolha em seu seio a
universalidade das garantias e o respeito pelos diferentes” (HERRERA FLORES,
Joaquim. A (re)invenção dos direitos humanos).

Por essa razão, “os direitos humanos não são categorias prévias à ação política
ou às práticas econômicas. A luta pela dignidade humana é a razão e a
consequência da luta pela democracia e pela justiça. […] Pelo contrário, os
direitos humanos constituem a afirmação da luta do ser humano para ver
cumpridos seus desejos e necessidades nos contextos vitais em que está
situado” (HERRERA FLORES, Joaquim. A (re)invenção dos direitos humanos).

Visando, justamente, a consolidação desses processos de luta, Herrera Flores propõe


uma interpretação de direitos humanos que avance para além da dicotomia entre
direitos de liberdade e direitos sociais, de sorte que deveríamos começar a
reivindicar três tipos de direitos: i) direitos à integridade corporal (contra todo tipo de
torturas; de restrições a nossas potencialidades de expressão e crença; de mortes
violentas; de mortes evitáveis…); ii) direitos à satisfação de necessidades (direitos
sociais, econômicos...); e, iii) direitos de reconhecimento (de gênero, étnicos,
culturais, em definitivo, direitos à diferença).

A ética dos direitos humanos: “a ética dos direitos humanos é a ética que vê no outro
um ser merecedor de igual consideração e profundo respeito, dotado do direito de
apropriar-se e desenvolver as potencialidades humanas de forma livre, autônoma e
plena. É a ética orientada pela afirmação da dignidade e pela prevenção ao sofrimento
humano” (PIOVESAN, Flávia. Prefácio. In: HERRERA FLORES, Joaquim. A
(re)invenção dos direitos humanos).

2. Raízes históricas dos Direitos Humanos: Segundo Flávia Piovesan (2016), os


tratados internacionais de direitos humanos têm como fonte um campo do Direito
extremamente recente, que é o Direito do pós-guerra, nascido como resposta às
atrocidades e aos horrores cometidos pelo nazismo e pelo fascismo. Outros autores,
porém, sustentam que as raízes históricas dos Direitos Humanos podem ser
encontradas na Declaração de Independência dos EUA1 – de 1776; Declaração dos

1
Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário a um povo dissolver os laços
políticos que o ligavam a outro, e assumir, entre os poderes da Terra, posição igual e separada, a que lhe
dão direito as leis da natureza e as do Deus da natureza, o respeito digno para com as opiniões dos
homens exige que se declarem as causas que os levam a essa separação. Consideramos estas
verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens são criados iguais, dotados pelo
Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a procura da
felicidade. Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens,
derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer
forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e
instituir novo governo, baseando-o em tais princípios e organizando lhe os poderes pela forma que
lhe pareça mais conveniente para realizar lhe a segurança e a felicidade. Na realidade, a prudência
recomenda que não se mudem os governos instituídos há muito tempo por motivos leves e passageiros;
e, assim sendo, toda experiência tem mostrado que os homens estão mais dispostos a sofrer, enquanto
os males são suportáveis, do que a se desagravar, abolindo as formas a que se acostumaram. Mas quando
uma longa série de abusos e usurpações, perseguindo invariavelmente o mesmo objeto, indica o desígnio
de reduzi-los ao despotismo absoluto, assistem-lhes o direito, bem como o dever, de abolir tais governos
e instituir novos Guardiães para sua futura segurança. Tal tem sido o sofrimento paciente destas colónias
e tal agora a necessidade que as força a alterar os sistemas anteriores de governo. A história do atual Rei
da Grã-Bretanha compõe-se de repetidas injúrias e usurpações, tendo todos por objetivo direto o
estabelecimento da tirania absoluta sobre estes Estados. Para prová-lo, permitam-nos submeter os factos
a um mundo cândido. Recusou assentimento a leis das mais salutares e necessárias ao bem público.
Proibiu aos governadores a promulgação de leis de importância imediata e urgente, a menos que a
aplicação fosse suspensa até que se obtivesse o seu assentimento, e , uma vez suspensas, deixou
inteiramente de dispensar-lhes atenção […] . Disponível em: <
Direito do Homem e do Cidadão2 – de 1789; e, a Declaração Universal dos Direitos
Humanos – de 1948.

3. O ideal e a razão dos Direitos Humanos: O desenvolvimento dos direitos humanos,


conforme Flávia Piovesan (2016), pode ser atribuído às monstruosas violações à

http://www.uel.br/pessoal/jneto/gradua/historia/recdida/declaraindepeEUAHISJNeto.pdf>. Acesso em:


2023.
2
Os representantes do povo francês, constituídos em ASSEMBLEIA NACIONAL, considerando que
a ignorância, o esquecimento ou o desprezo dos direitos do homem são as únicas causas das
desgraças públicas e da corrupção dos Governos, resolveram expor em declaração solene os
Direitos naturais, inalienáveis e sagrados do Homem, a fim de que esta declaração, constantemente
presente em todos os membros do corpo social, lhes lembre sem cessar os seus direitos e os seus
deveres; a fim de que os atos do Poder legislativo e do Poder executivo, a instituição política, sejam
por isso mais respeitados; a fim de que as reclamações dos cidadãos, doravante fundadas em
princípios simples e incontestáveis, se dirijam sempre à conservação da Constituição e à felicidade
geral. Por consequência, a ASSEMBLEIA NACIONAL reconhece e declara, na presença e sob os
auspícios do Ser Supremo, os seguintes direitos do Homem e do Cidadão: Artigo 1º- Os homens
nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem fundar-se na utilidade comum.
Artigo 2º- O fim de toda a associação política é a conservação dos direitos naturais e imprescritíveis do
homem. Esses Direitos são a liberdade. a propriedade, a segurança e a resistência à opressão. Artigo 3º-
O princípio de toda a soberania reside essencialmente na Nação. Nenhuma corporação, nenhum indivíduo
pode exercer autoridade que aquela não emane expressamente. Artigo 4º- A liberdade consiste em poder
fazer tudo aquilo que não prejudique outrem: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não
tem por limites senão os que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos.
Estes limites apenas podem ser determinados pela Lei. Artigo 5º- A Lei não proíbe senão as ações
prejudiciais à sociedade. Tudo aquilo que não pode ser impedido, e ninguém pode ser constrangido a fazer
o que ela não ordene. Artigo 6º- A Lei é a expressão da vontade geral. Todos os cidadãos têm o direito de
concorrer, pessoalmente ou através dos seus representantes, para a sua formação. Ela deve ser a mesma
para todos, quer se destine a proteger quer a punir. Todos os cidadãos são iguais a seus olhos, são
igualmente admissíveis a todas as dignidades, lugares e empregos públicos, segundo a sua capacidade,
e sem outra distinção que não seja a das suas virtudes e dos seus talentos. Artigo 7º- Ninguém pode ser
acusado, preso ou detido senão nos casos determinados pela Lei e de acordo com as formas por esta
prescritas. Os que solicitam, expedem, executam ou mandam executar ordens arbitrárias devem ser
castigados; mas qualquer cidadão convocado ou detido em virtude da Lei deve obedecer imediatamente,
senão torna-se culpado de resistência. Artigo 8º- A Lei apenas deve estabelecer penas estrita e
evidentemente necessárias, e ninguém pode ser punido senão em virtude de uma lei estabelecida e
promulgada antes do delito e legalmente aplicada. Artigo 9º- Todo o acusado se presume inocente até ser
declarado culpado e, se se julgar indispensável prendê-lo, todo o rigor não necessário à guarda da sua
pessoa, deverá ser severamente reprimido pela Lei. Artigo 10º- Ninguém pode ser inquietado pelas suas
opiniões, incluindo opiniões religiosas, contando que a manifestação delas não perturbe a ordem pública
estabelecida pela Lei. Artigo 11º- A livre comunicação dos pensamentos e das opiniões é um dos mais
preciosos direitos do Homem; todo o cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente,
respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na Lei. Artigo 12º- A garantia
dos direitos do Homem e do Cidadão carece de uma força pública; esta força é, pois, instituída para
vantagem de todos, e não para utilidade particular daqueles a quem é confiada. Artigo 13º- Para a
manutenção da força pública e para as despesas de administração é indispensável uma contribuição
comum, que deve ser repartida entre os cidadãos de acordo com as suas possibilidades. Artigo 14º- Todos
os cidadãos têm o direito de verificar, por si ou pelos seus representantes, a necessidade da contribuição
pública, de consenti-la livremente, de observar o seu emprego e de lhe fixar a repartição, a coleta, a
cobrança e a duração. Artigo 15º- A sociedade tem o direito de pedir contas a todo o agente público pela
sua administração. Artigo 16º- Qualquer sociedade em que não esteja assegurada a garantia dos direitos,
nem estabelecida a separação dos poderes não tem Constituição. Artigo 17º- Como a propriedade é um
direito inviolável e sagrado, ninguém dela pode ser privado, a não ser quando a necessidade pública
legalmente comprovada o exigir evidentemente e sob condição de justa e prévia indemnização. Disponível
em: < https://www.ufsm.br/app/uploads/sites/414/2018/10/1789.pdf>. Acesso em: 2023.
dignidade humana durante a segunda guerra mundial, associada à crença da
comunidade internacional de que parte dessas violações poderiam ser prevenidas, se
um efetivo sistema de proteção internacional de direitos humanos existisse. Porém,
Herrera Flores destaca que “os direitos humanos, como qualquer produto cultural [sócio-
histórico] que manejemos, são produções simbólicas que determinados grupos humanos
criam para reagir frente ao entorno de relações em que vivem” (HERRERA FLORES,
Joaquim. A (re)invenção dos direitos humanos). Ou seja, sua razão não nasce apenas
no pós-guerra. De sorte que “o fundamento, no sentido de matriz e base, dos direitos
humanos é constituído pela formação social moderna (capitalismo)”, pois foi
especialmente nesse modelo de produção da vida econômica e social (altamente
complexo e conflituoso) que se desenvolveu uma concepção de direitos enquanto
capacidades subjetivas, integrais e universais, que devem ser reconhecidos ou
constituídos politicamente (GALLARDO , Helio. Teoria crítica: matriz e possibilidades
de direitos humanos).

3.1. Segundo Helio Gallardo “o fundamento dos direitos humanos se encontra,


ostensivamente, em movimentos e mobilizações sociais que tem incidência política e
cultural e, por isso, podem institucionalizar juridicamente e com eficácia as suas
relações”. Noutras palavras, “o fundamento material dos direitos humanos é a luta
dos oprimidos para conseguir um certo controle de suas vidas no âmbito das
sociedade modernas” (GALLARDO , Helio. Teoria crítica: matriz e possibilidades de
direitos humanos).

4. No que consiste o Direito Humanos: Segundo André de Carvalho Ramos, “a


doutrina tende a reconhecer que os ‘direitos humanos’ servem para definir os direitos
estabelecidos pelo Direito Internacional em tratados e demais normas internacionais
sobre a matéria, enquanto a expressão ‘direitos fundamentais’ delimitaria aqueles
direitos reconhecidos e positivados pelo Direito Constitucional de um Estado específico”
(RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos). Ocorre que, atualmente,
essa diferenciação vem perdendo força (tornou-se plástica, cosmética) tanto na
doutrina, quanto na jurisprudência. Isso porque, existe uma gradual aproximação entre
o Direito Internacional e o direito interno no campo dos direitos humanos. Tanto é assim,
que se tem preferido utilizar o termo “direitos humanos fundamentais”, especialmente,
com a advento do art. 5º, §3º da CRFB, cuja redação prevê a possibilidade de aprovação
congressual dos tratados de direitos humanos.

5. O nascimento da ONU e a declaração universal dos Direitos Humanos: Flávia


Piovesan (2016) ensina que, inspirada por estas concepções, surgiu, a partir do pós-
guerra, em 1945, a Organização das Nações Unidas. Assim, no ano de 1948 é adotada
a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pela aprovação unânime de 48 Estados,
com 8 abstenções.3 São universais pois é para todos os
países e indivisíveis porque está
ligado com todos os outros direitos.
6. Características dos Direitos Humanos: A Declaração de 1948 introduz a concepção
contemporânea de direitos humanos, marcada pela universalidade e indivisibilidade
desses direitos.
6.1. Por que ele são universais? Universalidade porque clama pela extensão universal
dos direitos humanos, sob a crença de que a condição de pessoa é o requisito único
para a titularidade de direitos, considerando o ser humano como um ser essencialmente
moral, dotado de unicidade existencial e dignidade, esta como valor intrínseco à condição
humana (PIOVESAN, 2016).
6.2. Por que eles são indivisíveis? Indivisibilidade porque a garantia dos direitos civis
e políticos é condição para a observância dos direitos sociais, econômicos e culturais e
vice-versa. Quando um deles é violado, os demais também o são (PIOVESAN, 2016).

Segundo Boaventura de Souza Santos, um entendimento convencional de direitos


humanos possui as seguintes características: “a) os direitos são universalmente
validos independentemente do contexto social, político e cultural em que operam e dos
diferentes regimes de direitos humanos existentes em diferentes regiões do mundo; b)
partem de uma concepção de natureza humana como sendo individual,
autossustentada e qualitativamente diferente da natureza não humana; c) o que conta
como violação de direitos humanos é definido pelas declarações universais,
instituições multilaterais (tribunais e comissões) e organizações não governamentais

3
A Declaração Universal foi aprovada pela Resolução 217 A (III), da Assembleia Geral, em 10 de
dezembro de 1948, por 48 votos a zero e oito abstenções. Os oito Estados que se abstiveram foram:
Bielorússia, Checoslováquia, Polônia, Arábia Saudita, Ucrânia, União Soviética, África do Sul e Iugoslávia.
Observe-se que em Helsinki, em 1975, no Ato Final da Conferência sobre Seguridade e Cooperação na
Europa, os Estados comunistas da Europa expressamente aderiram à Declaração Universal.
(predominantemente baseadas no Norte); d) o respeito pelos direitos humanos é muito
mais problemático no Sul global do que no Norte global” (SANTOS, Boaventura de
Souza; CHAUÍ, Marilena. Direitos humanos, democracia e desenvolvimento).

7. O desenvolvimento dos Direitos Humanos no âmbito internacional: A partir da


aprovação da Declaração Universal de 1948 e da concepção contemporânea de direitos
humanos por ela introduzida, começa a se desenvolver uma espécie de Direito
Internacional dos Direitos Humanos, mediante a adoção de inúmeros tratados
internacionais voltados à proteção de direitos fundamentais (PIOVESAN, 2016).

8. O surgimento dos sistemas de proteção regional dos Direitos Humanos: Ao lado


do sistema normativo global, surgiu o sistema normativo regional de proteção, que
buscava internacionalizar os direitos humanos no plano regional, particularmente na
Europa, América e África. Como exemplo disto, podemos citar a OEA (Organização dos
Estados Americanos).

9.Sistema de proteção global + Sistema de proteção regional: Consolidou-se, assim,


a convivência do sistema global com instrumentos do sistema regional, por sua vez
integrado pelos sistemas interamericano, europeu e africano de proteção aos direitos
humanos (PIOVESAN, 2016).

10. A complementariedade entre o sistema global e o sistema regional de Direitos


Humanos: Conforme ensina Flávia Piovesan (2016), os sistemas global e regional não
são dicotômicos, mas sim complementares. Eles são inspirados pelos valores e
princípios da Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH), compondo, portanto,
o universo dos instrumentais de proteção dos direitos humanos no plano internacional.
Por isso, em face desse complexo universo de instrumentos internacionais, cabe ao
indivíduo que sofreu violação de direito a escolha do aparato mais favorável, tendo em
vista que, eventualmente, direitos idênticos são tutelados por dois ou mais instrumentos
de alcance global ou regional, ou ainda, de alcance geral ou especial. Nesta ótica, os
diversos sistemas de proteção de direitos humanos interagem em benefício dos
indivíduos protegidos.

11. Quando o Brasil passou a ratificar tratados de Direitos Humanos?


No que se refere à posição do Brasil em relação ao sistema internacional de proteção
dos direitos humanos, observa-se que somente a partir do processo de democratização
do país, deflagrado em 1985, é que o Estado brasileiro passou a ratificar relevantes
tratados internacionais de direitos humanos. O marco inicial do processo de incorporação
de tratados internacionais de direitos humanos pelo Direito brasileiro foi a ratificação, em
1989, da Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou
Degradantes (PIOVESAN, 2016).

12. Tratados internacionais de proteção de direitos humanos em espécie:


12.1. Tratados aprovados4 pelo Brasil:
12.1.1. Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 – Sistema Global:
ARTIGOS SELECIONADOS:

Artigo 1°
Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de
razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.
(princípio de liberdade, igualdade e fraternidade)

Artigo 2°
Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na
presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de sexo,
de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de
fortuna, de nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita
nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do
território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território independente, sob tutela,
autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania. (Universalidade e
indivisibilidade dos Direitos Humanos)

4
A Constituição Federal de 1988 prescreve, no artigo 84, que “compete privativamente ao Presidente da
República: (...) VIII – celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do
Congresso Nacional”, e o artigo 21 estabelece como sendo competência da União manter relações com
Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais. Dispõe o artigo 49 que “é da
competência exclusiva do Congresso Nacional: I – resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou
atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional”. A forma
da autorização parlamentar é o decreto legislativo do Congresso Nacional, pelo que, assinado o tratado
pelo presidente da República, aprovado pelo Congresso Nacional, mediante decreto legislativo, segue-se
a sua ratificação para realmente se incorporar ao Direito brasileiro.
Artigo 3°
Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. (Direito à VIDA,
LIBERDADE E SEGURANÇA PESSOAL)

Artigo 4°
Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos
escravos, sob todas as formas, são proibidos. (Proibição da escravidão)

Artigo 5°
Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou
degradantes. (Princípio da humanidade das penas)

Artigo 6°
Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua
personalidade jurídica.(direito ao reconhecimento da personalidade)

Artigo 7°
Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual proteção da lei. Todos
têm direito a proteção igual contra qualquer discriminação que viole a presente
Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. (vedação da
discriminação)

Artigo 8°
Toda a pessoa tem direito a recurso efetivo para as jurisdições nacionais competentes
contra os atos que violem os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição ou
pela lei.(Princípio da indeclinabilidade da jurisdição)

Artigo 9°
Ninguém pode ser arbitrariamente preso, detido ou exilado. (Vedação da prisão
arbitrária)

Artigo 10°
Toda a pessoa tem direito, em plena igualdade, a que a sua causa seja equitativa e
publicamente julgada por um tribunal independente e imparcial que decida dos seus
direitos e obrigações ou das razões de qualquer acusação em matéria penal que contra
ela seja deduzida.(Direito à um juiz equidistante, independente e natural -
>GARANTIA DA IMPARCIALIDADE)

Artigo 11°
1. Toda a pessoa acusada de um ato delituoso presume-se inocente até que a sua
culpabilidade fique legalmente provada no decurso de um processo público em que todas
as garantias necessárias de defesa lhe sejam asseguradas. (garantia do contraditório,
devido processo e presunção de inocência)
2. Ninguém será condenado por ações ou omissões que, no momento da sua prática,
não constituíam ato delituoso à face do direito interno ou internacional. Do mesmo modo,
não será infligida pena mais grave do que a que era aplicável no momento em que o ato
delituoso foi cometido.(Princípio da irretroatividade da lei Penal)

Artigo 12°
Ninguém sofrerá intromissões arbitrárias na sua vida privada, na sua família, no seu
domicílio ou na sua correspondência, nem ataques à sua honra e reputação. Contra tais
intromissões ou ataques toda a pessoa tem direito a proteção da lei. (Direito à
intimidade).

12.1.2. Declaração Americana do Direitos e Deveres do Homem de 1948 - Sistema


Regional:
ARTIGOS SELECIONADOS:

Artigo 1º
Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança de sua pessoa. (Direito à
vida, liberdade e à segurança)

Artigo 2º
Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm os direitos e deveres consagrados nesta
declaração, sem distinção de raça, língua, crença, ou qualquer outra. (Princípio da
igualdade)

Artigo 5º
Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra os ataques abusivos à sua honra, à sua
reputação e à sua vida particular e familiar. (Direito à honra e à PRIVACIDADE)

Artigo 9º
Toda pessoa tem direito à inviolabilidade do seu domicílio. (Direito à inviolabilidade do
domicílio)

Artigo 10º
Toda pessoa tem o direito à inviolabilidade e circulação da sua correspondência. (Direito
à inviolabilidade da correspondência)

Artigo 17º
Toda pessoa tem direito a ser reconhecida, seja onde for, como pessoa com direitos e
obrigações, e a gozar dos direitos civis fundamentais. (Direito ao reconhecimento de ser
pessoa e sujeito de direitos em qualquer lugar ou país)

Artigo 18º
Toda pessoa pode recorrer aos tribunais para fazer respeitar os seus direitos. Deve poder
contar, outrossim, com processo simples e breve, mediante o qual a justiça a proteja contra
atos de autoridade que violem, em seu prejuízo, qualquer dos direitos fundamentais
consagrados constitucionalmente. (Princípio da indeclinabilidade da jurisdição)

Artigo 24º
Toda pessoa tem o direito de apresentar petições respeitosas a qualquer autoridade
competente, quer por motivo de interesse geral, quer de interesse particular, assim como o
de obter uma solução rápida. (Direito de petição/Direito à razoável duração do
processo)

Artigo 25º
Ninguém pode ser privado da sua liberdade, a não ser nos casos previstos pelas leis e
segundo as praxes estabelecidas pelas leis já existentes. Ninguém pode ser preso por
deixar de cumprir obrigações de natureza claramente civil. Todo indivíduo, que tenha sido
privado da sua liberdade, tem o direito de que o juiz verifique sem demora a legalidade da
medida, e de que o julgue sem protelação injustificada, ou, no caso contrário, de ser posto
em liberdade. Tem também direito a um tratamento humano durante o tempo em que o
privarem da sua liberdade. (Princípio da humanidade da pena/Direito a um devido
processo lega/Direito à irretroatividade da lei penal/Impossibilidade da prisão por
dívidas/Direito à um julgamento justo e rápido)

Artigo 26º
Parte-se do princípio que todo acusado é inocente, até que se prove sua culpabilidade.
Toda pessoa acusada de um delito tem o direito de ser ouvida numa forma imparcial e
pública, de ser julgada por tribunais já estabelecidos de acordo com leis preexistentes, e
de que se lhe não inflijam penas cruéis, infamantes ou inusitadas. (Direito à presunção de
inocência/Direito a um julgamento imparcial por um juiz natural/Direito à humanidade
penal)

Artigo 28º
Os direitos do homem estão limitados pelos direitos do próximo, pela segurança de todos
e pelas justas exigências do bem-estar geral e do desenvolvimento democrático. (As justas
possibilidades de limitação aos direitos).

12.2. Tratados Internacionais de proteção de Direitos Humanos Ratificados5 pelo


Brasil
12.2.1 Sistema Global:
12.2.1.1 Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de 1966:
ARTIGOS SELECIONADOS:

Artigo 2
1. Os Estados Partes do presente pacto comprometem-se a respeitar e garantir a todos
os indivíduos que se achem em seu território e que estejam sujeitos a sua jurisdição os

5
No Brasil, a competência para incorporação ou consentimento definitivo do tratado internacional é
compartilhada entre o Legislativo e o Executivo, com atuação específica de cada Poder, nos termos
expressos da Constituição de 1988, passando por aprovação e promulgação, em três fases distintas, a
saber: a celebração, o referendo ou aprovação e a promulgação. A celebração é ato da competência
privativa do Presidente da República (Constituição de 1988, art. 84, inciso VIII), a aprovação ou referendo
é da competência exclusiva do Congresso Nacional (Constituição, art. 49, inciso I; art. 84, inciso VIII), e a
promulgação é da competência privativa do Presidente da República (Constituição de 1988, art. 84, inciso
IV). Importante destacar que por disposição expressa do art. 5.º, § 3.º, da Constituição Federal, introduzido
pela Emenda Constitucional n.º 45, de 8 de dezembro de 2004, os tratados e convenções internacionais
sobre direitos humanos aprovados, em dois turnos, por três quintos dos votos dos membros da cada Casa
do Congresso Nacional, serão equivalentes às emendas constitucionais.
direitos reconhecidos no presente Pacto, sem discriminação alguma por motivo de raça,
cor, sexo. língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou
social, situação econômica, nascimento ou qualquer condição. (compromisso dos
Estados-Parte de respeitarem os Direitos Humanos)
2. Na ausência de medidas legislativas ou de outra natureza destinadas a tornar efetivos
os direitos reconhecidos no presente Pacto, os Estados Partes do presente Pacto
comprometem-se a tomar as providências necessárias com vistas a adotá-las, levando
em consideração seus respectivos procedimentos constitucionais e as disposições do
presente Pacto.
3. Os Estados Partes do presente Pacto comprometem-se a:
a) Garantir que toda pessoa, cujos direitos e liberdades reconhecidos no presente Pacto
tenham sido violados, possa de um recurso efetivo, mesmo que a violência tenha sido
perpetra por pessoas que agiam no exercício de funções oficiais;
b) Garantir que toda pessoa que interpuser tal recurso terá seu direito determinado pela
competente autoridade judicial, administrativa ou legislativa ou por qualquer outra
autoridade competente prevista no ordenamento jurídico do Estado em questão; e a
desenvolver as possibilidades de recurso judicial;
c) Garantir o cumprimento, pelas autoridades competentes, de qualquer decisão que
julgar procedente tal recurso.

Artigo 3
Os Estados Partes no presente Pacto comprometem-se a assegurar a homens e
mulheres igualdade no gozo de todos os direitos civis e políticos enunciados no presente
Pacto (princípio da igualdade)

Artigo 6 (Direito à vida)


1. O direito à vida é inerente à pessoa humana. Esse direito deverá ser protegido pela
lei. Ninguém poderá ser arbitrariamente privado de sua vida. (Direito a não ser morto)
2. Nos países em que a pena de morte não tenha sido abolida, esta poderá ser imposta
apenas nos casos de crimes mais graves, em conformidade com legislação vigente na
época em que o crime foi cometido e que não esteja em conflito com as disposições do
presente Pacto, nem com a Convenção sobra a Prevenção e a Punição do Crime de
Genocídio. Poder-se-á aplicar essa pena apenas em decorrência de uma sentença
transitada em julgado e proferida por tribunal competente. (Possibilidade muito restrita
de pena de morte)
3. Quando a privação da vida constituir crime de genocídio, entende-se que nenhuma
disposição do presente artigo autorizará qualquer Estado Parte do presente Pacto a
eximir-se, de modo algum, do cumprimento de qualquer das obrigações que tenham
assumido em virtude das disposições da Convenção sobre a Prevenção e a Punição do
Crime de Genocídio. (Caso de genocídio)
4. Qualquer condenado à morte terá o direito de pedir indulto ou comutação da pena. A
anistia, o indulto ou a comutação da pena poderá ser concedido em todos os casos.
(Direitos da pessoa condenada a pena de morte)
5. A pena de morte não deverá ser imposta em casos de crimes cometidos por pessoas
menores de 18 anos, nem aplicada a mulheres em estado de gravidez. (pessoas que
não podem ser submetidas à pena de morte)
6. Não se poderá invocar disposição alguma do presente artigo para retardar ou impedir
a abolição da pena de morte por um Estado Parte do presente Pacto.

Artigo 7
Ninguém poderá ser submetido à tortura, nem a penas ou tratamento cruéis, desumanos
ou degradantes. Será proibido sobretudo, submeter uma pessoa, sem seu livre
consentimento, a experiências médias ou cientificas. (Princípio da humanidade das
penas/Vedação de tortura)

Artigo 9
1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém poderá ser
preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado de liberdade, salvo
pelos motivos previstos em lei e em conformidade com os procedimentos nela
estabelecidos. (Direito à liberdade e à segurança pessoal/Vedação à prisão
arbitrária)
2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada das razões da prisão e
notificada, sem demora, das acusações formuladas contra ela. (Direito à informação
sobre sua prisão)
3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penal deverá ser
conduzida, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridade habilitada por lei a
exercer funções judiciais e terá o direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta
em liberdade. A prisão preventiva de pessoas que aguardam julgamento não deverá
constituir a regra geral, mas a soltura poderá estar condicionada a garantias que
assegurem o comparecimento da pessoa em questão à audiência, a todos os atos do
processo e, se necessário for, para a execução da sentença. (Audiência de
custódia/Direito à medidas alternativas à prisão/Duração razoável do processo)
4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdade por prisão ou encarceramento terá
o direito de recorrer a um tribunal para que este decida sobre a legislação de seu
encarceramento e ordene sua soltura, caso a prisão tenha sido ilegal. (Inafastabilidade
da jurisdição e direito ao recurso penal)
5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encarceramento ilegais terá direito à reparação.

Artigo 10
1. Toda pessoa privada de sua liberdade deverá ser tratada com humanidade e respeito
à dignidade inerente à pessoa humana. (princípio da humanidade das penas)
2.
a) As pessoas processadas deverão ser separadas, salvo em circunstâncias
excepcionais, das pessoas condenadas e receber tratamento distinto, condizente com
sua condição de pessoa não-condenada. (Dever dos Estados de separar os tipos de
preso)
b) As pessoas processadas, jovens, deverão ser separadas das adultas e julgadas o
mais rápido possível. (prioridade do julgamento de jovens/jovens e adultos não
podem cumprir pena juntos)
3. O regime penitenciário consistirá num tratamento cujo objetivo principal seja a reforma
e a reabilitação normal dos prisioneiros. Os delinquentes juvenis deverão ser separados
dos adultos e receber tratamento condizente com sua idade e condição jurídica.
(Disposição que consagra a ideologia penal da prevenção especial positiva)

Artigo 11
Ninguém poderá ser preso apenas por não poder cumprir com uma obrigação contratual.
(Vedação da prisão por dívidas)

Artigo 12
1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado terá o direito de nele
livremente circular e escolher sua residência. (Direito à liberdade de locomoção)
2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de seu próprio
país.
3. os direitos supracitados não poderão em lei e no intuito de restrições, a menos que
estejam previstas em lei e no intuito de proteger a segurança nacional e a ordem, a saúde
ou a moral pública, bem como os direitos e liberdades das demais pessoas, e que sejam
compatíveis com os outros direitos reconhecidos no presente Pacto.
4. Ninguém poderá ser privado arbitrariamente do direito de entrar em seu próprio país.

Artigo 14
1. Todas as pessoas são iguais perante os tribunais e as cortes de justiça. Toda pessoa
terá o direito de ser ouvida publicamente e com devidas garantias por um tribunal
competente, independente e imparcial, estabelecido por lei, na apuração de qualquer
acusação de caráter penal formulada contra ela ou na determinação de seus direitos e
obrigações de caráter civil. A imprensa e o público poderão ser excluídos de parte da
totalidade de um julgamento, quer por motivo de moral pública, de ordem pública ou de
segurança nacional em uma sociedade democrática, quer quando o interesse da vida
privada das Partes o exija, que na medida em que isso seja estritamente necessário na
opinião da justiça, em circunstâncias específicas, nas quais a publicidade venha a
prejudicar os interesses da justiça; entretanto, qualquer sentença proferida em matéria
penal ou civil deverá torna-se pública, a menos que o interesse de menores exija
procedimento oposto, ou processo diga respeito à controvérsia matrimoniais ou à tutela
de menores. (Hipótese de restrição da publicidade/Garantia da
imparcialidade/Igualdade formal/Direito ou garantia de um juiz imparcial)
2. Toda pessoa acusada de um delito terá direito a que se presuma sua inocência
enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. (Direito à presunção de
inocência)
3. Toda pessoa acusada de um delito terá direito, em plena igualmente, a, pelo menos,
as seguintes garantias: (Garantias do acusado criminal)
a) De ser informado, sem demora, numa língua que compreenda e de forma minuciosa,
da natureza e dos motivos da acusação contra ela formulada; (Direito de saber qual a
imputação há contra si)
b) De dispor do tempo e dos meios necessários à preparação de sua defesa e a
comunicar-se com defensor de sua escolha; (Razoável duração do processo e direito
à escolher seu defensor)
c) De ser julgado sem dilações indevidas; (duração razoável do processo)
d) De estar presente no julgamento e de defender-se pessoalmente ou por intermédio
de defensor de sua escolha; de ser informado, caso não tenha defensor, do direito que
lhe assiste de tê-lo e, sempre que o interesse da justiça assim exija, de ter um defensor
designado ex-offício gratuitamente, se não tiver meios para remunerá-lo; (Direito à
autodefesa é a defesa técnica/Direito à assistência judiciária gratuita)
e) De interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e de obter o
comparecimento e o interrogatório das testemunhas de defesa nas mesmas condições
de que dispõem as de acusação; (garantia da paridade de armas)
f) De ser assistida gratuitamente por um intérprete, caso não compreenda ou não fale a
língua empregada durante o julgamento;
g) De não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada. (Direito
à não auto-incriminação)
4. O processo aplicável a jovens que não sejam maiores nos termos da legislação penal
em conta a idade dos menos e a importância de promover sua reintegração social.
5. Toda pessoa declarada culpada por um delito terá direito de recorrer da sentença
condenatória e da pena a uma instância superior, em conformidade com a lei. (Direito
ao recurso e ao duplo grau de jurisdição)
6. Se uma sentença condenatória passada em julgado for posteriormente anulada ou se
um indulto for concedido, pela ocorrência ou descoberta de fatos novos que provem
cabalmente a existência de erro judicial, a pessoa que sofreu a pena decorrente desse
condenação deverá ser indenizada, de acordo com a lei, a menos que fique provado que
se lhe pode imputar, total ou parcialmente, a não revelação dos fatos desconhecidos em
tempo útil. (Direito à indenização civil por erro judicial)
7. Ninguém poderá ser processado ou punido por um delito pelo qual já foi absorvido ou
condenado por sentença passada em julgado, em conformidade com a lei e os
procedimentos penais de cada país. (proibição do bis in idem)

Artigo 15
1. ninguém poderá ser condenado por atos omissões que não constituam delito de
acordo com o direito nacional ou internacional, no momento em que foram cometidos.
Tampouco poder-se-á impor pena mais grave do que a aplicável no momento da
ocorrência do delito. Se, depois de perpetrado o delito, a lei estipular a imposição de
pena mais leve, o delinqüente deverá dela beneficiar-se. (Irretroatividade da lei penal
in pejus e ultratividade da lei penal in melius)
2. Nenhuma disposição do presente Pacto impedirá o julgamento ou a condenação de
qualquer individuo por atos ou omissões que, momento em que forma cometidos, eram
considerados delituosos de acordo com os princípios gerais de direito reconhecidos pela
comunidade das nações.

Artigo 16
Toda pessoa terá direito, em qualquer lugar, ao reconhecimento de sua personalidade
jurídica. (Direito à personalidade jurídica)

Artigo 17
1. Ninguém poderá ser objetivo de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida privada,
em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais às
suas honra e reputação. (Direito à intimidade/proteção contra ataques à honra
pessoal)
2. Toda pessoa terá direito à proteção da lei contra essas ingerências ou ofensas.
(proteção da honra)

Artigo 19
1. ninguém poderá ser molestado por suas opiniões. (direito de não ser agredido por
suas opiniões)
2. Toda pessoa terá direito à liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de
procurar, receber e difundir informações e idéias de qualquer natureza,
independentemente de considerações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, em
forma impressa ou artística, ou por qualquer outro meio de sua escolha. (direito à
liberdade de expressão)
3. O exercício do direito previsto no parágrafo 2 do presente artigo implicará deveres e
responsabilidades especiais. Conseqüentemente, poderá estar sujeito a certas
restrições, que devem, entretanto, ser expressamente previstas em lei e que se façam
necessárias para: (hipóteses de restrição da liberdade de expressão)
a) assegurar o respeito dos direitos e da reputação das demais pessoas;
b) proteger a segurança nacional, a ordem, a saúde ou a moral públicas.
Artigo 20
1. Será proibida por lei qualquer propaganda em favor da guerra. (vedação da
propaganda de guerra)
2. Será proibida por lei qualquer apologia do ódio nacional, racial ou religioso que
constitua incitamento à discriminação, à hostilidade ou a violência. (vedação da
apologia ao ódio e à discriminação)

Artigo 26
Todas as pessoas são iguais perante a lei e têm direito, sem discriminação alguma, a
igual proteção da Lei. A este respeito, a lei deverá proibir qualquer forma de
discriminação e garantir a todas as pessoas proteção igual e eficaz contra qualquer
discriminação por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra
natureza, origem nacional ou social, situação econômica, nascimento ou qualquer outra
situação. (princípio da igualdade formal)

Artigo 27
Nos Estados em que haja minorias étnicas, religiosas ou lingüísticas, as pessoas
pertencentes a essas minorias não poderão ser privadas do direito de ter, conjuntamente
com outros membros de seu grupo, sua própria vida cultural, de professar e praticar sua
própria religião e usar sua própria língua. (pacto de não agressão contra minorias)

12.2.2. Sistema Regional Interamericano:


12.2.2.1 Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 (Pacto de San
José da Costa Rica):
ARTIGOS SELECIONADOS:

Artigo 1 - Obrigação de respeitar os direitos


1. Os Estados Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e
liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pessoa que
esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo,
idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social,
posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social. (compromisso dos
Estados de respeitarem os direitos)
2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano. (conceito de pessoa para
a Convenção)

Artigo 2 - Dever de adotar disposições de direito interno


Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no artigo 1 ainda não estiver garantido
por disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados Partes comprometem-se a
adotar, de acordo com as suas normas constitucionais e com as disposições desta
Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza que forem necessárias para
tornar efetivos tais direitos e liberdades.

Artigo 7 - Direito à liberdade pessoal


1.Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.
2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condições
previamente fixadas pelas constituições políticas dos Estados Partes ou pelas leis de
acordo com elas promulgadas. (Princípio da legalidade)
3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários. (vedação das
prisões arbitrárias)
4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da sua detenção e
notificada, sem demora, da acusação ou acusações formuladas contra ela. (Direito a
informação sobre a acusação)
5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juiz
ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais e tem direito a ser julgada
dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade, sem prejuízo de que prossiga o
processo. Sua liberdade pode ser condicionada a garantias que assegurem o seu
comparecimento em juízo. (Garantia da audiência de custódia/Razoável duração do
processo)
6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competente,
a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de sua prisão ou detenção e
ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais. Nos Estados Partes cujas leis
prevêem que toda pessoa que se vir ameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito
a recorrer a um juiz ou tribunal competente a fim de que este decida sobre a legalidade de
tal ameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso pode ser interposto
pela própria pessoa ou por outra pessoa. (Direito ao recurso e ao duplo grau de
jurisdição)
7. Ninguém deve ser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de
autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento de obrigação
alimentar. (Vedação da prisão por dívidas)

Artigo 8 - Garantias judiciais


1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo
razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido
anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou
para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou
de qualquer outra natureza. (Direito a um juiz equidistante e independente)
2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência enquanto
não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em
plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: (garantia da prevenção de inocência)
a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por tradutor ou intérprete, se não
compreender ou não falar o idioma do juízo ou tribunal; (direito a um interprete se não
fala a língua)
b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada; (saber qual
a acusação que há contra si)
c) concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a preparação de sua
defesa; (duração razoável do processo)
d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por um defensor de
sua escolha e de comunicar-se, livremente e em particular, com seu defensor; (Direito a
defesa técnica e a autodefesa/direito a conversar individualmente com um
advogado)
e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado pelo Estado,
remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não se defender ele
próprio nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei; (Direito a um
defensor público)
f) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no tribunal e de obter o
comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possam lançar luz
sobre os fatos; (Direito a indicar e produzir provas)
g) direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se culpada;
(direito a não auto-incriminação) e;
h) direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior. (direito ao duplo grau de
jurisdição e ao recurso)
3. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza. (garantia
contra a tortura ou qualquer coação para confessar)
4. O acusado absolvido por sentença passada em julgado não poderá ser submetido a
novo processo pelos mesmos fatos. (proibição do bis in idem)
5. O processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar os
interesses da justiça. (publicidade do processo penal)

Artigo 9 - Princípio da legalidade e da retroatividade


Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em que forem
cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampouco se pode
impor pena mais grave que a aplicável no momento da perpetração do delito. Se depois da
perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena mais leve, o delinquente será por
isso beneficiado.

Artigo 10 - Direito a indenização


Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme a lei, no caso de haver sido condenada
em sentença passada em julgado, por erro judiciário.

Artigo 11 - Proteção da honra e da dignidade


1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de sua dignidade.
2. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vida privada, na
de sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem de ofensas ilegais à sua
honra ou reputação. (Direito à intimidade)

Artigo 24 - Igualdade perante a lei


Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito, sem discriminação,
a igual proteção da lei.

Artigo 25 - Proteção judicial contra violação da Constituição, da Lei e desta


Convenção
1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso
efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contra atos que violem
seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente
Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida por pessoas que estejam atuando
no exercício de suas funções oficiais. (Inafastabilidade da jurisdição)
2. Os Estados Partes comprometem-se:
a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sistema legal do Estado decida
sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso;
b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e
c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competentes, de toda decisão em que se
tenha considerado procedente o recurso.
3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas.

13. Conclusões finais: Segundo Flávia Piovesan (2016), faz-se clara a relação entre o
processo de democratização no Brasil e o processo de incorporação de relevantes
instrumentos internacionais de proteção dos direitos humanos, tendo em vista que, se o
processo de democratização permitiu a ratificação de relevantes tratados de direitos
humanos, por sua vez essa ratificação permitiu o fortalecimento do processo
democrático, através da ampliação e do reforço do universo de direitos por ele
assegurado.

REFERÊNCIAS:
KIRSTE, Stephan. Dignidade humana e direitos humanos: ontologia ou construtivismo
dos direitos humanos. Hendu – Revista Latino-Americana de Direitos Humanos, v. 7,
n. 1, ago. 2018.
PIOVESAN, Flávia. Temas de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2016.
Organização das Nações Unidas (ONU). O que são direitos humanos. Disponível em:
<https://nacoesunidas.org/direitoshumanos/textos-explicativos/>. Acesso em agosto de
2020.

Você também pode gostar