Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Direitos subjetivos são qualquer expectativa positiva (de prestação) ou negativa (de não
sofrer lesões) adstrita a um sujeito por força de uma norma jurídica.
Status é a condição de um sujeito, assim prevista por uma norma jurídica positiva, como
pressuposto de sua capacidade para ser titular de situações jurídicas e/ou autor dos atos que
são exercidos a partir destas.
Essas definições são formais, e não dogmáticas, ou seja, não estão vinculadas a um dado
ordenamento jurídico. Além disso, essa definição de direitos fundamentais baseia-se somente
no seu caráter universal: entende-se universal em um sentido puramente lógico, partindo da
quantificação universal da classe dos sujeitos que são seus titulares.
As classes dos sujeitos são identificadas por status determinados pela identidade: homem,
cidadão e capacidade de praticar atos jurídicos. Esses pressupostos têm sido, ao longo da
história, mais ou menos extensos: foram muito restringidos no passado, quando por sexo,
nacimento, censo, instrução ou nacionalidade se excluia de seu acesso a maior parte das
pessoas físicas. Atualmente, a cidadania e a capacidade de praticar atos jurídicos são as
únicas diferenças de status que ainda delimitam a igualdade das pessoas humanas. Esses dois
fatores fundam duas distinções marcantes dentro dos direitos fundamentais:
A primeira consiste no fato de que os direitos fundamentais são direitos universais, no sentido
da quantificação universal dos sujeitos que são seus titulares, enquanto os direitos
patrimoniais são singulares, no sentido de que para cada um deles existe um titular
determinado com exclusão de todos os demais. Por consequência, os primeiros são
reconhecidos a todos os seus titulares de forma igual; os segundos pertencem a cada um de
maneira diferente, tanto pela quantidade quanto pela qualidade. Uns são inclusivos e formam
a base da igualdade jurídica, outros são exclusivos e constituem o fundamento da
desigualdade jurídica (todos somos livres para expressar o pensamento mas cada um é
proprietário de coisas distintas).
Como terceira diferença, os direitos patrimoniais são disponíveis, podem ser constituídos,
modificados e até mesmo extintos por atos jurídicos. O seu fundamento são atos negociais ou,
em todo caso, atuações singulares (contratos, doações, sentenças…), enquanto os direitos
fundamentais têm seu fundamento imediatamente na lei. Enquanto os últimos são normas
(Ferrajoli chama de normas téticas - aquelas que imediatamente configuram as situações
nelas expressas), aqueles são predispostos por normas ( normas hipotéticas - não prescrevem
nem impõe imediatamente nada, simplesmente dispõe sobre situações jurídicas resultantes
dos atos por elas prescritos).
Quarta diferença, os direitos patrimoniais são horizontais, ao passo que os direitos
fundamentais são verticais. As relações jurídicas mantidas por titulares de direitos
patrimoniais são de cunho civilista (contratual, sucessório etc) e as relações entretidas por
titulares de direitos fundamentais são de caráter publicista, i.e., marcadas pela posição do
indivíduo frente ao Estado. Aos direitos patrimoniais corresponde uma obrigação genérica de
não lesar, já aos direitos fundamentais correspondem proibições e obrigações a cargo do
Estado, cuja violação é causa de invalidez das leis e decisões públicas e cuja observância, ao
contrário, é a condição de legitimidade dos poderes públicos.
As normas que firmam os direitos fundamentais, tanto as de liberdade que impõem proibições
quanto as sociais que prescrevem obrigações ao legislador, são substanciais, pois relativas ao
conteúdo, àquilo sobre o que se pode ou não decidir. Desse modo, os direitos fundamentais
operam mais como fonte de validação e deslegitimação do que como fonte de legitimação;
não são direitos do Estado ou para o Estado, mas sim direitos que, a depender do caso,
estarão mesmo contra o Estado.
A partir do período pós-guerra, os direitos fundamentais não vêm sendo levados a sério, pois
se nega a sua universalidade, condicionando-os à cidadania. Esta ocupa o lugar da igualdade
como categoria básica da teoria da justiça e da democracia. Nos dias atuais, a soberania se
deslocou para sedes supranacionais. O crescimento da interdependência e das desigualdades
entre países ricos e pobres, os fenômenos migratórios e de globalização indicam que
caminhamos para uma integração mundial. Nesse contexto, a cidadania corre o risco de se
prestar a fundar uma ideia regressiva e ilusória de democracia em um só país, ao custo da
democracia no mundo inteiro. Assim, nosso modelo de democracia e a noção de direitos
fundamentais, cuja credibilidade está ligada ao seu universalismo, perderiam qualidade.
A longo prazo, a antinomia entre igualdade e cidadania, entre o universalismo dos direitos e
os seus redutos estatais, tende a se resolver com a superação da cidadania e desnacionalização
dos direitos fundamentais.
Deve-se distinguir direitos subjetivos, que são as expectativas positivas (de prestação) ou
negativas (de não lesão) atribuídas a um sujeito por uma norma jurídica, e os deveres
correspondentes que dizem respeito às garantias também ditadas por normas jurídicas.
Sistemas nomoestáticos - As relações entre as figuras deônticas (que estatuem deveres) são
puramente lógicas. Dado um direito, existe para outro sujeito a obrigação ou proibição
correspondente. Não existem, aqui, antinomias e lacunas; quando duas normas se
contradizem uma deve ser excluída como inexistente. Exemplo desse sistema é a moral.
Junto com elas, haverão mecanismos no sistemas de direito positivo voltados à solução das
contradições (princípio da não contradição - proibição de antinomias) e da lacunosidade
(princípio da plenitude - proibição de lacunas).
Nesses casos, não se pode negar a existência dos direitos subjetivos, mas tão somente
lamentar as lacunas que os tornam “de papel". Os direitos sociais a prestações públicas não
foram acompanhados pela elaboração de garantias sociais ou positivas adequadas. Um menor
nível de realização ainda conheceram as garantias de apoio aos direitos humanos firmados em
tratados internacionais, que se caracterizam por sua quase total inefetividade.
A mudança paradigmática ocorreu após a Segunda Guerra Mundial, diante dos descalabros
assombrosos verificados nos conflitos. Seus efeitos vão além do direito. A jurisdição torna-se
não mais sujeição do juiz à lei, sim análise crítica do seu significado como modo de controlar
a legitimidade constitucional. A ciência jurídica deixa de ser descrição para ser crítica e
proteção do seu próprio objeto: crítica do direito inválido ainda vigente, reinterpretação do
sistema jurídico à luz dos princípios constitucionais, análise das antinomias e lacunas etc.