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MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

Unidade III
5 EQUIPAMENTOS DE MEDICINA NUCLEAR E PROTOCOLOS

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define medicina nuclear como sendo a especialidade que se
ocupa do diagnóstico, tratamento e investigação médica, com o uso de fontes radioativas abertas,
o radioisótopo.

A Sociedade Brasileira de Biologia, Medicina Nuclear e Imagem Molecular define medicina nuclear
como sendo a especialidade médica que utiliza fontes radiativas abertas, os radionuclídeos com
finalidade de diagnóstico e terapia.

Pode‑se dizer que a medicina nuclear é um conjunto de procedimentos de alta sensibilidade para
encontrar anormalidades na estrutura e na função de órgãos e, devido ao uso dos radiofármacos, é
capaz de identificar precocemente numerosas alterações orgânicas e funcionais. É considerado um
método seguro, praticamente indolor e muito eficiente, capaz de fornecer informações que nenhum
outro método é capaz.

Lembrete
Fontes abertas ou não seladas são aquelas em que o material radioativo
está sob a forma sólida (pó), líquida ou mais raramente gasosa, em
recipientes abertos ou que permitem que o conteúdo seja fracionado sob
as condições normais de uso. Os riscos associados às fontes abertas são de
irradiação e contaminação.

Desde que passou a ser utilizada, a medicina nuclear tornou‑se indispensável, tanto para o
diagnóstico como para o acompanhamento de doenças cardíacas, endócrinas, traumatológicas, renais
e pulmonares. Como terapia, também é muito segura, eficiente e de baixo custo para tratar alterações
patológicas benignas ou malignas curáveis com radiação. O tratamento com radioisótopos é indolor,
não é invasivo e, geralmente, é utilizado quando as condições do paciente não permitem cirurgias ou
outros tratamentos.

A medicina nuclear era denominada medicina atômica até 1952, sendo em 1946 o início do
desenvolvimento e da fabricação de equipamentos para uso nessa modalidade médica.

A gama-câmara, como conhecemos hoje, foi descrita pela primeira vez por Anger em 1957. Ela
consistia de 7 tubos fotomultiplicadores de 3,8 cm de diâmetro, acoplados a um cristal de iodeto de
sódio (NaI) de 10 cm de diâmetro e 0,6 cm de espessura, e um colimador tipo “pinhole”. Foi usada para
produzir imagens da glândula tireoide de um paciente.
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Em 1958, com colimadores de multifuros, o equipamento podia gerar imagens de órgãos maiores.
As informações obtidas eram transformadas em imagens e exibidas em tubos de raios catódicos, e,
posteriormente, registradas em chapas fotográficas. Os equipamentos mais modernos são derivados da
câmara Anger. A figura a seguir apresenta a primeira câmara Anger.

Figura 28 – Hal Anger criou as bases para sistemas sofisticados de imagem em uso hoje em dia

Fonte: Tapscott (2005, p. 251).

A partir de 1960, com o início da era da informática, já era possível adquirir e processar as
imagens obtidas para extrair parâmetros fisiológicos e corrigir distorções no mecanismo de formação
das imagens.

Em 1970, com computadores mais avançados e o desenvolvimento de métodos de reconstrução, a


gama‑câmara pode ser usada na obtenção de imagens de tomografia por emissão de fóton único ou
single emission computed tomography (SPECT).

5.1 Tomografia por emissão de fóton único (SPECT)

SPECT é uma técnica de imagem tomográfica da medicina nuclear que utiliza radiação
gama. A gama‑câmara é composta pela cabeça ou gantry, sistema de movimentação, sistema de
processamento, sistema de armazenamento de dados e sistema de impressão. O exame que usa
SPECT chama‑se cintilografia. A imagem formada é muito parecida com a da gama‑câmara, uma
imagem planar da medicina nuclear convencional.

A técnica de SPECT fornece imagens em 3D, apresentadas como cortes transversais do paciente
que são trabalhadas num software de computador, podendo ser reformatada em cortes sagitais e
manipuladas quando necessário.

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Para realização do exame, é injetado um radiofármaco no paciente. Esse elemento radioativo


se espalhará pelo corpo do paciente e este emitirá radiação, que será captada pelos detectores,
transformada em sinais elétricos, que é traduzida pelo software do computador e transformada numa
imagem bidimensional e mostrada num monitor.

Os componentes do sistema de detecção da câmara são:

• Colimador: é usado para permitir que apenas aqueles raios de uma certa direção atinjam o detector.
Existem três tipos principais: de furos paralelos, de furos divergentes e de furos convergentes.

• Cristal: é o receptor de radiação, que depois de colimada, o atinge e interage com ele. A interação
pode ocorrer de 4 maneiras:

— Evento válido: a radiação gama é emitida paralelamente aos buracos do colimador, atravessa
um deles e interage por efeito fotoelétrico com o cristal, depositando toda a sua energia
num local apenas. Nesse evento ideal, todo fóton incidente é convertido totalmente em
energia elétrica.

— Detecção de espalhamento: a radiação gama é emitida paralelamente aos buracos do


colimador, atravessa um deles e interage por espalhamento Compton com o cristal. A radiação
espalhada pode interagir uma segunda vez com o detector. Essa segunda interação não
contribui para a nitidez da imagem.

— Espalhamento do objeto: a radiação gama não é emitida na direção dos buracos do


colimador, mas espalhada pelo corpo, passando pelos buracos do colimador, sendo, assim,
detectada. A radiação perde energia durante o espalhamento, produzindo um sinal menor
no detector.

— Penetração septal: a radiação gama é emitida na direção do colimador, mas não paralelamente
a ele. Devido à atenuação incompleta, causada pelas paredes finas do colimador, há alguma
chance de essa radiação atingir o cristal e interagir com ele.

• Fotomultiplicadores: também chamadas células fotoelétricas, são tubos de vidro sob vácuo,
contendo um cátodo (eletrodo negativo), recoberto por material que absorve a luz e emite
elétrons, que são acelerados em direção a um ânodo (eletrodo positivo). No caminho, esses elétrons
chocam‑se com dinodos, que estão progressivamente a potenciais mais altos e em cada um deles
um elétron desloca cerca de 3 a 4 novos elétrons, que são acelerados até o próximo dinodo.

A reconstrução da imagem é realizada por programas que têm corretor de linearidade e uniformidade,
que tentam evitar o borramento e o aparecimento de artefatos.

A gama‑câmara rotaciona em volta do paciente para produzir imagem em SPECT. São capturadas
inúmeras imagens bidimensionais (2D) do corpo de paciente. A cada 3 ou 6 graus, durante a rotação, a
radiação é captada em pontos definidos, normalmente uma rotação de 360° para otimizar a reconstrução.
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Normalmente, o tempo de captação é em torno de 15 a 20 segundos, o que permite um tempo total de


exame de 15 a 20 minutos.

Os equipamentos mais modernos têm mais de uma cabeça com todo o sistema de detecção. Quanto
mais cabeças, mais radiação será capturada simultaneamente, diminuindo o tempo total de exame.

As imagens em SPECT podem ser em preto e branco ou coloridas, dependendo do exame.


As imagens coloridas são mais comuns em exames de cérebro e coração. A resolução, vale saber,
pode ser de 64 × 63 ou 128 × 128 pixels, e cada pixel representando uma parte de 3‑6 mm do corpo
do paciente.

A resolução da imagem depende de:

• Energia: se for muito baixa, há probabilidade de acontecer eventos não ideais, como detecção de
espalhamento, espalhamento do objeto e penetração septal.

• Espessura do cristal: não pode ser muito grosso, tem que ter uma espessura ideal para evitar o
evento de detecção de espalhamento.

• Eficiência de coleta da radiação proveniente do paciente: deve ser muito eficiente para evitar
prejuízo da imagem, que poderia fazer com que o médico não visse um câncer.

• Distância: ligada diretamente à eficiência de coleta. Quanto menor a distância, maior a


eficiência da coleta. Devido a isso, as cabeças do equipamento são aproximadas do paciente no
momento do exame.

• Tipo de buraco do colimador: cada um ligado ao seu campo de captação. O colimador de furos paralelos
capta radiação de uma área exatamente do tamanho da sua. O colimador de furos divergentes capta
radiação de uma área maior do que a dele e tem forma de leque. O colimador de furos convergentes
capta radiação de uma área menor do que a dele e tem forma de funil.

A cintilografia por SPECT é uma modalidade de exame largamente utilizada na medicina nuclear
porque possibilita a visualização da funcionalidade de todos os sistemas do corpo.

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A figura a seguir apresenta um equipamento SPECT atual e mais moderno, com uma cabeça, duas
cabeças e três cabeças.

A)

B)

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C)

Figura 29 – A) Equipamento Symbia IntevoTM da Siemens, de uma cabeça; B) equipamento SPECT, duas
cabeças fixas e perpendiculares; C) sistema de SPECT/CT AnyScan(R), trio, com três cabeças

Disponível em: A) https://cutt.ly/O8NHEwv;


B) https://cutt.ly/W8NHDuo; C) https://cutt.ly/88NHVUC.
Acesso em: 10 mar. 2023.

O equipamento gama‑câmara, planar, foi aperfeiçoado e é capaz de produzir imagens de qualidade


tanto em preto e branco como coloridas. A diferença mais marcante em relação à câmara Anger é
que a câmara SPECT é construída para que a cabeça gire gradual ou continuamente sobre o paciente,
adquirindo múltiplas imagens e sendo equipada com um computador, que integra essas múltiplas
imagens e produz uma visão seccional do órgão.

Os equipamentos mais avançados da câmara SPECT possuem mais de uma cabeça ou são
construídas com um anel de detectores. Tanto as câmaras de uma cabeça como aquelas de múltiplas
cabeças, possuem um sistema mecânico para mover as cabeças e fazê-las girar em volta do paciente.
O anel de detecção pode conter pequenos cristais individuais ou um único cristal que não gira.

Quando a câmara possui uma única cabeça, ela gira em 360° para obter todas as imagens necessárias;
se possui duas cabeças, cada uma vai rotacionar em 180°; e, se possui 3 cabeças, cada uma vai fazer o
giro em 120°, para obter o mesmo efeito.

A figura a seguir mostra um diagrama com informações que vão desde a captação da radiação que
emana do paciente até a formação de imagens num computador.

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Radiação gama

Colimador

Cristal de Nal (TI)

Fotomultiplicadoras
Câmaras digitais

Pré-amplificador
Circuito soma Circuito diferença
“Energia” “Posição”
Pulso Y
Pulso Z Pulso X

Multicanal Display ADC

Computador

Figura 30 – Diagrama de uma gama-câmara (SPECT) para formação de imagem cintilográfica

Fonte: Nobrega (2006, p. 125).

Cada parte no diagrama é fundamental para uma boa imagem. Assim, para um melhor entendimento,
vejamos alguns dos componentes principais:

• Cabeça (gantry): componente que compõe o sistema de detecção da radiação e está acoplado a
um sistema eletrônico necessário a sua detecção.

Fonte de energia
Monitor de
Câmera de vídeo controle de
tela sensível
Caixa de ao toque
engrenagens
de alta precisão
para rotação da
cabeça

Braço de rotação
da cabeça
Cabeças

Cama de fibra de
Placa de aquisição carbono removível
de dados de alto
desempenho Colimador LEHR Eixo de rotação
A da cabeça
B

Figura 31 – O gantry, ou cabeça de um sistema HiRe-SPECT indicando suas partes principais em A,


e a ilustração gráfica de uma das cabeças em modo rato em B

Adaptada de: Sajedi (2014, p. 171).

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• Colimador: aparato destinado a restringir o ângulo sólido de um feixe de radiação. Atualmente,


a maioria dos sistemas utiliza colimador paralelo. Contudo, a escolha de um colimador de alta
resolução e baixa energia, ou all purpose, deve basear-se no radionuclídeo utilizado para as
imagens de emissão.

Crystal

Pb

Orgão sendo “fotografado”

Figura 32 – Colimador de orifício paralelo

Adaptada de: https://bityli.com/NCxv9n. Acesso em: 15 mar. 2023.


• Cristal de cintilação: é o registrador da radiação. Os mais utilizados são iodeto de sódio (NaI),
oxiortosilicato de lutécio (LSO), iodeto de césio dopado com tálio – CsI(Tl) – e germanato de
bismuto (BGO). A radiação, depois de colimada, atinge o cristal e interage com ele.

Figura 33 – Exemplo de cristal cintilador

Disponível em: https://bityli.com/nr97Rg. Acesso em: 13 mar. 2023.

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Fotomultiplicadora: os fotomultiplicadores são tubos de vidro sob vácuo que têm como função
amplificar o sinal produzido pela luz incidente, possibilitando um fóton único a ser detectado, além de
transformar em energia elétrica para ser processado no computador.
Eletrodo de foco
(conectado ao
catodo) Fotocatodo
Conexão com
fotocatodo
Primeiro dinodo
Eletrodo acelerador
(conectado ao
primeiro dinodo) Segundo dinodo
Terceiro dinodo

Tela Mica

Getter

Anodo

Figura 34 – Válvula fotomultiplicadora e seus componentes

Adaptada de: Sabbatini (2003/2004).

Cintilografia de perfusão miocárdica com 99mTc-Mibi

Indicações

• Diagnóstico de enfermidade coronariana.

• Significado funcional de lesões coronarianas conhecidas.

• Prognóstico da enfermidade coronariana crônica.

• Prognóstico pós‑IAM (isquemia residual).

• Evolução de intervenções terapêuticas (angioplastia, bypass).

• Estratificação de risco antes de cirurgia de grande porte ou vascular.

• Investigação de viabilidade miocárdica.


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• Diagnóstico da síndrome da dor torácica.

• Avaliação do efeito da terapia medicamentosa.

• Avaliação após angioplastia coronariana transluminal ou cirurgia de enxerto arterial coronariano.

• Avaliação e prognóstico após infarto do miocárdio.

• Avaliação da reserva miocárdica.

• Avaliação pré‑operatória de cirurgias de grande porte não cardíacas.

• Guia para terapia de reabilitação e triagem de paciente de alto risco.

Contraindicações

• Infarto agudo do miocárdio.

• Angina instável.

• Arritmia cardíaca severa (com risco de morte).

• Miocardite.

• Valvulite.

• Pericardite.

• Estenose aórtica crítica.

• Edema pulmonar/insuficiência cardíaca congestiva.

• Embolia pulmonar.

• Hipertensão arterial severa.

• Doença não cardíaca severa intercorrente.

• Pacientes não cooperativos.

• Incapacidade para dar consentimento.

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Preparação do paciente

• Jejum mínimo de 3 horas para exame sob esforço ou estudo farmacológico, opcional para exame
em repouso.

• Explicar o procedimento detalhadamente.

• Medicação cardiológica a ser suspensa antes do estudo de estresse (se autorizado pelo cardiologista
responsável):

— betabloqueadores (72 horas antes);

— digital (72 horas antes);

— nitratos (24 horas).

• O paciente não deve se alimentar entre a injeção do radiofármaco e a aquisição das imagens, para
evitar a interposição de alças intestinais que dificultam a reconstrução do estudo e podem causar
artefatos. Após a realização do estudo, o paciente deve ingerir uma refeição rica em gorduras para
favorecer a eliminação hepatobiliar do radiofármaco e assim diminuir a irradiação da vesícula biliar.

Radiofármaco

• 99mTc‑Mibi (6‑metoxi‑isobutil‑isonitrila) por via intravenosa.

Dose (protocolo de 2 dias):

• 20 mCi (740 MBq) em estudo em esforço para um adulto de 70 kg ou sensibilizado com drogas.

• 30 mCi (1110 MBq) para estudo em repouso para um adulto de 70 kg.

Forma de administração:

• Para estudo em repouso, é injetado por via intravenosa, não necessitando de nenhum cuidado
especial.

• Para o estudo sensibilizado com esforço ergométrico, injeta‑se no momento do esforço máximo,
mantendo‑o por 1 a 2 minutos, se for possível. A pré‑colocação de um cateter venoso pode
facilitar a injeção durante o exercício.

• Para estudo com dipiridamol, é injetado 2 minutos após o término da administração do medicamento.

• Para o estudo sensibilizado com dobutamina, é injetado quando a dose máxima (40 mcg/kg/min)
é atingida ou quando a infusão é interrompida por outro motivo.
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Unidade III

Aquisição de imagem (aguardar pelo menos 30 minutos pós‑injeção em esforço e 45 minutos


pós‑injeção em repouso ou estímulo farmacológico)

• Paciente em decúbito dorsal, membros superiores flexionados sobre a cabeça (opcionalmente,


apenas o membro esquerdo).

• Remova objetos de metal da área de estudo.

• Avisar ao paciente que deve permanecer imóvel até o término do estudo, instruí‑lo a evitar
inspirações profundas e a não adormecer.

• Utilizar colimador de alta resolução para baixas energias.

• Utilizar analisador de pulsos com janela de 15% centrada no fotopico de 140 keV.

• Utilizar detector em projeção oblíqua anterior direita o mais próximo possível do tórax
do paciente.

• Utilizar órbita circular, elíptica ou de contorno, nesse último caso utilizando contorno automático
ou manual. É importante usar sempre o mesmo tipo de órbita. Verificar se todo o coração está
contido no campo e se a rotação está sendo realizada livremente sem tocar no paciente ou na maca.

• Rotação de 180° de OAD a OPE.

• Número de imagens:

— 30 (movimento angular de 6°).

• Modalidade:

— passo e disparo (step e shoot).

• Tempo por imagem: 20 segundos.

• Matriz: 64 × 64 pixels.

• Zoom: 1,5‑2.

Processamento

• Reconstrução: por retroprojeção filtrada, limites acima e abaixo das paredes anterior e inferior
do coração.

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• Filtro: Butterworth ordem 4, frequência de corte 0,18 Nyquist (variável entre 0,15 e 0,25), filtro
vertical ativado.

• Correção de atenuação: não se aplica, a menos que haja um sistema de correção por fonte de
transmissão linear, implementado com algumas câmeras com duas ou três cabeças.

• Zoom pós‑reconstrução: variável (em geral entre 30‑60%).

• Reorientação do eixo maior vertical e horizontal do coração.

• As condições de processamento de imagem são as mesmas para o estudo em repouso, esforço ou


estímulo farmacológico. Pode ser necessário modificar o filtro se a dose for menor ou se houve
infiltração parcial durante a injeção, o que resultará em densidade de grânulos no miocárdio.

Documentação do estudo

• Selecionar um conjunto de imagens durante o exame em esforço ou estímulo farmacológico


e repouso de cada corte (eixo curto, eixo longo vertical e eixo longo horizontal) para que
sejam comparativos, usando um software específico e, geralmente, fornecido para esse tipo de
apresentação. Imprimir em cores ou em preto e branco, de acordo com a preferência do usuário.

Observações

• Nas câmaras de duas cabeças (ângulo de 90°) realizar a metade da rotação com cada detector, os
demais parâmetros se mantêm.

• Pode‑se usar o protocolo de um dia, no qual se realiza primeiro o exame em repouso (10 mCi) e
em esforço 4 a 6 horas depois (30 mCi), ou vice‑versa. Nesse caso, os filtros de processamento
devem ser adaptados às diferentes densidades de contas.

• Tanto o estudo em estresse quanto o estudo em repouso pode ser adquirido de forma disparada
(sincronizada com o ECG), para o qual se recomenda aumentar o tempo de aquisição para
40 segundos/passo e adquirir 8 imagens por ciclo cardíaco, mantendo o restante dos parâmetros
não modificados. Essa técnica requer um software especial de aquisição e processamento.

Utilidade clínica

• A técnica de SPECT é atualmente essencial para a avaliação da perfusão miocárdica, com


superioridade comprovada em termos de sensibilidade diagnóstica e localização topográfica de
áreas patológicas em relação às imagens planares.

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Unidade III

Observação

O dipiridamol é um fármaco que inibe a formação de trombos,


quando administrado cronicamente, provocando vasodilatação quando
administrado em doses elevadas durante um curto período de tempo.
É usado para inibir a captação de adenosina nos eritrócitos, nas plaquetas e
nas células endoteliais in vitro e in vivo. A inibição atinge no máximo 80%,
sendo dose‑dependente em concentrações terapêuticas (0,5‑2 mcg/mL).

Dobutamina é um fármaco simpaticomimético desenvolvido nos anos


de 1970 e usado para tratar a insuficiência cardíaca congestiva e o choque
cardiogênico, aumentando a força de contração e facilitando a passagem
do impulso elétrico pelo coração. É um agente inotrópico de ação direta
e sua atividade primária resulta da estimulação dos receptores beta‑1 do
coração, com poucos efeitos em receptores alfa‑1 (vasoconstritor) e beta‑2
(vasodilatador). A dobutamina é um fármaco simpatomimético que, ao
atuar diretamente no coração, aumenta a força e a frequência de contração
cardíaca, de modo a simular o trabalho cardíaco máximo.

Cintilografia de perfusão miocárdica com 201Tl

Indicações

• Diagnóstico de enfermidade coronariana.

• Significado funcional de lesões coronarianas conhecidas.

• Prognóstico da enfermidade coronariana crônica.

• Prognóstico pós‑IAM (isquemia residual).

• Evolução de intervenções terapêuticas (angioplastia, bypass).

• Estratificação de risco antes de cirurgia de grande porte ou vascular.

• Investigação de viabilidade miocárdica.

• Diagnóstico da síndrome da dor torácica.

• Avaliação do efeito da terapia medicamentosa.

• Avaliação após angioplastia coronariana transluminal ou cirurgia de enxerto arterial coronariano.

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MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

• Avaliação e prognóstico após infarto do miocárdio.

• Avaliação da reserva miocárdica.

• Avaliação pré‑operatória de cirurgias de grande porte não cardíacas.

• Guia para terapia de reabilitação e triagem de paciente de alto risco.

Contraindicações

• Infarto agudo do miocárdio.

• Angina instável.

• Arritmia cardíaca severa (com risco de morte).

• Miocardite.

• Valvulite.

• Pericardite.

• Estenose aórtica crítica.

• Edema pulmonar/Insuficiência cardíaca congestiva.

• Embolia pulmonar.

• Hipertensão arterial severa.

• Doença não cardíaca severa intercorrente.

• Pacientes não cooperativos.

• Incapacidade para dar consentimento.

Preparação do paciente

• Jejum mínimo de 3 horas para exame sob esforço ou estudo farmacológico, opcional para
exame em repouso.

• Explicar o procedimento detalhadamente.

• Medicação cardiológica a ser suspensa antes do estudo de estresse (se autorizado pelo
cardiologista responsável):

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Unidade III

— betabloqueadores (72 horas antes);

— digital (72 horas antes);

— nitratos (24 horas).

• O paciente não deve se alimentar entre a injeção do radiofármaco e a aquisição das imagens,
para evitar a interposição de alças intestinais que dificultam a reconstrução do estudo e podem
causar artefatos. Após a realização do estudo, o paciente deve ingerir uma refeição rica em
gorduras para favorecer a eliminação hepatobiliar do radiofármaco e assim diminuir a irradiação
da vesícula biliar.

Radiofármaco

• 201Tl (em formato de cloreto de sódio)

Dose (protocolo de 2 dias):

• 2‑3 mCi (74-111 MBq) em estudo em esforço para um adulto de 70 kg ou sensibilizado com drogas.

• 1-1,5 mCi (37-55,5 MBq) para reinjeção em repouso (diagnóstico de viabilidade miocárdica).

Forma de administração:

• Para o estudo sensibilizado em esforço ergométrico, injeta‑se no momento de esforço máximo,


mantendo‑o por 1 ou 2 minutos, quando for possível. A colocação prévia de um cateter venoso
pode facilitar a injeção durante o exercício.

• Para estudo com dipiridamol, é injetado 2 minutos após o término da administraçãodo


medicamento.

• Para o estudo sensibilizado com dobutamina, é injetado quando a dose máxima (40 mcg/kg/min)
é atingida ou quando a infusão é interrompida por outro motivo.

• Para estudo em repouso (reinjeção) administrar por via intravenosa, não requerendo nenhum
cuidado especial.

Aquisição de imagens (pós‑exercício imediato ou estímulo farmacológico e às 4 h para avaliar a


redistribuição; entre 30 minutos e 2 horas pós‑administração para imagens de reinjeção)

• Paciente em decúbito dorsal, membros superiores flexionados sobre a cabeça (opcionalmente,


apenas o membro esquerdo).

• Remover objetos de metal da área de estudo.


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MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

• Avisar ao paciente para permanecer imóvel até que o estudo seja concluído e instruí‑lo a evitar
respirar profundamente e não adormecer.

• Utilizar o colimador geral para baixas energias.

• Utilizar analisador de pulso com janelas de 20% centradas nos fotopicos de 70 keV e 167 keV.

• Utilizar um detector em projeção oblíqua anterior direita o mais próximo possível do tórax
do paciente.

• Utilizar órbita circular, elíptica ou de contorno, nesse último caso utilizando contorno automático
ou manual. Usar sempre o mesmo tipo de órbita. Verificar se todo o coração está contido no
campo e se a rotação está sendo realizada livremente sem tocar no paciente ou na maca.

• Utilizar rotação de 180° desde oblíqua anterior direita (OAD) a oblíqua posterior esquerda (OPE).

• Número de imagens:

— 30 (movimento angular de 6°).

• Modalidade:

— passo e disparo (step e shoot).

• Tempo por imagem: 30 segundos.

• Matriz: 64 × 64 pixels.

• Zoom: 1,5-2.

Processamento

• Reconstrução: por retroprojeção filtrada, limites acima e abaixo das paredes anterior e
inferior do coração.

• Filtro: Butterworth ordem 4, frequência de corte 0,15 Nyquist (variável entre 0,12 e 0,25), filtro
vertical ativado.

• Correção de atenuação: não se aplica, a menos que haja um sistema de correção por fonte de
transmissão linear, implementado com algumas câmeras com duas ou três cabeças.

• Zoom pós‑reconstrução: variável (em geral entre 30‑60%).

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Unidade III

• Reorientação do eixo maior vertical e horizontal do coração.

• As condições de processamento de imagem são as mesmas para o estudo em repouso, esforço ou


estímulo farmacológico. Pode ser necessário modificar o filtro se a dose for menor ou se houve
infiltração parcial durante a injeção, o que resultará em densidade de grânulos no miocárdio.

Documentação do estudo

• Selecionar um conjunto de imagens durante o exame em esforço ou estímulo farmacológico


e repouso de cada corte (eixo curto, eixo longo vertical e eixo longo horizontal) para que
sejam comparativos, usando um software específico e, geralmente, fornecido para esse tipo de
apresentação. Imprimir em cores ou em preto e branco, de acordo com a preferência do usuário.

Observações

• Nas câmaras de duas cabeças (ângulo de 90°) realizar a metade da rotação com cada detector, os
demais parâmetros se mantêm.

Utilidade clínica

• A técnica de SPECT é atualmente essencial para a avaliação da perfusão miocárdica, com


superioridade comprovada em termos de sensibilidade diagnóstica e localização topográfica de
áreas patológicas em relação às imagens planares.

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MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

A figura a seguir apresenta imagem de um exame de cintilografia de perfusão miocárdica sob


estresse e em repouso.

Cortes tomográficos
- Referência

Eixo curto

Eixo longo vertical

Eixo longo horizontal

Figura 35 – Cintilografia de perfusão miocárdica sob estresse e em repouso

Fonte: Mastrocola (2020, p. 387).


Cintilografia de perfusão pulmonar

Indicação

• Tromboembolismo pulmonar.

Preparação do paciente

• Jejum de 2 horas (não essencial).

• Explicar o procedimento em detalhes.

Radiofármaco

• 99mTc-MAS (microesferas de albumina);

• 99mTc-MAA (macroagregados de albumina).

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Unidade III

Dose:

• 7 mCi (259 MBq) para um adulto de 70 kg.

Forma de administração:

• Injetável em bolus, por via intravenosa, sem puxar o êmbolo, para evitar que o conteúdo seja
misturado com o sangue do paciente ainda na seringa. Solicitar ao paciente que mantenha o
braço injetado levantado por alguns segundos.

• A injeção deve ser realizada com o paciente em decúbito dorsal.

• Lembrar que a seringa contendo a dose deve ser agitada continuamente para evitar a precipitação
das partículas.

Aquisição de imagens (imediatas pós‑injeção)

• Paciente em decúbito dorsal, membros superiores flexionados sobre a cabeça.

• Retirar objetos metálicos da área de estudo.

• Advertir o paciente que deve permanecer imóvel até que o estudo esteja finalizado.

• Utilizar colimador de alta resolução para baixas energias.

• Utilizar analisador de pulso com janela de 15% centrada no fotopico de 140 keV.

• Utilizar detector em projeção anterior o mais próximo possível do tórax do paciente.

• Utilizar, preferencialmente, órbita elíptica ou de contorno, e nesse último caso, automático


ou manual. Verificar se ambos os pulmões estão contidos no campo e se a rotação está sendo
realizada livremente sem encostar no paciente ou na maca.

• Rotação de 360° em AP.

• Sentido: horário (CW) ou anti‑horário (CCW) indistintamente.

• Número de imagens: 60 (movimento angular de 6°).

• Modalidade: passo e disparo (step e shoot).

• Tempo de imagem: 20 segundos.

• Matriz: 128 × 128 pixels.

• Zoom: 1.

114
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

Processamento

• Reconstrução: por retroprojeção filtrada, limites imediatamente acima e abaixo dos pulmões.

• Filtro: Butterworth de ordem 4, frequência de corte 0,25 Nyquist (variável entre 0,20 e 0,30), filtro
vertical ativado.

• Correção de atenuação: sim (método de Chang, coeficiente 0,12 cm−1).

• Zoom pós-reconstrução: variável de acordo com o julgamento do operador.

Documentação do estudo

• Selecionar um conjunto de imagens de cada seção (transversal, coronal e sagital) e imprimir,


preferencialmente, em preto e branco.

Observações

• Nos equipamentos de duas cabeças, realizar metade da rotação com cada detector, ou outros
parâmetros devem ser mantidos.

• O estudo deve ser sempre acompanhado de imagens planares convencionais, pelo menos
6 projeções.

Utilidade clínica

• A superioridade do exame de cintilografia por SPECT sobre a imagem planar para o diagnóstico
de tromboembolismo pulmonar não foi comprovada e, portanto, não é a técnica de escolha na
rotina clínica.

115
Unidade III

A figura a seguir mostra imagem cintilográfica de perfusão pulmonar.

Figura 36 – Cintilografia de perfusão pulmonar

Disponível em: https://bityli.com/7lgwFJ. Acesso em: 15 mar. 2023.

Observação

No processamento de sinal, a frequência de Nyquist, em homenagem


ao físico sueco Harry Nyquist (1889‑1976), é uma característica de
um amostrador, que converte uma função ou sinal contínuo em uma
sequência discreta.

Cintilografia de mama

Indicações

• Avaliação do comprometimento metastático linfonodal axilar.

• Lesões mamárias não palpáveis.

116
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

Preparação do paciente

• Jejum de 2 horas (não essencial).

• Explicar o procedimento detalhadamente.

Radiofármaco

• 99mTc-Mibi (6-metoxi-isobutil-isonitrila).

Dose:

• 20 mCi (740 MBq) para adultos de 70 kg.

Forma de administração:

• Deve ser injetada via intravenosa, sendo muito importante selecionar cuidadosamente o local
da injeção. Deve ser injetado no braço contralateral à lesão ou, no caso de tumores mamários
bilaterais, injetar no pé.

Aquisição de imagens (10 minutos pós‑injeção)

• Paciente em decúbito dorsal, com os membros superiores flexionados sobre a cabeça.

• Retirar objetos metálicos da área em estudo.

• Avisar ao paciente que deverá permanecer imóvel até o término do estudo.

• Utilizar colimador de alta resolução para baixas energias.

• Utilizar analisador de pulsos com janela de 15% centrada no fotopico de 140 keV.

• Utilizar detector em projeção anterior o mais próximo possível do tórax do paciente.

• Usar preferencialmente órbita elíptica ou de contorno, nesse último caso, usando contorno
automático ou manual. Verificar se a região de interesse está contida no campo e se rotação está
sendo realizada livremente, sem tocar no paciente ou na maca.

• Rotacionar em 360° em AP.

• Sentido: horário (CW) ou anti‑horário (CCW) indistintamente.

• Número de imagens: 60 (movimento angular de 6°).

117
Unidade III

• Modalidade: passo e disparo (step e shoot).

• Tempo por imagem: 20 segundos.

• Matriz: 128 × 128 pixels.

• Zoom: 1.

Processamento

• Reconstrução: por retroprojeção filtrada, limites imediatamente acima e abaixo da região a


ser estudada.

• Filtro: Butterworth de ordem 4, frequência de corte de 0,30 Nyquist (variável entre 0,25 e 0,35),
filtro vertical ativado.

• Correção de atenuação: sim (método de Chang, coeficiente 0,12 cm-1).

• Zoom pós‑reconstrução: variável, de acordo com o julgamento do operador.

Documentação do estudo

• Selecionar um conjunto de imagens de cada seção (transversal, coronal e sagital) e imprimir,


preferencialmente, em preto e branco.

Observações

• Nos equipamentos de duas cabeças, realizar metade da rotação com cada detector, os demais
parâmetros deverão ser mantidos.

• Esse estudo deve ser acompanhado de imagens estáticas de ambas as mamas em projeção lateral,
com a paciente em decúbito ventral, e, também, imagem estática em projeção anterior da região
torácica, incluindo as axilas.

Utilidade clínica

• Alguns estudos indicam certa superioridade do exame de cintilografia SPECT em relação às imagens
planares para a detecção do envolvimento axilar, mas não para a detecção do tumor primário.

118
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

A figura a seguir apresenta uma cintilografia de mamas, identificando câncer.

Figura 37 – Cintilografia de mamas em câncer de mama triplo negativo

Adaptada de: https://bityli.com/6cRNZX. Acesso em: 13 mar. 2023.

Saiba mais

Apesar do câncer de mama ser mais comum em mulheres, os homens


também podem ser acometidos por esse tipo de patologia. Para entender
melhor, leia o artigo:

BONFIM, R. J. A. Câncer de mama no homem: análise dos aspectos


epidemiológicos, clínicos e terapêuticos em serviço formal brasileiro.
Revista Brasileira de Oncologia Clínica, v. 10, n. 37, julho/agosto/setembro,
2014. Disponível em: https://bityli.com/iiJ8cO. Acesso em: 12 mar. 2023.

Cintilografia hepática

Indicações

• Tumores hepáticos primários e secundários.

• Cistos, abscessos hepáticos ou esplênicos.

Preparação

• Jejum de 2 horas (não essencial).

119
Unidade III

• Explicar o procedimento detalhadamente.

Radiofármaco

• 99mTc-S0(enxofre coloidal).

• 99mTc-Fitato.

• Qualquer outro traçador coloidal também é adequado.

Dose:

• 5 mCi (185 MBq) para adultos com 70 kg.

• Crianças: 70 µCi/kg, mínimo de 500 µCi (18,6 MBq).

Forma de administração:

• Deve ser injetado por via intravenosa, não requerendo precauções especiais.

Aquisição de imagens (15 minutos pós‑injeção)

• Paciente em decúbito dorsal, com os membros superiores flexionados sobre a cabeça.

• Retirar objetos metálicos da área em estudo.

• Avisar ao paciente que deve permanecer imóvel até que o estudo seja finalizado.

• Utilizar colimador de alta resolução para baixas energias.

• Utilizar analisador de pulsos com janela de 15% centrada no fotopico de 140 keV.

• Utilizar detector em projeção anterior o mais próximo possível do abdômen do paciente, centrado
no epigástrico.

• Utilizar preferencialmente órbita elíptica ou de contorno, e nesse último caso, contorno automático
ou manual. Verificar se todo o fígado e o baço estão contidos no campo e se a rotação está sendo
realizada livremente sem tocar no paciente ou a maca.

• Rotacionar de 360° em AP.

• Sentido: horário (CW) ou anti‑horário (CCW) indistintamente.

• Número de imagens: 60 (movimento angular de 6°).


120
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

• Modalidade: passo e disparo (step e shoot).

• Tempo por imagem: 20 segundos.

• Matriz: 64 × 64 pixels.

• Zoom: 1.

Processamento

• Reconstrução: por retroprojeção filtrada, limites imediatamente acima e abaixo do fígado e baço.

• Filtro: Butterworth de ordem 4, frequência de corte de 0,30 Nyquist (variável entre 0,25 e 0,40),
filtro vertical ativado.

• Correção de atenuação: essencial (método de Chang, coeficiente de 0,12 cm−1).

• Zoom pós-reconstrução: em geral não é necessário.

Documentação do estudo

• Selecionar um conjunto de imagens de cada seção (transversal, coronal e sagital) e imprimir,


preferencialmente, em preto e branco.

Observações

• Nos equipamentos de duas cabeças realizar metade da rotação em cada detector, os demais
parâmetros são mantidos.

• Esse estudo deve ser acompanhado de pelo menos uma imagem estática em projeção anterior
com uma marca no rebordo costal, que forneça informações sobre o tamanho e a posição do
fígado e do baço.

Utilidade clínica

• A técnica de cintilografia hepática por SPECT permite aumentar a sensibilidade diagnóstica e


topográfica das lesões com maior precisão em relação às imagens planares, razão pela qual é o
procedimento de escolha.

121
Unidade III

A figura a seguir apresenta imagem cintilográfica do fígado e das vias biliares.

A)

B)
Figura 38 – Cintilografia de fígado e vias biliares: A) função hepatocística normal, vias biliares pérvias
e ausência de concentração do radiotraçador na vesícula biliar, sugerindo quadro de colecistite aguda;
B) hepatocintilografia sem evidências cintilográficas de colecistite aguda

Fonte: Barreto et al. (2012, p. 112).

122
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

Cintilografia para pesquisa de hemangioma hepático

Indicações

• Diagnóstico de hemangioma hepático.

• Determinar o grau de vascularização dos processos hepáticos ou esplênicos.

Preparação do paciente

• Jejum de 2 horas (não essencial).

• Explicar o procedimento detalhadamente.

Radiofármaco

• Glóbulos vermelhos marcados com pertecnetato de 99mTc, por administração prévia de cloreto
de estanho.

Dose:

• 20-30 mCi (740-1110 MBq) para adultos de 70 kg, administração prévia (15 mL) de cloreto
estanhoso (marcação in vivo).

• Crianças: 290 µCi/kg, mínimo de 1 mCi (37 MBq).

Forma de administração:

• Intravenosa, em bolus, para obter um estudo dinâmico da primeira passagem.

Aquisição de imagens (pós‑injeção imediata)

• Paciente em decúbito dorsal, com membros superiores flexionados sobre a cabeça.

• Retirar objetos metálicos da área de estudo.

• Avisar ao paciente que deve permanecer imóvel até que o estudo seja finalizado.

• Utilizar colimador de alta resolução para baixas energias.

• Utilizar analisador de pulsos com janela de 15% centrada no fotopico de 140 keV.

• Utilizar detector em projeção anterior o mais próximo possível do abdômen do paciente,


centrado no fígado.
123
Unidade III

• Utilizar, de preferência, órbita elíptica ou de contorno, e nesse último caso, usar contorno
automático ou manual. Verificar se todo o fígado e o baço estão contidos no campo e se a rotação
está sendo realizada livremente sem tocar o paciente ou a maca.

• Rotacionar de 360° em AP.

• Sentido: horário (CW) ou anti‑horário (CCW), indistintamente.

• Número de imagens: 60 (movimento angular de 6°).

• Modalidade: passo e disparo (step e shoot).

• Tempo por imagem: 20 segundos.

• Matriz: 64 × 64 pixels.

• Zoom: 1.

Processamento

• Reconstrução: por retroprojeção filtrada, limites imediatamente acima e abaixo do fígado.

• Filtro: Butterworth de ordem 4, frequência de corte de 0,25 Nyquist (variável entre 0,20 e 0,30),
filtro vertical ativado.

• Correção de atenuação: essencial (método de Chang, coeficiente de 0,12 cm−1).

• Zoom pós‑reconstrução: em geral, não é necessário.

Documentação do estudo

• Selecionar um conjunto de imagens de cada secção (transversal, coronal e sagital) e imprimir,


preferencialmente, em preto e branco.

Observações

• Nos equipamentos de duas cabeças, realizar metade da rotação com cada detector, os demais
parâmetros se mantêm.

• A marcação de eritrócitos também pode ser realizada pela técnica in vitro ou mista, in vivo e in vitro.

• Esse estudo deve ser acompanhado por uma fase dinâmica de primeira passagem e imagens
estáticas de referência.

• Se o diagnóstico de hemangioma for de interesse, geralmente, é necessário repetir o estudo


tardiamente (4 a 6 horas após a injeção).
124
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

Utilidade clínica

• A cintilografia por SPECT permite aumentar a sensibilidade diagnóstica e topográfica das lesões com
maior precisão comparada com as imagens planares, para o qual constitui o processo de escolha.

A figura a seguir apresenta imagem cintilográfica de hemangioma hepático.

64 x 64 128 x 128 256 x 256 512 x 512 (a)

64 x 64 128 x 128 256 x 256 512 x 512 (b)

Figura 39 – Cintilografia de hemangioma hepático

Fonte: Ferreira ([s.d.], p. 7).

Cintilografia renal

Indicações

• Detecção de cicatrizes corticais renais (pielonefrite) ou outras lesões parenquimatosas.

Preparação do paciente

• Jejum de 2 horas (não essencial).

• Explicar o procedimento detalhadamente.

Radiofármaco

• 99mTc-DMSA (ácido dimercapto‑succínico).

Dose:

• 3 mCi (111 MBq) para adultos com 70 kg.

• Crianças: 40 µCi/kg, mínimo de 500 µCi (18,6 MBq).


125
Unidade III

Forma de administração:

• Injetado por via intravenosa, não requerendo precauções especiais.

Aquisição de imagens (4 a 6 horas pós‑injeção)

• Paciente em decúbito dorsal, com membros superiores flexionados sobre a cabeça.

• Retirar objetos metálicos da área em estudo.

• Avisar ao paciente que deve permanecer imóvel até que o estudo esteja finalizado.

• Utilizar colimador de alta resolução para baixas energias.

• Utilizar analisador de pulsos com janela de 15% centrada no fotopico de 140 keV.

• Utilizar detector em projeção lateral o mais próximo possível do tronco do paciente, centrado na
região lombar.

• Utilizar órbita elíptica ou de contorno, nesse último caso, contorno automático ou manual. Verificar
que ambos os rins estão contidos no campo e se a rotação está sendo realizada livremente, sem
tocar no paciente ou na maca.

• Rotação posterior de 180° de LD para LE.

• Número de imagens: 30 (movimento angular de 6°).

• Modalidade: passo e disparo (step e shoot).

• Tempo por imagem: 20 segundos.

• Matriz: 64 × 64 pixels.

• Zoom: ajustado ao tamanho do paciente, geralmente 2.

Documentação do estudo

• Selecionar um conjunto de imagens de cada corte e imprimir, preferencialmente, em preto


e branco.

Observações

• Nos equipamentos com duas cabeças (ângulo a 90°) realizar metade da rotação com cada detector,
os outros parâmetros permanecem os mesmos.

126
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

• Em crianças utilizar um zoom maior (2,5 ou 3).

• Obter sempre uma imagem planar da região lombar em projeção PA e, opcionalmente, oblíqua e PA.

• Para a função renal absoluta, meça também a seringa com a dose antes e depois da injeção.

Utilidade clínica

• As evidências sobre a superioridade da cintilografia SPECT em relação às imagens planares para


avaliação morfológica renal não são conclusivas, mas alguns relatos indicam maior sensibilidade
dessa técnica. Outros autores preferem imagens planares usando o colimador pinhole.

A figura a seguir apresenta imagem de uma cintilografia renal.

Cintilografia renal dinâmica com DTPA-99mTc: estase funcional em sistema pielocalicial à esquerda.
Nota-se bom esvaziamento após uso do diurético com T1/2 de excreção inferior a 10 minutos

A)

127
Unidade III

Cintilografia renal dinâmica com DTPA-99mTc: obstrução da junção uretero-pélica bilateral com
dilatação e estase pielo-calicial sem resposta satisfatória ao uso de diurético bilateralmente.

B)

Figura 40 – Cintilografia renal com 99mTc‑DSMA: A) emprego de diurético diferenciando estase


funcional em sistema pielocalicial à esquerda, com bom esvaziamento após uso de diurético com
meia‑vida de excreção inferior a 10 min; B) obstrução da junção uretero‑pélica bilateral com
dilatação e estase pielocalicial de processo obstrutivo com retenção do radiofármaco

Fonte: Zerati Filho, Nardozza Júnior e Reis (2010, p. 76).

Cintilografia óssea

Indicações

• Dor dorsal ou lombar sem causa aparente (procurar espondilólise).

• Localização topográfica e características das lesões vertebrais.

• Patologia do quadril ou joelho (especialmente osteonecrose, lesões de cartilagem).

• Patologia temporomandibular, avaliação de cirurgia maxilar.

Preparação do paciente

• Jejum de 2 horas (não essencial).

• Explicar o procedimento detalhadamente.

128
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

• Hidratação abundante desde o momento da injeção (com exceção de pacientes com insuficiência
renal que apresentam restrição hídrica).

• O paciente deve urinar antes de começar o estudo.

Radiofármaco

• 99mTc-MDP (metileno-difosfonato)

• 99mTc-HMDP (hidroxi-metil-difosfonato).

Dose:

• 25 mCi (925 MBq) para adultos de 70 kg.

• Crianças: 360 µCi/kg, mínimo 1 mCi (37 MBq).

Forma de administração:

• Injetado por via intravenosa, não requerendo precauções especiais.

Aquisição de imagens (2 horas pós‑injeção)

• Paciente em decúbito dorsal, com membros superiores fora da região de estudo.

• Remover objetos metálicos que possam atrapalhar.

• Avisar ao paciente que deve permanecer imóvel até que o estudo seja finalizado.

• Utilizar colimador de alta resolução para baixas energias.

• Utilizar analisador de pulsos com janela de 15% centrada no fotopico de 140 keV.

• Utilizar detector na projeção adequada segundo a região a ser estudada, o mais próximo possível
do paciente, centrado na zona de estudo.

• Utilizar órbita preferencialmente não circular, usando contorno automático ou manual. Verificar
se a área a ser estudada está contida no campo e se a rotação está sendo realizada livremente sem
tocar no paciente ou na maca.

• Rotação de 360° de AP para crânio, tórax e pélvis.

• Rotação de 180° de posição lateral para coluna, mandíbula e joelhos.

129
Unidade III

• Sentido de rotação: horário ou anti‑horário indistintamente.

• Número de imagens: 60 para rotação de 360° e 30 para 180° (movimento angular de 6°).

• Modalidade: passo e disparo (step e shoot).

• Tempo por imagem: 20 a 30 segundos, respectivamente.

• Matriz: 128 × 128 pixels sem zoom ou 64 × 64 pixels com zoom.

• Zoom: 1,5 para joelhos, crânio e mandíbula e 2 para coluna.

Processamento

• Reconstrução: por retroprojeção filtrada, limites imediatamente acima e abaixo da região de estudo.

• Filtro:

— Butterworth de ordem 4, frequência de corte de 0,30 Nyquist (altamente variável dependendo


da região em estudo e da densidade dos grânulos), filtro vertical ativado;

— Wiener (especialmente para coluna).

• Correção de atenuação: Não.

• Zoom pós‑reconstrução: variável, segundo julgamento do operador.

Documentação do estudo

• Selecionar um conjunto de imagens de cada corte (transversal, coronal e sagital) e imprimir,


preferencialmente, em branco e preto.

Observações

• Em equipamentos com duas cabeças (ângulo a 90° para rotações de 180°, a 180° para rotações de
360°), realizar metade da rotação com cada detector, os outros parâmetros devem ser mantidos.

• Em pacientes com insuficiência renal, a hidratação pode não ser indicada. Pode ser necessário
atrasar o início do estudo por mais de 3 horas.

• Os parâmetros de aquisição e processamento podem ser modificados de acordo com a topografia


e características da lesão a ser estudada.

130
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

• Nos estudos pélvicos, deve-se realizar a evacuação completa da bexiga.

• Lembrar que a cintilografia óssea é complementar e deve ser sempre acompanhada de um estudo
planar convencional.

• Acalmar o paciente com analgésicos intravenosos antes do estudo, se ele estiver com muita dor e
se sentir que não vai aguentar o posicionamento pelo tempo necessário.

Utilidade clínica

• Existem evidências bastante convincentes sobre a utilidade de SPECT na cintilografia óssea,


especialmente para a detecção e topografia de lesões vertebrais. Seu uso rotineiro é recomendado
em casos de lombalgia sem causa aparente. Sua utilidade em outras aplicações é discutível.

A figura a seguir apresenta uma imagem cintilográfica óssea:

Estudo normal Múltiplas metástases

Figura 41 – Cintilografia óssea: A) normal; B) metástases múltiplas

Imunocintilografia

Indicações

• Avaliação da extensão da lesão e diagnóstico de recidiva tumoral.

131
Unidade III

Preparação do paciente

• Jejum de 2 horas (não essencial).

• Explicar o procedimento detalhadamente.

• O paciente deve urinar antes de começar o estudo.

Radiofármaco

• 99mTc-anticorpos monoclonais contra uma variedade de antígenos tumorais.

Dose:

• 25-30 mCi (925‑1110 MBq) para adultos de 70 kg.

Forma de administração:

• Infusão intravenosa lenta.

Aquisição de imagens (6 horas pós‑injeção):

• Paciente em decúbito dorsal, com membros superiores flexionados sobre a cabeça.

• Retirar objetos metálicos da região de estudo.

• Avisar ao paciente que deve permanecer imóvel até que o estudo esteja finalizado.

• Utilizar colimador de alta resolução para baixas energias.

• Utilizador analisador de pulsos com janela de 15% centrada no fotopico de 140 keV.

• Utilizar detector em projeção anterior o mais próximo possível do paciente, centrado na região de
interesse (segundo dados clínicos).

• Utilizar órbita não circular, usando contorno automático ou manual. Verificar se a área em
estudo está contida no campo e se a rotação está sendo realizada livremente sem tocar no
paciente ou na maca.

• Rotacionar de 360° em AP.

• Número de imagens: 60 (movimento angular de 6°).

• Modalidade: passo e disparo (step e shoot).

132
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

• Tempo por imagem: 20 segundos.

• Matriz: 64 × 64 pixels.

• Zoom: 1.

Processamento

• Reconstrução: por retroprojeção filtrada, colocação de limites opcional (segundo dados clínicos).

• Filtro: Butterworth de ordem 4, frequência de corte de 0,25 Nyquist (variável entre 0,20 e 0,35),
filtro vertical ativado.

• Correção de atenuação: sim (método de Chang, coeficiente 0,12 cm−1).

• Zoom pós‑reconstrução: em geral, sim, variável a julgamento do operador.

Documentação do estudo

• Selecionar um conjunto de imagens de cada corte (transversal, coronal e sagital) e imprimir em


preto e branco ou colorido.

Observações

• Em equipamentos de duas cabeças, realizar metade da rotação com cada detector, os outros
parâmetros devem ser mantidos.

• O estudo é acompanhado de imagens estáticas de 6 a 24 horas após a injeção.

• Dependendo do caso, uma nova cintilografia SPECT pode ser necessária em 24 horas.

Utilidade clínica

• Não existe evidência sobre a utilidade da imunocintilografia, mas é provável que ofereça vantagens
em termos de sensibilidade diagnóstica e localização topográfica.

133
Unidade III

A figura a seguir apresenta imagens da imunocintilografia, SPECT e tomografia.

Imunocintilografia com SPECT/CT

Figura 42 – Imunocintilografia com SPECT/CT

Disponível em: https://bityli.com/PCbJq7. Acesso em: 15 mar. 2023.


Cintilografia com Ga-citrato
67

Indicação

• Linfopatia tumoral (Hodgkin e não Hodgkin): diagnóstico diferencial entre adenopatias ativas e
massas fibrosas residuais.

• Localização de abscessos ocultos.

• Sarcoidose.

• Febre de origem desconhecida.

• Evolução do paciente com Aids.

• Estudo de outros processos neoplásicos e infecciosos.

Preparação do paciente

• Jejum de 2 horas (não essencial).

• Explicar o procedimento detalhadamente.

Radiofármaco

• 67Ga-citrato.

Dose:

• 8-10 mCi (296-370 MBq) para adultos com 70 kg.

134
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

• Crianças: 100-200 µCi/kg.

Forma de administração:

• Intravenosa, sem precauções especiais.

Aquisição de imagens (6 a 24 horas pós‑injeção para infecções, 72 horas a 10 dias pós‑injeção para
linfopatias tumorais)

• Paciente em decúbito dorsal, com membros superiores colocados fora da região de estudo.

• Retirar objetos metálicos da região de estudo.

• Avisar ao paciente que deve permanecer imóvel até que o estudo esteja finalizado.

• Utilizar colimador de alta resolução para energias médias.

• Utilizar analisador de pulsos com janela de 20% nos fotopicos de 90, 184 e 300 keV.

• Utilizar detector em projeção anterior o mais próximo possível do paciente, centrado na região
de interesse.

• Utilizar órbita não circular, usando contorno automático ou manual. Verificar se a área em estudo
está contida no campo e a rotação está sendo realizada livremente sem tocar no paciente ou na maca.

• Rotação de 360° em AP.

• Número de imagens: 60 (movimento angular de 6°).

• Modalidade: passo e disparo (step e shoot).

• Tempo de imagem: 30 segundos para o estudo de 72 horas, 40 segundos para os seguintes.

• Matriz: 64 × 64 pixels.

• Zoom: 1‑1,5 (depende da região a estudar e do tamanho do paciente).

Processamento

• Reconstrução: por retroprojeção filtrada, em geral sem limite.

• Filtro: Butterworth de ordem 4, frequência de corte de 0,30 Nyquist (variável entre 0,20 e 0,40),
filtro vertical ativado.

• Correção de atenuação: sim (método de Chang, coeficiente 0,12 cm−1).

• Zoom pós-reconstrução: variável, a critério do operador.


135
Unidade III

Documentação do estudo

• Selecionar um conjunto de imagens de cada corte (transversal, coronal e sagital) e imprimir em


preto e branco ou colorido.

Observações

• Em equipamentos com duas cabeças, realizar metade da rotação com cada detector, os demais
parâmetros são mantidos.

• Sempre acompanhar o estudo com imagens planares.

• Pode ser necessário mais cedo ou mais tarde, de acordo com os dados clínicos e os achados
apresentados.

• Para estudos de abdômen, é requerido administração de laxantes, enemas evacuatórios ou


dieta especial.

Utilidade clínica

• Existe evidência sobre a utilidade da cintilografia SPECT para avaliação de linfopatias tumorais,
constituindo‑se em método incluído em algoritmos clínicos de rotina. Não é assim em outras
aplicações, onde há dados insuficientes.

A figura a seguir apresenta uma cintilografia com uso de 67Ga em paciente com doença de Hodgkin.

Figura 43 – Cintilografia com 67Ga evidenciando áreas de hipercaptação em múltiplas áreas de


projeção supra e infradiafragmática em paciente com doença de Hodgkin

Fonte: Sapienza, Marone e Chiattone (2001, p. 81).

136
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

Cintilografia de perfusão cerebral

Indicação

• Avaliação de suspeita de demência, visando a detecção precoce e diagnóstico diferencial de


doença de Alzheimer, demência por corpúsculos de Lewy, demência por doença de Parkinson,
demência vascular, demência frontotemporal e outras.

• Localização pré‑operatória da zona epileptogênica.

• Avaliação de doença cerebrovascular, tais como acidente vascular cerebral agudo (AVCA), isquemia
cerebral crônica (ICC), vasculites e avaliação pré‑operatória da reserva vascular cerebral.

• Avaliação de morte cerebral.

Preparação do paciente

• Não é necessário jejum.

• Não é necessário suspender as medicações.

• É necessário que o paciente fique com a cabeça por 30 a 60 minutos durante a aquisição de
imagem. Em caso de paciente pediátrico ou claustrofóbico, pode ser visto com o médico algum
tipo de sedação.

• Não ingerir nenhum tipo de bebida estimulante (café, refrigerante, chocolate, bebidas energéticas),
álcool e não fazer uso de quaisquer drogas.

• Ficar deitado num quarto escuro, sem nenhum estímulo sensorial por 5 minutos, antes e depois
da injeção do radiofármaco.

• Acesso endovenoso 10 minutos antes da injeção.

• Se houver necessidade de sedação, deve ser administrada após o radiofármaco.

Radiofármaco

• 99mTc-ECD ou 99mTc-HMPAO

Dose:

• 15-30 mCi (555-1110 MBq).

137
Unidade III

Forma de administração:

• Endovenosa.

Aquisição de imagens

• 7-20 s (padrão de 15 s).

• Paciente em decúbito dorsal e ventral.

Processamento

• Matriz: 64 × 64 pixels.

• Tamanho do pixel: 6,4 mm.

• Tamanho do voxel: 6,4 × 6,4 × 1 mm.

• Órbita: 180°.

• Zoom: 1.

• Número de projeções: 60, sendo 30 por detector e 2 detectores em uma geometria de 90°.

• Janela de energia: 140 keV ± 10%.

• Contorno: circular.

• Tipo de aquisição: step e shoot.

• Colimador: furos paralelos do tipo LEHR (low energy high resolution).

Documentação do estudo

• Imagens 30 a 90 minutos após a injeção, 120 frames para maior detalhamento.

Cintilografia de tireoide com 131I

Indicação

• Avaliar a função da glândula tireoide (mesmo pessoas alérgicas a iodo podem realizar o exame).

• Hipertireoidismo (diferenciar de tireotoxicose).

138
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

• Nódulos tireoidianos (suspeita de nódulo hiperfuncionante).

• Glândula tireoide ectópica ou investigação de massa suspeita de tecido tireoidiano.

• Para cálculo da dose para terapia com 131I-iodeto.

• Pacientes com nódulos tireoidianos com citologia indeterminada.

Preparação do paciente

• Jejum obrigatório de 6 horas para que o traçador seja bem absorvido.

• Mais 2 horas depois da ingestão do radiofármaco.

• Paciente liberado para voltar depois de 24 horas (em alguns casos 4 horas) para realização da
captação cervical e mapeamento da tireoide (considerada normal, com 3% a 8%, em captação
realizada 2 horas após a ingestão e 12% a 32% em captação realizada após 24 horas).

• Medicamentos que devem ser suspensos por 30 dias: Puran T4, Synthroid, Levoid e Euthyrox.

• Medicamentos que contenham como princípio ativo a amiodarona devem ser suspensos por, no
mínimo, 90 dias (a critério médico). Nos casos de uso prolongado dessa medicação, o tempo de
suspensão pode ser maior do que esse período.

• Medicamentos que devem ser suspensos por 15 dias: tri‑iodotironina (T3).

• Medicamentos que devem ser suspensos por 7 a 10 dias: corticoides (sob orientação médica).

• Drogas antitireoidianas devem ser suspensas por 2 a 3 semanas para pacientes que fazem uso de
Propiltiouracil (PTU) e por 2 dias para pacientes que fazem uso de metimazol.

• É necessário fazer uma dieta pobre em iodo (vide quadro a seguir).

• Não realizar radiografias com contraste iodado e exame ginecológico (teste de Schiller), além de
não utilizar medicamentos que contenham iodo (xarope, vitaminas e complementos, soluções
tópicas como Povidine e álcool iodado) entre 60 e 90 dias antes do exame.

• Evitar praia e banho de mar, além de bronzeadores, por 15 dias antes do exame.

• Não esquecer de trazer os exames de imagem (ultrassom de tireoide).

Radiofármaco

• 131I.
139
Unidade III

Forma de administração:

• Cápsula de dose única.

Aquisição de imagens

• Paciente deitado, imóvel, sobre a maca do aparelho, por 15 minutos aproximadamente. Para
obtenção das imagens, o paciente ficará deitado por 30 minutos.

O quadro a seguir apresenta a dieta de iodo que o paciente deverá se submeter para realização do
exame (iniciar a dieta 2 semanas antes do tratamento.).

Quadro 18 – Dieta pobre em iodo

Não permitidos Permitidos


Sal iodado, salgadinhos e batata frita
Sal industrializada Sal não iodado
Peixes de água salgada, frutos do mar,
Peixes camarão, ostras e algas Peixe de água doce (ex.: pintado, truta etc.)
Leite, sorvete, queijo, requeijão, iogurte,
Laticínios leite de soja e tofu Leite em pó desnatado, margarina e manteiga sem sal
Carne defumada, carne de sol, caldo
Carnes de came e embutidos (bacon, salsicha, Carnes frescas
linguiça, frios, mortadela e salame)
Gema de ovo, maionese e molho
Ovos e molhos de soja (shoyu) Clara de ovo, ervas, óleo, azeite e vinagre
Frutas enlatadas ou em caldas e frutas
Frutas secas salgadas (ex.: nozes, amendoim etc.) Frutas frescas, sucos e frutas secas sem sal
Enlatados e conservas (azeitonas, picles, Alface, batata sem casca, beterraba, brócolis, cebola,
Vegetais cogumelo, chucrute etc.), agrião, aipo, cenoura, couve, ervilhas, espinafre, nabo, pepino,
couve-de-bruxelas e repolho tomate e vagem
Pão caseiro, pão francês, bolacha integral ou
Pães, massas, Pães industrializados, pizza e cerais em
cream‑cracker, massas sem ovos, arroz, aveia, cevada,
cereais e grãos caixas (sucrilhos) farinha, feijão, milho, trigo e macarrão
Doces Doces com gema de ovo, chocolate e leite Açúcar, mel, geleia e balas (exceto as vermelhas/rosas)
Café instantâneo ou solúivel, chás
industrializados e refrigerantes escuros
Bebidas (que contenham corantes vermelhos/ Café de filtro, sucos e chás naturais
rosas)

Adaptado de: ThyCa (2017).

Observação

O 131I pode ser substituído pelo 123I para o diagnóstico, porque esse é
gama puro e tem meia‑vida de 13,2 horas.

140
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

5.2 Tomografia por emissão de pósitrons (PET)

A tomografia por emissão de pósitrons (PET) é uma das técnicas mais avançadas no diagnóstico por
imagem e sua utilização na medicina mundial ocorreu a partir da década de 1980.

Em 1951, o físico americano Gordon L. Brownell, que morreu em 2008 aos 82 anos, propôs
ao médico neurologista americano William Herbert Sweet (1910‑2001), do Hospital Geral de
Massachusetts, Boston, a utilização de emissores de pósitrons para detecção de tumores cerebrais.
Em 1953, descreveram o primeiro dispositivo de imagem utilizando pósitrons e a primeira tentativa
de registrar dados tridimensionais na detecção de pósitrons em seu artigo “Localization of brains
tumors with positron emitters”, na revista Nucleonics (1953). Esse foi o início da tomografia por
emissão de pósitrons (PET).

Segundo Brownell, apesar da natureza relativamente rudimentar daquele instrumento, as


imagens do cérebro foram melhores marcadas nele do que em outros dispositivos. O instrumento
utilizado continha vários recursos que foram incorporados em futuros dispositivos de imagens a
partir de pósitrons. Os dados foram obtidos com o uso de dois detectores opostos usando detecção de
coincidência com movimento mecânico e duas dimensões e um mecanismo de impressão para formar
uma imagem bidimensional a partir dos resultados com fonte de pósitrons.

Nos anos de 1970, dois grupos de físicos das universidades UCLA e de Washington – desta chefiado
pelo professor e biofísico Michael Edward Phelps (1939) e da primeira chefiado pelo neurocientista
coreano Zang‑Hee Cho (1936) – desenvolveram o primeiro PET e, em 1973, Phelps realizou os primeiros
exames na própria Universidade de Washington.

A figura a seguir apresenta a primeira câmara positrônica rotatória comercial.

Figura 44 – Primeira câmara positrônica rotatória comercial,


o PC‑II (1973), produzida pela Cyclotron Corp.

Fonte: Sabbatini (2003/2004, [s.d.].

141
Unidade III

A tomografia por emissão de pósitrons (positron emission tomography) é um tipo de cintilografia.


É uma técnica que utiliza radionuclídeos que liberam pósitrons (β+) e uma substância metabolizada
pelo organismo, como glicose ou oxigênio, radiomarcada com o radionuclídeo. O marcador tem a
função de se acumular em tecidos específicos do organismo e, quanto mais ativo for o tecido, mais o
marcador se acumula e mais radiação é emitida.

A ideia de medição in vivo de processos biológicos e/ou bioquímicos já estava prevista desde a década
de 1930, quando os primeiros radionuclídeos produzidos artificialmente dos elementos biológicos
importantes, como carbono, nitrogênio e oxigênio, que decaem sob a emissão de radiação externamente
detectável, foram descobertos a partir do desenvolvimento do cíclotron. Esses radionuclídeos decaem
por produção de pares com a emissão de pósitrons (β+) e aniquilação de pósitrons e elétrons, resultando
em dois fótons γ de 511 keV, sob um ângulo relativo de 180°, medidos em coincidência.

A tecnologia que permite a tomografia por emissão de pósitrons só pode existir com a produção de
detectores com cristais de cintilação inorgânica para detecção de radiação gama, os sistemas eletrônicos
mais sensíveis para medidas de coincidência e computadores mais potentes, permitindo a aquisição e
reconstrução de imagens com maior resolução.

Tomografia por emissão de pósitrons emprega, principalmente, radiofármacos emissores de


pósitrons, de meia‑vida curta. Os mais utilizados são: 11C (meia‑vida de 20 min), 13N (meia‑vida de 10
min), 15O (meia‑vida de 2 min) e o 18F (meia‑vida de 110 min). Elementos como carbono, nitrogênio e
hidrogênio são os elementos básicos constituintes da vida, essencial na construção de, praticamente,
cada molécula de importância biológica. Entretanto, o hidrogênio não tem isótopos radioativos
decaindo com emissão de radiação que poderia ser detectada fora do corpo humano. Por essa razão, o
isótopo de flúor é frequentemente utilizado para substituir um átomo de hidrogênio em uma molécula.
Em razão das meias-vidas curtas desses radionuclídeos, o ideal seria que sua produção fosse realizada
no próprio hospital ou clínica onde serão realizados os estudos. Um pequeno cíclotron seria o ideal, e
alguns hospitais já possuem. Alguns radionuclídeos emissores de pósitrons de meia‑vida mais longa
como 52Fe, 55Co, 64Cu, 75Br, 76Br e 124I podem estar disponíveis comercialmente ou podem ser obtidos
em instalações de pesquisa como aceleradores do tipo cíclotrons maiores. Também existem alguns
sistemas geradores como 68Ga/68Ge e 82Rb/82Sr, com meias-vidas de 68 min e 75 s, respectivamente.

Os radionuclídeos de meia-vida curta devem ser marcados por moléculas como 11CO2, 11CO, C15O,
C15O2, H215º, além das moléculas mais complexas, como 18FDG, 18F-DOPA, 18FLT, H11CN, 11CH4, 11CH3I ou 13NH3.

O equipamento PET é um sistema complexo de tecnologia de detecção de radiação combinado com


um poder de computação relativamente grande para aquisição de dados e reconstrução de imagem.
Contém vários anéis de detectores que registram a radiação liberada, de vários ângulos diferentes.
A partir desses dados, os computadores produzem uma série de imagens coloridas bidimensionais
parecidas com fatias do corpo, como nas tomografias convencionais. E esses dados são utilizados
para produzir imagens tridimensionais. Os níveis de atividade em diferentes intensidades de cor
aparecem nas imagens, para fornecer informações sobre o funcionamento de um órgão, identificando
tecidos anormais que vão aparecer mais ativos que os tecidos normais. Contudo, a cintilografia por

142
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

PET não exibe detalhes anatômicos e estruturais de órgãos e tecidos tão bem quanto a tomografia
computadorizada (CT) ou a ressonância magnética (RM).

O sistema PET é usado na avaliação do fluxo sanguíneo e atividade cerebral e de coração, ou ainda na
detecção de câncer e outras anormalidades. A figura a seguir apresenta um equipamento PET da atualidade.

Figura 45 – Máquina de varredura PET

Adaptada de: https://bityli.com/gZadL6. Acesso em: 14 mar. 2023.

5.2.1 Metabolismo da glicose

Os estudos com PET incluem o metabolismo de glicose, fluxo de sangue cerebral, metabolismo do oxigênio,
além de outros processos fisiológicos. O metabolismo da glicose é medido utilizando o 18F, o fluxo cerebral é
medido utilizando o 15O, em ambos os casos, combinados com um fármaco que tem afinidade com o órgão.

O cérebro é um órgão que depende da glicose como fonte de energia, que é usada para manter os
níveis de potencial das membranas e para restaurar gradientes iônicos a nível celular. Para a medida do
metabolismo da glicose, o paciente deverá ficar imóvel durante 40 minutos, após injeção intravenosa de FDG
(flúor‑desoxi‑glicose), que se distribui pelas células até atingir o equilíbrio. Após o equilíbrio o 18F, é medido em
várias secções tomográficas, que depende das condições específicas da glicose na patologia cerebral. A taxa
de glicose encontrada na maior parte das doenças é o argumento mais importante para medição da glicose.

PET é uma técnica com habilidade para detectar tecidos malignos e quantificar alterações na
concentração de glicose em tumores durante e após o tratamento. Uma das técnicas, chamada cerebral
143
Unidade III

blood flow (CBF), utiliza alterações fisiológicas e patológicas em regiões de fornecimento de sangue,
assumindo que o aumento no fluxo sanguíneo está associado a um aumento da atividade funcional.
O 15O pode ser medido, após ativação, com imagens coloridas e codificadas de CBF, mostrando áreas
do cérebro que são ativadas (iluminadas) após uma atividade, como por exemplo, durante uma leitura.

A figura a seguir apresenta um esquema de PET, e a figura 47 apresenta o processo de produção de


imagem a partir da aniquilação por emissão de pósitrons.
PET Scan
área ativa do
detector
Detector 1
Detector 1

Tubo de
resposta

Linha de
resposta

Detector 2 Detector 2
Figura 46 – Representação esquemática da tomografia por emissão de pósitrons (PET)

Adaptada de: Guarino e Martelli (2018, p. 39).

Aniquilação por emissão de pósitrons

Detector HO CH2
n Coincidências
p np H OH
n np e+
e- H
Isótopo p n pp Alcance OH H
deficiente Pósitron HO OH
Injeção de
de nêutrons fármaco H 18F
Detector
marcado 18
FDG
Projeção
Projeção paralelas Coluna
φ Z Imagem por PET
Pulmões
φ Fígado
φ Baço kl L1
Rins (F) (F) Modelagem
S Sinogramas Intestino k2 L2
S
Intestino

Figura 47 – Tomografia por emissão de pósitrons (PET): um radioisótopo deficiente em nêutrons


(emissor de pósitrons) é usado para rotular uma biomolécula de sua escolha (aqui: glicose, tracer),
que é injetado no paciente; a radiação de aniquilação resultante é detectada em um sistema PET, os
dados são classificados em sinogramas (obtido por meio do alinhamento de todas as projeções ao
longo de uma matriz) e armazenados em sonogramas (gráficos que representam os componentes
acústicos do som, como duração, frequência e intensidade) antes da reconstrução da imagem – no
caso, dispersão pós‑aquisição e correção de atenuação são realizadas, e a absorção do traçador nas
imagens PET pode ser quantificada

Adaptada de: Beyer (2020, p. 5).

144
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

5.2.2 Aquisição e processamento de imagem em PET

A aquisição de imagem é indireta, como em outras técnicas, como SPECT, dependendo de um


computador para reconstrução das imagens tomográficas, pela detecção da emissão de pósitrons.
Existem duas maneiras pelas quais os radionuclídeos decaem e que irão reduzir a carga positiva excessiva
no núcleo: a neutralização de uma carga positiva com uma carga negativa de um elétron ou a emissão
de um pósitron do núcleo. O pósitron irá combinar‑se com um elétron das vizinhanças eletrônicas e
anular‑se. A aniquilação do pósitron e do elétron é convertida em radiação eletromagnética na forma
de dois fótons de grande energia, emitidos com um ângulo de 180° entre eles. É essa radiação de
aniquilação que é detectada externamente e utilizada tanto para a medição da quantidade como na
localização do emissor dos pósitrons. A detecção pode ocorrer, simultaneamente, por dois detectores
ligados centralmente, que detectam fótons em lados opostos.

Se a aniquilação ocorrer fora do volume entre os dois detectores, apenas um dos fótons poderá
ser detectado, sendo rejeitado, uma vez que a detecção de fóton único não satisfaz a condição de
incidência. A detecção simultânea fornece um campo de visão preciso com sensibilidade uniforme.
A imagem obtida se apresenta com níveis de cinza de uma secção cruzada do objeto em que a
intensidade de cada elemento de imagem seja proporcional à concentração dos isótopos no objeto.
Para corrigir imagens não nítidas, é feita uma relação tabulada e determinada empiricamente, entre
profundidade de interação e a mais provável altura de pulsação para cada raio gama detectado.

5.2.3 Utilidade da PET

A PET é utilizada dentro de certos limites e tem a capacidade de detectar mudanças bioquímicas
dentro do corpo, para qualquer região do corpo que apresente mudanças bioquímicas anormais. É
por essa razão que a PET teve um impulso enorme em aplicações clínicas para doenças neurológicas,
incluindo doenças vasculares no cérebro, epilepsia, tumores cerebrais e na localização de metástases
linfogenéticas.

A PET também pode ser usada para se entender a farmacocinética e a farmacodinâmica de moléculas
com potencial terapêutico. Para isso, essas moléculas precisam ser marcadas com radioisótopos, o que
permite acompanhar seu percurso pelo organismo e sua interação com alvos celulares específicos.
E tem a capacidade de fornecer modelos para funções fisiológicas e biológicas do corpo, das
concentrações de radioatividade regional num órgão em particular e para localizações melhoradas
de atividade, principalmente quando acompanhada de imagens de tomografia convencional e
ressonância magnética.

No início, os equipamentos de PET consistiam em scanners de radiação, sensores múltiplos e câmaras


de cintilação. Só assim o 11C, 13C e o 18F foram reconhecidos como úteis para estudos biológicos.

145
Unidade III

5.2.4 Mecanismos cerebrais em condicionamento clássico

A PET tem sido utilizada para estudar o mecanismo cerebral que supervisiona o condicionamento
humano clássico, com um estudo realizado por medição da distribuição do fluxo sanguíneo no cérebro.
O estudo é realizado em três fases: pré-condicionamento, condicionamento e pós‑condicionamento. Na
fase de condicionamento, são enviados choques elétricos rápidos ao investigado. A PET é utilizada na
primeira e na terceira fase, constatando um acréscimo de ativação nas regiões frontal e temporal na fase
de condicionamento, especialmente no hemisfério direito do cérebro. A figura a seguir apresenta imagens
observadas em PET.

R L

* *

Figura 48 – Imagem PET com FDG‑F-18, Florbetapir-F-18 eAV-1451-F-18 sobreposto a RM: em A,


áreas sensoriais motoras, bem como as regiões do córtex primário visual e auditivo; A) e B) setas
indicam diminuição do metabolismo em áreas de alta deposição de tau, como por exemplo lobo
parietal inferior; C) e D) cabeças de seta – têm metabolismo normal e nenhuma deposição de proteína
tau; áreas de cores mais quentes representam regiões de maior concentração do radiofármaco

Fonte: Masdeu (2017).

146
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

5.2.5 Receptores de estrogênio em câncer de mama

Os receptores de estrogênio são receptores bioquímicos, um grupo de proteínas presentes no


interior das células, ativados por estrogênio, anormalmente expressadas (antígenos superexpressos)
em 70% de todos os cânceres de mama, considerados um alvo para a terapia endócrina. Esses
receptores podem ser visualizados em PET com o uso de 16α-[(18)F]-fluoro-17β-estradiol((18)F-FES)]
como marcador. Em comparação com a biópsia, que avalia locais individuais, estudos de corpo inteiro
com uso de (18)F-FES-PET (flúor-18-fluoroestradiol-PET) permitem a quantificação do receptor de
estrogênio em todas as metástases (KRUCHTEN et al., 2013). Em outros estudos, a medição da expressão
da proteína tumoral nos receptores de estrogênio por (18)F-FES-PET (flúor‑18‑fluoroestradiol‑PET),
concomitantemente à biópsia, detectou lesões tumorais positivas para o receptor de estrogênio com
sensibilidade de 84% e especificidade de 98%.

Quase 45% das pacientes com câncer de mama metastático têm expressão discordante do
receptor de estrogênio nas lesões, isto é, (18)F-FES-PET-positivas e (18)F-FES-PET-negativas. A baixa
captação pelo tumor de (18)F-FES‑PET em metástases pode prever falha da terapia hormonal em
pacientes com tumores primários positivos para receptores de estrogênio; (18)F‑FES‑PET mostrou que
a capacidade de ligação do receptor de estrogênio muda após a intervenção com hormônios, mas os
achados precisam ser confirmados. Além da expressão do receptor de estrogênio, outros fatores como
menopausa e outras terapias em conjunto, que podem afetar absorção pelo tumor de (18)F‑FES‑PET,
devem ser levados em consideração durante a avaliação do paciente (KRUCHTEN et al, 2013).

É importante lembrar que receptores são proteínas que podem se ligar a determinadas substâncias
sanguíneas. As células normais e algumas células cancerígenas da mama têm receptores que se ligam
ao estrogênio e à progesterona e dependem desses hormônios para poder crescer.

Na mama, as células cancerígenas podem ter um ou ambos receptores, ou também nenhum deles:

• Receptor de estrogênio positivo: ER+ é a denominação para os cânceres de mama com


receptores de estrogênio.

• Receptor de progesterona positivo: PR+ é a denominação para os cânceres de mama com


receptores de progesterona.

• Receptor de hormônio positivo: se a célula cancerígena tiver um ou ambos os receptores, pode


ser usado o termo receptor de hormônio positivo ou HR+ para denominação.

• Receptor de hormônio negativo: se a célula cancerígena não for receptora de estrogênio


e nem de progesterona, pode ser usado o termo receptor de hormônio negativo ou HR‑ para
denominação.

Conhecer o status dos receptores hormonais do tumor é importante para definir o tipo de tratamento.
A presença de um ou de ambos os receptores hormonais no tumor indica que é possível diminuir os níveis
de estrogênio ou impedi‑lo de atuar nas células cancerígenas da mama com o uso de medicamentos de

147
Unidade III

hormonioterapia. Esse tratamento funciona para receptor hormonal positivo, mas não para receptores
hormonais negativos.

Como cerca de 67% dos cânceres de mama têm pelo menos um dos receptores, é importante que
todos os cânceres de mama sejam avaliados quanto aos receptores, seja na remoção do tumor, seja na
biópsia, por intermédio do exame de imunoistoquímico, que orientarão os médicos quanto aos melhores
tratamentos para cada paciente.

A PET tem sido usada para estudar vários aspectos da fisiopatologia do câncer de mama. O FDG
tem sido largamente utilizado em estudos de câncer com PET devido às observações do aumento da
concentração desse fármaco em quase todos os tumores malignos, ou seja, há um aumento da taxa de
glicose no tecido tumoral. O uso desse fármaco em PET provou a confiabilidade na distinção de massas
mamárias benignas e malignas, além de conseguir avaliar a extensão regional do tumor. A figura a
seguir apresenta imagens observadas em PET.

Max: 1.7 SUV

Max: 1.7 SUV

A)

Max: 10.9 SUV

B)
Figura 49 – A) PET/CT demonstrando discreto aumento de concentração de FDG na localização da
lesão da mama esquerda, carcinoma ductal in situ no quadrante inferomedial com cortes axial e
sagital; B) PET/CT demonstrando aumento heterogêneo da concentração de FDG na localização
da massa na mama esquerda, carcinoma ductal invasivo (subtipo triplo‑negativo) no quadrante
superolateral associado a linfonodomegalia axilar e espessamento difuso da pele (tumor inflamatório)
com cortes axial e sagital

Fonte: Bitencourt (2014, p. 70).

148
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

5.2.6 Correção de atenuação de corpo inteiro na utilização de PET

É um procedimento de rotina em PET por meio de uso de fatores derivados de um scanner de


transmissão ou assumindo uma densidade de tecido constante. Aquisição de imagem de corpo inteiro
por PET é uma exceção que compreende um campo axial com movimentação da cama em passos através
do tomógrafo. A informação é adquirida em espaços de tempo de 4 a 10 minutos em cada posição e, por
isso, as imagens reconstruídas incluem artefatos devido a não ser possível uma quantificação precisa.

5.2.7 Aquisição de imagens com PET de doenças renais

Altos níveis de fluxo sanguíneo e níveis de metabolismo fazem com que os rins fiquem muito
distinguíveis nas imagens de PET. O 11C‑acetato produzem imagens de rins excelentes em estudos com
PET. Mesmo quando o fluxo sanguíneo é bastante reduzido devido a doenças renais, ainda assim é
possível uma boa visualização.

5.2.8 Mecanismos cerebrais para respostas de memória

A memória de um indivíduo envolve a resposta com sucesso de informação armazenada (cephory) e,


também, todas as tentativas de lembrar. Os estudos em PET relativos à memória humana mostram que
o retorno da informação armazenada provoca o encadeamento de várias zonas cerebrais, que incluem
o córtex cerebral direito pré‑frontal e as regiões corticais posteriores. O estudo em PET mostrou que a
ativação dessas regiões está associada à tentativa de retorno da informação, e não necessariamente
com o sucesso desse retorno (COUTO; BARROS, 2001, p. 33).

5.2.9 Evolução das redes metabólicas anormais no cérebro

Para visualizar informações complexas em exame por PET é feita a combinação do método standard
PET com modelos estatísticos aproximados e técnicas de visualização para melhor compreensão dos
resultados das análises. Os perfis topográficos representam o funcionamento de redes metabolicamente
covariantes, perceptíveis através de processos convencionais de aquisição e processamento de imagens
e técnicas estatísticas devido a sua pequena magnitude quando comparada a efeitos globais. Essas
redes são quantificadas, identificadas e ilustradas, então criam-se marcadores neuronais independentes
para fazer a diferenciação entre desordens neurodegenerativas similares e mecanismos fisiológicos
dessas doenças.

149
Unidade III

A figura a seguir apresenta imagens observadas em PET.

0 Healthy control MCI AD

Figura 50 – Exame neurológico por meio de PET-CT, apresentando um paciente saudável, um com
dano cognitivo brando e um com doença de Alzheimer

Adaptada de: Kolb et al. (2015).

5.3 Imagem híbrida

A imaginologia híbrida é uma técnica recente e suas aplicações iniciaram‑se nos anos de
1990. A fusão de estudos tomográficos de radionuclídeos com exames anatômicos tornou‑se uma
prática padrão, tanto na tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT) como na
tomografia por emissão de pósitrons (PET). Contudo, a fusão de imagens cintilográficas planares com
uma modalidade anatômica permanece distintamente incomum, apesar dos métodos para fazê-la
serem encontrados na literatura há cerca de duas décadas, mesmo que esporadicamente.

Softwares personalizados, comerciais ou de domínio público têm sido usados para registrar imagens
planares, mas para a obtenção de imagens híbridas foram usados, principalmente, métodos de fusão
de cores não seletivos. Ainda estão em estudo técnicas de fusão de imagens linfocintilográficas
planares com topogramas CT (imagens scout) obtidas na SPECT-CT de uma maneira a compensar a
variação dependente da posição na ampliação que afeta o scout CT. A grande vantagem dessa técnica
é que ambas as imagens componentes são adquiridas no mesmo gantry, não havendo necessidade de
reposicionar o paciente.

As técnicas de fusão de varreduras retilíneas com imagens radiográficas e visuais foram


desenvolvidas há mais de 50 anos. Voltar aos estudos dessas técnicas é resultado da necessidade
de orientação espacial em medicina nuclear, que a imagem de fusão pode fornecer a estudos
cintilográficos planares.

150
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

A figura a seguir apresenta um exemplo de imagem de SPECT/CT e a figura 52 apresenta um exemplo


de imagem de PET/CT.

A B

Before After Before


Revascularization Revascularization Revascularization
C

Before After After


Revascularization Revascularization Revascularization

Figura 51 – Imagem de perfusão SPECT/CT em um paciente CLI antes e após vascularização; as


imagens corregistradas e fundidas demonstram aumento da captação do radiofármaco e melhora
da perfusão microvascular no pé nas vistas (A) axial, (B), sagital e (C) coronal após angioplastia com
balão da SFA e da artéria poplítea

Fonte: Chou (2020, p. 108).

Figura 52 – Corpo humano de frente: à esquerda é a tomografia que mostra com detalhes a anatomia;
ao meio, a PET mostra onde ocorre o consumo de glicose (cérebro e coração normais – a bexiga tem
concentração de FDG, que vem do rim e no fígado –; a terceira imagem, o computador junta as duas
imagens e faz a coloração, mostrando com clareza a presença de câncer no fígado (seta branca)

Disponível em: https://bityli.com/49iydv. Acesso em: 15 mar. 2023.

151
Unidade III

5.3.1 SPECT/CT

SPECT/CT (tomografia computadorizada de emissão de fóton único/tomografia computadorizada)


é usada no diagnóstico de alta tecnologia em medicina nuclear. A união entre as duas técnicas
aumenta a capacidade de identificar corretamente diversas doenças, em diferentes regiões do corpo.
As imagens são fundidas para que as informações funcionais e anatômicas sejam simultaneamente
analisadas. O resultado final lembra as imagens de PET/CT, mas o método é potencialmente aplicável
a qualquer tipo de cintilografia.

As áreas de oncologia, endocrinologia, ortopedia, pneumologia, neurologia e gastroenterologia


foram muito beneficiadas com essas técnicas, principalmente com os equipamentos híbridos.

A figura a seguir apresenta um equipamento de SPECT/CT.

Figura 53 – Aparelho de SPECT/CT

Disponível: https://bityli.com/ZO9mcs. Acesso em: 15 mar. 2023.

5.3.2 Pet/CT

A tomografia por emissão de pósitrons associada à tomografia computadorizada (PET/CT) é um


exame que associa imagens metabólicas (ou funcionais) a imagens anatômicas, adquiridas de corpo
inteiro, sendo amplamente utilizada para o diagnóstico, estadiamento e reestadiamento (reavaliação)
de diversos tipos de câncer.

O radiofármaco mais utilizado é o 18F-FDG (18F-flúor-2-deoxi-D-glicose), que é semelhante à


molécula da glicose e que se concentra nas áreas onde há lesões e, também, nos órgãos que utilizam
muita energia para suas funções com aumento do metabolismo glicolítico, como no caso de neoplasias
e doenças inflamatórias.

152
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

No câncer de mama, esse exame está indicado para pacientes com neoplasia localmente avançada
(tumores palpáveis na mama ou linfonodo) e, também para paciente com suspeita de doença à distância
(metástases em outros órgãos). Muitos estudos mostraram que pacientes com câncer de mama
apresentando tumores maiores do que 2 cm ou com linfonodo axilar comprometido, inicialmente avaliadas
na fase de estadiamento com PET/CT, apresentaram em torno de 30% de mudança de tratamento,
devido à detecção de lesões metastáticas em locais não identificados por métodos convencionais.

Um único exame de PET/CT é capaz de avaliar lesões metastáticas. Cabe ressaltar, ainda, que a
superioridade da técnica PET/CT é comprovada na detecção de lesões ósseas e comprometimento de
linfonodos quando comparada a técnicas de raios X ou mesmo cintilografia planar óssea, ou mesmo
ultrassonografia de abdômen ou ecografia de abdômen.

No cérebro e no fígado, o radiofármaco acumula‑se com grande concentração devido ao aumento


do metabolismo glicolítico desses órgãos, reduzindo a sensibilidade na detecção de pequenas lesões
metastáticas menores que 1 cm.

Em pacientes que recebem tratamento quimioterápico para reduzir o câncer de mama antes da
cirurgia, a PET/CT pode apresentar, precocemente, quais pacientes responderão bem ao tratamento,
porque estes mostrarão uma redução do metabolismo da glicose antes de ocorrer redução das dimensões
de lesões. O exame deve ser realizado no início e no fim do tratamento para que possa haver comparação.

A técnica de PET/CT é indicada para pacientes que já trataram câncer de mama e onde exista suspeita
de recorrência. É uma técnica com elevada acurácia para mostrar onde se encontram essas lesões,
principalmente quando existem alterações anatômicas secundárias a tratamento prévio com cirurgia e
radioterapia. É uma técnica de estudo metabólico eficiente na diferenciação de alterações cicatriciais
ou fibróticas dos processos pós‑terapêuticos daqueles tecidos tumorais, que poderão ser um indício do
retorno de câncer, principalmente na parede torácica, axila e cadeias linfonodais fora da axila.

A técnica de PET/CT não é indicada para rastreamento ou detectar lesões iniciais da mama, devido à
baixa sensibilidade em detectar lesões pequenas, como carcinoma in situ (CDIS), lesões com crescimento
lento, como carcinoma tubular com taxas entre 2% e 25%, e tumores menores que 2 cm. Para tumores
grandes a sensibilidade aumenta para 92%. É um exame indicado para pacientes com mamas densas
ou com implantes de silicone. Também, para detectar multiplicidade, localizar tumor primário em
paciente com doença metastática sem tumor primário detectado pelos métodos tradicionais ou quando
o paciente não pode fazer uma biópsia.

As imagens funcionais adquiridas em PET associadas às imagens de tomografia computadorizada de


alta resolução e baixa dose de radiação são adquiridas num intervalo de tempo após a administração do
radiofármaco, por via intravenosa, e dependem do objetivo do diagnóstico.

No tecido cerebral, o metabolismo da glicose fornece aproximadamente 95% do ATP necessário para
a função cerebral. O metabolismo da glicose está fortemente ligado à atividade neural, seja em condições
fisiológicas como em algumas patologias. Assim, doenças que induzem mudanças na atividade neuronal
são refletidas em alterações no metabolismo da glicose, podendo ser observadas nas imagens de PET.
153
Unidade III

Antes da injeção do radiofármaco, os níveis de glicemia do paciente são verificados, porque


quando o nível de glicemia está alto, ocorre uma competição entre a glicose do plasma sanguíneo
e o radiofármaco, que vai distorcer o padrão de distribuição normal desse radiofármaco e reduzir a
acurácia do diagnóstico. A correção por insulina não melhora a qualidade da imagem, principalmente
no estudo de demência, o que faz com que pacientes diabéticos sejam tratados previamente e
adequadamente, para evitar problemas de imagem. Quando o paciente é hiperglicêmico não há
necessidade de tratamento prévio.

As principais indicações clínicas na área neurológica são:

• Auxiliar no diagnóstico diferencial de demências, tais como doença de Alzheimer (DA), demência
frontotemporal e outras.

• Neuro‑oncologia: detecção de tecido tumoral viável.

• Epilepsia: avaliação pré‑operatória de pacientes adultos e crianças na identificação da área com


déficit funcional.

Contraindicações:

• gravidez;

• mulheres devem interromper a amamentação por 24 horas após a realização do exame;

• incapacidade do paciente em cooperar com o procedimento.

Efeitos colaterais:

• sangramento, edema ou dor pode ocorrer no local da injeção;

• reações ao radiofármaco são extremamente raras e quando ocorrem são de leve intensidade; os
efeitos descritos na literatura são: febre, náusea, eritema, rash (irritação da pele) cutâneo, cefaleia,
dor torácica, hipotensão, tontura, astenia, entre outros.

154
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

A figura a seguir apresenta um equipamento híbrido PET/CT.

Figura 54 – Aparelho de PET/CT (Discovery PET/CT 600)

Disponível em: https://bityli.com/Zn9VjC. Acesso em: 15 mar. 2023.

5.3.3 PET/RM

A união das técnicas de tomografia por emissão de pósitrons e ressonância magnética é muito
recente e economicamente só passou a ser viável em 2010 devido à incompatibilidade de componentes
e ajustes dos sistemas eletroeletrônicos.

A PET e a RM são modalidades de diagnóstico por imagem que podem ser utilizadas para o estudo
de distúrbios do sistema nervoso central, ambas oferecendo informações complementares, onde a
ressonância magnética contribui com a aquisição de imagens estruturais do cérebro com alta resolução
espacial e de contraste tecidual e a técnica de tomografia por emissão de pósitrons contribui com
informações fisiológicas sobre o metabolismo cerebral.

A combinação entre PET e RM é muito complexa, uma vez que os detectores utilizados em PET,
juntamente com seus componentes elétricos associados, como tubos fotomultiplicadores, não
desempenham suas funções de forma adequada na presença de campos magnéticos elevados. Para
resolver o problema, adaptações e modificações dos sistemas foram necessárias, com o desenvolvimento
de uma nova tecnologia de detectores compatíveis com campos magnéticos à base de silício (SiPM), que
possibilitam maior sensibilidade de detecção com maior flexibilidade dos protocolos PET/RM.

Os fotomultiplicadores de silício (SiPM) são detectores de luz consistentes em uma matriz de


fotodiodos de avalanche (APDs) em substrato de silício. Cada fotodiodo de avalanche tem entre 20 µm
e 100 µm de tamanho e a matriz pode conter até 1.000 fotodiodos em 1 mm². Cada um dos fotodiodos

155
Unidade III

é operado no modo Geiger, ou seja, produz uma avalanche de elétrons quando recebe pelo menos
um fóton, independentemente da quantidade de fótons e de sua energia. Os fotomultiplicadores de
silício são operados com pequenos fluxos de luz, de modo que nunca haja mais de um fóton para cada
fotodiodo. Dessa maneira, basta contar o número de fotodiodos que uma avalanche produziu para
contar o número de total de fótons que chegaram ao detector.

A tensão operacional depende da tecnologia do detector, mas, geralmente, fica entre 25 V e 70 V, o que
significa que é 30 a 50 vezes menor do que a tensão aplicada em tubos fotomultiplicadores convencionais.

Os fotomultiplicadores de silício (SiPM) foram inventados no Instituto de Física e Engenharia, na


Rússia. A ideia original foi usada com inúmeras variações por empresas como SensL, Photonique,
Hamamatsu, Voxtel Inc. ou STMicroeletronics. Hoje existem quatro opções de equipamentos PET/RM
disponíveis no mercado e três maneiras de integrar a PET com a RM:

Os equipamentos de PET e RM são independentes e ficam em salas distintas. Nessa configuração, a


integração das imagens é realizada por programas especializados, possibilitando flexibilidade de rotina
no radiodiagnóstico, uma vez que sistemas podem ser utilizados separadamente.

Imagens sequenciais são realizadas em equipamentos distintos. Nessa configuração, o paciente


permanece na mesma mesa de exames, e esta é transferida entre as máquinas, e é denominado como
hardware‑fused, por sistemas completamente integrados, onde é realizada a aquisição de imagens de
forma simultânea, com o paciente em uma única mesa de exames e equipamentos acoplados.

A aquisição de imagens na PET/RM tem início com o focalizador de ressonância magnética, que
definirá a área de cobertura da imagem, servindo coo base para a programação de aquisição de imagem
em PET/RM. A seguir, as imagens em PET são adquiridas em blocos sequenciais de posições do leito,
incidência craniocaudal. E as sequências em RM são programadas para cada leito, de acordo com a
sequência estipulada. Quando forem necessárias sequências mais longas em RM em um segmento
específico do corpo, o tempo de aquisição em PET deve ser proporcional ao em RM.

O radiofármaco 18F‑FDG (18F‑flúor‑2‑deoxi‑D‑glicose), como radiotraçador para a detecção


de alterações anatômicas e funcionais do organismo, apresenta alta afinidade com áreas de
aumento metabólico da glicose. Também é o principal radiofármaco utilizado para a identificação
e visualização dos aspectos radiológicos das doenças neurodegenerativas. Representa um
biomarcador universal neuronal e de integridade sináptica, devido à sua correlação proporcional
com as variações de necessidade glicólica do tecido cerebral, ou seja, maior necessidade metabólica
tende a acumular carboidratos.

No caso da doença de Alzheimer, o acúmulo reduzido do traçador, e consequente diminuição da


captação do radiofármaco durante a aquisição de imagem nas áreas temporoparietais bilaterais, indicam
potencial doença existente.

156
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

O 18F‑FDG é transportado via membrana celular de modo similar à glicose, mas realiza apenas a
primeira parte da glicólise, a formação de 18F-flúor-2-deoxi-D-glicose, que permanece na célula alterada
e não é metabolizada.

Nos indivíduos sadios, o 18F-FDG é distribuído de forma abrangente por todo o organismo. Para
aquisição de imagens cerebrais em PET/RM, o paciente deve ser mantido numa sala silenciosa e com
luminosidade reduzida para a administração do radiofármaco e na fase de captação subsequente.
E, antes disso, uma verificação da glicemia do paciente.

As imagens em PET/RM auxiliam no diagnóstico de déficit cognitivo ou demência, porque possibilitam a


identificação de alterações metabólicas em pequenas estruturas de difícil localização anatômica, como
o hipocampo, que está intimamente ligado ao déficit cognitivo futuro e doença de Alzheimer.

A ressonância magnética (RM) sozinha não é específica para doença de Alzheimer, apesar de muito
sensível na identificação de lesões estruturais. Na fusão com PET permite que imagens estruturais e
imagens metabólicas sejam uma ferramenta confiável na classificação das demências.

A figura a seguir apresenta um exemplo de um equipamento de PET/RM e a figura 56 apresenta um


exemplo de imagem em PET/RM.

Figura 55 – Equipamento de PET/RM

Disponível em: https://bityli.com/khFuk7. Acesso em: 15 mar. 2023.

157
Unidade III

A B C

Figura 56 – Imagens de F-FDG PET/RM de corpo inteiro de um paciente masculino com mieloma
múltiplo após a quimioterapia, mostrando atividade metabólica residual na crista ilíaca e linfonodo
supraclavicular esquerdo hipermetabólico (setas): A) PET, projeção em máxima intensidade; B e C)
imagem fundida de PET/RM, corte coronal ponderado em T1

Fonte: Vitor et al. (2017, p. 116).

5.4 Descarte de resíduos

Rejeito radioativo é definido como qualquer material resultante de atividades humanas que contenha
radionuclídeos em quantidades superiores aos limites de isenção, ou seja, aqueles estabelecidos por
órgãos reguladores, para o qual a reutilização é imprópria ou não prevista.

Resíduo radioativo é definido como qualquer substância remanescente, gerada em instalações


nucleares, que contenha radionuclídeos e para a qual a reutilização é possível, em conformidade com os
requisitos de proteção radiológica estabelecidos por órgãos reguladores.

Os rejeitos e resíduos provêm de diversas atividades humanas na indústria, na medicina nuclear ou


na radioterapia, que descartam: medidores nucleares fora de uso, para‑raios e detectores de fumaça
obsoletos e rejeitos sólidos compactáveis, entre outros.

O descarte de rejeitos e resíduos radioativos segue uma classificação, com embalagem e transporte
a unidades de tratamento e armazenamento da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), onde
podem ser monitoradas pelo tempo que for necessário, com foco na proteção às pessoas em geral e ao
meio ambiente.

158
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

A classificação do material radioativo considera os níveis de atividade por massa ou volume, a


natureza da radiação, sua meia‑vida, e inclui análise laboratorial dos radionuclídeos para adequação de
embalagens e de transporte para destinação a unidades da CNEN.

A norma CNEN NN 8.01 trata da Gerência de Rejeitos Radioativos de Baixo e Médio Níveis de
Radiação foi aprovada pela Comissão Deliberativa da Comissão Nacional de Energia Nuclear, expresso
na Resolução CNEN/CD n. 167 de 30 de abril de 2014, através de artigo 1º. Ela estabelece os critérios
gerais e requisitos básicos de segurança e proteção radiológica relativos à gerência de rejeitos
radioativos de baixo e médio níveis de radiação, bem como de rejeitos radioativos de meia‑vida
muito curta.

A Resolução n. 166 de 16 de abril de 2014 aprovou em seu artigo 1º a norma CNEN NN 6.02
(Licenciamento de Instalações Radioativas), que estabelece os requisitos para o licenciamento de
instalações radiativas, com foco na localização, no projeto descritivo que inclui segurança, construção,
operação, modificações e retirada de operação, como também o controle de aquisição e movimentação
de fontes radioativas. O artigo 4º delibera sobre as instalações que manipulam, armazenam e utilizam
fontes não seladas, que devem se enquadrar num dos cinco grupos que tem por base o nível de isenção
estabelecido pela Norma NN 3.01 – Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica e na Posição Regulatória
PR 3.01/001 – Critérios de Exclusão, Isenção e dispensa de Requisitos de Proteção Radiológica. O artigo 5º da
seção III delibera sobre as instalações que utilizam equipamentos geradores de radiação ionizante, que
estão classificadas no grupo 7, compreendendo aceleradores de partículas e aparelhos de raios X. Os
subgrupos limitam os valores de energia.

As normas facilitam o entendimento dos riscos e dá diretrizes de como proceder de forma correta e
com segurança, respeitando os profissionais, clientes e ambiente, mantendo‑os protegidos.

No setor de medicina nuclear é previsto um local onde serão guardados os rejeitos provenientes do
tratamento, que englobam seringas, luvas e tudo que, naturalmente, seria lixo hospitalar, mas que nesse
setor, pelo fato do uso de fontes radioativas abertas, é necessário que sejam guardadas, por assim dizer,
até que haja o decaimento a um nível seguro.

Nessa sala, o rejeito é etiquetado e diariamente é feita a medida da atividade até que possam ser
descartados. Rejeitos provenientes de dejetos humanos (urina e fezes), após a injeção ou ingestão de
material radioativo, serão acondicionados em local próprio, não sendo dispersos no aterro sanitário até
que haja o decaimento radioativo.

A sala onde os radiofármacos são acondicionados possuem blindagem para as seringas, glove box,
castelinhos de chumbo e todo tipo de estrutura para que o indivíduo ocupacionalmente exposto possa
manusear os materiais sem correr risco, além de um Geiger-Müller para medir a atividade dentro da sala.

159
Unidade III

A figura a seguir mostra alguns equipamentos de proteção coletiva usados nas salas de medicina
nuclear para proteção dos indivíduos que manuseiam os radiofármacos.

A)

B)

C)
Figura 57 – A) Tijolo de chumbo modelo base; B) protetor de seringa em chumbo; C) glove box de chumbo

Disponível em: A) https://bityli.com/pRve9z; B) https://bityli.com/dP8rDa;


C) https://bityli.com/RGDA8l. Acesso em: 15 mar. 2023.

160
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

6 RADIOTERAPIA

A radioterapia é uma especialidade médica que utiliza radiação ionizante como forma de
tratamento de doenças preexistentes, como o câncer, requerendo do profissional da área um extenso
conhecimento, principalmente, de física das radiações e radiobiologia, além de outros princípios e
disciplinas científicas, uma vez que a radioterapia utiliza radiação potencialmente deletéria para
destruir ou diminuir células cancerígenas e, ocasionalmente, trata condições benignas. A radioterapia
requer habilidade práticas e tecnológicas:

• cuidados com o paciente;

• controle de qualidade;

• conhecimento e processamento de dados informatizados;

• segurança radiológica.

A radioterapia utiliza radiação ionizante de alta energia, incluindo partículas, raios X e raios
gama. Quando a fonte radioativa está à distância do paciente, 60 cm a 100 cm, a forma de
tratamento é chamada de teleterapia. Nesse caso, a radiação é produzida por uma fonte selada
(cobalto, césio etc.) ou por um acelerador liner (raios X). A quantidade de radiação que é liberada na
região de tumor é frequentemente limitada devido aos riscos de danos aos tecidos sadios vizinhos.

Uma maneira segura de elevar a dose sem o risco de danificar tecidos vizinhos é utilizar fontes
seladas muito pequenas, diretamente no tumor. Esse método é chamado de braquiterapia ou curieterapia.
Quando a fonte é colocada dentro de uma cavidade do corpo, é chamada intracavitária ou intraluminal,
e quando implantada dentro do tumor, é chamada de intersticial.

Desde a descoberta dos raios X e da radioatividade, a radioterapia e a física radiológica estão


interligadas por vários aspectos que integram médicos, físicos, dosimetristas, técnicos e tecnólogos.

O físico médico é o conhecedor dos fenômenos atômicos e nucleares e deve controlar o uso das
fontes de radiação, além de desenvolver programas de controle de qualidade e propiciar uma rápida
assimilação e desenvolvimento de novas tecnologias, atualizando planos de tratamento, assegurando
aos pacientes maior curabilidade e melhor qualidade de vida. A maioria dos serviços de radioterapia
no Brasil emprega um ou mais físicos médicos e dosimetristas, que têm como função promover
o serviço em todos os aspectos referentes ao uso de feixes de radiação ionizante, em especial na
dosimetria, no planejamento do tratamento, na radioproteção, no ensino e na pesquisa.

6.1 Descoberta dos raios X e da radioatividade artificial

Como sabemos, os raios X foram descobertos pelo físico e engenheiro alemão Wilhelm Conrad
Röntgen (1845‑1923) em 8 de novembro de 1895, no laboratório do Instituto de Física da Universidade
de Würzburgo (Julius‑Maximilians‑Univeristät), de Wüzburg, na Bavaria. Röntgen estava investigando o

161
Unidade III

fenômeno causado pela passagem de uma descarga elétrica em tubos de vidro, contendo gases rarefeitos
e observou que um ècran coberto com material fluorescente de platinocianureto de bário tornava‑se
iluminado, mesmo quando o tubo estava coberto com papel preto e o experimento realizado em um
quarto totalmente escuro. Röntgen chamou essa radiação desconhecida, que produzia o fenômeno de
fluorescência, de raios X.

O físico francês Antoine Henri Becquerel (1852‑1908) foi responsável pelos estudos que levaram à
descoberta da radioatividade, em 1896. Becquerel revelou chapas fotográficas, previamente colocadas
sob amostras de sal duplo, de sulfato de urânio e potássio.

Com a descoberta dos raios X, muitos cientistas estudaram a possibilidade de emissão de radiação
similar em outras substâncias. Becquerel apresentou sua descoberta à Academia de Ciências da
França e publicou o artigo “On Visible Radiations Emitted by Phosphorescent Bodies”, no Compter
Rendus, onde relatou a propriedade que apresentavam certos elementos, como urânio e tório, de
emitir, espontaneamente, radiação similar aos raios X, entretanto, muito mais penetrantes. A partir
desse pronunciamento, a radioatividade natural foi considerada descoberta. O físico inglês Silvanus
Phillips Thomson (1851‑1916), simultaneamente, realizou experimentos em Londres, trabalhando com
nitrato de urânio.

Em 1898, em Paris, França, a física, matemática e química polonesa Maria Salomea Sklodowska, Marie
Curie ou Madame Curie (1867-1934), e seu marido, o físico e químico francês Pierre Curie (1859‑1906),
descobriram o polônio e o rádio, estudando o minério uranita (pechblenda). O casal Curie anunciou sua
descoberta na Academia de Ciências de Paris em 26 de dezembro de 1898, contudo, só conseguiram
isolar sais de rádio em 20 de abril de 1902. O termo radioatividade foi introduzido por Madame Curie e
o nome polônio foi uma homenagem ao país de nascimento de Marie Curie. O prêmio Nobel de Física de
1903 foi dividido por Madame Curie e Becquerel. Em 1910, Marie Curie, auxiliada pelo químico francês
André Louis Debierne (1874‑1949), isolou o rádio metálico puro, cuja descoberta lhe deu um prêmio
Nobel de Química em 1911, sendo a primeira pessoa a receber dois prêmios Nobel e a única em duas
disciplinas. Debierne descobriu o elemento actínio em 1899.

Madame Curie interessou-se pela aplicação médica de substâncias radioativas e trabalhou em


radiologia durante a Primeira Grande Guerra Mundial e no potencial do rádio na terapia do câncer.
Sob a sua direção, o Instituto Rádio da Universidade de Paris começou a funcionar em 1918 e
firmou‑se, desde o início, como o maior centro de física nuclear e de química.

O eletrômetro de Curie detectava as radiações e mostrava que a sua intensidade era proporcional à
massa de urânio presente. A figura a seguir apresenta os equipamentos básicos utilizados pelo casal Curie
para detectar radiação. Das muitas substâncias estudadas, o casal percebeu que apenas compostos de
tório tinham propriedades similares às do urânio e o mineral pechblenda apresentava maior intensidade
de radiação.

162
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

(A) (C)

(B)

Figura 58 – Equipamentos usados por Marie e Pierre Curie em seus experimentos com materiais
radioativos: A) câmara de ionização; B) balança de quartzo; C) eletrômetro de quadrante, inventado
por William Thomson (1824‑1907), Lord Kelvin e aperfeiçoado por Pierre, que descobriu, junto com
seu irmão Jacques, o efeito piezoelétrico em cristais de quartzo

Fonte: Santos e Silva (2021, p. e20210037-6).

A figura a seguir apresenta a bomba de Paris em A e um procedimento terapêutico com utilização


de uma fonte de rádio em B.

Figura 59 –A) Bomba de Paris; B) procedimento de teleradium

Fonte: Mafra Neto e Reis (2019).

163
Unidade III

6.2 Tipos de aparelhos de teleterapia: raios X superficial, semiprofundo ou


de ortovoltagem

São equipamentos de raios X que operam com tensão entre 10 kVp e 100 kVp (raios X superficiais)
e entre 100 kVp e 250 kVp (ortovoltagem), utilizados para o tratamento de lesões de pele ou com
infiltração até cerca de 3 cm de profundidade, como, por exemplo, a irradiação preventiva dos queloides,
cicatriz hipertrófica, hemangiomas e carcinomas basocelulares.

Atualmente, estes equipamentos têm sido substituídos pela eletronterapia, também chamada
betaterapia, proveniente de aceleradores lineares, que se utiliza de feixes de elétrons com energia entre
4 MeV e 10 MeV. Com energia de 16 MeV é possível tratar lesões com profundidade de cerca de 5 cm.

Na eletronterapia, o tratamento é realizado em uma única sessão, usando a radioterapia com feixe
de elétrons. Com uma duração de aproximadamente 1 hora, a eletronterapia reduz em até 15 vezes o
tempo de tratamento de um paciente.

6.2.1 Cobalto-60 (60Co)

Fontes de 60Co liberam fótons sob a forma de raios gama com energias de 1,17 MeV e 1,33 MeV. O 60Co
é um isótopo radioativo sintético com meia‑vida de 5,2713 anos, produzido artificialmente em reatores
nucleares por ativação de nêutrons de isótopos de ferro (54Fe, 56Fe, 57Fe, 58Fe) nas estruturas de aço do
reator, através da criação de seus 59Co precursores, monoisotópico e mononuclídeo. O caso mais simples
resultaria da ativação do 58Fe. O 60Co sofre decaimento beta para o isótopo estável níquel‑60 (60Ni).
Fontes radioativas são fontes de emissão contínua. Quando o equipamento não está sendo utilizado,
a fonte permanece guardada numa blindagem adequada que bloqueia a passagem de radiação gama.

As fontes de cobalto, devido ao decaimento radioativo, em torno de centenas de GBq, diminuem


de intensidade na taxa de 1,1% ao mês. Após a primeira meia‑vida, cerca de 5,27 anos, a exposição
do paciente ao feixe demora o dobro do tempo para produzir o mesmo efeito. E, neste caso, o
paciente, por sentir dor ou por outra razão, poderá mover‑se e a região que deveria ser irradiada
poderá ficar fora do campo de irradiação e, com isso, regiões sadias poderão ser irradiadas e,
consequentemente, lesionadas.

Uma fonte de 60Co para teleterapia deve ser trocada, pelo menos, a cada 8 anos. Contudo, apesar
da eficiência maior de aceleradores lineares, necessitam de mais manutenção do que um equipamento
que utiliza 60Co.

O Centro de Tecnologia Nuclear (CDTN) de Belo Horizonte tem desenvolvido 60Co para uso em
controladores de nível, em sistemas de lingotamento contínuo. Os maiores produtores de cobalto são
a República Democrática do Congo, a República Popular da China, a Zâmbia, a Rússia e a Áustria.
Alguns serviços mais antigos ainda usam fontes de césio‑137 (137Cs), mais recomendados quando se
deseja baixa penetração do feixe de radiação. A figura a seguir apresenta uma bomba de cobalto para
tratamento radioterapêutico, mostrando um paciente em tratamento.

164
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

Figura 60 – Bomba de cobalto isocêntrica com paciente em tratamento

Fonte: Mafra Neto e Reis (2019).

6.2.2 Aceleradores lineares

Esses aparelhos usam micro‑ondas para acelerar elétrons a grandes velocidades em um tubo com
vácuo. Numa extremidade do tubo, os elétrons chocam‑se com um alvo metálico, de alto número
atômico. Na colisão com os núcleos dos átomos do alvo, os elétrons são desacelerados, liberando
energia relativa a esta perda de velocidade. Parte da energia é transformada em raios X de freamento
(bremsstrahlung), com energia variável na faixa de 1 MeV até a energia máxima do elétron no
momento do choque. Um acelerador linear que acelera elétrons de até 10 MeV, produz raios X com
energias entre 1 MeV e 10 MeV.

Os componentes que constituem um acelerador de uso clínico são:

• Canhão de elétrons: filamento onde são gerados os elétrons que serão acelerados.

• Seção aceleradora: onde os elétrons são acelerados para atingirem a energia esperada.

• Bomba de vácuo: responsável por manter o vácuo na seção aceleradora.

• Circuito gerador de micro-ondas: fonte geradora de micro-ondas (klystron ou magnetron).

• Guia de onda: responsável por transportar as micro-ondas à seção aceleradora.

• Circulador e carga-d’água: responsáveis pela absorção das micro‑ondas que não chegam à
seção aceleradora.

165
Unidade III

• Magneto de deflexão: responsável por conduzir o feixe de elétrons ao carrossel.

• Carrossel: responsável pela localização dos filtros específicos para obter elétrons ou fótons.

• Colimadores: responsáveis pela definição do tamanho do campo de radiação a ser utilizado.

• Circuito d’água: responsável pela refrigeração do equipamento.

A figura a seguir apresenta um esquema de um acelerador linear mostrando seus componentes


principais.

Gantry
Estrutura estacionária

Botões de parada de emergência


(um em cada lado)

Colimador
Controle remoto

Monitor

Teclado

Mesa de tratamento

Torre do
computador

Console de controle

Figura 61 – Esquema ilustrativo de um acelerador linear e seus componentes principais

Fonte: Reis (2008, p. 13).

Os aceleradores lineares podem gerar fótons de energia maiores que os do 60Co. Fótons de alta
energia liberam menor dose na pele e nos tecidos sadios do paciente. Contudo, os aceleradores lineares

166
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

necessitam de um potencial elétrico muito estável, manutenção de rotina e pessoal qualificado e


habitado para o seu funcionamento.

Em alguns aceleradores lineares, retirando-se o alvo de átomos pesados, é possível irradiar o paciente
diretamente. Os elétrons não penetram o tecido profundamente e liberam a dose necessária numa
profundidade em torno de 5 cm, diminuindo drasticamente após esta profundidade.

Esse tipo de tratamento com elétrons é adequado quando o órgão a ser irradiado é superficial com
estruturas radiossensíveis ao seu redor, como no caso de linfonodos cervicais que têm a medula espinhal
atrás e lesões infiltradas de pele.

A figura a seguir apresenta um acelerador linear utilizado no tratamento de teleterapia, mostrando


seus componentes principais.

Gantry

Detector de radiação
para imagem

Colimador multi-folhas (MLC)

Marquesa

Fonte de raios-x
para imagem

Detector de radiação para imagem

Figura 62 – Exemplo de acelerador linear

Adaptado de: https://bityli.com/kpk05r. Acesso em: 15 mar. 2023.

6.2.3 Irradiação com emprego de dois campos

É possível obter maior concentração da dose no tumor com o uso de diversos campos de
irradiação entrando por diferentes locais do corpo, desde que todos localizados no volume tumoral.
Quanto maior a dose, mais campos devem ser empregados. Para facilitar o uso de múltiplos feixes,

167
Unidade III

alguns aparelhos giram em torno de um único eixo, chamado isocentro, onde deve ficar o centro do
volume tumoral, tornando fácil dirigir todos os campos para o tumor e girar o equipamento de uma
posição para outra.

6.2.4 Radioterapia bidimensional

A radioterapia convencional 2D ou radioterapia bidimensional consiste em aplicar altas doses de


radiação ionizante a lesões localizadas, utilizando imagens radiológicas bidimensionais, como radiografias de
equipamentos de radiodiagnóstico convencional. Mas, também, em simuladores ou no próprio aparelho de
radioterapia em que o tratamento será realizado.

Como os campos de irradiação não são complexos e necessitam, normalmente, apenas de blindagens
com geometria regular e de fácil modelagem e manuseio, os aceleradores lineares são os equipamentos
mais indicados para este tipo de tratamento. Pode haver necessidade de suportes, máscaras para o conforto
e imobilização da região a ser tratada. Os casos mais comuns aos quais a técnica se aplica são metástases
ósseas e cerebrais, sarcomas de extremidades e alguns tipos de linfoma.

Para identificar as áreas a serem tratadas, a radioterapia convencional 2D baseia‑se em dados de


exame físico, como palpação, visualização do tumor e de órgãos sadios, e, também, nos relatos cirúrgicos
e anatomopatológicos e na correlação da localização anatômica do tumor, observada em exames de
imagens diagnósticas.

Essa técnica foi utilizada durante alguns anos, mas como um grande volume de tecido sadio era
irradiado, consequentemente, ocorria um maior índice de complicações tanto agudas quanto tardias, o
que limitava a dose final de radiação.

A figura a seguir apresenta um esquema de um equipamento de radioterapia bidimensional.

Figura 63 – Esquema de um equipamento de radioterapia bidimensional.

Disponível: https://bityli.com/wxRcP5. Acesso em: 15 mar. 2023.

168
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

6.2.5 Radioterapia tridimensional

A radioterapia conformacional 3D (tridimensional conformado) é uma técnica de tratamento de


radioterapia que consiste em conformar, amoldar, o feixe de radiação à região a ser tratada, baseando‑se
em imagens tridimensionais provenientes de tomografia computadorizada (CT), ressonância magnética
(RM) e/ou PET/CT Dicom, DicomRT ou Lantis. Essa técnica é melhor do que a convencional porque poupa
uma quantidade maior de tecidos adjacentes à região de tratamento, causando menos efeitos colaterais.

O avanço dessa técnica ocorreu após o advento da tomografia computadorizada, principalmente,


por terem maior facilidade de acesso durante os últimos anos. A partir de 1983 a radioterapia
tridimensional passou a ser utilizada nos países desenvolvidos. No início de 1990 surgiram os primeiros
equipamentos capazes de modular o feixe de radiação, contudo, estes aparelhos, bem como os sistemas
de planejamento, só passaram a ser rotineiros a partir de 2000.

As etapas da radioterapia conformacional 3D são:

• Pré‑planejamento com equipamento simulador.

• Tomografia de planejamento: para moldar um acessório (ex. máscara termoplástica, colchão de vácuo
etc.) e estudar o melhor posicionamento para realização da TC e, consequentemente, do tratamento.

• Tomografia de planejamento: é colocado um tampo na mesa onde o paciente será posicionado


do jeito que irá ser durante o tratamento. Esse posicionamento deverá ser registrado para poder ser
reproduzido em todas as sessões de radioterapia. São feitas algumas marcas na pele do paciente
para servir de referência na localização do alvo. As imagens são, então, enviadas via rede, para o
sistema de planejamento computadorizado para que o médico radioterapeuta possa contornar as
imagens, corte a corte.

• Planejamento técnico: o médico radioterapeuta contorna o alvo e os tecidos adjacentes


sadios para sua preservação, e o físico médico faz o planejamento no sistema de planejamento
computadorizado, para que somente a região de lesão seja irradiada.

• Confecção de blocos de proteção: depois que o médico radioterapeuta aprovar o planejamento,


são confeccionados blocos de proteção, que assumem o formato das áreas que precisam ser
tratadas, protegendo, dessa maneira, as regiões sadias.

• Simulação para localização do alvo: acontece num simulador, específico para essa finalidade.
São realizadas as radiografias para localização da região a ser tratada, delimitada na pele ou na
máscara do paciente.

• Sessões de radioterapia: após a simulação e os blocos confeccionados, o paciente inicia o


tratamento de radioterapia, normalmente num acelerador linear, mas pode ser de cobalto
ou de césio. O tratamento é realizado pelo técnico ou tecnólogo em radioterapia. O paciente

169
Unidade III

passará por consultas semanais, e a enfermagem da radioterapia sempre fica disponível para
tirar dúvidas, dar orientações e algumas consultas.

Em muitos casos, é necessário que a tomografia seja feita com contraste, e, em outros casos, pode
ser necessária a fusão de imagens de CT/RM ou PET/CT para que haja maior precisão na localização e
definição de contornos da lesão.

A imagem tridimensional é inserida no sistema de planejamento, que pode ser o CAT3D, que
é um dos sistemas para planejamento de tratamento de radioterapia disponíveis comercialmente,
que conta com recursos de dosimetria para teleterapia e braquiterapia, e um módulo opcional para
IMRT, entre muitos outros recursos que ajudam os profissionais nas técnicas de radioterapia. Permite
aos médicos radioterapeutas delinear as estruturas a serem tratadas e aquelas a serem protegidas.
O físico médico, em seguida, irá planejar a entrega homogênea da dose prescrita à lesão e minimizar
ao máximo a dose nas estruturas sadias adjacentes. Quando a dose prescrita é entregue à lesão e
as estruturas sadias não excedem o limite de dose previsto, o planejamento é então aceito pelo
médico radioterapeuta.

A conformação do feixe de radiação pode ser feita através de conformadores físicos (liga metálica)
ou de colimadores multilâminas (MLC), ambos disponíveis comercialmente.

A radioterapia conformacional é indicada para a maior parte dos casos radioterápicos, pois o fato
de conformar o feixe de radiação faz com que se poupe órgãos e tecidos sadios circunvizinhos, o que
na maioria dos casos é vital. Entre os casos mais comuns, estão os tratamentos de cabeça e pescoço,
esôfago, mama, estômago, pulmão, bexiga, próstata e reto.

170
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

A figura a seguir apresenta um equipamento de radioterapia tridimensional.

A B

C D

Figura 64 – Planejamento conformado de um câncer de próstata: A) colimador multifolhas


conformando o alvo; B) visão tridimensional de um planejamento conformado; C) distribuição
de dose em um corte tomográfico com visualização de órgãos de risco; D) histograma
dose-volume comparando dois planejamentos diferentes

Fonte: Sakurada (2015, p. 32).

Saiba mais

A técnica de arco volumétrico é uma técnica de radioterapia


tridimensional. Que tal saber um pouco mais?

SILVA, D. C. S. A. et al. Comparação entre planejamentos de terapia em


arco volumétrico modulado para tratamentos de próstata utilizando um ou
dois arcos. Revista Brasileira de Física Médica, 8(1):19-22, 2014.

171
Unidade III

6.2.6 Volumes de tratamento

São necessários, no mínimo, três parâmetros para descrever um tratamento com radiações ionizantes:
volume tratado, dose de radiação e técnica utilizada, aplicados de maneira uniforme nas diferentes
instituições, para que os tratamentos possam ser analisados e comparados.

A norma ICRU-50 (International Commission on Radiation Units and Measurements) foi publicada
em 1993 com essa intenção. Em 1999 foi acrescentado um adendo à norma ICRU-62, que descreve a
prescrição, registro e relato dos tratamentos com feixe de fótons.

Para os tratamentos tridimensionais que são guiados por CT foram definidos volumes para padronizar
os tratamentos com radioterapia pela ICRU.

O processo de determinação do volume de tratamento, segundo as recomendações da ICRU 50,


consiste de várias etapas. Dois volumes devem ser definidos antes do início do planejamento:

• GTV – volume tumoral grosseiro (gross tumor volume): é o volume tumoral palpável ou
visível. É o local onde se concentram a maior quantidade de células malignas.

• CTV – volume-alvo cínico (clinical target volume): onde estão incluídas as áreas de risco
para doença subclínica (microscópica). Na prática, corresponde a vários fatores, como a história
natural da doença, a capacidade de invasão do tumor e seu potencial de disseminação para as
regiões linfonodais.

Durante o processo de planejamento, mais dois volumes:

• PTV – volume alvo do planejamento (planning target volume): inclui margens de segurança
em torno do volume alvo clínico (CTV) para abranger potenciais erros de posicionamento e
movimentações diárias dos órgãos. Está relacionado com os campos de radiação através de seu
sistema de coordenadas.

• OAR – órgãos em risco (organ at risk): definidos de acordo com o local do tumor. São tecidos
normais cuja sensibilidade à radiação pode influenciar o planejamento e/ou a dose prescrita. Pode
ser dividido em 3 classes:

— classe I: lesões radioterápicas são fatais ou resultam em grande morbidade;

— classe II: lesões radioterápicas resultam em moderada morbidade;

— classe III: lesões radioterápicas são passageiras, reversíveis ou não resultam em uma morbidade
significativa.

172
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

De posse dos resultados do planejamento, mais dois volumes:

• Volume tratado: englobado por uma isodose escolhida pelo médico radioterapeuta como sendo
apropriada para o alcance da proposta de tratamento.

• Volume irradiado: é o volume de tecido que recebe uma dose considerada significativa em
relação à tolerância dos tecidos normais, que depende das técnicas de tratamento utilizada.

A figura a seguir mostra os volumes tumorais segundo a ICRU 50.

PTV

ITV

CTV

GTV

Volume
tratado
Volume
irradiado

Figura 65 – Volumes tumorais de tratamento

Fonte: Brasil (2010, p. 23).

6.3 Simuladores de tratamento

Foram desenvolvidos para melhorar a qualidade da localização do tumor, do planejamento do


campo de tratamento e do posicionamento do paciente. Algumas clínicas de radioterapia realizam a
simulação no próprio aparelho de tratamento, mas uma grande parte já adotou os simuladores como
equipamentos mais adequados por não ocuparem tempo de tratamento do equipamento de teleterapia.

São executadas na etapa de simulação:

• localização e definição do volume a ser tratado;

• localização dos órgãos de risco a serem protegidos;

• definição da técnica a ser empregada;

• escolha dos acessórios adequados à localização e imobilização do paciente.


173
Unidade III

Os acessórios utilizados são:

• Apoios de cabeça e pescoço: dispositivos que sustentam a cabeça e o pescoço de maneira


confortável e permitem a reprodução da inclinação e posicionamento dessa região diariamente
para um tratamento confiável.

• Bolus: placas colocadas sobre a pele para estabelecer a superfície da dose. Esse acessório consiste
em um jogo de placas com densidade semelhante aos tecidos do corpo humano, em diferentes
espessuras, ideal para o uso em superfícies planas. Para posicioná‑lo, basta repousar a placa
sobre a área a ser tratada, obedecendo as margens de segurança. Podem ser placas de petrolato
gelatinoso, material emborrachado, cera ou algum polímero.

• Blocos cerrobend: blocos customizados de liga de chumbo e cádmio, cujo formato é produzido com
base em filmes de simulação ou de reconstrução digital (se o planejamento for computadorizado).
São colocados em suporte próprio, no gantry do acelerador linear ou unidade de cobaltoterapia
para bloquear o feixe de radiação. Nos últimos anos, esses blocos vêm sendo substituídos pelos
colimadores multifolhas.

• Colimador multifolhas ou multilâminas: folhas de tungstênio guiadas por computador usadas


na modelagem do campo de radiação por bloquearem o feixe de radiação. Localiza‑se na cabeça
do acelerador linear.

• Equipamento para portal com imagem eletrônica (Epid): usado para fazer imagem digital dos
campos de tratamento idealizados na simulação.

• Filtro aplainador de feixe: é um dispositivo modificador do feixe, colocado no gantry do


acelerador linear para produzir dose de radiação uniforme através do feixe. São necessários
porque os feixes mais intensos localizam‑se no centro.

• Filtro em cunha: dispositivo modificador do feixe, que pode ser físico ou virtual. Quando é físico,
é constituído de chumbo e tem formato de cunha. Sua função principal é compensar a falta de
tecido em determinados ângulos do feixe ou, propositadamente, modificar os ângulos da isodose,
para atingir melhor cobertura dosimétrica do alvo.

• Imobilizador termoplástico: máscara de material sintético que tem a propriedade de amolecer


com o aquecimento, moldada durante a simulação. Usada para o posicionamento e imobilização
da cabeça e dos ombros durante a radioterapia dessas áreas. Pode ser usado, também, para
imobilizar outras áreas.

• Molde de espuma de poliuretano: é um molde construído durante a simulação para imobilização


da pélvis ou extremidades inferiores (ex. alpha cradle ou vacfix, com a diferença de que este é
reutilizável). É uma espécie de colchão que contém em seu interior microesferas de chumbo.
Quando retirado o ar a vácuo, ele molda‑se ao corpo do paciente.

174
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

• Rampa de mama: é a mesa usada no tratamento da mama. Ajustável, a rampa permite que a
paciente seja elevada de forma que o feixe tangencial fique situado na horizontal da parede do
tórax. A rampa proporciona apoio para o braço, acima da cabeça. Assim move braço, antebraço e
mão para fora do percurso dos feixes tangenciais.

• Abaixador de ombro: plataforma em que o paciente é posicionado segurando duas alças e


tracionando os ombros, assim retirando sua superposição da região cervical. Pode ser também
utilizado em outros posicionamentos, por viabilizar um alinhamento melhor do paciente sobre a
mesa. O dispositivo permite que os ombros fiquem abaixo do campo da cabeça e do pescoço.

6.3.1 Simulador convencional

São constituídos de um tubo de raios X diagnóstico, convencional ou fluoroscopia, fixo em um


gantry com montagem isocêntrica idêntica à montagem dos equipamentos de tratamento. Neles é
definido o isocentro, os campos de irradiação para a região a ser tratada e são escolhidos os acessórios
de posicionamento e imobilização do paciente, que garantem a reprodutibilidade durante todo
o tratamento. Todo o processo de localização do tumor e de definição do tamanho dos campos de
irradiação é feito com base em parâmetros ósseos, que também definem as regiões que serão protegidas.

A definição dos campos de irradiação é feita (quadrados ou retangulares) usando‑se colimadores


luminosos. A mesa do simulador tem os mesmos movimentos das mesas de tratamento. Assim,
o simulador convencional reproduz as condições geométricas do tratamento que será realizado na
unidade de teleterapia.

O processo de simulação convencional é feito com imagens radiográficas em filmes ou imagens


de fluoroscopia, onde a equipe de radioterapia participa ativamente. Nesta etapa aplica‑se o
conhecimento de radiologia convencional ou de fluoroscopia, contudo, é importante compreender
a complexidade do simulador convencional comparado aos equipamentos de diagnóstico
convencional, por exemplo, os graus de liberdade de seus movimentos. No fim da simulação, as
imagens radiográficas do paciente serão enviadas para que sejam feitos os cálculos de dose e
tempo de tratamento do referido paciente.

6.4 Radioterapia por intensidade modulada (IMRT)

IMRT (intensity modulated radiation therapy) é uma modalidade de radioterapia externa


conformacional altamente precisa que permite a administração de altas doses de radiação no volume
alvo, que minimiza as doses nos tecidos normais adjacentes de forma eficaz. Pode ser usada para tratar
tumores de difícil acesso, como na coluna, cabeça e pescoço, próstata, pulmão e cérebro.

A IMRT utiliza um feixe modulado de radiação, permitindo o aumento de dose no volume tumoral.
É uma técnica nova que consegue proteger os tecidos saudáveis combatendo com eficácia as células
cancerígenas. É a modalidade de radioterapia conformacional 3D que utiliza um computador e técnicas
de imagem, como TC, para focar o tratamento somente no tumor e em regiões muito próximas à
região tumoral.
175
Unidade III

A figura a seguir apresenta um equipamento de IMRT.

Figura 66 – Imagem de IMRT, uma modalidade de radioterapia conformacional 3D

Disponível em: https://bityli.com/OEin1a. Acesso em: 16 mar. 2023.

6.5 Radioterapia guiada por imagem (IGRT)

IGRT (image guided radiotherapy treatment) consiste na realização de imagens, em tempo real,
no próprio equipamento de tratamento antes de cada aplicação de radioterapia, garantindo com
a maior precisão possível que o tumor esteja dentro do campo de irradiação em todas as sessões,
uma vez que eles podem mudar de posição durante o tratamento. Isso pode ocorrer devido aos
movimentos respiratórios, ao preenchimento ou esvaziamento de alguns órgãos ou até mesmo
por pequenas alterações de posicionamento de um dia para o outro. A IGRT envolve radioterapia
conformacional guiada por imagem, como tomografia computadorizada, realizada diariamente
na sala de tratamento, antes do procedimento radioterápico. A imagem obtida é comparada com
aquela realizada durante o planejamento e, então, são feitos os ajustes necessários. Isso ajuda os
tecidos normais adjacentes.

A IGRT ganhou mais importância devido a radioterapia externa ter limitações quanto as margens
de segurança devido as incertezas geométricas, que limitam o escalonamento da dose. Essa técnica
aumenta a precisão devido ao uso frequente de imagens do alvo e do tecido sadio adjacente, que são
obtidas previamente ao tratamento.

176
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

A figura a seguir apresenta a radioterapia guiada por imagem.

Figura 67 – Equipamento IGRT (teleterapia)

Disponível em: https://bityli.com/WQ6bq2. Acesso em: 16 mar. 2023.

6.6 Radiobiologia

Esse campo tem como objetivo estudar os efeitos biológicos causados pelas radiações, subdividindo‑se
em radiobiologia das radiações ionizantes e radiobiologia das radiações não ionizantes.

Em raras ocasiões, o tratamento direcionado a um sistema pode ter efeitos fora do campo de
tratamento. Estes efeitos podem ser positivos, como no caso de regressão de outros sítios de doenças,
ou negativos, como no desenvolvimento de pneumonite difusa. Efeitos abscopais são provavelmente
resultados de resposta imune ativada. No âmbito da imunoterapia, a definição de efeito abscopal é
descrita como sendo o efeito da radiação que é manifestada em sítio distante do que foi diretamente
irradiado, em outras palavras, é o efeito sistêmico da radioterapia.

A figura a seguir apresenta uma imagem em que é utilizada radiobiologia.

Figura 68 – Radiobiologia, uma técnica terapêutica

Disponível em: https://bityli.com/zZn07F. Acesso em: 16 mar. 2023.

177
Unidade III

6.7 Radiocirurgia ou radioterapia estereotáxica (SRS)

É uma técnica de tratamento não invasiva que utiliza altas doses de radiação em dose única para
tratar tumores e malformações arteriovenosas cerebrais, sem necessidade de cortes, anestesias ou
internação hospitalar, diminuindo os custos, em uma única sessão de tratamento ou poucas sessões.
É realizada em um acelerador linear que gera um feixe de radiação de alta energia, focalizado
precisamente sobre o tumor.

Os feixes de radiação, nessa modalidade, são direcionados ao tumor, chegando a lugares muitas
vezes, a partir de múltiplos ângulos para cada região particular do tumor, inatingíveis quando do uso da
cirurgia convencional, o que faz desse procedimento muito vantajoso.

Além de uma técnica segura e não invasiva, o custo é muito baixo e, como não precisa de internação,
a recuperação do paciente é muito mais rápida. Apesar disso, a técnica tem uma limitação no caso de
tumores cerebrais porque só pode ser utilizada em tumores com diâmetro máximo de 2,8 cm.

É importante ressaltar que a incidência de tumores cerebrais é variada, sendo classificados em


malignos e benignos. Entre os malignos, as maiores incidências são as metástases cerebrais oriundas
do câncer de pulmão, mama, melanoma e rim. Entre os benignos, os casos mais comuns são os
meningeomas e os neurinomas do acústico. Dependendo da avaliação específica de cada caso, a
radiocirurgia pode ser uma opção confiável para o tratamento desses tumores.

Outra indicação desta técnica é a irradiação do locus cirúrgico após a ressecção de alguma metástase
cerebral por cirurgia convencional, com o objetivo de diminuir as chances de recorrência do tumor.

O paciente deve passar por exames de alta precisão para delinear o alvo a ser tratado antes de se
submeter à radiocirurgia.

Figura 69 – Imagem de radiocirurgia estereotáxica

Disponível em: https://bityli.com/9iInBJ. Acesso em: 16 mar. 2023.

178
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

6.8 Braquiterapia

A palavra “braquiterapia” tem origem grega. O prefixo “braqui” vem do grego “brachy”, que significa
“curto”, portanto, ela pode ser entendida como “tratamento a curta distância”. De fato, a braquiterapia é
uma forma de radioterapia que utiliza fontes radioativas seladas e muito pequenas em contato íntimo
com o tumor.

A braquiterapia pode ser dividida em dois grupos:

• intersticial, se as fontes forem colocadas dentro do tumor;

• contato, quando as fontes se encontram na vizinhança imediata. Esse grupo pode ser dividido em
subgrupos, de acordo com a localização:

— intracavitária: a fonte de radiação é inserida numa cavidade corporal próxima ao tumor.


É geralmente utilizada no tratamento de tumores do sistema reprodutor feminino (ex.
câncer de colo de útero);

— intraluminal: a fonte de radiação é introduzida dentro do lúmen ou da luz de certas cavidades


do corpo (ex. árvore brônquica);

— endovascular: tratamento exclusivo para pacientes portadores de tumores com invasão de


estruturas vasculares.

— de superfície: situada no exterior (ex. pele).

A braquiterapia pode ser administrada de duas maneiras:

• Braquiterapia de alta taxa de dose (HDR): libera alta taxa de dose durante um curto período
de tempo, em torno de minutos. São utilizados cateteres, denominados aplicadores, colocados
sob anestesia local ou geral, dependendo da área a ser tratada, que direciona a fonte radioativa
ao tumor. Depois que os aplicadores são inseridos, são realizadas as imagens para determinar a
posição dos cateteres, definir o plano de tratamento, fazer a distribuição das fontes radioativas
e calcular o tempo de tratamento. O tratamento é iniciado quando o planejamento é finalizado,
usando a técnica afterloading, que são os aplicadores carregados com as fontes radioativas
somente após estarem posicionadas no paciente. Esses aplicadores estão ligados a uma
máquina que contém as fontes radioativas, que por meio de um sistema de cabos as carregará
até os aplicadores quando for acionada. A equipe médica iniciará o tratamento do lado de
fora, numa área de controle, depois que os cabos estiverem conectados. Automaticamente, a
fonte será acionada desde o carregador até o local de tratamento, por meio dos aplicadores. No
fim do tratamento, as fontes são recolhidas com segurança até o carregador. Na maioria dos
tratamentos, o paciente volta para sua residência logo depois do tratamento, sem necessidade
de internação.

179
Unidade III

• Braquiterapia de baixa taxa de dose (LDR): a radiação é liberada em baixas doses e de forma
contínua, envolvendo a inserção de fontes radioativas próximas ao tumor de forma permanente.
As fontes radioativas, chamadas sementes, após a inserção, deixarão o paciente ligeiramente
radioativo, contudo, o nível de radiação irá diminuir gradativamente ao longo do tempo. A maior
parte da radiação será liberada nos primeiros meses.

A dose de radiação diminui rapidamente com a distância a partir de uma fonte de braquiterapia.
Assim, como o tumor está praticamente em contato com a fonte radioativa, recebe altas doses, enquanto
os tecidos vizinhos, que supostamente estão sadios, recebem baixas doses. Normalmente, o período de
execução da braquiterapia é de 24 a 72 horas, quando então as fontes são retiradas do paciente.

Quando as fontes utilizadas têm meia‑vida curta, como o uso de sementes de ouro‑198 (198Au), estas
podem permanecer no paciente.

Na maioria dos tratamentos de braquiterapia antes da década de 1980, os médicos radioterapeutas


inseriam agulhas intratumoralmente ou tubos intracavitariamente e suas mãos recebiam altas dose
de radiação e os outros profissionais envolvidos na operação também recebiam doses altas, não
desprezíveis.

O pós‑carregamento melhorou substancialmente essa situação. Atualmente, os aplicadores ocos


são colocados no paciente na sala de cirurgia intersticial ou intracavitariamente. E, somente após o
término desse procedimento, com o paciente de volta ao quarto, é que o operador introduz a fonte
radioativa no aplicador. Assim, consegue‑se diminuir a dose de todo o pessoal, desde a sala de cirurgia
até o pessoal do público, inclusive do operador, uma vez que o tempo para carregar o aplicador é
menor do que o tempo para implantar o aplicador.

Infelizmente, o pessoal da enfermagem que deve atender o paciente após a carga do material
radioativo continua recebendo dose na braquiterapia manual de baixa taxa de dose. Devido a isso é uma
técnica que está sendo abandonada.

O pós‑carregamento remoto elimina o problema de alta dose do pessoal da enfermagem, bem como
de toda a equipe. É utilizada uma máquina especial onde estão contidas as fontes radioativas.

No retorno do paciente à enfermaria, o aparelho se encarrega de fazer a introdução da fonte no


aplicador, de forma automática, não mais manual, sem que haja ninguém no local durante este processo,
e, então, o cronômetro é disparado. Se houver necessidade de o pessoal da enfermagem entrar no
quarto, a fonte é recolhida e o cronômetro parado, o que minimiza a exposição.

180
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

As figuras a seguir apresentam, respectivamente, imagem de braquiterapia HDR no tratamento


do câncer de próstata e imagem ilustrativa para mostrar o tamanho de sementes (estão na mão do
indivíduo porque não são radioativas), usadas em braquiterapia.

Figura 70 – Paciente em posição de tratamento de braquiterapia de próstata (HDR ou BATD)

Fonte: Esteves (2006, p. 130).

Figura 71 – Figura ilustrativa para demonstrar o tamanho de uma semente usada em braquiterapia

Disponível em: https://bityli.com/3SvZXF. Acesso em: 16 mar. 2023.

181
Unidade III

Lembrete

As sementes de braquiterapia têm uma quantidade de energia muito


elevada e jamais, em momento algum, poderiam ser acondicionadas na
mão de quem quer que seja. A ilustração serve apenas para dar uma ideia
de tamanho. Não são radioativas.

6.9 Curvas de isodose

As curvas de isodose são uma poderosa ferramenta de trabalho em radioterapia porque representam
um conjunto de pontos de algum plano num determinado meio (água, acrílico, músculo etc.) que
apresentam o mesmo valor de dose absorvida para um determinado feixe de tratamento.

As curvas de isodose são determinadas num phantom (simulador) chamado de semi‑infinito, um


recipiente, normalmente de acrílico, que comporta um volume de água (50 × 50 × 50 cm³). É afixado
um posicionador para movimentar um detector, manualmente ou com auxílio de um computador, em
pelo menos duas direções. Esse detector deve apresentar um sinal com baixo ruído e ser pequeno.

As curvas de isodose são medidas por um físico médico e, atualmente, feitas num set up SSD.
O phantom é nivelado e alinhado no gantry, e sua altura é ajustada até que a superfície da água esteja
no isocentro do equipamento de tratamento. O detector é alinhado com o campo luminoso e o processo
de varredura é iniciado, tanto na horizontal quanto na vertical. É recomendado que seja usado um
planejamento semelhante ao tipo de tratamento a ser realizado para que as medidas sejam adequadas.
A posição do detector varia conforme a profundidade, permitindo, como resultado, curvas de percentual
de dose profunda e perfis de campo, que serão utilizados na construção das curvas de isodose. Inúmeros
aspectos físicos são observados nas curvas de isodose, como profundidade de máximo, penumbra dos
feixes, qualidade da radiação, planura e simetria do feixe e ângulo do filtro.

O planejamento físico com as curvas de isodose é altamente indicado em tratamentos


radioterapêuticos complexos, principalmente onde há obliquidade do tecido, vários campos de radiação,
feixes com filtro ou, ainda, possibilidade de dose elevada num órgão de risco.

182
MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

A figura a seguir apresenta, em A, uma distribuição superficial de dose obtida na profundidade de


1,5 cm e, em B, o comportamento das doses laterais e em profundidade provocadas pelo feixe.

a) b)

Figura 72 – Curvas de isodose: A) compostas nas direções de obtenção do perfil lateral de dose;
B) do percentual de dose em profundidade (PDP)

Fonte: Leão Junior (2018, p. 82).

183
Unidade III

Resumo

A cintilografia é um exame da medicina nuclear. A gama‑câmara


ou câmara de cintilação ou câmara Anger é um equipamento usado na
medicina nuclear desenvolvido para gerar imagem planar e bidimensional.
Os radiofármacos são injetados no paciente, que passa a emitir radiação
na forma de radiação gama. A gama‑câmara recebe essa radiação e, por
processos eletroeletrônicos, transforma a cintilação (luz) produzida em
sinais elétricos, que serão transformados em linguagem de computador
para formar a imagem.

As zonas frias são as regiões do órgão que emitem pouca radiação, e as


zonas quentes as que emitem mais.

A gama‑câmara é constituída de um colimador, um cristal de cintilação,


vários tubos fotomultiplicadores, um detector (ou mais) e circuitos
eletrônicos que formam o gantry. O computador também faz parte do
equipamento para controle de armazenamento das imagens, além de um
sistema de posicionamento da cabeça ao redor do paciente e uma maca
móvel que complementa os movimentos do posicionador de cabeça.

A gama‑câmara evoluiu para equipamentos mais sofisticados.


A tomografia por emissão de fóton único (SPECT) é uma técnica
tomográfica da medicina nuclear que utiliza radiação gama, muito
semelhante à imagem planar da medicina nuclear convencional pelo fato
de usar gama‑câmara.

São vários os exames que se utilizam da medicina nuclear para diagnóstico,


tais como:

• cintilografia óssea;

• gamagrafia com 67Ga-citrato;

• cintilografia de perfusão pulmonar;

• cintilografia de perfusão miocárdica.

Os radiofármacos comumente usados são:

• 67Ga (ex.: varredura de câncer em certos órgãos);

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MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

• 99mTc (ex.: varredura de corpo inteiro, cintilografia óssea);

• 201Tl (ex.: doenças cardíacas);

• 131I (ex.: diagnóstico e tratamento da tireoide).

A tomografia por emissão de pósitrons (PET) é uma modalidade de


exame que mede variações nos processos bioquímicos quando alterados
por alguma enfermidade.

Os equipamentos híbridos são uma nova modalidade, que inclui


SPECT/CT, PET/CT e PET/RM, unindo duas técnicas de imagem.

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Unidade III

Exercícios

Questão 1. Gamagrafia é uma técnica na qual a radiação gama é revelada em um filme fotográfico.
Na área médica, a gamagrafia é aplicada na cintilografia, que é um exame no qual o percurso de um
radiofármaco pelo organismo é acompanhado em uma tela.

A respeito da cintilografia, assinale a alternativa correta.

A) Nos estudos de cintilografia, o radiofármaco deve sempre ser administrado por via intravenosa.

B) A cintilografia da tireoide é realizada com iodo-131. Esse radiofármaco permite detectar os focos
de neoplasia, mas não os elimina, pois o iodo-131 emite apenas radiação gama.

C) Pacientes submetidos à cintilografia são expostos a doses muito baixas de radiofármacos e, por
esse motivo, não emitem radiação após o término do exame.

D) A tomografia computadorizada por emissão simples de fótons (SPECT) possibilita a reconstrução


tridimensional do órgão avaliado na cintilografia.

E) A cintilografia permite apenas a obtenção de imagens estáticas do organismo e, portanto, não é


a técnica de escolha para avaliar o funcionamento e o metabolismo dos órgãos.

Resposta correta: alternativa D.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: nos estudos de cintilografia, os radiofármacos podem ser administrados por via
intravenosa, oral, inalatória ou até mesmo intratecal, dependendo da finalidade do estudo.

B) Alternativa incorreta.

Justificativa: o iodo-131 é naturalmente captado pela tireoide, o que permite identificar focos de
neoplasia (que captam mais iodo-131 do que os tecidos circundantes). O iodo-131, além de emitir
radiação gama, emite partículas beta menos, altamente energéticas, o que resulta na destruição do
tecido neoplásico hiperfuncionante.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: pacientes submetidos à cintilografia emitem radiação ionizante ao término do exame


e, portanto, devem permanecer isolados até o decaimento radioativo.

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MEDICINA NUCLEAR E RADIOTERAPIA

D) Alternativa correta.

Justificativa: o SPECT permite a obtenção de várias imagens bidimensionais do órgão avaliado. Essas
imagens são reconstruídas em uma imagem tridimensional.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: a cintilografia permite a obtenção de imagens dinâmicas do organismo e, portanto,


possibilita avaliar a fisiologia e o metabolismo do órgão em estudo.

Questão 2. Leia o texto a seguir.

A braquiterapia é um procedimento radioterápico indicado para o tratamento de alguns tipos de


câncer, como de próstata ou mama, principalmente nos estágios iniciais da doença, quando o tumor
não se espalhou para outros órgãos ou gânglios linfáticos. Trata‑se de um procedimento ambulatorial,
cujas sessões costumam durar em torno de 1 hora. Os principais efeitos adversos incluem dificuldades
para urinar, urina com sangue, dor, hematomas, constipação e disfunção erétil.

Adaptado de: encr.pw/YGwqI. Acesso em: 16 out. 2021.

Com base no texto e nos seus conhecimentos, assinale a alternativa correta sobre a técnica
de braquiterapia.

A) Forma de tratamento em que a fonte radioativa fica próxima ou em contato do tumor ou do


órgão a ser tratado. É utilizada no tratamento dos tumores de próstata, mama e colo uterino na
ausência de metástases.

B) Forma de tratamento em que a fonte radioativa não entra em contato com o órgão a ser tratado e
permanece distante do tumor. É utilizada no tratamento de tumores de intestino, próstata e colo
uterino que evoluíram com metástases.

C) Forma de tratamento que não emprega fonte radioativa, mas que se beneficia de radiação de
outras fontes como, por exemplo, a magnética, que é posicionada em local próximo ao tumor
primário, independentemente de haver o estabelecimento de metástases.

D) Forma de tratamento externa, na qual a fonte fica a certa distância do local tratado. É utilizada
no tratamento dos tumores de próstata, mama e colo uterino quando não houve estabelecimento
de metástases.

E) Forma de tratamento que emprega radiofrequência para eliminação do tumor. É utilizada no


tratamento de tumores de mama e de próstata que evoluíram com metástases.

Resposta correta: alternativa A.

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Unidade III

Análise da questão

A braquiterapia também é chamada de radioterapia interna. Trata‑se de um método terapêutico que


consiste na irradiação de tumores por meio de fontes radioativas seladas em cateteres ou sementes,
colocadas proximamente ao volume‑alvo. A radiação ionizante emitida pelo radioisótopo deposita sua
energia no local da neoplasia, o que leva as células à morte.

Nessa técnica, os radioisótopos em fontes seladas podem ser colocados em moldes na superfície
da pele (superficial) ou no interior de cavidades naturais do corpo (intracavitária). Também podem ser
inseridas diretamente no próprio tumor (intersticial).

Uma das vantagens da braquiterapia é a possibilidade de irradiar o tumor com altas taxas de dose,
maiores do que as doses fornecidas pela teleterapia ou radioterapia com feixe externo. Outra vantagem
é proporcionar uma alternativa de tratamento aos pacientes com doença localizada, já que a fonte
radioativa emite radiação no local do tumor de forma mais precisa, o que reduz a dose absorvida nos
tecidos sadios circunjacentes.

As principais indicações para tratamento por braquiterapia (cerca de 80% delas) são para câncer
cervical uterino, de próstata e de mama. Também é uma boa opção para doenças tumorais localizadas
nos brônquios, quando a teleterapia não é apropriada. Pode ser usada tanto para tumores malignos
quanto para tumores não malignos.

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