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o DIREITOS HUMANOS (Direito Internacional) – são as situações jurídicas que, valendo para todos os povos e

sendo comuns a todos os homens e tendo por isso uma validade pelo menos moral, resultam da natureza ou da
condição do homem e que o Dto. Internacional reconhece. É uma componente internacional depois da 2ª GM.

o DIREITOS FUNDAMENTAIS (Direito Interno) – expressão que designa as situações jurídicas fundamentais das
pessoas reconhecidas nos arts.24º a 79º da CRP. Têm fonte interna e origem na constituição (séc. XVII).

Ambos consubstanciam designações tendencionalmente sinónimas, que refletem uma previsão em fontes jurídicas
autónomas de onde, o recurso no âmbito interno, essencialmente, à nomenclação Direitos Fundamentais e, no
internacional, a usagem, da locação Direitos Humanos.

SEMELHANÇAS DIREITOS HUMANOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


GÉNESE Origem no Direito Natural jusnaturalista, mas em momentos históricos desfasados
Ambos são direitos positivados, contudo esta positivação não significa apenas transposição
POSITIVAÇÃO para o direito escrito, supõem também imperatividade e coercibilidade, quer na perspetiva da
vinculação do poder, quer na ótica da adstrição da remanescente comunidade de indivíduos.
Apresentam-se no seu conjunto os mesmos Em certos domínios, os DF surgem mais
TIPIFICAÇÃO e os respetivos conteúdos afiguram-se tão compreensivos do que parte das constituições,
(regras) vastos e densos quanto os dos Direitos ou porque mais antigas ou porque mais liberais,
Fundamentais. ou porque ambas.
SUJEITOS Tanto os DF como os DH são exercidos pelos indivíduos nacionais, estrangeiros ou apátridas.
MESMO Dignidade da pessoa humana – é a razão da existência de ambos, a sua base e o seu fim. Refere
FUNDAMENTO Alexandrino “não se diferenciam nem pela fundamentalidade, nem pela finalidade, ambos
JURÍDICO visam defender e promover a dignidade, a autonomia e o poder das pessoas concretas.
Ambos traduzem posições jurídicas ativas e se afirmam enquanto verdadeiros direitos
NATUREZA subjetivos públicos e nunca como simples normas pragmáticas. Os DH não se assumem como
derivados dos DF, aliás acontece o inverso, onde o DI (ius cogens) que se impõem ao direito
interno.
DIVISÃO Existência de 2 textos (PIDCP e PIDESC) A CRP fixa 2 regimes jurídicos opostos: DLG ao
NUCLEAR qual faz ligação os de natureza análoga e os DESC
DIREITOS HUMANOS DIREITOS FUNDAMENTAIS
 Os direitos do Homem podem ser  Os direitos fundamentais são sempre
direitos puramente morais; direitos jurídicos;
 Os direitos do Homem não estão  os direitos fundamentais são direitos
necessariamente positivados; previstos na Constituição;
 Os direitos do Homem apresentam  os direitos fundamentais vinculam sobretudo
DIFERENÇAS uma pretensão de vinculatividade (ou apenas) o Estado, no âmbito de uma
universal (eles podem obrigar todos os ordem jurídica concreta.
sujeitos, públicos e privados, todos os  os direitos fundamentais incorporam
ordenamentos e em todos os tempos); tradicionalmente garantias jurídicas
 Os direitos do Homem são, em regra, concretas e delimitadas.
direitos abstratos.

HIERARQUIA ENTRE DIREITOS CIVIS E POLITICOS E DIREITOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS


 Direitos civis e políticos – têm a sua origem no Iluminismo e nas revoluções americana e francesa, refletem
a conceção liberal. São os direitos da pessoa, direitos subjetivos que podem, se necessário, ser internamente
invocados nos tribunais nacionais. Apenas exigem ao Estado que se abstenha de interferir na vida do
indivíduo (Direito negativo – existe uma obrigação de não fazer para o Estado).
 Direitos económicos, sociais e culturais – Requerem uma ação positiva por parte do Estado, ou seja,
impõem uma obrigação de fazer (Direito positivo).
Mais especificamente, no que tange aos Direitos Humanos, a prevalência dos direitos civis e políticos sobre os
direitos económicos, sociais e culturais resulta da diversa natureza jurídica de uns e de outros. Os primeiros,
patentes, sobretudo, no Pacto internacional sobre Direitos Civis e Políticos, emergem como direitos subjetivos
públicos internacionais, em consequência de uma personalização do indivíduo. Os segundos, presentes no Pacto
Internacional sobre Direitos Económicos, Sociais e Culturais, recortam-se, mais limitadamente, como expectativas de
direitos, eventuais e futuros.
HIERARQUIA ENTRE DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS
Os DH e os DF inscrevem-se num único ordenamento jurídico, contudo, as posições jurídicas ativas públicas que os
integram não se posicionam num mesmo plano hierárquico, não detém a mesma força jurídica, não obedecem aos
mesmos princípios jurídicos, não ostentam um mesmo regime jurídico e não assumem uma mesma relevância
valorativa. Motivos:

1. Porque as posições se inscrevem em fontes de Direito diversas, ou internacionais ou internas, situadas


hierarquicamente em patamares diferenciados. Nuns casos em tratados ius cogens, noutros casos na CRP e
ainda em tratados comuns.
2. Apresentam-se enquadrados por princípios claramente distintos.
Por um lado, os direitos de liberdade pessoais – direitos negativos que não estamos à espera por parte do poder
que ponham em causa, estão adstritos à integridade dos princípios: da universalidade, igualdade, confiança,
proporcionalidade e responsabilidade. De outro lado, os direitos sociais – direitos positivos que devem ser
exercidos pelo estado, aos quais se enquadram alguns princípios.
3. Porque os regimes jurídicos estabelecidos interna e internacionalmente, para estes 2 tipos de realidades são
opostos pois só os direitos de liberdade têm exequibilidade, vinculatividade e uma especial exigência em sede de
restrição e no domínio da suspensão ou da derrogação bem como justicialidade (garantia; tutela; os direitos de
liberdade são direitos com tutela absoluta, podemos exigi-los nos tribunais. Os direitos sociais não são
justiciaveis aos olhos da CRP porque podem ser justiciaveis por legislação avulsa).

DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA


É a condição para a existência de qualquer específico direito humano ou direito fundamental.
A valorização sub judice emerge claramente para os direitos de liberdade, que se recortam como verdadeiros
direitos subjetivos públicos e para os sociais que surgem como meras expectativas do direito – demonstração da sua
menor importância é o facto de estes não encontrarem alusão constitucional, mesmo em inequívocos estados de
direito ou estados democráticos.

 Os direitos humanos integram a ordem jurídica portuguesa vigente (arts.7°,8° e 16º). Fazem-no enquanto DH,
não enquanto DF. Desta forma, os DF apresentam-se próximos dos DH, mas revelam-se insuscetíveis de uma
sinonímia absoluta. Enquanto os DF emanam da CRP, os DH derivam do direito internacional.
A CRP recebe DH e estes não mudam a sua natureza, não se transformam, por essa circunstância em DF o que
significa que lhes é aplicável o direito internacional e que na sua vigência também.

HIERARQUIA ENTRE DLG, DIREITOS DE NATUREZA ANÁLOGA E DESC


Clara hierarquização, com notória supremacia dos DLG sobre os DESC. Os DLG e os DESC ostentam um diferente
quadro no que se reporta aos princípios.
1. Os DLG respondem às exigências de universalidade (art.12° e 15°), igualdade (art.13°), proporcionalidade
(art.18° e 19°), confiança (art.18°), responsabilidade (art.22º) e proteção (art.20º).
2. Os DESC apenas se circunscrevem aos princípios da universalidade e da igualdade.
3. Os DLG existem em regime jurídico (art.17º) manifestamente oposto ao que rege os DESC.

Uma distinta força jurídica (art.18°), um diverso quadro de restrições de gozo dos direitos (art.18° e 27°), um
diferente modelo de suspensão do exercício de direitos, uma autotutela existente nos DESC (art.21º), uma outra
perspetivação da reserva legislativa (art.165º) e uma construção simétrica no domínio da revisão constitucional
(art.288º).
Os direitos de natureza análoga aos DLG, quer pessoais quer políticos, surgem em linha direita com os DLG (art.17°)
superiorizando-se aos DESC.

HIERARQUIA ENTRE DIREITOS HUMANOS E DIREITOS FUNDAMENTAIS DE LIBERDADE E DIREITOS HUMANOS E


DIREITOS FUNDAMENTAIS SOCIAIS

Os direitos de liberdade preferem sobre os designados direitos sociais. Enquanto os direitos de liberdade se afirmam
como direitos subjetivos, como direitos a exigir, os direitos sociais não ultrapassam o patamar das expectativas. Uma
vez que:
o A liberdade (direitos civis e pessoais) – é mais pertinente do que a solidariedade (direitos sociais) – não pondo
esta solidariedade colocar em causa semelhante liberdade. A democracia (direitos políticos) é mais relevante do
que a solidariedade (não podendo esta colocar em risco aquela).
 HIERARQUIA ENTRE DLG OU DIREITOS DE NATUREZA ANÁLOGA
1. Em primeiro emergem os DLG pessoais insuscetíveis de suspensão (art.19° n°6) – 24º, 25º, 26º, 29º, 32º,
41º.
2. Outros DLG ainda de natureza pessoal – 26º, 27º, 28º, 29º, 30º, 31º, 32º, 33º, 35º, 36º.
3. Os DLG pessoais e os direitos de natureza análoga aos DLG pessoais de exercício individualizado – 61º, 62º,
37º, 43º, 42º.
4. Os DLG de uso coletivo – 34º, 45º,46º, 38º, 44º, 33º, 47º.
5. Os DLG de participação política e os direitos de natureza análoga de participação política – 48º, 50º, 49º,
115º, 167º, 268º, 240º.
6. Outras garantias – 20°, 52º, 23º, 21º.
7. Os DLG dos trabalhadores que não se perfilam com direitos de liberdade, nem sequer como direitos
fundamentais – 53º, 57º, 55º.

PRINCÍPIO DA UNIVERSALIDADE (art.12º)


O primeiro princípio geral dos direitos (e deveres) fundamentais consiste na sua universalidade. Todas as pessoas, só
pelo facto de serem pessoas, são, por isso mesmo, titulares de direitos (e deveres) fundamentais, são sujeitos
constitucionais de direitos e deveres.
A referência à expressão - «todos os cidadãos» - não tem qualquer sentido restritivo: «cidadão» designa o detentor
da qualidade de cidadão português, sem outra qualificação.
 A CRP, ao contrário das constituições anteriores, não faz distinção entre cidadãos originários e cidadãos
naturalizados, sendo, por isso, inconstitucional qualquer restrição de direitos fundamentais dos cidadãos
portugueses não originários, a não ser que a CRP expressamente a admita ou determine.
 A CRP reconhece expressamente capacidade de gozo de direitos (e submissão de deveres) às pessoas coletivas
(nº2), superando uma conceção de DF exclusivamente centrada sobre os indivíduos.
 As pessoas coletivas não podem ser titulares de todos os direitos e deveres fundamentais; mas, sim apenas
daqueles que sejam compatíveis com a sua natureza (nº2, in fine).
O princípio da universalidade dever ter hoje uma leitura em conformidade com o direito da União Europeia. Por um
lado, um dos princípios básicos da UE é a extensão de direitos a todos os cidadãos de Estados-membros. Por outro
lado, o princípio da presença comunitária ou europeia das sociedades parece constituir o equivalente funcional
europeu do critério da nacionalidade portuguesa, sendo, por isso, «equiparadas às pessoas singulares nacionais de
Estados-membros».

PRINCÍPIO DA IGUALDADE (art.13º)


O princípio da igualdade é um dos princípios estruturantes do sistema constitucional global, conjugando as
dimensões liberais, democráticas e sociais inerentes ao conceito de Estado de direito democrático e social (art.2º).
 Na sua dimensão liberal, o princípio da igualdade consubstancia a ideia de igual posição de todas as pessoas,
independentemente do seu nascimento e do seu status, perante a lei, geral e abstrata, considerada
subjetivamente universal em virtude da sua impessoalidade.
 A dimensão democrática exige a explicita proibição de discriminações (positivas ou negativas) na participação
no exercício do poder político, seja no acesso a ele (sufrágio censitário), seja na relevância dele (desigualdade de
voto), bem como no acesso a cargos públicos.
 A dimensão social acentua a função social do princípio da igualdade, impondo a eliminação das desigualdades
fácticas (económicas, sociais e culturais), de forma a atingir-se a «igualdade real entre os portugueses» (art.9º
d)).

Com estas 3 dimensões, o princípio da igualdade é estruturante do Estado de direito democrático e social, dado que:
a) Impõe a igualdade na aplicação do direito, fundamentalmente assegurada pela tendencial universalidade da
lei e pela proibição de diferenciação de cidadãos com base em condições meramente subjetivas;
b) Garante a igualdade de participação na vida política da coletividade de Estado de direito democrático;
c) Exige a eliminação das desigualdades de facto para se assegurar uma igualdade material no plano
económico, social e cultural.
Com esta densificação o princípio da igualdade realiza-se como direito subjetivo específico e autónomo e como
direito, liberdade e garantia de natureza defensiva assegurando aos cidadãos a devida proteção contra formas de
atuação de poderes públicos impositivas de tratamento desigual sem motivo justificado.

PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
É um dos princípios essenciais da CRP e tem a sua centralidade máxima no art.18º nº2 da CRP. É essencial sobretudo
em matéria de condicionamentos aos DLG, ou seja, em matéria de limites e restrições.
Este princípio passa por um cuidado por parte de quem restringe ou limita um direito ou uma liberdade fundamental
pelo que, nestes momentos devemos verificar três requisitos para garantir a proporcionalidade:
1. Adequação: aqui perceber-se-á se ao restringir-se um direito, os efeitos ambicionados se atingirão. Se o
resultado não for possível dessa maneira não há proporcionalidade.
2. Necessidade: devemos avaliar o nível de restrição a ser feito, ou seja, só se deve restringir na medida do
necessário, isto é, apenas deve ser condicionado o suficiente para que os efeitos desejados se verifiquem;
3. Justa medida: será sempre essencial verificar-se que os benefícios que se obterão com a restrição não serão
menores do que os danos que se poderão produzir.

PRINCÍPIO DE ACESSO AO DIREITO – (art.20º)


O direito de acesso ao direito e à tutela jurisdicional efetiva é, ele mesmo, um direito fundamental constituindo uma
garantia imprescindível da proteção de direitos fundamentais, sendo, por isso, inerente à ideia de Estado de direito.
A sua natureza de direito prestacionalmente dependente e de direito legalmente conformado é visível, quer quanto
ao direito de acesso ao direito através das vias não-jurisdicionais quer quanto ao direito de acesso aos tribunais.
De qualquer modo, ninguém pode ser privado de levar a sua causa (relacionada com a defesa de um direito ou
interesse legitimo e não apenas de direitos fundamentais) à apreciação de um tribunal, pelo menos como último
recurso. Por isso, o art.20º consagra um direito fundamental independentemente da sua recondução a DLG ou a
direito análogo aos DLG.

PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE (art.22º)


O art.22º referente à responsabilidade civil ou patrimonial das entidades públicas é um dos preceitos constitucionais
que mais duvidas tem suscitado. Em primeiro lugar, coloca-se o problema de saber qual é o objeto de proteção.
Objeto de proteção devem considerar-se, desde logo, os DLG lesados por ações ou omissões dos titulares de órgãos,
funcionários ou agentes do Estado e demais entidades publicas. Em segundo lugar, pergunta-se pelo sentido
jurídico-constitucional do instituto da responsabilidade do Estado e demais entidades públicas. A localização deste
instituto em sede constitucional significa que ele não transporta apenas uma logica indemnizatória-ressarcitória
decalcada na responsabilidade do direito civil. A responsabilidade conexiona-se, desde logo, com outros princípios
jurídico-constitucionalmente estruturantes como o princípio do Estado de direito, da constitucionalidade e
legalidade da ação do estado e o da igualdade. Mas a responsabilidade dos poderes públicos garante
substantividade jurídico-constitucional sobretudo como um direito de defesa, legitimador de pretensões
indemnizatórias, contra a violação de DLG dos cidadãos. O preceito em análise refere-se à chamada responsabilidade
civil ou responsabilidade patrimonial do estado que consiste na indemnização pecuniária dos prejuízos morais ou
patrimoniais causados a outros. No texto constitucional, o termo «responsabilidade» surge ainda com outros
sentidos: responsabilidade no sentido de responsabilidade politico-criminal dos titulares de cargos políticos;
responsabilidade no sentido de responsabilidade disciplinar dos funcionários ou agente; responsabilidade no sentido
de responsabilidade politica compreendida como um complexo de mecanismos jurídicos e politico-constitucionais de
afetação de valor a condutas politicas dos titulares de alguns órgãos de soberania; responsabilidade no sentido de
responsabilidade financeira que tem a ver com a punição de infrações financeiras, no âmbito das finanças públicas.

PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO DA CONFIANÇA – (art.2º)


Este princípio constitui uma das componentes materiais essenciais ao estado de direito, estando o seu conteúdo
normativo reconhecido no art.2º CRP, enquanto parte integrante do princípio mais vasto da segurança jurídica. Ora,
a proteção da confiança, não constituindo em sim mesma um DF, representa o lado subjetivo da segurança jurídica
que, em múltiplas hipóteses, pode assegurar uma proteção equivalente à de um verdadeiro DLG. No entanto, a
proteção da confiança é um princípio limitado, por força de 3 outras realidades: a margem de confirmação do
legislador; a relação entre o tempo e a rigidez regulativa; e o postulado da flexibilidade. A questão de fundo que se
coloca é: até onde pode ir o legislador na frustração dos direitos e expectativas formadas à luz de um certo quadro
legislativo? A primeira linha orientadora deve ser a de que este princípio constitui uma garantia de «projeção
variável» que só pode ser efetivamente esclarecida perante as circunstâncias de cada caso.

Tutela dos Direitos, Liberdades e Garantias


TUTELA – proteção de normas jurídicas e do direito. A tutela pode dividir-se em vários subtipos, a divisão de:

1. Autotutela – a tutela que resulta da defesa de direitos realizados pelos particulares nas situações excecionais
legalmente previstas. Num estado de direito, a autotutela é residual, funcionando apenas a título excecional. Só
pode funcionar nos interstícios dos modelos de tutela estaduais ou pelo menos públicos. No quadro dos direitos
fundamentais acontece o mesmo, sendo que a CRP reserva esse tipo de tutela apenas para os DLG, ou seja, não
há autotutela nos direitos de natureza social. Em contrapartida, o regime dos DNA é o mesmo do regime dos
DLG (art.21º CRP).

Duas formas possíveis de autotutela:


 Direito de resistência – é um direito universal de natureza singular/individual, visto que diz respeito a cada
pessoa e não a resistência coletiva. Quando se falar em ordem corresponde aos atos do poder publico, concretos
a que se pode reagir. Pode tratar-se de atos normativos, regulamentos ou lei, sendo que a lei não está provada.
Este direito não diz respeito a todos os direitos fundamentais, mas abrange os DNA pelo art.17º, ou seja, pode
usar o direito de resistência para a defesa de DNA. Estas ordens podem provir de qualquer autoridade de
qualquer poder. Exemplo: polícia, autarquias locais, governo, etc.

 Legitima defesa – diferentemente do direito de resistência, aqui surge que, numa situação destas circunstâncias,
devemos recorrer a uma autoridade publica. A agressão não provem dos poderes públicos (autoridades
publicas), provindo de poderes privados (particulares). Os particulares não estarão a defender-se de autoridades
públicas, mas sim de terceiros. Com isto, retira-se que a CRP constitucionaliza a legitima defesa para casos em
que quaisquer agressões que presumivelmente ponham em causa direitos fundamentais repelíeis pelo próprio
em circunstâncias em que não seja possível recorrer a autoridade pública.

2. Hetero tutela – tutela que resulta da intervenção de qualquer terceiro. A hetero tutela pode ser dividida em
hetero tutela privada e hetero tutela pública. Contudo a divisão mais importante é:

 Tutela jurisdicional – é a mais eficaz e mais preferível. Esta está pensada para todos e quaisquer direitos
(art.20º), ou seja, direitos fundamentais e direitos não fundamentais, sendo uma tutela mais ampla onde incluiu,
ainda, os interesses legalmente protegidos (casos onde não há verdadeiramente direitos). Esta tutela deve ser
distinguida da tutela não jurisdicional, no que diz respeito ao acesso aos tribunais do acesso ao direito, sendo
que ambos estão interligados. O acesso aos tribunais é uma parte do acesso ao direito, podendo haver outros
meios jurisdicionais que a CRP prevê. Exemplo: direito de petição junto do provedor de justiça (art.23º).
É importante que haja acesso aos tribunais e que haja patrocínio judicial, contudo, para que possam
recorrer a esses meios é necessário haver informação, consultas jurídicas, visto que se após recorrer a consulta
jurídica verificar-se que não há direito, então não faz sentido aceder ao tribunal (art.20º nº2). Não é pelo facto
de não ter meios económicos que não têm o direito de ser informados e de ser acompanhados por um
advogado, isto significa que o estado vai ter, pelo menos em termos mínimos, de assegurar tudo isto, tendo
direito a proteção efetiva em tempo útil (art.20º nº4).

Quando se fala em tutela não jurisdicional, está-se a falar, sobretudo, no direito de petição (art.52º). este direito é
integrado nos DLG, nesse caso, na participação política, mas a verdade é que o direito de petição não tem apenas
esta função. Pode haver tanto petições coletivas como individuais apresentadas a órgãos de soberania ou qualquer
autoridade (art.52º nº1), para a defesa de quaisquer direitos de interesse geral, ou seja, defesa de direitos previstos
na CRP.
O direito de petição, embora apareça na parte dos DLG de natureza política, em rigor, é um meio de defesa/garantia
para todos os direitos fundamentais, ou seja, é uma forma de tutela, também, de direitos fundamentais, sem serem
de natureza política, dado que há alguns direitos que são exercidos junto de autoridades que não têm natureza
política. O prazo para o direito de petição é de 60 dias. O provedor de justiça pode receber petições ( art.23º), no
entanto, este não tem poder decisório, tendo que remeter as suas recomendações aos órgãos competentes de
forma a evitar injustiças. Há caso em que o provedor de justiça não se limita a fazer recomendações, ou seja, pode
pedir uma fiscalização da constitucionalidade.

Os direitos pessoais têm um tipo de tutela e um regime especial por se tratar de direitos de extrema importância,
tendo mecanismos mais rápidos e prioritários em relação aos restantes DLG (art.20º nº5).
O legislador criou um sistema junto dos tribunais administrativos, designado de processo de intimação, para a
defesa dos DLG pessoais (art.109º CPTA). Contudo, a CRP possui um mecanismo de defesa para um único direito, o
direito à liberdade física: “Habeas Corpus” – art.31º.
Este mecanismo trata-se de um processo rápido e expedito onde junto do tribunal um sujeito, em caso de
abuso de poder, pode defender-se. Exemplo: em caso de detenção sem fundamento, seja devolvida a liberdade
rapidamente, uma vez que estamos perante a violação do 3º direito mais importante.

 Tutela de natureza administrativa – menos eficaz, embora, em alguns casos, é única adequada ou a única
possível. Mesmo que tenha havido violação de direitos, não se justifica avançar para ações judiciais, havendo
outras formas de tutela sem ser a tutela jurisdicional. A tutela administrativa é um exemplo disso. O patrocínio
judiciário não faz apenas sentido junto dos tribunais faz, também sentido junto da própria administração. A CRP
garante o direito à tutela jurisdicional aos administrados pela atividade da AP (art.268º nº4).

 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS


Os direitos fundamentais surgiram há poucos séculos e formaram-se, sustentando-se, num processo lento.

Plano político
Duas vertentes: Interna e Internacional. Primeiro surge a vertente interna.
Só se vê direitos internacionais após a 2ª GM, já os internos revelaram indícios a partir das Revoluções Inglesas.
As Revoluções americana e Francesa deram uma forma sistemática aos DF. Trouxeram os DF numa Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão que é diferente da DUDH. Essa declaração foi uma consequência direta da
Revolução Francesa. Assim, em Portugal seguiram a mesma evolução dos franceses e em 1820 dá-se a Revolução
Liberal que leva a CRP de 1822 (censitária, capacitaria) direitos pessoais. Pouco tempo depois surge a Carta
Constitucional, em que se verificou não uma evolução, mas uma regressão. Com o Estado Novo, surge a CRP de
1933. É a antítese do que seria um Estado defensor de Direitos Fundamentais, pois é um Estado autoritário que não
tinha essa preocupação. Na Constituição de 1976 pegou-se no que havia de DF da CRP Alemã e traduziu-se para
português. Assim, a base da CRP Portuguesa é a CRP Alemã. São uma resposta à CRP de 1933, colocando restrições
para que não se volte a repetir o passado. Por fim, a CRP de 1982 é moderna, mas pouco realista, provocando um
choque entre a CRP e a Realidade. Quanto aos DLG estão perfeitos, já quanto aos DESC não, pois há uma falta de
recursos e assim, só se os reconhece pela metade.

Plano jurídico
Não se pode falar de direitos fundamentais antes dos séculos XVI e XVII porque até então não havia ocorrido a
personalização jurídica do Estado, não permitindo assim a conceção de uma figura, que pressuponha o
relacionamento entre duas entidades jurídicas: uma pessoa individual e o Estado.
A positivação, institucionalização e garantia efetiva dos direitos do homem acompanhou o desenvolvimento
do constitucionalismo.
Positivação dos direitos em constituições escritas, formais e rígidas, devendo os direitos fundamentais ser
entendidos como garantias jurídicas concretas, positivadas na CRP, dotadas de vinculatividade plena e protegida
através de vários mecanismos de tutela.
Afirmam-se como características as ideias de acumulação (em cada momento histórico formulam-se novos
direitos), a abertura (o sistema de direitos fundamentais é aberto permitindo o surgimento de novos direitos) e a
variedade (os direitos vão-se diferenciando progressivamente).
REGIME ESPECÍFICO DOS DIREITOS, LIBERDADES E GARANTIAS
Na CRP apenas temos um regime especificado no que diz respeito aos Direitos Fundamentais, que é o regime dos
direitos, liberdades e garantias, uma vez que, no que toca aos direitos de natureza análoga, apenas se menciona que
o regime é o mesmo ao dos direitos, liberdades e garantias e, no que toca aos direitos sociais, económicos e
culturais, a CRP é praticamente omissa.
Os aspetos principais deste regime são:

 Aplicabilidade Direta: (Art.18º/1-CRP) os direitos, liberdades e garantias não precisaram de qualquer diploma
ordinário ou qualquer mediação legislativa ordinária (lei, decreto-lei, etc.) para que possam ser aplicados.
Contudo, na prática isso não acontece, uma vez que não há verdadeiramente nenhum direito, ou seja, não há
nenhum direto que dispense totalmente a lei. A aplicabilidade direta não é total.
Posto isto, importa concluir que há sempre um certo nível de aplicabilidade direta, mas apenas num certo
nível, nunca em termos plenos e nos seus termos gerais.

 Vinculatividade: (Art.18º/1-CRP)
 Vinculação das entidades públicas: não se está a referir apenas ao Estado, referindo-se, também, a outras
entidades com personalidade jurídica. Entidades púbicas serão o Estado, regiões autónomas, as
autarquias locais, etc. Quando se fala em entidades públicas, percebemos que antes de mais estamos a
falar do estado, obviamente dos órgãos políticos, dos órgãos administrativos, dos órgãos judiciais;
 Vinculação das entidades privadas: não são só as pessoas, podendo ser, também, sujeitos coletivos. É
evidente que não basta que as entidades públicas sejam obrigadas aos direitos, liberdades e garantias. Se
fosse só obrigações por parte das entidades públicas, então não estaríamos vinculados a eles, ou seja,
uma determinada pessoa teria por hipótese um direito frente ao Estado, mas já não frente ao vizinho do
lado;

 Condicionamentos: tem um sentido amplo pois inclui-se as duas figuras que a CRP refere: a restrição e a
suspensão. Está-se a falar de todo um conjunto de conversões de delimitações aos Direitos, Liberdades e
Garantias:

 RESTRIÇÕES: A matéria das restrições é uma matéria incontornável, não é possível regular direitos, liberdades e
garantias sem restringir o alcance desses mesmos, uma vez que, se um direito for exercido na totalidade sem
qualquer restrição, este vai impedir que outro direito seja gozado. Exemplo: Direito de liberdade de expressão:
se este for usado na sua plenitude, pode vir a ofender a integridade de outras pessoas. Isso resolve-se
restringindo a liberdade de expressão, mas também ao mesmo tempo restringindo o direito à integridade.
A CRP evita que esta restrição seja usada de forma excedente (Art.18º/2 e 3-CRP), ou seja, vai admitir que a
restrição é necessária, tentando regular essa restrição de modo a que ela não seja usada em excesso.
Em relação ao Art.18º/3-CRP, as leis restritivas têm de ser feitas a partir da forma legislativa, ou seja, têm que
ser feita através de leis. Estas têm de ser emanadas da Assembleia da República (Art.165º/1/b-CRP). Daqui
provêm as restrições, assim temos aqui uma reserva relativa da competência legislativa da Assembleia da
República pelo que o Governo, mediante autorização prévia da AR, poderá praticar estes atos, mediante
decretos-lei.
Conclui-se, desta forma, que as leis restritivas têm de ser reguladas por ato legislativo, podendo ser uma lei ou
decreto-lei autorizado. Não pode, no entanto, ser regulado por decreto legislativo regional.

 SUSPENSÕES: (Art.19º-CRP) estas não são feitas através de um ato legislativo típico (Art.112º/1-CRP), sendo por
Decreto do PR (Art.119º/1/d-CRP). É o PR que tem competência para declarar a suspensão com autorização da
AR, sendo que o Governo, também, é ouvido (Art.138º-CRP). O Estado de sítio ou emergência é decretado pelo
PR, sendo que não pode ser o governo a decretar que direitos vão ser suspensos. O cariz jurídico que é atribuído
à suspensão é completamente diferente do cariz jurídico da restrição.
Apenas nos termos da CRP é que se pode suspender os Direitos, Liberdades e Garantias, ou seja, em caso de
Estado de sítio ou de emergência (Art.19º/1-CRP). Se por ventura os órgãos decretarem Estado de emergência
ou de sítio sem ser necessário, é considerado crime.

O Estado de emergência ou de sítio pode ser declarado, parcialmente ou totalmente, quando há (Art.19º/2-CRP):
o Agressão efetiva ou iminente por forças estrangeiras ;
o Grave perturbação da ordem constitucional democrática : Exemplo: Grave desentendimento crónico entre a
AR e o Governo;
o Ameaça de calamidade pública: Exemplo: terramoto, maremoto, Covid-19;

O Estado de sítio é declarado em situações mais gravosas, sendo o Estado de emergência um confronto menos
grave. O Estado de emergência só pode suspender alguns dos Direitos, Liberdades e Garantias que podem ser
suspensos, ou seja, só admite uma parcial suspensão dos direitos, já no Estado de sítio permite a suspensão de todos
os direitos que se encontram dentro dos que possam ser suspensos, isto é, há condicionamento total dos direitos
(Art.19º/3-CRP).

A decretação do Estado de emergência ou de sítio deve seguir o princípio da proporcionalidade, ou seja, aquilo que
vai determinar a extensão, a duração e os meios que vão ser utilizados vai ser um critério para aferir em termos de
conteúdo, se é conforme a constituição ou não (Art.19º/4-CRP). Tem que haver necessidade de decretar quer um
quer outro, ou seja, quando se vai suspender um determinado direito tem de se verificar se, quando o
suspendermos, permite o resultado pretendido. Após analisar-se os direitos que são suspensos e aferir o resultado,
tem-se de verificar se vale a pena essa suspensão, ou seja, se existe um grande benefício em suspender esses
direitos.
O Estado de emergência não pode ser superior a 15 dias, exceto se for declarado, por lei, situação de guerra,
podendo alargar o prazo. Os 15 dias são sem prejuízo de eventuais renovações, ou seja, pode renovar as vezes que
forem necessárias em conformidade com o princípio da proporcionalidade, com salvaguarda dos mesmos limites
(Art.19º/5-CRP). Isto significa que, de 15 em 15 dias a situação é reapreciada de forma a verificar se a situação
continua a exigir ou não a declaração do Estado de emergência ou sítio. Exemplo: É decretado o Estado de sítio.
Passado 15 dias, verifica-se se a evolução da situação é positiva ou negativa. Se for negativa, mantem-se mais 15 dias
até nova reavaliação. Se for positiva, pode passar a Estado de emergência, por exemplo.
Os direitos mencionados no Art.19º/6-CRP não podem ser afetados pela decretação do Estado de sítio ou
emergência. Inclui-se o direito à liberdade física, direito de resistência, garantias habeas corpus, presunção de
inocência, direito à constituição de família e à contração de casamento e ao direito à educação e à manutenção dos
filhos.
A declaração do Estado de sítio e de emergência só pode alterar os direitos fundamentais, não podendo alterar a
CRP, ou seja, não podem ser afetas as regras constitucionais da organização política (Art.19º/7-CRP). As autoridades
têm competência para tomar as providências necessárias, mas em qualquer caso, tem de ser avisado ( Art.19º/8-
CRP).
Restrição Suspensão

O núcleo essencial do direito tem que A suspensão pode ser total, não tendo
ficar preservado, ou seja, só há restrições obrigatoriamente que o ser
parciais
Qualquer direito pode sobre restrição Nem todos os direitos podem ser
suspensos
Não tem prazo estipulado, sendo possível Tem um prazo de 15 dias, podendo ser
alterar ou revogar a lei a qualquer renovado por 1 ano com reavaliações
momento constantes

 Competências: quem tem competência para regular estes direitos, liberdades e garantias. A regra geral está
no Art.165º/1/b, no entanto, há exceções. Apenas se pode mencionar o artigo anteriormente referido quando
as condições não estão reguladas no Art.164º-CRP, ou seja, tem-se que verificar o Art.164º e 165º-CRP
cuidadosamente e, salvo não existir nenhuma alínea, usar o Art.165º/1/b-CRP.
 Revisão Constitucional: saber em que medida em que estes direitos podem ser objeto de revisão
constitucional. À primeira vista parece que não podem ser objeto de revisão constitucional, mas os juristas
encontram soluções menos óbvias. Não é possível rever os Direitos, Liberdades e Garantias (Art.288º/d-CRP),
visto que, ao alterar estes direitos, altera-se a CRP, criando-se uma nova Constituição.
A fiscalização de constitucionalidade e legalidade é da competência do Tribunal Constitucional ( Art.281º/1/a e
282º-CRP).

 Regime Específico dos Direitos de Natureza Análoga : Os direitos de natureza análoga são os direitos que se pode
designar equiparados ou semelhantes aos Direitos, Liberdades e Garantias, mas na verdade não estão na parte
dos Direitos, Liberdades e Garantias (Art.17º-CRP). Estão previstos, não nos Direitos, Liberdades e Garantias, mas
fora desse grupo e também, em princípio fora dos direitos sociais. Portanto, em rigor, estão em todo o lado,
nomeadamente, antes de começar o catálogo dos DLG (antes do Art.24º-CRP), na parte económica da CRP, na
parte da organização do poder político e até, eventualmente, do sistema de fiscalização (não na parte de revisão).
Nos próprios direitos sociais, também, se pode encontrar alguns direitos que se designam de direitos de natureza
análoga. Formalmente são direitos socais, daí estarem na parte dos direitos socais, mas quando se vai analisá-los
um por um a sua estrutura, verifica-se que são direitos muito parecidos aos Direitos, Liberdades e Garantias,
portanto, diz-se que são, também, direitos de natureza análoga.

 Dificuldades: Os direitos de natureza análoga trás alguma dificuldade de identificação. Essas dificuldades são,
por norma:
 Falta de critério: Observando o Art.17º-CRP, verifica-se que não há nenhum critério para distinguir os
Direitos, Liberdades e Garantias dos direitos de natureza análoga, visto que apenas diz que tem o mesmo
regime dos primeiros, concluindo-se que, se tem o mesmo regime dos Direitos, Liberdades e Garantias, é
porque são parecidos.
 Os DLG não têm uma conformação homogénea : a forma mais utilizada para distinguir os DLG dos direitos
de natureza análoga é perceber quais são as características dos primeiros e procurar se têm
características afins. Contudo, por ser um trabalho minucioso e por os DLG ser uma categoria pouco
homogénea, torna o trabalho falível. Acontece que a CRP estabelece uma categoria que são os DLG em
que, para além desses, inclui uma parte dos direitos socais e direitos relativos ao trabalho. No entanto, os
direitos do trabalho estão a título complementar, uma vez que, na verdade, aquela categoria é
essencialmente formada pelos DLG pessoais e pelos DLG políticos. Desta forma, vai-se tentar perceber as
categorias desses DLG e todos os direitos que tenham categorias parecidas com essas são direitos de
natureza análoga.

 Características: Há vários critérios para caracterizar os Direitos Fundamentais, mas usa-se apenas alguns:
 Critério da omissão por parte do poder e dos demais sujeitos da sociedade :
o Direitos negativos: direitos a uma omissão, que são direitos pessoais e políticos. Os direitos liberdades
e garantias são, tendencialmente, negativos;
o Direitos positivos: direitos a uma intervenção, que são os direitos sociais;
 Critério da determinabilidade:
o Direitos determinados: os Direito, Liberdades e Garantias são direitos totalmente determinados;
o Direitos indeterminados: os Direitos Sociais são direitos não determinados;
 Critério da justicialidade:
o Direitos justiciaveis: podem ser invocados, imediatamente, em cede judicial. Os Direitos Liberdades e
Garantias são justiciaveis
o Direitos não justiciaveis: são mais difíceis de ir a tribunal. Abrange os direitos sociais;

Todos os direitos que forem, simultaneamente, direitos negativos, determinados e justiciaveis podem ser de
natureza análoga. Cada autor tem a sua opinião quanto ao critério privilegiado para caracterizar estes direitos, tendo
como consequência a lista dos direitos de natureza análoga ser diferente de autor para autor. Não quer dizer que
eles não saibam o que estão a fazer, mas esse trabalho é realmente difícil de fazer à luz de um critério pouco rígido,
levando à insegurança jurídica. Exemplo: O direito da propriedade privada (Art.61º e 62º-CRP) é um direito de
natureza análoga, visto que está no catálogo dos direitos sociais, no entanto, é equiparado a um Direito de
liberdade.

 Problemática: O problema dos direitos de natureza análoga é que estes não estão identificados pela CRP
nem se sabe qual o critério que permite saber quais são. De acordo com o Art.17º-CRP, o regime dos
Direitos, Liberdades e Garantias, também é aplicável aos Direitos de natureza análoga, não havendo grandes
dificuldades em aplicar o regime.
 Diferenças com os DLG: A única diferença encontrada entre os DLG e os Direitos de natureza análoga é
quanto à competência. Há direitos de natureza análoga que tem um regime de competência diferente das
regras dos DLG, portanto, nem sempre se pode aplicar o Art.165º/1/b, mas na maior parte dos casos pode-
se.

Se se chegar à conclusão que se tem um determinado direito e esse direito é um direito de natureza análoga, vai-se
ao Art.164º e Art.165º, mas se ele não estiver lá previsto, então, recorre-se ao Art.165º/1/b, visto que o vamos ler
como direitos, liberdades e garantias ou direitos de natureza análoga.
 Regime específico dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais : O problema dos Direitos Económicos, Sociais e
Culturais é que não tem uma base legal firme como os DLG, ou seja, não têm um regime como os DLG. No
entanto, encontra-se uma base sólida, quanto aos princípios.
 Princípios:
 Princípio da universalidade: (Art.12º-CRP) Todas as pessoas são titulares de Direitos Fundamentais, quer
sejam DLG ou Direitos Sociais;
 Princípio da igualdade: (Art.13º-CRP) todas as pessoas têm o mesmo tratamento quer seja nos DLG, quer
nos Direitos Sociais;

Em relação a estes princípios, aplicam-se indistintamente aos DLG ou aos Direitos Sociais, mas essa sobreposição
entre um regime de uns e o regime dos outros cessa aí. Quando vamos á procura do princípio da proporcionalidade,
nos Arts.18º e 19º-CRP, referem-se apenas a DLG, não havendo referência aos Direitos Sociais. À primeira vista, o
princípio da proporcionalidade não diz respeito aos Direitos Sociais, contudo, pode-se dizer que, uma vez que o
princípio da igualdade se aplica também aos Direito Sociais, há um caminho que liga a igualdade com a
proporcionalidade, ou seja, se for rigorosamente igual está garantida minimamente uma proporcionalidade. No
entanto, o princípio da proporcionalidade nos DLG e nos Direitos Sociais é uma proporcionalidade diferente, visto
que nos DLG trata-se de uma proporcionalidade estrita (Art.19º-CRP) e nos Direitos Sociais, para se chegar a uma
ideia de proporcionalidade, não se chega lá diretamente.

Em relação à aplicabilidade direta, vinculação, restrição, suspensão e revisão constitucional a CRP nada diz sobre
essas matérias. Contudo, pode-se tirar algumas conclusões:

 Aplicabilidade direta: sendo os Direitos sociais positivos e indeterminados, faz sentido não haver
aplicabilidade direta por não estarem caracterizados na CRP.

 Vinculação:
 Vinculação das entidades privadas : não se pode estar vinculado a respeitar um direito social, visto que
um direito social implica uma prestação. Exemplo: Direito à saúde, Direitos ao trabalho, etc.

 Vinculação as entidades públicas: poder-se-ia dizer que os direitos sociais são fundamentais à vinculação,
no entanto, isso não é verdade, uma vez que os direitos sociais não vinculativos, no sentido em que sejam
de concretização obrigatória pelo legislador, eles estão previstos na CRP, mas estão previstos como uma
possibilidade. Exemplo: Diz-se que o Estado deve ter um Serviço Nacional de saúde excecional para
pandemias, no entanto, o estado não se vincula a essa intervenção por motivo de poder ou não ter
recursos para o fazer.

 Condicionamentos: se estes direitos podem nem ser concretizados por não haver recursos, então, por maioria
de razão, podem ser restringidos ou suspensos. Contudo, há uma diferença: os DLG apenas podem ser
suspensos em situações de Estado de sítio ou emergências e essa regra não se aplica aos direitos sociais. Os
direitos sociais podem ser suspensos, quer em situações de estado de sítio ou estado de emergência, quer
fora dele. Se os direitos sociais podem nem sequer existir ou serem criados, então, numa situação qualquer,
podem ser suspensos. Os direitos sociais tanto podem ser adquiridos como retirados. Se eles podem ser
retirados, não há nenhuma razão que justifique que não possam ser suspensos temporariamente e, por isso,
não podem ter o mesmo regime que têm os DLG, não estando no Art.19º-CRP.
Quanto à restrição, este, também, não podem ser totalmente restringidos.

 Revisão constitucional: é bastante explícita e diz quais são os direitos que a revisão tem de observar
(Art.288º-CRP). A CRP impede a eliminação dos Direitos dos trabalhadores, das comissões de trabalhadores e
das associações (Art.288º/e-CRP). Os restantes direitos sociais não têm nenhuma proibição constitucional, ou
seja, apenas os direitos mencionados nessa alínea é que não podem ser retirados da constituição, os outros
direitos não estão protegidos.

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