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Pesquisa sobre a incidência da Burnout nas decisões dos Tribunais Regionais brasileiros

SÍNDROME DO ESGOTAMENTO PROFISSIONAL

Também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional, a síndrome de burnout (usamos o hífen em
sintonia com o CID-11 da OMS, que entrará em vigor em 2022) é definida como um estado físico e mental de
profunda extenuação, que se desenvolve em decorrência de exposição significativa a situações de alta demanda
emocional no ambiente de trabalho. Também conhecida como Síndrome do Esgotamento Profissional.

QUESTIONAMENTOS: Quem mais processa judicialmente as empresas devido a síndrome de burnout:


homens ou mulheres? Quais as empresas mais processadas? Qual tem sido o valor médio arbitrado para
indenizações por danos morais relativas à síndrome de burnout? O que as perícias dizem sobre o nexo de
(con)causalidade entre a síndrome de Burnout e o trabalho? Nos processos judiciais, quais são as
comorbidades mais comuns com a síndrome de Burnout encontrada nos trabalhadores? Para
aprofundarmos nessas e outras questões, realizamos um estudo de 48 processos judiciais que chegaram ao
TST (Tribunal Superior do Trabalho).

1. METODOLOGIA

Decisões do TST que continham a palavra “burnout” e excluídos os resultados obtidos em duplicidade. Total de 48
processos distintos 2020. As decisões prolatadas pelo TST foram avaliadas individualmente.

2. RESULTADOS ENCONTRADOS APÓS A ANÁLISE DOS 48 PROCESSOS

a) Quanto ao sexo dos autores das ações (reclamantes):


– 25 autoras (reclamantes) eram do sexo feminino (52%);
– 23 autores (reclamantes) eram do sexo masculino (48%).

b) Função administrativa:
– 23 reclamantes desempenhavam funções administrativas (47%);
– 25 reclamantes desempenhavam outras funções – ex.: profissionais da área da saúde, docência, etc. (53%).

c) Quanto às empresas reclamadas:


– 17 processos (35%) foram movidos contra bancos, dos quais, 08 foram movidos por mulheres e 09 foram
movidos por homens,
– 06 processos (12%) foram movidos por operadores de call-center contra empresas de telefonia, dos quais, 05
foram movidos por mulheres e 01 foi movido por homem.

d) Quanto às comorbidades alegadas pelos autores em conjunto com a síndrome de burnout:


– em 13 processos (27%), a doença alegada foi unicamente a síndrome de Burnout;
– nos outros 35 processos (73%), a depressão apareceu 31 vezes em comorbidade com a síndrome de Burnout
(64% de todos os processos); os transtornos de ansiedade apareceram 06 vezes (12%); o transtorno de adaptação
apareceu 05 vezes (10%). Apareceram apenas uma vez em comorbidade com a síndrome de Burnout: transtorno
bipolar do humor, esquizofrenia e transtorno de estresse agudo.

e) Quanto dano moral:


– em 26 processos (54%) houve condenação por dano moral;
– o valor máximo arbitrado para indenização por dano moral foi de R$ 300 mil reais;
– as quatro maiores indenizações por danos morais (R$ 300 mil, R$ 225 mil, R$ 200 mil e R$ 100 mil) foram pagas
exclusivamente por bancos e representaram 59,6% do somatório das indenizações por danos morais;
– a média dos valores pagos à título de indenização por danos morais, considerando os 26 processos onde houve
essa condenação, foi de R$ 53.239,16.

f) Quanto ao nexo de (con)causalidade entre a síndrome de burnout e o trabalho:


– 19 perícias (39%) atribuíram inexistências de nexo entre a síndrome de burnout e o trabalho;
– 18 perícias (37%) atribuíram nexo causal entre a síndrome de burnout e o trabalho;
– 09 perícias (18%) atribuíram nexo concausal entre a síndrome de burnout e o trabalho;
– em 02 casos (4%) não houve prova pericial;
– em apenas 03 casos (6%), o TST julgou de forma diversa da prova pericial:
• dois casos (4%) onde a perícia médica considerou haver nexo concausal entre a síndrome de burnout e o trabalho,
mas o tribunal descaracterizou o nexo;
• um caso (2%) onde a perícia médica considerou haver nexo causal entre a síndrome de burnout e o trabalho, mas
o tribunal considerou haver nexo concausal.

g) Quanto aos tribunais de origem dos processos:


– TRT – 9a Região (Paraná): originou 16 processos (33%);
– TRT – 4a Região (Rio Grande do Sul): originou 06 processos (12%);
– TRT – 18a Região (Goiás): originou 06 processos (12%);
– TRT São Paulo (todo estado): originou 05 processos (10%);
– TRT – 5a Região (Bahia): originou 03 processos (6%);
– TRT – 12a Região (Santa Catarina): originou 03 processos (6%);
– TRT – 1a Região (Rio de Janeiro): originou 02 processos (4%);
Outros 07 processos foram originados em estados não citados acima.

3. IMPRESSÕES

Apesar do haver uma pequena diferença entre os sexos quanto ao número geral de processos (52% movidos
mulheres contra 48% movidos por homens), determinadas atividades (por exemplo: operadores de call-center)
geram mais processos trabalhistas movidos por mulheres. Os bancos lideram o ranking das empresas mais
processadas no TST devido a síndrome de burnout. O grande potencial financeiro deste segmento também explica
as maiores indenizações por danos morais atribuídas. A maior parte das perícias que envolveram alegação da
síndrome de burnout (56%) atribui nexo causal ou concausal entre a síndrome de burnout e o trabalho. Deste total,
somente em 7% dos casos a Justiça discordou do laudo pericial e desqualificou o nexo. O elevado índice de
comorbidades entre burnout e depressão sugere haver sobreposição de sintomas entre essas duas entidades. Paraná,
Rio Grande do Sul e Goiás geraram 57% dos processos sobre a síndrome de burnout que chegaram ao TST.
Destaque para o Paraná, com 33%.

Desvendando o Burnout: Uma análise interdisciplinar da Síndrome do Esgotamento Profissional (Editora


LTr, 2018), Marcos Henrique Mendanha.

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