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Direitos Fundamentais

Responsável: Sandro

A origem dos direitos fundamentais remonta à história das sociedades humanas, mas
foi na Magna Carta, promulgada na Inglaterra em 1215, que se encontram os primeiros
indícios de limitação do poder político do rei e garantia de certos direitos aos barões,
marcando um importante marco na evolução dos direitos humanos. Com o passar dos
séculos, outras declarações e documentos importantes surgiram, destacando-se a Declaração
dos Direitos do Homem durante a Revolução Francesa em 1789 e as Declarações de Direitos
(Bill of Rights) nos Estados Americanos em 1776, durante a guerra de independência, que
reforçaram a ideia de direitos individuais e a necessidade de proteger as liberdades
fundamentais dos cidadãos. Os direitos fundamentais podem ser classificados em diferentes
gerações ou dimensões, com base em sua evolução histórica e conteúdo. A primeira geração
abrange os direitos civis e políticos, como liberdade de expressão, igualdade perante a lei e
direito à vida.
A segunda geração inclui os direitos econômicos, sociais e culturais, como o direito à
educação, saúde e trabalho digno. E a terceira geração abrange os direitos coletivos e difusos,
como o direito ao meio ambiente saudável e a paz. Outro ponto relevante é a diferença entre
direitos e garantias fundamentais. Enquanto os direitos fundamentais se referem às
prerrogativas que as pessoas possuem, as garantias são os mecanismos e instrumentos
jurídicos que garantem a efetiva proteção desses direitos. São as leis, normas e instituições
que asseguram a concretização dos direitos.
Além disso, os direitos fundamentais têm diferentes abrangências. Existem os direitos
individuais, que pertencem à própria pessoa e podem ser exercidos de forma individual.
Porém, é importante ressaltar que esses direitos não são absolutos e podem ser relativizados
em situações específicas, sempre levando em conta o contexto social e jurídico. Existem
também os direitos coletivos, que são atribuídos a pessoas jurídicas, como associações,
sindicatos ou ordens profissionais, representando os interesses de um grupo específico de
indivíduos. Por fim, há os direitos difusos, que são coletivos, mas cujos titulares são
indeterminados e vinculados por uma relação fática em comum, como o direito a um meio
ambiente saudável ou o direito à segurança pública. Esses direitos são indivisíveis, ou seja,
seu exercício não prejudica o direito dos demais membros do grupo. Além da classificação e
abrangência dos direitos fundamentais, outra questão importante é sua eficácia. A eficácia
dos direitos pode ser analisada sob duas perspectivas: horizontal e vertical, bem como direta e
indireta.
A eficácia horizontal se refere à aplicação dos direitos fundamentais nas relações
entre particulares, ou seja, quando um indivíduo busca proteger seus direitos contra outro
indivíduo, como em casos de discriminação entre pessoas. Por outro lado, a eficácia vertical
diz respeito à aplicação dos direitos fundamentais nas relações entre o cidadão e o Estado,
onde o indivíduo busca proteger seus direitos contra a atuação estatal, garantindo que os
poderes públicos não violem seus direitos e liberdades.
A eficácia direta ocorre quando os direitos fundamentais podem ser invocados
diretamente perante os tribunais, sem a necessidade de uma norma intermediária, enquanto a
eficácia indireta requer a intermediação do legislador para a aplicação efetiva dos direitos.
Em resumo, os direitos fundamentais têm uma origem histórica rica e foram evoluindo ao
longo dos séculos. Sua classificação em gerações ou dimensões reflete sua abrangência e
conteúdo, que incluem direitos individuais, coletivos e difusos. A eficácia dos direitos pode
ocorrer tanto nas relações entre particulares quanto nas relações com o Estado, e sua
concretização pode ser direta ou indireta, dependendo do contexto jurídico e social em que
são aplicados.
Os direitos fundamentais podem ser divididos em duas categorias principais: os
direitos positivos e os direitos negativos. Os direitos positivos são equivalentes ao direito
objetivo, ou seja, representam o conjunto de normas jurídicas que regem o comportamento
humano em um determinado tempo e espaço. Eles têm uma natureza ativa, requerendo ações
positivas do Estado para garantir sua concretização e efetivação. Já os direitos negativos
correspondem aos direitos básicos dos indivíduos, relacionados principalmente à sua
liberdade. Eles se referem à não-interferência do Estado e de outros indivíduos nos direitos
fundamentais dos cidadãos.
Assim, esses direitos se concentram em garantir a proteção do indivíduo contra
ingerências indevidas em sua vida, crenças e expressão.
A Constituição Federal brasileira de 1988, por exemplo, apresenta uma extensa lista
de direitos fundamentais que abrangem tanto direitos positivos quanto negativos. Alguns dos
principais direitos fundamentais garantidos pela Constituição brasileira incluem: Direito à
Vida (caput): O princípio básico que garante o direito à vida como um dos fundamentos da
República Federativa do Brasil. Princípio da Igualdade (caput, I): Assegura a igualdade de
todos perante a lei, sem qualquer forma de discriminação. Princípio da Legalidade (II):
Estabelece que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei.
Proibição da Tortura (III): Garante que ninguém será submetido a tortura nem a tratamento
desumano ou degradante. Liberdade de Manifestação de Pensamento (IV e V): Protege a
liberdade de expressão e de opinião, vedando a censura prévia. Liberdade de Consciência,
Crença e Culto (VI a VIII): Assegura a liberdade religiosa e de crença, bem como a proteção
a locais de culto. Liberdade de Atividade Intelectual, Artística, Científica e de Comunicação
(IX e X): Protege a liberdade de criação, produção e difusão cultural e científica.
Inviolabilidade da Intimidade, Vida Privada, Honra e Imagem das Pessoas (X): Protege a
privacidade e a honra dos indivíduos. Inviolabilidade Domiciliar (art. 5.º, XI): Protege o
direito à inviolabilidade do lar, salvo em casos excepcionais e mediante ordem judicial. Sigilo
de Correspondência e Comunicações (art. 5.º, XII): Garante o sigilo das comunicações,
exceto em casos previstos na lei. Liberdade de Profissão (art. 5.º, XIII): Assegura a livre
escolha da profissão ou atividade laboral. Liberdade de Informação (art. 5.º, XIV e XXXIII):
Garante o acesso à informação, bem como a proteção do sigilo da fonte. Liberdade de
Locomoção (art. 5.º, XV e LXI): Assegura o direito de ir e vir, salvo em casos de prisão
ilegal. Direito de Reunião (art. 5.º, XVI): Protege o direito de se reunir pacificamente, sem
armas, em locais abertos ao público. Direito de Associação (art. 5.º, XVII, XVIII, XIX, XX e
XXI): Garante a liberdade de associação em sindicatos, partidos políticos e outras
organizações. Direito de Propriedade (art. 5.º, XXII a XXVI): Assegura o direito à
propriedade privada, com algumas ressalvas para fins de interesse social.
Esses direitos representam os pilares fundamentais para a proteção da dignidade
humana e da liberdade dos cidadãos, essenciais em uma sociedade democrática e
comprometida com a defesa dos direitos humanos. Vale ressaltar que a efetivação desses
direitos requer o constante zelo do Estado e a participação ativa da sociedade na sua
promoção e garantia
Além dos direitos fundamentais já mencionados, existem outros direitos igualmente
importantes que fazem parte do sistema jurídico e contribuem para a organização e proteção
da sociedade. Entre eles, destacam-se: Herança: O direito à herança é um dos aspectos do
direito sucessório, que determina como os bens e patrimônio de uma pessoa falecida serão
distribuídos entre seus herdeiros legais ou designados em testamento. Propriedade Intelectual:
Refere-se ao conjunto de direitos relacionados às criações intelectuais, como patentes,
marcas, direitos autorais e segredos comerciais.
Esses direitos visam proteger as inovações e criações, incentivando a pesquisa, o
desenvolvimento e a criatividade. Defesa do Consumidor: Garante os direitos dos
consumidores em suas relações de consumo, assegurando a qualidade e segurança dos
produtos e serviços, bem como o direito à informação e a reparação em caso de problemas ou
irregularidades. Emissão de Certidões: Esse direito diz respeito ao acesso às certidões
públicas, que são documentos oficiais emitidos por órgãos governamentais e que atestam
fatos ou informações relevantes, como certidões de nascimento, casamento, óbito, entre
outras. Direito de Ação: Esse direito é a garantia de que toda pessoa tem o direito de buscar a
tutela jurisdicional do Estado para resolver conflitos ou fazer valer seus direitos, recorrendo
ao Poder Judiciário para obter uma decisão justa.
Direito Adquirido: Consiste no princípio que protege situações jurídicas consolidadas
sob a vigência de uma lei, impedindo que novas normas prejudiquem direitos adquiridos
anteriormente. Ato Jurídico Perfeito e Coisa Julgada: Esses princípios estão relacionados à
segurança jurídica. O ato jurídico perfeito refere-se a um ato que já se completou de acordo
com a lei vigente quando foi realizado, não podendo ser alterado retroativamente. Já a coisa
julgada é a qualidade da decisão judicial que não pode mais ser modificada, tornando-se
imutável e definitiva, assegurando a estabilidade das decisões judiciais. Esses "outros
direitos" são fundamentais para a organização da sociedade e para a garantia da segurança
jurídica. Eles contribuem para a preservação dos interesses e direitos individuais e coletivos,
bem como para o desenvolvimento social, econômico e cultural de uma nação. No contexto
do sistema jurídico, é essencial que esses direitos sejam respeitados e protegidos,
proporcionando uma sociedade mais justa e equitativa.
Os direitos sociais são uma importante categoria dos direitos fundamentais que têm
como objetivo garantir aos indivíduos o acesso e o exercício de condições mínimas para uma
vida digna em igualdade de oportunidades. Eles são fundamentais para a construção de uma
sociedade justa e inclusiva, uma vez que visam assegurar que todos os cidadãos tenham
acesso a serviços públicos essenciais, como saúde, educação, moradia, trabalho, previdência
social e outros direitos que contribuam para uma vida plena e digna.
A citação de Dalmo Dallari destaca que não é suficiente apenas afirmar que todos são
iguais perante a lei, é preciso que essa igualdade seja garantida na prática, com políticas
públicas efetivas que proporcionem um mínimo de dignidade e oportunidades a todos os
cidadãos. Em outras palavras, é necessário que o Estado promova ações e medidas que
reduzam as desigualdades sociais, proporcionando igualdade de acesso aos serviços e
benefícios que são essenciais para uma vida digna. Outro conceito importante abordado é o
da nacionalidade. A nacionalidade é a qualidade de ser considerado nacional de um país ou
Estado e está associada ao vínculo jurídico-político que liga o indivíduo a uma determinada
nação. Ser nacional de um país significa fazer parte do povo que integra aquele Estado e,
como consequência, ter direitos e deveres que são impostos pelo ordenamento jurídico
daquela nação.
O conceito de nacionalidade está intimamente relacionado à noção de cidadania, que
engloba não apenas a condição de ser membro de uma nação, mas também a participação
ativa na vida política e social do país. Ser nacional ou cidadão de um Estado implica no
direito de exigir a proteção e os benefícios oferecidos por esse Estado, bem como na
responsabilidade de cumprir os deveres e obrigações estabelecidos por suas leis. Em suma, os
direitos sociais são essenciais para garantir uma sociedade mais justa e igualitária,
assegurando o acesso de todos a condições dignas de vida.
A nacionalidade, por sua vez, é o vínculo jurídico-político que une o indivíduo a um
Estado, concedendo-lhe direitos e deveres no âmbito daquela nação. Ambos os conceitos têm
um papel fundamental na construção de uma sociedade democrática e inclusiva, onde cada
cidadão possa usufruir de seus direitos e contribuir para o desenvolvimento coletivo.
A nacionalidade é um conceito fundamental na organização política dos países e está
associada à condição de pertencer a uma determinada nação. Ela pode ser dividida em dois
tipos principais: a nacionalidade primária e a nacionalidade secundária. A nacionalidade
primária é adquirida por nascimento com vida e segue dois critérios principais: o jus soli e o
jus sanguinis. O jus soli, também conhecido como direito do solo, atribui a nacionalidade a
uma pessoa pelo local onde ela nasceu.
Já o jus sanguinis, ou direito de sangue, concede a nacionalidade com base na
ascendência dos pais. Esses critérios podem variar conforme a legislação de cada país. Por
outro lado, a nacionalidade secundária é obtida de forma voluntária pelo indivíduo,
respeitando os requisitos estabelecidos pela Constituição e pelas leis do país. Esse tipo de
nacionalidade pode ser adquirido por meio de naturalização, que é o processo pelo qual um
estrangeiro se torna cidadão de outro país por vontade própria e com atendimento aos
requisitos legais específicos.
Os Direitos Políticos, também conhecidos como direitos de cidadania, são
fundamentais para o funcionamento de uma democracia. Eles referem-se ao conjunto de
regras constitucionais que determinam a participação popular no processo político. Essa
participação pode ocorrer através do voto em eleições, plebiscitos ou referendos, assim como
por meio da apresentação de projetos de lei por iniciativa popular e da proposição de ação
popular. Existem diferentes formas de exercer a democracia, e isso pode ser observado
através dos modelos de democracia direta, democracia representativa e democracia
semidireta ou participativa. Na democracia direta, o poder é exercido diretamente pelo povo,
sem a necessidade de intermediários ou representantes. Já na democracia representativa, o
povo elege representantes que governarão o país em seu nome.
Por fim, a democracia semidireta ou participativa é um sistema híbrido, que combina
características das democracias direta e representativa. Quanto ao processo de votação,
algumas características são fundamentais. O voto direto significa que o povo escolhe
diretamente seus representantes, sem intermediários. O voto secreto assegura a liberdade ao
eleitor, garantindo que sua escolha seja sigilosa. O sufrágio universal estabelece que o direito
de voto não pode ser condicionado a critérios discriminatórios, sejam econômicos ou
intelectuais.
E, por fim, o voto é igual para todos, garantindo que o peso do voto de cada eleitor
seja equivalente, sem qualquer tipo de discriminação. Essas características e conceitos são
essenciais para o bom funcionamento de uma sociedade democrática, garantindo a
participação e o exercício pleno dos direitos políticos pelos cidadãos. O respeito aos direitos
de nacionalidade e a participação ativa no processo político são fundamentais para a
construção de uma sociedade justa, inclusiva e democrática.
Os partidos políticos desempenham um papel fundamental em uma democracia, uma
vez que são responsáveis por representar os interesses e ideologias dos cidadãos, além de
contribuírem para a formação e execução das políticas públicas. A Constituição brasileira
assegura a liberdade de criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, desde
que respeitem a soberania nacional, o regime democrático de direito, o pluripartidarismo e os
direitos fundamentais da pessoa humana.
Dentre as características dos partidos políticos destacam-se o caráter nacional, ou seja,
sua atuação se dá em âmbito nacional, abrangendo todo o território do país. Além disso, é
proibido que recebam recursos financeiros de governos estrangeiros ou que estejam
subordinados a estes, garantindo a autonomia e independência das agremiações partidárias.
Os partidos também devem prestar contas à Justiça Eleitoral, garantindo a transparência de
suas ações e gastos. A forma de funcionamento parlamentar dos partidos políticos deve estar
em conformidade com a lei, garantindo que suas atividades e atuações estejam de acordo com
os princípios democráticos e as regras estabelecidas.
No que diz respeito à emenda à Constituição, o processo é estabelecido pelo artigo 60
da Constituição brasileira. A proposta de emenda à Constituição pode ser feita por um terço,
no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, pelo Presidente
da Repúbl*ica ou por mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da
Federação, desde que cada uma delas se manifeste pela maioria relativa de seus membros.
Entretanto, há limitações para a realização de emendas à Constituição. A Constituição não
pode ser emendada durante a vigência de intervenção federal, estado de defesa ou estado de
sítio. Além disso, existem cláusulas pétreas que não podem ser alteradas, tais como a forma
federativa de Estado, o voto direto, secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes,
bem como os direitos e garantias individuais.
No que tange aos deveres coletivos previstos na Constituição, eles dizem respeito a
obrigações que recaem sobre toda a sociedade, visando o bem comum e o fortalecimento da
coletividade. Esses deveres incluem o serviço militar, a responsabilidade de todos pela
segurança pública, a promoção e incentivo à educação, a preservação ambiental e a tutela das
crianças, dos adolescentes e dos idosos, que são deveres tanto da família como de toda a
sociedade. Uma das características mais importantes dos direitos fundamentais é sua
relatividade.
Por serem princípios constitucionais, esses direitos não possuem caráter absoluto. Em
situações de conflito entre direitos fundamentais, é necessário fazer um ponderamento e uma
análise cuidadosa para determinar qual direito deve prevalecer em determinado contexto e em
que medida. Essa relatividade garante que, em situações específicas, a proteção de um direito
possa ser ajustada para atender às necessidades e interesses da sociedade como um todo.
A colisão de direitos fundamentais é uma situação que ocorre quando, na prática, o
exercício de um direito fundamental por um indivíduo prejudica, afeta ou limita o exercício
de um direito fundamental de outra pessoa. Esse conceito é relevante para a interpretação e
aplicação do direito em casos em que os interesses de diferentes titulares de direitos entram
em conflito. Quando há colisão de direitos, é necessário encontrar uma solução que equilibre
os interesses em jogo e que respeite os princípios constitucionais e os valores protegidos
pelos direitos fundamentais envolvidos.
É comum que conflitos desse tipo ocorram em diversas esferas da sociedade,
especialmente em questões que envolvem a mídia, a liberdade de expressão e a proteção da
privacidade e da honra. Por exemplo, pode ocorrer um conflito entre o direito à imagem e a
honra de uma pessoa e o direito à liberdade de informação e imprensa de um veículo de
mídia. Nesse caso, é necessário ponderar os interesses em jogo e buscar uma solução que
proteja a liberdade de expressão, mas também resguarde a privacidade e a reputação da
pessoa envolvida.
Outra situação de colisão de direitos pode acontecer entre o direito à reparação dos
danos causados à honra e à imagem de alguém e o direito à livre manifestação do pensamento
e liberdade de expressão de outra pessoa. Nesse caso, é preciso analisar a necessidade de
proteger a reputação da vítima, mas também garantir a liberdade de expressão e o direito ao
debate público. Outro exemplo é o conflito entre o direito à liberdade individual e o direito à
propriedade.
Em algumas situações, pode ser necessário restringir o direito de propriedade de uma
pessoa para garantir a liberdade e a segurança de outras. Para resolver conflitos de direitos
fundamentais, é empregada uma regra de interpretação e aplicação do direito que considera
os princípios da adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito. Isso significa
que um ato estatal destinado a promover a realização de um direito fundamental ou interesse
coletivo deve ser analisado para verificar se é adequado, necessário e se as restrições
impostas são proporcionais ao objetivo buscado.
A colisão de direitos fundamentais é um tema complexo e desafiador no âmbito
jurídico e exige uma análise cuidadosa de cada caso para encontrar soluções equilibradas que
protejam os direitos das pessoas envolvidas e garantam a harmonia entre os princípios
constitucionais. A ponderação entre os diferentes interesses é essencial para a construção de
uma sociedade que valorize a proteção dos direitos fundamentais de todos os seus cidadãos.
O princípio da proporcionalidade, juntamente com seus subprincípios da adequação e
necessidade, desempenha um papel crucial na análise de conflitos entre direitos fundamentais
e nas decisões tomadas pela administração pública. Esses subprincípios garantem que as
ações do poder público sejam condizentes com os objetivos pretendidos, evitando meios
inúteis ou desproporcionais para atingir determinados fins.
O subprincípio da adequação assegura que os meios utilizados pela administração
pública sejam compatíveis com os fins pretendidos. Isso significa que o poder público não
pode tomar decisões ou empregar medidas que se mostrem completamente inúteis para
alcançar os objetivos de seus atos. É necessário que os meios escolhidos sejam idôneos para
alcançar os resultados almejados. O subprincípio da necessidade determina que, entre os
diversos meios possíveis para alcançar um determinado fim, o poder público deve selecionar
aquele que promova o objetivo pretendido com eficiência, porém sacrifique ou limite em
menor intensidade os direitos fundamentais afetados. Isso implica na busca pelo equilíbrio
entre o alcance dos objetivos públicos e a proteção dos direitos individuais.
Já o subprincípio da proporcionalidade em sentido estrito estabelece um sistema de
valoração que permite restringir alguns direitos em detrimento de outros, quando ocorrerem
situações concretas em que haja limitações de ordem material. Essa valoração busca garantir
que os direitos respeitados produzam vantagens maiores do que os prejuízos advindos dos
direitos sacrificados. Um exemplo prático da aplicação desses princípios pode ser visto no
âmbito das liberdades de expressão. O princípio da proporcionalidade fundamenta que essas
liberdades devem ser restringidas apenas na medida necessária para proteger outros direitos e
interesses constitucionalmente protegidos.
Ao fazer essa valoração, é preciso considerar o equilíbrio entre o direito e o dever de
informar e os possíveis danos causados a terceiros pela divulgação da informação. É
importante destacar que os direitos fundamentais possuem uma obrigatória dependência em
relação aos recursos materiais e financeiros disponibilizados pelo Estado. A efetivação desses
direitos, sejam eles positivos ou negativos, requer a atuação do poder público e a
disponibilização de infraestrutura permanente para garantir e reparar violações de direitos.
O Supremo Tribunal Federal (STF) emitiu uma importante decisão em 22 de setembro
de 2022, estabelecendo que o dever constitucional do Estado de assegurar o atendimento em
creche pré-escola para crianças até 5 anos de idade é de aplicação direta e imediata, sem a
necessidade de regulamentação pelo Congresso Nacional.
O ministro Luís Roberto Barroso enfatizou que o direito à educação básica é uma
norma constitucional de aplicação direta, o que torna a decisão do Judiciário de determinar o
cumprimento dessa obrigação legítima, sem intromissão em outras esferas de poder. Ele
ressaltou que, após 34 anos da promulgação da Constituição, não é razoável argumentar que a
implementação desse direito ainda não seja possível. Essa decisão do STF reflete a
importância do respeito aos direitos fundamentais e a aplicação dos princípios da
proporcionalidade, adequação e necessidade para garantir a efetivação dos direitos previstos
na Constituição. Garantir o acesso à educação é uma das formas de reduzir as desigualdades
sociais e de promover uma sociedade mais justa e inclusiva.
O caso de Rafael Notarangeli Fávaro exemplifica uma situação delicada e complexa
no âmbito da saúde pública. Ele sofre de uma raríssima anemia chamada hemoglobinúria
paroxística noturna (HPN), uma condição que causa diversos problemas de saúde e pode
levar à morte. O tratamento para essa doença é extremamente caro, custando cerca de R$ 800
mil reais por ano, e consiste em aplicações periódicas do medicamento Soliris no hospital
Sírio-Libanês, que são custeadas pelos cofres públicos. A HPN é uma enfermidade pouco
comum, o que torna ainda mais desafiador para o sistema de saúde público alocar recursos
para atender a demanda de casos tão raros. O tratamento oficialmente disponibilizado pelo
Sistema Único de Saúde (SUS) para essa doença é um transplante de medula, porém, essa
opção pode apresentar um risco considerável, com uma taxa de mortalidade de até 30% dos
casos. A situação de Rafael traz à tona importantes questões éticas e de justiça na área da
saúde. Por um lado, o Estado tem o dever de garantir o direito à saúde de todos os cidadãos,
independentemente de suas condições financeiras.
Nesse contexto, é compreensível que o poder público esteja custeando o tratamento
do paciente para garantir sua sobrevivência e bem-estar. Por outro lado, o alto custo do
tratamento específico de Rafael levanta questionamentos sobre a equidade e a
sustentabilidade do sistema de saúde como um todo. A alocação de recursos para atender a
casos raros e dispendiosos pode impactar a disponibilidade de tratamentos para outras
doenças mais comuns e de maior prevalência na população. Essas questões complexas
envolvendo a distribuição de recursos e a busca por tratamentos eficazes e acessíveis para
doenças raras são temas que desafiam os sistemas de saúde em todo o mundo.
É necessário um debate amplo e aprofundado entre autoridades, profissionais de saúde
e a sociedade civil para encontrar soluções que garantam o direito à saúde de todos os
cidadãos, levando em consideração a escassez de recursos e a busca por tratamentos mais
eficientes e seguros. Enquanto não há uma solução definitiva, casos como o de Rafael
Notarangeli Fávaro chamam a atenção para a importância de investimentos em pesquisas
médicas e no desenvolvimento de terapias inovadoras, bem como para a necessidade de
políticas públicas que garantam um acesso mais equitativo a tratamentos médicos,
independentemente da raridade das doenças. A saúde é um direito fundamental de todos os
seres humanos, e cabe à sociedade como um todo buscar soluções que assegurem a dignidade
e a vida de cada indivíduo.

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