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CONSTITUCIONALISMO,

DIREITO CONSTITUCIONAL
E CONSTITUIÇÃO

Profa. Isabelle Dias C. Santos


ORIGEM DO CONSTITUCIONALISMO
E O DIREITO CONSTITUCIONAL
 Segundo a doutrina, o Direito Constitucional remonta às
revoluções liberais do século XVIII (americana em 1776 e
francesa em 1789).
 Dessas revoluções, resultaram as constituições escritas
(estadunidense em 1787 e francesa em 1791) como forma de
limitação de poder.
 A primeira cadeira de Direito Constitucional é reconhecida na
Itália, em 1797, com o constitucionalista Pellegrino Rossi.
 No Brasil, torna-se cadeira autônoma do curso de Direito apenas
em 1940.
 É possível dividir o constitucionalismo em dois sentidos: o
amplo e o estrito.
- No sentido amplo, constitucionalismo significa que todo
Estado sempre possui uma Constituição, seja em qualquer
época da humanidade.

- No sentido estrito, constitucionalismo significa uma técnica


jurídica elaborada para colocar em um documento escrito
superior, a tutela das liberdades e regular os poderes do
Estado, limitando-os para o fim de impedir a opressão e o
abuso.
CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL

 O Direito Constitucional é chamado pela doutrina de direito


público fundamental, em virtude do seu conteúdo material, que
trata da estruturação do próprio Estado, da articulação de seus
elementos.

 O professor José Afonso da Silva defende que o Direito


Constitucional é o ramo do direito público que expõe, interpreta
e sistematiza os princípios e as normas fundamentais do Estado.
 Segundo o professor Konrad
Hesse, o Direito Constitucional é
um direito público atípico porque é
diferenciado em relação aos demais
ramos do direito público (penal,
administrativo, processual) e possui
NATUREZA uma hierarquia diferente em
relação aos outros ramos do direito,
à classe das normas constitucionais
e à sua força normativa (impõe-se
perante a realidade social).
 OBJETO
O objeto imediato do estudo do Direito Constitucional é a própria
Constituição política do Estado. Segundo alguns doutrinadores, o Direito
Constitucional é a ciência das Constituições.
Numa visão mais ampla de alguns autores, o Direito Constitucional tanto é a
Constituição política do Estado quanto a teoria da Constituição. Subdivisão.
 SUBDIVISÃO
Segundo alguns autores, o Direito Constitucional pode ser subdividido em:
 Especial, positivo ou particular;
 Comparado;
 Geral.
 FONTES
A doutrina, nesse quesito, não é uniforme.
Para Dirley Cunha, as fontes podem ser imediatas ou mediatas:
– Imediatas: são a própria Constituição e os costumes;
– Mediatas: a jurisprudência constitucional (entendimento dado pelos
tribunais e a doutrina).

Para Borner, as fontes podem ser formais ou complementares:


- As formais são a Constituição Federal, as emendas constitucionais, os
tratados internacionais dos Direitos Humanos (art. 5º, § 3º);
- As complementares, a jurisprudência e os costumes;
Para Norberto Bobbio, as fontes podem ser:
- Originária, que é a própria Constituição;
- Derivadas são as que a Constituição delega, como as leis e a
jurisprudência.
 Constituição é a norma de
maior hierarquia em um
ordenamento jurídico, que
organiza o Estado e os seus
CONSTITUIÇÃO Poderes, além de tratar dos
direitos e garantias
individuais (direitos humanos
fundamentais).
 Na atualidade, diante do
movimento do
Neoconstitucionalismo, a
pessoa humana é colocada
no centro do sistema, em
uma posição de grande
destaque.
CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO

 Existem diversos sentidos para se conceituar a Constituição:


1) Sentido sociológico
Ferdinand Lassalle defende que uma Constituição só seria legítima se
representasse a vontade popular, refletindo a somatória dos fatores reais
de poder numa sociedade. Caso isso não aconteça, a Constituição não
passaria de uma ‘folha de papel’.

2) Sentido Político
Carl Schmitt conceitua Constituição como a decisão política fundamental.
Segundo o autor, a validade de uma Constituição não se apoia na justiça
de suas normas, mas na decisão política que lhe dá existência.
3) Sentido Jurídico
Hans Kelsen diz que a Constituição estaria no mundo do DEVER SER (como as
coisas deveriam ser), e não no mundo do SER (mundo real, como as coisas são),
caracterizada como fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais.
Ela seria uma norma pura, sem qualquer consideração de cunho sociológico,
político ou filosófico. Dai o nome de uma de suas obras ser chamada de Teoria
Pura do Direito.

4) Sentido Culturalista **
Desenvolvido por J. H. Meirelles Teixeira, a Constituição é produto de um fato
cultural, produzido pela sociedade e que sobre ela pode influir.
A concepção culturalista levaria ao conceito de ‘Constituição Total’, por apresentar
“na sua complexidade intrínseca, aspectos econômicos, sociológicos, jurídicos e
filosóficos”.
CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES

 1) QUANTO A ORIGEM

- Promulgada (democrática ou popular) - Fruto do trabalho de uma


Assembleia Nacional Constituinte, eleita diretamente pelo povo.
- Outorgada - Imposta – de maneira unilateral – pelo governante, não
contando com a participação popular.
- Cesarista (Bonapartista) - Embora seja outorgada, nela há participação
popular por meio de referendo. No entanto, essa participação não é
democrática, pois apenas ratifica a vontade do detentor do poder.
- Pactuada (dualista) - Origina-se de um compromisso firmado entre o rei
e o Poder Legislativo. Nesse caso, o monarca se sujeita aos esquemas
constitucionais (monarquia limitada). Como ela é fruto de um pacto, é
chamada de pactuada.
2) QUANTO À FORMA.
 Escrita (instrumental) - Composta por um conjunto de regras
organizadas em um único documento.
 Costumeira (não escrita) - Composta por textos esparsos, baseando-
se nos usos, costumes, jurisprudência..

3) QUANTO AO MODO DE ELABORAÇÃO


 Dogmática - Sempre escrita, é elaborada em um dado momento, por
um órgão constituinte, segundo dogmas ou ideias.
 Histórica - É também chamada costumeira e resulta da lenta formação
histórica, das tradições de uma sociedade.
4) QUANTO À EXTENSÃO
 Analítica (dirigente) - Aborda todos os assuntos que os representantes
do povo entenderem como fundamentais, descendo às minúcias.
Normalmente, traz regras que deveriam estar na legislação
infraconstitucional.
 Sintética (negativa) - Traz apenas princípios fundamentais, que se
ajustam com o tempo. Normalmente dura mais tempo.

5) QUANTO AO CONTEÚDO
- Material (substancial) - No seu texto só há matéria realmente
constitucional. Ex.: Constituição americana.
- Formal - Qualquer regra contida no texto é considerada constitucional.
6) QUANTO À ESTABILIDADE OU POSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO
OU ALTERABILIDADE

 Imutável - Nela, veda-se qualquer alteração. A imutabilidade pode ser


absoluta ou relativa.
 Super-rígida - É a classificação defendida doutrinariamente pelo hoje
Ministro do STF Alexandre de Moraes.
 Rígida - Exige, em relação às normas infraconstitucionais, um
processo legislativo mais complexo para serem alteradas. É
exatamente o que acontece com a nossa Constituição atual.
A título de comparação, uma lei complementar passa em cada Casa
apenas uma vez, sendo que se exige 50% + 1 dos componentes
(maioria absoluta) votando em seu favor.
- Flexível - Não possui processo legislativo mais rigoroso em
comparação às normas infraconstitucionais.
- Semirrígida - Para algumas matérias se exige processo legislativo
mais complexo; para outras, não. Curiosamente, a Constituição
brasileira de 1824, que foi a primeira, era semirrígida e imutável.
- Fixa (silenciosa) - É aquela que só pode ser modificada pelo
mesmo poder que a criou (Poder Constituinte Originário).
7) QUANTO AO CONTEÚDO IDEOLÓGICO
- Liberal (negativa) - Se preocupa exclusivamente em limitar a atuação do Estado,
trazendo apenas prestações negativas (direitos fundamentais de 1ª dimensão).
Traduz o fenômeno do abstencionismo/abstencionismo estatal, que é a postura
passiva do Estado.
- Social (dirigente) - É a que se preocupa não apenas em preservar liberdades, mas
também em efetivar direitos sociais, econômicos e culturais (direitos fundamentais de
2ª dimensão). Leva o nome de dirigentes porque direcionam as ações
governamentais.
8) QUANTO À IDEOLOGIA
O enfoque principal é definir se há – ou não – mais de uma ideologia na elaboração
da Constituição.
 Ortodoxa Reflete um só pensamento ideológico.
 Eclética - Também chamada de compromissória, é fruto da conjunção entre as
diferentes ideologias de um Estado.
9) QUANTO À CORRESPONDÊNCIA COM A REALIDADE (critério
ontológico)
 Normativa - É aquela na qual há correspondência entre a teoria e a
prática. Haveria o respeito do texto pelos detentores do poder. Seria,
em razão disso, o modelo ideal de Constituição.
 Nominal (nominalista) - A Constituição seria um documento político,
sem força normativa, pois os detentores do Poder não respeitariam
seu texto.
 Semântica - Seria a usada pelos detentores do poder como
instrumento para seus propósitos de dominação da sociedade. O
constitucionalista português, Gomes Canotilho, conceitua esse modelo
como ‘Constituição de Fachada’.
10) QUANTO À FINALIDADE
- Constituição Garantia - É uma Constituição negativa, que se preocupa
em trazer a limitação dos poderes estatais. Consagra os direitos de
primeira geração ou dimensão (civis e políticos).
 Constituição Balanço - É a Constituição destinada a registrar um dado
estágio das relações de poder no Estado, elaborada para espelhar
certo período político, findo o qual é formulado um novo texto
constitucional para o período seguinte
 Constituição Dirigente - Possui texto extenso, trazendo em seu bojo as
normas programáticas, ou seja, aborda programas, metas, planos e
diretrizes para a atuação dos órgãos estatais. Dizem aos órgãos
governamentais o ‘rumo’ a ser seguido.
11) QUANTO AOS SISTEMAS
 Principiológica - É a que tem como base fundamental os princípios
constitucionais, os quais são o seu elemento basilar. Nela, podem
existir regras, mas predominam os princípios.
 Preceitual - É aquela que tem como critério básico as regras
constitucionais, dando ênfase a elas, embora também possua
princípios.
12) QUANTO À UNIDADE DOCUMENTAL
 Orgânica (unitextual ou codificada) - Ela é escrita e sistematizada em
um único documento.
 Inorgânica (pluritextual ou legal) - Nela, não se verifica a unidade
textual. A Constituição é formada por vários documentos.
13) QUANTO À ORIGEM DE SUA DECRETAÇÃO
- Homoconstituição ou autoconstituição - É redigida e aplicada no mesmo
país. É a regra no mundo e também no Brasil.

- Heteroconstituição - São Constituições que surgem por imposição de


outros Estados. Exemplo: as Nações Unidas impuseram as Constituições
da Namíbia (1990) e do Camboja (1993).
Estrutura

 A CF de 1988 está dividida em três partes:


1. Preâmbulo;
2. Parte dogmática (normas centrais) e;
3. Ato das disposições transitórias (ADCT).
 Preâmbulo da Constituição Federal
É a parte preliminar que anuncia o que está por vir na CF, não possuindo
nenhuma força normativa, conforme entendimento do STF que já se pronunciou
acerca disso ao adotar a tese da irrelevância jurídica do preâmbulo.
Não é uma norma de observância obrigatória pelos Estados, DF e
Municípios, ou seja, esses entes não precisam, pelo Princípio da Simetria da
Constituição, repeti-lo em suas constituições ou leis orgânicas.

 Parte dogmática da Constituição Federal


É a maior parte da Lei Maior, com 250 artigos distribuídos nos 9 títulos
Aborda todas as normas essenciais , ou seja, direitos fundamentais, estrutura
do Estado federal, competências de cada ente, etc. bem como regras apenas
de cunho formal (relacionadas à organização básica do Estado).
 Atos das Disposições Constitucionais Transitórias
Os Atos das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT, se exaurem tão
logo cumprem o seu papel transitório.
É importante salientar, contudo, que podem ser objeto de controle de
constitucionalidade e possuem a mesma hierarquia das normas centrais .
QUESTÕES

1) Sob o prisma da origem, classifica-se a constituição formada


mediante participação popular, por meio de referendo, em que
apenas se ratifica a vontade do governante, como:

a) Outorgada.
b) Promulgada.

c) Cesarista.

d) Pactuada.
2) As opções abaixo são características da Constituição da
República Federativa do Brasil de 1988, EXCETO:

a) Formal
b) Dogmática
c) Rígida
d) Dirigente
e) Outorgada
OBRIGADA.
professoraisabellesantos@gmail.com

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