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Auditoria do SUS no contexto do SNA

ISBN 978-85-334-2484-5

9 788533 424845

Qualificação do Relatório de Auditoria


SNA
Sistema Nacional
de Auditoria

Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde


www.saude.gov.br/bvs

MINISTÉRIO DA
SAÚDE

MINISTÉRIO DA
SAÚDE
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa
Departamento de Auditoria do SUS

AUDITORIA DO SUS
NO CONTEXTO DO SNA

Qualificação do Relatório de Auditoria

Brasília – DF
2017
2017 Ministério da Saúde.
Esta obra é disponibilizada nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial –
Compartilhamento pela mesma licença 4.0 Internacional. É permitida a reprodução parcial ou total desta
obra, desde que citada a fonte.
A coleção institucional do Ministério da Saúde pode ser acessada, na íntegra, na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde:
<www.saude.gov.br/bvs>.

Tiragem: 1ª edição – 2017 – 1.000 exemplares

Elaboração, distribuição e informações: Antonia Júlia da Siva Mota


MINISTÉRIO DA SAÚDE Bruno Neves Nunes
Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa Fernando William do Couto Evangelista
Departamento de Auditoria do SUS Isa Maria Bezerra de Queiroz
Coordenação-Geral de Auditoria José Antonio Bonfim Mangueira
Coordenação-Geral de Desenvolvimento Normatização Jozimar Barros Carneiro
e Cooperação Técnica
Lucia Tavares de Sales - Interlocus Aprendizagem e
Esplanada dos Ministérios, bloco G, Edifício Premium,
Torre I, 2° andar Maria Elizabeth dos Santos Cavalcanti
Cep: 70058-900 – Brasília/df Marivânia Fernandes Torres
Tel.: (61) 3315-7938 Paula Bittencourt Gomes
Site: www.sna.saude.gov.br
E-mail: auditoria@saude.gov.br Colaboração:
Alcinda Hossana de Oliveira
Coordenação-geral: Herlon Francisco dos Santos
Adelina Maria Melo Feijão – DENASUS Jane Aurelina Temóteo de Queiroz Elias
João Batista Silva de Ávila – DENASUS Maria das Graças Marinho Cardoso
Maria Elena Ribeiro
Elaboração de texto: Silvia de Fátima Alves Dantas
Almir Serra Martins Menezes Neto - Interlocus
Aprendizagem e Colaboração Projeto gráfico capa e ilustração:
Isa Maria Bezerra e Queiroz – CGAUD/DENASUS Adriana Palumbo - Interlocus Aprendizagem e Colaboração
José Antonio Bonfim Mangueira – CGAUD/DENASUS
Jozimar Barros Carneir – CGAUD/DENASUS Normalização:
Salvatore Palumbo – Interlocus Aprendizagem e Colaboração Delano de Aquino Silva – Editora MS/CGDI

Revisão do texto: Apoio financeiro:


Adelina Maria Melo Feijão Contrato da CODEP com a empresa Interlocus
Aprendizagem e Colaboração
Ângela Cristina Maia Franco Rizental

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

Ficha Catalográfica
____________________________________________________________________________________________________________
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Auditoria do SUS.
Auditoria do SUS no contexto do SNA : qualificação do relatório de auditoria / Ministério da Saúde, Secretaria de Gestão Estratégica e
Participativa, Departamento de Auditoria do SUS. – Brasília: Ministério da Saúde, 2017.
102 p. : il.

ISBN 978-85-334-2484-5

1. Auditoria. 2. Recursos em saúde. 3. Sistema Único de Saúde (SUS). I. Título.

CDU 614.2:336.146
____________________________________________________________________________________________________________
Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2017/0112

Título para indexação:


SUS auditorship in the SNA context: qualification of the auditing report
Lista de Figuras
Figura 1 – Etapas de uma auditoria 11
Figura 2 – Aspectos tipicamente focalizados em auditorias 13
Figura 3 – Fases de uma auditoria no SNA 15
Figura 4 – Princípios éticos e profissionais do auditor 16
Figura 5 – Questão e possível constatação associadas a um objetivo de auditoria 25
Figura 6 – Variáveis que afetam a qualidade de uma auditoria 26
Figura 7 – Atividades da fase analítica de uma auditoria 28
Figura 8 – Informações que contribuem para obter visão geral do objeto a auditar
e de seu contexto 29
Figura 9 – Fontes de informação úteis para obter visão geral do objeto a auditar 30
Figura 10 – Estrutura da matriz de coleta de informações 33
Figura 11 – Matriz de análise de informações 33
Figura 12 – Especificação do conteúdo das células das matrizes de coleta e de
análise de informações (números em vermelho indicam ordem de preenchimento) 35
Figura 13 – Exemplo de matrizes de coleta e análise de informações 36
Figura 14 – Exemplos de critérios de auditoria 37
Figura 15 – Técnicas de coleta de informações indicadas conforme a finalidade 40
Figura 16 – Potencialidades e limitações das modalidades de sondagem 44
Figura 17 – Abordagens possíveis na análise de dados 48
Figura 18 – Medidas estatísticas frequentemente utilizadas em auditoria 49
Figura 19 – Estadiamento do câncer no momento do diagnóstico no Brasil em 2010 50
Figura 20 – Execução orçamentária do Programa Farmácia Popular do Brasil 51
Figura 21 – Exemplos de abordagens qualitativa e quantitativa utilizadas em auditoria 51
Figura 22 – Exemplo de cronograma de auditoria 58
Figura 23 – Exemplo de planilha de custos de uma auditoria 59
Figura 24 – A fase operativa dentro do ciclo de auditoria 71
Figura 25 – Elementos da constatação 76
Figura 26 – Atributos da evidência 77
Figura 27 – Processo lógico de identificação de constatações e formulação de recomendações 81
Figura 28 – Matriz de constatações e seu preenchimento 82
Figura 29 – Transposição de informações da matriz de constatações para o relatório preliminar 84
Figura 30 – Checklist da qualidade de um relatório de auditoria 99
Sumário
APRESENTAÇÃO 7
MÓDULO 1 - INTRODUÇÃO À AUDITORIA DO SUS 9
1.1 Processo de auditoria 10
1.2 Processo de auditoria no SUS 14
1.3 Princípios éticos e profissionais do auditor 15

MÓDULO 2 - PROGRAMAÇÃO DE AUDITORIA 20


2.1 Interpretação da demanda 21
2.2 Elaboração da tarefa 23
2.3 Programação da auditoria 26

MÓDULO 3 - FASE ANALÍTICA DA AUDITORIA 27


3.1 Atividades da fase analítica 28
3.2 Levantamento de informações sobre o objeto de auditoria 29
3.3 As matrizes de coleta e de análise de informações 31
3.4 Critérios de auditoria 36
3.5 Coleta de informações em auditoria 38
3.6 Procedimentos de análise 48
3.7 Validação das matrizes 52
3.8 Papéis de trabalho 54
3.9 Relatório analítico 56
3.10 Amostragem 59

MÓDULO 4 - FASE OPERATIVA DA AUDITORIA 70


4.1 Trabalho de campo 71
4.2 Evidências e constatações 75
4.3 Matriz de constatações 81
4.4 Relatório preliminar 84

MÓDULO 5 - FASE DE RELATÓRIO 86


5.1 O relatório de auditoria 87
5.2 Análise de justificativas do auditado 89
5.3 Elaboração de recomendações 92
5.4 Proposição de devolução de recursos 94
5.5 Elaboração de conclusão 95
5.6 Encerramento da auditoria 98

REFERÊNCIAS 101
AUDITORIA DO SUS NO CONTEXTO DO SNA 7

APRESENTAÇÃO

Seja bem-vindo ao curso Auditoria do SUS no Contexto do SNA: Qualificação do Relatório de


Auditoria !

Este curso foi desenvolvido em estreita parceria entre o DENASUS e a Interlocus com a fina-
lidade de desenvolver competências que levem à qualificação do processo de auditoria do
SUS, em especial do relatório de auditoria.

A premissa que orienta este projeto é a de que a ênfase na aplicação consistente de méto-
dos e técnicas de auditoria ao contexto do Sistema Nacional de Auditoria aliada ao maior
envolvimento dos servidores na construção de cada trabalho conduz a níveis mais elevados
de qualidade.

O curso intercala a apresentação e o debate de conceitos e aspectos relevantes ao exercício


da responsabilidade de auditar o SUS com atividades práticas.

O desenvolvimento de conhecimentos e habilidades não se esgota com o curso, mas conti-


nua na Comunidade de Práticas dos Trabalhadores do DENASUS (https://novo.atencaobasi-
ca.org.br).

Convidamos você a participar ativamente desta iniciativa!

DENASUS e Equipe Interlocus


MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 9

MÓDULO 1
INTRODUÇÃO À
AUDITORIA DO SUS

O Sistema Único de Saúde (SUS), que teve suas de controle, desempenha papel fundamental
bases lançadas na Constituição Federal de 1988 para a melhoria da qualidade dos serviços de
e sua implantação iniciada na década de 1990, saúde prestados pelo SUS. Entre as atividades
propõe-se a oferecer atendimento integral à executadas pelo SNA estão as auditorias, ins-
população por meio de gestão descentraliza- trumentos com grande potencial para detec-
da com a participação da União, dos estados tar falhas, irregularidades e oportunidades de
e dos municípios brasileiros. A criação do SUS melhoria na gestão do SUS, desde que realiza-
colocou o Brasil como um dos primeiros paí- das observando-se princípios, métodos e téc-
ses fora da Organização para a Cooperação e nicas apropriados.
Desenvolvimento Econômico (OCDE) a incluir
na legislação o acesso universal aos serviços Este capítulo está organizado para apoiar o de-
de saúde, reconhecendo a saúde como direito senvolvimento do módulo 1 em sala de aula,
do cidadão e dever do Estado (Nações Unidas, cujo objetivo é de preparar os participantes
2013). para descrever o processo de auditoria reali-
zado no contexto do SNA e reconhecer e valo-
O SUS movimenta mais de 170 bilhões de re- rizar os princípios éticos e profissionais essen-
ais por ano, considerando as três esferas da ciais ao exercício da função de auditor do SUS.
federação, e tem contribuído para ampliar o
acesso da população aos serviços básicos de
saúde, com importante impacto na redução
da mortalidade. Contudo, ainda enfren-
ta uma série de desafios relacionados à
aplicação dos recursos públicos visando
obter ganhos de eficiência, eficácia e efe-
tividade e garantir o acesso aos serviços
com equidade.

O Sistema Nacional de Auditoria


(SNA), por meio de suas atividades
10 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

O capítulo é composto pelas seguintes seções e objetivos de aprendizagem:

Seção Objetivos de aprendizagem

Os participantes deverão ser capazes de descrever o processo


Processo de auditoria no SUS de auditoria, sua finalidade e seus elementos, bem como de
reconhecer características do processo de auditoria no SUS.

Os participantes deverão ser capazes de reconhecer e valorizar


Princípios éticos e
os princípios éticos e profissionais essenciais ao exercício da
profissionais do auditor
função de auditor.

1.1 Processo de auditoria A observação atenta dessa definição permite


focalizar os seguintes elementos essenciais à
Auditar significa emitir uma opinião conclusi- compreensão do que é auditoria:
va sobre uma dada situação encontrada em
relação a um critério disponível ou inferido, a) Auditoria é um processo sistemático, pois
dentro dos limites permitidos pelo conjunto se estrutura em três etapas consecutivas,
de exames empregados. Ou seja, o objetivo que são o planejamento da auditoria, sua
de uma auditoria é sempre verificar em que execução e a comunicação de seus resulta-
medida uma situação encontrada se distan- dos por meio de relatório formal. Além dis-
cia do que deveria ser segundo algum critério so, cada fase vale-se de procedimentos es-
estabelecido nas leis, normas, ou princípios. pecíficos que devem ser aplicados de forma
rigorosa.
As Normas de Auditoria do TCU definem au-
ditoria nestes termos: b) Auditoria é um processo documentado,
pois todos os seus procedimentos e produtos
Auditoria é o processo sistemático, docu-
mentado e independente de se avaliar ob-
(papéis de trabalho, relatórios) devem ser re-
jetivamente uma situação ou condição para gistrados segundo determinados padrões de
determinar a extensão na qual critérios são
atendidos, obter evidências quanto a esse
modo a assegurar sua revisão e a organização
atendimento e relatar os resultados dessa das constatações e evidências obtidas.
avaliação a um destinatário predetermina-
do (TCU, 2011).
O órgão de auditoria deve formalizar um
MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 11

Planejamento Execução Relatório

Figura 1 - Etapas de uma auditoria


Fonte: Interlocus, 2015.

método para executar suas auditorias, estabe- f) A eventual discrepância entre a situação
lecendo os padrões que elas deverão observar, existente e o critério originará a constatação
incluindo regras claras quanto à documentação. de auditoria. Evidências são elementos de
comprovação da discrepância (ou não) entre
c) Auditoria requer atitude de independência a situação encontrada (real) e o critério de
por parte do auditor, de modo a assegurar a auditoria (ideal).
imparcialidade do seu julgamento, nas fases de
planejamento, execução e emissão de seu pare- g) Os resultados de uma avaliação de audito-
cer, bem como nos demais aspectos relaciona- ria são relatados a um destinatário predeter-
dos com sua atividade profissional. minado, que normalmente é quem solicitou
a auditoria, sem prejuízo de outros interessa-
d) Auditoria é um processo de avaliação ob- dos. Por meio de um relatório formal e técni-
jetiva, o que significa que na execução de suas co, o auditor comunica o objetivo, o escopo, a
atividades, o auditor se apoiará em fatos e evi- extensão e as limitações do trabalho, as cons-
dências que permitam o convencimento razoá- tatações de auditoria, as avaliações, opiniões,
vel da realidade ou a veracidade dos fatos, do- recomendações e conclusões.
cumentos ou situações examinadas, permitindo
a emissão de opinião com bases consistentes. A ausência de qualquer um desses elementos
pode tornar sem efeito o processo de audito-
e) A avaliação objetiva é feita comparando-se ria. Não é possível, por exemplo, assegurar a
uma situação real, encontrada na gestão ou qualidade da auditoria se o auditor não está
atividade auditada, com uma situação ideal, numa posição de independência ou se não
chamada de critério de auditoria. O critério, faz uma avaliação baseada em evidências.
portanto, é o referencial utilizado pelo audi- Não é possível revisar ou comunicar os re-
tor para fazer seus julgamentos em relação à sultados da auditoria se o processo não for
situação ou condição existente. Critérios de documentado.
auditoria são encontrados em leis, normas e
padrões relativos ao objeto da auditoria.
12 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Como visto, o objetivo da auditoria é comparar ainda considerar as possíveis dificuldades e


uma determinada situação real (encontrada) limitações na obtenção das informações.
com uma situação desejada (critério), e dizer
de maneira inequívoca o quão distante elas Se o planejamento for bem feito, a execução
estão. Trata-se de identificar o critério, obter consistirá em aplicar os instrumentos dese-
a melhor descrição possível da situação atual nhados no planejamento. A realização dos
que permita essa comparação, e então con- exames permitirá a obtenção das informa-
frontar situação e critério. ções que permitiram avaliar em que medi-
da a situação encontrada está adequada ao
Assim, o processo de auditoria é voltado para critério.
a obtenção das evidências suficientes e neces-
sárias que permitam a comparação com o cri- O relatório consiste da exposição completa,
tério obtido. Antes de se buscar as evidências, objetiva e clara das constatações, evidências
deve-se definir quais informações são suficien- e conclusões obtidas. Nesse sentido, deve
tes para caracterizar a situação encontrada, explicitar não apenas a situação encontrada,
onde e como essas informações serão obtidas, mas também os critérios e o conjunto de evi-
que tipo de análise a comparação com o cri- dências. Seja qual for o resultado dos exames,
tério exige e quais as possíveis limitações que o relatório deve conter todos os elementos
podem surgir nesse processo. Uma vez obti- necessários para que o leitor seja conduzido
das as informações e o critério e realizado o às mesmas conclusões da equipe de audito-
confronto entre eles, parte-se para elaborar as ria, não deixando espaços para imprecisões,
conclusões e, por fim, o relatório de auditoria. suposições e elucubrações. Para tanto, deve
explicitar a metodologia utilizada para obten-
Resumidamente, o processo de auditoria en- ção e análise das informações, de modo a ga-
volve (a) um planejamento, que procura ante- rantir que os procedimentos e resultados da
cipar os exames necessários para descrever a auditoria possam ser reproduzidos.
situação encontrada; (b) a realização dos exa-
mes propriamente ditos, que é a fase de exe- Vale ressaltar que a qualidade de um relató-
cução; (c) e por fim a elaboração do relatório, rio de auditoria não se deve à boa escrita do
que apresenta as constatações e conclusões. auditor, embora isso possa contribuir para a
clareza e capacidade comunicativa do relató-
Um bom planejamento parte da determinação rio. O que vai garantir a qualidade do relató-
precisa dos objetivos da auditoria para iden- rio é a robustez metodológica dos procedi-
tificar quais as informações necessárias para mentos, fator essencial para a objetividade e
caracterizar suficientemente os critérios e as suficiência dos exames, a confiabilidade e ra-
situações encontradas, e ainda como essas in- zoabilidade das conclusões e determinações,
formações serão obtidas. Além disso, deve-se e a veracidade das informações.
MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 13

Percebe-se que a qualidade do relatório de- a regularidade dos atos de gestão praticados
pende da qualidade das constatações, evi- com foco em legalidade e legitimidade dos
dências e conclusões obtidas, a qual resulta atos é chamada de auditoria de regularidade
de uma boa execução, assim entendida a que ou de conformidade. É por meio da audito-
fornece as evidências necessárias e suficien- ria de conformidade que se busca identificar
tes para sustentarem logicamente as consta- fraudes e desvios de recursos.
tações. Uma boa execução, por sua vez, de-
pende de um bom planejamento, pois é no Quando o objetivo é avaliar o desempenho da
planejamento que a equipe se prepara para gestão de um órgão, processo ou serviço, a
a execução. Portanto, uma auditoria bem su- auditoria é denominada auditoria operacional
cedida começa no planejamento, que para ou de desempenho. Os aspectos tipicamente
ser eficaz deve ser detalhado e metodologica- focalizados numa auditoria de desempenho
mente suportado. são eficácia, qualidade, equidade e efetivida-
de. Há aspectos que podem estar presentes
Uma distinção comum entre tipos de auditoria tanto num quanto noutro tipo de auditoria,
se dá em razão dos aspectos focalizados nos como mostrado na figura 2.
trabalhos. Uma auditoria que busque verificar

AUDITORIA DE CONFORMIDADE AUDITORIA DE DESEMPENHO

LEGALIDADE EFETIVIDADE
ECONOMICIDADE
LEGITIMIDADE EQUIDADE
EFICIÊNCIA
DESVIO DE QUALIDADE
RECURSOS DESPERDÍCIO

EFICÁCIA
FRAUDE

Figura 2 - Aspectos tipicamente focalizados em auditorias


Fonte: Interlocus, 2015.
14 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

É importante ressaltar que pode haver aspec- Esse novo paradigma de auditoria, compro-
tos de conformidade e de desempenho em metido com o fortalecimento da gestão,
uma mesma auditoria. Nesse caso, sua classi- requer profissionais trabalhando na lógica
ficação será definida pelo foco principal. Por de um observatório social das questões de
exemplo, em uma auditoria para avaliar o de- resolutividade do SUS, visando contribuir
sempenho de um serviço de saúde, pode-se efetivamente para a construção do modelo
pretender verificar a legalidade de determina- de saúde voltado para qualidade de vida e
dos atos de gestão. Trata-se de uma auditoria cidadania (BRASIL, 2011a).
predominantemente de desempenho.
Nesse contexto, as finalidades da auditoria do
1.2 Processo de auditoria no SUS SUS consistem em:

Auditorias no âmbito do SUS, em princí-


pio, são realizadas pelos componentes do Finalidades da auditoria do SUS
Sistema Nacional de Auditoria do SUS (SNA),
que se estrutura de forma descentralizada,
sendo suas ações desenvolvidas em três ins- Aferir a observância dos padrões
tâncias de gestão: Ministério da Saúde, por estabelecidos de qualidade, quantidade,
custos e gastos da atenção à saúde;
meio do DENASUS; Secretarias Estaduais de
Saúde; e Secretarias Municipais de Saúde.
Avaliar os elementos componentes dos
A auditoria, na concepção trazida pelo SNA, processos da instituição, serviço ou sistema
auditado, objetivando a melhoria dos
é um instrumento de qualificação da gestão procedimentos, por meio da detecção de
que visa fortalecer o Sistema Único de Saúde desvios dos padrões estabelecidos;
(SUS) por meio de recomendações e orien-
tação ao gestor para a alocação e utilização
adequada dos recursos, a garantia do aces- Avaliar a qualidade, a propriedade e a
so e a qualidade da atenção à saúde ofere- efetividade dos serviços de saúde prestados
à população;
cida aos cidadãos. Auditoria é vista como
um meio para que o SNA possa ampliar o
diálogo com as políticas públicas de modo a
Produzir informações para subsidiar o
gerar melhoria dos indicadores epidemioló- planejamento das ações que contribuam
gicos e de bem-estar social, e no acesso e na para o aperfeiçoamento do SUS.
humanização dos serviços (BRASIL, 2011a).
MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 15

O processo de auditoria do SUS obedece à lógica apresentada na seção 1.1, com o uso de alguns
termos próprios. As fases da auditoria no âmbito do SNA recebem nomes específicos, indicados
na figura 3.

Fase Analítica Fase Operativa Relatório

Figura 3 - Fases de uma auditoria no SNA


Fonte: Interlocus, 2015.

A fase analítica tem por objetivo organizar in- constatações, recomendações e a conclusão
formações de maneira a facilitar execução do do trabalho. É peça de comunicação do resul-
trabalho de campo. O produto dessa fase é tado da auditoria ao demandante, ao órgão/
o relatório analítico, que traz uma síntese da instituição auditada e ao público, mediante
coleta de dados sobre o objeto da auditoria e publicação na internet.
indica a natureza, a extensão e a profundidade
dos exames. Um bom relatório analitico orien- As auditorias no DENASUS são realizadas por
ta a equipe e otimiza o tempo da verificação equipes lideradas por coordenador e acompa-
in loco. nhadas por supervisor técnico.

A fase operativa consiste no trabalho de cam- 1.3 Princípios éticos e profissionais


po propriamente dito. O produto dessa fase é do auditor
o relatório preliminar, o qual descreve as cons-
tatações preliminares da equipe de auditoria e Para que o órgão de auditoria e o auditor pos-
presta-se a embasar a notificação do auditado sam desempenhar bem sua missão, é essen-
para que apresente justificativas em caso de cial observar os princípios éticos e profissio-
falhas ou irregularidades. nais apresentados na figura 4. Tais princípios
devem ser assegurados tanto pelo órgão de
A terceira fase, de elaboração do relatório fi- auditoria, quanto pela atitude e comporta-
nal de auditoria, faz a análise das justificati- mento do auditor.
vas dos responsáveis (se houver) e apresenta
16 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Princípios Éticos e Profissionais inadequada, obter ganho pessoal ou organiza-


cional. Agindo com integridade, o auditor pode
1. Comportamento ético lidar adequadamente com as pressões, priorizan-
do suas responsabilidades para com o interesse
2. Independência público.

3. Imparcialidade Independência

4. Objetividade Ser independente significa manter-se livre de in-


fluências ideológicas, partidárias, ou situações que
5. Competência e capacidade profissional possam enviesar o julgamento. Significa também
manter-se afastado da influência do auditado ou
6. Ceticismo e julgamento profissional de interesses de terceiros que possam afetar seu
julgamento. Portanto, não basta manter uma pos-
7. Zelo profissional tura independente, mas é necessário fazer com
que os interessados na auditoria percebam essa
8. Uso de informações de terceiros condição.

9. Sigilo Imparcialidade

10. Cortesia O auditor deve se abster de intervir em casos


onde haja conflito de interesses que possam
Figura 4 - Princípios éticos e profissionais do auditor influenciar a imparcialidade do seu trabalho,
Fonte: Interlocus, 2015.
especialmente participar de auditorias nas si-
tuações em que o responsável auditado seja
Comportamento ético cônjuge, parente consanguíneo ou afim, em
linha reta ou colateral, até o terceiro grau, ou
O auditor deve, como servidor público, compro- pessoa com quem mantenha ou manteve laço
meter-se a proteger os interesses da sociedade e de amizade ou inimizade ou que envolva en-
a respeitar as normas de conduta que regem os tidade com a qual tenha mantido vínculo pro-
servidores públicos. fissional nos últimos dois anos.

O auditor, no curso de suas atividades, pode se O auditor deverá declarar impedimento ou


deparar com interesses conflitantes de gesto- suspeição nas situações que possam afetar,
res e autoridades governamentais e de outros ou parecer afetar, o desempenho de suas fun-
possíveis interessados e, em virtude disso, sofrer ções com imparcialidade, comunicando o fato
pressões para violar princípios éticos e, de forma a seus superiores.
MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 17

Objetividade Competência e capacidade profissional

Na execução de suas atividades, o auditor Auditoria é um trabalho multidisciplinar e com-


deve adotar métodos e procedimentos reco- plexo. Em razão disso, os membros da equipe
nhecidos e aceitos para obter e organizar evi- de auditoria devem possuir, coletivamente, o
dências, formar convicção sobre as situações conhecimento, as habilidades e a competên-
examinadas e emitir opinião tecnicamente cia necessários para concluir com êxito uma
fundamentada. Isso exige que os trabalhos se- auditoria.
jam realizados por profissionais competentes
que detenham os conhecimentos necessários. Atuar em uma auditoria requer compreensão
e experiência prática acerca do tipo de audi-
As constatações e conclusões de auditoria de- toria que está sendo realizada, familiaridade
vem estar sustentadas em sua totalidade pelas com as normas e a legislação aplicáveis, en-
evidências coletadas. Qualquer afirmação para tendimento das operações da entidade audi-
além do que as evidências permitem deve ser tada e habilidade e experiência para exercer
evitada, pois compromete a objetividade e julgamento profissional. Também requer do
confiabilidade desses resultados. auditor competência na aplicação de méto-
dos e técnicas de auditoria e conhecimentos
As análises devem estar bem documentadas, a contábeis, financeiros, de gestão pública e de
ponto de poderem ser reproduzidas. Aqui vale saúde pública.
a analogia com as ciências naturais: os resulta-
dos obtidos devem, em princípio, ser obtidos O auditor não deve fazer análises e julgamen-
por qualquer pessoa que aplique os mesmos tos que não sejam amparados pela melhor téc-
métodos, aos mesmos objetos, em situações nica e conhecimento disponível, sob pena de
semelhantes. comprometer a confiabilidade dos resultados.
Não significa que o auditor deva ser um espe-
cialista em todos os assuntos, mas que deve
buscar se certificar de que suas ações estão
Importante embasadas nas melhores práticas.

Não existe “achismo” na De toda forma, a atuação do auditor exige a


auditoria. Ou existem atualização constante de suas competências
evidências ou não há e conhecimentos técnicos. O auditor do SNA
constatação. deve acompanhar a evolução das normas, pro-
cedimentos e técnicas aplicáveis ao Sistema
Nacional de Auditoria e ao SUS.
18 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

membro da equipe ou do supervisor. A na-


Importante tureza coletiva de uma auditoria requer que
os argumentos sejam expostos ao contradi-
O auditor não deve tório com o objetivo de testar sua validade e
realizar um trabalho para garantir a consistência do trabalho.
o qual não disponha das
competências necessárias.
Zelo profissional

Os auditores devem exercer devido zelo


Ceticismo e julgamento profissional visando assegurar que seu comportamen-
to profissional é apropriado. O auditor de-
A atitude do auditor deve ser caracterizada monstra zelo profissional ao planejar e exe-
pelo ceticismo profissional e pelo julgamen- cutar auditorias de uma maneira diligente,
to profissional, utilizados quando tomam focada nos objetivos estabelecidos, e ao evi-
decisões sobre o curso de ação apropriado, tar qualquer conduta que possa desacredi-
como, por exemplo, no planejamento dos tar seu trabalho.
seus exames, na seleção e aplicação de pro-
cedimentos técnicos e testes de auditoria, Atuar com zelo implica observar normas e
na definição de suas conclusões e na elabo- procedimentos que se aplicam à sua função
ração dos seus relatórios e pareceres. de auditor público agir com prudência, habi-
lidade e atenção de modo a reduzir ao míni-
Ceticismo profissional significa manter dis- mo a margem de erro.
tanciamento profissional e uma atitude aler-
ta e questionadora ao avaliar a suficiência e Uso de informações de terceiros
adequação da evidência obtida ao longo da
auditoria. Também significa manter a mente O auditor pode valer-se de informações
aberta e receptiva a todos os pontos de vista anteriormente produzidas pelos profissio-
e argumentos. nais do Sistema Nacional de Auditoria, não
necessitando reconfirmá-las ou retestá-las,
O julgamento profissional significa a aplica- pois foram obtidas com as mesmas técnicas
ção coletiva de conhecimentos, habilidades e a observação das mesmas normas no âm-
e a experiência dos membros da equipe ao bito do Sistema. Ao utilizar informações pro-
processo de auditoria. A prerrogativa do jul- duzidas fora do SNA, o auditor deve obter
gamento profissional não dá ao auditor o evidência da competência e independência
direito de manter opiniões que não se sus- dos outros auditores ou especialistas e da
tentam diante de argumentos válidos de um qualidade do trabalho que realizaram.
MÓDULO 1 – Introdução à Auditoria do SUS 19

Sigilo Credibilidade

O auditor é obrigado a utilizar os dados e as in- A credibilidade dos auditores do SNA não é um
formações que obteve no desempenho de sua princípio, mas o resultado da percepção de
função somente na execução dos serviços que que os trabalhos são conduzidos em conformi-
lhes foram confiados. Salvo determinação legal dade com todos os princípios éticos e profis-
ou autorização expressa da alta administração, sionais aqui listados.
nenhum documento, dado ou informação po-
derá ser fornecido ou revelado a terceiros, nem Em auditoria no setor público, vale a máxi-
deles poderá utilizar-se o auditor, direta ou indi- ma que diz que não basta apenas ser fiel aos
retamente, em proveito pessoal ou de terceiros. princípios éticos e profissionais, mas deve-se
também parecer; ou seja, a equipe de audi-
Cortesia toria deve se comportar de acordo com esses
princípios, e exemplificar essas qualidades no
O auditor deve manter atitude serena e tratar dia-a-dia. Importa destacar que a confiança e
com cortesia, de forma justa e equilibrada, a o respeito públicos de um auditor depende em
todos com os quais se relaciona profissional- grande parte da impressão deixada por outros
mente (superiores, subordinados, pares e re- auditores, do presente e do passado.
presentantes das entidades auditadas). Deve
agir com cortesia sem, contudo, abrir mão das
prerrogativas de sua função.

Na sua relação com o auditado, o auditor deve


ser cortês, respeitando o interlocutor e evitan-
do o pedantismo de achar que sabe mais do
que o gestor. Lembre-se de que é fundamental
para o trabalho do auditor saber ouvir. Não se
pode ouvir sem a devida atenção e verdadeiro
interesse, coisas incompatíveis com a postura
de que se sabe tudo.

Uma atitude cortês estimula a cooperação en-


tre as partes e favorece a troca de informações
entre auditor e auditado, o que contribui para
a qualidade do trabalho.
20 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

MÓDULO 2
PROGRAMAÇÃO DE
AUDITORIA

As atividades de controle no âmbito do SNA importantes no processo de auditoria serão


nascem de demandas apresentadas por cida- abordados em seguida, tais como questão de
dãos e órgãos públicos, e de demandas criadas auditoria e escopo da auditoria.
por algum componente do Sistema, como é o
caso do DENASUS, ou pelas áreas técnicas do Este capítulo está organizado para apoiar o de-
Ministério da Saúde. A demanda é interpre- senvolvimento do módulo 2 em sala de aula,
tada e dá origem à tarefa, que é a tradução cujo objetivo é de preparar os participantes
da demanda em termos de orientações para para interpretar uma demanda por ação de
nortear o trabalho da equipe de auditoria. controle e elaborar a respectiva tarefa definin-
Uma tarefa pode dar origem a uma ou mais do objetivos, prazos e escopo da ação.
auditorias, que são programadas individual-
mente de modo a definir onde, como, quan- O capítulo é composto pelas seguintes seções
do e por quem serão executadas. Conceitos e objetivos de aprendizagem:

Seção Objetivos de aprendizagem

Interpretação da Dada uma demanda, os participantes deverão ser capazes de


demanda interpretá-la e de propor um objetivo de auditoria compatível.

Dada uma demanda e o respectivo objetivo de auditoria, os


participantes deverão ser capazes de, em equipes, formular questões
Elaboração da a serem respondidas e hipóteses sobre possíveis constatações;
tarefa delimitar o escopo da auditoria especificando, na tarefa, localidades,
organizações, processos, atividades e período de abrangência; e
estimar o prazo da ação.
MÓDULO 2 – Programação de Auditoria 21

2.1 Interpretação da demanda Se a CGU solicita uma auditoria e espera a


resposta, a CGU é o demandante. Se um ci-
O conceito de demanda corresponde à solici- dadão faz uma denúncia à CGU que, com
tação de atividade de controle dirigida a um base na denúncia, formula uma demanda ao
componente do SNA feita por um demandan- DENASUS e indica que a resposta deve ser en-
te, que pode ser cidadão, órgão público ou o viada ao cidadão, então o cidadão é o deman-
próprio componente. Deste ponto em dian- dante. Caso uma demanda originada da de-
te, faremos referência ao componente fede- núncia de um cidadão seja enviada pela CGU
ral do SNA – o DENASUS, ressaltando que as ao DENASUS com indicação de que a resposta
afirmações feitas em relação a esse compo- deve ser encaminhada à própria CGU, então
nente guardam analogia com componentes esse órgão será, aos olhos do DENASUS, o
estaduais e municipais do Sistema. Também demandante.
daremos ênfase ao foco deste curso, que são
as auditorias, em vez de tratarmos do gênero Certos elementos são necessários para carac-
atividade de controle. terizar uma demanda:

Entre os órgãos públicos que demandam au- • demandante;


ditorias estão órgãos do próprio Ministério • objeto da auditoria;
da Saúde, Advocacia-Geral da União (AGU), • teor da demanda; e
Departamento de Polícia Federal (DPF), • documentos que dão origem e suporte
Justiça Federal e entidades de classe. à demanda (p.ex. expediente, parecer,
Também figuram entre os demandantes de acórdão).
auditorias no SUS órgãos de controle, tais
como Controladoria-Geral da União (CGU), Quem recebe e registra a demanda deve, no
Tribunal de Contas da União (TCU), Ministério mínimo, certificar-se de que a demanda apre-
Público Federal (MPF), Tribunais de Contas senta os elementos suficientes para possibili-
dos Estados (TCEs) e Ministério Público dos tar a elaboração da tarefa.
Estados (MPEs).
O objeto da auditoria indica o que deve
Quando uma demanda chega ao DENASUS ser auditado. São exemplos de objetos a
por meio de um expediente e documentos de Estratégia Saúde da Família, uma Unidade de
suporte, vem acompanhada da informação Pronto Atendimento, a gestão de um hospital
de quem deve ser o destinatário da resposta e recursos repassados pelo Fundo Nacional
quanto ao resultado da auditoria. Considera- de Saúde.
se esse destinatário como o demandante,
que nem sempre coincide com o agente que, O teor da demanda deve ser significati-
de fato, originou a demanda. vo a ponto de ensejar a realização de uma
22 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

auditoria. Normalmente deve apontar fatos, que não se sabe o quê, nem por que auditar.
indícios ou caracterizações de falhas, irregulari- A menos que o órgão seja mais específico, o
dades ou problemas de desempenho na opera- DENASUS não tem condições adequadas para
cionalização do SUS, ou ainda recomendações ser eficaz e eficiente em uma eventual tentati-
ou determinações de órgãos de controle que va de atender à demanda.
devem ser monitoradas a fim de verificar seu
cumprimento. Tomemos, agora, o caso de uma demanda
vinda da Secretaria de Ciência, Tecnologia
Por ser a demanda insumo básico desencadea- e Insumos Estratégicos (SCTIE/MS), cujo
dor de uma atividade de controle, o seu enten- teor diz que o Departamento de Assistência
dimento e cadastro fidedigno no SISAUD/SUS, Farmacêutica (DAF) verificou que a maioria
qualifica a auditoria a ser realizada. das receitas apresentadas ao estabelecimento
Décio Brasso Ltda no Município de Porto dos
A demanda deve ser interpretada visando ob- Milagres foi emitida pelo mesmo médico com
ter as seguintes especificações para o desenho grafias diferentes. Os fatos se verificaram no
da atividade de controle: contexto do Programa Farmácia Popular do
Brasil. São tais elementos suficientes para que
• tipo de atividade de controle (auditoria ou a demanda possa ser interpretada em termos
visita técnica, entre outros); e de tipo e objetivo de atividade de controle?
• objetivo da atividade de controle.
Com base nas informações trazidas pela de-
Tais especificações conferem foco à demanda manda, é possível fazer tal interpretação:
e são o primeiro passo para a delimitação de
escopo. Quando falta algum elemento impor- • Tipo de atividade de controle: auditoria;
tante na demanda apresentada, a qualidade • Objetivo: verificar a regularidade das dis-
dessas especificações fica prejudicada, inviabi- pensações realizadas pelo estabelecimen-
lizando o atendimento da demanda. to Décio Brasso Ltda em Porto dos Milagres
no âmbito do Programa Farmácia Popular
Tomemos, como exemplo, uma demanda fic- do Brasil.
tícia vinda de um Ministério Público Estadual
que solicita “auditoria de amplo escopo no Uma informação que poderia complementar
Hospital São Joaquim no Município de Rio essa especificação seria o período em que tais
Seco”. O teor dessa demanda não aponta fa- fatos foram verificados pelo DAF, o que daria
tos ou indícios de irregularidades ou impro- melhor foco à auditoria.
priedades que indiquem a necessidade de
uma auditoria, o que impede que se faça um
planejamento da ação de controle, uma vez
MÓDULO 2 – Programação de Auditoria 23

2.2 Elaboração da tarefa

Conceitua-se tarefa como o conjunto de infor- São exemplos de tarefas formuladas de modo
mações que permite à equipe nortear a rea- incompleto:
lização da auditoria demandada. A principal
finalidade da tarefa é delimitar o escopo da • “Realizar Auditoria no Município de
auditoria e estimar o prazo de execução. Santana do Agreste com a finalidade de
verificar se os recursos da Atenção Básica
Define-se escopo como a indicação da abran- estão sendo remanejados para outro blo-
gência e dos limites da auditoria. O escopo in- co de financiamento, proibido pela PT/GM
clui as questões a responder, bem como loca- nº 204, de 29/01/2007. Período de realiza-
lidades, organizações, processos, atividades e ção: 11/2 a 31/3/2014”.
períodos que serão alcançados pela auditoria.
Escopo refere-se ao que será feito na auditoria. • “Por solicitação do Ministério Público
Para deixar claro o que não será realizado no Federal, realizaremos auditoria para veri-
curso da auditoria, pode-se especificar o cha- ficar a aplicação dos recursos da Dengue
mado não escopo, como é usual na gestão de pela Secretaria Municipal de Saúde de
projetos. Uma auditoria pode mesmo ser vista Ouro Negro. Período de realização: não
como um projeto, visto que é uma empreitada previsto”.
de tempo limitado e objetivos definidos.
Em ambos os exemplos, faltou indicar o pe-
É recomendável que a tarefa seja elaborada ríodo abrangido pela auditoria, bem como a
em equipe. A participação de auditores com abrangência do que será examinado (ativida-
experiências distintas aumenta a chance de des, localidades).
que a tarefa elaborada seja coerente com a
demanda e que traga as informações necessá- Ao elaborar tarefas, pode-se apoiar na experi-
rias para orientar a equipe na execução da au- ência construída pelo DENASUS. Examinando-
ditoria. Envolver a equipe desde cedo também se o planejamento e o resultado de auditorias
melhora a eficiência da fase analítica. realizadas anteriormente em objetos e com
escopos semelhantes, pode-se obter informa-
Um dos usos da tarefa é servir de parâmetro ções úteis para a especificação da tarefa, tais
para que, ao final, seja possível a um auditor como:
que não tenha participado do trabalho ler o
relatório de auditoria e se pronunciar sobre se • questões investigadas;
o resultado atendeu ao que foi demandado. • constatações mais frequentes;
Obviamente uma tarefa mal elaborada preju- • existência de modelos de papéis de traba-
dica essa revisão por terceiros. lho que podem ser aproveitados;
24 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

• número de localidades visitadas; metodologia a adotar. Questões de auditoria


• suficiência do prazo planejado. podem ser de quatro tipos (BRASIL, 2010a):

Se uma equipe vai realizar pela primeira vez a) Questões descritivas: São formuladas de ma-
uma auditoria sobre um objeto diversas vezes neira a descrever condições de implementação
auditado pelo DENASUS, pode ganhar tempo ou de operação de um programa ou atividade,
e qualidade na elaboração da tarefa ao tomar mudanças ocorridas, problemas e áreas com
conhecimento de quais questões nortearam potencial de aperfeiçoamento. Exemplo: “como
auditorias similares, como outras equipes pro- os gestores hospitalares estão operacionalizan-
cederam e o que encontraram. do o atendimento aos pacientes?”;

Formulando questões de auditoria b) Questões normativas: tratam de compara-


ções entre a situação existente e aquela esta-
Questões de auditoria, elemento fundamen- belecida em norma, padrão ou meta, tanto
tal do escopo, devem ser formuladas e regis- de caráter qualitativo quanto quantitativo.
tradas na tarefa. Questões de auditoria for- Exemplos: “o programa tem alcançado as me-
muladas na elaboração da tarefa podem ser tas previstas?”; “os contratos de prestação
aperfeiçoadas e desdobradas em subquestões de serviços ao SUS firmados pela Secretaria
durante a fase analítica, após o levantamento Municipal de Saúde atendem aos requisitos le-
de informações sobre o objeto a auditar e seu gais e normativos?”;
contexto.
c) Questões avaliativas (ou de impacto): refe-
As questões de auditoria estabelecem o foco da rem-se à efetividade do objeto de auditoria e
investigação. Questões de auditoria bem for- buscam saber que diferença fez a intervenção
muladas possuem as seguintes características: governamental para a solução do problema
identificado. Exemplo: “em que medida a redu-
• são claras e específicas; ção da mortalidade infantil no município pode
• apresentam viabilidade investigativa; ser atribuída ao Programa Saúde da Família?”;
• o conjunto de questões apresenta articula-
ção e coerência entre si e é capaz de escla- d) Questões exploratórias: voltadas a revelar as
recer o problema apontado na demanda. razões de ocorrência de um determinado re-
O tipo de questão formulada terá uma re- sultado. Exemplo: “que fatores explicam o au-
lação direta com a natureza da resposta e a mento expressivo nos gastos com manutenção
preventiva das unidades móveis do Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência – SAMU 192
ao longo da última década?”.
MÓDULO 2 – Programação de Auditoria 25

A formulação das questões de auditoria é um Para cada questão, deve-se formular uma hi-
processo interativo, que parte das informações pótese sobre a possível constatação, que indi-
oferecidas pela demanda e torna-se mais acura- ca a resposta mais provável a se obter conside-
da conforme se obtém informações sobre o ob- rando-se informações trazidas pela demanda
jeto na fase analítica. É usual empregar a técnica e por auditorias similares realizadas anterior-
de brainstorming na equipe de auditoria para mente. Tal procedimento contribui para au-
gerar opções de questões, seguida por arranjos mentar o foco da auditoria e facilita a identifi-
lógicos entre o problema a examinar e as ques- cação das informações requeridas, suas fontes
tões e subquestões de auditoria até se alcançar e procedimentos de coleta e análise.
uma configuração satisfatória de questões.

Verificar a regularidade das dispensações realizadas pelo


Objetivo de auditoria estabelecimento Décio Brasso Ltda em Porto dos Milagres no
âmbito do Programa Farmácia Popular do Brasil.

A empresa está dispensando medicamentos em conformidade


Questão de auditoria com a legislação aplicável do Programa Farmácia Popular do
Brasil?

Dispensações de medicamentos no Programa Farmácia Popular do


Possível constatação
Brasil não comprovadas.

Figura 5 – Questão e possível constatação associadas a um objetivo de auditoria


Fonte: Interlocus, 2015.

Restrição tripla em auditorias qualidade da auditoria. Assim, se se deseja


aumentar o escopo da auditoria e assegurar
A qualidade de uma auditoria pode ser vista qualidade, deve-se aumentar a equipe e/ou o
como a medida em que as questões de audito- prazo.
ria selecionadas cobrem a demanda apresenta-
da e são respondidas com consistência. Se o escopo e o prazo estão dados, o super-
visor apenas tem a liberdade de selecionar o
A qualidade da auditoria depende de três va- tamanho e o perfil da equipe necessários para
riáveis principais: escopo definido (abrangên- assegurar qualidade. Caso não estejam dispo-
cia do que será investigado); equipe alocada níveis pessoas no número e perfil requeridos,
(tamanho e competência); e prazo para sua o supervisor tem duas opções: adiar a audito-
realização. O grau de liberdade para lidar com ria até o momento em que possa contar com
essas variáveis define qual o nível possível de equipe suficiente para a tarefa ou realizar a
26 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

auditoria com a equipe disponível no momento, 2.3 Programação da auditoria


correndo o risco de não alcançar qualidade, isto
é, não conseguir responder às questões com Como visto, uma tarefa pode originar uma
consistência. ou mais auditorias. Programar uma audito-
ria consiste em especificar informações bási-
cas sobre cada uma das atividades em que se
desmembrou uma tarefa. As informações que
devem ser registradas no SISAUD/SUS são as
seguintes:
ESCOPO
• equipe designada, com indicação de coor-
QUALIDADE denador. A composição deve ser adequada
ao objeto da atividade, nível de complexi-
dade e extensão dos trabalhos. A equipe
pode contar com técnicos de outras unida-
EQUIPE PRAZO des desconcentradas , de outros compo-
nentes do SNA e outros;
Figura 6 - Variáveis que afetam a qualidade de • finalidade da auditoria especificada de for-
uma auditoria ma coerente com a demanda;
Fonte: Interlocus, 2015.
• objetos da auditoria definidos de forma ali-
nhada ao escopo de auditoria;
Se houver uma restrição de prazo, a equipe • período de abrangência da auditoria (inter-
deverá propor um escopo reduzido de modo a valo de tempo em que ocorreram os atos a
assegurar qualidade. Contudo, se o escopo re- serem examinados);
duzido não for compatível com a demanda apre- • entidade principal onde será realizada a
sentada, a restrição de prazo exige a alocação de auditoria, bem como as unidades visitadas
mais pessoas à equipe. Um escopo que pode ser para fim de verificação suplementar; e
coberto por uma equipe de dois auditores em • demandante.
um mês provavelmente não será realizado em
metade do tempo por uma equipe de quatro Se a interpretação da demanda e a elaboração
auditores porque há atividades que não podem da tarefa forem bem feitas, a programação de
ser abreviadas proporcionalmente ao incremen- uma auditoria torna-se simples porque as prin-
to da equipe (fase analítica, por exemplo). cipais decisões terão sido tomadas.

Em suma, para que se possa decidir sobre a au- Ao término da programação, é salutar a verifi-
ditoria e elaborar adequadamente a tarefa, é cação da coerência entre auditorias programa-
necessário que as restrições de prazo, equipe e das e a respectiva tarefa.
escopo sejam explicitadas.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 27

MÓDULO 3
FASE ANALÍTICA DA
AUDITORIA
Este capítulo está organizado para apoiar o desenvolvimento do módulo 3 em sala de aula, cujo
objetivo é de preparar os participantes para discutir com propriedade os procedimentos neces-
sários para a condução da fase analítica de uma auditoria. O capítulo é composto pelas seguintes
seções e objetivos de aprendizagem:

Seção Objetivos de aprendizagem

Visão geral da fase Os participantes deverão ser capazes de descrever e valorizar os


analítica passos para realizar a fase analítica de forma consistente.

Uso de matrizes de
Os participantes deverão ser capazes de valorizar a importância do
coleta e de análise de
uso das matrizes de coleta e de análise de informações em uma
informações em audi-
auditoria.
toria

Os participantes deverão ser capazes de identificar as informações


Procedimentos de co-
necessárias e suficientes, e respectivas fontes, para responder as
leta e análise de infor-
questões de auditoria, bem como de escolher procedimentos de
mações em auditoria
coleta e análise de informações adequados.

Validação das matri- Os participantes serão capazes de construir e de avaliar a consis-


zes de coleta e análise tência das matrizes de coleta e de análise de informações de uma
de informações auditoria e de propor ajustes.

Os participantes deverão ser capazes de sintetizar, no relatório ana-


Relatório analítico lítico, informações e papéis de trabalho necessários à realização da
auditoria.

Os participantes deverão ser capazes de identificar os diferentes


Amostragem em au- métodos de amostragem aplicáveis à auditoria e as vantagens e
ditoria desvantagens de cada método, bem como calcular amostras alea-
tórias simples para casos específicos.
28 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

A fase analítica, em essência, corresponde ao porque seus membros já estarão sintonizados


planejamento da ação de controle de modo com o que é esperado da auditoria. Quando a
que possa ser adequadamente executada tarefa é definida previamente pelo supervisor
pela equipe dentro do prazo estabelecido. sem a participação da equipe, cabe a ele apre-
Iniciaremos a exploração desse assunto com sentar a tarefa à equipe. Em ambos os casos,
uma visão geral das atividades que compõem supervisor técnico e equipe devem verificar
a fase analítica para, em seguida, tratarmos de em que medida os elementos da tarefa permi-
cada uma delas. tem orientar a ação e o que deverá ser melhor
especificado durante a fase analítica.
3.1 Atividades da fase analítica
Para que a fase analítica possa agregar valor
A fase analítica da auditoria tem por objetivo substancial à auditoria, recomenda-se que to-
criar as condições necessárias para que a equi- das as atividades apresentadas na figura 7 se-
pe designada possa conduzir com qualidade as jam realizadas.
fases subsequentes – em especial a fase ope-
rativa e a de elaboração do relatório final. Tais
condições consistem em conhecer suficiente-
mente bem o objeto da auditoria e dispor de
um plano de ação e dos instrumentos necessá-
rios para realizar o trabalho.

A tarefa, elaborada previamente, é insumo


fundamental da fase analítica. Caso tenha sido
bem elaborada, a tarefa indicará com clareza o
objetivo da auditoria; as questões que devem
ser respondidas para alcançar esse objetivo;
as possíveis constatações; o período abran-
gidopela auditoria; as localidades e unidades
organizacionais a visitar; e os processos e ati-
vidades a examinar. Contudo, às vezes as in-
formações disponíveis no momento de se ela-
borar a tarefa podem não ser suficientes para
bem definir o escopo da auditoria. Nesse caso,
uma melhor delimitação do escopo deve ser
feita na fase analítica.
Figura 7 – Atividades da fase analítica de uma
Quando a equipe participa da elaboração da auditoria
Fonte: Interlocus, 2015.
tarefa, a fase analítica tendis e a fluir melhor
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 29

Como ficará demonstrado ao longo do capítu- o foco e delimitar a extensão dos trabalhos.
lo, as atividades previstas na fase analítica são Estamos falando, portanto, de revisar e apri-
suficientes para responder às perguntas que morar a definição de objetivos e do escopo da
o planejamento de uma auditoria deve bus- auditoria, construídos durante a elaboração
car responder, a saber: o que será auditado? da tarefa. Além disso, deve-se procurar infor-
Como, quando, onde e por quem? A que cus- mações que indiquem os critérios que podem
to? Por quê? ser usados para avaliar a situação do objeto de
auditoria em termos de conformidade ou de
3.2 Levantamento de informações desempenho.
sobre o objeto de auditoria
Quando o objetivo da auditoria é definido de
Após tomar conhecimento da tarefa, a equipe forma precisa, o levantamento de informações
deve levantar informações sobre o objeto da pode ser realizado de forma mais objetiva, pois
auditoria de modo a obter o conhecimento su- se sabe o que se está buscando. Ao contrário,
ficiente para executar as fases subsequentes. quando o objetivo é estabelecido de modo ge-
Pode ser que a equipe tenha tido condições de nérico, o levantamento de informações deve
fazer uma pesquisa sobre o objeto a auditar ser mais extenso para que se possa conferir
por ocasião da elaboração da tarefa. Agora a foco ao trabalho.
equipe deve se aprofundar mais, procurando
caracterizar bem o objeto da auditoria. Afinal, que tipo de informações devem ser
buscadas? Basicamente aquelas informações
A principal finalidade do levantamento de in- que permitem estabelecer uma visão geral so-
formações na fase analítica é procurar definir bre o objeto e seu contexto (figura 8).

Setores responsáveis, Desempenho recente –


competências e atribuições indicadores e resultados
INFORMAÇÃO
ÚTEIS
SOBRE O OBJETO

Pontos fracos e
Legislação aplicável deficiências de controle

Objetivos do órgão ou
programa de governo

Figura 8 - Informações que contribuem para obter visão geral do objeto a auditar e de seu contexto
Fonte: Interlocus, 2015.
30 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Conhecer a finalidade do órgão ou programa qualquer vulnerabilidade organizacional que


de governo a auditar, bem como os setores prejudique a capacidade de gerar resultados
responsáveis, suas competências e atribui- ou de atender ao prescrito pela legislação, tais
ções, é o primeiro passo. Essas informações, como objetivos pouco claros, déficit de pesso-
que descrevem aspectos estruturais do obje- al para realizar as atividades com qualidade e
to, podem ser encontradas na legislação apli- presteza, processos não padronizados, siste-
cável e em documentos emitidos pelo próprio mas de informação inadequados e controles
órgão. A legislação aplicável também é útil internos fracos ou inexistentes.
para se identificarem critérios que prescrevem
o que é esperado do objeto. Diversas são as fontes que o auditor pode
consultar para obter informações sobre o ob-
Aspectos do funcionamento do objeto tam- jeto a auditar (figura 9). A escolha das fontes
bém devem ser compreendidos, pois é por a consultar depende do objetivo da auditoria
meio de processos e atividades que órgãos e e das questões que se pretende responder, e
programas produzem resultados para a socie- do fato de o objeto ser relativamente conhe-
dade. Nesse sentido, deve-se levantar indica- cido ou desconhecido da equipe. Em regra,
dores e resultados que revelem o desempenho toda auditoria requer a consulta a bases de le-
recente, assim como pontos fracos do órgão gislação e normas aplicáveis ao objeto. A con-
ou programa. Considera-se um ponto fraco sulta a auditorias anteriores realizadas sobre

Figura 9 – Fontes de informação úteis para obter visão geral do objeto a auditar
Fonte: Interlocus, 2015.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 31

o mesmo objeto pelo próprio DENASUS e por Por isso, a equipe deve ter bem claro, antes de
outros órgãos de controle (TCU, CGU) é reco- ir a campo, que informações serão necessárias
mendável, visto que tal procedimento pode para produzir evidências que irão sustentar
revelar informações importantes para a audi- possíveis constatações. Quando a equipe, na
toria que está sendo planejada. A busca em fase operativa, não sabe bem o que está pro-
sistemas de informação é relativamente usual curando, a tendência é recolher informações
para verificar transações que possam vir a ser desnecessárias, o que torna ineficiente a fase
alvo da auditoria. de análise.

Em auditorias de objetos complexos ou pou- A motivação para realizar uma auditoria surge,
co conhecidos, em especial os que não te- em geral, de sinais de que um órgão ou progra-
nham sido alvo de ação de controle anterior, ma de governo pode não estar gerando o de-
pode ser necessário convidar alguns servido- sempenho esperado ou não estar atendendo a
res e gestores do órgão ou entidade audita- requisitos de leis, normas e padrões. Assim, com
da e especialistas que possam contribuir com base nesses sinais, a equipe propõe questões a
diagnóstico preliminar que auxilie a equipe a serem respondidas com a auditoria, bem como
focalizar com mais precisão a auditoria. Entre possíveis respostas, que nada mais são do que
as técnicas de diagnóstico mais usadas estão hipóteses sobre as constatações que podem vir
o mapeamento de processos, a identificação e a se confirmar com o correr da auditoria. Para
avaliação de riscos, e a análise SWOT (forças, que possíveis constatações possam ser vislum-
fraquezas, oportunidades e ameaças). bradas, necessário se faz conhecer os critérios
que servirão de referência para confirmá-las.
3.3 As matrizes de coleta e de
análise de informações Considerando as questões e possíveis constata-
ções que nortearão o trabalho, a equipe deve
Planejar é um exercício sistemático de an- identificar que informações são necessárias e
tecipar os elementos necessários para ca- suficientes para responder as questões, onde
racterizar as constatações, e então definir o podem ser obtidas (quais as fontes de informa-
que a equipe deve fazer para que, ao final da ção) e como podem ser coletadas.
fase de execução, as constatações possam
estar sustentadas com base em evidências. Dando sequência ao raciocínio, a equipe deve,
Como as evidências são fruto da análise das imaginando-se de posse das informações re-
informações coletadas durante a auditoria, queridas, traçar um caminho lógico que leve
percebe-se que a forma como informações à confirmação ou rejeição das constatações
são obtidas e tratadas desempenha papel hipotéticas. Para tanto, deve propor como as
fundamental para a qualidade da auditoria. informações serão analisadas para sustentar
32 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

as conclusões relativas a cada questão de Visando sistematizar a obtenção e o tratamento


auditoria. de informações em uma auditoria, recomenda-
se utilizar dois instrumentos de forma articulada
Por fim, a equipe deve examinar a forma vis- entre si: a matriz de coleta de informações e a
lumbrada para realizar a auditoria em busca matriz de análise de informações. O poder de tais
de fatores que possam limitar a qualidade do matrizes reside na sua capacidade de explicitar a
trabalho. Tais fatores, denominados limita- lógica que une questões de auditoria, possíveis
ções, podem estar relacionados à estratégia constatações, critérios, informações requeridas
metodológica adotada, ao acesso a pessoas e suas fontes, procedimentos de coleta e de aná-
e informações, à qualidade das informações lise de informações e limitações do trabalho.
e às condições operacionais de realização do
trabalho. A matriz de coleta de informações é o instru-
mento que indica quais são as informações re-
queridas pela auditoria, onde podem ser obtidas
(fonte) e por meio de qual procedimento de co-
leta. Recomenda-se que todas as informações
vindas de uma mesma fonte sejam apresentadas
de forma agrupada na matriz, tal como mostra-
do na figura 10. Quaisquer limitações relativas a
informações requeridas, fontes e procedimentos
de coleta devem ser anotadas imediatamente
abaixo da matriz, na forma de notas.

Um exemplo de limitação metodológica é não


poder generalizar resultados quando se avalia
o desempenho de algumas unidades de saú-
Importante
de valendo-se da técnica de estudo de caso.
Outro exemplo de limitação é ter dados pouco
Limitações severas
confiáveis em um sistema de informação para podem pôr a perder uma
realizar cálculos sobre tempo de espera em fila auditoria ou restringir
para transplante de órgãos. Mais um exemplo, muito a possibilidade de
este relativo a uma limitação operacional se- que o trabalho produza
vera, é ter de realizar uma auditoria da cons- conclusões úteis para a
trução de um hospital público sem contar com melhoria do SUS.
um engenheiro na equipe.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 33

Fontes Informações requeridas Procedimentos de coleta


(i1) Informação 1 Procedimento de coleta 1
Fonte 1
(i2) Informação 2 Procedimento de coleta 2
(i3) Informação 3 Procedimento de coleta 3
Fonte 2 (i4) Informação 4 Procedimento de coleta 4
(i5) Informação 5 Procedimento de coleta 5
Fonte 3 (i6) Informação 6 Procedimento de coleta 6
...
Fonte N (ik) Informação K Procedimento de coleta K

LIMITAÇÕES:
Figura 10 – Estrutura da matriz de coleta de informações
Fonte: Interlocus, 2015.

A matriz de análise de informações, por sua vez, indica, por meio dos procedimentos descritos,
como as informações serão tratadas visando revelar a situação real do objeto e compará-la à
situação ideal (critério). Essa comparação permitirá confirmar ou não possíveis constatações
e, assim, responder as questões de auditoria (figura 11). Repare que uma questão de auditoria
pode ter uma ou mais constatações associadas e que cada constatação, via de regra, apoia-se
em um único critério.

De modo análogo à matriz de coleta de informações, as limitações relativas a procedimentos de


análise, critérios e possíveis constatações devem ser anotadas imediatamente abaixo da matriz
de análise, na forma de notas.

Procedimentos de Possíveis Questões de


Critérios
análise constatações auditoria
Procedimento 1.1 (i1, i3) Critério 1.1 Constatação 1.1 Questão 1

Procedimento 2.1 (i4) Critério 2.1 Constatação 2.1

Procedimento 2.2 (i1, i5) Critério 2.2 Constatação 2.2 Questão 2

Procedimento 2.3 (i3, i6) Critério 2.3 Constatação 2.3


Procedimento 3.1 (i2, i4) Critério 3.1 Constatação 3.1
Questão 3
Procedimento 3.2 (i6) Critério 3.2 Constatação 3.2

LIMITAÇÕES:
Figura 11 – Matriz de análise de informações
Fonte: Interlocus, 2015.
34 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

As matrizes de coleta e de análise de informa- Definidas as questões, as constatações e os


ções se conectam por meio das informações critérios, passa-se a listar, na matriz de coleta,
requeridas. Note que cada procedimento de as informações requeridas para cada possível
análise na matriz de análise vem acompanhado constatação, juntamente com a fonte onde
pelos códigos das informações que são analisa- pode ser obtida. Listadas as informações e suas
das usando esse procedimento. Tais códigos (i1, fontes, o próximo passo é indicar qual o proce-
i2 etc.) são estabelecidos na matriz de coleta. dimento mais adequado para coletar cada in-
formação. Procedendo-se dessa forma, tem-se
O preenchimento das matrizes deve observar a matriz de coleta preenchida.
determinada sequência lógica. Inicia-se o pre-
enchimento pela indicação, na matriz de aná- Por fim, deve-se especificar os procedimentos
lise, das questões de auditoria e das possíveis de análise, completando-se assim a matriz de
constatações, informações que constam da ta- análise de informações. Cada procedimento,
refa elaborada e que podem ser melhor espe- anotado na linha da correspondente constata-
cificadas com o levantamento de informações ção, deve indicar as informações de que se utili-
realizado na fase analítica. Em seguida, indi- za, o que assegura a articulação entre as matri-
cam-se os critérios que servirão de referência zes de coleta e de análise.
para embasar as constatações.

7 3 2 1
Procedimentos Critérios Possíveis Questões de
de análise constatações auditoria
Identificar as Especificar os Indicar as escopo:
técnicas a serem critérios que constatações que - período de
empregadas na servirão de poderão ser obtidas. abrangência;
análise de dados base para as - abrangência
e descrever constatações. geográfica;
os respectivos - atores e atividades
procedimentos. envolvidos.

Limitações: Especificar as limitações referentes a constatações, critérios e procedimentos de análise.


MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 35

5 4 6
Informações Procedimentos
Fontes
requeridas de coleta
Identificar a fonte de cada Identificar as informações Identificar as técnicas de
item de informação. necessárias para responder coleta de dados que serão
à questão de auditoria. usadas e descrever os
respectivos procedimentos.

Limitações: Especificar as limitações referentes a acesso às fontes de informação, qualidade das


informações, procedimentos de coleta e condições operacionais de realização do trabalho.

Figura 12 – Especificação do conteúdo das células das matrizes de coleta e de análise de informa-
ções (números em vermelho indicam ordem de preenchimento)
Fonte: Interlocus, 2015.

A figura a seguir mostra um exemplo de estruturação da coleta e da análise de infor-


mações adaptado de uma auditoria de desempenho na área de saúde. O exemplo se
restringe a uma das possíveis constatações relativa à questão de auditoria.

Informações Procedimentos
Fontes
requeridas de coleta
Datasus (Sistema SIA/ Dados das Apacs referentes aos Extração de dados.
SUS) tratamentos de radioterapia e
quimioterapia de 2010:
(i1) datas de diagnóstico e de
início de tratamento;
(i2) estadiamento da doença.
INCA (SisRHC) Dados do Registro Hospitalar Requisição de informações.
de Câncer:
(i3) datas de diagnóstico e de
início de tratamento;
(i4) estadiamento da doença.

Pacientes em tratamento (i5) Percepção de pacientes Entrevista com amostra de


sobre tempestividade e pacientes em tratamento
dificuldades de acesso ao nos hospitais visitados.
atendimento.

Limitações: 1) Inconsistência e desatualização de dados mantidos nos sistemas SisRHC e SIA/


SUS; 2) Impossibilidade de se fazer uma amostra aleatória de pacientes.
36 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Possíveis Questões de
Procedimentos de análise Critérios
constatações auditoria
Análise quantitativa dos O paciente com O diagnóstico A estrutura da
lapsos temporais entre o neoplasia maligna e o início do rede de atenção
diagnóstico e o início dos tem direito de tratamento oncológica tem
tratamentos (i1; i3) e do se submeter não têm sido possibilitado aos
estadiamento dos tumores no ao primeiro tempestivos. doentes de câncer
diagnóstico (i2; i4). tratamento no acesso tempestivo
Analise qualitativa das SUS em até 60 e equitativo ao
percepções de pacientes dias contados do diagnóstico e ao
sobre a tempestividade de diagnóstico em tratamento?
atendimento (i5). laudo patológico
(Lei 12.732/2012,
Triangulação dos art. 2º).
dados quantitativos de
tempestividade com as
percepções dos pacientes.

Figura 13 – Exemplo de matrizes de coleta e análise de informações


Fonte: adaptado do relatório de auditoria sobre a Política Nacional de Atenção Oncológica (TCU, 2011).

A utilização das matrizes de coleta e análise é O uso dessas matrizes também é vantajosa
vantajosa, em primeiro lugar, para a própria para o supervisor. Ao ver detalhada a lógica
equipe, que pode explicitar a forma como se que a equipe propõe para executar a audito-
pretende obter e utilizar informações para po- ria, o supervisor pode identificar falhas e lap-
der responder às questões de auditoria. Sem sos no planejamento da coleta e análise de
instrumentos desse tipo, pode ocorrer de a informações e propor correções. Desse modo,
equipe ir a campo sem ter um entendimento ele pode se assegurar de que a equipe sabe o
uniforme sobre como o trabalho será desen- que vai fazer e de que a maneira como o traba-
volvido, o que, certamente, prejudicará a qua- lho foi planejado é adequada para se alcançar
lidade da auditoria. o objetivo e o escopo estabelecidos na tarefa.

A construção conjunta das matrizes também 3.4 Critérios de auditoria


permite que os membros da equipe partici-
pem e que suas melhores ideias sejam incor- Critério é o referencial utilizado pelo auditor para
poradas ao trabalho. A participação aumenta fazer seus julgamentos em relação à situação ou
a compreensão do que virá a ser realizado na condição do objeto de auditoria. Corresponde à
fase operativa e favorece o comprometimento situação ideal esperada desse objeto.
de todos com a auditoria.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 37

A comparação entre a situação existente e o critério dá origem à constatação de auditoria. Em caso de


discrepância entre critério e situação, tem-se uma constatação de não-conformidade. Se a situação
do objeto estiver de acordo com o critério, diz-se que se trata de uma constatação de conformidade.

Critérios de auditoria podem ser encontrados em diversas fontes. Fontes usuais de critérios são as leis
e os regulamentos que regem o funcionamento da entidade, projeto ou programa auditado. Normas
e valores expressos em códigos de ética da instituição ou profissional indicam condutas apropriadas e
vedadas aos servidores e funcionários e, por isso, também são fontes de critérios.

Quando se trata de opinar sobre desempenho, indicadores de eficiência, eficácia e efetividade, além
de metas estabelecidas pela entidade auditada, são os principais critérios de comparação. Se a orga-
nização não estabeleceu metas e padrões de desempenho a alcançar ou se existem razões para crer
que esses valores estão aquém do que se poderia esperar, então deve-se adotar como critério os
resultados obtidos anteriormente por instituição ou programa similar.

Na ausência de critérios estabelecidos ou se esses forem pouco claros, especialmente em situações


tecnicamente complexas, deve-se buscar a opinião de especialistas independentes e consultar biblio-
grafia especializada a fim de obter argumentos visando construir critérios plausíveis.

Natureza Critério Fonte


Conformidade Para a comercialização Portaria MS 971/12, art. 23.
e a dispensação dos
medicamentos e/ou correlatos
no âmbito do PFPB [requer-se]
apresentação de prescrição
médica (…) com as seguintes
informações: número de
inscrição do médico no CRM,
assinatura e carimbo médico e
endereço do estabelecimento
de saúde.
Desempenho Alcançar, em pelo menos 70% Caderno de Diretrizes,
dos municípios, as coberturas Objetivos, Metas e
vacinais (CV) adequadas do Indicadores 2013-2015,
Calendário Básico de Vacinação Ministério da Saúde
da Criança.

Figura 14 – Exemplos de critérios de auditoria


Fonte: Interlocus, 2015.
38 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Critérios de auditoria orientam a coleta de interpretações uniformes quando aplicados


dados, visto que apontam que tipo de infor- por diferentes auditores e estar livres de viés;
mação sobre a situação ou condição do objeto
deve ser buscada. No exemplo de conformi- c) confiáveis, de forma a levar a conclusões
dade mencionado na figura 14, a norma diz consistentes independentemente de quem o
que as informações requeridas são número de aplica nas mesmas circunstâncias;
inscrição do médico no CRM, assinatura e ca-
rimbo médico, e endereço do estabelecimen- d) úteis por gerar conclusões que atendem ne-
to de saúde. Em razão disso, a análise a ser cessidades de informação de interessados;
feita numa auditoria que envolva prescrições
médicas passa por verificar se cada prescrição e) comparáveis, isto é, consistentes com crité-
contém essas informações. No exemplo sobre rios utilizados para auditar programa ou ativi-
desempenho, a informação a obter também dade similar e com aqueles usados previamen-
é clara: cobertura vacinal de cada município. te para auditar o mesmo objeto de auditoria; e
Tais dados podem ser obtidos no Sistema
de Informações do Programa Nacional de f) aceitáveis por parte de especialistas, audita-
Imunizações (SIPNI), mantido pelo DataSUS. dos, legislativo, mídia e público em geral.

Uma característica essencial dos critérios de 3.5 Coleta de informações em


auditoria é que servem de referência para a auditoria
elaboração de recomendações. Ao se empre-
gar determinado critério para obter uma cons- Numa auditoria, como já visto, busca-se res-
tatação de não conformidade, esse mesmo ponder às questões de auditoria definidas na
critério torna-se o parâmetro para construir a elaboração da tarefa e eventualmente aper-
recomendação que levará o auditado a imple- feiçoadas na fase analítica. Para responder as
mentar medidas que promovam a adequação questões, deve-se obter informações acerca
da situação do objeto ao que deve ser. do objeto auditado de modo a poder avaliar em
que medida a situação desse objeto atende ao
A seleção de critérios é um ponto crucial para critério aplicável. Portanto, as informações a
o desenvolvimento de uma auditoria. Critérios serem coletadas são aquelas necessárias para
definidos pela equipe de auditoria devem ser satisfazer o objetivo da auditoria. Mas como
(BRASIL, 2010a): identificar as informações requeridas?

a) razoáveis, exequíveis e relevantes para os Para se identificar as informações necessárias


objetivos da auditoria; para responder a uma questão de auditoria,
deve-se identificar os termos-chave dessa
b) claros e objetivos, de modo a levar a questão e suas dimensões (BRASIL, 2010a).
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 39

Tomemos como exemplo uma questão sobre de informação; imprensa. Descobrir a melhor
a correta aplicação de recursos destinados à fonte de cada informação contribui para a agi-
saúde repassados fundo a fundo a um municí- lidade na coleta de dados.
pio. Um termo central da questão é a expres-
são “correta aplicação”, cujas dimensões são A experiência do servidor em auditorias no
aplicar o recurso dentro da finalidade a que SUS é o principal recurso para descobrir a fon-
se destina, dentro do objeto (bloco de finan- te de cada informação requerida. De fato, co-
ciamento) e de forma regular, de modo a não nhecer o funcionamento do SUS, os principais
causar dano ao Erário. Sendo ampla a questão, atores e suas responsabilidades, e os princi-
deve-se olhar para as possíveis constatações pais sistemas de informação é fundamental.
para poder descobrir as informações necessá- Sendo a fase analítica realizada em equipe, as
rias. Supondo que uma possível constatação experiências de seus membros podem se com-
seja pagamento de consultoria prestada por plementar para bem realizar a tarefa de identi-
servidor público do quadro do próprio municí- ficar informações e fontes.
pio, então as informações requeridas seriam:
relação de servidores do município; nota de A segunda pergunta envolve decidir qual é a
empenho dessa despesa; cópia do contrato técnica de coleta mais adequada para obter a
de prestação de serviço, se houver; cópia de informação de determinada fonte. Para res-
recibo assinado pelo servidor ou de nota fiscal pondê-la, deve-se considerar o uso que se pre-
emitida por empresa por meio da qual atuou tende fazer da informação, bem como carac-
o servidor; ordem bancária que efetivou o terísticas das fontes. O quadro a seguir oferece
pagamento. subsídios para isso.

Definidas as informações a coletar, duas per-


guntas devem ser respondidas: a) onde ou
com quem cada informação pode ser obtida?; Importante
b) como a informação pode ser obtida?

O Conass mantém em seu


A primeira pergunta diz respeito à fonte de
sítio na internet página
informação. As informações requeridas numa
com Guia de Acesso a
auditoria podem vir de diversas fontes: órgãos Informações para a Gestão
e entidades auditados; pessoas (gestores, ser- do SUS, rica fonte para
vidores, beneficiários, pacientes etc.); presta- apoiar a fase analítica
dores de serviço, ONGs; órgãos de pesquisa
(p. ex., universidades, Fiocruz, IPEA); docu-
mentos (relatórios, notas fiscais, planilhas de
cálculo, prontuários médicos etc.); sistemas
40 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Finalidade da coleta Exemplo de questão Técnica de coleta


Verificar informações O processo de habilitação Requisição de informações
registradas em documentos da UNACON atendeu ao
estabelecido na portaria nº
140/2014?
Caracterizar a dinâmica de Os enfermeiros executam Observação direta
uma atividade. adequadamente os
procedimentos?
Descrever aspectos físicos Os medicamentos estão Inspeção física
de um objeto. armazenados em local e
condições adequadas?
Conhecer em profundidade Quais os principais entraves Entrevista
a percepção e a opinião de operacionais enfrentados
pessoas pelos coordenadores das
UPAs?
Explorar a diversidade Que fatores limitam a Grupo focal
de pontos de vista de capacidade operacional
representantes de um grupo das centrais de regulação?
acerca de um assunto (segundo os técnicos;
segundo os médicos)
Descrever quantitativa- Qual é o nível de satisfação Sondagem
mente a percepção de grupo dos pacientes quanto ao
amplo de pessoas atendimento de urgência
prestado?
Descrever quantitativamente Quais os locais e horários Extração de dados de
aspectos de uma atividade mais frequentes de onde se sistema
originam chamados para o
SAMU 192?
Confirmar com terceiros As notas fiscais de Confirmação externa
informação obtida por outro compra de equipamentos
meio hospitalares foram emitidas
de forma regular?
Melhorar a confiabilidade Em que extensão a Triangulação (no caso,
dos dados coletados percepção dos paciente utilizando entrevistas e
acerca do tempo de extração de dados)
atendimento confirma
os dados registrados no
sistema?
Figura 15 – Técnicas de coleta de informações indicadas conforme a finalidade
Fonte: Interlocus, 2015.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 41

Requisição de informações por pessoas autorizadas e possuem informa-


ções úteis à auditoria.
A técnica consiste em solicitar ao auditado ou
a terceiros informações que sirvam para sus- O exame dos documentos requisitados deve
tentar constatações ou documentos que con- ser apoiado por papel de trabalho construído
tenham essas informações. Em geral são infor- pela equipe visando sistematizar a análise das
mações registradas como parte das atividades informações.
da unidade auditada ou informações compi-
ladas para atender a equipe de auditoria. É o Entrevista
procedimento mais usado em auditorias.
A entrevista é uma técnica de conversação
A equipe deve procurar antecipar a solicitação com indivíduos ou grupos estruturada como
de informações para minimizar o risco de que uma sessão de perguntas e respostas utiliza-
os documentos cheguem tarde demais, con- da para coletar informações segundo deter-
siderando o cronograma estabelecido. Assim minados objetivos. É uma técnica qualitativa
que a equipe constrói a matriz de coleta, o co- de coleta de dados usada para obter informa-
ordenador pode emitir comunicado de audito- ção em profundidade de pessoas que detêm
ria requisitando as informações e os documen- conhecimento sobre o tema de interesse. Em
tos necessários e estabelecendo prazo para o trabalhos de auditoria, as informações busca-
auditado entregá-los. Normalmente o prazo das devem ser relevantes para responder às
coincide com a data de apresentação da equi- questões de auditoria.
pe para iniciar os trabalhos de campo. Caso o
auditado não consiga os documentos nessa Numa auditoria, a entrevista apresenta di-
data, pode-se conceder novo prazo, preferen- versas aplicações. Pode ser usada para cole-
cialmente dentro do prazo da fase operativa. tar informações preliminares sobre o objeto
a auditar, ainda na fase analítica, ou ampliar
A requisição de informações deve ser escolhi- o conhecimento existente na equipe. Serve
da apenas se for a melhor opção para eviden- para obter informações dos atores envolvidos
ciação, e não por desconhecimento de outras com a situação auditada, tais como gestores,
técnicas. Por exemplo, se a equipe necessi- especialistas e beneficiários. É especialmente
ta conhecer o ponto de vista do Secretário útil para ouvir pessoas com pouca instrução
Municipal de Saúde sobre determinado assun- formal, que não poderiam ser consultadas por
to, requisitar informações não é a técnica re- outros meios.
comendada, mas sim a entrevista.
Uma entrevista pode ser útil para auxiliar na
Ao receber documentos, o auditor deve certifi- interpretação de dados obtidos por outros
car-se de que são autênticos, foram aprovados métodos, como, por exemplo, para melhor
42 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

compreender um mapa dos processos de uma gestor. Os tipos de perguntas mais utilizadas
unidade hospitalar obtido pela equipe de audi- em entrevistas são as abertas, que podem ser
toria ou interpretar dados registrados no pro- respondidas de forma livre.
jeto básico de uma aquisição.
Na condução da entrevista, o auditor deve
Na fase operativa, pode-se usar entrevista para buscar estabelecer uma relação de confiança
obter do auditado sua avaliação sobre possí- com o entrevistado. Assim, após a equipe se
veis recomendações, o que auxilia a equipe na apresentar, deve relembrar os objetivos co-
tarefa de propor recomendações exequíveis e municados quando do agendamento e dar iní-
relevantes. cio à entrevista. O roteiro deve ser observado,
porém de forma flexível, visto que informa-
A realização de uma entrevista divide-se nas ções importantes não previstas podem surgir
etapas de planejamento, condução e transcri- e a equipe pode se permitir explorá-las.
ção. No planejamento, a equipe deve definir:
Durante a entrevista, um integrante da equipe
• os objetivos da entrevista; faz as anotações. No caso de temas complexos,
• a forma de seleção dos entrevistados; pode-se optar por gravar a entrevista, desde
• as informações a obter, elaborando o ro- que o entrevistado concorde. Deve-se cuidar
teiro de perguntas; para evitar comportamentos que possam ini-
• os documentos a solicitar; bir o entrevistado e interromper o fluxo natu-
• as atribuições de cada integrante da equi- ral da conversação, tais como: anotar tudo o
pe (quem pergunta, quem anota, quem que é dito, escrever sem parar e anotar quan-
observa); do o entrevistado fala de pontos delicados.
• local, segundo a conveniência do entrevis-
tado; e Antes do encerramento da entrevista, o en-
• horário de início e término. trevistador deve verificar se todas as pergun-
tas foram respondidas e resumir os principais
Um fator importante para o sucesso da entre- pontos abordados, dando a oportunidade para
vista é o preparo da equipe, que deve estudar que o entrevistado preste algum esclareci-
bastante o tema a ser abordado. Ao planejar o mento adicional. Se for o caso, pode recolher
roteiro, deve-se formular perguntas que con- os documentos entregues e solicitar a indica-
tribuam para fornecer as informações necessá- ção de outras pessoas para entrevistar.
rias à auditoria. As perguntas devem estimular
o auditado a falar; portanto, deve-se ordená- Após a entrevista, o conteúdo deve ser transcri-
-las das mais simples para as mais complexas e to num papel de trabalho denominado extra-
evitar perguntas tendenciosas que expressem to de entrevista. O registro deve ser feito logo
ideias preconcebidas ou possam constranger o depois do encerramento do encontro, quando
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 43

se acrescentam informações complementares adicionar perguntas durante o processo de


eventualmente não anotadas. Dependendo da aplicação. Por isso, a preparação de um ques-
natureza das informações e da sensibilidade tionário exige bom conhecimento prévio do
do tema, pode-se solicitar a assinatura do en- fenômeno que se vai pesquisar, de modo a for-
trevistado no extrato da entrevista. mular perguntas pertinentes, a maioria delas
fechadas (com opções de resposta predefini-
Quando informações provenientes de entre- das). Um questionário bem construído requer
vistas forem usadas para suportar constata- mais tempo de elaboração e validação do que
ções, é recomendável buscar informações adi- um roteiro de entrevista, visto não haver to-
cionais e de outra natureza. lerância a perguntas que comportem alguma
ambiguidade.

Para saber mais Se a sondagem é aplicada a uma amostra alea-


tória da população pesquisada, então é possí-
Para saber mais sobre o uso vel generalizar os resultados obtidos para toda
de entrevistas em auditoria, a população. Todavia, as limitações operacio-
consulte o documento Técnica nais enfrentadas pelos auditores, tais como
de entrevista, produzido pelo tempo reduzido para a auditoria e dificuldade
TCU (BRASIL, 2010b). de acesso aos dados da população, muitas ve-
zes impedem que se faça uma amostra alea-
tória. Esse assunto será melhor discutido na
Sondagem seção 3.8.

Sondagem consiste na aplicação de ques-


tionários para obter informações de forma
padronizada sobre um grande número de
unidades de pesquisa, sejam indivíduos ou Para saber mais
organizações. Presta-se a descrever aspec-
Para saber mais sobre o
tos do tema pesquisado de forma quantita-
tiva usando Estatística, como, por exemplo, uso de sondagens, consulte
obter o percentual de usuários que aprovam o documento Técnica de
o serviço prestado e as reclamações mais pesquisa para auditorias,
frequentes. publicado pelo TCU (BRASIL,
2010d).
O que distingue a sondagem das entrevistas
é que os pesquisadores, mesmo pessoal-
mente, não podem ajustar o questionário ou
44 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Sondagens podem ser realizadas via contato pessoal, por telefone, via postal e por meio eletrôni-
co. Cada uma dessas modalidades apresenta potencialidades e limitações (figura 16), que devem
ser consideradas ao se desenhar uma sondagem para uso em auditoria.

Modalidade Potencialidades Limitações


Contato Comunicação direta. Custo muito alto (contratação, treinamento
pessoal Acesso a pessoas de baixa e deslocamento de pessoal).
escolaridade. Demorado (pesquisa e digitação das
respostas).

Telefone Rapidez. Custo alto (contratação e treinamento de


Acesso a pesquisados pessoal).
dispersos geograficamente. Questionário deve ser curto para o
respondente não desistir (menos de 10
minutos)

Postal Baixo custo. Necessidade de tratamento da não-


Acesso a pesquisados resposta por reenvio de questionários ou
dispersos geograficamente. contato telefônico.

Segurança, liberdade Demorado (impressão, postagem e


e privacidade para o digitação das respostas).
pesquisado responder. Depende do correto preenchimento por
parte dos pesquisados.

Meio Custo muito baixo. Restrito a pesquisados que possuem


eletrônico Elimina a digitação. endereço eletrônico ou àqueles cujos
endereços foram obtidos.
Acesso a pesquisados
dispersos geograficamente. Problemas tecnológicos (bloqueio do
questionário por firewall).
Segurança, liberdade
e privacidade para o Necessidade de tratamento da não-
pesquisado responder. resposta por reenvio de questionários ou
contato telefônico.
Depende do correto preenchimento por
parte dos pesquisados.

Figura 16 – Potencialidades e limitações das modalidades de sondagem


Fonte: Interlocus, 2015.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 45

Grupo focal podem ser usados em outras atividades de


controle, como o monitoramento de reco-
Grupo focal é uma técnica qualitativa de pes- mendações. Nesse caso, serviria para detectar
quisa que tem como fonte de dados as inte- a extensão em que as recomendações foram
rações e discussões entre participantes de um implementadas e os efeitos obtidos.
determinado grupo sobre tema de interesse e
questões relevantes (ISSAI 3000/Apêndice 1,
2004).
Para saber mais
Pequenos grupos de pessoas (5 a 10) se reú-
nem em lugar previamente definido, na forma Para saber mais sobre o
de sessões, seguindo um guia elaborado por uso de grupo focal, consulte
um facilitador e alguns assistentes, para discu- o documento Técnica de
tir conceitos ou avaliar problemas. As sessões grupo focal para auditorias,
podem ser registradas por meio de notas dos publicado pelo TCU (BRASIL,
assistentes ou ser gravadas. 2013b).

Em auditorias, grupos focais são úteis para


investigar as razões pelas quais uma organi-
zação, programa ou ação apresentam baixo
desempenho, bem como para aprender so- Observação direta
bre o funcionamento de programas, órgãos e
entidades (BRASIL, 2013b). Pode-se investigar Observação é uma técnica em que se busca
percepções e opiniões de gestores e usuários apreender a realidade de uma situação dinâ-
de um serviço de saúde que seja objeto de mica por meio dos sentidos. Tipicamente, a si-
auditoria. tuação observada em auditorias é a prestação
de um serviço ou a execução de um processo,
O potencial da técnica está em revelar espec- cuja dinâmica é registrada utilizando-se rotei-
tro de percepções sobre o tema de interesse. ros desenhados previamente na fase analítica.
Realizam-se grupos focais com representantes
de um mesmo grupo até o ponto em que não A potencialidade da técnica está no fato de ser
surgem mais novas percepções e opiniões. Em um método de coleta de informação contex-
situações de auditoria, pode não ser viável re- tualizada sobre a forma de funcionamento do
alizar o número necessário de grupos focais. objeto auditado. A observação direta é indica-
da nos casos em que as pessoas que vivenciam
Ainda que a aplicação típica da técnica seja a situação de interesse da auditoria não têm
em auditorias de desempenho, grupos focais plena consciência de determinados aspectos
46 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

ou estão envolvidos emocionalmente a ponto infraestrutura em geral), a técnica é denomi-


de não ter condições de falar a respeito com nada inspeção física. Uma inspeção física re-
propriedade. Nesses casos, alguém externo quer menos habilidade para ser aplicada ade-
ao processo pode observar o que se passa de quadamente, porém o cuidado metodológico
uma forma neutra e imparcial. deve estar presente, seja no momento de de-
senhar o roteiro de inspeção, seja no momen-
A principal limitação dessa técnica é que a pre- to de realizá-la de forma criteriosa.
sença do observador no ambiente em estudo
pode alterar o comportamento do indivíduo e
levar a um resultado distorcido da realidade
observada. Além disso, o custo da aplicação Para saber mais
da técnica pode ser alto, visto que a observa-
ção de uma situação pode levar horas, e que Para preparar um roteiro de
podem ser necessárias diversas observações observação e saber mais sobre
para se poder extrair alguma conclusão sobre a técnica, consulte o documento
o fenômeno. Técnica de observação direta em
auditoria, publicado pelo TCU
Quando a observação de uma situação física (BRASIL, 2010c).
é decisiva para alcançar os objetivos da audi-
toria, ela deverá ser confirmada por meio da
observação de dois ou mais auditores e, se
possível, por representantes do órgão audita- Extração de dados
do (ISSAI 3000, 2004).
A técnica consiste na identificação e extração
A qualidade das evidências coletadas por meio de dados úteis aos propósitos da auditoria de
da observação direta requerem que os proces- sistemas de informação. Para que o auditor
sos ou atividades observados sejam represen- possa se decidir por essa técnica, deve con-
tativos do objeto auditado, que o roteiro de firmar que determinado sistema armazena as
observação seja bem planejado e que a equipe informações necessárias. Isso requer conhecer
seja criteriosa no registro. Para robustecer as a estrutura das bases de dados, o que pode ser
evidências obtidas com a observação, podem feito tendo acesso ao dicionário de dados ou
ser usadas gravações de vídeo e áudio e regis- lendo relatórios emitidos pelo sistema.
tros de declarações de usuários, por exemplo.
Há várias maneiras de se obter dados arma-
Inspeção Física zenados num sistema. Há sistemas que ex-
portam dados ao comando do usuário, como
Quando a observação se dá sobre situa- o SIA/SUS, disponível no site do DATASUS.
ções estáticas (equipamentos, instalações e Quando isso não é possível, é usual fazer uma
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 47

requisição ao auditado para que providencie a usados frequentemente para confirmar ter-
extração dos dados e os apresente ao auditor mos de acordos, contratos e transações, como
na forma de uma planilha eletrônica. Outra nos casos de confirmação de pagamento a for-
possibilidade, para auditores habilitados, é necedores, confirmação de saldos em bancos,
utilizar softwares especializados de auditoria se os licitantes mencionados foram convida-
para identificar e extrair os dados que procura. dos e se procedimentos ambulatoriais foram
realizados (carta SUS).
Normalmente dados extraídos em grandes
volumes de sistemas de informação prestam- A equipe deve avaliar se o resultado de um
se a análises quantitativas. Softwares estatís- procedimento de confirmação externa forne-
ticos ou mesmo planilhas eletrônicas como o ce evidência relevante e confiável, ou se ou-
MS Excel facilitam a manipulação e a análise tras fontes de evidência são requeridas.
dos dados.
No caso em que o auditor avalia que a res-
Exemplos de aplicação da técnica são a extra- posta a uma solicitação de confirmação não é
ção de dados de infraestrutura dos estabele- confiável, deve verificar se existe forma alter-
cimentos de saúde, armazenados no CNES e nativa de obtenção de evidências. Se o auditor
dados de Autorização de Internação Hospitalar entender que a confirmação é necessária para
do SIA/SUS. Outro exemplo é a requisição de obter evidência de auditoria, e a confirmação
dados do funcionamento de uma central de não é fornecida, o auditor deve avaliar as im-
regulação do SAMU 192 armazenados em sis- plicações para o resultado da auditoria.
tema próprio do município.
Triangulação
Confirmação externa ou Circularização
Corresponde ao uso de diferentes métodos de
Segundo as Normas Brasileiras de pesquisa ou de coleta de dados para estudar a
Contabilidade, mesma questão, com o objetivo de fortalecer
as conclusões finais (PATTON, 1987, citado por
Confirmação externa é a evidência de auditoria obtida BRASIL, 2010a).
como resposta por escrito direta para o auditor de um
terceiro (a parte que confirma), em papel, no formato Em auditoria, a triangulação visa fortalecer a
eletrônico ou outro meio (NBC-TA-505). consistência das evidências, podendo assumir
as seguintes formas (BRASIL, 2010a):
A técnica, também conhecida como circulari-
zação, presta-se a confirmar, junto a terceiros, • coletar dados de diferentes fontes sobre a
fatos apresentados pela entidade auditada, de mesma questão;
modo a fortalecer as evidências obtidas. São • empregar diferentes entrevistadores e
48 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

pesquisadores de campo para evitar vieses 3.6 Procedimentos de análise


na coleta de dados;
• usar múltiplos métodos de pesquisa. A análise de informações em auditoria é um
dos pilares da qualidade de uma auditoria,
Ao decidir sobre as técnicas de coleta de informa- pois responde pela qualificação das evidências
ções para responder a uma questão de auditoria, que sustentarão as constatações. Ao decidir
a equipe deve avaliar se as evidências que se es- como as informações devem ser analisadas, a
peram obter serão suficientes para confirmar as equipe deve revisitar o objetivo, as questões
possíveis constatações ou não. Constatações insu- de auditoria e as possíveis constatações visan-
ficientemente evidenciadas não se sustentam, daí do a garantir o foco da análise.
a importância de lançar mão da triangulação.

A análise de informações pode ser quantitativa ou qualitativa, o que depende basicamente dos
tipos de informações a coletar, definidas com foco nas questões de auditoria.

ABORDAGEM QUANTITATIVA ABORDAGEM QUALITATIVA

Útil para quantificar e comparar Auxilia na compreensão de


dados, fatos ou opiniões significados, experiências e
relacionados ao onbjeto pontos de vista das pessoas
da auditoria. envolvidas.

Figura 17 – Abordagens possíveis na análise de dados


Fonte: Interlocus, 2015.

Usa-se análise qualitativa para obter uma b) Como os pacientes avaliam sua experiência
compreensão mais profunda de percepções, ao buscar atendimento nessa unidade?
razões e motivações acerca de um problema e
seu contexto. No âmbito do SUS, estas seriam c) Como se dá o relacionamento entre a UPA e
questões apropriadas para o uso de aborda- a Secretaria Municipal de Saúde?
gem qualitativa:
Técnicas usadas para obter dados de natu-
a) Que fatores afetam o desempenho da UPA reza qualitativa em auditorias são menos es-
24h do município? truturadas, como é o caso de entrevistas em
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 49

profundidade e grupos focais, e mais apro- regulação é adequado?


priadas para obter detalhes e uma visão mais
ampla sobre um problema. Análise qualitativa c) Quais os principais fatores que dificultam
vale-se das informações concretas que o au- o acesso de pacientes ao tratamento segun-
ditor tem em mãos; não existe a possibilidade do os próprios pacientes (entre os listados no
de generalizar conclusões para situações não questionário)?
examinadas.
As respostas a essas questões podem ser des-
A abordagem quantitativa, por sua vez, é uti- critas utilizando-se as medidas estatísticas mé-
lizada quando se pretende descrever numé- dia, mediana, moda, intervalo e desvio-padrão
rica ou estatisticamente um fenômeno. São (figura 18). A questão (b), por exemplo, pode
exemplos de questões apropriadas à análise ser respondida obtendo-se uma planilha com
quantitativa: todos os pacientes inscritos no TFD no exer-
cício anterior e respectivas datas de inscrição
a) O consumo de combustível por ambulâncias e de referenciamento. A média e o desvio-pa-
é compatível com os atendimentos realizados drão sinalizam se o tempo de espera é razoável
no primeiro trimestre? ou não. Pode-se calcular o percentual de pa-
cientes com tempo de espera excessivo (crité-
b) O tempo para que pacientes da alta com- rio temporal deve ser definido). A análise pode
plexidade sejam encaminhados para trata- ser enriquecida classificando-se os pacientes
mento fora de domicílio (TFD) pela central de segundo as doenças que os acometem.

Medida Significado Utilidade


Soma de todas as observações
Quando os valores estão simetricamente
Média divida pela quantidade de
distribuídas (p.ex.: peso e altura).
observações.
A observação que fica no meio
Quando um valor extremo pode distorcer
Mediana quando todas as observações são
a média (p.ex.: renda).
colocadas em ordem crescente.
Para descrever valores “típicos” (p.ex.:
Moda A observação mais frequente.
número de filhos numa família)
Para complementar a compreensão da
A diferença entre a maior e a
Intervalo média e mediana quando os valores estão
menor observação.
distribuídos de forma ampla.
Para complementar a compreensão da
Desvio- É uma medida de dispersão dos média. Numa distribuição normal, 68%
padrão valores em relação à média. dos valores estão a menos de um desvio-
padrão da média.

Figura 18 – Medidas estatísticas frequentemente utilizadas em auditoria


Fonte: Interlocus, 2015.
50 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Dados numéricos podem ser analisados por séries temporais da execução orçamentária
meio do uso de gráficos, tais como histogra- do Programa Farmácia Popular do Brasil, reve-
mas e gráficos de dispersão, que revelam la que a execução direta do FNS cresceu bem
tendências, regularidades, descontinuidades, mais do que as demais modalidades no perío-
desempenhos extremos (bons e ruins), desi- do de 2006 a 2009.
gualdades na distribuição de bens e serviços
públicos. O gráfico mostrado na figura 19 re- Na figura 21, são apresentados três exemplos
vela que a maioria dos pacientes de câncer de situações de auditoria a fim de ilustrar a co-
diagnosticados em 2010 tinham a doença erência que deve existir entre questão de au-
em estágio avançado (estadiamento 3 e 4). ditoria, informação requerida, procedimento
Já o gráfico seguinte (figura 20), que mostra de coleta e procedimento de análise.

Figura 19 – Estadiamento do câncer no momento do diagnóstico no Brasil em 2010


Fonte: Interlocus, 2015.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 51

Figura 20 – Execução orçamentária do Programa Farmácia Popular do Brasil


Fonte: Interlocus, 2015.

Exemplo 1 Exemplo 2 Exemplo 3


Quais são os fa- Estão regulares oscon-
Qual o nível de satisfação
tores que dificul- tratos assinados pela
dos pacientes sobre os
Questão tam a atuação Secretaria Municipal de
serviços prestados pelo
dos médicos no Saúde de Amendoeiras
hospital e seus motivos?
hospital X? em 2014?
Opinião dos pacientes (sa-
Rol de cláusulas contra-
Informação Opiniões dos tisfação com os serviços
tuais que serão objeto
requerida médicos. e motivos de satisfação e
de análise.
insatisfação).
Procedimento Entrevista ou Requisição de cópias dos
Sondagem
de coleta grupo focal. contratos celebrados.
Calcular o percentual de Verificar se os contratos
avaliações em cada nível cumprem os requisitos
Identificar e
de satisfação, calcular o legais e normativos, clas-
classificar em
Procedimen- nível médio de satisfação sificá-los como confor-
categorias os
to de análise e identificar os motivos mes ou não conformes,
fatores aponta-
mais frequentes para sa- quantificar a frequência
dos.
tisfação e insatisfação com das razões de não con-
o serviço. formidade.
Abordagem Qualitativa Quantitativa Quantitativa

Figura 21 – Exemplos de abordagens qualitativa e quantitativa utilizadas em auditoria


Fonte: Interlocus, 2015.

É recomendável que os procedimentos de análise sejam descritos na matriz de análise de infor-


mações de modo a ser facilmente compreendido por outro auditor.
52 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Caso a descrição do procedimento seja longa para sustentar uma possível constatação
para ser descrita na matriz, pode-se indicar ou contribuir para responder uma questão
o título do procedimento e fazer referência de auditoria, elas devem ser eliminadas da
ao papel de trabalho destinado a registrar a matriz;
análise.
• quando as informações previstas não fo-
3.7 Validação das matrizes rem suficientes para responder as ques-
tões de auditoria, deve-se identificar e
As matrizes construídas devem ser submetidas acrescentar as informações que faltam;
a validação, primeiramente pela própria equi-
pe e, em seguida, pelo supervisor. • quando a equipe não souber ao certo onde
e como cada informação pode ser obtida,
Na revisão de cada questão de auditoria, a deve consultar auditores que possam ter
equipe deve se perguntar: utilizado esse tipo de informação anterior-
mente ou fazer uma prospecção de possí-
• se as informações previstas na matriz de veis fontes para verificar se a informação
coleta são necessárias e suficientes para existe e como pode ser acessada;
responder as questões de auditoria;
• quando a equipe acreditar que as informa-
• se está claro onde e como cada informação ções previstas não podem obtidas dentro
pode ser obtida; do prazo da auditoria e com os recursos
disponíveis, ou que não haverá tempo para
• se a obtenção das informações previstas é se fazer todas as análises previstas, deve
factível dentro do prazo da auditoria e com restringir as questões de auditoria àquelas
os recursos disponíveis; que sejam as mais urgentes ou relevantes
ou modificar a estratégia de coleta e análi-
• se está claro como cada informação obtida se planejada;
será usada na construção da constatação;
• finalmente, quando não estiver claro como
• se haverá tempo para se fazer todas as cada informação obtida será usada na
análises previstas. construção da constatação, mas se acredi-
tar que a informação é necessária, deve-se
Cada um desses pontos de verificação enseja procurar a orientação de auditores que já
uma ação por parte da equipe, a saber: enfrentaram a mesma situação.

• quando houver informações previstas na A validação das matrizes pelo supervisor técni-
matriz de coleta que não serão usadas co, além de repassar esses pontos que foram
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 53

alvo de revisão pela equipe, deve enfatizar a O painel de referência é um mecanismo bara-
consistência lógica da matriz, a capacidade to e rápido para se ouvir especialistas visando
desse instrumento de levar a equipe a alcan- focalizar melhor a auditoria e construir crité-
çar os resultados esperados com a auditoria e rios. Os pontos de vista trazidos pelo painel
a exequibilidade do trabalho. Eis algumas per- auxiliam a equipe a sustentar ou alterar suas
guntas que o supervisor técnico deve fazer: premissas e decisões. Deve-se cuidar para
que a seleção de convidados e a condução
• As questões, quando respondidas, permi- das discussões sejam feitas de modo a não
tem alcançar o objetivo da auditoria? privilegiar determinado grupo, evitando-se o
risco de viés.
• As informações requeridas são suficientes
para responder às questões? As fontes de Um painel de referência também funciona
informação estão corretas? como ferramenta de controle de qualida-
de, pois possibilita conferir a relevância das
• Os procedimentos de coleta são adequa- questões de auditoria, verificar o rigor e a
dos segundo o tipo de informação? suficiência do método proposto, e colher va-
riado conjunto de opiniões especializadas e
• Os procedimentos de análise são suficien- independentes sobre a estratégia de coleta e
tes para conduzir às constatações? análise de informações.

• As possíveis constatações são compatíveis Representantes do órgão ou programa audi-


com as questões de auditoria? tado podem ser convidados para participar
de painéis de referência. Contudo, alguns as-
O supervisor técnico deve fazer o papel de pectos devem ser considerados. A favor da
cético, questionando a equipe de modo a ser participação dos auditados no painel estão os
convencido da qualidade do planejamento. seguintes fatores:

Quando a auditoria for considerada complexa • normalmente os auditados detêm co-


ou tiver como objeto uma atividade pouco co- nhecimento dos detalhes do programa/
nhecida pela equipe, a validação das matrizes política;
pode ser feita por meio de um painel de re-
ferência. Trata-se de um fórum de escuta de • possuem experiência e sensibilidade das
especialistas, gestores e demais atores sociais dificuldades de implantação;
que visa explorar diferentes pontos de vista
sobre o tema alvo da auditoria. Pode ter o for- • às vezes, podem ser os únicos especialis-
mato de seminário ou de oficina de trabalho. tas disponíveis.
54 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Contra a participação do auditados no painel articulados no bojo do relatório de auditoria,


pesam os seguintes aspectos: onde deve ficar demonstrada a conexão entre
evidências, constatações e recomendações.
• os auditados podem inibir os outros parti- Porém, o relatório é somente o produto final
cipantes, sobretudo no caso de beneficiá- de uma auditoria que, para ser elaborado,
rios ou terceiros que possuam alguma re- contou com documentos obtidos ou produzi-
lação de dependência com o órgão gestor; dos durante o trabalho.

• podem monopolizar a discussão, empo- Tais documentos, denominados papéis de


brecendo o resultado; trabalho, devem ser mantidos organizados e
à disposição de quem necessite certificar-se
• podem direcionar a abordagem evitando da correta obtenção de evidências. Os papéis
aspectos desfavoráveis à gestão. de trabalho constituem a documentação que
evidencia o trabalho desenvolvido pelo audi-
Se houver risco de que esses aspectos negati- tor em todas as fases da auditoria. Devem ser
vos possam prevalecer, uma solução possível completos e detalhados o suficiente para que
seria convidar os auditados para uma reunião um auditor experiente que não tenha partici-
em separado na qual terão a oportunidade de pado da auditoria possa, com base na docu-
conhecer e opinar sobre o que a equipe pre- mentação, compreender os procedimentos
tende realizar na auditoria. Esse tipo de ini- adotados, as evidências obtidas, as consta-
ciativa contribui para se obter o comprometi- tações e as conclusões alcançadas (BRASIL,
mento dos auditados com o objetivo e a forma 2010a).
de condução da auditoria.

A validação das matrizes de coleta e análise de


informações pela equipe, pelo supervisor téc-
nico e, quando cabível, por um painel de refe-
rência é medida fundamental para assegurar Importante
que as fases operativas e de elaboração de re-
latório sejam realizadas com qualidade.
Papel de trabalho é todo
documento relevante para
3.8 Papéis de trabalho
a auditoria preparado por
terceiros ou pela própria
A sustentação das constatações por meio de
equipe de auditoria.
evidências suficientes, adequadas e pertinen-
tes é a base de um trabalho de auditoria. Essa
sustentação se dá por meio de argumentos
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 55

Segundo os Padrões de Auditoria de seguinte (adaptado de BRASIL, 2010a):


Conformidade do TCU, papéis de trabalho for-
mam a • objetivo, escopo, cronograma e metodo-
logia do trabalho;
documentação que constitui o suporte de todo o tra-
balho desenvolvido pelo auditor, contendo o registro • matrizes de coleta e de análise de
de todas as informações utilizadas, das verificações a informações;
que procedeu e das conclusões a que chegou, inde-
pendentemente da forma, do meio físico ou das ca- • instrumentos de coleta de dados;
racterísticas. Consideram-se papéis de trabalho, entre
outros, planilhas, formulários, questionários preenchi- • resultados das técnicas de diagnóstico
dos, fotografias, arquivos de dados, de vídeo ou de áu- aplicadas;
dio, ofícios, memorandos, portarias, cópias de contra-
tos ou termos de convênio, matrizes de planejamento, • resultados de questionários, entrevistas,
de achados e de responsabilização. Ao final da audi- inspeções físicas e exames documentais
toria, todos os papéis de trabalho obtidos devem ser realizados;
classificados em transitórios ou permanentes (BRASIL,
2009, p.22). • resultados de análises estatísticas e de
banco de dados;
Um papel de trabalho é considerado perma-
nente se a informação nele contida foi utiliza- • matriz de constatações;
da para comprovar ou definir as questões e os
procedimentos de auditoria; para controlar, • análise da justificativa do auditado.
auxiliar ou documentar a execução da audito-
ria; ou ainda para evidenciar os achados. Se o Papéis de trabalho devem ser mantidos orga-
papel de trabalho não foi utilizado para nenhu- nizados e documentados porque oferecem su-
ma dessas finalidades, é transitório (BRASIL, porte a todo o processo de planejamento, exe-
2009). O órgão de auditoria deve definir se cução e supervisão da auditoria, contribuindo
os papéis transitórios devem ser descartados para a qualidade e a eficiência da auditoria,
imediatamente à aprovação do relatório de bem como subsidiam a elaboração do relatório
auditoria ou se devem ser armazenados por e a resposta a questionamentos do auditado
determinado tempo. ou de outras partes interessadas. Além disso,
favorecem a revisão da qualidade da auditoria
A equipe de auditoria tem a responsabilidade por terceiros, subsidiam a realização de novos
e a liberdade para definir a quantidade, o tipo trabalhos e contribuem para o desenvolvimen-
e o conteúdo da documentação. Entretanto, to profissional do auditor (BRASIL, 2010a).
recomenda-se documentar principalmente o
56 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

A utilidade dos papéis de trabalho depende da Ao desenhar um papel de trabalho, o auditor


capacidade do órgão de auditoria de garantir a deve indicar no cabeçalho: órgão ou entidade
segurança, integridade, acessibilidade e recu- auditado; número da demanda registrada no
perabilidade das informações, seja em papel, SISAUD/SUS; título e código do papel de traba-
meio eletrônico ou outras mídias. A documen- lho; objeto auditado; período de realização da
tação de auditoria deve ser armazenada duran- auditoria; numeração da página no formato nº
te o tempo necessário para satisfazer exigên- folha/total de páginas. No rodapé, deve ser
cias legais e administrativas. indicado: nomes do executor e do revisor; e
data de preenchimento.
Projeto de papéis de trabalho
Todo papel de trabalho deve indicar: as fontes
Papéis de trabalho devem ser projetados par- dos dados; os documentos analisados e pes-
tindo-se da finalidade pretendida. A finalidade soas entrevistadas, conforme a finalidade do
do instrumento de coleta de dados que deve papel de trabalho; notas explicativas com es-
ser projetado pode ser verificada observando- clarecimentos sobre o conteúdo, quando ne-
se a matriz de coleta de dados, que sinaliza a cessário; e campo para referenciar outro papel
informação a obter, bem como o uso previsto de trabalho, quando for o caso.
na matriz de análise de informações. Pode-se utilizar folha mestra e folhas subsidiá-
rias quando cabível. A folha mestra serve para
A qualidade da documentação é fator essencial sintetizar o trabalho de análise realizado e as
da qualidade da auditoria como um todo. Nesse folhas subsidiárias registram detalhes da ma-
sentido, bons papéis de trabalho devem ser: téria objeto da folha mestra.

• completos, com início, meio e fim, de modo a 3.9 Relatório analítico


registrar os passos que o auditor planejou ou
utilizou para coletar e analisar informações; O relatório analítico é o principal produto da
fase analítica, e servirá de guia para a ação da
• concisos, indicando registros sucintos, porém equipe na fase operativa. Propõe-se, neste
suficientes para produzir evidências e emba- curso, ampliar o conceito de relatório analíti-
sar constatações; co vigente no DENASUS visando aumentar sua
capacidade de apoiar a equipe no trabalho de
• lógicos, construídos conforme a sequência campo.
natural dos fatos e o objetivo visado com o
respectivo procedimento; e Nesse sentido, o relatório analítico será consi-
derado como o agregado dos seguintes produ-
• precisos, isto é, não apresentar imperfei- tos gerados durante a fase analítica:
ções e incorreções.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 57

a) visão geral do objeto e do problema de ser inapropriadas ou irregulares, permitindo


auditoria; à equipe elaborar hipóteses sobre possíveis
constatações a serem confirmadas ou não
b) matrizes de coleta e de análise de informa- com as verificações in loco.
ções validadas;
As matrizes de coleta e de análise de informa-
c) papéis de trabalho desenhados e testados; ções validadas, juntamente com o cronogra-
ma, são os instrumentos essenciais para guiar
d) cronograma detalhado da fase operativa o trabalho de campo e devem ser elaboradas
com indicação de responsáveis pela aplicação conforme discutido na seção 3.3. As matrizes
dos procedimentos de auditoria previstos; e servem para lembrar a equipe da estratégia
metodológica escolhida para obter evidências
e) estimativa de custos com diárias, passagens e construir constatações que responderão às
e outras despesas. questões de auditoria.

Preparar a visão geral do objeto a auditar O cronograma, além de indicar prazos para as
pressupõe fazer uso das informações levan- atividades, cumpre a função de indicar a me-
tadas preliminarmente, conforme descrito na lhor sequência para realização das atividades
seção 3.2. A visão geral permite compreender durante a fase operativa. Ao listar as ativida-
as características principais do que será audi- des, deve-se indicar o membro da equipe res-
tado, seja um órgão ou entidade, um processo ponsável por executar cada uma delas e se ha-
de trabalho, um serviço; a legislação e normas verá outro membro prestando apoio.
aplicáveis, que serão fontes de critérios; pro-
blemas de desempenho, impropriedades e ir- Quanto mais complexa e longa for a auditoria,
regularidades detectadas anteriormente; pon- mais importante será o uso de um cronograma.
tos fracos e deficiências de controle. Contudo, mesmo auditorias com fases operati-
vas reduzidas (menos de duas semanas) podem
Um mecanismo para compartilhar, no âmbito se beneficiar de um cronograma simplificado.
do DENASUS, o levantamento de informações
de auditorias com objetos similares pode en- A experiência em auditoria mostra que quan-
riquecer e agilizar a tarefa de construir a visão do a equipe se encontra no trabalho de campo,
geral. O texto da visão geral servirá para com- surgem fatos novos e imprevistos que exigem
por a versão final do relatório de auditoria. que os planos sejam alterados. A equipe deve
ter flexibilidade para, mantendo o foco no ob-
Deve-se atentar para o fato de que o levanta- jetivo da auditoria, fazer ajustes ao cronogra-
mento preliminar em sistemas de informação ma. (figura 22)
do SUS pode revelar transações que pareçam
58 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Auditoria: Operação da UPA 24h no Município de Abelhas.


Tarefa Responsável Colaborador Data Local
Receber documentos solicitados João 26/10/15 SMS
pelo CA nº 2
Entrevistar Secretário Municipal João Carlos Augusto 26/10/15 SMS
de Saúde
Entrevistar coordenador da UPA Ana Maria Janaína 26/10/15 UPA de Abelhas
24h
Realizar observação direta da Janaína João 27/10/15 UPA de Abelhas
recepção de pacientes
Realizar sondagem com Carlos Augusto Ana Maria 27/10/15 UPA de Abelhas
pacientes
Inspecionar instalações João Janaína 28/10/15 UPA de Abelhas

Examinar demonstrativo de Carlos Augusto 28/10/15


despesas da UPA

Figura 22 – Exemplo de cronograma de auditoria


Fonte: Interlocus, 2015.

Recomenda-se preparar um sumário dos pa-


A preparação e validação de papéis de trabalho péis de trabalho desenhados indicando nome
na fase analítica possibilitará à equipe condu- e finalidade e colocar todos os papéis como
zir as fases subsequentes com maior qualida- anexos do relatório analítico.
de e agilidade. O papel de trabalho mantém a
equipe focada nas informações que devem ser Por fim, deve-se estimar os custos com a audi-
buscadas, facilita sua coleta e organização e fa- toria de modo a contribuir para a gestão orça-
vorece a análise e a elaboração dos relatórios mentária do órgão de auditoria. A estimativa
preliminar e final. de custos é importante pois representa um fa-
tor de restrição à realização da auditoria.
Por outro lado, ir a campo sem papéis de tra-
balho torna caótica a coleta e a análise de da- Se o custo for maior do que a disponibilidade
dos. A falta de tempo para elaborar papéis de de recursos, deve-se rever o escopo do traba-
trabalho pode ser um dificultador quando não lho, reduzindo-se, por exemplo, o número de
existe um banco de papéis de trabalho na or- localidades visitadas. A disponibilidade redu-
ganização. Porém, se os papéis desenvolvidos zida de recursos pode reduzir o escopo a ponto
pelas equipes forem colocados à disposição de de a equipe não conseguir atender à demanda
todos os demais auditores, o órgão de audito- e à respectiva tarefa. O supervisor deve, por-
ria ganha em produtividade. tanto, tomar sua decisão buscando equilibrar
prazo, custo e escopo da auditoria. (figura 23)
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 59

Auditoria: Operação da UPA 24h no Município de Abelhas.


Responsável Passagens Diárias Desconto Indenização Suprimento Adicional Outros Custo
(R$) (R$) Aux- Transporte de Fundo de custos Total
Aliment. (R$) (R$) Embarque (*) (R$)
(R$) (R$) (R$)
João Batista 1.200,00 1.650,00 (140,00) - 200,00 280,00 - 3.190,00

Ana Maria 1.200,00 (140,00) - - 280,00 - 2.990,00


Magalhães 1.650,00
Janaína - (140,00) 330,00 - - - 1.840,00
Barros 1.650,00
Carlos - (140,00) 330,00 - - - 1.840,00
Augusto 1.650,00
Feijó
-
TOTAL 9.860,00

Figura 23 – Exemplo de planilha de custos de uma auditoria


Fonte: Interlocus, 2015.

O intenso envolvimento de toda a equipe na elementos com base na observação de ape-


fase analítica, além de redundar num relatório nas alguns dos exemplares desse conjunto. As
analítico mais completo e apropriado, prepara técnicas de amostragem são utilizadas em dis-
os auditores para o trabalho de campo ao pro- tintos contextos, como quando uma empresa
piciar o desenvolvimento de uma compreen- testa a sua linha de produção, observando a
são mais acurada sobre o que será feito. qualidade de alguns produtos dentro de um
lote, ou quando institutos de pesquisas con-
Não há qualquer ganho para a equipe e para o sultam um grupo de eleitores para antever o
órgão de auditoria encarar a elaboração do re- resultado de uma disputa eleitoral, dentre ou-
latório analítico como uma tarefa pró-forma, tras inúmeras situações.
a ser cumprida como obrigação anterior ao
início dos trabalhos de campo. O investimento Em vez de verificar a condição de apenas parte
de tempo e de labor criativo na construção do do grupo estudado, por meio de uma amos-
relatório analítico traz ótimo retorno na forma tra, pode-se optar por observar todos os ele-
de agilidade e qualidade na fase operativa e na mentos constantes do grupo avaliado (100%).
elaboração do relatório final. Nesse caso, fala-se de censo, que é a obser-
vação de todos os elementos existentes ou
3.10 Amostragem acessíveis.

A amostragem é utilizada para produzir infor- Os censos são vantajosos quando a população
mações sobre um determinado conjunto de é pequena o suficiente para permitir a análise
60 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

de todos os elementos, quando o tamanho com maior experiência e, também, maior in-
amostral necessário para permitir a inferên- vestimento em sua capacitação. Com isso, há
cia estatística é muito próximo ao tamanho da uma tendência de melhor qualidade dos dados
própria população, ou quando uma caracte- coletados em levantamentos amostrais.
rística particular que se está estudando é tão
rara, que não permitiria um número mínimo As técnicas de amostragem podem ser divi-
de casos para análise caso se utilizasse uma didas em dois grandes grupos: a amostragem
amostra. Existem situações, ainda, em que probabilística, também denominada estatís-
os elementos que compõem a população são tica; e a amostragem não probabilística. A
importantes por si mesmos e o levantamento amostragem probabilística prevê a seleção de
dos dados relacionados a todos são essenciais elementos por meio de métodos aleatórios, de
aos objetivos do trabalho. forma a assegurar que a amostra é represen-
tativa da população da qual foi retirada e, por
Na prática, em auditoria, em função da limita- isso, permite a generalização dos resultados
ção de recursos, a realização de censos torna- amostrais. A amostragem não probabilística,
se possível apenas quando a população de in- por sua vez, não permite a generalização au-
teresse é pequena. Nesse caso, a equipe tem tomática dos resultados. É adequada ao enfo-
condições de analisá-la por completo. que de avaliação qualitativo, sendo mais con-
veniente quando se requer escolha controlada
Por outro lado, os levantamentos amostrais de elementos com determinadas característi-
podem apresentar vantagens sobre os cen- cas, como criminosos, pacientes etc.
sos. Por exemplo, os censos possuem fortes
requisitos técnicos e administrativos. Esses Amostragem não probabilística
requisitos nem sempre são perfeitamente se-
guidos em grandes populações em função da A amostragem não probabilística é desenvolvi-
dificuldade em se manter o adequado nível de da com o objetivo de analisar um grupo de ele-
qualidade em todos os testes aplicados. Isso mentos pertencentes a uma população, mas
significa que a qualidade e a confiabilidade dos não obedece a regras estatísticas de seleção
dados coletados em um censo mal executado dos elementos que permitam que as conclu-
podem vir a ser menores do que aquelas ob- sões observadas na amostra possam ser esten-
tidas em um trabalho menor e mais manejá- didas automaticamente ao restante da popu-
vel como a amostragem. Normalmente, nos lação. Na amostragem não probabilística ou
levantamentos censitários necessita-se a con- não estatística, a seleção dos elementos para a
tratação de uma grande quantidade de pes- análise ocorre de forma não aleatória e segun-
quisadores. Por outro lado, as pesquisas em do critérios definidos caso a caso. Portanto,
menor escala, realizadas por amostragem, em amostra não probabilística é um subgrupo da
geral, permitem a contratação de profissionais população no qual a escolha dos elementos
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 61

não depende da probabilidade de seleção, e limitações de tempo ou de recursos impostos


sim das características da pesquisa. aos trabalhos de pesquisa. Assim, processos
de uma mesma unidade ou com localização
A amostragem não probabilística pode ser uti- geográfica acessível podem ser priorizados por
lizada em diversas situações, como, por exem- serem menos onerosos, mesmo com o conhe-
plo, quando a pesquisa não tem interesse em cimento de que eles podem não refletir a re-
estudar todo o universo e a amostra não pre- alidade que se apresenta em todo o universo
cisa ser representativa da população; os obje- desses processos. Os elementos são incluídos
tos podem ser raros ou difíceis de localizar; a na amostra por conveniência. A vantagem da
pesquisa precisa se basear em respondentes amostragem por conveniência é a facilitação
voluntários; a pesquisa busca identificar al- da seleção amostral e da coleta de dados.
guns casos individuais que são materiais ou
relevantes por si próprios; os pesquisadores Outra técnica não probabilística é a amostra-
entendem que alguns elementos precisam gem por julgamento. Nela, o conhecimento e
ser analisados por possuírem indicativos de a experiência dos profissionais envolvidos na
irregularidade; ou quando os pesquisadores pesquisa orientam a escolha dos itens. Neste
desejam apenas descrever uma determinada método a seleção dos elementos é funda-
questão, sem quantificá-la. mentada apenas no juízo, na capacidade e
na experiência do pesquisador ou de um es-
A amostragem não probabilística não impli- pecialista, que julgam quais elementos mais
ca, necessariamente, no abandono de abor- apropriados para o estudo ou exame em ques-
dagens sistemáticas de seleção para permitir tão. Por exemplo, em uma auditoria, o auditor,
a escolha de elementos específicos. Para ser com base no seu conhecimento sobre o tema,
bem executada, ela demanda o tratamento pode optar por investigar aqueles elementos
das informações e conhecimento suficiente considerados mais típicos do universo pesqui-
acerca da população para identificar os casos sado, mais materiais ou, ainda, que tenderiam
capazes de fornecer informações relevantes a apresentar os maiores problemas.
para o alcance dos objetivos da auditoria.

Nesse sentido, duas alternativas de ação co- O método dos casos críticos é utilizado quando
muns em auditorias são a seleção de itens com o pesquisador busca conhecer casos essenciais
base na conveniência ou no conhecimento e ou chave para compreender como ou por que
experiência dos profissionais envolvidos. A um determinado fenômeno ocorreu de forma
amostragem por conveniência ocorre quan- diferente daquela que se esperava que ele ti-
do os elementos mais acessíveis são escolhi- vesse ocorrido. Ou seja, os elementos são es-
dos para compor uma amostra. Essa forma colhidos dentre aqueles que apresentam com-
de seleção geralmente é feita em função de portamento não usual, ou raro. Esse seria o
62 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

caso de escolher objetos de auditoria em que determinada característica na população de


já há indícios de irregularidades, ou denúncias. um município, mas são selecionados elemen-
tos situados apenas em um único bairro, tais
Nesses casos, faz-se necessário que a equipe elementos refletem apenas a realidade daque-
explicite essa limitação em seu relatório, para la região e não de todo o município.
evitar generalizações inadequadas por parte
do leitor e para evidenciar o verdadeiro alcan- Existem diversas técnicas para obtenção de
ce das conclusões obtidas. uma amostra probabilística. Nesse curso vere-
mos apenas a amostragem aleatória simples.
Auditorias que utilizam amostragem não pro- A amostragem aleatória simples é uma técni-
babilística, mesmo não podendo fornecer ca em que a seleção é realizada de maneira
conclusões definitivas sobre o universo estu- aleatória e cada elemento da população tem
dado, podem produzir informações e indicati- a mesma chance de ser selecionado para com-
vos relevantes para a compreensão dos itens por a amostra.
observados e gerar evidências qualitativas im-
portantes, que podem ser corroboradas por Para que a amostragem aleatória simples pos-
outras evidências, ou pela confirmação dos sa ser realizada, é necessário que o pesquisa-
gestores. dor disponha de um cadastro que relacione
todos os elementos existentes na população,
Amostragem probabilística a partir do qual possa ser realizado o sorteio
aleatório dos elementos.
Na amostragem probabilística a seleção dos
elementos que irão compor a amostra deve As principais vantagens da amostragem alea-
ocorrer de forma aleatória. O pressuposto tória simples são:
para que isso ocorra é que uma amostra de ta-
manho adequado retirada aleatoriamente de a) produz estimativas confiáveis para a
uma população conterá, em regra, caracterís- população;
ticas muito similares às observadas na popu-
lação, funcionando como uma representação b) é simples de calcular e de interpretar os
adequada da mesma. resultados;

Amostras selecionadas de forma aleatória c) é a base para estratégias de amostragem


têm como objetivo evitar a produção de con- mais complexas e sofisticadas.
clusões enviesadas. Um estudo é considera-
do enviesado se, de alguma forma, favorece Uma das limitações dessa técnica é que ela de-
o aparecimento de determinados resultados. pende da existência de um cadastro atualizado
Por exemplo, quando se deseja avaliar uma com dados de toda a população que permita
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 63

a realização da seleção aleatória. Além disso, que se optou por uma amostra probabilística,
a amostragem aleatória simples pode não ser a equipe deve definir que nível de impreci-
exequível em levantamentos amostrais abran- são vai adotar para o cálculo do tamanho da
gentes, por exemplo, de caráter nacional, que amostra. Quanto maior o nível de precisão,
requerem a aplicação de muitos questionários maior o tamanho da amostra necessário para
em campo. Os custos com deslocamentos se- garanti-lo. Por outro lado, não se deve admi-
riam enormes, já que haveria grande probabi- tir níveis de erro muito elevados, sob pena de
lidade de grande número de municípios com enfraquecimento das conclusões do trabalho
apenas um elemento selecionado. ou da opinião a ser emitida.

Qual técnica é a mais adequada? O que é ne- Para a definição dos níveis aceitáveis de erro,
cessário para calcular o tamanho da amostra deve-se considerar os recursos humanos, fi-
nanceiros e de tempo disponíveis. Além de
A primeira pergunta a ser respondida é se a uma margem de erro definida, a equipe tam-
equipe pretende generalizar as conclusões dos bém deve definir um determinado nível de
exames. Caso a questão de auditoria exija o confiança. O nível de confiança é expresso em
exame de casos específicos ou a generalização termos percentuais e representa a proporção
não traga nenhum ganho real para os achados, de amostras cujo intervalo de confiança deve-
deve-se optar por amostras não probabilísti- rá conter o valor do parâmetro populacional.
cas. Contudo, se a pretensão for emitir um
juízo sobre a situação da população, como Por exemplo, se o nível de confiança deter-
por exemplo “as unidades móveis do SAMU minado for de 95%, isso significa que o parâ-
ficaram em média 38 dias paradas para algum metro populacional estará verdadeiramente
tipo de conserto”, então deve-se buscar uma contido no intervalo de confiança estimado
amostra probabilística. com base em 95% das amostras possíveis de
tamanho “n” para aquela população. Contudo
Outro componente do delineamento amos- esse parâmetro não estará contido no interva-
tral é a definição do grau de tolerância a erro lo encontrado com base em 5% das amostras
que a equipe de auditoria estará disposta a possíveis, por serem elas insuficientemente
assumir. representativas da população. Caso uma des-
sas amostras não representativas tenha sido
Em levantamentos amostrais, as conclusões escolhida ao acaso, seus dados não produzirão
obtidas sempre contêm alguma imprecisão, inferências corretas.
ou seja, sempre estarão sujeitas a algum nível
de erro. A vantagem das amostras estatísticas Sendo assim, ao se fazer uma inferência esta-
é que elas permitem que tal imprecisão seja tística, é sempre necessário deixar claro que
definida e seja transparente. Assim, uma vez aquela afirmação tem apenas um determinado
64 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

nível de confiabilidade, e que sempre estará apenas duas alternativas como resposta,
sujeita a erros. “conforme” ou “não conforme”. Na solução
conservadora assume-se que a variabilidade
Níveis de confiança muito próximos de 100% é máxima, que ocorre quando metade dos
exigirão amostras muito grandes, enquanto casos examinados assume uma resposta e a
níveis inferiores podem não satisfazer o grau outra metade a resposta oposta. Isso equi-
de segurança requerido. Observe que caso se vale a uma a variância de 0,25.
deseje reduzir o tamanho de uma amostra, va-
riando margem de erro ou nível de confiança, Calculando o tamanho da amostra
do ponto de vista matemático, é preferível fi-
xar o nível de confiança e aumentar a margem Para o cálculo do tamanho da amostra além
de erro. Isso porque o tamanho da amostra do erro amostral, do nível de confiança e da
é bem mais sensível a essa última medida. variância da população, também importa
Pequenos aumentos na margem de erro pro- saber se a população é finita ou não. Para
vocam reduções consideráveis no tamanho da populações infinitas e, para fins práticos,
amostra. populações muito grandes em relação ao
tamanho da amostra que se pretende sele-
Por fim, para determinar o tamanho da amos- cionar, o tamanho da população não é leva-
tra é preciso saber o grau de variabilidade de do em conta.
cada informação que será coletada ou a vari- Além disso, a forma de calcular o tamanho
ância da população. Como essa informação di- da amostra depende se o que se pretende
ficilmente estará disponível, uma vez que não obter do conjunto de dados é uma média
se dispõe de informações sobre toda popula- ou uma proporção. Vejamos cada caso.
ção, a equipe precisará ser capaz de estimar a
variância das variáveis a serem coletadas. Cálculo da amostra aleatória simples
para médias

Iremos adotar a chamada solução conserva- A fórmula básica a ser empregada é a seguinte:
dora. Nesse caso, utiliza-se o máximo va-
lor que a variância pode assumir, para ob-
ter o tamanho de amostra necessário para
realizar inferências para quaisquer popu-
lações, mesmo aquelas com alta variabili-
dade. Entretanto, essa solução somente é
válida quando se pretende estimar propor- Onde:
ções, por exemplo, o percentual de irregu- n = tamanho da amostra;
laridades em convênios, em que se admitem z = fator “z”,
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 65

σ2= variância populacional;


e = margem de erro. Se a amostra esperada é significativa, maior
que 5% do tamanho da população, devemos
Observe que a fórmula não faz referência usar um fator de correção para populações fi-
ao tamanho da população. Essa fórmula é nitas, que considera o tamanho da população.
usada para populações muito grandes em Então, a fórmula a ser usada passa a ser a se-
relação ao que se espera do tamanho da guinte, sendo que “N” representa o número
amostra. Caso a população seja pequena de indivíduos da população:
em relação ao tamanho da amostra espe-
rado, ou seja, a população é finita, usa- Cálculo da amostra aleatória simples para
mos uma outra fórmula apresentada mais proporções simples
abaixo.
Toda a análise realizada para cálculo do tama-
O fator “z” está relacionado com o nível de nho das amostras também é válida quando
confiança. Tecnicamente, ele representa se realiza a estimação de proporções simples.
a quantidade de desvios-padrão distantes Contudo, nesse caso precisamos realizar uma
do ponto médio de uma distribuição nor- pequena mudança nas fórmulas utilizadas:
mal. Quanto maior o fator “z” maior a área
sob a curva normal até “z”. Cada nível de
confiança define uma determinada área, e,
portanto, um determinado fator “z”. Para
fins práticos, na maioria dos casos utiliza-
mos os seguintes valores:

Tabela 1 - Fator “z” relativo aos níveis de


confiança mais usuais
Finalmente, obtendo a amostra
Nível de confiança z
Para gerar uma lista aleatória, a forma mais fá-
90% 1,64
cil é utilizar o Excel. Abaixo segue um passo a
95% 1,96 passo.
99% 2,58

Para outros níveis de confiança o fator “z”


equivalente é obtido por meio do uso de uma
tabela construída com essa finalidade.
66 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

1. Insira uma coluna antes da coluna que contém os dados (selecione a coluna com os dados,
clique com o botão direito do mouse e clique em “inserir”)

2. Na primeira célula dessa nova coluna insira a função de aleatoriedade:

Atenção ao segundo número do par ordenado. Ele deve ser muito maior que o tamanho da
população para evitar repetições.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 67

3. Arraste a fórmula para as outras linhas (selecione a célula, clique com o botão esquerdo do
mouse no canto inferior direito da célula e arraste até a última linha com dados). O resultado
ésemelhante ao mostrado na tela a seguir:
68 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

4. Selecione a coluna com os números gerados, clique com o botão direito e depois em “Copiar”
na janela que vai aparecer. Selecione novamente a mesma coluna, clique com o botão direito e
depois em “Colar Especial” na janela que vai aparecer. Selecione “Valores” e clique em “OK”.
MÓDULO 3 – Fase Analítica da Auditoria 69

5. Selecione novamente a coluna com os números aleatórios, clique em “Classificar e Filtrar”, e


depois em “Classificar do menor para o maior”

No quadro aviso de classificação, selecione “Expandir a Seleção” e clique em “ Classificar”.

6. Pronto, agora use os n primeiros números como os elementos da sua amostra de tamanho n.

Importante

É desejável que os auditores tenham noções de estatística para


poderem tomar decisões sobre como utilizar amostragem em
trabalhos de auditoria. Ainda assim, recorrer ao apoio de um
especialista em estatística pode ser útil para assegurar a qualidade da
amostragem.
70 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

MÓDULO 4
FASE OPERATIVA
DA AUDITORIA
Este capítulo está organizado para apoiar o desenvolvimento do módulo 4 em sala de aula, cujo
objetivo é de preparar os participantes para discutir com propriedade os procedimentos neces-
sários para a condução da fase operativa de uma auditoria. O capítulo é composto pelas seguin-
tes seções e objetivos de aprendizagem:

Sessão Objetivos de aprendizagem


Os participantes deverão ser capazes de discutir como proceder
durante o trabalho de campo, em especial quanto a emitir comunicado
Trabalho de
de auditoria, guiar a ação com base no cronograma e nas matrizes de
campo
coleta e de análise e informações, lidar com fatos alheios ao escopo da
auditoria descobertos in loco e relacionar-se com o auditado.

Os participantes deverão ser capazes de caracterizar a constatação


Evidências e com base no confronto entre evidências e critérios de auditoria, bem
constatações como de identificar as limitações impostas pelas evidências para a
sustentação da constatação.

Matriz de Os participantes deverão ser capazes de construir uma matriz de


constatações constatações, avaliar sua consistência e propor ajustes.

Dada uma matriz de constatações, os participantes deverão ser capazes


Relatório
de sintetizar, no relatório preliminar, as constatações preliminares
preliminar
obtidas nos trabalhos de verificação in loco.


A fase operativa corresponde à execução do que foi planejado na fase analítica. O objetivo
central nessa fase é obter evidências para caracterizar as constatações de forma consistente.
Evidenciação insuficiente compromete seriamente a qualidade da auditoria.

Para que possa ser bem-sucedida nesse intento, a equipe de auditoria deve pautar sua ação pelas
matrizes de coleta e análise de informações e executá-la dentro do cronograma desenvolvido. Os
principais produtos dessa fase da auditoria são a matriz de constatações e o relatório preliminar,
que sistematizam as constatações de auditoria e suas evidências.
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 71

Figura 24 – A fase operativa dentro do ciclo de auditoria


Fonte: Interlocus, 2015.

A interação com o auditado é um ingrediente e focalizadas em questões de auditoria bem


fundamental para o sucesso do trabalho, daí formuladas contribuem sobremaneira para o
a importância de manter relacionamento co- sucesso do trabalho de campo. Papéis de tra-
operativo baseado no profissionalismo e cor- balho desenhados para viabilizar os procedi-
dialidade, desde a reunião de abertura até o mentos indicados nas matrizes são outro fator
encerramento da auditoria. fundamental para a agilidade e qualidade do
trabalho.
4.1 Trabalho de campo
Antes de a equipe ir a campo, o órgão de au-
O desenvolvimento do trabalho de campo é ditoria deve emitir um ofício de comunicação
bastante influenciado pelo que a equipe con- para informar ao gestor que será realizada
seguiu realizar na fase analítica. Um relatório auditoria em seu estado, município ou uni-
analítico que proporcione uma visão geral sufi- dade de serviço em determinado período.
ciente do objeto a auditar aliado a matrizes de Normalmente o ofício é acompanhado de um
coleta e análise de informações consistentes comunicado de auditoria (CA) por meio do
72 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

qual se solicitam informações e documentos pessoa de contato. O agendamento deve se


previstos na matriz de coleta. dar antes da equipe se deslocar, visando asse-
gurar que as pessoas estarão disponíveis.
O CA deve ser enviado previamente para que
a documentação solicitada seja providenciada Ao chegar à unidade auditada para iniciar o
com antecedência. Esse prazo deve ser razo- trabalho de campo, realiza-se reunião de aber-
ável para o auditado. Se a quantidade de in- tura. Nesse encontro com o auditado, o coor-
formações e documentos permitir prever que denador comunica o início da auditoria, apre-
o auditado necessitará de certo tempo para senta a equipe e descreve o trabalho que será
levantar as informações e copiar documentos, realizado, especificando objetivos, escopo e
não adianta mandar o CA estabelecendo prazo critérios da auditoria.
exíguo para a resposta.
A equipe deve sempre esclarecer ao auditado
Para ir a campo, a equipe deve levar o essen- que a finalidade última da auditoria é a melho-
cial para orientar e apoiar sua ação: ria da gestão do SUS, quer seja a auditoria de
desempenho ou de conformidade. Essa decla-
a) cópia do ofício de comunicação e do comu- ração visa deixar o auditado menos desconfor-
nicado de auditoria emitidos; tável diante da iminência de os pontos fracos
de sua gestão virem a ser revelados, já que es-
b) matrizes de coleta e de análise de ses pontos fracos serão objeto de análise e de
informações; recomendações de modificação.

c) cronograma; A reunião de abertura também é aproveitada


para recolher documentos que o coordenador
d) papéis de trabalho desenvolvidos (roteiros possa ter solicitado previamente por meio de
de entrevista, planilhas para exame documen- um CA e solicitar recursos para a realização da
tal, roteiros de inspeção física etc.); auditoria. Entre os recursos que podem ser so-
licitados estão:
e) gravador e máquina fotográfica, cujas fun-
ções são facilmente substituídas por um bom a) local para trabalhar com telefone e internet,
celular com aplicativo de gravação de voz e fo- se necessário;
tografia. Assegure-se de que os equipamentos
sempre estejam com bateria carregada e me- b) apoio logístico da entidade auditada, como,
mória livre para novas gravações; por exemplo, para distribuir questionários de
pesquisa e acompanhar os auditores;
f) agenda de locais a visitar e de pessoas a en-
trevistar, com endereço, nome e telefone da
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 73

c) indicação de pessoa de contato para as de- Agir com integridade a fim de evitar pressões
mandas de auditoria; e para violar princípios éticos e demonstrar in-
dependência e imparcialidade são indicativos
d) indicação de pessoas-chave nos processos de comportamento ético e profissional essen-
de trabalho estudados que podem vir a ser ciais para cultivar a credibilidade junto ao au-
consultadas ou entrevistadas. ditado e a terceiros.

O relacionamento com o auditado deve es- Mantendo o foco


timular a atitude de cooperação entre as
partes, em prol dos objetivos da auditoria. A fase operativa deve ser conduzida
Profissionalismo e cortesia favorecem a coope- com objetividade e eficiência. Muitas vezes,
ração e devem ser demonstrados em todos os o tempo disponível em campo é reduzido, e
momentos em que o auditor se relaciona com deve ser bem aproveitado para coletar as in
o auditado. O auditor demonstra profissiona- formações conforme o que foi planejado.
lismo sendo claro com o auditado a respeito
dos objetivos e procedimentos de auditoria, Importante
bem como preparando-se adequadamente
para realizar a auditoria de forma a conhecer
sobre o que vai auditar e como o fará. Quando se sai a campo sem saber
exatamente o que se está buscan-
A atitude de cortesia também contribui para do, a tendência é de recolher infor-
um bom relacionamento com o auditado. O mações desnecessárias e deixar de
auditor deve manter atitude serena e tratar de obter informações importantes.
forma justa e equilibrada a todos com os quais
se relaciona profissionalmente. Deve evitar As matrizes de coleta e de análise
tanto manter-se demasiadamente próximo a de informações contribuem para
ponto de desenvolver uma relação de intimi- manter o foco no que é importante
dade com o auditado, quanto se colocar em para a auditoria.
posição de superioridade, com arrogância.

Uma habilidade importante na condução da


auditoria é saber ouvir com atenção e evitar Os instrumentos desenvolvidos para assegurar
falar mais do que o necessário. O auditor deve objetividade e eficiência no trabalho de campo
evitar falar de suas impressões pessoais ou são as matrizes de coleta e de análise de infor-
emitir qualquer juízo de valor sobre o que está mações, os papéis de trabalho e o cronogra-
sendo abordado. ma. A matriz de coleta contribui para manter
o foco porque indica que informações devem
74 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

ser buscadas, em quais fontes e por quais


meios. Toda informação não prevista nessa Importante
matriz, em princípio, não seria de interesse da
equipe. Contudo, isso deve ser analisado caso
Utilizar um cronograma permite
a caso, visto que a capacidade de previsão do
delegar atividades, evitando sobre-
que pode ser útil para responder às questões
carga do coordenador, e assegurar
de auditoria é limitada.
que o que é importante não deixe
de ser feito.
Nem sempre as condições de execução do
trabalho de campo imaginadas pela equipe na
fase analítica se confirmam. A realidade en-
contrada em campo pode mostrar que a ob- A realização das atividades de coleta de in-
tenção de alguma informação não é possível formações que requerem contato com repre-
segundo o procedimento de coleta planejado. sentantes do auditado ou que interfiram nas
Nesse caso, cabe à equipe identificar se há ou- rotinas da unidade devem ser comunicadas
tra forma de obter a informação, especialmen- previamente. Se houver impedimento a que as
te se a informação for essencial para caracteri- atividades se realizem do modo programado,
zar uma possível constatação isso deve ser ajustado na reunião de abertu-
ra ou imediatamente após, de comum acordo
Os papéis de trabalho desenhados têm o poder com o auditado.
de conferir eficiência ao processo de coleta ao
indicar como as informações devem ser obti- Imprevistos que ocorrem durante a fase ope-
das (perguntas de uma entrevista, por exem- rativa podem levar a equipe a alterar o cro-
plo) e organizadas. Não contar com papéis de nograma. Deve-se cuidar para que eventuais
trabalho para coletar e organizar informações alterações não afetem o prazo previsto para o
torna o processo confuso e ineficaz. trabalho de campo nem ameacem o alcance
do objetivo da auditoria.
Ao lado das matrizes e dos papéis de trabalho,
o cronograma é outro instrumento que auxilia Um tipo de imprevisto ocorre quando a equi-
a equipe a manter o foco no que foi planeja- pe se depara com fatos alheios ao escopo do
do ao indicar a sequência de atividades e os trabalho, porém relevantes. O que fazer? Duas
responsáveis por elas. É importante mesmo opções se apresentam. A primeira seria regis-
quando a auditoria é simples e o período de trar sucintamente o fato por meio de notas e
verificação in loco é reduzido. Em auditorias fotografias e relatá-lo ao supervisor, que irá
complexas e mais demoradas, cronograma é decidir se isso poderá ser abordado em outra
imprescindível. ação de controle.
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 75

A segunda opção é abordar o fato inesperado deve-se optar por não relatá-la nessa ocasião,
na auditoria em curso, desde que as seguintes deixando isso para o relatório preliminar.
condições estejam presentes:

a) se o fato estiver muito próximo do escopo 4.2 Evidências e constatações


previsto e puder se constituir no núcleo de uma
nova constatação; O foco de uma auditoria está em obter evi-
dências de que a situação do objeto auditado
b) se houver tempo para recolher evidências atende ou não ao critério aplicável. Segundo a
que permitam confirmar essa constatação; e publicação Auditoria do SUS,

A essência da fase operativa é a busca de


c) se isso não prejudicar a coleta de evidências evidências que permitem ao auditor formar
já planejada. convicção sobre os fatos. As evidências são
as informações que fundamentam os resul-
tados de um trabalho de auditoria. A obten-
No caso de incorporar o fato novo à auditoria, ção e a análise de dados é um processo
contínuo, que inclui a coleta e a reunião de
as matrizes de coleta e de análise devem ser documentos comprobatórios dos fatos ob-
atualizadas. servados, cuja análise e interpretação têm
como objetivo fundamentar o posiciona-
mento da equipe de auditoria sobre os fatos
Terminado o período das verificações in loco, é auditados. As evidências validam o trabalho
do auditor, sendo consideradas satisfatórias
recomendável realizar reunião de encerramen- quando reúnem as características de sufi-
to para informar ao auditado sobre os próximos ciência, adequação e pertinência (BRASIL,
2011a, p. 22).
passos, inclusive o envio de relatório preliminar
para que ele tome conhecimento do que foi en-
contrado pela equipe de auditoria e a possibili- Ao resultado da comparação entre critério e
dade de ele oferecer justificativas para o caso situação encontrada dá-se o nome de consta-
de não conformidades. tação. Uma constatação pode ser conforme,
quando a situação atende ao critério, ou não
Possíveis constatações podem ser apresentadas conforme, quando há discrepância entre situ-
nessa reunião verbalmente, dando ao auditado ação e critério. São elementos da constatação
a oportunidade de prestar algum esclarecimen- a situação do objeto, carcaterizada por evidên-
to útil às análises da equipe. Deve-se deixar cla- cias, o critério que define a situação ideal do
ro que as constatações são preliminares e que objeto, a causa que levou à situação e o efeito
poderão vir a ser confirmadas ou excluídas em gerado (figura 25).
virtude de análise mais aprofundada.

A depender da gravidade da constatação, prin-


cipalmente se envolver devolução de recursos,
76 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Figura 25 – Elementos da constatação


Fonte: Interlocus, 2015.

Durante a fase operativa, a equipe de audito- c) estar devidamente fundamentado em evi-


ria deve aplicar os procedimentos previstos dências; e
nas matrizes de coleta e de análise de infor-
mações visando confirmar ou não possíveis
constatações vislumbradas na fase analítica, d) mostrar-se convincente a quem não partici-
bem como encontrar outras constatações que pou do trabalho.
surjam com as verificações in loco. As consta-
tações devem ser desenvolvidas na matriz de
constatações, que será vista na próxima seção. As evidências, como elementos essenciais para
Uma constatação de auditoria deve ser desen- comprovar as constatações, também devem
volvida de forma consistente para embasar as atender a requisitos próprios para que mere-
recomendações e a conclusão do trabalho, e çam fazer parte do conteúdo de uma auditoria.
atender necessariamente aos seguintes requi- Evidências devem ser suficientes, adequadas e
sitos (adaptado de BRASIL, 2011a): pertinentes de forma a permitir ao auditor ob-
ter constatações e fundamentar sua conclusão.
a) ser relevante para os objetivos da auditoria;
A adequação é uma medida da qualidade da
b) ser apresentado de forma objetiva; evidência, dada por sua relevância e confia-
bilidade. Evidência relevante é aquela obtida
por testes ou exames apropriados à natureza
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 77

e características dos fatos examinados, que Enquanto suficiência é uma medida de quanti-
devem ter relação clara com o critério de audi- dade, adequação é uma medida de qualidade
toria. Evidência confiável possui autenticidade da evidência. Evidências adequadas podem ser
e fidedignidade, o que depende da fonte de insuficientes; nesse caso, deve-se obter mais
informação e das circunstâncias em que as in- evidências de qualidade. De outro lado, evi-
formações foram obtidas. dências inadequadas nunca serão suficientes,
visto que lhes falta qualidade para respaldar a
Evidência pertinente é a que se relaciona de constatação.
forma lógica e coerente com as observações,
conclusões e recomendações de auditoria.

Figura 26 – Atributos da evidência


Fonte: Interlocus, 2015.

Evidências classificam-se em evidência física, documental, oral (testemunhal) e analítica.

Evidência física: obtida por inspeção física; deve ser documentada por meio de amostras, foto-
grafias e filmes.

Evidência documental: a mais comum em auditoria, constitui-se de informações contidas em


documentos fornecidos pelo auditado ou terceiros, tais como ofícios, cartas, relatórios, notas
fiscais, contratos, extratos bancários e certidões.
78 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Evidência testemunhal: declarações tais como as obtidas em entrevistas e grupos focais. Esse
tipo de evidência deve ser registrada em documentos, sejam de áudio, vídeo ou textuais, de
modo a permitir sua análise.

Evidência analítica: obtida por meio de cálculos, comparações e raciocínio lógico utilizando-se in-
formações coletadas. Podem ser apresentadas em planilhas de cálculo e quadros comparativos,
por exemplo.

Evidências podem estar sujeitas a limitações Caso 1 – Auditoria realizada para apurar irre-
que afetam sua suficiência e adequação. gularidade na execução de convênios.
Evidências testemunhais tendem a não ser su-
ficientes, o que requer, para sua utilização em Constatação: A porta de entrada dos pacien-
auditoria, sejam corroboradas por documento tes ao tratamento oncológico na Fundação do
ou observação. Câncer não ocorre pela Central de Regulação
de Alta Complexidade.
Evidências provenientes apenas do gestor ou
da equipe da unidade auditada podem não 
Evidência: A organização da porta de entra-
ser adequadas devido a problemas de viés, o da dos pacientes ao tratamento oncológico na
que afeta a confiabilidade. O mesmo ocorre Fundação, não ocorre a partir da Central de
quando a única fonte consultada tem interes- Regulação de Alta Complexidade do Estado.
se no resultado do trabalho. Nesses casos, o Essa ferramenta existe, mas o tratamento de
auditor deve procurar obter uma outra fon- Oncologia não está sendo regulado pela mes-
te de evidências para melhor fundamentar a ma, em desacordo com a Portaria GM/MS
constatação. no.1559/2008 artigo 8o paragrafo 1o incisos
I,II,V,VI e as orientações do INCA/MS.
Evidências obtidas de amostras não-represen-
tativas ou relacionadas a ocorrência isolada Fonte da Evidência: No SCNES, sob o nº
não permitem fazer afirmações em relação 99999, está cadastrado, no Estado X, o
ao conjunto de casos, o que representa uma Complexo Regulador, tendo como um dos ní-
limitação. veis de atenção a Central de Regulação de Alta
Complexidade.
A seguir, são analisadas evidências apresenta-
das em relatórios de auditoria do DENASUS. Conformidade: Não Conforme
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 79

Análise: A afirmação de que a regulação para de auditoria, é evidência adequada e perti-


tratamento oncológico não é feita pela Central nente para sustentar a constatação. Pode ser
de Regulação de Alta Complexidade não é corroborada por declaração de representante
acompanhado de nenhuma comprovação de da unidade, o que aumenta a suficiência da
que isso ocorre. Não há, portanto, evidência evidência.
da situação; consequentemente, a constata-
ção não se sustenta como tal. Caso 3 – Auditoria em licitações

Caso 2 – Auditoria sobre a execução do Plano Constatação: As aquisições de medicamen-


Operativo Estadual de Sistema Prisional. tos e material de consumo odontológico
para suprir as necessidades da Atenção à
Constatação: Estrutura física da Unidade de Saúde no Sistema Penitenciário foram efetu-
Saúde da Colônia Penal Feminina do Município adas mediante licitação na modalidade Pregão
Y é inadequada.
 Eletrônico.


Evidência: A Unidade de Saúde apresenta Evidência: A aquisição de Medicamento e


estrutura física de construção antiga e inade- Material de Consumo Odontológico para
quada para atender às necessidades de aten- Atenção à Saúde no Sistema Penitenciário
ção no nível básico. Não atende o disposto na foi efetuada pela Comissão Permanente
legislação vigente no que se refere à padro- de Licitação da Secretaria Executiva de
nização física dos seguintes ambientes (…). Ressocialização do Estado X. Foi realizado um
Verificou-se a ausência dos seguintes ambien- Pregão Eletrônico no exercício de 2012, con-
tes: sala de coleta de material para laborató- forme dados a seguir:
rio, sala de vacina, central de material e este-
rilização, em desacordo com o preconizado no Processo nº 019/2012

Anexo A da Portaria Interministerial nº 1.777 Modalidade: Pregão Eletrônico nº 003/2012
de 09/09/2003, em vigor à época dos fatos. - Menor Preço

Objeto: Aquisição de material médico
Fonte da Evidência: Registro de inspeção física hospitalar para as Unidades Prisionais
realizada na Unidade de Saúde da Colônia Penal sob a responsabilidade da Secretaria de
Feminina do Município Y no dia 13/08/2014. Ressocialização - SERES por um período de
12 meses.

Conformidade: Não Conforme Pedido: Comunicado Interno nº 101, de
11/02/2012 - Gerente de Apoio Psicossocial,
Análise: A informação de que ambientes re- Saúde e Nutrição.

queridos na unidade de saúde não existem, Valor: R$ 918.744,50 (novecentos e dezoito
obtida por meio de inspeção física pela equipe mil setecentos e quarenta e quatro reais e
80 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

cinquenta centavos)
. dispositivos foram verificados pela equipe?


Recursos: Ministério da Saúde - Incentivo Como regra geral, o critério de auditoria sem-
para Atenção à Saúde no Sistema pre deve ser explicitado.
Penitenciário, recebidos pelo Fundo
Estadual de Saúde e repassado a Secretaria Caso 4 – Auditoria na base descentralizada do
Executiva de Ressocialização. SAMU 192 no Município Z.

Os procedimentos licitatórios estavam em con- Constatação: Falta de caracterização visual


formidade com a Lei Federal nº 10.520/2002.
 para o atendimento pré-hospitalar de urgên-
cia SAMU 192 na Base Descentralizada no
Fonte da Evidência: Pregão Eletrônico no Município Z.
009/2012, Pregão Eletrônico no 012/2012 e
Pregão Eletrônico no 013/2013. Evidência: Em visita à Base Descentralizada do
SAMU 192, localizada na Rodovia Tucuruvi, Km
Conformidade: Conforme. 19, que se encontrava fechada, observou-se a
falta de identificação visual do logotipo SAMU
Análise: Dado o enunciado da constatação, 192 na fachada do prédio, em desacordo com
depreende-se que a equipe buscou verificar a padronização estabelecida pelo Ministério
se a compra de medicamentos e de material da Saúde no Parágrafo Único, do Art. 5º, da
odontológico foi feita por meio de pregão Portaria/GM/MS nº 1.010, de 21/05/2012.
eletrônico, como deve ser no caso de bens
e serviços comuns, conforme prevê a Lei nº Fonte da Evidência: Relato de inspeção física
10.520/2002. Nesse sentido, identificar o pro- do prédio da Base Descentralizada do SAMU
cesso licitatório do pregão realizado é evidên- 192, no Município Z, no dia 12/11/2013. Fotos
cia pertinente, mas não suficiente, pois pode no anexo II.
ter havido outras aquisições de medicamentos
por meio de outras modalidades licitatórias, Conformidade: Não Conforme.
ou até mesmo com dispensa de licitação. Para
verificar essas possibilidades, a equipe deve- Análise: A constatação está bem evidencia-
ria verificar a lista de desembolsos da unidade da: a equipe visitou a Base Descentralizada do
gestora, bem como o controle de estoque. SAMU, declarou ter observado a inexistência
de identificação visual do serviço e documen-
A afirmação de que os procedimentos licita- tou o fato com fotos.
tórios estavam em conformidade com a Lei
Federal nº 10.520/2002 é vaga, pois a referi-
da lei traz uma série de dispositivos que regu-
lam os pregões eletrônicos. Como saber quais
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 81

4.3 Matriz de constatações

Trata-se de ferramenta utilizada para organizar informações necessárias à sustentação das cons-
tatações obtidas. O processo lógico para identificação de constatações e formulação de reco-
mendações traz os elementos fundamentais envolvidos com uma constatação.

Critério de auditoria
(o que deveria ser)

Evidência (o que é)

Constatação (comparação entre


o que é e o que deveria ser)

Determinação de
causas e efeitos

Formulação da recomendação

Figura 27 – Processo lógico de identificação de constatações e formulação de recomendações


Fonte: Interlocus, 2015.

O ponto de partida é o critério de auditoria, que pois há maior eficácia quando a recomendação
indica a situação ideal do objeto, definida por é dirigida à eliminação da causa de uma situação
norma ou padrão. Em seguida, toma-se a situa- não conforme. Explicitar o efeito dá a dimensão
ção real do objeto, encontrada na auditoria. Da da gravidade de uma situação não conforme.
comparação do critério com a evidência, surge
a constatação, que pode ser conforme ou não A organização dos elementos da constatação
conforme. no contexto de uma auditoria é feita por meio
de matriz de constatações, que, para cada
Uma constatação tem causas e efeitos, cuja ex- constatação, apresenta os respectivos crité-
plicitação contribui para sua caracterização. A rios, evidências e suas fontes, causas, efeitos e
causa da constatação é o alvo da recomendação, recomendações.
82 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

QUESTÃO DE CONSTATA- CRITÉRIO EVIDÊNCIAS FONTES DE CAUSAS EFEITOS RECOMENDAÇÕES


AUDITORIA ÇÃO EVIDÊNCIA

Enunciado Enunciado Legislação, Informações FFontes de Eventos ou Conse- Propostas da equi-


da questão da constata- norma, coletadas informação fatores que quências ou pe de auditoria
que se busca ção, deixan- ou ou obtidas por meio deram causa possíveis para resolver a
responder do clara a padrão ado- como resul- das quais fo- à constata- conse- situação objeto
com a audi- irregularida- tado como tado da aná- ram obtidas ção. quências da da constatação e
toria. de, a impro- referência. lise dessas as evidên- constatação. introduzir melho-
-priedade ou informações cias. rias que impeçam
o problema que indicam a repetição desse
de desem- a situação tipo de constata-
penho. encontra- ção.
da e Se cabível, deve
sustentam identificar os
as constata- responsáveis.
ções.

Figura 28 – Matriz de constatações e seu preenchimento


Fonte: Interlocus, 2015.

A matriz de constatações é útil numa audito- Ao elaborar e revisar matrizes de constata-


ria porque dá suporte ao desenvolvimento das ções, deve-se procurar evitar erros que fragi-
constatações de maneira estruturada e evi- lizam o trabalho, tais como os mostrados na
ta lacunas de informações. A matriz propicia página seguinte. A revisão da matriz de consta-
à equipe manter o foco da análise no que foi tações pela própria equipe, seguida da revisão
planejado e uniformizar o entendimento da do supervisor técnico, reduz bastante a pos-
equipe sobre o que foi constatado. sibilidade de que erros como esses venham a
acontecer.
Outra vantagem do uso de matriz de consta-
tações é facilitar a discussão dos resultados da
auditoria com supervisores, gestores e espe-
cialistas. O instrumento permite realizar re-
visão do trabalho de maneira a assegurar que
todas as constatações estejam solidamente
suportadas por evidências, que erros, defi-
ciências e questões relevantes tenham sido
resolvidos e que as recomendações estejam
fundamentadas.
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 83

Possíveis erros no uso de matriz de constatações

Constatações

• não identificar objetivamente a discrepância entre situação encontrada e critério


• propor constatações irrelevantes para o objetivo da auditoria
• propor constatações que não respondam às questões e estejam fora do escopo da
auditoria
• propor constatações sem critério correspondente
• manter constatação sem evidência suficiente

Evidências

• não identificar claramente a situação encontrada


• indicar evidências inúteis ou irrelevantes ao cumprimento dos objetivos da auditoria
• não obter evidências suficientes para dar suporte às constatações, ou sem confiabilidade
ou validade
• descrever como os procedimentos foram realizados (isso cabe na seção de metodologia)
• descrever a situação sem dar a perspectiva de sua natureza, extensão, importância e
período de ocorrência
• não especificar de forma precisa a fonte da evidência

Critérios

• não indicar todos os que se aplicam à situação


• não explicitar adequadamente
• indicar o normativo, sem localizar e comunicar o aspecto do normativo que é usado como
critério
• transcrever trechos das evidências documentais

Recomendações

• não formular recomendações para todas as constatações


• formular recomendações que não decorram logicamente das constatações
• formular propostas com intensidade ou amplitude desproporcional aos efeitos
• não identificar os responsáveis adequadamente
84 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

4.4 Relatório preliminar

O relatório preliminar é elaborado pela equipe com base nas constatações preliminares resul-
tantes dos trabalhos de verificação in loco. Trata-se de instrumento exclusivo de notificação ao
órgão, instituição ou unidade verificada, e aos agentes indicados como responsáveis. Com base
no relatório preliminar, o auditado apresenta justificativas para as constatações não conformes.

fonte de evidências

recomendações
constatação

evidências
}

QUESTÃO DE CONSTATA- CRITÉRIO EVIDÊNCIAS FONTES DE CAUSAS EFEITOS RECOMENDAÇÕES


AUDITORIA ÇÃO EVIDÊNCIA

A estrutura - O paciente O tempo Dados das A capacida- Diminuição Recomendar


da rede de co e o início com neoplasia médio de Apac de de da rede das chances
atenção on- do trata- maligna tem espera entre quimiote de atenção de cura e do desenvolva plano
cológica tem mento dos direito de a data do -rapia e de oncológica é tempo de para sanar as
possibilitado doentes de se submeter radioterapia sobrevida carências exis-
aos doentes câncer não ao primeiro e o início dos de 2013. para atender dos pacien- tentes na rede de
de câncer têm sido tratamento no tratamentos a demanda. tes tratados. atenção oncológi-
acesso tem- SUS em até 60 é de 62 e 95 ca, que contem-
dias contados dias, respec- Deterio- ple a aquisição
tratamento? do diagn - 110 equipa- ração da e instalação de
co em laudo mentos de qualidade equipamentos
patológico (Lei Apenas 39% radioterapia. de vida dos ou contratação
12.732/2012, dos pacien- - pacientes éa
art. tes iniciam to gover- durante os completa solução
tratamento namental tratamen- das carências
em até 60 tos. existentes.
dias. para a de-
manda.

Figura 29 – Transposição de informações da matriz de constatações para o relatório preliminar


Fonte: Interlocus, 2015.
MÓDULO 4 – Fase Operativa da Auditoria 85

O cerne do relatório preliminar é a seção de


constatações. Tendo elaborado e validado a
matriz de constatações, a elaboração do rela-
tório preliminar fica muito facilitada, pois to-
dos os elementos da constatação estão na ma-
triz, bastando realizar uma transposição das
informações (figura 29).

Eventualmente pode haver a necessidade de


desenvolver no corpo do relatório preliminar
algum tópico que requeira mais informações
do que a que consta na matriz de constatações.

Conforme orientação do CTA nº 11/2014, a


fundamentação legal deve ser citada no cam-
po destinado para descrição da evidência. O
SISAUD/SUS está alinhado com essa orienta-
ção ao não dispor de campo específico para o
critério, que deve ser apresentado juntamente
com as evidências.

O relatório preliminar é a base do relatório fi-


nal, elaborado após a análise das justificativas
do auditado. Deve-se evitar ao máximo enviar
ao auditado relatório preliminar sem a devida
revisão para solicitar justificativas do audita-
do. O auditado deve compreender facilmente
o que a equipe de auditoria encontrou, qual
a fundamentação de cada constatação e quais
os pontos sobre os quais deve se pronunciar.
86 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

MÓDULO 5
FASE DE RELATÓRIO
Este capítulo está organizado para apoiar o de-
senvolvimento do módulo 5 em sala de aula,
cujo objetivo foi o de preparar os participantes
para discutir com propriedade as característi-
cas de um relatório de auditoria eficaz e proce-
dimentos para encerramento da auditoria. O
capítulo é composto pelas seguintes seções e
objetivos de aprendizagem:

Sessão Objetivos de aprendizagem

Qualidade do relatório de Os participantes deverão ser capazes de reconhecer as


auditoria características de um relatório de auditoria eficaz.

Os participantes deverão ser capazes de discutir como


proceder no encerramento de uma auditoria, em especial
Encerramento da auditoria quanto a organização dos papéis de trabalho utilizados na
auditoria, revisão e validação pelo supervisor, e revisão pelo
órgão de controle de qualidade (CMAUD/CGAUD).
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 87

5.1 O relatório de auditoria Supondo que a equipe fez o dever de casa e


conseguiu constatações relevantes e bem
O relatório é o instrumento formal e técnico construídas, é hora de relatar o trabalho.
utilizado para comunicar o objetivo e as ques- Alguns cuidados são importantes para manter
tões de auditoria, a metodologia utilizada, as a qualidade do trabalho. Primeiramente, é bom
constatações de auditoria, as recomendações lembrar que se trata de um trabalho técnico.
e a conclusão. Assim, deve-se usar linguagem impessoal.

A construção de um bom relatório começa O conteúdo do relatório deve ser de fácil en-
com a interpretação da demanda e a elabora- tendimento, utilizando-se uma linguagem di-
ção da tarefa, quando se definem as questões reta, com períodos curtos e vocabulário ade-
de auditoria e o escopo. Ter um foco bem de- quado, e respeitando-se os aspectos técnicos
finido favorece o planejamento da auditoria, o do objeto da auditoria. Os termos técnicos,
que, por sua vez, favorece uma execução obje- desde que necessários, devem ser definidos
tiva buscando obter um conjunto de constata- em notas de rodapé ou glossário. Além disso,
ções relevantes, suficientemente apoiadas em as constatações devem ser apresentadas de
evidências bem documentadas. maneira direta e objetiva, demonstrando a
convicção da equipe de auditoria nos resulta-
Se as fases analítica e operativa foram bem dos do seu trabalho. Expressões que denotam
sucedidas e redundaram em constatações re- incerteza, tais como “parece que” ou “enten-
levantes apoiadas em evidências suficientes, demos”, enfraquecem a argumentação.
adequadas e pertinentes, organizar esse mate-
rial em um texto bem cuidado e organizado é o O relatório não é uma peça literária. Por isso,
passo seguinte. Porém, nem a melhor retórica deve-se eliminar o supérfluo, o floreio, as me-
vai resolver um problema de inconsistência na táforas e analogias desnecessárias. Sobretudo,
análise ou insuficiência de evidências. deve-se evitar clichês. Se for transcrever algum
texto, deve-se fazê-lo somente quando neces-
sário ao entendimento do raciocínio. O relató-
rio deve ater-se apenas a aquilo que é relevan-
Importante te, que tem importância dentro do contexto,
que contribui para as conclusões ou reforça as
Relatório depende fundamen- evidências.
talmente de um bom planeja-
mento da auditoria (fase ana- A análise das evidências envolve argumentação
lítica) e de uma boa execução lógica baseada em fatos (evidências). Por isso,
(fase operativa). deve-se evitar inferências descabidas, precon-
ceitos e opiniões não embasadas em fatos.
88 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Recomenda-se ser comedido, parcimonioso ou outro fator. Em especial, mencione audi-


no conteúdo e no tom do texto. Mais do que torias anteriores recentes que influenciaram
uma qualidade de relatório, esse aspecto de- na definição de escopo ou nas constatações e
corre diretamente da postura de equilíbrio e conclusões do trabalho.
serenidade exigida de um auditor. Apresentar
as evidências de forma imparcial, evitando O objetivo e o escopo da auditoria devem ser
adjetivos e superlativos que desconfigurem a apresentados de forma clara e justificada.
descrição dos fatos, contribui para a credibi- Aqui, o importante é que o leitor do relatório
lidade do trabalho. Parte da credibilidade do saiba exatamente o que foi auditado, porque e
auditor decorre da sua postura isenta e justa, em que medida. Os objetivos da auditoria, ex-
não apenas no comportamento, mas no seu plicitados pelo problema e pelas questões de
texto. auditoria, devem ser enunciados claramente
para que se possa avaliar os resultados alcan-
Há dois elementos fundamentais no relató- çados pelo trabalho.
rio de auditoria que costumam receber pou-
ca atenção na elaboração do relatório, mas Ao descrever os objetivos e o escopo da au-
que contribuem enormemente para a cla- ditoria, a equipe está, ao mesmo tempo, de-
reza e qualidade do mesmo: introdução e finindo os limites do trabalho desenvolvido
metodologia. e especificando os temas, as unidades ou os
processos que foram auditados. Sempre que
Introdução a equipe julgar conveniente, para evitar ambi-
guidades, devem ser mencionados os aspec-
A introdução é fundamental para contextuali- tos que não foram abordados pela auditoria, o
zar a auditoria. Sem ela, fica difícil entender o que é conhecido como não escopo.
conjunto do trabalho, a origem, o escopo e o
objeto auditado. Portanto, deve-se dar a de- Ao informar o escopo da auditoria, a equipe
vida importância à introdução, apresentando deve mencionar a abrangência do trabalho,
todos os elementos que uma boa introdução especificando, quando for o caso, a relação
deve conter: origem, antecedentes, objetivos, entre o universo e as unidades efetivamente
escopo, e visão geral do objeto. auditadas. Também devem ser identificadas
as organizações, os locais visitados e o período
A origem da demanda deve ser apresentada, abrangido pela auditoria.
assim como ela foi interpretada para chegar
ao escopo da auditoria. Deve-se mostrar as Na seção introdutória, deve-se descrever as-
razões que levaram a esse escopo, tais como, pectos do objeto importantes para a audito-
materialidade, relevância e risco do objeto da ria apresentando-se uma visão geral concisa,
auditoria, limitações da equipe de auditoria, que mostre com suficiente detalhe o que está
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 89

sendo objeto de auditoria. A visão geral deve Por fim, também devem ser mencionadas as
trazer uma descrição do objeto auditado que limitações impostas ao trabalho de auditoria
permita ao leitor compreender a sua relevân- associadas à confiabilidade ou à dificuldade na
cia e as suas principais características. obtenção de dados, assim como as limitações
relacionadas ao próprio escopo do trabalho,
Metodologia ou seja, as áreas e os aspectos não analisados.

A Metodologia é a explicação minuciosa, de-


talhada, rigorosa e exata de todo o percurso 5.2 Apresentação de justificativas
desenvolvido no caminho de uma ação/pes- do auditado
quisa. É a explicação do como será desenvol-
vido o trabalho. Os procedimentos de escolha Do ponto de vista formal, a Portaria GM/MS nº
e o tamanho da amostra, os critérios de inclu- 743/2012 dispõe sobre o procedimento de no-
são e exclusão, os instrumentos de coleta dos tificação e oitiva de agentes públicos, órgãos e
dados, os procedimentos de análise, as formas entidades públicas e pessoas físicas e jurídicas
de tabulação e tratamento dos dados. Enfim, privadas, além de outros interessados, a res-
na metodologia se registra os métodos e as peito de resultados de auditorias e outras ati-
técnicas utilizadas para a obtenção de infor- vidades de controle realizadas pelo DENASUS.
mações em um processo de trabalho. A equi-
pe deve informar as estratégias metodológi- Toda constatação de não conformidade
cas e os métodos de coleta e análise de dados implica a audição do auditado em função do
empregada, e descrever o modo como foram princípio do contraditório e da ampla defesa,
utilizados. É fundamental indicar os procedi- previsto na Constituição Federal (art. 5º, inc.
mentos adotados para estabelecer os critérios LV). Mas não é somente em função do prin-
de auditoria, os métodos empregados na co- cípio do contraditório que devemos ouvir o
leta de evidências e na definição de achados e auditado a respeito das nossas constatações.
recomendações. Por melhor que tenha sido o planejamento da
auditoria, por melhores que sejam os instru-
Sempre que forem utilizados métodos estatís- mentos de coleta e por mais que os auditores
ticos ou outras abordagens quantitativas de sejam cuidadosos na análise das evidências e
análise de dados, esses métodos devem ser interpretações dos normativos, haverá sem-
devidamente detalhados. Da mesma forma, se pre certo risco de que as constatações obtidas
as constatações e conclusões basearem-se no não retratem adequadamente a realidade, ou
exame de uma amostra, a equipe deve infor- de que as conclusões e recomendações apon-
mar a técnica de amostragem utilizada e justi- tem para a direção errada. Para minimizar esse
ficar a sua escolha. risco, deve-se submeter o relatório preliminar
aos auditados.
90 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

É razoável pressupor que o auditado, na condi- equipe. Nessa situação, a equipe deve se per-
ção de gestor do objeto da auditoria, conhece guntar se a novidade está diretamente relacio-
com razoável profundidade esse objeto, ou, nada a constatação. Será que ela pode ser con-
pelo menos, conhece mais do que o auditor. siderada uma exceção ou é forte o suficiente
Assim, se houver alguma imperfeição na cons- para rever ou colocar em dúvida a constata-
tatação, é o olhar crítico do auditado que me- ção? Há elementos suficientes para compro-
lhor pode evidenciá-la. Ou seja, ouvir o audita- var a veracidade dessa nova evidência? Em al-
do, além de dever em função do princípio do guns casos, pode ser que seja necessário obter
contraditório, é uma ótima oportunidade para elementos complementares, que permitam
qualificar o trabalho de auditoria. decidir a questão.

Evidentemente, quanto mais claro e completo Caso o auditado não apresente fatos novos, mas
for o relatório preliminar encaminhado para a sim contrarrazões que podem alterar a análise
manifestação do auditado, melhor será a qua- ou interpretações das evidências, ou mesmo do
lidade desses comentários. De nada adianta critério de auditoria (por exemplo, uma nova
enviar um relatório incompleto ou confuso, regulamentação), o esforço da equipe deve ser
que dificulte o entendimento do auditado do em considerar a plausibilidade dos argumen-
que está em questão. tos apresentados. Mesmo que os novos argu-
mentos não sejam suficientes para convencer a
Análise das justificativas equipe, a mera dúvida, se não resolvida tempes-
tivamente, já é suficiente para alterar o teor da
Em função do princípio do contraditório, todas constatação. Lembre-se de que o compromisso
as alegações apresentadas pelo auditado de- do auditor é com a verdade, ou com a melhoria
vem ser objeto de análise. De fato, não exami- do serviço público, e não com as próprias ideias.
nar alguma das alegações pode se configurar
numa violação ao princípio do contraditório, o Caso o auditado apresente uma alegação que
que pode levar o auditado a contestar o rela- não esteja relacionada a qualquer constatação,
tório final. a equipe deve explicitar isso na análise de jus-
tificativas. Seja como for, deve ficar claro que
Na análise das justificativas apresentadas, a houve manifestação do auditado, mas que es-
equipe de auditoria deve ficar especialmente sas não dizem respeito ao conteúdo do relató-
atenta às situações que contestem ou pro- rio. Nesse caso, a justificativa do auditado tam-
blematizem as constatações. Há duas situa- bém deve ser anexada ao relatório, para que
ções típicas que podem provocar a revisão da possíveis leitores possam se certificar da inter-
constatação. Primeiramente, o auditado pode pretação dada pela equipe de auditoria.
apresentar evidência nova, ou contestar a ve-
racidade de uma evidência apresentada pela Do ponto de vista da organização do relatório,
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 91

a melhor prática é colocar a justificativa do au- Saudável - MNS informa que os 12 óbitos
ditado no respectivo campo. Contudo, se o tex- maternos de 2013 e os 5 óbitos matemos
to for muito grande, ou contiver documentos ocorridos até agosto de 2014 foram 100% in-
anexos, deve ser apresentada uma síntese ob- vestigados, conforme documento em anexo
jetiva dos argumentos ou novos fatos. Nesses (Anexo 1).”
casos, deve-se colocar o texto original como
anexo, e referenciá-lo no corpo da justificativa. Análise da Justificativa: O Núcleo de
O mesmo deve se dar se a justificativa não for Vigilância Epidemiológico não encaminhou as
clara ou objetiva. A equipe deve fazer um es- cópias das investigações dos referidos óbitos
forço de entendimento e reescrevê-la da for- maternos, apenas foram encaminhados os in-
ma mais clara possível, colocando a justificativa dicadores epidemiológicos.
original em anexo.
Acatamento da Justificativa: Não
Vamos analisar alguns exemplos:
Nesse caso, embora o auditado conteste a evi-
Exemplo 1 dência, não apresenta elementos suficientes
para corroborar seu ponto de vista. Portanto,
Constatação: O Núcleo da Vigilância epide- a equipe não acatou a justificativa. Contudo,
miológica da Maternidade Nascer Saudável - em função da forma como foi redigida a cons-
MNS não apresentou registro de investigação tatação, o que realmente aconteceu não ficou
de óbitos maternos. claro. Antes de tudo, observe que a equipe
não explicitou o critério. A evidência também
Evidência: Os relatórios de epidemiologia não está clara, ela apenas repete o texto da
produzidos pela maternidade registram 12 constatação.
óbitos maternos no ano 2013 e 5 óbitos ma-
ternos até agosto/2014, sem apresentação Exemplo 2
de registro de investigação de óbitos mater-
nos durante os períodos de 2013 e 2014. Constatação: A maternidade não dispõe de
Centro de Parto Normal (CPN).
Fonte da Evidência: Cópia dos mapas com
os indicadores produzidos pelo o Núcleo da Evidência: A maternidade apresenta 09(nove)
Vigilância Epidemiológica da maternidade. quartos PPP (pré-parto, parto e pós-parto),
sendo 08 apartamentos com um leito por
Conformidade: Não Conforme. quarto e um apartamento com dois leitos
para observação da paciente, em áreas des-
Justificativa: “O Núcleo de Vigilância tinadas ao pré-parto, parto e pós-parto, não
Epidemiológica da Maternidade Nascer configurando um Centro de Parto Normal, em
92 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

desacordo com o que determina o Art.4º da previsão de conclusão até o fim de 2015. Mas
Portaria GM/MS nº 985, 05 de agosto de 1999 observe que esses elementos por si só não
e Art. 1º da Portaria GM/MS nº 904, de 29 de contradizem o que foi constatado. A não con-
maio de 2013. formidade continua. Ao aceitar a justificativa,
o problema apontado sai do radar do controle,
Fonte da Evidência: Visita à maternidade, em sem que o problema tenha de fato sido resol-
08/09/14. vido, ou mesmo que se tenha garantias sufi-
cientes para isso.
Conformidade: Não Conforme
5.3 Elaboração de recomendações
Justificativa: “A MNS possui atualmente um
Centro de Parto Humanizado que atende pa- As recomendações são comandos que visam
cientes de baixo e alto risco, sendo os partos melhorar dada situação. Uma auditoria é feita
realizados por médicos e enfermeiros. Existe com dois propósitos: atestar as conformidades
projeto de construção de um Centro de Parto e identificar não conformidades, e nesse último
Normal de baixo risco, como determina o Art. caso, corrigi-las.
4º da Portaria GM/MS N° 985, de 05 de agosto
de 1999, e Art. 1º da Podaria GM/MS N° 904, Portanto, o propósito das recomendações é a
de 29 de maio de 2013, com quarto PPP para melhoria do objeto auditado. Isso pode signifi-
realização de partos apenas de baixo risco, car três coisas:
realizados por enfermeiro obstétrico, com a
paciente permanecendo nesse ambiente até 1. Deixar de fazer algo que se fazia;
o momento da alta (previsão: final de 2015) Exemplo: ” Solicitar da Secretaria Municipal de
Segue anexada cópia da planta do referido Saúde que deixe de atrasar os repasses e pro-
Centro de Parto Normal (anexo 3).” mova a atualização dos que se encontram em
atraso, a fim de cumprir o disposto no inciso II,
Análise da Justificativa: O Diretor da do artigo 37, da Portaria/GM/MS nº 204, de 29
Maternidade apresentou a planta do Centro de janeiro de 2007.”
de Parto Normal, com previsão de conclusão
até o final de 2015. 2. Fazer de uma forma melhor algo que se fazia
de forma insuficiente;
Acatamento da Justificativa: Sim Exemplo: “Adequar dentro do possível as enfer-
marias e demais ambiências, em atendimento
Nesse caso, embora a equipe tenha acata- ao subitem 2, do item V, do anexo I, da Portaria
do a justificativa do auditado, o único dado GM/MS N° 1016, de 26 de agosto de 1993.”
novo apresentado pelo auditado foi a planta
do Centro de Parti Normal, e a afirmação de
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 93

3. Fazer algo que deveria ser feito e que não se para os Serviços de Saúde.” Nesse exemplo,
fazia; seria importante explicitar o que deve mudar,
“Manter os dados do CNES atualizado, em con- e não apenas porque deve mudar (fundamen-
formidade com o subitem 4.3 do item 4 do ane- to legal). No exemplo dado, o que exatamente
xo I da RDC nº 36, de 03 de junho de 2008 e preconiza o art. 17?
atender a determinação da Portaria nº 511, de
29 de dezembro de 2000”. Exemplo 1

Como o objetivo das recomendações é melho- Constatação: Os pagamentos das despesas da


rar o objeto auditado, alguns cuidados devem MNS estão sendo efetuados com atraso.
ser considerados. Primeiramente, a recomen-
dação deve estar bem fundamentada na cons- Evidência: Os processos de pagamento de-
tatação. Não se pode recomendar o que não foi monstram que as despesas da maternidade
objeto de análise conclusiva e pautada em evi- vem sendo pagas com atraso, em desacordo
dências suficientes. com o inciso II, do artigo 37, da Portaria/GM/
MS nº 204, de 29 de janeiro de 2007.
Além disso, a recomendação deve ser clara e
objetiva, em especial sobre o que e como deve Fonte da Evidência: Processos de pagamentos
se dar a mudança desejada. E se possível, uma analisados, do período 2013 a 2014.
estimativa dos resultados esperados com essa
mudança. Conformidade: Não Conforme.

Por fim, a recomendação deve ser factível, deve Recomendação: Solicitar da Secretaria
considerar a disponibilidade de recursos, prazos, Municipal de Saúde a atualização dos repas-
legislação e outros fatores que possam estar en- ses e sua continuidade em tempo hábil, a fim
volvidos na sua implantação. Recomendações de cumprir o disposto no inciso II, do artigo 37,
não factíveis são inúteis. Procurar se colocar no da Portaria/GM/MS nº 204, de 29 de janeiro de
lugar do gestor e ser razoável no que se espera 2007.
auxilia na formulação da recomendação.
Destinatários da Recomendação:
Do ponto de vista formal, deve-se evitar re- Maternidade Nascer Saudável - MNS
comendações que façam apenas referência CNPJ: 00.000.000/0000-00
ao critério, sem explicitar do que se trata. Por
exemplo, “Cumprir o preconizado no Art 17 da Nesse exemplo, a recomendação deixa claro
Seção III- Das Condições Organizacionais e Arts. o que deve ser feito e por que deve ser feito.
30, 31 e 32 da Seção V - Da Gestão de Pessoal Além disso, ela é direcionada às causas da evi-
- DC/ANVISA nº 63/2011, que dispõe sobre os dência, o que é uma boa prática sempre que
Requisitos de Boas Práticas de Funcionamento for possível identificá-las.
94 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Exemplo 2 Destinatários da Recomendação: COMERCIAL


FARMACEUTICO BARRA DA ESTIVA LTDA. - ME
Constatação: Dispensações de medicamentos CNPJ: 00.000.000/0000-00
pelo Programa Farmácia Popular do Brasil-
PFPB não comprovadas. No exemplo acima, observe que a recomen-
dação não deixa claro o que se espera do res-
Evidência: A Comercial Farmacêutica Barra da ponsável. Para a recomendação ser efetiva é
Estiva Ltda.-ME, não apresentou comprovan- necessário que se comunique de maneira ine-
tes das dispensações realizadas pelo PFPB no quívoca o que se espera em termos de cum-
mês de agosto de 2014, contrariando o § 2º primento do dispositivo legal. Por exemplo,
art. 23 da Portaria GM/MS nº 971/2012 e art. que documentos devem ser armazenados,
11 do Decreto Federal nº 1651/95. Outrossim por quanto tempo e em que local. E ainda, se
informamos que se encontram gravadas em for os casos, as consequências de não cumprir
midia eletrônica os anexos, da citata impro- exatamente o que se pede.
priedade. Ressalta-se que o pagamento do
valor de R$ 18.257,03 (Dezoito mil, duzentos 5.4 Proposição de devolução de
e cinquenta e sete reais e três centavos), re- recursos
gistrados nas dispensações ficará condicio-
nado ao encaminhamento da documentação A proposição de devolução de recursos decor-
comprobatória. re de uma constatação de não conformidade
na utilização de recursos destinados a ações e
Fonte da Evidência: Autorizações consolida- serviços de saúde, sejam recursos repassados
das no mês de agosto de 2014. fundo a fundo a Estados e Municípios, sejam
recursos repassados a entidades privadas por
Conformidade: Não Conforme. meio de convênios, contratos ou instrumentos
congêneres.
Acatamento da Justificativa: Não apresentou
justificativa. A devolução de recursos é devido nas seguin-
tes hipóteses (BRASIL, 2014):
Responsável: Fulano de Tal
CPF: 999.999.999-99. a) utilização de recursos transferidos fundo a
fundo fora da finalidade, isto é, aplicados fora
Recomendação: Cumprir o que determina § da ações e serviços públicos de saúde, confor-
2º art. 23 da Portaria GM/MS nº 971/2012 e me definido no art. 3º da Lei Complementar nº
art. 11 do Decreto Federal nº 1651/95, no que 141/2012);
se refere ao arquivamento dos comprovantes
das dispensações realizadas pelo PFPB. b) utilização de recursos transferidos fundo
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 95

a fundo fora do objeto, isto é, aplicados em por convênios e congêneres);


ações e serviços públicos de saúde, porém fora b) motivo da devolução;
do objeto ou bloco de financiamento;
c) fundamentação legal;
c) utilização de recursos transferidos fundo a
fundo que resultou em prejuízo ao Erário; e d) data do fato gerador;
d) utilização indevida de recursos transferidos
por meio de convênios, contratos e instrumen- e) valor original;
tos congêneres.
f) documentos comprobatórios referentes à de-
Dentro de cada uma dessas hipóteses, existem volução, que constituem fontes de evidências;
diversos motivos que ensejam uma proposi-
ção de devolução de recursos, como indicado g) documentos administrativos da auditoria:
na publicação Devolução de recursos em au- demanda e tarefa; ofício de apresentação da
ditorias do SUS (BRASIL, 2014). Os motivos in- equipe e comunicado de auditoria; AR do rela-
dicados constituem o núcleo da constatação, tório preliminar e ofício do auditado com a jus-
que deve ser construída desta forma: tificativa; relatório de auditoria e ofício de enca-
minhamento da auditoria.
“Constatou-se (motivo da devolução), contrariando a
(fundamentação legal)”. Caso a proposição de devolução elaborada pelo
auditor não seja cuidadosamente fundamenta-
Exemplo: da de modo a observar esses requisitos, ela po-
derá ser derrubada administrativamente a par-
Constatou-se que o responsável não apre- tir da justificativa do auditado ou judicialmente.
sentou comprovação da entrega dos medica-
mentos adquiridos, contrariando o previsto no 5.5 Elaboração de conclusão
artigo 63, § 2º, inc. III da Lei 4.320/1964, que
estabelece que a liquidação da despesa por for- A conclusão do relatório de auditoria tem por
necimentos feitos terá por base os comprovan- objetivo oferecer uma visão global e sintética
tes da entrega de material. dos aspectos tratados em cada um de seus
capítulos, de maneira a se obter um quadro
Para que a proposição de devolução de recur- geral compreensível das principais constata-
sos seja consistente, os seguintes requisitos são ções e das recomendações cabíveis. A conclu-
necessários: são deve conter a síntese das constatações e
suas recomendações, a indicação de dificul-
a) especificação do objeto: tipo de recurso (blo- dades enfrentadas pelos auditados e de suas
co de financiamento, recurso do TAS, repasse iniciativas positivas para superá-las.
96 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Importante Importante
Não se pode concluir so-
A conclusão deve apresentar bre o que não foi objeto
as respostas às questões de de análise suficiente!
auditoria com base em evidên-
cias suficientes e apropriadas.

A equipe deve destacar os possíveis bene- A conclusão não deve ser uma exposição ex-
fícios esperados com a implementação das tensa de fatos ou argumentações detalhadas.
recomendações feitas. Sempre que possí- Além disso, ela não deve conter nenhum fato
vel, deve quantificá-los em termos de eco- ou argumento novo, que não tenha sido trata-
nomia potencial de recursos ou de melhoria do no corpo do relatório. Deve-se evitar opini-
no desempenho do objeto auditado. Nesse ões que extrapolem o conteúdo das análises e
sentido, a factibilidade das recomendações constatações.
sugeridas deve ser objeto de uma análise
criteriosa por parte da equipe de auditoria, Exemplo
incluindo o exame do impacto dos proble-
mas identificados e de como tais recomen- “O SAMU 192 do Município de Imperatriz foi
dações podem gerar melhorias. habilitado pelo Ministério da Saúde na Rede
Nacional de Atenção às Urgências em 2005,
É recomendável, que a equipe adote uma contando atualmente com uma Central de
abordagem equilibrada, reconhecendo as Regulação e três Bases Descentralizadas no
dificuldades enfrentadas pelo gestor e des- próprio município, regulando mais 14 Bases
tacando as iniciativas importantes por ele Descentralizadas em outros municípios. A
empreendidas para melhorar o desempenho Central de Regulação encontrava-se de acor-
e superar as deficiências apontadas. do com os parâmetros preconizados quanto à
divisão e dimensionamento dos ambientes, e
Por fim, a equipe deve incluir no relatório as Bases Descentralizadas no município pos-
quaisquer temas ou questões que conside- suíam localizações adequadas e instalações
re relevantes, mas que não façam parte dos com as áreas mínimas necessárias. A frota
objetivos da auditoria, para que sejam exa- de veículos em operação está formada por
minados oportunamente. duas Unidades de Suporte Avançado - USA,
sete Unidades de Suporte Básico - USB e uma
motolância, devidamente caracterizadas com
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 97

o logotipo padronizado pelo Ministério da Quanto aos procedimentos licitatórios, fo-


Saúde. ram identificadas irregularidades nos Pregões
Presenciais nº 033/2014, realizado visando a
Foram identificadas não conformidades, tan- locação de veículos para o SAMU 192 e con-
to na Central de Regulação quanto nas três sultório de rua, e nº 065/2014, para compra
Bases Descentralizadas, destacando-se: desa- de marmitex para atender ao SAMU 192 e
tualização cadastral; quantidade de médicos Vigilância em Saúde. Não foram apresentados
reguladores e TARM insuficiente; inexistência para análise os processos administrativos refe-
de vínculo empregatício formal com os médi- rentes ao Pregão Presencial nº 057/2013, des-
cos; unidades móveis com recursos materiais tinado à locação de duas kombis, e a Dispensa
e equipamentos incompletos; as estruturas fí- de Licitação nº 127/2013, para locação de dois
sicas disponíveis necessitam de maior conser- veículos para o Serviço de Atendimento Móvel
vação e organização de serviços, de forma a de Urgência - SAMU 192 de Imperatriz.
melhorar o desenvolvimento das atividades e
proporcionar um atendimento resolutivo aos Não foram apresentadas justificativas pela
usuários e o conforto da equipe. Secretaria Municipal de Saúde e Coordenação
Geral do SAMU 192, sendo emitidas as reco-
Foi constatada a existência de 17 unidades mendações para cada justificativa não confor-
móveis, doadas pelo Ministério da Saúde para me, que deverão ser implementadas, de acor-
o SAMU 192 de Imperatriz, que não mais pos- do com as diretrizes emanadas pela Política de
suem condições de uso; entretanto, não foi Urgência e Emergência.”
apresentada documentação referente ao pro-
cesso de baixa definitiva das ambulâncias sem Em relação ao exemplo acima, podemos afir-
condições de uso ou irrecuperáveis. mar que a principal oportunidade de melho-
ria diz respeito ao fato de que os resultados
Os recursos financeiros para o custeio do estão excessivamente detalhados. Não é ne-
SAMU 192 de Imperatriz foram regularmente cessário, por exemplo, identificar cada pre-
repassados Fundo a Fundo, no período audi- gão analisado. O melhor seria fazer referên-
tado, para a conta corrente da Média e Alta cia a eles de maneira mais sintética: “quanto
Complexidade, sendo movimentados de for- aos procedimentos licitatórios, foram iden-
ma global. tificadas irregularidades em dois pregões
examinados e deixaram de ser apresentados
Os recursos da contrapartida estadual para o processos administrativos referentes a duas
SAMU 192 foram depositados em contas espe- outras licitações”.
cíficas, não sendo comprovada a Contrapartida
Municipal para o exercício de 2014.
98 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Como aspecto positivo, destaca-se o fato de organizada a documentação, é preciso ainda


a conclusão apresentar uma boa contextu- fazer uma última checagem com o objetivo de
alização do objeto auditado. O segundo pa- obter a máxima qualidade. A qualidade de um
rágrafo também apresenta uma boa síntese relatório de auditoria vai muito além da lingua-
das constatações. gem e de aspectos formais de redação. Ela se
manifesta na observância de um conjunto de
5.6 Encerramento da auditoria aspectos construídos ao longo da auditoria,
desde a interpretação da demanda e elabo-
Antes de encerrar a auditoria, a equipe ainda ração da tarefa, passando pela caracterização
possui uma tarefa importante: revisar toda a consistente das constatações, até a produção
documentação que apoia a auditoria. Ofícios, de um texto claro e objetivo que comunique
documentos, papéis de trabalho, evidên- adequadamente ao leitor o que foi feito na au-
cias materiais, tudo deve estar organizado e ditoria e quais os resultados.
armazenado adequadamente para futuras
consultas. Para facilitar a verificação de requisitos es-
senciais de um relatório de auditoria, foi ela-
A pergunta que a equipe deve se fazer é: Todos borado o checklist mostrado na figura 30.
os papéis de trabalho e fontes de evidência ne- Recomenda-se que tanto a equipe quanto o
cessários e citados no relatório estão disponí- supervisor revisem os relatórios considerando
veis e armazenados para utilização da equipe, esses itens.
supervisor, órgão de controle de qualidade e
terceiros com a qualidade e tempestividade A primeira linha de defesa da qualidade é feita
adequada? pela própria equipe. É comum que cada parte
do relatório tenha sido feita por um membro
Pode-se traçar um paralelo entre uma audito- da equipe. Assim, uma boa prática é que cada
ria e uma pesquisa científica: membro da equipe leia todo o relatório uma
vez mais e aponte erros de redação, trechos
• Ambas devem ser suficientemente bem ambíguos ou pouco claros e pontos fracos na
documentadas, de modo que seja possível fundamentação das constatações.
verificar todas as informações!

• Ambas devem ser completas, no sentido Importante


de que com todos os elementos que con-
tribuíram para as conclusões estão presen- Recomenda-se que os membros
tes. Assim, qualquer um poderia recons- da equipe releiam o relatório e
truir passo a passo o caminho percorrido verifiquem os itens de qualida-
pela equipe até os resultados obtidos. de relacionados no checklist.
Uma vez finalizado o relatório de auditoria e
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 99

Item de verificação Atendido?

1. A visão geral do objeto auditado é suficiente para se compreender o contexto


do problema de auditoria.

2. A metodologia utilizada está descrita e se mostrou adequada ao objetivo da


auditoria.

3. As questões de auditoria são apresentadas.

4. Os critérios de auditoria são apresentados de forma explícita e são adequados


para avaliar a situação do objeto auditado.

5. A situação encontrada é descrita com base em evidências suficientes, adequa-


das e pertinentes.

6. As evidências estão referenciadas e bem documentadas nos papéis de traba-


lho.

7. As constatações são bem construídas com base no confronto da situação evi-


denciada e dos critérios aplicados.

8. As justificativas do auditado foram integralmente analisadas.

9. As recomendações são relevantes e fundamentadas nas constatações.

10. As recomendações são claras, objetivas e factíveis.

11. A conclusão é clara, objetiva e responde à questão fundamental da auditoria.

12. A conclusão limita-se ao conteúdo apresentado no relatório.

13. Os anexos contêm as informações necessárias complementares para com-


preender as análises feitas, inclusive o texto integral das justificativas do gestor.

14. O texto do relatório é claro, objetivo e sucinto, sem ser incompleto.

15. O relatório atende à demanda e à tarefa.

Figura 30 – Checklist da qualidade de um relatório de auditoria

Fonte: Interlocus, 2015.


100 Ministério da Saúde – Auditoria do SUS no contexto do SNA

Em seguida, cabe ao supervisor técnico, ainda


que tenha acompanhado de perto todo o de- Muitas vezes, estar a uma certa distância do
senvolvimento da auditoria, fazer uma revisão processo permite uma leitura mais objetiva
minuciosa, considerando: do relatório. É bastante comum que a equi-
pe de auditoria, e mesmo o supervisor técni-
- a forma, a qualidade da escrita, e sobretudo co, quando atua mais próximo da equipe du-
a correção e a clareza; rante a execução, acabe por se esquecer de
explicitar algum elemento essencial da sua
- a estrutura lógica do relatório, verificando se argumentação.
todas as constatações estão devidamente evi-
denciadas, se as recomendações estão ampa- Considerando a importância dos relatórios de
radas nas constatações e se a conclusão não auditoria, é fundamental que haja diferentes
extrapola as constatações. níveis de verificação de qualidade. Se o obje-
tivo é fazer com que as auditorias contribuam
O supervisor é responsável pela segunda linha com a melhoria da gestão do SUS, deve-se
de defesa da qualidade. Um trabalho bem fei- buscar a qualidade do processo como um todo
to de revisão pelo supervisor diminui bastante e, em especial, do relatório de auditoria, seu
a chance de erros graves nos relatórios. Uma principal produto.
boa prática é usar o check list apresentado
acima para orientar a revisão por parte do
supervisor.

A última verificação de qualidade é feita pela Importante


Coordenação de Monitoramento e Avaliação Quando tudo estiver
de Auditoria - CMAUD em Brasília, o que deve pronto, leia o relatório
ser visto pela equipe como mais um nível de mais uma vez!
segurança, que visa a garantir a qualidade do
trabalho de auditoria. Embora possa parecer
redundante, essa última etapa é muito impor-
tante, pois propicia uma revisão ao mesmo
tempo técnica e com uma razoável distância
do processo de auditoria. A CMAUD analisa o
relatório com base unicamente nos elementos
nele contidos, o que geralmente permite ob-
servar se todos os elementos necessários para
caracterizar constatações, recomendações e
conclusão estão, de fato, presentes.
MÓDULO 5 – Fase de Relatório 101

REFERÊNCIAS
ANDERSON, D. R.; SWEENEY, D. J.; WILLIAMS, T. A. Estatística aplicada à administração e economia.
2. ed. São Paulo: Thomson, 2007.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Sistema Nacional de


Auditoria. Departamento Nacional de Auditoria do SUS. Auditoria do SUS: orientações básicas.
Brasília, 2011a.

______. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Sistema Nacional de


Auditoria. Departamento Nacional de Auditoria do SUS. Devolução de recursos em auditoria do SUS:
orientações técnicas. Brasília : Ministério da Saúde, 2014.

______. Tribunal de Contas da União. Manual de Auditoria de Natureza Operacional. Brasília, 2010a.

______. Tribunal de Contas da União. Normas de Auditoria do Tribunal de Contas da União. Brasília,
2011b.

______. Tribunal de Contas da União. Padrões de auditoria de conformidade. Brasília: TCU, 2009.

______. Tribunal de Contas da União. Painel de referência em auditorias. Brasília, 2013a.

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______. Tribunal de Contas da União. Técnica de grupo focal para auditorias. Brasília, 2013b.

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______. Tribunal de Contas da União. Técnica de pesquisa para auditorias. Brasília, 2010d.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Sistema de saúde público brasileiro é referência internacional,
diz Banco Mundial. 2015. Disponível em <https://nacoesunidas.org/sistema-de-saude-publica-
brasileiro-e-referencia-internacional-diz-banco-mundial>. Acesso em: 3 set. 2015.
102

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cos_867485.htm
Auditoria do SUS no contexto do SNA
ISBN 978-85-334-2484-5

9 788533 424845

Qualificação do Relatório de Auditoria


SNA
Sistema Nacional
de Auditoria

Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde


www.saude.gov.br/bvs

MINISTÉRIO DA
SAÚDE

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