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Direito Civil

Lei de Introdução

- Norma de sobredireito.
- Vigência das Normas (art. 1º): lei passará por três fases fundamentais para que tenha
validade e eficácia: a de elaboração, a de promulgação e a de publicação. Depois
vem o prazo de vacância, chamado de vacatio legis. A promulgação é o ato capaz de
conferir existência e validade às normas. Vigência: A regra do prazo de vacatio legis
será de 45 (quarenta e cinco) dias para o território nacional e de 03 (três) meses
para o estrangeiro. O artigo 8º, § 1º, da LC nº 95/1998 menciona que a contagem do
prazo para a entrada em vigor das Leis que estabelecerem período de vacância far-
se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em
vigor no dia subsequente a da consumação, ainda que seja um feriado ou um dia
sem expediente forense. A norma pode ainda autodeclarar que ganhará vigor na
data da sua publicação. Trata-se de exceção permitida nos casos de normas de
pequena repercussão social. Havendo norma corretiva mediante nova publicação
do texto legal, os prazos mencionados devem correr a partir da nova publicação.

- Princípio da Continuidade ou Permanência (art. 2º): a norma, a partir de sua


entrada em vigor, tem eficácia contínua até que outra a modifique ou revogue.
Exceções: Leis temporárias e Leis circunstanciais. Ab-rogação ou derrogação.
Revogação expressa ou revogação tácita. Repristinação tácita é vedada. A doutrina
distingue repristinação de efeito repristinatório, que seria aquele advindo do
controle concentrado de constitucionalidade; apenas será cabível em controle
concentrado de constitucionalidade, não se aplicando ao controle difuso nem
mesmo ao controle concentrado quando o STF modular os efeitos da decisão.

Revogação tácita: teremos as antinomias de primeiro grau, que serão observadas


quando envolverem apenas um dos referidos critérios: Lei Superior – Critério
Hierárquico; Lei Especial – Critério da Especialidade e Lei Nova – Critério
Cronológico.
Existem, ainda, as antinomias de segundo grau, quando o conflito envolve DOIS dos
critérios acima analisados. Ou seja, consistem em choques entre os próprios
critérios metajurídicos enunciados. Resolvem-se da seguinte forma: - No conflito de
uma norma especial anterior e uma geral posterior, prevalecerá o critério da
especialidade (critério forte), sendo aplicável a norma especial anterior, pois o
critério metajurídico da especialidade é mais forte do que o cronológico. Caso haja
conflito de norma superior anterior e outra inferior posterior, prevalece a primeira,
pois o critério hierárquico (critério forte) se sobrepõe ao cronológico. Havendo
conflito de uma norma geral superior e uma especial inferior (dois critérios fortes),
não há uma metarregra geral de solução, sendo, portanto, uma antinomia real,
segundo Maria Helena Diniz, podendo-se preferir para a solução do conflito qualquer
um dos critérios. Todavia, para Bobbio, deve prevalecer a lei superior (critério
hierárquico).
- Características e Obrigatoriedade da Norma: Generalidade, Imperatividade,
Permanência, Competência (a norma deve ser emanada de uma autoridade
competente), Autorizante (A norma irá autorizar ou não autorizar uma determinada
conduta) e Obrigatória (ninguém poderá deixar de cumprir a lei por alegar que não
a conhece). Ressalta-se que tal princípio (obrigatoriedade) não é absoluto, pois o
próprio ordenamento jurídico aceita a hipótese de alegação de erro de direito ou
juris. Contudo, serão casos excepcionais. Vejamos algumas possibilidades: Direito
Penal (artigo 8º da Lei de Contravenções Penais); Direito Civil (artigo 1.561 do CC);
erro de direito (artigo 139, III, do CC).

Personalidade e Capacidade

Princípios do Código Civil


ETICIDADE: Simboliza o rompimento com a visão patrimonialista que por tanto
tempo caracterizou o Direito Civil. O ser humano, na visão de hoje, é visto como um
fim em si mesmo e, como tal, protegido em suas múltiplas dimensões. Afastamento
de tecnicismos que tradicionalmente são associados ao Direito Civil. Também se
relacionam as condutas éticas à boa-fé objetiva.
SOCIALIDADE: Simboliza a funcionalização dos conceitos, categorias e institutos. O
Código Civil de 2002 procurou superar o caráter individualista e egoísta da
codificação de 1916, viabilizando uma denotação social ao contrato, à propriedade,
à posse, à responsabilidade civil, à empresa etc.
OPERABILIDADE: O princípio da operabilidade simboliza um desejo, por parte do
legislador, de simplificar, de tornar úteis as categorias que traz (em estreita relação
com a funcionalidade abordada no princípio da socialidade). De nada adiantaria o
Código Civil consignar belas consagrações retóricas de direitos, se estivermos longe
da efetividade. Flávio Tartuce - O princípio da operabilidade pode ter dois
significados: o primeiro está ligado ao sentido de simplicidade, ou seja, o Código
Civil de 2002 segue a tendência de facilitar a interpretação e a aplicação dos
institutos nele previstos (exemplo: o código disciplinou a distinção em relação ao
instituto da prescrição e o da decadência, matéria que anteriormente gerava
bastante dúvida). O segundo significado possui relação com a efetividade, ou a
concretude do Direito, reforçado pela adoção do sistema de cláusulas gerais, tais
como a função social do contrato, função social da propriedade, boa-fé, bons
costumes etc.

Pessoas
A pessoa física será dotada de personalidade jurídica e capacidade de direito. Além
disso, não se pode tratar a pessoa física como um ente biologicamente criado, tendo
em vista que atualmente são utilizados métodos artificias de criação.
Fertilização in vitro: é aquela gerada em proveta (in vitro), ou seja, é realizada fora
do aparelho reprodutor feminino, sendo posteriormente implantado um embrião no
corpo feminino. Inseminação artificial: é aquela concebida em vivo, ou seja, no
próprio corpo da mulher é inserido um gameta masculino por um meio artificial de
criação.
A fertilização in vitro e a inseminação artificial podem ser: a) homóloga: o material
genético é do próprio casal; b) heteróloga: o material genético é de um terceiro; c)
inter vivos: em vida; e d) post mortem: após a morte.

Personalidade Capacidade de direito Capacidade de fato ou de


exercício
Atributo de qualquer pessoa Capacidade de adquirir Capacidade de, por si só,
humana ou jurídica. direitos e deveres perante a exercer os direitos e cumprir
ordem jurídica. Qualquer os deveres que possui perante
pessoa o tem. o ordenamento jurídico.
Pode ser relativa ou plena.

Teorias da Personalidade

O nascimento com vida ocorre no momento em que a criança respira. A doutrina


normalmente faz menção ao exame de docimasia hidrostática de Galeno. Portanto,
se respirou, adquiriu personalidade. Não existe outro requisito. O único requisito é
nascer com vida.

- Teoria Natalista: Para ela, somente se adquire a personalidade a partir do


nascimento com vida, verificando-se a partir do exame de docimasia hidrostática de
Galeno. O problema da teoria natalista é que ela nega ao nascituro os direitos
fundamentais, relacionados com a sua personalidade. Aparentemente, foi
positivada no Código Civil (art. 2º), sendo criticada pela doutrina e relativizada
constantemente pelo STJ e pelo STF. A Lei nº 11.105/2015, chamada de Lei de
Biossegurança, tutela a integridade física do embrião, e reforça a teoria
concepcionista, conforme entendimento de Flávio Tartuce. Assim, o artigo 5º da
referida lei disciplina a utilização de células-tronco embrionárias para fins científicos
e terapêuticos, desde que os embriões sejam considerados como inviáveis, ou no
caso de embriões congelados há três anos ou mais.

- Teoria Concepcionista: A personalidade, segundo essa teoria, inicia-se com a


concepção. Foi adotada expressamente pelo art. 4.1 da Convenção Americana de
Direitos Humanos (CADH) e vem recorrentemente sendo adotada pelo STJ. Para ela,
o nascituro tem personalidade jurídica. o Min. Relator Luis Felipe Salomão afirmou
expressamente que, em sua opinião, “o ordenamento jurídico como um todo — e
não apenas o Código Civil de 2002 — alinhou-se mais à teoria concepcionista para a
construção da situação jurídica do nascituro, conclusão enfaticamente sufragada
pela majoritária doutrina contemporânea”.
Para o Ministro, mesmo que se diga que a personalidade jurídica se inicia com o
nascimento, ainda assim é forçoso concluir que o nascituro já deve ser considerado
como pessoa. Caso contrário, não se vislumbraria nenhum sentido lógico na fórmula
“a personalidade civil da pessoa começa” (art. 2º), se ambas — pessoa e
personalidade civil — tivessem como começo o mesmo acontecimento. Enunciado 1
- Art. 2º: A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que
concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura.

A teoria também é adotada por Maria Helena Diniz, a qual classifica a personalidade
jurídica em formal e material:
Personalidade Jurídica Formal: É relacionada com os direitos da personalidade, que o
nascituro tem desde a concepção.
Personalidade Jurídica Material: É relacionada aos direitos patrimoniais, e o nascituro só terá
adquirido com o nascimento com vida.
Ainda sobre o tema, a Lei nº 11.804/08, chamada de Lei dos Alimentos Gravídicos, foi
duramente criticada por Silmara Juny Chinellato, doutrinadora que adota a teoria
concepcionista, a qual expõe: “A recente Lei 11.804, de 5 de novembro de 2008, que
trata dos impropriamente denominados ‘alimentos gravídicos’ – desnecessário e
inaceitável neologismo, pois alimentos são fixados para uma pessoa e não para um
estado biológico da mulher – desconhece que o titular do direito a alimentos é o
nascituro, e não a mãe, partindo da premissa errada, o que repercute no teor da lei”.

- Teoria da Personalidade Condicional: O nascituro tem alguns direitos denominados


“morais” enquanto não nascido, como direito à vida e à integridade física. Ao nascer,
adquire direitos materiais relacionados ao patrimônio, como algum bem doado, que
estão sob a condição suspensiva do nascimento com vida, sendo, portanto, sua
eficácia subordinada a evento futuro e incerto, podendo ser classificado como um
direito eventual. Para embasar a tese da personalidade condicional, é mencionado o
artigo 130 do Código Civil. Ocorre que, a teoria é ligada apenas às questões
patrimoniais, e não responde às questões relativas aos direitos pessoais, ou da
personalidade do nascituro. Além disso, os direitos da personalidade não se
submetem a condição, termo ou encargo.

NATALISTA PERSONALIDADE CONCEPCIONISTA


CONDICIONAL
A personalidade jurídica só A personalidade civil começa A personalidade jurídica se
se inicia com o nascimento. com o nascimento com vida, inicia com a concepção,
O nascituro não pode ser mas o nascituro titulariza muito embora alguns direitos
considerado pessoa. Só será direitos submetidos à só possam ser plenamente
pessoa quando nascer com condição suspensiva (ou di- exercitáveis com o
vida. reitos eventuais). nascimento.
O nascituro é pessoa desde o
momento em que ele é
concebido (o nascituro é um
sujeito de direitos).
O nascituro tem apenas ex- O nascituro possui direitos O nascituro possui direitos.
pectativa de direitos. sob condição suspensiva.

Sílvio Rodrigues, Caio Mário, Washington de Barros Mon- Silmara Chinellato e a grande
Sílvio Venosa. teiro, Arnaldo Rizzardo. maioria da doutrina.

- Embriões: Há quem entenda que os embriões, mesmo antes de implantados no


útero materno, são seres humanos que merecem a mesma proteção jurídica
conferida ao nascituro. Nesse sentido, um dos votos vencidos no STF, no julgamento
da ADI 3.510-0, do Ministro Menezes Direito, assevera que “as células-tronco
embrionárias são vida humana e qualquer destinação delas à finalidade diversa que
a reprodução humana viola o direito à vida”. Todavia, o STF, julgando a ADI 3.510-0,
por maioria de votos, entendeu válida a norma que permite, para fins de terapia e
pesquisa, a utilização de células-tronco embrionárias produzidas por fertilização in
vitro. O relator, Carlos Ayres, manifestou-se no sentido de que, para existir vida
humana, é necessário que o embrião tenha sido implantado no útero humano. O
embrião, antes disso, não seria pessoa nem nascituro.

Capacidade de Fato

As pessoas plenamente capazes podem praticar quaisquer atos civis por si sós. As
relativamente incapazes dependem de assistência, sob pena de anulabilidade do
negócio (art. 171, I, do CC), enquanto as absolutamente incapazes dependem de
representação, sob pena de nulidade absoluta do ato (art. 166, I, do CC).

Estatuto da Pessoa com Deficiência. Elucida que a pessoa com deficiência


poderá adotar o processo de tomada de decisão apoiada, constante no artigo 1.783-
A do CC. Essa figura visa auxiliar as pessoas com deficiência, consistente em
processo judicial mediante o qual a pessoa com deficiência irá eleger pelo menos
duas pessoas idôneas, com as quais mantenha vínculo de confiança, para lhe
oferecer apoio na tomada de algumas decisões. Além disso, não pode ser confundida
a vulnerabilidade, relacionada à quebra de equilíbrio contratual, com a
incapacidade, que irá decorrer de um critério objetivo – cronológico, etário ou idade
–, ou um critério subjetivo – psicológico ou psíquico.
Em relação à incapacidade subjetiva, será atestada por um processo de interdição,
que visa a curatela extraordinária.

Ação de Interdição – Relativamente Incapaz


A nomenclatura mais adequada seria curatela extraordinária. Sob essa ótica, a
curatela extraordinária afetará os atos de natureza patrimonial e negocial, e não
alcançará os atos ligados às questões de sexualidade, matrimônio, privacidade etc.
Para Daniel Amorim Assumpção Neves, a interdição terá dois objetivos, quais sejam:
a) proteger o interditando de si mesmo, haja vista que sua incapacidade poderá
ocasionar sua ruína pessoal e patrimonial; b) proteger a sociedade do interditando,
para que contratos viciados não sejam indevidamente realizados. Procedimento
especial de jurisdição voluntária. A legitimidade para propor a ação será do cônjuge,
companheiro, parentes, tutores, representante de entidade em que se encontra
abrigado o interditando e do Ministério Público (art. 747, CPC) (Não há preferência
entre os legitimados – é concorrente). A decisão da interdição necessita ser
registrada, para então produzir efeitos erga omnes, de acordo com o artigo 9º, III, do
CC. Para Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona, a sentença de interdição teria
natureza declaratória e eficácia ex tunc, justificando que o magistrado apenas
declara uma incapacidade já existente. Entretanto, ressalta-se que o
posicionamento da Quarta Turma do STJ foi no sentido contrário, afirmando ter a
sentença de interdição natureza constitutiva e os efeitos da sentença seriam ex
nunc. Por fim, é importante frisar que no Brasil não é adotada a Teoria dos
Intervalos de Lucidez. Segundo o CC os atos do interditando só serão considerados
válidos se estiver devidamente representado ou assistido. COMO ESSE ASSUNTO
TEM SIDO COBRADO EM PROVAS? No concurso de Promotor de Justiça de Sergipe,
realizado pela banca CESPE, ano 2010, foi considerada CORRETA a seguinte
alternativa: “Uma vez declarada a interdição, não é correta falar em intermitência na
incapacidade, razão pela qual todos os atos praticados pelo interditado são
considerados inválidos”.

Absolutamente Incapaz
Com o advento do EPD, os únicos absolutamente incapazes são os menores de 16
anos, denominados menores impúberes. Não é necessário processo de interdição
ou de nomeação de curador, pois a presunção é absoluta.

Relativamente Incapazes

Art. 4º, do CC. o relativamente incapaz poderá praticar sozinho certos atos, como:
testemunhar (art. 228, I, CC), aceitar mandato (art. 666, CC) e fazer testamento (art.
1.860, parágrafo único, CC). Destaca-se que a capacidade testamentária (poder de
fazer testamento) é alcançada quando a pessoa atinge os 16 anos de idade. A antiga
redação do artigo 4º, III, do CC, tratava originalmente dos excepcionais sem
desenvolvimento completo, abrangendo os portadores de síndrome de Down e de
outras anomalias psíquicas que apresentassem sinais de desenvolvimento mental.
incompleto. Após as mudanças ocorridas pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência,
será plenamente capaz o portador de síndrome de Down, em regra, sujeito ao
instituto da tomada de decisão apoiada para as decisões relativas aos atos
patrimoniais. Além disso, para os atos existenciais familiares, o portador de
síndrome de Down possuirá capacidade civil plena (art. 6º da Lei nº 13.146/2015).

A capacidade dos indígenas.


A situação dos indígenas é regulada por legislação especial, qual seja, a Lei nº
5.731/67 e a Lei nº 6.001/73, esta última denominada Estatuto do Índio. A Lei nº
5.371/67 disciplina um sistema de proteção ao índio, instituindo a FUNAI (Fundação
Nacional do índio), que exerce poderes de representação e apoio ao indígena. Na
forma do Estatuto do Índio (Lei nº 6.001/73), os índios e as comunidades indígenas
ainda não integrados à comunhão nacional ficam sujeitos ao regime tutelar (art. 7º,
caput), ao qual determina que se aplicam, no que couber, os princípios e normas da
tutela de direito comum (art. 7º, § 1º). Dessa forma, os índios que vivem nas
florestas, isolados, são considerados absolutamente incapazes. Assim, em princípio,
a lei considera o indígena como agente absolutamente incapaz, tendo em vista que
os atos praticados entre o índio não integrado e pessoa estranha à comunidade
indígena, sem assistência do órgão tutelar (FUNAI), serão considerados nulos,
conforme regra do art. 8º, caput. Ainda, o art. 8º, § 1º, prevê uma ressalva a essa
nulidade quando o índio revele consciência e conhecimento do ato praticado, desde
que não lhe seja prejudicial, e da extensão dos seus efeitos, sendo, pois, considerado
plenamente capaz para os atos da vida civil. Esse é o entendimento seguido por Pablo
Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho em sua obra. Por fim, o art. 9º prevê a
possibilidade de o índio requerer sua liberação do regime tutelar previsto na Lei,
investindo-se na plenitude da capacidade civil, desde que preencha os requisitos
seguintes: a) idade mínima de 21 anos; b) conhecer a língua portuguesa; c)
habilitação para o exercício de atividade útil; d) razoável compreensão dos usos e
costumes. Em síntese, a legislação especial prevê o índio como absolutamente
incapaz quando isolado da sociedade. No entanto, a constante inserção social do
índio na sociedade brasileira, com a absorção da cultura e de hábitos da civilização
ocidental, justifica a sua inclusão como pessoa plenamente capaz.

Responsabilidade Civil do Incapaz

Chamada responsabilidade civil indireta ou por ato de terceiro (art. 932, CC). O
responsável pelo incapaz irá responder de forma principal, ou seja, o incapaz não
responde de forma solidária. Enunciado 450: Considerando que a
responsabilidade dos pais pelos atos danosos praticados pelos filhos menores é
objetiva, e não por culpa presumida, ambos os genitores, no exercício do poder
familiar, são, em regra, solidariamente responsáveis por tais atos, ainda que
estejam separados, ressalvado o direito de regresso em caso de culpa exclusiva de
um dos genitores. Enunciado 451. Arts. 932 e 933. A responsabilidade civil por ato
de terceiro funda-se na responsabilidade objetiva independente de culpa, estando
superado o modelo de culpa presumida. Outrossim, o menor poderá responder
civilmente pelo ato praticado, de forma excepcional e subsidiária. A referida
responsabilidade encontra amparo no art. 928 do CC. a responsabilidade civil do
incapaz pela reparação dos danos é subsidiária, condicional, mitigada e equitativa.
Por sua vez, a responsabilidade dos pais será substitutiva, exclusiva e não solidária.
Em outras palavras, não há como afastar a responsabilização do pai do
filho menor simplesmente pelo fato de que ele não estava fisicamente ao lado de seu
filho no momento da conduta. Cuidado para não confundir com esta outra decisão,
em sentido um pouco diverso, proveniente da 3ª Turma: A mãe que, à época de
acidente provocado por seu filho menor de idade, residia permanentemente em
local distinto daquele no qual morava o menor - sobre quem apenas o pai exercia
autoridade de fato - não pode ser responsabilizada pela reparação civil advinda do
ato ilícito, mesmo considerando que ela não deixou de deter o poder familiar sobre o
filho (Info 575 do STJ).

Emancipação
A emancipação é um instituto jurídico civil, que permite a antecipação da
capacidade plena, podendo-se operar de três formas: voluntária, judicial e legal.
VOLUNTÁRIA: prevista na primeira parte do art. 5º, parágrafo único, I, do Código
Civil. É a que ocorre por concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro. Deve
se dar por instrumento público e independe de homologação judicial. Pode ser
desconstituída por vício de vontade.
A emancipação voluntária, apesar de ser ato irrevogável, poderá responsabilizar os
pais do emancipado por danos causados por ele. Segundo entendimento do
precedente no STJ, REsp 122.573/PR, relatado pelo Min. Eduardo Ribeiro, julgado em
23.06.1998, a outorga de emancipação voluntária pelos pais não os exonerará da
responsabilidade civil dos filhos.
Ademais, alguns doutrinadores entendem que a hipótese de responsabilidade dos
pais, mesmo após a emancipação, poderá ser caracterizada como responsabilidade
solidária entre os pais e o emancipado: Enunciado 41, I Jornada de Direito Civil: A
única hipótese em que poderá haver responsabilidade solidária do menor de 18
anos com seus pais é ter sido emancipado nos termos do art. 5º, parágrafo único,
inc. I, do novo Código Civil. A emancipação voluntária deve ser registrada.
JUDICIAL: prevista na segunda parte do art. 5º, parágrafo único, I, do Código Civil. É
concedida pelo juiz, após oitiva do tutor, desde que o menor tenha dezesseis anos
completos. Nessa modalidade, faz-se necessária a intervenção do Ministério Público,
bem como o registro para que cumpra seus efeitos. Não há necessidade de escritura
pública. Também está sujeita a desconstituição por vício de vontade.
LEGAL: prevista nos incisos II, III, IV e V do parágrafo único do artigo 5º do Código
Civil. Não necessita de registro para produzir efeitos. Não necessita de registro.
Emancipação legal decorrente do casamento: O Código Civil estabelece uma idade
mínima para homens e mulheres poderem se casar – a partir de 16 anos de idade. A
isso se dá o nome de idade núbil. Entretanto, se a pessoa tiver entre 16 e 18 anos de
idade, necessitará de autorização dos pais ou responsáveis para poder casar (art.
1.517, CC). Lei nº 13.811/2019. A mencionada lei modificou a redação do art. 1.520 do
CC, que agora determina que não será permitido, em qualquer caso, o casamento
de quem não atingiu a idade núbil. Nesse diapasão, a doutrina se divide quanto aos
efeitos do casamento na hipótese de sua anulação. Flávio Tartuce afirma que isso
não implica no retorno à incapacidade. Outra parte da doutrina entende que o
casamento nulo ou sua inexistência faz voltar à situação de incapacidade. Pablo
Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona adotam uma corrente intermediária,
defendendo que a emancipação persiste apenas na hipótese do casamento putativo,
ou seja, aquele contraído de boa-fé.
Por fim, a emancipação judicial e legal exonera a responsabilidade civil dos
responsáveis, em razão do ato ser legitimado pelo Estado.
OBS.: salienta-se que a menoridade não cessa com a emancipação, o que cessa é a
incapacidade decorrente da menoridade. Dessa forma, a emancipação envolverá os
atos civis ou privados, mas ainda incidirá o Estatuto da Criança e do Adolescente
(Enunciado n. 530 – VI Jornada de Direito Civil, 2013, CJF). Assim, o emancipado não
pode tirar carteira de motorista e nem entrar em locais proibidos para menores.
Além dessas previsões do Código, existe a emancipação legal do menor militar, que
possua 17 anos e que esteja prestando serviço, de acordo com o art. 73 da Lei nº
4.375/1964, reproduzido no art. 239 do Decreto nº 57.654/1966.

Direitos da Personalidade
Não podem sofrer limitação permanente ou geral. Cuidado: se a questão objetiva
cobrar o que consta na lei, deve-se optar pela alternativa segundo a qual é
inadmissível a limitação voluntária (o parâmetro eleito pelo examinador no
enunciado da questão é o que deve nortear a resposta).
os direitos da personalidade são inerentes à pessoa e à sua dignidade, de acordo
com Flávio Tartuce. Assim, é possível relacionar os direitos da personalidade com
cinco grandes ícones: a) vida e integridade físico-psíquica; b) nome da pessoa
natural ou jurídica; c) imagem; d) honra; e) intimidade. Os referidos ícones
possuem relação com três princípios básicos da CF/88, quais sejam: a) Princípio da
Proteção da Dignidade da Pessoa Humana; b) Princípio da Solidariedade Social e c)
Princípio da Igualdade.
Os direitos da personalidade também são intransmissíveis, no entanto é admitido
que a repercussão econômica de tais direitos seja explorada por terceiros. Ou seja,
existirá aspectos patrimoniais dos direitos da personalidade que poderão ser
transmitidos, desde que de forma limitada.
O artigo 20, parágrafo único, do CC, trata da lesão à imagem do morto, e atribui
legitimidade aos lesados indiretos, quais sejam: cônjuge, ascendentes e
descendentes. Observa-se que, diversamente do artigo 12, o dispositivo não trata em
seu texto dos colaterais até o quarto grau.
A cirurgia de transgenitalização não é vedada pelo art. 13 do CC, pois entende-se que
se enquadra na situação de bem-estar psíquico (Enunciado n° 6 das Jornadas de
Direito Civil). Em consequência, poderá alterar o seu prenome e o sexo no registro
Civil.
O artigo 15 do Código Civil consagra os direitos do paciente e valoriza os princípios
da beneficência e da não maleficência. O dispositivo aborda que ninguém pode ser
constrangido a submeter-se, sob risco de vida, a tratamento médico ou intervenção
cirúrgica.
Ocorre que existem dúvidas acerca da aplicação do referido dispositivo, tendo em
vista o conflito entre os direitos fundamentais. Por exemplo: testemunhas de Jeová
não aceitam transfusão de sangue por opção religiosa. O que prevalece? O direito à
vida ou o direito à liberdade religiosa? O direito à vida prevalecerá, conforme a
técnica de ponderação, expressamente prevista no CPC (artigo 489, § 2º). Outrossim,
o Novo Código de Ética Médica, em seu artigo 41 (Resolução nº 1.931/2009 do CFM),
junto com o artigo 951 do CC, conduz à conclusão de que deve ocorrer a intervenção
médica, sob pena de responsabilização do profissional nas esferas civil, penal e
administrativa.

- Nome: O nome civil é atributo da personalidade que permite a identificação e


individualização da pessoa natural. Após o registro de nascimento da pessoa natural,
com a identificação do nome civil, somente é permitida sua alteração nos estritos
casos previstos em lei. Em regra, portanto, o nome civil é imutável. Contudo, a lei
determina ocasiões solenes em que pode ser feita sua mudança - entendendo-se aí o
prenome e/ou sobrenome -, tais como nas hipóteses de adoção (art. 47, §§ 5º e 6º da
Lei nº 8.069/90 - Estatuto da Criança e do Adolescente; arts. 95 e 96 da Lei nº
6.015/73), reconhecimento posterior de paternidade (Lei nº 8.560/92), casamento
(arts. 1.536 e 1.565, § 1º, do CC/2002 e art. 70 da Lei nº 6.015/73), divórcio (arts. 1.571,
§ 2º, e 1.578 do CC/2002), entre outras. No entanto, essa opção dada pela legislação
de inclusão do sobrenome do outro cônjuge não pode ser limitada, de forma
peremptória, à data da celebração do casamento, podendo estender-se ao período
de convivência do casal, enquanto perdurar o vínculo conjugal, pois, dada a
multiplicidade de circunstâncias da vida humana, podem surgir situações em que a
mudança se faça conveniente ou necessária. Nesses casos, porém, não poderá a
alteração de nome ser procedida diretamente pelo Oficial de Registro de Pessoas
Naturais, que atua sempre limitado aos termos das autorizações legais, devendo ser
motivada e requerida perante o Judiciário, com o ajuizamen to da ação de
retificação de registro civil prevista no citado art. 109 da Lei nº 6.015/73. Trata-se
de procedimento judicial de jurisdição voluntária, com participação obrigatória do
Ministério Público.

A norma do artigo 56 da Lei nº 6.015/73, em que pese permita ao interessado, no


primeiro ano após ter atingido a maioridade civil, alterar seu nome, condiciona
expressamente a alteração à preservação dos apelidos de família. Por outro lado,
vencido o primeiro ano da maioridade, a Lei de Registros Públicos prevê, ainda, em
seu artigo 57, a possibilidade de alteração do nome, de maneira excepcional e por
justo motivo, mediante apreciação judicial e após ouvido o Ministério Público.
O STJ já admitiu, por exemplo, as seguintes modalidades de alterações no nome: (i)
inclusão do patronímico de companheiro (REsp 1.206.656/GO, Rel. Ministra Nancy
Andrighi, DJe 11/12/2012); (ii) acréscimo do patronímico materno (REsp
1.256.074/MG, Rel. Ministro Massami Uueda, Terceira Turma, DJe 28/08/2012); (iii)
substituição do patronímico do pai pelo do padrasto (Ag 989.812/SP, decisão
monocrática, Rel. Ministro Fernando Gonçalves); (iv) inclusão do patronímico do
padrasto (REsp 538.187/RJ, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Segunda Seção, DJ
22/11/2000); (v) alteração da ordem dos apelidos de família (REsp 1.323.677/MA,
Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe 15/02/2011); (vi) inclusão do nome
de solteira da genitora, adotado após o divórcio (REsp 1.041.751, Rel. Ministro
Sidnei Beneti, Terceira Turma, DJe 03/09/2009). O STJ entende que o abandono por
parte do genitor constitui justo motivo para a alteração do nome, sendo possível
excluir os sobrenomes paternos. A supressão dos sobrenomes paternos não altera
a filiação do sujeito, pois permanecerá no seu assento de nascimento o nome do
genitor. Segundo o STJ, é admissível, ainda, a averbação, no registro de
nascimento do filho, da alteração do sobrenome de um dos genitores que, em
decorrência do divórcio, optou por utilizar novamente o nome de solteiro,
contanto que ausentes quaisquer prejuízos a terceiros. o STJ decidiu que o
brasileiro que adquiriu dupla cidadania pode ter seu nome retificado no registro
civil do Brasil, desde que isso não cause prejuízo a terceiros.
Por outro lado, a Corte de Justiça entende que o mero desejo pessoal não é motivo
justificável para a alteração do prenome.

- Nome X transexualidade:
É direito do transexual, independente de autorização judicial, realizar a cirurgia de
readequação de sexo (transgenitalização). A Resolução nº 1.995/10 do Conselho
Federal de Medicina autorizou a realização da cirurgia de transgenitalização mesmo
sem autorização judicial, desde que observados os seguintes requisitos: h Paciente
maior de 21 anos; h Diagnóstico de transgenitalismo com indicação cirúrgica; h
Avaliação prévia; h Acompanhamento de equipe multidisciplinar composta por
psiquiatra, endocrinologista, cirurgião, psicólogo e assistente social por no mínimo 2
anos.
Outro direito do transexual é a alteração do seu prenome e estado sexual.
O STJ manifestou-se no sentido de que a exigência de cirurgia de transgenitalização
para alteração do nome ou sexo no registro civil ofende a cláusula geral de proteção
à dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III) , bem como outros direitos
fundamentais dela derivados, quais sejam: direito à liberdade e à identidade (ambos
com fundamento no caput do art. 5º da CF), direito ao reconhecimento perante a lei
(Princípio 3 da Carta de Yogyakarta), direito à intimidade e à privacidade (art. 5º, X,
CF e art. 21 do CC), direito à igualdade e à não discriminação (art. 5º, caput, CF),
direito à saúde (art. 6º, CF), direito à felicidade (art. 3º, IV, CF), além de encontrar
óbice na proibição de tratamento desumano ou degradante (art. 5º, III, CF).
O STF, em 1º de março de 2018, no julgamento da ADI 4275/DF, também entendeu
pela desnecessidade de realização de cirurgia ou qualquer outro tratamento para
alteração do registro civil de pessoas transexuais, tendo, inclusive, se manifestado
expressamente pela possibilidade de tal alteração pela via administrativa, sem
necessidade de decisão judicial.

Nome social. O Decreto nº 8.727/16. O nome social é a designação pela qual a


pessoa travesti ou transexual se identifica e é socialmente reconhecida, enquanto
identidade de gênero é a dimensão da identidade de uma pessoa que diz respeito à
forma como se relaciona com as representações de masculinidade e feminilidade e
como isso se traduz em sua prática social, sem guardar relação necessária com o
sexo atribuído no nascimento. Os órgãos e as entidades da administração pública
federal direta, autárquica e fundacional, em seus atos e procedimentos, deverão
adotar o nome social da pessoa travesti ou transexual, de acordo com seu
requerimento e com o disposto neste Decreto. Parágrafo único. É vedado o uso de
expressões pejorativas e discriminatórias para referir-se a pessoas travestis ou
transexuais. O órgão ou a entidade da administração pública federal direta,
autárquica e fundacional poderá empregar o nome civil da pessoa travesti ou
transexual, acompanhado do nome social, apenas quando estritamente
necessário ao atendimento do interesse público e à salvaguarda de direitos de
terceiros.

- Direito de Imagem: Art. 20, do CC.


Súmula 403- STJ.
Em recente decisão, noticiada no site do STJ em 29/06/20205, a Terceira Turma do
Tribunal (REsp 1.772.593) entendeu que não configura dano moral o uso, em
campanha publicitária, da imagem de um torcedor de futebol no estádio, captada
sem maior destaque individual no conjunto da torcida.
Na exposição pornográfica não consentida, o fato de o rosto da vítima não estar
evidenciado de maneira flagrante é irrelevante para a configuração dos danos
morais (STJ, 3ª Turma. REsp 1.735.712-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
19/05/2020, Info 672).
Decisão: interpretação conforme do art. 20 do CC. O STF entendeu desnecessária a
autorização prévia do biografado para a publicação da biografia, por ser vedada a
censura.
Argumentos utilizados pelo STF:
a) a Constituição assegura como direitos fundamentais a liberdade de pensamento e
de sua expressão, a liberdade de atividade intelectual, artística, literária, científica e
cultural;
b) a Constituição garante o direito de acesso à informação e de pesquisa acadêmica,
para o que a biografia seria fonte fecunda;
c) a Constituição proíbe a censura de qualquer natureza, não se podendo concebê-la
de forma subliminar pelo Estado ou por particular sobre o direito de outrem;
d) a Constituição garante a inviolabilidade da intimidade, da privacidade, da honra e
da imagem da pessoa; e
e) a legislação infraconstitucional não poderia amesquinhar ou restringir direitos
fundamentais constitucionais, ainda que sob pretexto de estabelecer formas de
proteção, impondo condições ao exercício de liberdades de forma diversa da
constitucionalmente fixada.

A palavra “imagem” ali empregada tem três acepções7: a) Imagem-retrato: são as


características fisionômicas da pessoa, ou seja, o seu desenho, sua pintura, sua
fotografia. A imagem-retrato é captada pelos olhos. b) Imagem-atributo: são as
características imateriais (morais) por meio das quais os outros enxergam aquela
pessoa. É a personalidade, o caráter, o comportamento da pessoa segundo a visão
de quem a conhece. A imagem-atributo é captada pelo coração. c) Imagem-voz: são
as características do timbre de voz da pessoa. É a identificação da pessoa pela voz. O
exemplo típico é o dos locutores de TV, como Gil Gomes e Lombardi. A imagem-voz é
captada pelo ouvido.
Os Ministros fizeram, no entanto, a ressalva de que os direitos do
biografado não ficarão desprotegidos. A biografia poderá ser lançada mesmo sem
autorização do biografado, mas se ficar constatado que houve abuso da liberdade de
expressão e violação à honra do indivíduo retratado, este poderá pedir: • a reparação
dos danos morais e materiais que sofreu; • a retificação das informações veiculadas; •
o direito de resposta; • e até mesmo, em último caso, a responsabilização penal do
autor da obra.
No mesmo contexto, confira a seguinte decisão do STJ sobre a inaplicabilidade de
sua Súmula nº 403 para representação da imagem de pessoa como coadjuvante
em documentário que tem por objeto a história profissional de terceiro.
Ainda no âmbito do direito à imagem, confira a seguinte
decisão do STF sobre a inexistência do direito à indenização
em razão da divulgação, no jornal, de imagem do cadáver
morto em via pública. Jornal divulgou a foto do cadáver de
um indivíduo morto em tiroteio ocorrido em via pública. Os
familiares do morto ajuizaram ação de indenização por
danos morais contra o jornal alegando que houve violação
aos direitos de imagem.
O STF julgou a ação improcedente argumentando que
condenar o jornal seria uma forma de censura, o que afronta
a liberdade de informação jornalística.
STF. 2ª Turma. ARE 892127 AgR/SP, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 23/10/2018
(Info 921).

Lucro da intervenção é uma vantagem patrimonial obtida indevidamente com base


na exploração ou aproveitamento, de forma não autorizada, de um direito alheio.
Caso Giovanna Antonelli.
O critério mais adequado para se fazer a quantificação do lucro da intervenção é o
do enriquecimento patrimonial (lucro patrimonial). A quantificação do lucro da
intervenção deverá ser feita por meio de perícia realizada na fase de liquidação de
sentença, devendo o perito observar os seguintes critérios:
a) apuração do quantum debeatur com base no denominado lucro patrimonial;
b) delimitação do cálculo ao período no qual se verificou a indevida intervenção no
direito de imagem da autora;
c) aferição do grau de contribuição de cada uma das partes; e
d) distribuição do lucro obtido com a intervenção proporcionalmente à contribuição
de cada partícipe da relação jurídica.

Dano moral e pessoa jurídica: O Min. Luis Felipe Salomão ressaltou que o STJ admite
apenas que pessoas jurídicas de direito privado possam sofrer dano moral,
especialmente nos casos em que houver um descrédito da empresa no mercado pela
divulgação de informações desabonadoras de sua imagem. Não se pode admitir,
contudo, o reconhecimento de que o Município pleiteie indenização por dano
moral contra o particular, considerando que isso seria uma completa subversão da
essência dos direitos fundamentais.
No entanto, o STJ, em situação excepcional, afirmou que pessoa jurídica de direito
público tem direito à indenização por danos morais relacionados à violação da
honra ou da imagem, quando a credibilidade institucional for fortemente agredida
e o dano reflexo sobre os demais jurisdicionados em geral for evidente (REsp
1.722.423-RJ. Info 684). O caso concreto consiste numa autarquia (INSS) que foi
vítima de grande esquema criminoso, o qual desviou vultosa quantia e gerou grande
repercussão na imprensa, acarretando descrédito em sua credibilidade institucional.
Nesse caso, a Corte realizou um distinguish em relação aos seus próprios julgados,
considerando que estes tratavam da livre manifestação do pensamento, da
liberdade de crítica dos cidadãos ou do uso indevido de bem imaterial do ente
público. Nesse caso é diferente. A indenização está sendo pleiteada em razão da
violação à credibilidade institucional da autarquia que foi fortemente agredida em
razão de crimes praticados contra ela.

- Direito ao esquecimento: O direito ao esquecimento11 é o direito que uma pessoa


possui de não permitir que um fato, ainda que verídico, ocorrido em determinado
momento de sua vida, seja exposto ao público em geral, causando-lhe sofrimento ou
transtornos. Também é chamado de “direito de ser deixado em paz” ou o “direito de
estar só”. Em outros países, é conhecido como the right to be let alone ou derecho al
olvido.
A 4ª Turma do STJ possuía precedentes quanto à admissibilidade do direito ao
esquecimento no nosso ordenamento jurídico. No entanto, o STF decidiu em sentido
diverso sob a sistemática de repercussão geral (Tema 786).
Mesmo se reconhecendo que não existe direito ao esquecimento, a honra,
privacidade e direitos da personalidade permanecem protegidos por outros
instrumentos, tanto no âmbito penal como cível.

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