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Constitucional

Constituição

- Conceito: “A Constituição é o Estatuto jurídico do político” (Canotilho). “A


Constituição é o Estatuto do Governo” (Goffredo Telles Junior).
Busca regular a política e o exercício do poder.
Lato sensu designa o conjunto de princípios reguladores da organização básica do
Estado e, sob este aspecto, não precisa necessariamente ser um texto unitário, mas
um complexo de normas, costumes e tradições políticas.
Stricto sensu, a constituição identifica um corpo unitário de prescrições jurídicas que
delimitam os poderes do Estado e determinam o respeito aos direitos dos
indivíduos.

Sentidos da Constituição:

- Instrumental: É o sentido mais básico. Resumidamente, Constituição em sentido


instrumental é o texto denominado “Constituição”. É o instrumento de trabalho do
profissional do Direito. É o documento palpável.

- Histórico: Constituição em sentido histórico é todo conjunto de normas que sirva


para regulamentar a vida em sociedade. Se Constituição é a organização básica da
sociedade, onde quer que tenha existido sociedade, houve Constituição.

- Formal: Algumas vezes, fala-se em Constituição para aludir-se às normas jurídicas


dotadas de superior hierarquia no ordenamento do Estado, independentemente de
seu conteúdo. Essa é a Constituição ‘em sentido formal’, ou Constituição formal
(Daniel Sarmento).

- Material: Do ponto de vista material, a Constituição é o conjunto de normas


pertinentes à organização do poder, à distribuição da competência, ao exercício da
autoridade, à forma de governo, aos direitos da pessoa humana, tanto individuais
como sociais. Tudo quanto for, enfim, conteúdo básico referente à composição e ao
funcionamento da ordem política exprime o aspecto material da Constituição (Paulo
Bonavides).

- Sociológico: Para Ferdinand Lassale, a Constituição é uma força que diz como as
coisas são. É uma força ativa dentro da sociedade que é capaz de dizer como as
instituições devem funcionar, de dizer quais são os institutos jurídicos, de definir o
que um direito. Os fatores reais de poder são, portanto, aqueles indivíduos ou
grupos que têm a capacidade de dizer como as coisas devem ser. Então, se a
Constituição é uma força ativa e, segundo Lassale, essa força ativa são os fatores
reais de poder, a Constituição, em essência, é aquilo que os fatores reais de poder
dizem que ela é. Essa é, em síntese, em essência, a Constituição de um país: a soma
dos fatores reais do poder que regem um país. Nesses termos, a Constituição escrita,
aquela que é imaginada pelo cidadão comum, seria uma mera folha de papel (Blatt
Papier). A Constituição, de fato, seriam os fatores reais de poder de uma sociedade.
Para o autor, a Constituição Formal (Escrita) somente será adequada se corresponder
aos fatores reais de um determinado país, se isto não ocorrer, ela sucumbirá ante da
Constituição Real, que efetivamente regularia a sociedade.

- Político: Carl Schmitt. Constituição é basicamente uma decisão política


fundamental. A partir desse conceito de Constituição, Carl Schmitt cria uma
diferenciação entre Constituição e Leis Constitucionais. i) Constituição: seria formada,
exclusivamente, por temas que revelam a decisão política fundamental de um povo;
ii) Leis Constitucionais: seriam aqueles assuntos tratados na Constituição, mas sem
um caráter de decisão política. Seriam normas desprovidas de conteúdo político,
mas presentes na Constituição. Na verdade, segundo o autor, esses assuntos nem
deveriam constar na Constituição.

- Jusnaturalista: Constituição tudo aquilo que os direitos naturais garantem ao


indivíduo.

- Jurídico-Positivista: Hans Kelsen. a Constituição é a norma de cúpula que ordena,


dá fundamento, validade e harmonia a todo o sistema jurídico, sendo isenta de
preocupações sociológicas ou axiológicas. Com base em Kelsen, é possível separar
dois planos do fenômeno jurídico: i) Plano lógico-jurídico: A Constituição depende de
uma norma hipotética fundamental (NHF), que seria uma norma anterior ao próprio
sistema jurídico. A NHF não está posta no ordenamento jurídico, mas sim
pressuposta por ele. Ela fornece uma condição de possibilidade à estruturação do
ordenamento jurídico, pois ela é, no plano lógico, o que fundamenta a Constituição
posta. Como a NHF é algo pressuposto. Uma espécie de corte epistemológico para
delimitar o início do sistema jurídico, evitando regressos ao infinito e deixando claro
que o ordenamento possui um “teto” além do qual não se vale a pena ir. Nesta
compreensão, não faria sentido sequer se questionar sobre o conteúdo dessa NHF.
ii) Plano jurídico-positivo: A Constituição deve ser entendida como a norma
fundamental do sistema jurídico. Ela está posta (positivada) no interior e na cúpula
do ordenamento jurídico. Esta norma fundamental tem a função de ser fundamento
de validade de todo o sistema jurídico, pois uma norma é válida quando uma norma
hierarquicamente superior dá validade a ela, e, assim, sucessivamente, até chegar à
Constituição.

- Total: Hermann Heller. Heller propõe um conceito de Constituição que compreenda


que esta tem uma dimensão política, jurídica e social. Em outras palavras, o sentido
de Constituição de Heller busca somar a Constituição Sociológica de Lassale com a
Constituição Política de Schmitt e com a Constituição Jurídica de Kelsen.

- Jurídico-Normativista: Konrad Hesse. A Constituição escrita não seria, portanto,


apenas refém da realidade, podendo se impor aos fatores reais de poder,
transformando a realidade social. Havendo conflito entre a Constituição e os fatores
reais de poder, estes nem sempre prevalecerão. A força da Constituição variará
conforme a “vontade de constituição”, ou seja, ao maior ou menor empenho dos
cidadãos em buscar a efetivação das normas constitucionais. Ao mesmo tempo,
nessa visão, a Constituição não carece tratar de tudo, devendo alguns temas serem
abordados de forma geral. A Constituição deve ser interpretada por meio de um
processo de concretização, que levará em consideração o texto e a realidade. Para
essa teoria, interpretar é concretizar a constituição. É por essa razão que essa teoria
é concretista.

- Culturalista: Para esse sentido, a Constituição é o produto cultural de um povo em


um dado momento histórico (fato cultural). Traz consigo, assim, elementos
históricos, sociais e racionais.

- Pluridimensional ou Compósita: José Adércio Leite Sampaio. a Constituição deve


ser vista de modo pluridimensional por conjugar texto normativo, realidade
existencial e sentimento constitucional coletivo militante. Esse sentimento
constitucional militante é, nos dizeres do autor, “uma motivação de intentos de
preservação da Constituição como laços necessários dos cidadãos”. Trata-se de uma
busca coletiva para o gozo e a realização dos valores e dos interesses dos diversos
grupos e coletividades que integram o povo. Revela-se assim o pluralismo axiológico
inerente a esse sentido. É a manifestação viva e ativa de um patriotismo construído a
partir da Constituição, o chamado patriotismo constitucional.

Classificação

- Quanto à Forma: Escrita (codificadas ou legais) ou Costumeiras (totalmente ou


parcialmente costumeiras).

- Quanto ao Modo de Elaboração: Dogmática ou Histórica.

- Quanto à origem:

i) outorgadas (autoritárias ou despóticas): são aquelas não dotadas de legitimidade


popular, na medida em que o povo não participa de seu processo de feitura, nem
mesmo de forma indireta (Exs.: Constituições Brasileiras de 1824, 1937, 1967 e 1969);
ii) cesaristas (ou bonapartistas): são aquelas produzidas sem participação popular,
mas que, posteriormente à sua elaboração, são submetidas a referendo popular,
para que o povo diga sim ou não sobre o documento. Essa participação apenas
posterior faz com que também tenham baixo déficit democrático (Exs.: Constituição
Francesa de 1852 e a Chilena de 1980);
iii) pactuadas (ou dualistas): são aqueles que surgem do confronto de duas forças
que disputam o poder em um determinado momento da história (Exs.: Magna
Charta 1215; Bill of Rights 1689; Act of Settlement de 1701; Constituições da Espanha
de 1845 e 1876);
iv) promulgadas: são aquelas dotadas de legitimidade popular, na medida em que o
povo participa do processo de elaboração, ainda que por meio de seus
representantes eleitos (Ex.: Constituição Brasileira de 1988);
v) populares: são aquelas em que o povo é chamado a eleger seus representantes
para a Assembleia Nacional Constituinte. Os eleitos, então, elaboram o texto
constitucional e, com o texto pronto, este é submetido a um referendum (Exs.:
Constituições Francesas de 1848 e 1875).

- Quanto à Estabilidade:

a) Imutáveis (ou Graníticas): não preveem nenhum tipo de processo de modificação


em seu texto (Ex.: Constituição da Finlândia de 1919).
b) Rígidas: são aquelas que necessitam de procedimentos especiais, mais difíceis
para sua modificação (Ex.: Constituição Brasileira de 1988).
c) Flexíveis: são aquelas que podem ser modificadas por procedimentos comuns, os
mesmos que modificam as normas ordinárias (Ex.: Constituição Inglesa – West-
minster Model).
d) Semirrígidas: são aquelas que contém, no seu corpo, uma parte rígida e outra
flexível (Ex.: Constituição Brasileira de 1824).
e) Superrígidas: seriam aquelas com parte do texto alterável por procedimento mais
dificultoso que o das leis em geral e parte imutável. De acordo com Alexandre de
Morais28 e Sousa Neto & Sarmento29, a Constituição Federal de 1988 (CF/88) seria
superrígida. Este não é o entendimento que prevalece.

- Quanto à ontologia

a) Semânticas: são aquelas que não reproduzem minimamente na realidade o que a


Constituição determina. São criadas apenas para legitimar o poder daqueles que já o
exercem. Nunca tiveram o desiderato de regular a vida política do Estado. É típica de
regimes autoritários. b) Nominativas: são aquelas em que há alguma, apesar de
baixa, adequação da realidade social ao texto constitucional. Os processos de poder
é que conduzem a Constituição e não o contrário (a Constituição não domina os
processos de poder). O lado positivo dessas constituições é o seu caráter
educacional e pedagógico. Os detentores de poder produziram o texto diferente da
realidade social, mas, se o texto existe, ele pode servir de “estrela guia”, de “fio
condutor” a ser observado pelo país, que, apesar de distante do texto, um dia, em
tese, poderá alcançá-lo. c) Normativas: são aquelas em que há uma adequação entre
o texto constitucional e a realidade social. A Constituição conduz os processos de
poder (e é tradutora dos anseios de justiça dos cidadãos), na medida em que
detentores e destinatários de poder respeitam a Constituição.

- Quanto à finalidade:

a) Garantia: é um modelo um pouco mais antigo de Constituição, baseado apenas


em garantir direitos contra possíveis ataques do Poder Público. Trata-se de
Constituição típica de Estado Liberal, que se caracteriza pelo seu absenteísmo (de
não interferência na sociedade). Essa Constituição também intitulada por alguns
autores de Constituição-Quadro foi concebida apenas como um instrumento para
trazer limitação ao Poder do Estado. A rigor, todavia, as Constituições atuais
também têm um pouco de Constituição Garantia em si. Obviamente, mesmo as
Constituições Sociais e do Estado Democrático de Direito do século XX também
objetivam garantir direitos aos cidadãos (Ex.: Constituição dos EUA).
b) Balanço: é um modelo que era adequado aos países socialistas. O desiderato de
tais Constituições era a elaboração de um novo texto a cada etapa de transição do
socialismo. Destinava-se a Constituição a registrar um dado estágio das relações de
poder no Estado. Sua preocupação era retratar o arranjo das forças sociais que
estruturam o Poder naquele estágio social. Logo, fazia um “balanço” entre um
período e outro no caminho para o almejado comunismo avançado (Ex.:
Constituição da URSS de 1936).
c) Dirigente (ou Programática): é um modelo que também pode estabelecer garantias
e direitos pessoais (como na Garantia), mas possuem a preocupação extra de criar
metas sociais a serem alcançadas pelo Estado e pela comunidade. Foi tese
inicialmente desenvolvida por Canotilho31. É uma Constituição típica de Estado
Social. Nesses termos, estabelecem metas, programas de ação e objetivos para
serem cumpridos pelo Estado e pela sociedade, o que se convola nas chamadas
normas constitucionais programáticas (Ex.: Constituição Brasileira de 1988).

- Quanto ao papel em relação ao restante do ordenamento:

a) Constituição-Lei: a Constituição é entendida como uma norma que está no mesmo


nível das outras normas do ordenamento jurídico. Nesse caso, a Constituição não
teria supremacia e nem mesmo vinculatividade formal para com o legislador
ordinário, funcionando apenas como uma diretriz para a atuação do Poder
Legislativo. Ou seja, os dispositivos constitucionais, especialmente os direitos
fundamentais, teriam uma função meramente indicativa, pois apenas indicariam ao
legislador um possível caminho, que ele não necessariamente deveria seguir.
b) Constituição-Fundamento (ou Constituição Total): Constituição como a lei fun-
damental, não somente de toda a atividade estatal e das atividades relacionadas ao
Estado, mas também como a lei fundamental de toda a vida social.
c) Constituição-Moldura (ou Constituição Quadro): a Constituição é apenas um limite
para a atividade legislativa. É apenas uma moldura, sem tela e sem preenchimento.
Nesses termos, caberá a jurisdição constitucional apenas a tarefa de controlar se o
legislador age dentro da moldura.
d) Constituição-Dúctil: a Constituição reflete o pluralismo social, político e econômico
da sociedade. A Constituição dá muita margem de interpretação para os juízes.

Tipologia Constitucional

- Constituição Aberta: A construção teórica de Häberle parece desdobrar-se através


de três pontos principais: o primeiro, o alargamento do círculo de intérpretes da
Constituição; o segundo, o conceito de interpretação como processo aberto e
público e, finalmente, o terceiro, ou seja, a referência desse conceito à Constituição
mesma, como realidade constituída e ‘publicização’. A Constituição, portanto, é um
regime aberto de normas. Essa abertura ocorre mediante várias formas, a exemplo
da existência de mecanismos de alteração da Constituição, sejam formais (emendas
e revisões) ou informais (mutações constitucionais, interpretação de conceitos
jurídicos indeterminados, etc.). Os juízes e tribunais, de fato, têm palavra decisiva
sobre a interpretação das normas constitucionais, no entanto, eles devem levar em
consideração também a visão da sociedade sobre os temas.

- Constituição Simbólica: trata “da Constituição que não corresponde minimamente


à realidade, não logrando subordinar as relações políticas e sociais subjacentes”36.
É interessante observar que, segundo Neves, a legislação simbólica de modo geral
(não apenas a constitucional) pode ser classificada em três tipos diferentes: a) A
legislação simbólica como confirmação de valores sociais: privilegia a posição
valorativa de um determinado grupo da sociedade. Como exemplo, a chamada “lei
seca” nos Estados Unidos da América, que normatizava os valores puritanos, mas
que não conseguiu de fato impedir o consumo de bebidas alcóolicas no território
americano. b) Legislação Álibi: é a legislação que surge para dar uma “resposta
aparente” a um determinado problema, gerando a impressão de que o Poder
Público está prontamente capacitado para solucioná-lo. Como, por exemplo, as leis
penais brasileiras depois de fatos que geram comoção, normalmente,
recrudescendo penas e tipificando condutas, mas sem atacar as causas da
criminalidade. c) Legislação como fórmula de compromisso dilatório: elaboração de
planos e metas que propõem solucionar os conflitos sociais a um longo prazo, para
um futuro indeterminado.

- Constituição Moralmente Reflexiva: Canotilho revisitando o tema da Constituição


Dirigente. “uma coisa é o texto constitucional materialmente enriquecido com
normas programáticas, e outra coisa é uma constituição escatológica e
utopicamente pré-concebida”.

Assim, em revisão ao dirigismo e em busca de uma nova compreensão de Cons-


tituição, própria do novo contexto global, Canotilho propõe o que ele chama de
constitucionalismo moralmente reflexivo, que o próprio autor ergue sobre o seguinte
tripé: a) desmoralização da liberdade: a Constituição tem de seguir sendo um docu-
mento garantidor de pautas mínimas, ou seja, direitos básicos de proteção dos
indivíduos, mesmo em um cenário de desregulações, flexibilidades e liberalizações,
mas sem que isso signifique a condensação de uma única promessa filosófica de
justiça, ou seja, sem encartar uma única corrente de pensamento sobre como deve
ser a sociedade; b) fundamentação de uma teoria da justiça: a Constituição seguiria
necessitando de um projeto de “constitucionalização dos excluídos”, isto é, uma
macrovisão em prol da integração dos socialmente marginalizados; c) direção para
a contratualização: a Constituição revisada deve buscar substituir o que há de
ineficaz no dirigismo através de outras formas que permitam a realização do projeto
da modernidade, como, por exemplo, através de instrumentos cooperativos, de
diversidade cultural, de alargamento da transnacionalização e da globalização. Em
outras palavras, Canotilho propõe uma reestruturação da relação nacional-global,
por meio de um novo tipo de contrato social, um entre o interno e o internacional,
um contrato cultural e democrático de constitucionalização das relações humanas
nacionais e globais.
Crítica: “Esse modelo do direito reflexivo não está livre de críticas. Destacaremos
apenas uma, que diz respeito ao fato de que, para funcionar sem grandes traumas, a
sociedade depende do acatamento pelos vários sistemas dos princípios da
‘responsabilidade social’ e ‘consciência global’. Ou seja, critica-se a ‘utópica’
pretensão do Estado e da Constituição de quererem regular a vida social mediante
um programa de tarefas e objetivos a serem concretizados de acordo com as
determinações constitucionais e, em seu lugar, propõe-se, não menos utopicamente,
na nossa opinião, que os vários sistemas agirão coordenados pela ideia de
‘responsabilidade social’”.
- Constituição Austeritária e Constituição Dirigente Invertida: Esta terminologia
traduz uma crítica a políticas econômicas de austeridade que impõem mudanças
formais e de sentido na Constituição, deslocando suas preocupações de uma busca
por efetividade de direitos (em especial, os sociais) para a perseguição de um
suposto equilíbrio nas finanças públicas do Estado. As consequências disso são a
priorização de políticas fiscais rigorosas, com forte redução de gastos, gerando
rebaixamento na “qualidade dos serviços sociais como educação e saúde, bem como
de subsídios e cortes a sistemas de proteção social, alimentar e previdenciária,
quando não importa sua supressão ou privatização, plenas ou parciais”47. Logo, isso
gera um aumento das desigualdades sociais, violando diretamente os próprios
objetivos constitucionais. “Por outras palavras: a constituição dirigente das políticas
públicas e dos direitos sociais é entendida como prejudicial aos interesses do país,
causadora última das crises econômicas, do déficit público e da ‘ingovernabilidade’; a
constituição dirigente invertida, isto é, a constituição dirigente das políticas
neoliberais de ajuste fiscal é vista como algo positivo para a credibilidade e a
confiança do país junto ao sistema financeiro internacional. Esta, a constituição
dirigente invertida, é a verdadeira constituição dirigente, que vincula toda a política
do Estado brasileiro à tutela estatal da renda financeira do capital, à garantia da
acumulação de riqueza privada”.

- Constituição Plástica: A uma divergência na literatura constitucional sobre esta


expressão.
a) Para Pinto Ferreira: Constituição Plástica seria sinônimo de Constituição flexível.
b) Para Raul Machado Horta: Constituição Plástica é aquela que traz vários conceitos
indeterminados, necessitando de grande esforço do legislador infraconstitucional
para adequar o texto constitucional à realidade social.

- Constituição em Branco: É aquela que não estipula limitações explícitas ao poder


de reforma, dando um “cheque em branco” para o constituinte derivado.

- Constituição-Dúctil: A Constituição não predefiniria ou imporia assim uma forma de


vida, mas sim criaria condições para o exercício dos mais variados projetos de vida.
Ela acompanharia a descentralização do Estado e, com isso, refletiria o pluralismo
ideológico, moral, político e econômico existente nas sociedades. “Acredito,
portanto, que a condição espiritual do tempo em que vivemos poderia ser descrita
como a aspiração não a um, senão aos muitos princípios ou valores que
conformam a convivência coletiva: a liberdade da sociedade, como também as
reformas sociais, a igualdade ante a lei, e portanto, a generalidade do tratamento
jurídico, como também a igualdade com relação às situações, e portanto a es-
pecialidade das regras jurídicas; o reconhecimento dos direitos dos indivíduos,
como também dos direitos da sociedade, a valoração das capacidades materiais e
espirituais dos indivíduos, como também a proteção dos bens coletivos frente à
força destruidora daqueles; o rigor na aplicação da lei, como também a piedade
ante suas consequências mais rígidas; a responsabilidade individual na
determinação da própria existência, como também a intervenção coletiva para
apoio aos mais fracos”.
-Constituição Subconstitucional: Segundo Krüger, as constituições só devem trazer
aquilo que interessa à sociedade como um todo, sem detalhamentos inúteis. A praxe
de se incluir temas variados, tornando a Constituição prolixa seria um equívoco
segundo ele. Por isso, para o autor alemão, a Constituição, a rigor, seria somente
aquilo que diz respeito à comunidade, à nação e ao sistema político. Segundo
Krüger, o excesso de temas constitucionalizados forma as Constituições
Subconstitucionais ou, simplesmente, Subconstituições.

- Constituição expansiva: É aquela que constitucionaliza temas novos e amplia a


proteção constitucional para além dos temas clássicos.

- Constituição silenciosa: não preverem procedimentos especiais para a sua


modificação e, assim, só pode ser alterada por manifestação do Poder Constituinte
Originário.

- Constituição horizontal: Constituição não é uma estrutura do topo da hierarquia do


sistema jurídico, mas de coordenação. Logo o ordenamento não seria piramidal, mas
circular, onde a Constituição representaria um papel central não hierarquizado.

- Constituição Invisível: ao lado da Constituição escrita, há uma Constituição não


escrita, formada pela sociedade e pelos tribunais, que traça conceitos e princípios
constitucionais fundamentais, reconhecidos consensualmente como indispensáveis
para a ordem jurídica. Por essa visão, o texto da Constituição não explicita por
completo todos os seus sentidos. É o processo interpretativo quem desnuda e
define, em diferentes contextos históricos e sociais, a completude de sentidos da
Constituição.

Elementos de uma Constituição


- Elementos Orgânicos: São normas que regulam a estrutura do Estado e do Poder
(Ex.: Título III - Da Organização do Estado; Título IV - Da Organização dos Poderes e
do Sistema de Governo).
- Elementos Limitativos: São normas que compõem o elenco dos direitos e garantias
fundamentais, limitando a atuação dos poderes estatais (Ex.: Título II - Dos Direitos e
Garantias Fundamentais, exceto o Capítulo II do Título II - Dos Direitos Sociais).
- Elementos Sócio-Ideológicos: São normas que revelam o compromisso da
Constituição com o Estado Social, intervencionista (Ex.: Capítulo II do Título II - Dos
Direitos Sociais; Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira; e Título VIII - Da
Ordem Social).
- Elementos de Estabilização Constitucional: São normas constitucionais que
asseguram a solução de conflitos constitucionais, a defesa da Constituição, do
Estado e das instituições democráticas (Ex.: Arts. 34 a 36 - Intervenção nos Estados e
Municípios).
- Elementos Formais de Aplicabilidade: São normas que estabelecem a aplicação de
outras normas constitucionais (Ex.: Art. 5º, §1º - determina que as normas
definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicabilidade imediata).

Bloco de Constitucionalidade
a) Bloco Amplo: O fundamento é o art. 5º, § 2º, da CF. É seguida pela doutrina de
Direitos Humanos, que afirma que compõem o Bloco de Constitucionalidade a
Constituição e todos os Tratados Internacionais de Direitos Humanos incorporados
pelo Brasil;
b) Bloco Restrito: Fundamento é o art. 5º, § 3º, da CF. É seguida pelo STF e pela li -
teratura majoritária, que afirma que só compõem o Bloco de Constitucionalidade a
Constituição e os Tratados Internacionais de Direitos Humanos aprovados com o rito
de emenda.

- Sistema Constitucional e a Constituição como Acoplamento Estrutural: para a


Teoria dos Sistemas de Luhmann, a Constituição é o acoplamento estrutural entre
Direito e Política, ou seja, a Constituição é o canal de comunicação entre o Sistema
Jurídico e o Sistema Político, permitindo a troca de informações e o funcionamento
operativamente fechado, mas cognitivamente aberto, de ambos os sistemas.

- Sentimento Constitucional: a Constituição e os direitos fundamentais, para serem


efetivos, não dependem apenas de aspectos técnico-jurídicos, mas também de uma
consciência social em torno desses direitos, ou seja, as disposições jurídicas para
serem efetivas necessitam de um mínimo de reconhecimento social. Esses aspectos
psico-sociológicos configuram o chamado sentimento constitucional.

- Patriotismo Constitucional: questiona-se: qual seria o fio condutor da união e


altruísmo entre os indivíduos em sociedades pós-modernas? Habermas aposta no
patriotismo constitucional como ideal capaz de unir todos os cidadãos,
independentemente de suas nacionalidades, antecedentes culturais ou heranças
étnicas, imprimindo nos indivíduos uma lealdade constitucional que, não podendo
ser imposta juridicamente, deve estar internalizada nas motivações e convicções de
cada um dos cidadãos – o que só é possível quando cada um deles entende o Estado
Constitucional enquanto uma realização de sua própria história. Uma espécie de
identidade coletiva baseada em compromissos éticos e democráticos.

Constitucionalismo

Conceito

Sentido Conceitual: são os que transmitem um conceito/mensagem desenvolvido


por aqueles que refletem sobre o constitucionalismo. Do ponto de vista conceitual, o
Constitucionalismo pode ter três subespécies: i) enquanto marcha histórica; ii)
enquanto movimento político ideológico; e iii) enquanto ideia.
Sentido Histórico: são aqueles que apontam os momentos do desenvolvimento da
Constituição dentro da história da humanidade. Possui como subespécies os
Constitucionalismos: i) antigo; ii) medieval; iii) moderno; e iv) contemporâneo.

Canotilho: “Constitucionalismo é a teoria (ou ideologia) que ergue o princípio do


governo limitado indispensável à garantia dos direitos em dimensão estruturante
da organização político-social de uma comunidade. Neste sentido, o
constitucionalismo moderno representará uma técnica específica de limitação do
poder com fins garantísticos”.

Evolução Histórica

Antigo – Grécia e Roma


O primeiro período no qual se pode encontrar referências à Constituição é na
Antiguidade Clássica (Grécia e Roma). O Constitucionalismo antigo nos apresenta
uma ideia inicial sobre limitação do poder. Em tal período remoto, já havia um
regime político com certa preocupação com a limitação do poder. A significativa
diferença em relação à limitação do poder antiga e a moderna/contemporânea é que
no período antigo buscava-se a limitação do poder com o fim de garantir o bem
comum, uma vez que, socialmente, a antiguidade clássica era marcada por um
organicismo e comunitarismo, enquanto, nas eras moderna e contemporânea, a
ênfase é em resguardar direitos individuais. Falar em comunitarismo e organicismo
antigos significa falar que, em tal período histórico, principalmente na Grécia, o ser
humano só se via plenamente realizado dentro da polis, ou seja, dentro da
comunidade humana. Nesse contexto, surge a Constituição como mecanismo de
organização do poder na sociedade, limitando-o em prol do bem comum (Esse
pensamento está inserido nos textos de Aristóteles).
Por sua vez, Roma também contribui para o Constitucionalismo antigo, já que traz
ideias de separação de poderes e de legalidade. Com base nas lições de Saldanha, é
importante não cair em um falso cognato histórico, qual seja, o termo constitutio. Tal
termo romano nada tem de relação com a noção de Constituição tal como
compreendemos hoje. Constitutio era a expressão romana para as normas editadas
pelo Imperador, mas, na realidade, tinham um caráter de normas regulamentares de
cunho administrativo, longe de ter o conteúdo que a Constituição viria a ter na
modernidade. Assim sendo, apesar da etimologia, as constituitiones romanas não
eram antecedentes das Constituições contemporâneas7. Como explica Afonso
Arinos, “para a lei constitucional usavam os romanos a expressão rem publicam
constituere”.

Medieval (?)
Existe divergência acerca da existência de um Constitucionalismo Medieval. Para
uma primeira corrente doutrinária (majoritária), defendida, por exemplo, por Daniel
Sarmento e Cláudio Souza Neto9, como não existia Estado (em sentido moderno),
uma vez que predominava a fragmentação do poder político, não era possível
compreender a Constituição nos termos de hoje. Só é possível a limitação do poder
do Estado se a fonte de emanação desse poder for una.
Existe, no entanto, uma segunda corrente (minoritária), defendida, por exemplo, por
Maurizio Fioravanti, que acredita ser possível encontrar algumas demonstrações de
existência de uma Constituição Medieval10. Para esta corrente, em tal período,
seriam “Constituição” as tentativas de mediação das forças políticas para fazê-las
reconhecer o seu pertencimento à mesma realidade política. Essa segunda corrente
vai encontrar fundamento em autores como John Salisbury, que, mesmo em pleno
período medieval, defendia uma limitação do poder do príncipe. Para Salisbury, o
poder do príncipe é limitado pela supremacia da comunidade política e, também, na
medida de atendimento da finalidade da manutenção da paz comunitária.
Bercovici defende a existência, no período medieval, da chamada Constituição Mista,
que seriam alguns documentos jurídicos dessa época e cujo objetivo era regular
aspectos importantes da vida comunitária local, mas de forma fragmentária. Alguns
autores, por sua vez, chamam esses documentos de Leis Fundamentais. Podem ser
citados como exemplos de Constituições Mistas (ou Leis Fundamentais) a
Declaração das Cortes de Leão de 1188 e a Magna Carta de 1215.

Moderno (Liberal)
- Contexto geral: Ainda no final da Idade Média, começa a ocorrer uma unificação do
poder político, o que se confunde com a própria conformação dos Estados. Nesse
período, há a definição de fronteiras, a criação de Exércitos Nacionais treinados,
moeda única, tributação única, tudo sob a égide de um poder central forte,
representado pelo rei (o monarca absoluto). Esse é o Estado Absolutista. O Monarca
era a representação da unidade nacional arduamente conquistada após o período
medieval. Concentrava todas as funções que hoje conhecemos como executiva,
legislativa e judiciária. Esse modelo pode ser sempre resumido na inolvidável frase
de Luís XIV, rei da França, “L’état c’est moi” (“O Estado sou eu”). No entanto, como
lembra Lord Acton, “o Poder corrompe e o Poder Absoluto corrompe
absolutamente”.
Desse modo, à medida em que os comerciantes (os chamados de “burgueses”, que
eram os primeiros comerciantes do burgos, ou seja, das antigas cidades medievais)
passavam a lucrar mais com os ganhos gerados pelo Mercantilismo, desenvolvido
sob os auspícios da própria Monarquia Absoluta, mais desenvolviam-se os inte-
lectuais iluministas, tudo gerando as condições políticas, econômicas e sociais que
fariam com que a figura de um Monarca Absoluto não fosse mais necessária,
podendo a dita classe comercial tomar ela mesma as rédeas do poder no Estado. Os
ideais iluministas eram assim, sob o prisma cultural, a consubstanciação das
próprias ideias da burguesia. Tais ideias fomentaram revoluções
promovidas/patrocinadas pela classe burguesa contra o monarca. Essas Revoluções
ocorreram em duas grandes levas ou fases: a primeira foi a do Constitucionalismo
Inglês, com a Revolução Gloriosa de 1689, e o segundo momento foi,
aproximadamente cem anos depois, com os movimentos do Constitucionalismo
Americano (1776) e Francês (1789).

- Constitucionalismo Inglês (Primeira fase do constitucionalismo moderno)


O Estado Liberal de Direito surge o com a Revolução Gloriosa. John Locke foi o
grande teórico desta fase. Em sua obra Dois Tratados sobre o Governo de 1690, Locke
desenvolverá temas como direito natural, contrato social, direito à propriedade,
origens e finalidades do governo, separação dos poderes, direito à revolução, entre
outros. Os temas tratados por Locke estão diretamente ligados ao principal
documento consagrador de direitos do período: Bill of Rights. O século XVII, na
Inglaterra, foi tão tumultuado quanto rico na produção de documentos jurídicos. Os
principais foram: Petition of Rights de 1628; Habeas Corpus Act de 1679; e o Bill of
Rights de 1689.
i) Petition of Rights: Limitou os poderes de Carlos I (monarca), garantiu a soberania
do Parlamento em matéria de tributos, proibiu aprisionamentos arbitrários e
garantiu o devido processo legal.
ii) Habeas Corpus Act: É considerada a matriz de todas as garantias fundamentais.
Incrivelmente, esta importante liberdade individual nasceu no seio de uma
sociedade ainda marcadamente absolutista.
iii) Bill of Rights: Marca o fim do processo revolucionário inglês. Consagra um modelo
em que o Rei possui apenas o papel de chefia do Estado, seus poderes são limitados.
Além disso, consagra-se a separação dos poderes, a ilegalidade de cobranças de
tributos sem previsão de aprovação pelo Parlamento, o direito de petição, a
existência de eleições livres e a imunidade de palavras no Parlamento.
Nesses termos, a Bill of Rights marca o nascimento da era constitucional na
Inglaterra e no mundo, em que pese não exista um único documento que se possa
chamar de “Constituição”. A contribuição de um documento com essa envergadura
será subsídio inegável aos Estados Unidos da América.
ATENÇÃO! O que é o Constitucionalismo Whig ou Termidoriano?
É o processo de mudança de regime político constitucional lento e evolutivo.
Contrapõe-se ao movimento revolucionário e radical. O Constitucionalismo Whig é
justamente o padrão do Constitucionalismo Inglês. Também chamado de
constitucionalismo evolutivo, é visto por alguns como modelo de uma ideologia
conservadora de mudanças sociais.

- Constitucionalismo Americano e Francês (segunda fase do constitucionalismo


moderno)

a) Americano
O Constitucionalismo Americano possui a peculiaridade de se dar em um processo
de luta por independência. O rico processo de formação do Constitucionalismo
Americano teve as seguintes características: i) Criou a primeira Constituição em
sentido Moderno (essa Constituição, além de ser escrita, era rígida e dotada de
supremacia, assegurada pelo Judiciário); ii) Limitação do Poder do Estado; iii)
Consagração de Direitos Individuais; iv) Cria a noção de Direitos Fundamentais; v)
Noção de Soberania Popular e representatividade; vi) Cria o Federalismo; e vii) Dá
força ao Judiciário.

b) Francês
O Constitucionalismo Francês foi o grande movimento da história de luta contra o
Antigo Regime, ou seja, contra o modelo de Estado Absolutista, de concentração do
poder nas mãos da nobreza. Sofreu forte influência do pensamento de Montesquieu,
Rousseau e Joseph Syeiés, buscando a destruição do Ancien Régime, sempre com base
na ideia de direitos naturais.
Pode-se afirmar que o Constitucionalismo Francês possuía as seguintes caracte-
rísticas: i) Caráter Universal (diferença em relação ao Constitucionalismo Americano,
uma vez que estes produziram uma revolução e direitos pensados apenas para seu
território, enquanto os franceses, por sua vez, acreditavam que estar realizando uma
revolução para todo o mundo); ii) Cria uma noção de Direitos Universais (Seria uma
prévia da noção de Direitos Humanos); iii) Distinção entre Poder Constituinte e Poderes
Constituídos (Idealização de Sieyés); iv) Noção de Soberania Popular e
Representatividade.

SEMELHANÇAS ENTRE OS MOVIMENTOS DO CONSTITUCIONALISMO MODERNO:


1) Fundamento Filosófico Iluminista;
2) Fundamentação Jusnaturalista;
3) Decorrente de Revoluções Liberais;
4) Patrocinado pela Burguesia;
5) Busca um Posicionamento Absenteísta do Estado
(Noção de Estado Mínimo);
6) Consagração de Direitos Individuais, Civis e Políticos
(Idealizados como Direitos Naturais);
7) Limitação do Poder do Estado;
8) Consagração do Estado de Direito.

DIFERENÇAS ENTRE OS MOVIMENTOS DO CONSTITUCIONALISMO MODERNO


DIFERENÇAS INGLÊS AMERICANO FRANCÊS
PERÍODO (1628) 1775-1783 1789-1799
1688-1689
MOTIVOS Religiosos, Independência, Econômicos e
Econômicos e Econômicos e Políticos.
Políticos. Políticos.
PRINCIPAIS Parlamento, Coroa e Presidente, Conselho de Estado e
INSTITUIÇÕES Governo. Congresso e Suprema Conselho
Corte. Constitucional.
DOCUMENTOS - Petition of Rights; - Declaração de - Declaração
CRIADOS - Habeas Corpus Act Independência de Universal dos Direitos
- Bill of Rights. 1776; do Homem e do
- Constituição Cidadão de 1789;
Americana de 1787. - Constituição
francesa de 1791.
PECULIARIDAS Supremacia do Republicanismo Noção de Poder
INTRODUZIDAS Parlamento; Moderno; Constituinte;
Constituição NÃO Presidencialismo; Sufrágio Universal;
ORGÂNICA. Federalismo. Soberania popular.
VOCAÇÃO Interna Interna Universal
GÊNESE DE DIREITOS Fundamentais Fundamentais Humanos
(QTO À FORMA)

Constitucionalismo Social (Século XIX)


Importante registrar os debates filosóficos que estão por trás do Constitucionalismo
Social: Socialismo Utópico A ideia era transformar o capitalismo em algo não
predatório do proletariado, a fim de melhorar a condição de vida da população.
Principais autores: Proudhon e Blanc. Socialismo Científico Os principais autores são
Marx e Engels. Para eles, o capitalismo não teria salvação. Dentro do modelo
capitalista, não haveria como se chegar em uma igualdade entre os indivíduos.
Então, era necessário acabar com o modelo capitalista, com a ideia de propriedade,
coletivizando os meios de produção. Doutrina Social da Igreja Tem como
fundamento a Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão X. Condenava a usura e o
enriquecimento desmedido.
No contexto de revoltas sociais, surge o Constitucionalismo Social com o objetivo de
reduzir a virulência do regime capitalista daquele momento, garantindo não só
condições mínimas de vida à classe trabalhadora mais carente, como a própria
manutenção do Estado de Direito de base capitalista.
O Constitucionalismo Social trouxe diversas consequências sociais, econômicas e
políticas:
i) Instituição do Welfare State (ou Estado de bem-estar social. A Constituição agora é o
agente que promove o bem-estar social. A Constituição continuaria sendo responsável
pela limitação do poder e pela consagração de direitos, todavia, agora, ela também
deveria promover o bem-estar social); ii) Intervenção do Estado na Economia; iii)
Intervenção do Estado na Propriedade; iv) Consagração de Direitos Sociais; v) Estado
Social de Direito (contrapondo-se ao Estado liberal); vi) Período de Avanço do
Positivismo Jurídico.
Duas Constituições são símbolos desse período, sendo as primeiras dessa nova fase:
i) Constituição Mexicana de 1917; ii) Constituição Alemã de 1919 (Constituição de
Weimar). Surge a 2ª Geração de Direitos.

Contemporâneo (Neoconstitucionalismo)
Segundo Luís Roberto Barroso, são marcos do Neoconstitucionalismo: a) Histórico:
Fim da Segunda Guerra Mundial e Constitucionalismo do Pós-Guerra. No Brasil
chega em 1988. b) Filosófico: Pós-Positivismo. Ressignificação do Conceito de
Norma. Reaproximação entre Direito e Moral (trazem ética para dentro do Direito). c)
Teórico: i) A força normativa da Constituição. ii) A expansão da jurisdição cons-
titucional (avanço do papel dos Tribunais Constitucionais). iii) A nova interpretação
constitucional (ampliação da possibilidade de interpretação de resolução de
conflitos pelo Judiciário).
As consequências disso tudo, para Luís Roberto Barroso, são a chamada
Constitucionalização do Direito e o ativismo judicial.
A Constitucionalização do Direito, por sua vez, segundo Daniel Sarmento e Souza
Neto, pode ocorrer da seguinte forma: i) A chamada constitucionalização-inclusão:
que consiste no “tratamento pela Constituição de temas que antes eram
disciplinados pela legislação ordinária ou mesmo ignorados”. Exemplo: a tutela
constitucional do meio ambiente e do consumidor na CF/88. ii) A
constitucionalização releitura: que traduz “a impregnação de todo o ordenamento
pelos valores constitucionais”. Neste caso, os institutos, conceitos, princípios e
teorias de cada ramo do Direito sofrem uma releitura, para, à luz da Constituição,
assumir um novo significado. É a chamada Filtragem Constitucional.
Louis Favoreu possui outra classificação de constitucionalização. O jurista francês
elenca três grupos: Constitucionalização-Elevação: Assuntos, até então
infraconstitucionais, são elevados ao texto constitucional. Constitucionalização-
Transformação: Consiste na previsão constitucional de direitos e liberdades, que se
infiltram nos diversos campos do direito, transformando os demais ramos do Direito.
Formação de Direito Constitucional Civil, Direito Constitucional Ambiental. iii)
Constitucionalização Juridicização: Decorre do surgimento da força normativa da
Constituição.

Dworkin afirmará que norma é gênero do qual são espécies as regras e os


princípios16, mudando os rumos do Direito e fundando aquilo que tem sido
chamado de Pós-Positivismo. Tudo isso é feito para reaproximar o Direito dos
valores, pois é por meio destes que o Direito retorna à Ética, impedindo o avanço de
um Positivismo hermético/fechado ao problema deontológico.

Constitucionalismo do Futuro ou do “por vir”: ideia de equilíbrio. José Roberto


Dromi. constitucionalismo do futuro deve pautar-se em sete ideias: i) Verdade: o que
as Constituições propõem deve ter um fundo de verdade. Combate-se a Constituição
simbólica; ii) Solidariedade: As benesses do Estado Constitucional devem ser
extensíveis a todos os integrantes da comunidade política que forma o Estado; iii)
Consenso: a Constituição busca construir consensos sociais; iv) Continuidade: a
Constituição não deve ser um documento provisório; v) Participação: aumento dos
elementos de participação direta da população; vi) Integração: a Constituição deve
buscar promover uma maior integração social; vii) Universalidade: as benesses do
regime constitucional não devem ficar restritas aos grupos minoritários
hegemônicos/detentores do poder).

Transconstitucionalismo: conceito desenvolvido por Marcelo Neves, no marco


teórico da teoria dos sistemas de base luhmanniana, trabalha a ideia de
entrelaçamento entre ordens jurídicas constitucionais para a solução de problemas
comuns e constitui o fato de uma determinada situação concreta poder ser
disciplinada igualmente na legislação interna, na legislação internacional e na
legislação supranacional, em um verdadeiro fenômeno de “globalização do direito
constitucional doméstico”.

ATENÇÃO! Não confundir com Constitucionalismo Transnacional!


Constitucionalismo Transnacional consiste na possibilidade de criação de apenas
uma Constituição para vários países – se aproxima do que acontece na União
Europeia, que tem normas em comum, mas não chega a ser uma Constituição
comum a todos os países que a integram. O Transconstitucionalismo não dispõe
sobre a existência de uma constituição global, em que as constituições nacionais
seriam hierarquicamente submetidas a essa constituição superior, mas sim sobre a
existência de problemas jurídico-constitucionais que perpassam às distintas ordens
jurídicas, impondo-se um diálogo entre estas ordens jurídicas, possibilitando que os
problemas que lhes são comuns tenham um tratamento harmonioso e
reciprocamente adequado.

Sinônimos: Constitucionalismo de Níveis Múltiplos (Bulos); Constitucionalismo


Multiplex (Bulos); Constitucionalismo Multinacional (Peña de Moraes);
Interconstitucionalismo (Peña de Moraes); Cross-constitucionalismo (Peña de
Moraes) e Fecundação Cruzada (Peña de Moraes). Tudo isso desemboca no que Peña
de Moraes chama de Transjudicialismo, que é quando o Judiciário aplica/dialoga
com essas ordens jurídicas múltiplas.

Constitucionalismo Societal: entre Fragmentos de Constituição e um novo tipo de


Constitucionalismo Sem Constituição em um regime de Governança Global. Um
tema correlacionado com o transconstitucionalismo e as novas compreensões
sistêmicas na atual sociedade global é o do Constitucionalismo Societal, ideia, inicial-
mente, desenvolvida por Gunther Teubner. A compreensão de Fragmentos de
Constituição ou Constituição Societal está no contexto da atual globalização e sua
característica fragmentação dos regimes políticos tradicionais pelo planeta, fazendo,
cada dia mais, presente a noção de governança global. A governança global está
então relacionada com a precarização das autoridades políticas nacionais e sua
capacidade de produzir normas vinculantes em detrimento das forças políticas
globais, gerando, cada dia mais, uma força vinculante das regulamentações
supranacionais e transnacionais. É importante observar que essas normatizações
transversais ao nacional não decorrem necessariamente do Estado ou de uma
comunidade internacional de Estados, sendo, muitas vezes, advinda, de modo ad
hoc, de uma “pluralidade de atores, inclusive, muitos deles privados ou
semiprivados”. Com isso, na visão de Teubner, surge um novo fenômeno
constitucional, marcado por um “pluralismo jurídico”, ou seja, uma multiplicidade
de normas a regular a vida, oriundas das mais diversas fontes, havendo ou não a
participação dos entes políticos estatais, muitas delas, sendo oriundas da própria
lógica privada, gerando um novo constitucionalismo, posto que os temas são
matéria constitucional, mas que pode mesmo independer de Constituições em
sentido formal-moderno, o que se tem chamado mesmo de “constitucionalismo sem
Constituição”.

Novo Constitucionalismo Latino-Americano (Constitucionalismo Andino ou


Constitucionalismo Indígena). Conforme afirmam Roberto Viciano Pastor e Rubén
Martínez Dalmau30, o Novo Constitucionalismo Latino-Americano propõe uma
diversidade cultural e de identidade, sedimentando-se na ideia de Estado
plurinacional e, assim, revendo os conceitos de legitimidade e participação popular,
especialmente de parcela da população historicamente excluída dos processos de
decisão, como a população indígena. Esse Constitucionalismo possui como
representantes as Constituições do Equador (2008) e da Bolívia (2009). Esse
posicionamento enquadra o Novo Constitucionalismo Latino-Americano como um
constitucionalismo contra hegemônico, por romper com a lógica antropocentrista
tradicional, que assenhora a natureza, fazendo-a objeto da exploração liberal; e,
principalmente, por ser inclusivo, agregando ao processo constituinte grupos
humanos essenciais à formação latino-americana como quilombolas e indígenas,
que sempre sofreram forte exclusão dentro do constitucionalismo liberal.
i) Ciclo Multicultural – é a fase mais embrionária, em que há apenas a introdução do
direito à identidade cultural, junto com a inclusão de direitos indígenas específicos.
São exemplos deste ciclo a Constituição do Canadá de 1982 e a Constituição do
Brasil de 1988;
ii) Ciclo Pluricultural - é a fase intermediária, em que os direitos indígenas previstos
na Convenção 169 da OIT são incorporados aos textos das Constituições,
desenvolvendo o conceito de nação multiétnica e reconhecendo o pluralismo ju-
rídico. Este ciclo afirma o direito à identidade e diversidade cultural, já introduzido
no primeiro ciclo, mas desenvolve mais o conceito de “nação multiétnica e “estado
pluricultural”, qualificando a natureza da população e avançando rumo ao caráter
do Estado. É exemplo deste ciclo a Constituição da Venezuela de 1999.
iii) Ciclo Plurinacional - é a fase mais avançada, em que os povos indígenas são
reconhecidos não apenas culturas diversas, mas como nações originárias e como
sujeitos políticos coletivos com direito a participar dos novos pactos do Estado. São
exemplos deste ciclo a Constituição do Equador de 2008 e a Constituição da Bolívia
de 2009.

Constitucionalismo Abusivo. David Landau. Constitucionalismo Abusivo é uma


prática contemporânea de ir se positivando, no texto constitucional, regras que
acabam por, gradualmente, minar o regime democrático nos Estados, ou seja, é a
tentativa de se usar a lógica da Constituição e seu espírito libertário contra a
democracia e as liberdades. os golpes baseados na força e no uso de armas
encontram mais dificuldades, por isso, as estratégias de sabotagem da democracia
tentam se valer do discurso constitucional para tentar aparentar uma legitimidade
que não possuem. Desta forma, por meio de mudanças constitucionais, alguns
Estados vêm implantando regimes autoritários ou semi-autoritários. O STF, na ADPF
Nº. 622, julgada em março de 2021, declarou inconstitucional o texto do Decreto nº
10.003/2019, editado pelo Presidente Jair Bolsonaro, que, a pretexto de
regulamentar, dificultou a participação da sociedade civil no Conselho Nacional da
Criança e do Adolescente – Conanda. Na ementa do julgado, foi apresentada a
tentativa de dificultar o acesso da sociedade civil ao Conanda como uma prática de
constitucionalismo abusivo.

História Constitucional Brasileira

- Constituição de 1824
A Constituição de 1824 decorre da dissolução da Assembleia Constituinte de 1823,
pois possuía ideais extremamente liberais, o que conflitava com o pensamento de D.
Pedro I, que impôs o seu próprio projeto.
Foi criado o Conselho de Estado para elaboração da Constituição. Em razão disso,
ela possuía como caraterísticas ser: a.1) Outorgada; a.2) Baseada em um
Centralismo Administrativo e Político; a.3) Com a presença do Poder Moderador, o
qual controlava o Executivo, o Legislativo e o Judiciário; a.4) Unitarista; a.5)
Absolutista.
Vejam-se mais detalhes da Constituição de 1824:
i. Governo: monárquico, hereditário, constitucional e representativo;
ii. Forma de Estado: Unitário;
iii. Chefe de Estado e de Governo: Imperador/Segundo Reinado: Monarquia
Parlamentarista;
iv. Religião Oficial: Existia. Católica Apostólica Romana; (única Constituição
Brasileira em que houve tal previsão).
v. Capital do Império: Rio de Janeiro. Ato Adicional n. 16: Município Neutro
vi. Organização dos Poderes: Quadriparticipação de Poderes – Executivo,
Legislativo, Judiciário e Moderador.
vii. Legislativo Bicameral: Assembleia Geral – Câmara e Senado;
viii. Eleições para o Legislativo: Indiretas;
ix. Sufrágio: Voto Censitário; (concedido somente aos homens livres e proprietários,
de acordo com seu nível de renda)
x. Poder Judiciário: Composto por juízes e jurados. O imperador podia suspender os
juízes;
xi. Poder Moderador: Baseado em Benjamin Constant;
xii. Constituição era Semirrígida;
xiii. Possuía um catálogo de direitos fundamentais. Obs.: Manteve-se a escravidão
até 1888.

- Constituição de 1891
Primeira Republicana. Os principais fatores de enfraquecimento do Império foram o
fortalecimento dos Militares com a Guerra do Paraguai e a abolição da escravatura,
que extinguiu a base produtiva da economia rural do Império: a mão de obra
escrava. Possuía como caraterísticas ser: b.1) Promulgada; b.2) República
Federativa; b.3) Tripartição de Poderes.
Veja mais detalhes da Constituição de 1891:
i. Governo: republicano, federal e representativo;
ii. Forma de Estado: Federal. União indissolúvel dos Estados. Estados Unidos do
Brasil. Como explica Waldemar Martins Ferreira, “cada província formou um Estado,
incumbido de prover, a expensas próprias, as necessidades de seu governo e
administração”;
iii. Chefe de Estado e de Governo: Presidente da República;
iv. Religião Oficial: Não Existia. Estado Laico;
v. Capital: Rio de Janeiro. Distrito Federal. Já havia a previsão da mudança para o
Planalto Central;
vi. Organização dos Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
vii. Legislativo Bicameral: Câmara dos Deputados e Senado Federal. Com
bicameralismo também estadual.
viii. Eleições para o Legislativo: Diretas;
ix. Sufrágio: Direto. Mandato dos Deputados era de 3 anos; Mandato dos Senadores
era de 9 anos. Renovação de trienal de 1/3.
x. Poder Judiciário: Supremo Tribunal Federal. 15 juízes;
xi. Poder Executivo: Presidente da República;
xii. Constituição Rígida;
xiii. Possuía um catálogo de direitos fundamentais mais aprimorado. Fim da pena
de “galés”. Instituição do Habeas Corpus.

- Constituição de 1934
Decorre das Revoluções de 1930 e de 1932. Aquela ocorreu contra o domínio das
oligarquias e a fraude eleitoral generalizada, características da República Velha.
Tudo isso agravada pela crise econômica decorrente da redução das exportações
dada a crise financeira de 1929. Já esta ocorreu em São Paulo, exigindo que Getúlio
Vargas, presidente que assumira após a revolução de 1930, criasse uma Constituição,
visto que estava governando sem documento constitucional. Possuía como
caraterísticas ser: c.1) Promulgada; c.2) República Federativa; c.3) Tripartição de
Poderes.
Vejam-se mais detalhes da Constituição de 1934:
i. Governo: republicano, federal e representativo;
ii. Forma de Estado: Federal. União indissolúvel dos Estados. República Federativa
dos Estados Unidos do Brasil;
iii. Chefe de Estado e de Governo: Presidente da República;
iv. Religião Oficial: Não Existia. Estado Laico;
v. Capital: Rio de Janeiro. Distrito Federal.
vi. Organização dos Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário.
vii. Legislativo Bicameral: Câmara dos Deputados e Senado Federal.
viii. Sufrágio: Direto. Mandato dos Deputados era de 4 anos; Mandato dos Senadores
era de 8 anos. Voto Feminino (novidade). Voto secreto (ou australiano, pois foi o
primeiro país a adotar o voto secreto) (novidade).
ix. Poder Judiciário: Supremo Tribunal Federal. 11 Ministros;
x. Poder Executivo: Presidente da República;
xi. Constituição Rígida;
xii. Catálogo de direitos fundamentais: Aprimorado. Instituição do Mandado de
Segurança e Ação Popular.
xiii. Criação da Justiça Eleitoral e da Justiça do Trabalho: criação de leis traba-
lhistas, instituindo jornada de trabalho de oito horas diárias, repouso semanal e
férias remuneradas.

- Constituição de 1937
Nos anos anteriores a 1937, havia uma forte tensão entre Direita Fascista (Ação
Integralista Brasileira - AIB) e Esquerda Comunista (Aliança Nacional Libertadora –
ANL). Nesse contexto, Getúlio Vargas e o Exército Brasileiro anunciaram que existiria
um suposto projeto comunista para tomar o poder. Tratava-se do hipotético “Plano
Cohen”. A historiografia contemporânea revela que, na realidade, tal plano fora
elaborado por militares brasileiros com a intenção de simular, para efeitos de
estudo, uma revolução judaico-comunista no Brasil. Embora fosse um plano
completamente teórico, foi falsamente atribuído ao Partido Comunista e utilizado
como mote para que Vargas realizasse um golpe de estado em nome da segurança
nacional, implantando um regime ditatorial no Brasil, o Estado Novo. Toda o
episódio foi chamado de Intentona Comunista. A Constituição de 1937 foi inspirada
na Constituição Polonesa de 1935. Dada sua origem, era conhecida como “polaca”.
Há, todavia, um sentido pejorativo para o termo, visto que, na década de 30, as
prostitutas também eram chamadas de “polacas”. Possuía como caraterísticas ser:
d.1) Outorgada; d.2) República Federativa, mas com Centralismo Administrativo e
Político; d.3) Tripartição de Poderes.
Vejam-se mais detalhes da Constituição de 1937:
i. Governo e Estado: republicano e federal. O federalismo era apenas simplesmente
nominal (Vargas nomeava interventores para os estados sempre que quisesse);
ii. Forma de Estado: Federal. União indissolúvel dos Estados. República Federativa
dos Estados Unidos do Brasil;
iii. Chefe de Estado e de Governo: Presidente da República, tendo sido ele,
seguindo, vergonhosamente, os exemplos alemão e italiano, erigido à condição de
autoridade suprema do Estado40;
iv. Religião Oficial: Não Existia. Estado Laico;
v. Capital: Rio de Janeiro. Distrito Federal;
vi. Organização dos Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, mas com
Legislativo e Judiciário esvaziados;
vii. Legislativo Bicameral: Câmara dos Deputados e Conselho Federal. O Senado
Federal DEIXOU de existir.
viii. Conselho Federal: Com 1 (um) Representante de cada Estado, escolhidos pelas
respectivas Assembleias Legislativas, podendo o governador impugnar o nome
eleito, e 10 membros indicados pelo Presidente da República. Com Mandato de 6
anos;
ix. Sufrágio: Indireto. Mandato dos Deputados era de 4 anos;
x. Poder Judiciário: O Art. 96 trazia a nefasta possibilidade de revisão das decisões
de inconstitucionalidade. O parágrafo único do Art. 96 afirmava, expressamente que,
no caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a juízo do
Presidente da República, seja necessária ao bem-estar do povo, à promoção ou
defesa de interesse nacional de alta monta, poderá o Presidente da República
submetê-la novamente ao exame do Parlamento: se este a confirmar por dois terços
de votos em cada uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do Tribunal. Esta
norma vigorou até 1945, quando foi revogada pela Emenda Constitucional Nº. 18. Tal
dispositivo deixava clara a força do Presidente da República em um regime apenas
formalmente constitucional.
xi. Poder Executivo: Presidente da República; Autoridade Suprema do Estado. Com
poder de emitir Decretos-leis. Mandato de 6 anos com eleição indireta.
xii. Constituição Rígida;
xiii. Possuía um catálogo de direitos fundamentais, mas com sérias restrições em
relação à Constituição anterior:
xiii.i) Retirada do Mandado de Segurança e Ação Popular;
xiii.ii) Retirada de garantias penais e previsão de censura prévia;
xiii.iii) Previsão de pena de morte para crimes políticos e para crimes cometidos por -
motivo fútil ou com extrema perversidade;
xiii.iv) A greve e o lockout foram proibidos;
xiii.iv) A tortura foi utilizada como instrumento de repressão;
xiii.vi) Houve ampla consagração de direitos trabalhistas.

- Constituição de 1946
Vargas foi obrigado a renunciar. José Linhares, à época Presidente do STF, assumiu a
Presidência da República até a posterior eleição do General Dutra. Ante a
redemocratização, foi necessária uma nova Constituição, daí nascendo a carta de
1946, promulgada de forma legal, após as deliberações do Congresso recém-eleito,
que assumiu as tarefas de Assembleia Nacional Constituinte. Possuía como
caraterísticas ser: e.1) Promulgada; e.2) República Federativa; e.3) Tripartição de
Poderes.
Vejam-se mais detalhes da Constituição de 1946:
i. Governo: republicano, federal e representativo;
ii. Forma de Estado: Federal;
iii. Chefe de Estado e de Governo: Presidente da República/Instituição do
Parlamentarismo em 1961 (Ato Adicional);
iv. Religião Oficial: Não Existia. Estado Laico;
v. Capital: Rio de Janeiro. Mudança para Brasília em 21 de abril de 1960 com
Juscelino Kubitschek;
vi. Organização dos Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário;
vii. Legislativo Bicameral: Câmara dos Deputados e Senado Federal.
viii. Sufrágio: Direto. Mandato dos Deputados era de 4 anos; Mandato dos Senadores
era de 8 anos.
ix. Poder Judiciário: Supremo Tribunal Federal. 11 Ministros;
x. Poder Executivo: Presidente da República. Mandato de 5 anos;
xi. Constituição Rígida;
xii. Possuía um catálogo de direitos fundamentais, retomando direitos e
ampliando garantias:
xii.i) Retomada do Mandado de Segurança e Ação Popular;
xii.ii) Vedação da pena de morte (salvo em caso de guerra);
xii.iii) Vedação das penas de banimento, confisco e de caráter perpétuo;
xii.iv) Reestabelecimento do Direito de Greve e livre associação sindical.
- Constituição de 1967
Decorre do Golpe Militar de 1964. O AI-2 estabeleceu eleições indiretas para
Presidente e Vice-Presidente. Em 1966, o Congresso Nacional foi fechado só sendo
reaberto em 1967 para a “aprovação” do texto da Constituição (um ato meramente
formal e simbólico, visto que não existia a possibilidade prático-política de uma
rejeição), que, mais uma vez, foi redigida sem a participação popular (mesmo de
modo indireto). Possuía como caraterísticas ser: f.1) Outorgada; f.2) República
Federativa, mas com forte Centralismo Administrativo e Político; f.3) Tripartição
de Poderes (Meramente Formal).
Vejam-se mais detalhes da Constituição de 1967:
i. Governo: República;
ii. Forma de Estado: Federal (mitigado);
iii. Chefe de Estado e de Governo: Presidente da República (eleição indireta);
iv. Religião Oficial: Não existia. Estado Laico;
v. Capital: Brasília;
vi. Organização dos Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário;
vii. Legislativo Bicameral: Câmara dos Deputados e Senado Federal. Na prática, os
poderes foram severamente diminuídos.
viii. Sufrágio: Direto. Mandato dos Deputados era de 4 anos; Mandato dos Senadores
era de 8 anos.
ix. Poder Judiciário: Teve sua competência diminuída (suspensão das garantias dos
magistrados);
x. Poder Executivo: Presidente da República. Mandato de 4 anos; Com poder de
emitir Decretos-Leis.
xi. Constituição Rígida;
xii. Possuía um catálogo de direitos fundamentais: o que era algo mais formal do
que material, visto que o Governo Ditatorial desrespeitava sistematicamente os
direitos fundamentais. Do ponto de vista formal, o que chamava atenção era a
previsão da suspensão de direitos políticos por 10 (dez) anos.

Por meio Ato Institucional Nº 5 foram adotadas as seguintes medidas:


- O Presidente da República passou a ter autoridade para fechar o Congresso Nacional e as
Assembleias Legislativas dos estados;
- A permissão para o governo federal, sob pretexto de “segurança nacional”, para intervir em
estados e municípios, suspendendo as autoridades locais e nomeando interventores federais
para dirigir os estados e os municípios;
- A censura prévia de música, cinema, teatro e televisão;
- A ilegalidade das reuniões políticas não autorizadas pela polícia;
- Houve também diversos toques de recolher em todo o país;
- A suspensão do habeas corpus por crimes de motivação política;
- O poder do Presidente da República de destituir sumariamente qualquer funcionário público,
incluindo políticos oficialmente eleitos e juízes, se eles fossem subversivos ou não-cooperativos
com o regime;
- O Presidente da República e os Governadores dos Estados passaram a assumir, durante os
períodos de fechamento das legislaturas as suas funções. Esse poder incluiu o poder de legislar
emendas constitucionais. Foi usado em 1969 (Emenda Constitucional nº 1, que remodelou
completamente o texto da Constituição).

- Constituição de 1969
Com os poderes antes anunciados pelo AI-5 de 1968, em 1969, com o endurecimento
do regime militar, a Junta Militar realizou uma Emenda Constitucional sobre in-
contáveis dispositivos da Constituição de 1967, o que faz com que a literatura
majoritária considere que, na realidade, ali, foi criada uma nova Constituição.
Possuía como caraterísticas ser: g.1) Outorgada; g.2) República Federativa, mas
com forte Centralismo Administrativo e Político; g.3) Tripartição de Poderes
(Meramente Formal).
Vejam-se mais detalhes da Constituição de 1969:
i. Governo: República;
ii. Forma de Estado: Federal (mitigado);
iii. Chefe de Estado e de Governo: Presidente da República;
iv. Religião Oficial: Não existia. Estado Laico;
v. Capital: Brasília;
vi. Organização dos Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário;
vii. Legislativo Bicameral: Câmara dos Deputados e Senado Federal. Criação dos
Senadores Biônicos (indicados pelos próprios militares). Na prática, os poderes
foram severamente diminuídos.
viii. Sufrágio: Direto. Mandato dos Deputados era de 4 anos; Mandato dos Senadores
era de 8 anos.
ix. Poder Judiciário: Teve sua competência diminuída;
x. Poder Executivo: Presidente da República. Mandato de 4 anos. Depois 6 anos (EC
nº. 8); Com poder de emitir Decretos-Leis.
xi. Constituição Rígida (Mitigada pelo Pacote de Abril);
xii. Lei da Anistia e Diretas Já.
- Constituição de 1988
Com a decadência do comunismo no mundo e a crise econômica enfrentada pelo
país, já não havia fundamento para o regime ditatorial. Com isso, veio a reabertura
democrática, proporcionando a convocação de uma Assembleia Nacional
Constituinte em 1985 e a promulgação da Constituição de 1988. A Constituição de
1988 inaugurou um novo arcabouço jurídico-institucional no país, com ampliação
das liberdades civis e dos direitos e garantias individuais. Possui como caraterísticas
ser: h.1) Promulgada; h.2) Social Democrata; h.3) Pluripartidária; h.4) República
Federativa; h.5) Tripartição de Poderes.
Veja mais detalhes da Constituição de 1988:
i. Governo: republicano, federal e representativo;
ii. Forma de Estado: Federal;
iii. Chefe de Estado e de Governo: Presidente da República;
iv. Religião Oficial: Não Existe. Estado Laico;
v. Capital: Brasília;
vi. Organização dos Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário;
vii. Legislativo Bicameral: Câmara dos Deputados e Senado Federal.
viii. Sufrágio: Direto. Mandato dos Deputados de 4 anos; Mandato dos Senadores de
8 anos. Concedeu direito de voto aos analfabetos.
ix. Poder Judiciário: Supremo Tribunal Federal. 11 Ministros. Criação do Superior
Tribunal de Justiça.
x. Poder Executivo: Presidente da República. Mandato de 4 anos. Criada a reeleição
(EC nº 16/97);
xi. Constituição Rígida;
xii. Possui um catálogo de direitos fundamentais: Ampliação Geral de Direitos.
Criação do Mandado de Injunção, do Mandado de Segurança Coletivo e do Habeas
Data.

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