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jusbrasil.com.br
5 de Outubro de 2017

Prontuário médico: a quem pertence?

Há uma enorme dificuldade por parte dos hospitais e seguradoras de plano de saúde
para ceder o prontuário médico de determinado paciente, em especial quando é para
demandar alguma ação judicial, seja por erro médico, indenização por dano estético
etc. Nesta seara, fica uma dúvida: há necessidade de burocratizar o acesso do
prontuário ao paciente?

Entende-se por prontuário médico não apenas o registro da anamnese do paciente,


mas todo acervo documental padronizado, organizado e conciso, referente ao
registro dos cuidados multiprofissionais prestados, assim como aos documentos
pertinentes a essa assistência.

http://www.dmjus.com.br/prontuario-medicoaquem-pertence/

Consta de exame clínico do paciente: suas fichas de ocorrências e de prescrição


terapêutica, os relatórios da enfermagem, da anestesia e da cirurgia, a ficha do
registro dos resultados de exames complementares e, até mesmo, cópias de
solicitação e de resultado de exames complementares.

Constituem um verdadeiro dossiê, que tanto serve para a análise da evolução da


doença como para fins estatísticos que alimentam a memória do serviço e também
como para a defesa do profissional, caso ele venha ser responsabilizado por algum
resultado atípico ou indesejado.
Nunca admitir que o prontuário representa uma peça meramente burocrática para
fins da contabilização da cobrança dos procedimentos ou das despesas
hospitalares. Pensar sempre em possíveis complicações de ordem técnica, ética ou
jurídica que possam eventualmente ocorrer, quando o prontuário seria um
elemento de valor probante fundamental nas contestações sobre possíveis
irregularidades. Um dos deveres de conduta mais cobrados pelos que avaliam um
procedimento médico contestado é o dever de informar e, dentre esses, o mais
arguido é o do registro dos prontuários.

Tão importante é o preenchimento correto do prontuário, que o Conselho Regional


de Medicina do Estado de São Paulo, através da Resolução CREMESP n.º 70/1995,
criou a Comissão de Revisão de Prontuários Médicos, de caráter obrigatório, nas
Unidades de Saúde onde se presta assistência médica de sua jurisdição, com tempo
de mandato e processo de escolha de seus membros consignados no Regimento
Interno do Corpo Clínico da instituição hospitalar.

Uma questão bem interessante: a quem pertence o prontuário? Antes


pensava-se que ele pertencia ao médico assistente ou à instituição para a qual ele
prestava seus serviços. Mesmo sendo o médico, indubitavelmente, o autor
intelectual do dossiê por ele recolhido, é claro que este documento pertence ao
paciente naquilo que é mais essencial: nas informações contidas. É de propriedade
do paciente a disponibilidade permanente das informações que possam ser objeto
da sua necessidade de ordem pública ou privada. Mas o médico e a instituição têm
o direito de guarda.

Por outro lado, não existe nenhum dispositivo ético ou jurídico que determine ao
médico ou ao diretor clínico de uma instituição de saúde entregar os originais do
prontuário, de fichas de ocorrências ou de observação clínica a quem quer que seja,
autoridade ou não, porque “ninguém está obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei”.

No Parecer-Consulta CFM n.º 02/1994 ficou estabelecido que as instituições de


saúde não estão obrigadas a enviar, mesmo por empréstimo, os prontuários aos
seus contratantes públicos ou privados e, segundo o Parecer-Consulta CFM n.º
05/1996, “o diretor clínico não pode liberar cópia de prontuários de paciente para
Conselhos de Saúde, porém tem o dever de apurar quaisquer fatos comunicados,
dando-lhes conhecimento de suas providências, sob pena de responsabilidade ética
ou mesmo criminal”.

STF, 2a turma, RT 562, ago. 1982, 407/425


Nem mesmo a Justiça pode solicitar original de prontuário, pois foi decidido que
a instituição ou o médico tem o direito de não atender à requisição de fichas
clínicas, admitindo que apenas ao perito cabe o direito de consultá-la, mesmo
assim, obrigando-o ao sigilo pericial, como forma de manter o segredo
profissional.
Em síntese, é de propriedade do paciente de forma permanente as informações que
possam ser objeto da necessidade de ordem social ou de outro profissional que
venha a tê-lo na sua relação, dentro da conveniência que a informação possa
merecer. Do médico e da instituição, o direito de guarda.

Referências bibliográficas

FRANÇA, Genival Veloso de. Direito médico/Genival Veloso de França. – 12.


ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2014.

CARVALHO, L. C. A ética dos profissionais de saúde: coletânea da legislação.


Rio de Janeiro: Forense, 2000.

Disponível em: http://denesm.jusbrasil.com.br/artigos/506386397/prontuario-medico-a-quem-pertence

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