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prof

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1.Legislação sobre perícias. ...................................................................................................... 3
2. Lesões corporais sob o ponto de vista jurídico. ................................................................... 8
3. Energias de Ordem Mecânica: Traumatologia Médico-legal. ............................................. 11
4. Energias de Ordem Química, cáusticos e venenos, embriaguez, toxicomanias.................. 17
5. Energias de Ordem Física: Efeitos da temperatura, eletricidade, pressão atmosférica,
radiações, luz e som ......................................................................................................................... 29
6. Energias de Ordem Físico-Química: Asfixias em geral. Asfixias em espécie: por gases
irrespiráveis, por monóxido de carbono, por sufocação direta, por sufocação indireta, por
afogamento, por enforcamento, por estrangulamento, por esganadura, por
soterramento.. e por confinamento. ........................................................................................ 33
7. Tanatologia Médico-legal. .................................................................................................... 37
8. Tanatognose e cronotanatognose. .................................................................................... 39
9. Fenômenos cadavéricos ..................................................................................................... .........40
10. Necropsia, necroscopia. ................................................................................................... 46
11. Mortes violentas, suspeitas e naturais. ............................................................................. 49
12. Crimes contra a dignidade sexual e provas periciais. ....................................................... 50
13. Exame perinecroscópico de aborto e infanticídio .............................................................. 58
14. Questões ........................................................................................................................... 61
Candidatos ao Concurso Público,

O Instituto Maximize Educação disponibiliza o e-mail professores@maxieduca.com.br para


dúvidas relacionadas ao conteúdo desta apostila como forma de auxiliá-los nos estudos para um
bom desempenho na prova.

As dúvidas serão encaminhadas para os professores responsáveis pela matéria, portanto, ao


entrar em contato, informe:

- Apostila (concurso e cargo);

- Disciplina (matéria);

- Número da página onde se encontra a dúvida; e

- Qual a dúvida.

Caso existam dúvidas em disciplinas diferentes, por favor, encaminhá-las em e-mails separados.
O professor terá até cinco dias úteis para respondê-la.

Bons estudos!

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NOÇÕES BÁSICAS DE MEDICINA LEGAL

Antes de iniciarmos os tópicos do edital, gostaria de fazer algumas considerações para trazer
algumas ideias referentes à Medicina Legal.
Este curso é sobre NOÇÕES da Medicinal Legal. Pretende ser um curso bem atual, completo
(no que tange à abrangência do concurso).
Então, vamos iniciar o curso buscando alguns conceitos sobre a Medicina Legal.
O que é a Medicina Legal?
É a medicina da Lei. Ou seja:
- Pode ser entendida como a medicina que presta serviços às Ciências Jurídicas e Sociais (Genival
Veloso de França).
- É a Medicina que presta esclarecimentos à Justiça.
- É o estudo do homem são ou doente, vivo ou morto, somente naquilo que possa formar assunto de
questões forenses". (De Crecchio)
- É a disciplina que utiliza a totalidade das ciências médicas para dar respostas às questões
jurídicas". (Bonnet)
- É a arte de relatar em juízo (Ambroise Paré). Paré escreveu o primeiro trabalho científico de
Medicina Legal denominado Tratado de Relatórios, em 1575 na França.
Porém foi Paulus Zacchias em 1621, na Itália, que foi considerado o pai da Medicina Legal ao
publicar a obra ―Questões Médico- Legais‖. (Cuidado: bancas costumam gostar destes caras e de suas
obras. Portanto, memorize as mais importantes).
A Medicina Legal é uma Ciência que aplica o conhecimento de diversos ramos da Medicina quando
necessárias ao Direito. Por todas estas especificidades, a Medicina Legal foi reconhecida como
especialidade médica pelo CFM em sua Resolução 1845/2008.

Para que ela serve?


Basicamente ela se presta a esclarecer situações legais, crimes ou acontecimentos, auxiliando a
Justiça em determinar causas, infratores, etc.
Lembre-se que a Medicina Legal analisa fatores INTRÍNSECOS (aqui é um ponto em que a banca
pode tentar fazer você errar, ao buscar confundi-lo com fatores extrínsecos, que é referente à
Criminalística).
A Medicina Legal não é uma Ciência moderna. Já é desenvolvida há décadas. Desempenha um
papel muito importante, que é uma das disciplinas em cursos de Medicina e carreiras jurídicas.
A Medicina legal está relacionada com diversas áreas do Direito, tais como: Penal (em casos, por
exemplo, de lesões corporais, estupro, necropsias, etc); Civil (um dos casos mais frequentes seria em
relação à identificação da paternidade, anulação de casamento, perícias nas separações judiciais,
etc); Administrativo (obtenção de licenças para tratamento de saúde e de casos de aposentadorias);
Trabalhista (análise de acidentes, doenças ocupacionais, pedido de insalubridade, periculosidade,
simulação de doenças ou acidentes, etc); Penitenciário (referente às condições carcerárias e
incorrências desta, pois, o indivíduo está sob tutela do Estado); Internacional Público (proteção à
infância e velhice, etc) ou Privado (aplicação da Lei Penal no Brasil); Processual Civil e Processual
Penal (pode-se relacionar com o contraditório, produção de provas, imputabilidade); Previdenciário
(licenças; afastamentos médicos; aposentadorias por invalidez, etc), entre outros.
Em resumo: a medicina legal é importante porque é através dela que se confecciona a prova material
de vários delitos.
No Brasil se desenvolve e se fortalece com o surgimento das primeiras escolas médicas e jurídicas;
o Código Criminal de 1830 e, a obrigatoriedade em 1834 do ensino da Medicina Legal nas escolas de
Medicina e Direito.

A Medicina legal pode ser classificada em dois grandes blocos:


1. MEDICINA LEGAL GERAL:
Estuda a Deontologia e Diceologia Médica, ou seja, os Deveres e Direitos do médico, tais como:
Ética Médica; Exercício Legal e ilegal da Medicina; Responsabilidades Médicas; Segredos Médicos;
Honorários Médicos; Publicidades e Publicações Médicas;

2. MEDICINA LEGAL ESPECIAL:


Estuda a realização e a documentação de todos os exames periciais ao seu alcance, quando
solicitados pela Justiça. Poderia citar: Antropologia médico-legal (estuda a identificação Médico Legal
e Judiciária); Traumatologia médico legal (Estuda as lesões corporais provocadas por energias

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físicas químicas, mecânicas, etc.); Infortunística (estuda os Acidentes e as Doenças profissionais);
Asfixiologia (estuda o enforcamento, estrangulamento, esganadura, sufocação, soterramento,
afogamento, gases tóxicos e confinamento); Toxicologia (estudo d os efeitos dos cáusticos,
venenos e tóxicos); Sexologia (estuda os crimes contra os costumes, gravidez parto e puerpério,
aborto, infanticídio, casamento, esterilização humana, identificação da paternidade e
maternidade, fecundação artificial e as anomalias sexuais); Tanatologia ( e studa a morte, as
necrópsias, as exumações, os destinos do cadáveres, os tipos de morte e a cronotanatognose);
Criminalística e Criminologia médico legal (estuda os motivos e locais dos crimes, as perícias técnicas
em busca de criminosos e a criminogênese); Psiquiatria/Psicologia/Psicopatologia Forense (estuda as
doenças físicas e mentais e seus relacionamentos com a Justiça); Vitimologia (estuda a vítima e a sua
participação no crime); Genética médico legal (exames de DNA, e t c ) .

Encontrei esta imagem na internet (desconheço autoria) e acho muito legal para ilustrar:

Perícias e Peritos
-perícia: trabalho técnico para elucidação de problemas de várias naturezas;
- perito: técnico que, designado pela Justiça, recebe o encargo de prestar esclarecimentos no
processo;
- perícia médica: realizada gratuitamente em seres humanos por médicos legista, decorrente de
solicitação judicial ou policial.
- perito: deve recusar a perícia quando se tratar de afinidade, total incapacidade de realizá-la, falta de
condições técnicas ou motivo de doença (suspeição), tendo em vista que deve ser imparcial. Pode
comparecer no inquérito sumário e julgamento e tem que ter as seguintes qualidades : ciência,
consciência e técnica.
- identidade: caracteres que individualizam a pessoa;
- identificação: emprego de meios para determinar a identidade.

Quem não pode ser perito?


Não pode ser perito: o incapaz, pois não é apto para o exercício de seus direitos civis, além de não
possuir conhecimento técnico específico; pessoas impedidas (Código de Processo Civil, art. 134 - parte,
testemunha, cônjuge ou qualquer outro parente, em linha reta ou colateral até o 3º grau); e nos casos
de suspeição (CPC, art. 135 - o amigo íntimo ou inimigo capital de uma das partes).
Encontrei esta imagem na internet (desconheço a autoria). Achei bem interessante, para resumir as
atividades do perito:

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Quais são os deveres do perito?
Aceitar o encargo de executar a perícia, exercer a função, respeitar os prazos, comparecer às
audiências desde que intimado com antecedência de 5 dias (sob pena de condução coercitiva), fornecer
informações verídicas (dever de lealdade) etc.

Quais são os direitos do perito?


Escusar-se do encargo, pedir prorrogação de prazos, receber informações, ouvir testemunhas,
verificar documentos de qualquer lugar, ser indenizado das despesas relativas ao serviço prestado,
honorários (CPC, art. 421 e Código de Processo Penal, art.159, §1º) etc.

1. Legislação sobre perícias

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

A prática médico-pericial obedece a uma extensa e complexa relação de leis, decretos, portarias e
instruções normativas, que estabelecem os limites de atuação dos setores administrativos e indicam
quais as competências e atribuições do médico investido em função pericial.
A aplicação dos dispositivos contidos nos principais diplomas legais (leis, decretos e portarias), todos
da área federal, depende da avaliação médico-pericial.
Vamos falar um pouco dos documentos médicos-legais mais importantes: Atestado, notificação, auto,
laudo e parecer.

O que constitui o atestado médico e quais as suas partes?


O atestado médico é a afirmação simples, exata e escrita de um fato e suas consequências. Tem por
finalidade informar a capacidade ou incapacidade do indivíduo para a realização de determinado ato.
Deve ter cabeçalho ou preâmbulo, a qualificação do examinado, o nome de quem solicitou, descrição
do caso e, se absolutamente necessário, diagnóstico através do CID (Código Internacional de
Doenças).

Notificação
A notificação é a comunicação compulsória às autoridades competentes de um fato médico por
necessidade social ou sanitária sobre acidentes de trabalho ou doenças infecto-contagiosas (Código
Penal, art. 269). Ex.: sarampo, tuberculose etc.

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Auto
Auto é um relatório da perícia médica, ditado diretamente ao escrivão.

Laudo
Laudo é o documento feito por escrito pelo perito. São suas partes: preâmbulo – que contém nome
do perito, seus títulos, nome da autoridade que o nomeou, motivo da perícia, nome e qualificação do
indivíduo a ser examinado; histórico – que é a anamnese do caso, colheita de informações do fato,
local, envolvidos etc; descrição – que é a parte mais importante, deve ser minuciosa ao relatar as lesões
e sinais do indivíduo, e se envolver cadáver tem que constar os sinais da morte, identidade, exame
interno e externo; discussão – que é o diagnóstico onde o perito externará sua opinião, relatório dos
critérios utilizados; conclusão – que é o resumo do ponto de vista do perito, baseando-se nos elementos
objetivos e comprovadores de forma segura; por fim respostas aos quesitos – eventualmente oferecidos
pelas partes ou juízo.

Parecer
Parecer é um documento solicitado (sempre que o relatório médico suscitar dúvidas) por qualquer
pessoa a um especialista (perito oficial ou qualquer médico fora da perícia, isto é, assistente técnico),
procurando documentar o processo com resultados de exames e considerações médicas referentes a
determinada situação de interesse jurídico. Ou seja, consultam, escrita ou verbalmente, um ou vários
especialistas sobre o valor científico do laudo em questão. O parecer é a resposta, a conclusão. São
suas partes: preâmbulo, exposição dos fatos, discussão do assunto, conclusão e respostas às
perguntas.

E quanto às legislações?
De uma maneira geral teremos Legislações relacionadas com as seguintes áreas:
l. Código de Processo Penal
2. Código de Processo Civil
3. Código de Ética Médica
4. Outras legislações.
Vejamos algumas destas:
- Leis para o exercício da Medicina – CFM, CRM, Código de Ética Médica
- Legislação geral – Constituição Federal, CLT, MP, Estatutos, Decretos
- Legislação da Instituição – Portarias, Normas Técnicas

Vejamos alguns trechos que julgo interessantes para seu concurso.

LEI 10.876, de 2/6/2004.


Compete privativamente aos ocupantes do cargo de Perito Médico da Previdência Social e
Supervisor Médico-Pericial...
I - emissão de parecer conclusivo quanto à capacidade laboral para fins previdenciários;
II - inspeção de ambientes de trabalho para fins previdenciários;
III - caracterização da invalidez para benefícios previdenciários e assistenciais;
IV - execução das demais atividades definidas em regulamento.
Os Peritos Médicos da Previdência Social poderão requisitar exames complementares e
pareceres especializados.

TRABALHISTA
Nos termos do artigo 195 da CLT, a perícia é obrigatória quando for argüida em juízo insalubridade
ou periculosidade. Com efeito, dispõe o § 2º do referido dispositivo legal:
―Argüida em juízo insalubridade ou periculosidade, seja por empregado, seja por Sindicato, em favor
de grupo de associados, o juiz designará perito habilitado na forma deste artigo e, onde hão houver,
requisitará perícia ao órgão competente do Ministério do Trabalho‖.

Código de Processo Civil


Art. 145. Quando a prova do fato depender de conhecimento técnico ou científico, o juiz será
assistido por perito, segundo o disposto no art. 421.
§ 1º - Os peritos serão escolhidos entre profissionais de nível universitário, devidamente inscritos no
órgão de classe competente, respeitado o disposto no Capítulo Vl, seção Vll, deste Código.

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§ 2º - Os peritos comprovarão sua especialidade na matéria sobre que deverão opinar, mediante
certidão do órgão profissional em que estiverem inscritos.
§ 3º - Nas localidades onde não houver profissionais qualificados que preencham os requisitos dos
parágrafos anteriores, a indicação dos peritos será de livre escolha do juiz.

Art. 421. O juiz nomeará o perito, fixando de imediato o prazo para a entrega do laudo.
§ 1º - Incumbe às partes, dentro em 5 (cinco) dias, contados da intimação do despacho de nomeação
do perito:
I - indicar o assistente técnico;
II - apresentar quesitos.

§ 2º - Quando a natureza do fato o permitir, a perícia poderá consistir apenas na inquirição pelo juiz
do perito e dos assistentes, por ocasião da audiência de instrução e julgamento a respeito das coisas
que houverem informalmente examinado ou avaliado.

Art. 422. O perito cumprirá escrupulosamente o encargo que Ihe foi cometido, independentemente de
termo de compromisso. Os assistentes técnicos são de confiança da parte, não sujeitos a impedimento
ou suspeição.

Art. 525. No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não será recebida se
não for instruída com o exame pericial dos objetos que constituam o corpo de delito.

Art. 526. Sem a prova de direito à ação, não será recebida a queixa, nem ordenada qualquer
diligência preliminarmente requerida pelo ofendido.

Código de Processo Penal


Art. 158 - Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto
ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Art. 159 - Os exames de corpo de delito e as outras perícias serão feitos por dois peritos oficiais.
§ 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao querelante e
ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico. §

Exame de Sanidade Mental art. 149 CPP; Exame de vítimas de crimes sexuais ( alienada e ou débil
mental); Dependência de Drogas; Embriaguez

Psiquiatria Forense:
Complementar de lesões corporais; Interdição por absoluta ou relativa incapacidade civil (Art. 3.º e
4.º do C.C.; Anulação de Testamento; Anulação de Negócio Jurídico.

I- Legislação Previdenciária
É a mais extensa, já que disciplina a atuação da perícia médica na concessão e manutenção de
diversos benefícios que integram o Plano de Beneficias da Previdência Social.
- Lei 8.213/91 e Decreto nº 3.048/99 - tratam do Plano de Benefícios do Regime Geral de
Previdência Social, ai incluídos os Auxílios-doença, Aposentadorias por Invalidez, Auxílios-acidentes,
Pecúlios, Qualificação e Habilitação do Dependente Maior Inválido, para concessão de benefícios de
família, entre outros; sua concessão e manutenção dependem de exame médico-pericial;
- Lei 6.179/74 - trata da renda mensal vitalícia, concebida a maiores de 70 anos ou inválidos, sendo
indispensável a perícia médica na segunda hipótese;
- Lei 7.070/82 - trata da concessão de benefícios por invalidez aos portadores de sequelas
resultantes do uso da talidomida;

Exemplificando a Lei n. 8.213/91, reproduz integralmente o que dispõe os artigos das leis e
regulamentos previdenciários anteriores.

Seção V - Dos Benefícios


Art. 42.

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§ 1º -"A concessão da aposentadoria por invalidez dependerá da verificação da condição de
incapacidade mediante exame médico-pericial a cargo da Previdência Social, podendo o segurado, às
suas expensas, fazer-se acompanhar de médico de sua confiança".
§ 2º -"A doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-se ao Regime Geral de
Previdência Social não lhe conferirá o direito à aposentadoria por invalidez, salvo quando a
incapacidade sobrevier por motivo de agravamento ou progressão da doença ou lesão."

Art. 59 - O auxílio-doença será devido ao segurado que, havendo cumprido, quando for o caso, o
período de carência exigido nesta Lei, ficar incapacitado para o seu trabalho ou para a sua atividade
habitual por mais de 15 (quinze) dias consecutivos.
Parágrafo único - Não será devido auxílio-doença ao segurado que se filiar ao Regime Geral de
Previdência Social já portador da doença ou lesão invocada como causa para o benefício, salvo quando
a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.

Art. 60. O auxílio-doença será devido ao segurado empregado a contar do décimo sexto dia do
afastamento da atividade, e, no caso dos demais segurados, a contar da data do início da incapacidade
e enquanto ele permanecer incapaz.
§ 1º - Quando requerido por segurado afastado da atividade por mais de 30 (trinta) dias, o auxílio-
doença será devido a contar da data da entrada do requerimento.
§ 2º - (Revogado pela Lei nº 9.032, de 1995)
§ 3º Durante os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de
doença, incumbirá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral.
§ 4º - A empresa que dispuser de serviço médico, próprio ou convênio, terá a seu cargo o exame
médico e o abono das faltas correspondentes ao período referido no § 3º, semente devendo
encaminhar o segurado a perícia médica da Previdência Social quando a incapacidade ultrapassar a 15
(quinze) dias.

II- Legislação Trabalhista


- Capítulo V do Titulo II da Consolidação das Leis do Trabalho e trata da higiene, medicina e
segurança do trabalho; entre as diversas providências adotadas, institui a obrigatoriedade dos exames
pré-admissionais, periódicos e demissionais, instrumentos de monitoração do trabalhador. Estas
avaliações médicas visam, sobretudo, a identificar o nexo de causalidade entre os agravos à saúde e o
exercício da atividade ou ocupação.
- Art. 827 da CLT, que assim dispõe: O juiz ou presidente poderá arguir os peritos compromissados
ou os técnicos, e rubricará, para ser junto ao processo, o laudo que os primeiros tiverem apresentado.
- Portaria MTb nº 3.214/78 - e as Normas Regulamentadoras (NR).

III- Legislação do Regime Jurídico do Servidor Público Federal


- Lei 8.112/90 - Regime Jurídico Único do Servidor Público Federal.
- Lei 7.923/89 e Lei 8.270/91 - tratam, entre outras questões, da concessão dos adicionais de
insalubridade e periculosidade, que depende de laudo pericial.
Visando a esclarecer as dúvidas quanto ao papel do atestado médico na concessão da licença de
natureza médica, transcrevemos os dispositivos legais que disciplinam a questão.

Lei 8.112/90
(...)
Da Licença por Motivo de doença em Pessoa da Família
Art. 83. Poderá ser concedida licença ao servidor por motivo de doença do cônjuge ou companheiro,
dos pais, dos filhos, do padrasto ou madrasta e enteado, ou dependente que viva a suas expensas e
conste do seu assentamento funcional, mediante comprovação por perícia médica oficial.
§ 1º A licença somente será deferida se a assistência direta do servidor for indispensável e não
puder ser prestada simultaneamente com o exercício do cargo ou mediante compensação de horário,
na forma do disposto no inciso II do art. 44.
§ 2º A licença de que trata o caput, incluídas as prorrogações, poderá ser concedida a cada período
de doze meses nas seguintes condições:
I - por até 60 (sessenta) dias, consecutivos ou não, mantida a remuneração do servidor; e
II - por até 90 (noventa) dias, consecutivos ou não, sem remuneração. (Incluído pela Lei nº 12.269,
de 2010)

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§ 3º O início do interstício de 12 (doze) meses será contado a partir da data do deferimento da
primeira licença concedida.
§ 4º A soma das licenças remuneradas e das licenças não remuneradas, incluídas as respectivas
prorrogações, concedidas em um mesmo período de 12 (doze) meses, observado o disposto no § 3º,
não poderá ultrapassar os limites estabelecidos nos incisos I e II do § 2º.

Da Licença para Tratamento de Saúde

Art. 202 - Será concedido ao servidor licença para tratamento de saúde, a pedido ou de ofício, com
base em perícia médica, sem prejuízo da remuneração a que fizer jus.
Art. 203. A licença de que trata o art. 202 desta Lei será concedida com base em perícia oficial.
§ 1º Sempre que necessário, a inspeção médica será realizada na residência do servidor ou no
estabelecimento hospitalar onde se encontrar internado.
§ 2º Inexistindo médico no órgão ou entidade no local onde se encontra ou tenha exercício em
caráter permanente o servidor, e não se configurando as hipóteses previstas nos parágrafos do art. 230,
será aceito atestado passado por médico particular.
§ 3º No caso do § 2º deste artigo, o atestado somente produzirá efeitos depois de recepcionado pela
unidade de recursos humanos do órgão ou entidade.
§ 4º A licença que exceder o prazo de 120 (cento e vinte) dias no período de 12 (doze) meses a
contar do primeiro dia de afastamento será concedida mediante avaliação por junta médica oficial.
§ 5º A perícia oficial para concessão da licença de que trata o caput deste artigo, bem como nos
demais casos de perícia oficial previstos nesta Lei, será efetuada por cirurgiões-dentistas, nas hipóteses
em que abranger o campo de atuação da odontologia.

Art. 204. A licença para tratamento de saúde inferior a 15 (quinze) dias, dentro de 1 (um) ano,
poderá ser dispensada de perícia oficial, na forma definida em regulamento.

Em face da presente legislação, com abrangência no setor público e setor privado, o abono das
faltas ao trabalho, motivadas por incapacidade resultante de doença ou lesão acidentaria é da
competência e atribuição do médico perito, especificamente designado para tal função.

IV- Legislação Fiscal


- Leis 7.713 e 8.541/92 tratam do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e Pessoa Física, ai incluído
o dispositivo (inciso XIV, art. 6° da Lei 7.713/88 e art. 47 da Lei 8.541/92) que isenta do pagamento de
Imposto de Renda os proventos de aposentadoria de pessoas portadoras de sequelas de acidentes do
trabalho ou de doença constante da relação contida no referido inciso, desde que comprovada em
exame médico-pericial especializado.

V- Legislação Processual Penal e Processual Civil


O legislador brasileiro, consciente da importância da perícia médico-legal como meio de prova
absolutamente útil para imposição da sentença sobre o litígio submetido ao Poder Judiciário para
solucioná-lo, disciplina-o por via dos seguintes dispositivos legais no âmbito do processo penal e civil:

a) Código de Processo Penal – arts. 158 a 184, Capítulo II (Do Exame do Corpo de Delito e das
Perícias em Geral).

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2. Lesões corporais sob o ponto de vista jurídico

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

Dano corporal de natureza penal


As lesões corporais, quando estudadas no tocante à avaliação quantitativa e qualitativa e qualitativa
do dano, de natureza penal, têm o significado médico-jurídico de caracterizar, no dolo ou na culpa, um
ato ilícito contra a integridade física ou a saúde da pessoa como proteção da ordem pública e social.
Melhor seria a designação ―lesões pessoais‖ em lugar de lesões corporais, uma vez que se tem a ideia
de que apenas estariam contemplados os danos do corpo. O legislador, no entanto, redime-se no
enunciado do artigo 129 quando anuncia: ―Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem‖. E a
saúde obviamente, é física ou psíquica.
O objetivo fundamental do estudo médico-pericial das lesões corporais é a caracterização de sua
extensão, de sua gravidade ou de sua perenidade, ou seja, de sua quantidade e de sua qualidade. Sob
o ponto de vista médico-legal, a expressão ―lesão‖ abrange um sentido muito amplo. Enquanto, para a
medicina curativa, lesão se restringe à alteração anatômica ou funcional de um órgão ou tecido, para a
medicina legal, é qualquer alteração ou desordem da normalidade, de origem externa e violenta, capaz
de provocar um dano à saúde em decorrência de culpa, dolo, acidente ou autolesão. Assim, por
exemplo, um delegado de polícia que raspa arbitrariamente os cabelos de um jovem, sob o aspecto
patológico, não cometeria nenhuma lesão, porém, em medicina legal, incorreria em tal, embora, para
alguns, isso represente tão-só constrangimento ilegal, vias de fato ou injúria real (―cortar os cabelos de
outrem pode constituir crime de lesão corporal, mas é indispensável que a ação provoque uma
alteração desfavorável no aspecto exterior do indivíduo, de acordo com os padrões sociais médicos‖ –
JTAERGS 94/109).
Levando-se em conta a doutrina penal brasileira, pode-se definir lesão, sob o ângulo médico-legal,
como a consequência de um ato violento capaz de produzir, direta ou indiretamente, qualquer dano à
integridade física ou à saúde de alguém, ou responsável pelo agravamento ou continuidade de uma
perturbação já existente. Enfim, lesão é toda alteração do equilíbrio biopsicossocial. Por violência, deve-
se entender não simplesmente a ação mecânica, mas qualquer resultado pelo mais diversos meios
causadores do dano: físicos, químicos, físicos-químicos, bioquímicos, biodinâmicos ou mistos. Um fato
de grande interesse médico-pericial é a distinção entre a causa e concausa. Se um homem agride
outro, lesando um vaso calibroso, e em decorrência surge uma grande hemorragia, existe nesse fato
uma perfeita relação de causa e efeito. Isso não constituirá dificuldades maiores para o perito nem para
o juiz. Porém, nem sempre assim acontece. Podem surgir outras consequências independentes do
ferimento produzido, anteriores ou posteriores à agressão. A isto chamou-se concausas.
A causa seria o que leva a resultados imediatos e responsáveis por determinadas lesões, suscitando
sempre, por sua vez, uma relação de causa e efeito. Por concausa, entende-se o conjunto de fatores,
preexistentes ou supervenientes, suscetiveis de modificar o curso natural do resultado, fatores esses
que o agente desconhecia ou não podia evitar. É o congresso de fatores anatômicos, fisiológicos ou
patológicos que existiam ou possam existir, agravando o processo. Não seria a sequencia natural do
ferimento, mas uma situação evitável sem nenhuma dependência ao fato inicial e sua evolução.

Classificação
As lesões corporais dividem-se em dolosa ou culposa, e somente as primeiras têm a subdivisão de
leves, graves e gravíssimas.

Lesões leves: seu conceito é tido por exclusão, isto é, as lesões leves não apresentam nenhum
resultado estabelecidos nos parágrafos 1º e 2º do artigo 129 do Código Penal. Sua pena é de três

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meses a um ano de detenção. Em geral, estão representadas por pequenos danos superficiais,
comprometendo apenas a pele, a tela subcutânea e pequenos vasos sanguíneos. São de pouca
repercussão orgânica e de recuperação rápida.

Lesões graves: as lesões corporais grave estão referidas no parágrafo primeiro do citado artigo e se
caracterizam quando diante de uma das seguintes eventualidades:
- incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias.
- perigo de vida.
- debilidade permanente de membro, sentido ou função.
- aceleração do parto.

Lesões gravíssimas: as lesões corporais de natureza gravíssima estão agrupadas do parágrafo 2º do


artigo 129 do código penal. Sua caracterização está no fato de ter a lesão resultado em:
- incapacidade permanente para o trabalho
- enfermidade incurável.
- Perda ou inutilização de membro, sentido ou função.
- deformidade permanente.

Lesão corporal de natureza cível

Enquanto na avaliação do dano corpóreo de natureza penal estima-se uma reparação de ordem
pública e coletiva, na avaliação de natureza cível o que se procura reparar são os bens pessoais
patrimonial e extrapatrimonial através de um montante indenizatório, levando em conta a quantificação
das perdas econômicas e não econômicas decorrentes de um prejuízo à integridade física, funcional ou
psíquica sofrido pela vítima. Isto é, reparar o dano emergente (gastos com tratamento, próteses e
recuperação), o lucro cessante transitório (valor do que se deixa de fazer e ganhar temporariamente),
lucro cessante permanente (valor da incapacidade permanente total ou parcial) e o dano
extrapatrimonial ou dano existencial ou prejuízos particulares (danos morais, psíquicos, estéticos ou
dolorosos, perda de chance e prejuízos futuros e de afirmação pessoal).
Graças ao estudo da avaliação do dano corporal de natureza cível, será possível estabelecer uma
doutrina de valorização do corpo humano como forma de resgatar os prejuízos. Esta avaliação, no
entanto, não tem a mesma qualificação referida nos direitos penal e trabalhista, mas procurar dar ao
dano sua exata e devida indenização, sem se exceder daquilo que o indivíduo era antes. Contudo, não
se pode correr risco de um exagero em que se crie um ―estatuto jurídico do corpo‖, onde se venha a
considerar um indivíduo como um conjunto de partes reparáveis. Procura reparar perda econômica
imediata decorrente das despesas surgidas, a cessação do lucro ou do ganho em face da incapacidade
temporária ou definitiva e a depreciação que a vítima sofre em suas relações sociais e profissionais, em
função das ofensas físicas ou psíquicas recebidas.
Trata-se, pois, de um estudo mais ou menos recente entre nós, e sua importância reside na
contribuição do ajuizamento da retribuição mais equitativa possível que o ofendido possa receber após
o surgimento de um dano pessoal, em que a culpa ou o dolo esteja tipificado. É importante também que
a perícia entenda que esta forma de avaliar não deve se prender apenas ao dano corporal, mas
também às consequências que este dano traz sobre a vida relacional da vítima, na exata medida em
que os diversos parâmetros apontam. O artigo 949 do código civil prevê não apenas a indenização do
dano à integridade física, mas também a ―algum outro prejuízo que o ofendido prove haver sofrido‖.

Parâmetros de avaliação
Neste estudo, o mais importante é avaliar o dano corporal decorrente da lesão, notadamente no que
se refere à incapacidade temporária, ao quantum doloris, à incapacidade permanente ao dano estético,
e ao prejuízo de afirmação pessoal e ao prejuízo futuro. Há também de se consignar com clareza o
nexo de causalidade e o estado anterior da vítima. Embora o estudo detalhado de cada segmento ou
órgão afetado seja muito importante, não se pode perder de vista o que isso possa representar no
conjunto do organismo como um todo. São eles:
- incapacidade temporária.
- quantum doloris.
- incapacidade permanente.
- dano estético
- prejuízo de afirmação pessoal.
- prejuízo futuro.

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- outras modalidades de prejuízo.

Dano corporal de natureza trabalhista


Assim como o dano corporal é visto sob o ângulo criminal e cível, pode ele também ser avaliado
mediante os interesses trabalhistas, não só pelo fato de sua importância e repercussão sobre os meios
produtivos, mas pelas características peculiares em relação às atividades dos obreiros e pelas
determinações pertinentes à legislação do trabalho. Desse modo estão incluídos neste estudo todos os
danos corporais e psíquicos oriundos do acidente do trabalho, das doenças do trabalho e das doenças
profissionais, os quais em face de sua quantidade e qualidade podem ser avaliados e reparados. Deve-
se entender como acidente de trabalho o que ocorre pelo exercício de atividades ou tarefas a serviço da
empresa, provocando dano corporal ou perturbação funcional que possam produzir a morte ou a perda
ou a redução da capacidade temporária ou permanente para o trabalho. Por doença do trabalho a
enfermidade proveniente de certas condições especiais ou excepcionais em que o trabalho venha a ser
realizado. E como doença profissional qualquer doença inerente ao desempenho de determinados
ramos da atividade laboral e relacionada pelo Ministério da Previdência Social.

Avaliação do dano corporal de natureza desportiva


O dano corporal também pode ser avaliado diante de interesses dos desportos, principalmente por
suas características, incidência, importância e repercussão, bem distintas das avaliações e reparações
de outros danos corporais de natureza jurídica. Aqui deverão ser estudadas tais avaliações apenas dos
chamados esportes de competição, com vínculo profissional, deixando à parte os esportes de caráter
recreativo, estético ou de manutenção da forma física, e até mesmo os esportes competitivos
amadores. O significado econômico e cultural que os desportos em geral apresentam nos dias atuais
justifica uma abordagem particularizada.
Até certo ponto, os parâmetros dessa avaliação se confundem com os parâmetros utilizados para os
danos de natureza trabalhista, entendendo que na sua maioria os esportes de competição têm uma
compensação financeira e econômica. O que os distingue são as pequenas lesões que podem
incapacitar o atleta competitivo que necessita de um resultado integral exigido nas suas conquistas. Nas
questões que sua incapacidade permanente seja uma intensidade considerável. Além do mais, essas
atividades desportivas nunca estão relacionadas com a legislação trabalhista, e sim, através de
compensações contratuais ou securitárias pelo alto valor de suas demandas. Entre nós não existe uma
legislação trabalhista especial para desportistas profissionais. Os esportes de competição, também
chamados de rendimento, têm como finalidades a obtenção de marcas ou de resultados, sempre
alcançados por uma elite de desportistas que, na maioria das vezes, se consagram pelos seus feitos.
São indivíduos preparados com atenção e cuidados especiais para alcançar o melhor rendimento.

A avaliação médico-legal do dano psíquico


A avaliação e a valorização do dano de ordem psíquica, seja de natureza penal, civil ou
administrativa, passam a constituir-se numa prova de grande e real interesse nos dias atuais, ainda que
considere de difícil e complexa avaliação. Por isso, há de se ressaltar, mesmo para os especialistas em
psiquiatria médico-legal, a existência destas dificuldades, a partir dos critérios diagnósticos que não se
ajustam num padrão clínico, dos distúrbios mal caracterizados ou inaparentes, da impossibilidade de
quantificar o dano, da imprecisão em determinar o nexo causal, da dificuldade de consignar a existência
de um dano psíquico anterior, da imprecisão de estabelecer a distinção entre um dano neurológico e um
dano psíquico e da possibilidade muito frequente de simulação e de metassimulação por parte do
examinado.
Em primeiro lugar, deve-se fazer uma distinção bem precisa entre dano psíquico e transtorno mental.
O primeiro caracteriza-se por uma deterioração das funções psíquicas, de forma súbita e inesperada,
surgida após uma ação deliberada ou culposa de alguém e que traz para a vítima um prejuízo material
ou moral, haja vista a limitação de suas atividades habituais ou laborativas. Já o transtorno mental,
chamando ainda por alguns de doença mental, mesmo que tenha como elemento definidor a alteração
das funções psíquicas, sua origem é de causa natural. Se o exame é requerido no interesse criminal, a
perícia deve-se orientar por alguma metodologia que se incline a responder aos interesses do artigo 129
do código penal. Se a questão prende-se às razões do interesse da administração pública, o alvo da
perícia é no propósito de avaliar as condições do examinado continuar ou não exercendo provisória ou
definitivamente suas atividades funcionais. E se o objeto da avaliação é no sentido da reparação
patrimonial ou extrapatrimonial, a perícia deve ser condicionada aos padrões disciplinados pelo código
civil. E, finalmente, se o interesse da avaliação é no propósito de satisfazer razões de caráter laborativo,
a perícia deve-se orientar no sentido da legislação do trabalho.

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3. Energias de Ordem Mecânica: Traumatologia Médico-legal

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

As energias de ordem mecânica são aquelas capazes de modificar o estado de repouso ou de


movimento de um corpo, produzindo lesões em parte ou no todo. Os meios mecânicos causadores do
dano vão desde armas propriamente ditas (punhais, revólveres, soqueiras), armas eventuais (faca,
navalha, foice, facão, machado), armas naturais (punhos, pés, dentes), até os mais diversos meios
imagináveis (máquinas, animais, veículos, quedas, explosões, precipitações).
As lesões produzidas por ação mecânica podem ter suas repercussões externa ou internamente.
Podem ter como resultado o impacto de um objeto em movimento contra o corpo humano parado (meio
ativo), ou o instrumento encontrar-se imóvel e o corpo humano em movimento (meio passivo), ou,
finalmente, os dois se acharem em movimento, indo um contra o outro (ação mista). Esses meios atuam
por pressão, percussão, tração, torção, compressão, descompressão, explosão, deslizamento e
contrachoque.
Segundo o contato, o modo de ação e as características que imprimem às lesões, classificam-se os
instrumentos mecânicos em:
- cortantes;
- contundentes,
- cortocontundentes,
- perfurantes,
- perfurocortantes e
- perfurocontundentes.

(Acho muito interessante vocês decorarem estes tipos de ações e os tipos de lesões abaixo. As
bancas gostam de questionar tais classificações. Cuidado com estes nomes que são parecidos e
podem ser usados pelas bancas. Já vi questões com termos que não existem. Por exemplo:
instrumentos dilacerantes, contusodilacerantes, perfurodilacerantes, cortodilacerantes).
Tais ações produzem, respectivamente, feridas incisas, contusas, punctórias, perfuroincisas,
cortocontusas e perfurocontusas.
Tais ações produzem, respectivamente, feridas puntiformes, cortantes, contusas, perfurocortantes,
perfurocontusas e cortocontusas. As feridas, por exemplo, produzidas por vidro, lança, dentes ou
explosão, ainda que venham a apresentar perdas vultosas de tecidos, não deixam de ser cortantes,
perfurocortantes, cortocontusas e contusas, correspondentemente.

Mas quais são e quais características apresentam os instrumentos mencionados?


Instrumento Perfurante: É todo instrumento capaz de produzir uma lesão punctória. Esses
instrumentos propriamente ditos possuem forma cilíndrica-cônica, são alongados, finos e pontiagudos,
tais como: agulha, estilete, prego, alfinete etc. Atuam por pressão através da ponta e afastamento das
fibras do tecido. As lesões produzidas por estes instrumentos são soluções de continuidade que se
denominam feridas punctórias. O tipo de instrumento será diagnosticado pela qualidade das lesões.
Mas o diagnóstico da lesão em si, não permite que para avaliação do seu alcance, se façam
sondagens, desaconselhadas formalmente pela possibilidade de, elas mesmas, produzirem falsos
trajetos ou alterarem os correspondentes ao instrumento empregado.
É extremamente variável, pois, o instrumento não contaminado facilitará a recuperação, mas caso
ocorra processo infeccioso tudo se modificará. Geralmente homicídios, principalmente entre detentos.
Recém-nascidos também podem ser vítimas desse tipo de lesão (infanticídio). Não é de se desprezar a
possibilidade de acidente comum ou do trabalho. Como meio de suicídio não é muito frequente. A

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perícia envolve sempre o exame das lesões em sua forma, aspecto, dimensões e demais caracteres
que sirvam não só para a determinação diagnóstica, mais ainda para pesquisar o instrumento que as
produziu.

Instrumento Cortante: É todo instrumento que agem por um gume afiado, por pressão e
deslizamento atuando linearmente sobre a pele ou sobre os órgãos, produz feridas incisas. Navalha,
bisturi, lâmina, canivete, faca de gume cerrado, pedaço de vidro etc. Agem por pressão e deslizamento
produzindo a secção uniforme dos tecidos. Possuem bordas nítidas e regulares, há hemorragia
geralmente abundante, corte perfeito dos tecidos moles, ausência de outro trauma em torno da lesão. É
necessário estudar cuidadosamente os caracteres da lesão, não sendo omitido o exame minucioso das
vestes quando a região afetada era coberta por ela. Depende da sede comprometida, da extensão e
profundidade do ferimento, são mortais quando atingem a região do pescoço (denomina-se
esgorjamento, se atingir a região anterior e degolamento, se atingir a região posterior).

ESGORJAMENTO

ferida incisa na região anterior ou lateral do pescoço

- DEGOLAMENTO

ferida incisa no plano posterior do pescoço (nuca)


DICA: GOLA da camisa fica na parte de trás do pescoço = degolamento

- DECAPITAÇÃO: separação da cabeça do corpo.

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Não sendo isso, em geral não assumem essa gravidade extrema, mas podem ser gravíssimas
quando situadas no rosto (cicatriz queloideana – deformidade permanente).
Algumas características:
- O esgorjamento e o degolamento indicam homicídio, suicídio ou, raramente, acidente.
- Esgorjamento e degolamento profundos, concomitantes, que atinjam a coluna vertebral, serão
homicídio.
- Esgorjamento por violento golpe que atinja a coluna cervical é sugestivo de homicídio.
- Degolamento com lesão da medula é, em geral, homicídio.
No caso de atingir nervos de membros, podem produzir perturbações motora e sensitiva, e daí
debilidade do segmento, enfermidade incurável que pode impedir o trabalho etc. Não havendo essas
consequências, elas são consideradas leves.
Podem variar, é homicida frequentemente, mas pode tratar-se de lesão de defesa (indicativo de luta)
ou mesmo suicida. A lesão acidental pode ocorrer, mas geralmente é de menor gravidade e não chega
ao legista, senão ao clínico. Elemento cortante, número de lesões, sede, direção, características,
profundidade, regularidade, lesões de defesa. O médico legista através de fatos relatados e
observados, poderá prestar esclarecimentos à justiça.
Os instrumentos cortantes não podem ser confundidos com os instrumentos cortocontundentes,
como a foice, o machado, pois, estes agem mais pelo peso e pela força com que são empregados do
que pelo gume.
Segundo a doutrina, são características das feridas incisas:
- regularidade das bordas;
- regularidade do fundo da lesão;
- ausência de vestigios traumáticos em torno da ferida;
- predominância do comprimento sobre a profundidade;
- afastamento das bordas da ferida;
- presença de cauda de escoriação voltada para o lado onde terminou a ação do instrumento;
- vertentes cortadas obliquamente;
- centro da ferida mais profunda que as extremidades;
- perfil de corte de aspecto angular, quando o instrumento atua de forma perpendicular, ou em forma
de bisel, quando o instrumento atua em sentido oblíquo.
A evolução da cicatriz de uma ferida incisa permite a presunção da data de sua produção. Assim,
distinguem-se três fases no processo de formação de uma cicatriz incisa:
- fase inicial ou de quiescência: inicia-se, simultaneamente à produção do ferimento dos tecidos,
graças ao surgimento de coágulo sanguíneo;
- fase de fibroplasia: se inicia no segundo dia com intensa produção de fibroblastos- início no
segundo dia através de uma intensa reprodução de fibroblastos;
- fase de maturação: também chamada fase de retração cicatricial, se inicia por volta do sexto
dia pós-trauma, por uma intensificação de produção de fibras colágenas pelos fibroblastos e
elaboração do colágeno.

Instrumento Contundente: é todo agente mecânico, líquido, gasoso ou sólido, que, atuando
violentamente por pressão, explosão, flexão, torção, sucção, percussão, distensão, compressão,
descompressão, arrastamento, deslizamento, contragolpe, ou de forma mista, traumatiza o
organismo.

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- Sólido: pau, tijolo, mão de pilão.
- Líquido: queda n'água, jato d'água.
- Gasoso: jato forte de ar sobre pressão
- Naturais: mãos, pés, cabeça, chifres de boi etc.
- Usuais: bengala, bastão, cassetete, etc.
- Eventuais: pedra, martelo.
Mecanismo de Ação:
- Ativo: quando o objeto possuidor de força viva, choca-se contra o corpo da vítima;
- Passivo: quando o corpo da vítima, sob ação da força viva, choca-se contra o objeto;
- Misto: quando tanto o corpo da vítima, quanto o objeto possuidor de força viva, chocam-se entre si.
A resultante da ação desses instrumentos depende da intensidade do seu movimento, de sua
dinâmica traumatizante, e, conjugado este fato, a região do corpo atingida e as condições da próxima
ação, as lesões decorrentes poderão ser superficiais ou profundas, citam-se das mais leves às mais
graves:
- Rubefação: alteração vasomotora da região; dura cerca de duas horas no máximo;
- Edema: derrame seroso;
- Escoriação: perda traumática da epiderme (serosidade, gotas de sangue, crosta);
- Equimose: derrame hemático que infiltra e coagula nas malhas do tecido. Permite dizer qual o
ponto onde se produziu a violência. Indica a natureza do atentado. Pode afirmar se o indivíduo achava-
se vivo no momento do traumatismo. Indica a data provável da violência.

Espectro Equimótico de LEGRAND de SAULLE: a equimose superficial é envolvida por uma


sucessão de cores que se inicia pelos bordos. Tem importância pericial para determinar, em alguns
casos, a data provável da agressão.
- 1º dia: lívida ou vermelha - 7º ao 10º dia: esverdeada
- 2º e 3º dia: arroxeada - 10º ao 12º dia: amarela-esverdeada
- 4º e 6º dia: azul - 12º ao 17º dia: amarela

Hematoma: é uma coleção hemática produzida pelo sangue extravasado de vasos calibrosos, não
capilares, que descola a pele e afasta a trama dos tecidos formando uma cavidade circunscrita onde se
deposita.

Bossa Sanguínea: é um hematoma em que o derrame sanguíneo impossibilitado de se difundir nos


tecidos moles em geral, por planos ósseos subjacentes, coleciona determinando a formação de
verdadeiras bossas.

Bossa Linfática: são coleções de linfas produzidas por contusões tangenciais, como acontece nos
atropelamentos, em que os pneus, por atrição, deslocam a pele formando grandes bossas linfáticas,
entre o plano ósseo e os tegumentos.

Luxação: é o afastamento repentino e duradouro de uma das extremidades.

Fratura: é a solução de continuidade, parcial ou total dos ossos submetidos à ação de instrumentos
contundente.

Ferida Contusa:
- Forma, fundo e vertentes irregulares;
- Bordas escovadas;
- Ângulos obtusos;
- Derrame hemorrágico externo menos intenso do que na ferida incisa;
- Aspecto tormentoso no seu interior;
- Retalhos conservados em forma de ponte, unindo as margens da lesão, contrastando com os
tecidos mortificados;
- Nervos, vasos ou tendões, conservados no fundo da lesão.

Na apreciação detalhada das equimoses é preciso distingui-las das hipóstases, das equimoses
espontâneas post mortem, das pseudo-equimoses, traumatismos post-mortem, das doenças como
púrpura, escorbuto, hemofilia, intoxicação por arsênio, epilepsia etc. O prognóstico depende da lesão
em si, conforme a região, ferida seccionando ou dilacerando órgãos importantes, e dependendo do

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peso da arma e força viva com que esta é acionada, podendo produzir comoções de vulto. Em geral o
prognóstico é grave quanto à vida, ou em hipótese mais benigna, quanto à importância, causando um
dano que incapacite para o trabalho.
Do ponto de vista jurídico, essas lesões podem significar dependendo da sede, a natureza de uma
violência: pescoço, rosto, orifícios, região genital etc. A forma caracteriza o instrumento ou meio que as
produziu. As dimensões para identificar o agente produtor, quando produzidas com vida a existência de
reação própria. É finalmente a sede, a forma e a disposição são elementos que bem estudados podem
esclarecer a possibilidade de simulações, podendo evidenciar se foi homicídio, acidente ou suicídio. A
importância de realização de uma perícia bem feita, traduz a possibilidade da identificação do agente da
lesão e também, o tipo ou natureza do crime, através, evidentemente de pesquisas minuciosas e
detalhadas da lesão.

Instrumento Perfurocortante: são chamados perfurocortantes os instrumentos puntiformes, com o


comprimento predominando sobre a largura e a espessura, um ponto que atua simultaneamente
por percussão ou pressão, afastando fibras e, por corte, seccionando-as. Existem ainda os
instrumentos de ponta e de arestas, contendo várias faces e múltiplos ângulos diedros, cortantes ou
não. São aqueles que além de perfurar o organismo exercem lateralmente uma ação de corte. Facas,
punhais, canivetes, baionetas etc.
Classificação:
- Instrumento perfurocortantede um só gume ou de um só bordo cortante;
- Instrumento perfurocortantede dois gumes ou de dois bordos cortantes;
- Instrumento perfurocortantede três ou mais gumes ou bordos cortantes.

Características: São instrumentos que, além de perfurar, pela sua ponta, ainda exercem lateralmente
ação de corte:
- Monocortante: faca, peixeira, canivete.
- Bicortante: punhal
- Tricortante: lima, florete.
- Multicortante: apontador de pedreiro, perfuratriz manual.
Perfura = Pressão
Corta = Secção

Lesões:
- Instrumento com um gume: ferida ovalar, com um ângulo agudo e um ângulo arredondado.
- Instrumento com dois gumes: (botoeira) dois ângulos agudos.
- Instrumento com três gumes: feridas de forma triangular.
- Instrumento com muitos gumes: feridas parecidas com as produzidas pelos instrumentos cônicos.

Genérico: Deve ser orientado no sentido de se caracterizar a natureza da lesão, condicionada ao


instrumento que a produziu.
- Dependem do local
- Das formações anatômicas atingidas
- Da profundidade e largura
- Da possibilidade de produzirem infecções.

Lesão Corporal - Suicídio - Homicídio – Acidente

Dificilmente podemos calcular a largura do instrumento pelo tamanho do ferimento. Contudo o perito
pode dar a ideia genérica do elemento cortante, número de lesões, sede, direção, características,
profundidade, regularidade, lesões de defesa etc.

Instrumento Perfurocontundente: É todo agente traumático que ao atuar sobre o corpo, perfura-o
e contunde simultaneamente. Os instrumentos desta classe são, na maioria das vezes, os projeteis de
arma de fogo. Arma de Fogo: São as peças constituídas de um ou dois canos, aberto numa das
extremidades e parcialmente fechados na parte de trás, por onde se coloca o projétil.

Classificação:
- Quanto à dimensão: portáteis, semiportáteis e não portáteis.
- Quanto ao modo de carregar: Antecarga e Retrocarga.

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- Quanto ao modo de percussão: Perdeneira e Espoleta.
- Quanto ao calibre:

A munição compõe-se de cinco partes:


- Estojo ou cápsula: É um receptáculo de latão ou papelão prensado, de forma cilíndrica contendo os
outros elementos da munição;
- Espoleta: É a parte do cartucho que se destina a inflamar a carga. É constituído de fulminato de
mercúrio, de sulfeto de antimônio e de nitrato de bário.
- Bucha: É um disco de feltro, cartão, couro, borracha, cortiça ou metal, que se separa a pólvora do
projétil.
- Pólvora: É uma substância que explode pela combustão. Há a pólvora negra e a pólvora branca.
Esta última não tem fumaça. Ambas produzem de 800 a 900 cm3 de gases por grama de peso. Em
geral são compostas de carvão pulverizados enxofre e salitre.
- Projétil: É o verdadeiro instrumento perfurocontundente, quase sempre de chumbo nu ou revestido
de níquel ou qualquer outra liga metálica. Os mais antigos eram esféricos. Os mais modernos são
cilíndricos-ogivais.

O projétil desloca-se da arma graças a combustão da pólvora, quando ganha movimento de rotação
propulsão, ao atingir o alvo atuam por pressão, havendo afastamento e rompimento das fibras. O alvo é
também atingido por compressão de gases que acompanha o projétil. Uma lesão completa por projétil
de arma de fogo é constituída de 03 (três) partes: Orifício de entrada, Trajeto e Orifício de saída.

Orifício de Entrada: (elementos):


- Zona de Contusão: Deve-se ao arrancamento da epiderme motivado pelo movimento rotatório do
projétil antes de penetrar no corpo, pois sua ação é de início contundente.
- Aréola Equimótica: É representada por uma zona superficial e relativamente difusa da hemorragia
oriunda da ruptura de pequenos vasos localizados nas vizinhanças do ferimento.
- Orla de Enxugo: É uma zona que se encontra nas proximidades do orifício, de cor quase sempre
escura que se adaptou às faces da bala, limpando-as dos resíduos de pólvora.
- Zona de Tatuagem: É mais ou menos arredondadas, nos tiros perpendiculares, ou de formas
crescentes nos oblíquos. É resultante da impregnação de partículas de pólvora incombustas que
alcançam o corpo.
- Zona de Esfumaçamento: É produzida pelo depósito de fuligem da pólvora ao redor do orifício de
entrada.
- Zona de Chamuscamento ou Queimadura: Tem como responsável a ação superaquecida dos
gases que atingem e queimam o alvo.
- Zona de Compressão de Gases: Vista apenas nos primeiros instantes no vivo. É produzida graças
à ação mecânica dos gases, que acompanha o projétil quando atingem a pele.

Tiro Encostado: É aquele dado com a boca da arma apoiada no alvo. Nesse caso todos os
elementos que saem da arma penetra na vítima. A ferida de entrada adquire o aspecto de buraco de
mina (Hoffman), acompanhado de deslocamento trajeto.
Trajeto: É o caminho que o projétil descreve dentro do organismo. É aberto quando tem orifício de
saída e em fundo de saco, quando termina em cavidade fechada. Pode ser retilíneo ou sofrer desvios.
Orifício de Saída: É o orifício produzido pelo projétil isoladamente ou aderido por corpos ou autor que
a ele se juntam no decorrer do trajeto.

Para o diagnóstico das lesões por instrumentos perfurocontundente, deve-se estudar


cuidadosamente os caracteres acima registrados, somando-se ao exame das vestes e objetos e
correlacionado com lesões do corpo da vítima. As características envolvidas na lesão podem fornecer
dados para evidenciar a natureza da origem dos ferimentos. Os ferimentos perfurocontusos podem
causar morte, perda da função de um membro ou órgão ou prejuízo da função e ou deformidade local. A
consequência vai depender: do tipo de arma, número de tiros, o calibre, a distância, idade e condições
de saúde prévia da vítima, do tempo decorrido entre o recebimento do tiro e os primeiros socorros.

Suicídio (50%)
- Um ferimento, ponto de eleição (têmporas, boca, pregão precordial).
- Presença da arma na mão da vítima.
- Disparo a curta distância, queima roupa ou com a arma apoiada.

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- Mãos escurecidas pela pólvora.

Homicídio (35%)
- Existência de impressões digitais do autor na arma ou nas cápsulas.
- Vestígio do uso da arma nas mãos do atirador.

Acidente

A perícia envolve sempre o exame das lesões, das vestes e da munição. São exames da alçada do
médico; contudo, como complemento, é necessário que ele seja auxiliado por outros técnicos para o
estudo mais especializados. O médico deve ter em mente certas questões para as quais ele busca
resposta. Ex.: Qual o orifício de entrada? Qual a distância do tiro? Qual a arma usada? A vítima poderia
ter realizado certos atos antes da morte? As lesões foram produzidas em vida ou depois da morte? Qual
a causa jurídica da morte? etc.

Instrumento Corto-Contundente: São instrumentos que possuem gume rombo, de corte embotado e
que agindo sobre o organismo, rompe a integridade da pele, produzindo feridas irregulares, retraídas e
com bordas muito traumatizadas. Machado, foice, facão, enxada, motosserra, rodas de trem etc. Agem
por pressão e percussão ou deslizamento. A lesão se faz mais pelo próprio peso e intensidade de
manejo, do que pelo gume de que são dotados. A forma das feridas varia conforme a região
comprometida, a intensidade de manejo, a inclinação, o peso e o fio do instrumento. São em regra
mutilantes, abertas, grandes, fraturas, contusões nas bordas, perda de substância e cicatrizam por
segunda intenção.
Será feito com base no tipo de lesão o diagnóstico depende da lesão em si, depende se na região
atingida havia órgãos importantes, e depende do peso da arma ou da força viva com que esta é
acionada, podendo produzir comoções de vulto. Em geral, o prognóstico é grave quanto à vida ou em
hipótese mais benigna, quanto à importância de um dano, incapacitando para o trabalho, deformando,
inutilizando membro etc. É mais frequente no homicídio e no acidente, sendo raro no suicídio. Na
perícia, o aspecto da escoriação é suficiente para indicar se o ferimento foi feito num indivíduo vivo ou
num cadáver. Permite também conclusões quanto ao objeto usado e a natureza do atentado. As
escoriações produzidas no vivo formam crosta. No cadáver são lisas e muito semelhantes ao aspecto
de couro ou de pergaminho.

4. Energias de Ordem Química, cáusticos e venenos, embriaguez, toxicomanias

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

Estudam-se todas as substâncias que, por ação física, química ou biológica, são capazes de,
entrando em reação com os tecidos vivos, causar danos à vida ou à saúde. Podem agir externa
(cáusticos) ou internamente (venenos).

Cáusticos: são substâncias que, de acordo com sua natureza química, provocam lesões
tegumentares mais ou menos graves. Essas substâncias podem resultar em efeitos coagulantes ou
liquefacientes. As de efeito coagulante são aquelas que desidratam os tecidos e lhes causam escaras
endurecidas e de tonalidade diversa, como, por exemplo, o nitrato de prata, o acetato de cobre e o
cloridrato de zinco. As de efeito liquefaciente produzem escaras úmidas, translúcidas, moles e têm
como modelo a soda, a potassa e a amônia. A importância do estudo das lesões externas acarretadas
pela ação dos cáusticos reveste-se de grande significação, não apenas pelo interesse de determinar
sua gravidade, mas também quanto à necessidade de distinguir uma lesão in vitam e outra post

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mortem, e, finalmente, a identidade da substância usada. A gravidade da lesão varia de acordo com a
quantidade, a concentração e a natureza do cáustico; seu prognóstico depende do seu desdobramento
por infecção, cicatrizes retráteis ou lesões mais graves como a cegueira.
A diferença entre as escaras produzidas em vida ou depois da morte nem sempre é fácil, pois alguns
ácidos, por exemplo, atuam com a mesma intensidade e características no vivo ou no cadáver, e sua
diferença é tanto mais difícil quanto mais precocemente o morto foi atingido. E a identidade da
substância é feita pelo aspecto das lesões e por reações químicas. Os ácidos produzem escaras secas
e de cor variável: as do ácido sulfúrico são esbranquiçadas; as do ácido nítrico: amareladas; as do ácido
clorídrico, cinza-escuras; as do ácido fênico, esbranquiçadas. As escaras resultantes da ação dos
álcalis são úmidas, moles e untosas. As escaras produzidas pelos sais geralmente são brancas e
secas. A identidade das escaras também pode ser feita quimicamente: o ácido sulfúrico se identifica
com o cloreto de bário a 10%, dando um precipitado branco; o ácido nítrico com a paradifenilamina,
mostrando uma cor azul; o ácido clorídrico com o nitrato de prata, resultando em uma tonalidade
esbranquiçada que se enegrece com a luz; a potassa com o cobaltinitrito sódico, dando um precipitado
amarelado.
Em geral, a natureza jurídica desses tipos de lesões é acidental ou criminosa e, muito raramente,
voluntária. Quando criminosa, a sede mais constante das lesões é a face e as regiões do pescoço e do
tórax, pela evidente intenção do agressor em enfeitar a vítima, motivando-lhe uma deformidade
permanente e aparente. Essas formas de lesão tornaram-se conhecidas como vitriolagem, visto que
antigamente se usou criminosamente o óleo de vitríolo (ácido sulfúrico) em tais intentos. Seu emprego
não foi muito esporádico no passado, sobretudo a partir de 1639, na França, com o célebre atentado
contra a Duquesa de Chaulnes. O diagnóstico diferencial das escaras produzidas in vitam ou post-
mortem não é muito difícil. Quando produzidas após a morte, elas não têm propriamente a forma de
escara, mostram se apergaminhadas e de tonalidade marrom-escura. E, sob o ponto de vista
histológico, não apresentam reação vital através dos exames histoquímicos e histológicos.

Venenos: nada mais difícil que definir veneno. Até mesmo os alimentos e os medicamentos podem,
em determinadas situações, ser prejudiciais à vida ou à saúde, especialmente quando sua nocividade
sofre profundas modificações em face da dosagem posta, da resistência individual, da maneira de
ministração e do veículo utilizado. Veja-se só: a estricnina em pequenas doses serve de estimulante,
porém, em dosagem excessiva, é mortal. Entre os elementos da resistência individual que alteram a
maior ou menor ação maléfica do veneno, citem-se os seguintes: a idade, o sexo, a tolerância adquirida,
as condições hepáticas, o estado de repleção do estômago, entre outros.
O veículo adotado é de suma valia. Assim, o cianeto de potássio, associado ao meio glicosado,
perde acentuadamente o poder mortal. Pode-se conceituar veneno como qualquer substância que,
introduzida pelas mais diversas vias no organismo, mesmo homeopaticamente, danifica a vida ou a
saúde. A velha Lei Penal de 1890 dava ao veneno esta definição: ―Toda substância mineral ou orgânica
que, ingerida no organismo ou aplicada ao seu exterior, quando absorvida, determine a morte, ponha
em perigo a vida ou altere profundamente a saúde‖. Vê-se, pois, que a própria lei, como ninguém, não
nos traz esclarecimento a respeito, porquanto o legislador atual prudentemente evitou qualquer conceito
sobre o assunto.
Peterson, Haines e Webster, apud Guilherme Arbenz, definem veneno como a ―substância que,
quando introduzida no organismo em quantidades relativamente pequenas e agindo quimicamente, é
capaz de produzir lesão grave à saúde, no caso do indivíduo comum e no gozo de relativa saúde‖ (in
Medicina Legal e Antropologia Forense). Os venenos se classificam em:
- quanto ao estado físico: líquidos, sólidos e gasosos;
- quanto à origem: animal, vegetal, mineral e sintético;
- quanto às funções químicas: óxidos, ácidos, bases e sais (funções inorgânicas): hidrocarbonetos,
álcoois, acetonas e aldeídos, ácidos orgânicos, ésteres, aminas, aminoácidos, carboidratos e alcaloides
(funções orgânicas);
- quanto ao uso: doméstico, agrícola, industrial, medicinal, cosmético e venenos propriamente ditos.

Noções de Toxologia

É a ciência que estuda as intoxicações, os venenos que as produzem, seus sintomas, seus efeitos,
seus antídotos e seus métodos de análise. O termo tóxico vem do grego toxicon que quer dizer flecha
envenenada. A Toxicologia estuda os efeitos nocivos das substâncias químicas no mundo vivo.
É multidisciplinar, pois engloba conhecimentos de Farmacologia, Bioquímica, Química, Fisiologia,
Genética e Patologia, entre outras; Esta ciência identifica e quantifica os efeitos prejudiciais associados

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a produtos tóxicos, ou seja, qualquer substância que pode provocar danos ou produzir alterações no
equilíbrio biológico; A toxicologia tem, como principal objetivo, a detecção e identificação de substâncias
tóxicas, em geral, no seguimento de solicitações processuais de investigação criminal por parte dos
diversos organismos; Desta maneira, é possível obter pistas relativamente a envenenamentos,
intoxicações, uso de estupefacientes, entre outros. É a partir desta área que, muitas vezes, é
descoberta qual a causa da morte do indivíduo em questão e, se o causador o fez involuntariamente ou
por algum motivo.

Fase do descobrimento: Teve início com o homem primitivo em seu contato com a natureza como
meio de sobrevivência, que em seu dia a dia tomou contato com plantas e animais, surgindo deste
contato a identificação de substâncias que eram ou não benéficas a sua vida.
Fase primitiva: É talvez a parte mais importante, pois estuda os venenos como meio de suicídio, de
homicídio e até punitivo, trazendo importantes conclusões inclusive para a moderna toxicologia.
Fase moderna: Início a partir de 1800, com o surgimento de métodos de estudos para identificação
de venenos, com o que, diminuiu sua atuação criminosa, porém a partir deste conhecimento houve um
aumento significativo de intoxicações acidentais (ex. uso de agrotóxicos).

Divisão Metodológica da Toxicologia (como Ciência)


Toxicologia clínica: Estuda os sintomas e sinais clínicos, visando diagnosticar envenenamentos e
orientar terapia.
Toxicologia profilática: Estuda a poluição da água, terra, ar e alimentos, procurando manter e
aumentar a segurança para a vida é saúde humana.
Toxicologia industrial: Estuda as enfermidades industriais e a insalubridade do ambiente de trabalho.
Toxicologia analítica: Visa a análise dos produtos tóxicos objetivando determinar sua toxicidade, sua
concentração tóxica, metabolismo, etc.
Toxicologia forense: Estuda os aspectos médico-legais procurando esclarecer a ―causa-mortis‖ em
intoxicações, visando o esclarecimento a justiça da causa das intoxicações.

Fatores que influenciam na Toxicidade


- Fatores que dependem do sistema biológico, Idade, peso corpóreo, temperatura, fatores genéticos,
estados nutricionais e patológicos.
- Quantidade ou concentração do agente tóxico.
- Estado de dispersão - Importante a forma e o tamanho das partículas.
- Afinidade pelo tecido ou organismo humano.
- Solubilidade nos fluídos orgânicos.
- Sensibilidade do tecido ou organismo humano.
- Fatores da substância em si.

Principais Agentes Tóxicos


- Tóxicos Gasosos
- Tóxicos Voláteis
- Tóxicos Orgânicos Fixos
- Tóxicos Orgânicos Metálicos
- Tóxicos Orgânicos Solúveis
- Outros

Causas mais frequentes de Intoxicações

- Falhas de técnicas, como vazamentos dos equipamentos, preparação e aplicação dos produtos
sem a utilização de equipamento adequado de segurança, aplicação contra o vento. Trabalhadores que
não trocam diariamente de roupa e não tomam banho diário. Trabalhadores que tomam banho em água
quente, que dilata os poros facilitando a absorção do produto. Trabalhadores que nos horários de
descanso se alimentam sem lavar as mãos, armazenamento inadequado dos produtos.
- Outras causas, aplicação de produtos nas horas de maior temperatura, onde o calor intenso dilata
os poros e facilita a absorção da pele, trabalhadores que voltam a trabalhar após uma intoxicação, ou
em períodos de repouso de ouras doenças, trabalhadores com baixa resistência física são mais
suscetíveis, trabalhadores que fazem aplicações sozinhos e em caso de intoxicação não recebem ajuda
imediata, crianças e animais que tem contato com produtos químicos. As esposas dos operários que se
intoxicam ao lavar as roupas utilizadas na aplicação e muitas outras formas.

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Parâmetros Toxicológicos

Toxicidade: É a capacidade de uma substância química produzir lesões, sejam elas físicas, químicas,
genéticas ou neuropsíquicas, com repercussões comportamentais.
Intoxicação: É um estado deletério manifestado pela introdução no organismo de produto
potencialmente danoso.
Toxicidade aguda: É aquela produzida por uma única dose, seja por via oral, dermal ou pela inalação
dos vapores. O processo tóxico em que os sintomas aparecem nas primeiras 24 horas após a
exposição às substâncias.
Toxicidade crônica: É aquela que resulta da exposição contínua a um defensivo, sendo que este não
pode causar não causa toxicidade aguda por apresentar-se em baixas concentrações. A toxicidade
crônica é mais importante que a toxicidade aguda, pois normalmente ocorre pela contaminação de
alimentos ou lentamente no seu ambiente de trabalho. Processo tóxico em que os sintomas aparecem
após as primeiras 24 horas, ou mesmo de semanas ou meses após a exposição às substâncias.
Toxicidade Recôndita: É o processo tóxico em que ocorrem lesões, sem manifestações clínicas.
Veneno: É todo e qualquer produto natural ou sintético, biologicamente ativo, que introduzido no
organismo e absorvido, provoca distúrbios da saúde, inclusive morte, ou, se aplicado sobre tecido vivo e
capaz de destruído.
DL50 (Dose Letal): É a dose letal média de um produto puro em mg/Kg do peso do corpo. Esta
terminologia pode ser empregada para intoxicação oral, dermal ou inalatória.
Dosagem Diária Aceitável (DDA): Quantidade máxima de composto que, ingerida diariamente,
durante toda a vida, parece não oferecer risco apreciável à saúde.
Carência: Compreende o período respeitado entre a aplicação do agrotóxico e a colheita dos
produtos.
Efeito Residual: Tempo de permanência do produto nos produtos, no solo, ar ou água podendo trazer
implicações de ordem toxicológica.
Antídoto: Toda substância que impede ou inibe a ação de um tóxico é chamada antídoto.

Tipos de tóxicos

Maconha: também denominada marijuana, diamba, liamba, fumo-de-angola, erva maldita, erva-do-
diabo, canábis, birra, haxixe e maria-joana, é conhecida na China e na Índia há 9 mil anos. É extraída
de certas partes das folhas da Cannabis sativa, planta dióica, erecta, de cheiro acre e inflorecência
verde-escura. Seu odor é forte e quando em forma de planta seca se parece com o orégano ou com o
chá grosseiramente picado. Nativa das regiões equatoriais e temperadas, é a droga mais consumida no
mundo inteiro. Seus maiores exportadores são a Birmânia, a África do Norte, o México e o Líbano. No
Brasil, está bastante difundida, principalmente no norte e nordeste, nos estados de Alagoas, Maranhão,
Piauí e Pernambuco.
Seu consumo é através de xaropes, pastilhas, infusões, bolos de folhas para mascar e, mais
acentuadamente, em forma de cigarros (baseados, dólar, fininho) ou em cachimbos especiais
chamados ―maricas‖.
Alguns não a consideram propriamente um tóxico por não trazer dependência, tolerância, nem crise
de abstinência. Outros já a aprovam para uso médico em casos de glaucoma e como analgésico e
calmante nos casos de câncer terminal. Mas é um excitante de graves perturbações psíquicas e leva o
viciado a associar outro tipo de droga.
Muitos viciados permanecem em completa prostração, enquanto outros se tornam agitados e
agressivos. Traz, como regra, a lassidão, o olhar perdido a distância, um comportamento excêntrico,
uma memória afetada e uma falta de orientação no tempo e espaço. Perdem a ambição, valorizam
apenas o presente. Têm uma ilusão de prolongamento de vida e uma sensação de flutuar entre as
nuvens.
Sua percepção é deformada e surgem problemas psicológicos como: fuga da realidade, indiferença e
desligamento completo na fase mais aguda. As ilusões, alucinações e dissociação de ideias são
manifestações mais raras.
Seu mecanismo de ação não está ainda bem explicado e se conhece pouco sobre seus efeitos
apesar dos avanços das investigações científicas. A ação do princípio ativo do tetraidrocabiol (THC),
tudo faz crer, limita-se aos centros nervosos superiores. Sabe-se que in vitro a maconha inibe a
atividade da adenilatociclase em determinadas células neuroniais através da proteína G. Seu efeito
varia de 2 a 8 horas.

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Sua nocividade é relativa, pois não leva à dependência física, não cria crise de abstinência e podem
os viciados recuperados com certa facilidade, principalmente os usuários leves. No entanto, os usuários
pesados podem apresentar a ―síndrome de abstinência‖.
O haxixe é retirado da resina seca de folhas esmagadas de maconha e comercializado em forma de
tabletes sólidos, secos e duros, ou úmidos e amolecidos, sendo geralmente misturado ao fumo e usado
em cigarros ou cachimbo.

Morfina: morfinomania ou morfinofilia é o uso vicioso de tomar morfina. Os mais fracos, com
predisposição ao vício, com uma primeira dose da droga facilmente se escravizam. Por outro lado, há
profissões que facilitam a aquisição da substância, como médicos, farmacêuticos e enfermeiras.
O viciado começa aos poucos, com pequenas doses quase homeopáticas. E cada vez mais o
organismo vai exigindo dose maior. Chegam, alguns deles, a tomar a cifra inacreditável de 6g por dia.
Na fase final, chegam a tomar doses de 30 em 30 minutos.
A morfina é um alcaloide derivado do ópio e apresenta-se em forma de líquido incolor. Esse narcótico
intramuscular, aplicada nas mais diferentes regiões do corpo, principalmente nos braços, no abdome e
nas coxas. O viciado mesmo aplica as injeções. Na fase final, premido pela necessidade da droga,
aplica-se sem assepsia e vai criando, ao longo do corpo, uma série de pequenos abscessos. Ou então,
esteriliza a agulha na chama de uma vela ou de um fósforo, produzindo nas regiões picadas inúmeras
tatuagens provenientes da fuligem.
No início do uso da droga, o paciente sente-se eufórico, disposto, extrovertido, loquaz e alegre. Essa
fase é chamada de ―lua-de-mel da morfina‖.
Com o passar dos tempos, o viciado emagrece, torna-se pálido, de costas arqueadas e cor de cera.
Envelhece precocemente, a pele enruga e o cabelo cai. Surgem a insônia, os suores, os tremores, as
angústias, o desespero, a inapetência, a impotência sexual e os vômitos. Entra no ―período de estado‖,
passa à fase de caquexia, vindo a falecer quase sempre de tuberculose ou de problemas cardíacos.
O processo de intoxicação é rápido. Em pouco tempo, perde o controle, e a necessidade o obriga a
se picar com frequência e em qualquer ambiente, em face da exagerada dependência que a droga
provoca. A inteligência, a memória e a vontade do drogado enfraquecem cedo.
Os homens, quando se viciam por esse narcótico, para obter meios que propiciem a compra da
droga, roubam, furtam, saqueiam, exploram, extorquem, enganam e matam. As mulheres, na fase de
abstinência e de excitação, cometem atos incríveis, descem ao mais baixo nível de prostituição a fim de
adquirirem o tóxico.

Heroína: é um produto sintético (éter diacético da morfina – diacetilmorfina). Tem a forma de pó


branco e cristalino. Após a diluição, ele é injetado. Pode, ainda, ser misturado ao fumo do cigarro.
O aspecto do intoxicado é semelhante ao da morfina. Sua decadência é maior e mais rápida, pois a
heroína é cinco vezes mais potente que a morfina. Em poucas semanas, o drogado torna-se um
dependente; com 30 dias de uso, o viciado já necessita de tomar uma injeção em cada duas horas.
Provoca náuseas, vômitos, delírios, convulsões, bloqueios do sistema respiratório, e a morte sobrevém
muito rápida.
Tão nociva é essa droga, que muitos países já proibiram sua fabricação e, inclusive, o sem emprego
pelos médicos.

Cocaína: é um alcaloide estimulante, extraído das folhas da coca. Esse vegetal é um arbusto sul-
americano.
Apresenta-se na forma de pó branco para ser aspirado como rapé, por fricção da mucosa gengival
ou diluído e aplicado como injeção.
É também conhecido como ―poeira divina‖, de uso mais largo entre os rufiões e elegantes prostitutas,
ou, como mais recentemente, entre os membros da fina flor da sociedade burguesa.
Colocado na mucosa nasal por aspiração, é esse alcaloide absorvido rapidamente pelo organismo. A
continuação do uso da cocaína por via nasal termina perfurando o septo nasal, lesão esta muito
significativa para o diagnóstico da cocainomania.
Um dos fatos que mais chama a atenção num viciado por essa droga é o contraste arrasador entre
uma decadência física lamentável e um humor imoderado e injustificável. Os olhos do drogado por
cocaína são fundos, brilhantes, de pupilas dilatadas. Há um tremor quase generalizado, mais
predominante nos lábios e nas extremidades dos membros. Tiques nervosos e excitações repentinas.
Na intoxicação aguda pela cocaína o paciente apresenta uma série de sintomas, quais sejam:
a) psíquicos: excitação motora, agitação, ansiedade, confusão mental e loquacidade;
b) neurológicos: afasia, paralisias, tremores e, às vezes, convulsão;

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c) circulatórios: taquicardia, aumento da pressão arterial e dor precordial;
d) respiratórios: polipneia e até síncope respiratória;
e) secundários: náuseas, vômitos e oligúria.

É tão grave a nocividade dessa droga que, mesmo depois da cura pela desintoxicação, o viciado não
se recupera das lesões mais graves do sistema nervoso. Tem estados depressivos e de angústia,
alucinações visuais e tácteis, delírios de perseguição e complexo de culpa. Envelhece muito
precocemente, e a morte é quase sempre por perturbações cardíacas.

LSD 25: é uma droga alucinógena, um produto semissintético, extraído da ergotina do centeio
(dietilamina do ácido lisérgico).
Consome-se em tabletes de açúcar ou num fragmento de cartolina manchado sutilmente da droga,
dissolvido na água e ingerido. É uma droga de maior poder alucinógeno conhecido.
O viciado tem o aspecto de uma pessoa com náuseas. Mostra uma intensa depressão, tristeza e
fadiga. O comportamento transforma-se transitoriamente, como se observa nas doenças mentais.
Perturbações da percepção do mundo exterior, delírios e alucinações. Crises constantes de convulsões,
chegando até ao estado comatoso. Surgem pesadelos terríveis, dos quais a vítima pode ficar prisioneira
para sempre. É o suicídio do drogado.
O mais trágico é que esses produtos alucinógenos, como LSD, mescalina, silobina, entre outros, não
apenas seduzem os jovens desajustados e de personalidade desarmônica, mas também arrastam
grande parte de uma juventude que poderia ser a esperança de um povo na tentativa de edificar um
mundo melhor.
Um Comitê Especial criado Pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas vem se
mostrando profundamente preocupado com a generalização desta forma de vício e passou a exigir das
autoridades uma fiscalização mais rigorosa.
Recomendou aquele Comitê que o uso do LSD produz quatro grupos de reações. O primeiro grupo
de manifestações caracteriza-se pela consciência do drogado de que suas forças e suas possibilidades
aumentam sem limites. Sente-se um ―todo poderoso‖. Chama-se a esse estado de reação
megalomaníaca. Como exemplo, cita-se o caso de uma jovem de 18 anos que, depois de haver tomado
essa droga, convenceu-se de que podia voar como um pássaro atirando-se pela janela do edifício.
O segundo grupo de reações é de conotações completamente opostas às primeiras: estado de
depressão profunda, angústia e solidão. Sente-se como um ser indigno, pecador, incapaz, tendendo, na
maioria das vezes, ao suicídio.
As reações do terceiro grupo compreendem as perturbações paranoicas. Sentem-se perseguidos por
pessoas que tentam contra sua vida, principalmente aquelas que o rodeiam. E, assim, partem logo para
o ataque, causando lesões graves ou a morte daquelas.
O quarto grupo de reações é caracterizado por um estado de confusão geral cujos sintomas se
assemelham aos das doenças mentais: ilusões, alucinações, ideias irracionais, sentimentos absurdos,
incapacidade de se orientar no tempo e espaço. Esses estados geralmente duram pouco e podem
prolongar-se por muito tempo. Uma criança de 8 anos que, acidentalmente, comeu um torrão de açúcar
com uma gota do LSD dissolvido teve uma crise de loucura que demorou nove meses para se
recuperar. (El Correo, Revista da UNESCO, maio de 1968).

Barbitúricos: chama-se barbiturismo ao uso abusivo e vicioso dos barbitúricos. Os barbitúricos são
drogas muito usadas pelos viciados, na falta de outro tóxico.
Quando utilizadas em doses adequadas e por indicação médica, estas drogas não chegam a trazer
incômodos e são benéficas ao paciente. Porém, quando ingeridas de forma imoderada e sem controle
médico, acarretam sérios distúrbios ao organismo.
A embriaguez barbitúrica caracteriza-se por tremores, perturbações da marcha, disartria, sonolência,
estado confusional, apatia e bradipsiquia. A retirada repentina dessa substância traz desordens
psíquicas e convulsões. Em dosagem excessiva leva a uma grave depressão do sistema nervoso
central, podendo o paciente ir ao coma ou à morte.

Ópio: é extraído das cápsulas da papoula Papaversomniferum. Como tóxico é consumido sob a
forma de cigarros. Seu processo de obtenção e industrialização é muito difícil, por isso é um tóxico
pouquíssimo usado no Brasil.
O viciado em ópio tem uma fase de excitação geral, principalmente sobre o aparelho circulatório, daí
sua hiperatividade funcional com estímulos, entre outros, das funções psíquicas. Em seguida, passa o

22
drogado para uma fase de depressão, de indiferença e de abatimento que o impede de qualquer
movimentação ou esforço.
A inteligência torna-se obscura, a memória, prejudicada, o estado físico é de prostração e a angústia
começa a se intensificar. Como o ópio leva o organismo a uma hiperatividade mais ilusória do que real,
a vítima gasta intensamente suas reservas e, muito cedo, se depaupera e se aniquila.

Anfetaminas: o consumo abusivo de anfetaminas – ―bolinhas‖ – constitui, no momento, o maior


problema médico e social no que se refere aos tóxicos no país.
Têm sido usadas essas drogas por todos os viciados que não dispõem do seu tipo de tóxico. Usam
para evitar a sonolência, para desinibir, para euforizar.
A intoxicação aguda pelas anfetaminas caracteriza-se pela inquietação psicomotora, incapacidade de
atenção, obnubilação da consciência, estado de confusão com manifestações delirantes.
Seu uso é por ingestão com água, dissolvidas em bebidas alcoólicas ou dissolvidas e injetadas na
veia. Essa é a droga mais usada e mais facilmente adquirida no Brasil.

Crack: o crack tem um efeito muito semelhante ao da cocaína, entretanto percebido mais
rapidamente e com poder maior de viciar e produzir danos. Praticamente ele é constituído da pasta
base da cocaína, como um subproduto, e por isso é muito mais usado entre os viciados de poder
aquisitivo reduzido. Seu uso é através da aspiração em cachimbos improvisados e é apontado como a
droga mais usada nas cidades do sul e sudeste do Brasil. Os efeitos tóxicos e os efeitos sobre o
cérebro são muito parecidos com a da cocaína: dilatação das pupilas, irritabilidade, agressividade,
delírios e alucinações. Com o tempo, o usuário de crack começa a apresentar uma sensação de
profundo cansaço e de grande ansiedade.

Cogumelo: certos cogumelos de alta toxidade, pertencentes ao grupo de alucinógenos naturais, são
capazes de provocar reações as mais variadas, inclusive levando ao delírio e às alucinações. Seus
usuários referem percepção de sons incomuns e cores mais vivas e brilhantes.
Seu uso é através da infusão proposital ou pela ingestão acidental ou ainda de forma comestível.
Sua ação é geralmente de aparição tardia e apresenta as vitimas três tipos de manifestações: as
chamadas manifestações coléricas que têm como sintomas vômito, cólicas, diarreia, câimbras e
desmaios; as manifestações hepatorrenais que se caracterizam pelo aparecimento de icterícia,
hematúria e oligúria; as manifestações neurológicas que traduzem por sintomas como agitação, delírios,
euforia paradoxal, convulsões, podendo chegar ao coma.

Cola: a cola é constituída de hidrocarbonetos de efeitos muito rápidos sobre o sistema nervoso,
embora de pouca duração. Pode levar à euforia e à alucinação. Numa fase mais avançada, a cola pode
causar lesões graves na medula, nos rins, fígado e nervos periféricos. Seu uso é por inalação.

Merla: a merla é uma opção mais barata do crack, obtida a partir da pasta de coca, fabricada em
laboratórios improvisados, com a ajuda de produtos químicos, como benzina, querosene, gasolina,
ácido sulfúrico, éter e metamol. Apresenta uma consistência pastosa, tonalidade que varia do amarelo
ao marrom e um cheiro muito ativo. Seu uso é através de cigarros ou cachimbo, misturado com fumo ou
puro.
Os efeitos dessa droga duram cerca de 15 minutos e sua sensação a princípio é de bem-estar e
leveza, depois segue-se uma sensação desagradável e de inquietação, deixando o individuo agitado e
nervoso. Pode levar até à alucinações mais graves. Tem um poder destrutivo muito maior que o do
crack.
A pele do indivíduo que consome merla tem cheiro permanente e desagradável em virtude das
substâncias a ela adicionadas no refino da droga. O primeiro órgão a ser atingido é o fígado, com
agressão às células hepáticas, podendo levar à hepatite tóxica. Depois o cérebro, com a destruição dos
neurônios, tendo como consequência a perda progressiva da memoria e problemas de coordenação
motora. Pode ainda provocar a fibrose pulmonar e a alteração do ritmo cardíaco.

Visão Médico-Jurídica.

Mesmo acreditando que uma vitória completa na luta contra as drogas seja uma utopia, isto não
impede que se promovam políticas sérias e consequentes que tenham como meta o enfrentamento do
grave problema das toxicomanias. Essas batalhas devem concentrar-se prioritariamente na prevenção,

23
na humanização do tratamento e da reinserção do drogado no eu meio social e na luta impiedosa contra
o tráfico de drogas.
Quando da edição da Lei 10.409, de 11 de janeiro de 2002, em fase de inúmeras mutilações de seu
anteprojeto, verificou-se uma profunda decepção por parte dos operadores das áreas médicas e
jurídicas, principalmente no que diz respeito a prevenção, tratamento, fiscalização, controle e às
constantes dificuldades na sua aplicação nos procedimentos e criminais orientados por essa norma.
Agora, com sua revogação e a vigência da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, abrem-se
algumas perspectivas de avanço na política. Sua principal novidade é a descriminalização da posse de
droga para consumo pessoal e o aumento significativo da pena para o tráfico de drogas, que passa de 3
a 15 anos para 5 a 15 anos, além de 500 a 1500 dias-multa. Continua em vigor a defesa antes do
recebimento da denúncia, ficando garantido o contraditório no interrogatório.
O tráfico internacional continua a ser de competência da Justiça Federal. Pelas leis antigas, quando
uma comarca não tivesse instalado a vara, a Justiça Estadual julgaria o crime. Pela nova lei, será da
vara federal mais próxima a competência para o julgamento dos delitos dessa natureza.
Essa nova lei institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD), que prioriza
medidas de prevenção, atenção e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e cria normas
para repressão à produção e ao tráfico ilícito de drogas. E considera como droga substâncias ou os
produtos capazes de causar dependência especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas
periodicamente pelo Poder Executivo da União (artigo 1º).
O artigo 3º assegura que o SISNAD tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as
atividades relacionadas com:
I – a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de
drogas.
II – a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de droga.

E tem como princípios:


I – o respeito aos direitos fundamentais da pessoa humana, especialmente quanto à sua autonomia e
à sua liberdade;
II – o respeito à diversidade e às especificidades populacionais existentes;
III – a promoção dos valores éticos, culturais e de cidadania do povo brasileiro, reconhecendo-os
como fatores de proteção para o uso indevido de drogas e outros comportamentos correlacionados;
IV – a promoção de consensos nacionais, da ampla participação social, para o estabelecimento dos
seus fundamentos e estratégias;
V – a promoção de responsabilidade compartilhada entre Estado e Sociedade, reconhecendo a
importância da participação social na atividades do SISNAD;
VI – o reconhecimento da intersetorialidade dos fatores correlacionados com o uso indevido de
drogas, com a sua produção não autorizada e eu tráfico ilícito;
VII – a integração das estratégias nacionais e internacionais de prevenção do uso indevido, atenção
e reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não
autorizada e ao seu tráfico ilícito;
VIII – a articulação com os órgãos do Ministério Público e dos Poderes Legislativo e Judiciário,
visando à cooperação mútua nas atividade do SISNAD;
IX – a adoção de abordagem multidisciplinar que reconheça a interdependência e a natureza
complementar das atividades de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção social de usuários
independentes de drogas, repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.
X – a observância do equilíbrio entre as atividades de prevenção do uso indevido, atenção e
reinserção social de usuários e dependentes de drogas e de repressão à sua produção não autorizada
e ao seu tráfico ilícito, visando a garantir a estabilidade e o bem-estar social; XI – a observância às
orientações e normas emanadas do Conselho Nacional Antidrogas – CONAD.

O SISNAD tem os seguintes objetivos:

I – contribuir para a inclusão social do cidadão, visando torna-lo menos vulnerável a assumir
comportamentos de risco para o uso indevido de drogas, seu tráfico ilícito e outros comportamentos
correlacionados;
II – promover a construção e a socialização do conhecimento sobre drogas no país;
III – promover a integração entre as políticas de prevenção do uso indevido, atenção e reinserção
social de usuário e dependentes de droga e de repressão à sua produção não autorizada e ao tráfico

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ilícito e as políticas públicas setoriais dos órgãos do Poder Executivo da União, Distrito Federal, Estados
e Municípios;
IV – assegurar as condições para a coordenação, a integração e a articulação das atividades de que
trata o artigo 3º desta Lei.

As instituições que têm atuação nas áreas da atenção à saúde e da assistência social e que atendem
usuários ou dependentes de drogas devem comunicar ao órgão competente do respectivo sistema
municipal de saúde o casos atendidos e os óbitos ocorridos, preservando a identidade das pessoas,
conforme orientações emanadas da União.
O artigo 21 afirma que constituem atividades de reinserção social do usuário ou do dependente de
drogas e respectivos familiares devem observar os seguintes princípios e diretrizes:
I – respeito ao usuário e ao dependente de drogas, independentemente de quaisquer condições,
observados os direitos fundamentais da pessoa humana, os princípios e diretrizes do Sistema Único de
Saúde e da Política Nacional de Assistência Social;
II – a adoção de estratégias diferenciadas de atenção e reinserção social do usuário e do
dependente de drogas e respectivos familiares que considerem as sua peculiaridades socioculturais;
III – definição de projeto terapêutico individualizado, orientado para a inclusão social e para a
redução de riscos e de danos sociais e à saúde;
IV – atenção ao usuário ou dependente de drogas e aos respectivos familiares, sempre que possível,
de forma multidisciplinar e por equipes multiprofissionais;
V – observância das orientações e normas emanadas do CONAD – o alinhamento às diretrizes dos
órgãos de controle social de políticas setoriais específicas.

As penas poderão ser aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas a qualquer
tempo, ouvidos o Ministério Público e o defensor. Assim, quem adquirir, guardar, tiver em depósito,
transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, droga sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I – advertência sobre os efeitos das drogas;
II – prestação de serviços à comunidade;
II – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

A prestação de serviços à comunidade será cumprida em programas comunitários, entidades


educacionais ou assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins
lucrativos, que se ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de
usuários e dependentes de drogas.
O profissional de saúde que prescrever ou ministrar culposamente, drogas, sem que delas necessite
o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena: detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos)
dias – multa. O juiz ainda comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a
que pertença o agente (artigo 38).
Pelo que se vê, a comentada Lei atende a um principio da Constituição Federal de 1988 que
estabelece a transação penal para determinados crimes rotulados de ―infrações de menor potencial
ofensivo‖, cuja pena máxima não ultrapasse 2 (dois) anos ou multa.
Assim, nessa nova Lei, a posse de droga para consumo próprio se reveste numa infração sui
generis, onde não se decretará pena de prisão ao portador de droga para consumo próprio, ficando
apenas sujeito aos benefícios das medidas alternativas que podem ir da simples advertência até a
prestação de serviços à comunidade.
Um dos pontos fracos da Lei nº 11.343/2006 é o fato de os usuários, mesmo tendo sido por decisão
judicial orientados ao tratamento não estarem obrigados a fazê-lo, pois não há força determinante para
o internamento.
Não há nenhuma dúvida de que essa lei veio para contribuir na luta contra o tráfico de drogas e para
humanizar o tratamento jurídico do viciado e do consumidor eventual.

Drogas sujeitas a controle:

A venda ao público de drogas sujeitas a controle passou, através da Portaria nº 20 da DIMED –


Divisão Nacional de Vigilância Sanitária de Drogas, Medicamentos, Insumos Farmacêuticos, Produtos
Dietéticos e Correlatos, a ser privativa das farmácias e drogarias, e só será feita mediante apresentação
de receita prescrita em folha de bloco de ―receituário profissional‖.

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As receitas desses medicamentos controlados só poderão ser aviadas quando:
1 – prescritas por médicos legalmente habilitado;
2 – escritas por extenso, legivelmente, em português, a tinta e do próprio punho;
3 – contiverem nome completo do doente e sua residência ou consultório, número do CRM e data de
prescrição;
4 – contiverem, de forma legível, o nome do medicamento e sua posologia;
5 – as quantidades forem prescritas em algarismos arábicos e por extenso.

A prescrição a doentes internados ou em tratamento ambulatorial dos medicamentos e substâncias


controladas será feita em folha de bloco de ―receituário hospitalar‖, em papel cor-de-rosa claro e
subscrito por profissional legalmente habilitado, com efetivo exercício no estabelecimento ou que
comprove sua condição de médico assistente do doente, internado, em regime de semi-internato ou em
tratamento ambulatorial.
De acordo com a portaria anteriormente mencionada, as receitas do ―receituário hospitalar‖ aviada no
próprio estabelecimento serão arquivadas em ordem cronológicas e ficarão à disposição da autoridade
sanitária competente para o devido controle.

Perícia.

A perícia médico-legal, no campo das toxicofilias, é de indiscutível magnitude. Vai desde a


identificação da substância tóxica, quantidade consumida, até o estudo bi psicológico para caracterizar
o estado de dependência. Não se pode também omitir, nesse exame, o estudo da personalidade do
examinado. E, sobre isso, afirmam Hilário Veiga de Carvalho e Marco Segre: ―Este exame deveria ser
fundamental em todo seu contorno, pois os aspectos comportamentais têm, no exame da
personalidade, a sua base e a sua fonte, de melhor compreensão de toda conduta do toxicômano.
Acreditamos que um exame desta natureza deveria ser de rotina habitual, sem exceções, desde que é a
partir de seu conhecimento que uma compreensão é valida se pode alcançar de todo o complexo
fenômeno da toxicomania‖ (in Tóxicos, Bauru: Editora Jalovi, 1978).
O artigo 50 da Lei nº 11343/2006, em seu parágrafo 1º diz: ―Para efeito da lavratura do auto de
pressão em flagrante e estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação
da natureza e da quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na sua ausência, por pessoa
idônea‖! E, no parágrafo 2º: ―O perito que subscrever o laudo a que se refere o § 1º deste artigo não
ficará impedido de participar da elaboração do laudo definitivo‖. Percebe-se, portanto, a importância da
perícia na caracterização do flagrante, no sentido de determinar a natureza tóxica da substância e a sua
capacidade de provocar dependência.
Não se pode deixar também de assinalar a importância da caracterização desse flagrante, do exame
do indivíduo em estado de intoxicação, quando determinados exames possam comprovar certas
manifestações evidentes do consumo de tóxicos. Nos dispositivos anteriormente citados, há referências
à natureza das substâncias em poder do agente. É claro que estes exames não são de resultados tão
fácies, pois, além de dificuldade de um bom método de pesquisa dos tóxicos e de seus metabólicos,
haverá ainda o risco de, no momento do exame, não existirem mais vestígios da droga utilizada.
Portanto, o fundamental não é simplesmente a identificação da natureza da substância em poder do
usuário ou portador, mas o estudo detalhado da personalidade do viciado, a fim de dar ao julgador
maiores subsídios à aplicação da Lei, a qual tem como princípio basilar a prevenção e a recuperação do
toxicômano.
A perícia médico-legal poderá contribuir também na avaliação da imputabilidade do drogado. Se o
juiz absolver o agente, reconhecendo por força da perícia oficial, que ele, em razão da dependência,
era, ao tempo da ação ou omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fasto ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento, deve ordenar que o mesmo se submeterá a
tratamento médico.
Seria muito importante que a Lei tivesse indicado a perícia médico-legal, para definir a recuperação
de dependentes, e ouvido o Ministério Público, no encerramento do processo, como determinava a Lei
anterior.

Embriaguez

Embriaguez é o conjunto de manifestações psicossomáticas resultantes da intoxicação etílica aguda,


de caráter episódico e passageiro. Por outro lado, alcoolismo denomina um conjunto de perturbações
orgânicas e psíquicas resultantes do uso imoderado e contínuo do álcool ou etanol.

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O consumo exagerado de bebidas alcoólicas leva sempre à embriaguez e até mesmo ao alcoolismo,
criando assim problemas de ordem médica, psiquiátrica, psicológica, policial, médico-legal, bem como
ações que podem se desdobrar no âmbito dos tribunais.

Embriaguez alcoólica aguda: as perturbações produzidas pelo uso excessivo do álcool estão mais
em razão direta da tolerância individual do que da quantidade ingerida.

Manifestações físicas: congestão das conjuntivas, taquicardia, taquipnéia e hálito alcoólico-acético.

Manifestações neurológicas: alterações do equilíbrio e da marcha (marcha ebriosa ou cerebelar ou


atáxica) e perturbações da coordenação motora (ataxia, dismetria, assinergia, disdiadococinesia,
disartria, lentidão dos movimentos, inibição relativa da sensibilidade tátil, dolorosa e térmica, fenômenos
vagais, soluço, vômito, e embotamento das funções sensoriais - baixo rendimento da visão, audição,
gustação e olfação).

Manifestações psíquicas: alterações do humor, do senso ético, da atenção, do senso-percepção, do


curso do pensamento, da associação de ideias. Pouco a pouco, o indivíduo apresenta atitudes
caracterizadas pelo exagero e pelo ridículo. Falastrão, inconveniente. Loquaz e bem humorado, sua
atenção é diminuída, sua memória intensamente prejudicada e pobre. Avalia as coisas
intempestivamente, em virtude da deficiência das inibições morais e intelectivas. Audacioso e impulsivo
chega muitas vezes a atentar contra a moral pública. O ato sexual fica prejudicado.

- Fases da embriaguez:
Fase de excitação: o indivíduo se mostra loquaz, vivo, olhar animado, humorado e gracejador. Diz
leviandades, revela segredos íntimos e é extremamente instável. É a fase de euforia.
Fase de confusão: surgem as perturbações nervosas e psíquicas. Disartria, andar cambaleante e
perturbações sensoriais. Irritabilidade e tendências às agressões.
Fase de sono ou comatosa: o paciente não se mantém em pé. Caminha se apoiando nos outros ou
nas paredes e termina caindo sem poder erguer-se, mergulhando em sono profundo. Sua consciência
fica embotada, não reagindo aos estímulos normais.
As pupilas dilatam-se e não reagem à luz. Os esfíncteres relaxam-se e a sudorese é profusa.

Tolerância ao álcool: uma mesma quantidade de álcool ministrada a várias pessoas pode acarretar,
em cada uma, efeitos diversos. Igualmente pode produzir num mesmo indivíduo efeitos diferentes,
dadas circunstâncias meramente ocasionais.
- quanto maior o peso, mais diluído o álcool;
- a absorção varia com a concentração alcoólica, o ritmo da ingestão, a vacuidade ou a plenitude
gástrica, e os fenômenos de boa ou má-absorção;
- hábito de beber;
- estados emotivos, estafa, sono, temperatura, fumo, doenças e estados de convalescença.
Metabolismo do álcool:
- absorção: via digestiva (estômago e intestino delgado)
- velocidade de absorção
- passagem direta a veia porta e fígado
- distribuição pelos tecidos em geral (equilíbrio de difusão)
- oxidação.

Pesquisa bioquímica do álcool: Saliva, urina, líquor, ar expirado, sangue.


Avaliação dos resultados: o perito deverá responder à Justiça, afirmando:
1º se há ou não embriaguez;
2º se, em caso afirmativo, a embriaguez é ou não completa;
3º se a embriaguez comprovada é um fenômeno episódico, ocasional ou se se trata de um estado de
embriaguez aguda manifestada em alcoolismo crônico;
4º se se trata de uma embriaguez patológica;
5º se, no estado em que se encontra o paciente, pode ele pôr em risco a segurança própria ou
alheia;
6º se é necessário o tratamento compulsório.

Formas de embriaguez:

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- voluntária
- culposa
- preterdolosa
- fortuita
- acidental
- por força maior
- habitual
- patológica

Alcoolismo crônico:

Manifestações somáticas: hepatomegalia, edemas palpebrais, tremores, abdome aumentado,


pescoço fino, insegurança na marcha, congestão das conjuntivas, dispepsia, vermelhidão da face.

Perturbações neurológicas: polineurite, poliencefalite superior hemorrágica de Wemicke, síndrome de


Korsakow.

Perturbações psíquicas: delirium tremens,alucinose dos bebedores, delírio de ciúmes dos bebedores,
epilepsia alcoólica, dipsomanias (crise impulsiva e irreprimível de ingerir grandes quantidades de
bebidas alcoólicas).

Aspectos Jurídicos

Responsabilidade criminal: nossa lei penal considera ser imputável quem se colocou em condições
de inconsciência ou descontrole, de forma culposa ou dolosa e, comete o delito.
A norma reconhece como responsável a pessoa que comete o crime em estado de embriaguez
aguda, ainda que completa, se essa embriaguez resulta de ato voluntário ou culposo.
Se um indivíduo se coloca deliberadamente num estado de embriaguez, a fim de criar maiores
condições para a prática do delito, a responsabilidade é agravada .Entretanto, se a embriaguez é
absoluta e por força maior, acidental, patológica ou em caso fortuito, a responsabilidade não existe.

Responsabilidade criminal: E, na embriaguez relativa, a pena é atenuada de um a dois terços.


O atual Código Penal determina a medida de segurança para tratamento imprescindível do agente, a
fim de restaurar a ordem comum, fazer a profilaxia do crime e recuperar o indivíduo.
O Decreto-lei nº 3.688, de 3 de outubro de 1941 (Lei das contravenções Penais), pune com prisão
simples de 15 dias a três meses ou multa - "art. 62: apresentar-se publicamente em estado de
embriaguez, de modo que cause escândalo ou ponha em perigo a segurança própria ou alheia".

Toxicomanias

Toxicomania é traduzida pela "vontade" anormal e prolongada de ingestão de substâncias tóxicas ou


drogas que determinados indivíduos exibem. Esta vontade torna-se rapidamente num hábito e origina
quase inevitavelmente o aumento progressivo das doses ingeridas.
As drogas, no sentido amplo do termo, são quaisquer substâncias naturais ou de síntese (fabricadas
pelo homem) que ao serem absorvidas pelo organismo humano, provocam dependência e alterações
físicas e/ou psicológicas. As substâncias tóxicas também têm o poder de provocar no organismo uma
certa degradação física e/ou mental.
As toxicomanias podem ser divididas em duas grandes categorias: em drogas leves ou toxicomanias
menores (como, por exemplo, cannabis, álcool, tabaco, café, etc.) e em drogas pesadas ou
toxicomanias maiores (como, por exemplo, heroína e cocaína).
São várias as razões para que se chegue a toxicómano, desde as justificadas pelas dores
insuportáveis dos cancerosos ou outro tipo de doentes, a razões de desgostos, mortes ou até timidez,
por recusa do mundo tal como está organizado, como forma de contestação ou ainda, e principalmente,
pelo facto de as famílias dos toxicómanos serem desunidas e agressivas e não demonstrarem qualquer
afeto ou emoção pelos membros que as constituem.
Uma outra razão em especial é o fenómeno da contaminação, ou seja, "uns puxam os outros" pois
numerosas entradas na toxicomania são explicadas pela pressão dos grupos aos seus elementos.
No estudo das toxicomanias existem dois conceitos muito importantes: o conceito de sintoma de
tolerância e de síndrome de abstinência. O primeiro é explicado como a resposta do nosso organismo a

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uma agressão externa (o consumo da droga ou toxina) que destrói o equilibrado e saudável
funcionamento do organismo. Deste modo, a tolerância conduz a um aumento crescente das doses
iniciais a fim de reequilibrar o organismo tentando encontrar a sensação inicialmente procurada. O
segundo, a síndrome de abstinência, traduz-se no estado de privação do indivíduo das drogas e
produtos habitualmente ingeridos.
Cada tipo de droga e cada tipo de substância tóxica produz determinados efeitos e sintomas
específicos nos indivíduos. Deste modo, também os tratamentos são muito concretos, dependendo de
cada pessoa, do seu historial de consumo de drogas e do seu estado de saúde. Contudo todo o
processo terapêutico implica geralmente a passagem por duas fases diferentes: parar com os
consumos tóxicos e reaprender a viver sem drogas. Para tal, os toxicómanos devem ser afastados dos
locais de consumo e dos consumidores em geral e, em particular, devem executar um novo projeto de
vida.

5. Energias de Ordem Física: Efeitos da temperatura, eletricidade,


pressão atmosférica, radiações, luz e som

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

Estudam-se todas as lesões produzidas por uma modalidade de ação capaz de modificar o estado
físico dos corpos e de cujo resultado podem surgir ofensa corporal, dano à saúde ou morte. As energias
de ordem física mais comuns são: temperatura, pressão atmosférica, eletricidade, radioatividade, luz e
som.
- Temperatura: o frio, o calor e a oscilação de temperatura.
a) Calor
Calor difuso: insolação (calor ambiental em locais abertos ou raramente em espaços confinados) e
internação (excesso de calor ambiental).
Calor direto: queimaduras.
As queimaduras são lesões resultantes da atuação direta do calor, em qualquer de suas formas,
sobre o revestimento cutâneo e/ou o organismo. Embora sejam as lesões tissulares as que chamam
mais a atenção nas queimaduras, estas devem ser consideradas nos grandes queimados, como
afecções gerais graves, pois, mormente na fase inicial, e dependência de grau, delas resultam
alterações que atingem indistintamente todos os setores do organismo, até colocando a vida em perigo.
São ditas simples, quando as lesões são produzidas apenas pelo agente calor: líquidos e vapores
em alta temperatura, sólidos aquecidos ou ao rubro, substâncias inflamáveis, em combustão (éter,
gasolina, querosene, benzina), contato direto com o calor radiante, as radiações não ionizantes (sol,
ultravioleta, infravermelho) e raios laser; e complexas, quando resultam da ação do atrito em relação ao
calor e de outros fatores próprios do agente agressivo, por exemplo, queimaduras produzidas por
eletricidade, fricção, raios X, raios gama nêutrons, líquidos plásticos, graxas sob pressão ou compostos
fluorídricos

Classificação das queimaduras:


- 1º Grau: eritema simples - apenas a epiderme é afetada;
- 2º Grau: além do eritema apresentam vesículas ou flictemas com conteúdo seroso;
- 3º Grau: coagulação necrótica dos tecidos moles;
- 4º Grau: carbonização do plano ósseo.

b) Frio: Na ação generalizada do frio, não existe uma lesão típica. A lesão geral do frio leva as
alterações do sistema nervoso, sonolência, convulsões, delírios, perturbações dos movimentos,
anestesia, congestão ou isquemia de vísceras. O diagnóstico de morte por ação do frio é difícil. A ação

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localizada do frio (geladura) produz lesões muito parecidas com as queimaduras. Conforme Callisen, as
geladuras comportam três graus: eritema, flictenas e necrose ou gangrena.
1.º grau — Eritema: inicialmente o frio provoca vasoconstrição acentuada nos capilares e palidez
cutânea e, num segundo tempo, rubefação vermelho- -escura entremeada de áreas lívidas na pele
tensa e luzidia, decorrente da retenção do sangue pobre em oxigênio nesses pequenos vasos dilatados
pela estafa da contratilidade vascular. O indivíduo apresenta tumefação da pele, hipossensibilidade,
prurido, sensações de picadas e dores mal localizadas.

2.º grau — Flictenas: semelhantes às das queimaduras, são produzidas pela estase capilar com
transudação do plasma que destaca e levanta a epiderme em forma de ampolas. Contêm em seu
interior exsudato escuro.

3.º grau — Necrose ou gangrena: úmida ou seca, posterior à mortificação dos tecidos, por
coagulação do sangue dentro dos capilares e perturbações isquêmicas, assestadas, indolores, lívidas
ou azuladas, em qualquer área do tronco e/ou capaz de destruir parte ou a totalidade do membro

c) Oscilações
- Pressão Atmosférica: efeito do ar sobre uma superfície ao nível do mar, temperatura 0ºC e latitude
de 45º (1 atm = 10tonAr/m2 = cm Hg/cm2).

- Baropatias
1) Mal das Montanhas ou Mal dos Aviadores: resulta da queda da pressão atmosférica (pode causar:
taquipnéia; taquicardia – taquisfigmia; mal-estar; incoordenação; perda da consciência; convulsão;
morte).

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2) Mal dos Caixões ou Mal dos Escafandristas: resulta da elevação da pressão atmosférica (pode
causar: disforia; alterações do equilíbrio, coordenação motora e reflexos; perda da noção do tempo e
espaço; perda da consciência; convulsões; morte).

3) Barotraumas: resulta da redução de pressão atmosférica previamente aumentada. É a mais grave


e frequente baropatia, pois resulta da descompressão rápida.(pode causar: embolias por ―efeito
refrigerante‖; graves sequelas; morte).

d) Eletricidade
A eletricidade natural, quando atingida letalmente sobre o homem, denomina-se fulminação e,
quando apenas provoca lesões corporais, chama-se fulguração. A eletricidade artificial tem por ação
uma síndrome chamada de eletroplessão. A lesão mais simples é conhecida por marca elétrica de
Jellinek (forma circular, elítica ou estrelada, de consistência endurecida, bordas altas, leito deprimido,
tonalidade branco-amarelada, fixa, indolor e asséptica).
As queimaduras elétricas são resultantes do calor de uma corrente. A metalização elétrica
(destacamento da pele, com fundo da lesão impregnado de partículas da fusão e vaporização dos
condutores elétricos).

Natural ou Cósmica:
- Fulminação
- Fulguração (Litchtenberg)

Artificial:
Eletroplessão (Jellineck)
a) Intensidade: quantidade de eletricidade que atravessa o condutor.
b) Tensão: indica o potencial elétrico.
- Baixa: até 120 W. (fibrilação ventricular).
- Média: 120 a 1.200 W. (fibrilação ventricular + tetanização respiratória).
- Alta: 1.200 a 5.000 W. (tetanização respiratória).
- Alta: acima de 5.000 W. (paralisia bulbar, apnéia e parada cardíaca).
c) Frequência: é a ciclagem.
d) Resistência: é a oposição oferecida à passagem da corrente e é medida em Ohms.

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e)Radioatividade
Os efeitos radioativos são provocados pelos raios gama e pela radioatividade induzida pelos
nêutrons liberados pela reação em cadeia na explosão da bomba. A radioatividade penetra no
organismo por respiração ou ingestão e atua maleficamente sobre o tecido linfoide, a medula óssea, os
órgãos sexuais, as paredes do intestino delgado, os pulmões, a tireoide, os ossos, os músculos. Assim,
o indivíduo que se expõe à chuva radioativa sofre:
1) alteração dos elementos figurados do sangue semelhante às da agrunolocitose, com focos
hemorrágicos múltiplos e generalizados;
2) alteração da espermatogênese;
3) destruição da membrana de revestimento da parede do intestino delgado, o que favorece a
contaminação de todo o organismo;
4) nos pulmões, esclerose, necrose e câncer;
5) na tireoide, o Iodo-131 provoca hipotiroidismo, necrose e câncer; mesmo um indivíduo que não
tenha estado na área contaminada poderá sofrer essas lesões tireoidianas determinadas pelo Iodo-131
liberado, juntamente com o Estrôncio-90 e o Césio-137, pela fissão atômica; basta tomar o leite de uma
vaca que se tenha alimentado num pasto atingido pelos resíduos radioativos;
6) o Estrôncio-90 deposita-se no esqueleto, principalmente de adolescentes em fase de crescimento,
impedindo a absorção de cálcio, podendo provocar necrose e câncer nos ossos;
7) o Césio-137 aloja-se nos músculos, podendo causar distrofia e diminuição ou perda dos
movimentos normais;
8) leucemia

f) Luz e som
A luz e o som interessam à Medicina Legal porque podem acarretar perturbações neurossensoriais
ópticas ou auditivas, vagossimpáticas, neuroses, respectivamente nos que têm aplicado diretamente
sobre os olhos facho de luz intensa e nos que permanecem, como obreiros, em ambientes de grande
poluição sonora, por período prolongado.

- Luz: A incidência de feixes luminosos de alta intensidade sobre os olhos, como no condenável
terceiro grau, integrante do conjunto de recursos bárbaros usados na investigação policial, objetivando
confissões, pode provocar perturbações neurossensoriais nos globos oculares, como defeitos de
refração, dificuldade ou impossibilidade de mudar a forma do cristalino para convergir na retina raios
luminosos provenientes de objetos que estão a uma distância grande ou pequena (inacomodação), ou
na própria retina — que é a parte sensível do olho onde ocorre a conversão da imagem luminosa em
impulsos elétricos nervosos, os quais são endereçados ao cérebro para serem processados — e perda
irreparável da visão.

- Som: Onda sonora ou som é uma perturbação ou distúrbio mecânico transmitido através de um
meio elástico em que a oscilação é a pressão.
Uma onda sonora é produzida por um elemento vibrador do meio gasoso (cristal, instrumento
musical, cordas vocais). Como o meio gasoso é deformável ou elástico, ocorre a compressão e a

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rarefação, que se propagam como ondas sonoras progressivas. As partículas materiais que as
transmitem oscilam paralelamente à direção de propagação da própria onda. É de ver então que as
ondas sonoras, também chamadas ondas de pressão, ondas de compressão, ou simplesmente som,
são ondas mecânicas longitudinais que se podem propagar em gases, líquidos e sólidos.
Ondas sonoras com frequência abaixo de 20Hz (hertz) são chamadas infrassom e acima de
20.000Hz, ultrassom.
Frequência é o número de vibrações completas, ou ciclos por segundo de uma onda sonora. A
frequência se relaciona diretamente com a altura do som.
Intensidade é a força de um som. A intensidade é medida pela amplitude da onda sonora; é também
medida em decibéis (dB).
Amplitude é a medida da vibração de uma onda sonora, apresentada, amiúde, como uma dimensão
vertical que indica a intensidade do som.
Decibel é padrão de medida da intensidade relativa dos sons. É uma escala logarítmica de base dez
usada para definir o menor nível de intensidade sonora B audível. Dessa forma, o decibel é
aproximadamente igual ou igual à menor variação que o ouvido humano pode perceber.
Ruído permitido 85 dB. As lesões provocadas por explosões, tiros, grandes ruídos são: surdez,
ruptura da membrana do tímpano etc.

6. Energias de Ordem Físico-Química: Asfixias em geral. Asfixias em espécie: por gases


irrespiráveis, por monóxido de carbono, por sufocação direta, por sufocação indireta, por
afogamento, por enforcamento, por estrangulamento, por esganadura, por soterramento e por
confinamento

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

As energias de ordem físico-química são aquelas que impedem a passagem do ar às vias


respiratórias e alteram a composição bioquímica do sangue, produzindo um fenômeno chamado asfixia;
que alteram a função respiratória, inibindo a hematose (transformação do sangue venoso em sangue
arterial), podendo, em consequência, levar o indivíduo até a morte.

Asfixia em geral: literalmente, asfixia significa ―sem pulso‖, pois os antigos acreditavam que, através
das artérias, circulava o ―pneuma‖. A expressão científica mais correta seria anoxemia ou hipoxemia,
porém, se admitirmos em sentido amplo, o termo ―asfixia‖ assume igual proporção, considerando-se que
o transporte de oxigênio é feito pelo sangue arterial. Asfixia, sob o ponto de vista médico-legal, é a
síndrome caracterizada pelos efeitos da ausência do oxigênio no ar respirável por impedimento
mecânico de causa fortuita, violenta e externa em circunstâncias as mais variadas. Ou a perturbação
oriunda da privação, completa ou incompleta, rápida ou lenta, externa ou interna, do oxigênio. Assim, na
asfixia, consome-se o oxigênio presente nos pulmões e acumula-se o gás carbônico que se vai
formando. Finalmente, fica claro que as expressões hipoxemia e anoxemia seriam mais adequadas; no
entanto, a tradição consagrou asfixia como o termo mais usado.

Asfixias Terminais: consequentes a várias doenças que diminuem a área respiratória. Ex:
pneumonias agudas, edemas pulmonares, enfisemas, tumores, laringite diftérica etc.
Asfixias Primitivas: são aquelas em que o agente atua diretamente numa das partes do aparelho
respiratório.

Classificação

A classificação de Afrânio Peixoto é a que mais se aproxima do critério médico-legal, dividindo as


asfixias mecânicas em três grupos distintos:

Asfixias Puras: são manifestadas pela anoxemia e hipercapneia.

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- Asfixia em ambientes por gases irrespiráveis (confinamento; asfixia por monóxido de carbono;
asfixia por outros vícios de ambientes).

- Obstaculação à penetração do ar nas vias respiratórias (sufocação direta – obstrução da boca e


das narinas pelas mãos ou das vias aéreas mais inferiores; sufocação indireta – compressão do tórax).
- Transformação do meio gasoso em meio líquido (afogamento).
- Transformação do meio gasoso em meio sólido ou pulverulento (soterramento).

Asfixias Complexas: Constrição das vias respiratórias com anoxemia e excesso de gás carbônico,
interrupção da circulação cerebral e inibição por compressão dos elementos nervosos do pescoço.
- Constrição passiva do pescoço exercida pelo peso do corpo (enforcamento).
- Constrição ativa do pescoço exercida pela força muscular (estrangulamento).

Asfixias Mistas: em que se confundem e se superpõem, em graus variados, os fenômenos


circulatórios, respiratórios e nervosos (esganadura).

Estudo das Asfixias

- asfixia por constrição do pescoço (enforcamento): é a modalidade de asfixia mecânica determinada


pela constrição do pescoço por um laço cuja extremidade se acha fixa a um ponto dado, agindo o
próprio peso do indivíduo como força viva; o sulco é descontínuo de direção oblíqua ascendente
bilateral anteroposterior.

- estrangulamento: é a modalidade de asfixia mecânica por constrição do pescoço por laço


tracionado pela força muscular da própria vítima, por mão criminosa ou por qualquer força que não seja
o próprio peso da vítima; o sulco, único, duplo ou múltiplo é contínuo e de profundidade uniforme e
tipicamente horizontalizado.

- esganadura: é a modalidade de asfixia mecânica por constrição anterolateral do pescoço,


impeditiva da passagem do ar atmosférico pelas vias aéreas, promovidas diretamente pela mão do
agente; estão sempre presentes as marcas de França.

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- sufocação: é a modalidade de asfixia mecânica provocada pela obstaculação, direta ou indireta, à
penetração do ar atmosférico nas vias aéreas ou por permanência forçada em espaço fechado.

- soterramento: é a modalidade de asfixia mecânica resultante da obstrução direta das vias


respiratórias quando a vítima se encontra mergulhada num meio sólido ou pulverulento; a causa jurídica
é acidental.

- confinamento: é a modalidade de asfixia mecânica por sufocação direta de indivíduo enclausurado


em espaço restrito ou fechado, sem renovação do ar atmosférico, por esgotamento do oxigênio e
aumento gradativo do gás carbônico, aumento de temperatura, alterações químicas e saturação do
ambiente por vapores d’água; a causa jurídica é: acidental (desmoronamento de minas) ou criminosa
(infanticídio).

- sufocação indireta: é a modalidade de asfixia mecânica ocasionada especialmente pela


compressão do tórax ou eventualmente do tórax e abdome, em grau suficiente para impedir os
movimentos respiratórios e desencadear a morte; a causa jurídica é: homicida ou acidental; em alguns
vitimados por sufocação indireta poderão faltar os sinais de asfixia; em outros poderão estar presentes
a máscara equimótica de Morestin, fraturas do gradil torácico, manchas de Tardieu, sinal de Valentim
etc.

- sufocação Direta:

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- afogamento: é a modalidade de asfixia mecânica desencadeada pela penetração de líquido nas
vias respiratórias, por permanência da vítima totalmente ou apenas com a extremidade anterior do
corpo imersa no mesmo; a causa jurídica é: acidental, suicida, homicida ou suplicial; a morte
desenvolve-se em três fases: de resistência, de exaustão e de asfixia; Sinal de Bernt é a pele de galinha
situada frequentemente nos ombros, na região lateral das coxas e dos antebraços; em cadáveres de
afogados descrevem-se as manchas de Paltauf; pele anserina, caracterizada pela ereção de pêlos.

- asfixia por gases irrespiráveis: os gases irrespiráveis se classificam em: gases de combate
(lacrimogêneos, esternutatórios, vesicantes, sufocantes etc.); gases tóxicos (ácido cianídrico e
monóxido de carbono etc.); gases industriais (vapores nitrosos, formento, grisu ou gás dos pântanos
etc) e gases anestésicos.

Hematose:
- Verificação Pulmonar: inspiração de O2 e sua distribuição pelos alvéolos.
- Difusão: passagem de O2 e CO2 através dos capilares.
- Fluxo Capilar Pulmonar: é a circulação sanguínea nos capilares pulmonares.

Condições normais da respiração:


- Ambiente externo;

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- Permeabilidade do aparelho respiratório;
- Funcionamento da caixa torácica;
- Movimento sangue.

Respiração: Inspiração / Expiração Apneia / Dispneia Bradipneia / Taquipneia.

Legislação: No CPB art. 61, inciso II, letra "d", diz que o emprego da asfixia como meio de produzir a
morte constitui circunstância agravante do crime, pela crueldade de que se reveste este recurso.

Fisiologia e Sintomatologia

Fase de Irritação
- Dispneia inspiratória (1 minuto = consciência)
- Dispneia expiratória (30 segundos = inconsciência e convulsões)

Fase de Esgotamento
- Pausa (morte aparente)
- Período terminal (morte)

Lesões: Externas - Internas


- Cianose no rosto
- Equimoses Viscerais
- Hipóstase precoce
- Estase nos órgãos internos
- Hipóstase precoce
- Lesões musculares
- Exolftalmia
- Lesões vasculares (Amussat e Friedberg)
- Procidência da língua
- Fraturas ósseas (hióide)
- Cogumelo espumoso
- Fraturas de cartilagens
- Resfriamento demorado
- Luxações de vértebras
- Rigidez precoce
-Equimoses subserosa da pleura (Tardieu)
- Sulco no pescoço
- Pulmões congestos e edemaciados
- Putrefação mais rápida
- Manchas de Paltauf.
-Midríase
Classificação Médico-Legal
Modificação Física do Meio:

7. Tanatologia Médico-legal

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

A Tanatologia estuda a morte e as consequências jurídicas a ela inerentes. Assim como não se pode
definir a vida, é teoricamente impossível conceituar a morte. Por isso, deveria bastar-nos procurar

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compreender e aceitar essa única e insofismável verdade. Antes do advento da era da transplantação
dos órgãos e tecidos aceitava-se a morte como cessar total permanente, num dado instante, das
funções vitais. Supera hoje esse conceito o conhecimento de que a morte não é o cessamento puro e
simples, num átimo, das funções vitais, mas sim, toda uma gama de processos que se desencadeiam
inexoravelmente durante certo período de tempo, afetando paulatinamente os diferentes órgãos da
economia.
Baseado nisso criaram-se modernamente dois conceitos distintos de morte: a cerebral, teoricamente
indicada pela cessação da atividade elétrica do cérebro, tanto na cortiça quanto nas estruturas mais
profundas, pela persistência de um traçado isoelétrico, plano ou nulo, e a circulatória, por nada cardíaca
irreversível à massagem do coração e às demais técnicas usualmente utilizadas nessa eventualidade.
Qualquer que seja a teoria adotada vê-se logo quão difícil é estabelecer um critério de morte.
Fiquemos, pois, apenas com as razões indiscutíveis da morte: a cessação dos fenômenos vitais, por
parada das funções cerebral, respiratória e circulatória, e o surgimento dos fenômenos abióticos, lentos
e progressivos, que lesam irreversivelmente os órgãos e tecidos. Assim, deve-se prudentemente deixar
escoar certo lapso na ampulheta do tempo para afirmar com rigorismo clínico a realidade da morte,
conforme preceitua a Sociedade Alemã de Cirurgia:
―A morte cerebral pode produzir-se antes que cessem os batimentos cardíacos (traumatismo
cerebral). Considera-se que o cérebro está morto após doze horas de inconsciência com ausência de
respiração espontânea, midríase bilateral eletroencefalograma isoelétrico, ou quando o angiograma
revela a parada da circulação intracraniana (durante trinta minutos). Pode ocorrer que o coração pare,
mas o sistema nervoso central está intacto ou com possibilidade de recuperar-se. Convém, então,
iniciar a ressuscitação; se os batimentos cardíacos não reaparecem pode dar-se por morto o paciente,
mas se reaparecem, sem que se restabeleçam a consciência ou a respiração, deve seguir-se aplicando
as normas usuais de assistência intensiva até que possa ser demonstrada a morte cerebral.‖
Do que se trata, deve-se dar o indivíduo por morto quando se constata, induvidosamente, a
ocorrência verdadeira da morte encefálica geral e não apenas da morte da cortiça cerebral.

O Conselho Federal de Medicina aprovou a Resolução 1480/97 dispondo que os parâmetros


clínicos para a avaliação da morte encefálica são os indicados na valorização do coma aperceptivo com
ausência de atividade motora supraespinhal e de apneia. Os exames complementares indicados para
essa confirmação devem estar representados pela ausência da atividade elétrica cerebral ou pela
ausência da atividade metabólica cerebral ou pela ausência de perfusão sanguínea cerebral. A morte
encefálica deverá ser consequência de processo irreversível e de causa conhecida.
Os intervalos mínimos entre as duas avaliações clínicas e eletroencefalográficas para caracterização
da morte são definidos por faixa etária como:
- de 7 dias a 2 meses incompletos – 48 horas
- de 2 meses a 1 ano incompleto – 24 horas
- de 1 ano a 2 anos incompletos – 12 horas
- acima de 2 anos – 6 horas.

Modalidades de Morte

Existem várias modalidades de morte:

Morte Anatômica – É o cessamento total e permanente de todas as grandes funções do organismo


entre si e com o meio ambiente.

Morte Histológica – Não sendo a morte um momento, compreende-se ser a morte histológica um
processo decorrente da anterior, em que os tecidos e as células dos órgãos e sistemas morrem
paulatinamente.

Morte Aparente – O adjetivo ―aparente‖ nos parece aqui adequadamente aplicado, pois o indivíduo
assemelha-se incrivelmente ao morto, mas está vivo, por débil persistência da circulação. O estado de
morte aparente poderá durar horas, notadamente nos casos de morte súbita por asfixia-submersão e
nos recém-natos com índice de Apgar baixo. É possível a recuperação de indivíduo em estado de morte
aparente pelo emprego de socorro medico imediato e adequado.

Morte Relativa - O indivíduo jaz como morto, vitimado por parada cardíaca diagnosticada pela
ausência de pulso em artéria calibrosa, como a carótida comum, a femoral, associada à perda de

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consciência, cianose, ou palidez marmórea. Entende-se por parada cardíaca o cessamento súbito e
inesperado da atividade mecânica do coração sob forma de fibrilação ventricular, taquicardia ventricular
sem pulso periférico palpável, dissociação eletromecânica em ritmo orgânico, útil e suficiente, em
indivíduos que não portam moléstia incurável, debilitante, irreversível e crônica, pois que nesses
enfermos a parada cardíaca nada mais é do que a consequência natural do envolver maligno da doença
de base. Ocorre estatisticamente em 1/5.000 casos de anestesias cirúrgicas. O ofendido, submetido em
tempo hábil à massagem cardíaca, poderá retornar à vida, como sucedeu em quatro pacientes por nós
socorridos, acometidos por parada dos batimentos do coração durante gastrectomia total por neoplasia
maligna de estômago.

Morte Intermédia - É admitida apenas por alguns autores. A morte intermédia é explicada, pelos que
a admitem, como a que precede a absoluta e sucede à relativa, como verdadeiro estágio inicial da
morte definitiva. Diversos autores têm relatado em seus livros centenas de casos de indivíduos que,
inúmeras circunstâncias (atos cirúrgicos, afogamentos frustrados etc.), perceberam-se como que saídos
de seus corpos, flutuando no espaço, presos por um ―fio prateado‖ à cicatriz umbilical, sentindo-se como
se mortos estivessem. Socorridos adequadamente, em tempo hábil, retornaram à consciência física,
contando avidamente as experiências vividas.

Morte Real - É o ato de cessar a personalidade e fisicamente a humana conexão orgânica, por
inibição da força de coesão intermolecular, e o de formar-se paulatinamente a decomposição do
cadáver até o limite natural dos componentes minerais do corpo (água, anidrido carbônico, sais etc.),
que, destarte, passam a integrar outras formas de organizações celulares complexas em eterna
renovação, como se por átomos químicos do corpus, ou de seus despojos, estivéssemos unidos aos
átomos de todo universo.

8. Tanatognose e cronotanatognose

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

Tanatognose
É a parte da tanatologia Forense que estuda o diagnóstico da realidade da morte. Esse diagnóstico
será tanto mais difícil quanto mais próximo o momento da morte. Antes do surgimento dos fenômenos
transformativos do cadáver, não existe sinal patognomônico de morte. Então, o perito observará dois
tipos de fenômenos cadavéricos: os abióticos, avitais ou vitais negativos, imediatos e consecutivos, e os
transformativos, destrutivos ou conservadores.

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9. Fenômenos cadavéricos

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

Fenômenos abióticos imediatos

Apenas insinuam a morte:


- perda da consciência;
- abolição do tônus muscular com imobilidade;
- perda da sensibilidade;
- relaxamento dos esfíncteres;

- cessação da respiração;
- cessação dos batimentos cardíacos;
- ausência de pulso;
- fácies hipocrática;
- pálpebras parcialmente cerradas.

Fenômenos abióticos consecutivos

- resfriamento paulatino do corpo;


- rigidez cadavérica;
- espasmo cadavérico;
- manchas de hipóstase e livores cadavéricos;
- dessecamento: decréscimo de peso, pergaminhamento da pele e das mucosas dos lábios;
modificações dos globos oculares; mancha da esclerótica; turvação da córnea transparente; perda da
tensão do globo ocular; formação da tela viscosa.

Vejamos alguns destes fenômenos:

- rigidez cadavérica

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- espasmo cadavérico (corpo na posição da morte)

- hipóstase e livores cadavéricos:

Fenômenos Transformativos
Compreendem os destrutivos (autólise, putrefação e maceração) e os conservadores (mumificação e
saponificação). Resultam de alterações somáticas tardias tão intensas que a vida se torna
absolutamente impossível. São, portanto, sinais de certeza da realidade de morte.

Destrutivos
Autólise: Após a morte cessam com a circulação as trocas nutritivas intracelulares, determinando lise
dos tecidos seguida de acidificação, por aumento da concentração iônica de hidrogênio e consequente
a diminuição do pH. A vida só é possível em meio neutro; assim, por diminuta que seja a acidez, será a
vida impossível, iniciando–se os fenômenos intra e extracelulares de decomposição. Os tecidos se
desintegram porque as membranas celulares se rompem e flocula o protoplasma, devido ás desordens
bioquímicas resultantes da anóxia e da baixa do pH intra e extracelular.
A autólise afeta precocemente os cadáveres de recém- nascidos e aqueles ainda não putrefeitos ou
em que esse fenômeno mal se iniciou. A acidificação dos tecidos é então sinal evidente de morte, que
pode ser pesquisado por vários métodos laboratoriais, dentre os quais a colorimetria, ou, quando não se
dispõe de aparelhagem especial, por diversos sinais, para se apurar a realidade da morte. São eles:

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- Sinal de Labord- Esse autor recomenda a introdução de uma agulha de aço bem polida no tecido,
onde permanecerá cerca de 30 minutos; retirada, se permanecer seu brilho metálico, afirma-se
diagnostico de morte real.
- Sinal de Brissemoret e Ambard- Além de pouco prática, não é isenta de riscos nos casos de morte
aparente. Consiste na punctura com trocarte do fígado ou do baço e análise dos fragmentos obtidos
pelo papel de tornassol. No morto a reação é ácida.
- Sinal de Lecha-Marzo- Não é sinal preciso porque não se manifesta em todos os casos de morte
real, podendo, embora rarissimamente, ser encontrado em vida, durante agonia. Consiste em colocar
entre o globo ocular e a pálpebra superior papel de tornassol, que se tornará vermelho pela acidez,
indicando morte, ou azul, se o meio for alcalino, afirmando vida.
- Sinal de De-Dominicis- Emprega-se também o papel de tornassol apenas em área escarificada no
abdome, onde a acidez, se houver, é mais precoce.
- Sinal de Silvio Rebelo- Também não é infalível. Consiste na introdução de um fio-testemunha e de
um fio corado pelo azul de bromo-timol, por agulha montada, numa dobra da pele, deixando as suas
extremidades exteriorizadas. Se o fio indicador, que é azul, adquirir na intimidade dos tecidos cor
amarela, comprovará acidez cadavérica.
- Sinais de forcipressão de Icard- 1) forcipressão física: comprime-se, com pinça, uma prega da pele,
que persistira no morto e desaparecera no vivo; 2) forcipressão química: o pinçamento da pele provoca
o escoamento de serosidade, que, pesquisada pelo papel de tornassol, indicara acidez no morto e
alcalinidade no vivo; 3) reação sulfídrica: consiste em colocar nas narinas e dentro da boca papel
previamente umedecido em uma solução de acetato neutro de chumbo em água destilada a 50%, o
qual adquire cor negra de sulfereto de chumbo pela ação do ácido sulfídrico e do sulfidrato de amônio
originado pela morte. Ex expositis, avulta aos olhos a importância desta prova e a da fluresceína, por
serem práticas e confiáveis.

Putrefação: Para Icard, a putrefação se inicia assim que cessa a vida. A putrefação, forma de
transformação cadavérica destrutiva, se inicia, após a autólise, pela ação de micróbios aeróbicos,
anaeróbicos e facultativos em geral sobre o ceco, porção inicial do grosso intestino onde mais se
acumulam os gases e que, por guardar relação de contiguidade com a parede abdominal da fossa ilíaca
direta, determina por primeiro, nessa região, o aparecimento da mancha verde abdominal, qual,
posteriormente, se difunde por todo o tronco, cabeça e membros, a tonalidade verde-enegrecida
conferindo ao morto aspecto bastante escuro. Os fetos e os recém-nascidos constituem exceção; neles
a putrefação invade o cadáver por todas as cavidades naturais do corpo, especialmente pelas vias
respiratórias. Nos afogados, a coloração verde dos tegumentos aparece primeiramente na metade
superior a anterior do tórax e, depois, na cabeça, pela posição declive assumida pelo corpo dentro
d’água.
Na dependência de fatores intrínsecos (idade, causa mortis, constituição) e de fatores extrínsecos
(temperatura, aeração, higroscopia do ar), a mancha da putrefação, embora não siga cronologia
rigorosa (tanto ser possível a simultaneidade de vários períodos transformativos, em regiões diferentes,
num mesmo cadáver), se faz em quatro períodos:
- Período de coloração - Tonalidade verde-enegrecida dos tegumentos, originada pela combinação
do hidrogênio sulfurado nascente com a hemoglobina, formando a sulfometeglobina, surge, em nosso
meio, entre 18 e 24 horas após a morte, durando, em média, 7 dias.

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- Período de gasoso - Os gases internos da putrefação migram para a periferia provocando o
aparecimento na superfície corporal de flictenas contendo liquido leucocitário hemoglobínico com menor
teor de albuminas em relação ás do sinal de Chembert, e de enfisema putrefativo que crepita à
palpação e confere o cadáver a postura de boxeador e aspecto gigantesco, especialmente na face, no
tronco, no pênis e bolsas escrotais. A compressão cardiovascular emigra sangue para periferia
originando na pele curioso desenho denominado circulação póstuma de Brouardel. A compressão do
útero grávido produz o parto de putrefação (parto post mortem), com eversão do órgão, sendo o feto em
geral, encontrado entre as coxas maternas. As órbitas esvaziam-se, a língua exteorizar-se, o pericrânio
fica nu. O ânus se entreabre evertendo a mucosa retal. A força viva dos gases de putrefação inflando
intensamente o cadáver pode fender a parede abdominal com estalo. O odor característico da
putrefação se deve ao aparecimento do gás sulfídrico. Esse período dura em média duas semanas.

- Período coliquativo - A coligação é a dissolução pútrida das partes moles do cadáver pela ação
conjunta das bactérias e da fauna necrófaga. Os gases se evolam, o odor é fétido e o corpo perde
gradativamente a sua forma. Dependendo das condições de resistência do corpo e do local onde está
inumado, esse período pode durar um ou vários meses, terminando pela esqueletização.

- Período de esqueletização - A ação do meio ambiente e da fauna cadavérica destrói os resíduos


tissulares, inclusive os ligamentos articulares, expondo os ossos e deixando-os completamente livres de
seus próprios ligamentos. Os cabelos e os dentes resistem muito tempo à destruição. Os ossos também
resistem anos a fio, porém terminam por perder progressivamente a sua estrutura habitual, tornando-se
mais leves, frágeis e, alguns, quebradiços. Afinal, para remate, mors omnia solvit (a morte dissolve
tudo).

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Maceração: É também fenômeno de transformação destrutiva que afeta os submersos em meio
líquido contaminando (maceração séptica) e o concepto morto a partir do 5° mês de gestação e retido
intrauterinamente (maceração asséptica). Manifesta-se mais intensamente nos casos de retenção de
feto morto. Compreende três graus: no primeiro grau, a maceração está representada pelo surgimento
lento, nos três primeiros dias, de flictenas contendo serosidade sanguinolenta. A pele, em contato com o
líquido amniótico que adquiriu tonalidade esverdeada e consciência espessa, comparável á sopa de
ervilhas, pelo mecônio expelido espontaneamente para o interior da matriz, na fase inicial de sofrimento
fetal, e no submerso, enruga e se torna amolecida e facilmente destacável em grandes retalhos
cutâneos, deixando à mostra tecido subjacente de colorido avermelhado, devido à embebicação por
hemoglobina.
Nas mãos, os retalhos cutâneos destacam-se em ―dedos de luvas‖, conservando as unhas, e,
durante algum tempo, as cristas papilares, o que permite ao legisperito calça-los a modo de dedal
epidérmico e efetuar a tomada das impressões digitais do cadáver. No segundo grau, a ruptura das
flictenas confere ao líquido amniótico, cor vermelhado-pardacenta, e a separação da pele de quase toda
a superfície corporal, a partir do oitavo dia, dá o feto aspecto sanguinolento. No terceiro grau, destaca-
se o couro cabeludo, à maneira de escalpo, do submerso ou do feto retido intra-uterinamente, e, em
torno do 15° dia post mrotem, os ossos da abóbada craniana cavalgam uns sobre os outros, os
ligamentos intervertebrais relaxam e a coluna vertebral torna-se mais flexível e, no feto morto, a coluna
adquire acentuada cifose, pela pressão uterina. Dessarte, o cadáver macerado tem diminuída a sua
consistência inicial, o ventre achatado como o dos batráquios, e os ossos livres de sua parte de
sustentação, dando a impressão de estarem soltos.

Conservadores

Mumificação: É a dessecação, natural ou artificial, do cadáver. Há de ser rápida e acentuada a


desidratação. A mumificação natural ocorre no cadáver insepulto, em regiões de clima quente e seco e
de arejamento intensivo suficiente para impedir a ação microbiana, provocadora dos fenômenos
putrefativos. Assim é que têm sido encontradas múmias naturais, sem caixão, simplesmente na areia ou
sobre a terra, ou em catacumbas ou cavernas, sem vestígios de tratamento e tão bem conservadas
quanto às embalsamadas artificialmente, graças a condições favoráveis. Por exemplo, as múmias
naturais do convento dos Capuchinhos, de Palermo e do Grande São Bernardo, do subterrâneo da
catedral de Bremen, das catacumbas dos Franciscanos e dos Jacobinos, em Tolosa, e da caverna da
Babilônia, em Minas Gerais.
A mumificação por processo artificial foi praticada historicamente pelos egípcios e pelos incas, por
embalsamento, após intensa dessecação corporal. Os egípcios, primeiramente, extraíam o cérebro do
cadáver, com auxilio de um gancho de metal, pelas fossas nasais. Ato contínuo, incisavam o abdome
com uma faca de sílex para esviscerar os órgãos nele contidos, os quais eram colocados em bilhas, e o
tórax, objetivando substituir o coração por um escarabeu de pedra. Seguia-se meticulosa lavagem
externa e o cadáver era recoberto por natrium, durante 40 a 70 dias, e amortalhando em vários ataúdes
ou sarcófagos, após ter sido recheado com areia, argila, resina ou serragem (para evitar a deformação),
besuntado com ervas aromáticas e envolvido em rolos de pano de linho. As múmias têm aspecto
característicos: peso corporal reduzido em até 70%, pele de tonalidade cinzenta-escura, coriácea,
ressoando à percussão, rosto com vagos traços fisionômicos e unhas e dentes conservados.

Saponificação (adipocera): É um processo transformativo de conservação que aparece sempre após


um estágio regularmente avançado de putrefação, e que o cadáver adquire consistência untuosa, mole,

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como sabão ou cera (adipocera), às vezes quebradiça, e tonalidade amarelo-escura, exalando odor de
queijo rançoso. A saponificação atinge comumente segmentos limitados do cadáver; pode, entretanto,
raramente, comprometê-lo em sua tonalidade. Tal processo, embora factível de individualidade,
habitualmente se manifesta em cadáveres inumados coletivamente em valas comuns de grandes
dimensões, como nas primeiras exumações ocorridas no Cemitério dos Inocentes de Paris.
Discutem os autores se somente a gordura normal é passível de saponificar-se – a análise química
revela a existência de ácidos graxos –, ou se todos os demais tecidos, mesmo os de natureza
albuminóide, como os músculos, podem sofrer tal transformação. Os adeptos da exclusividade das
gorduras alegam que, sendo a adipocera fenômeno posterior à putrefação, os músculos,
evidentemente, já teriam desaparecido pela decomposição antes do início da saponificação. Influenciam
o surgimento desse fenômeno: fatores individuais e, especialmente, os fatores mesológicos
representados pelo solo argiloso e úmido, que permite a embebição e dificulta, sobremaneira, a
aeração. O cadáver que sofreu o fenômeno da adipocera apresenta, segundo Thouret, o aspecto de
―queijo branco ordinário‖ e rançoso.

Mumificação:

CRONOTANATOLOGIA.
A CRONOTANATOLOGIA define se houve comoriência ou primoriência.
Comoriência: Significa a morte simultânea de duas ou mais pessoas em um mesmo acontecimento,
sem hipótese de averiguação sobre qual delas morreu primeiro.
Trata-se de uma presunção legal fundamentada pelo Código Civil Brasileiro de 2002, que dispõe no
Artigo 8°: ―Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se
algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos‖.
O significado de comoriência tem especial importância no Direito das Sucessões, nas situações em
que os indivíduos que faleceram (denominados ―comorientes‖) são ligados por vínculos sucessórios, ou
seja, são reciprocamente herdeiros.
Quando é crucial para efeitos de herança que haja comprovação de qual indivíduo faleceu primeiro,
porém não há como apurar esse fato, então a Lei brasileira admite que a morte foi simultânea. São
casos em que é impreterível o esclarecimento sobre os plenos direitos do herdeiro na partilha do
patrimônio.

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Premoriência: É a morte de uma pessoa, ocorrida anteriormente à de outra pessoa determinada, que
lhe sobrevive. É a precedência na morte, como, por exemplo: quando um casal sem descendentes e
ascendentes falece no mesmo evento. Se se demonstrar que o marido pré-morreu à esposa esta
recolhe a herança daquele, para a transmitir em seguida aos próprios herdeiros e vice-versa.

CRONOTONATOGNOSE
É a parte da Tanatologia que estuda a data aproximada da morte. Com efeito, os fenômenos
cadavéricos, não obedecendo ao rigorismo em sua marcha evolutiva, que difere conforme os diferentes
corpos e com a causa mortis e influência de fatores extrínsecos, como as condições do terreno e da
temperatura e umidade ambiental, possibilitam estabelecer o diagnóstico da data da morte tão
exatamente quanto possível, porém não com certeza absoluta. O seu estudo importa no que diz
respeito à responsabilidade criminal e aos processos civis ligados à sobrevivência e de interesse
sucessório.
O seu estudo importa no que diz respeito à responsabilidade criminal e aos processos civis ligados à
sobrevivência e de interesse sucessório.

10. Necropsia, necroscopia

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

Exame necroscópico, necroscopia, autópsia, autopsia, necropsia, necropsia, tanatoscopia, autósia,


são todos termos sinônimos utilizados para definir o exame externo e interno do cadáver realizado com
o objetivo de definir a causa da morte do indivíduo, tanto do ponto de vista médico quanto do ponto de
vista jurídico.
Existem alguns doutrinadores que buscam diferenciar os termos necropsia e necroscopia, todavia
distinção entre estes é muito tênue tornando-se na pratica definições do mesmo procedimento.
Necropsia: Uma autópsia, necrópsia ou exame cadavérico é um procedimento médico que consiste
em examinar um cadáver para determinar a causa e modo de morte e avaliar qualquer doença ou
ferimento que possa estar presente. Necroscopia: Exame ou dissecção de cadáveres.

Conceito de necropsia
A palavra necropsia é oriunda do grego nekrós (significando morte) e ópsis (significando vista)
exame este realizado após a morte de um indivíduo. O termo autópsia também é sinônimo, tendo esta
por significado ―ver por si mesmo‖, derivando das palavras gregas autos (de si próprio) e opsis (vista).
Ainda encontraremos uma terceira terminologia; tanatopsia, derivada das palavras gregas tanatos
(morte) e ópsis (vista).
A necropsia é toda a série de observações e intervenções efetuadas no cadáver com o objetivo de
esclarecer a causa da morte (causa mortis). A mesma pode ser subdividida em dois tipos: a necropsia
anátomo-clínica ou anatomopatológica ou ainda não judicial e a necropsia forense ou médico legal ou
judicial.
A primeira é realizada por um médico anatomopatologista e tem como principal finalidade estudar as
alterações morfológicas dos órgãos e tecidos a fim de se obter informações sobre a natureza, a
extensão, as complicações da patologia e suas consequências. Constitui também a maior fonte de
ensino em Patologia, contribuindo para um eficaz controle de qualidade de diagnóstico e de tratamento,
apontando possíveis erros e suas causas e buscando sua correção. Pode-se ainda ressaltar outros
objetivos da realização de necropsias: servir de fonte de material de ensino e pesquisa para médicos
residentes, alunos e professores; contribuir para a elaboração de estatísticas precisas quanto às mortes
e patologias; reconhecer quadros de novas doenças e padrões de lesão; revelar a eficácia do

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tratamento; esclarecer os casos sem diagnóstico clínico firmado ou no quais a morte do paciente foi
inesperada.
A autópsia fetal, sendo considerada um subtipo da autópsia clínica, é o exame necroscópico
realizados em fetos que foram a óbito antes do nascimento, considerando os critérios biológicos,
temporal e de viabilidade para a sua realização.
A segunda, a autópsia forense, é um componente primordial na investigação criminal. Esta é
realizada por um médico legista, que se concentra em determinar a causa, o tempo e como ocorreu a
morte. Incluem-se ainda, as circunstâncias que precederam e circundaram a morte, além da inspeção e
coleta de provas no local onde o cadáver foi encontrado.

Em seguida é importante conhecer as técnicas básicas mais usadas na área da necropsia. Existem
técnicas e podem ser comparados a procedimentos cirúrgicos. Cada técnica tem sua finalidade e logica.
Também pode-se adaptar uma mescla destas técnicas dependendo do caso.
Nos IMLs as técnicas mais usadas são as de Virchow e Letulle. Estas técnicas foram desenvolvidas
por médicos brilhantes.
A técnica de Rokitansky é muito pratica em exames no IML e SVO (Serviço de Verificação de
Óbitos), devido sua praticidade. Quando em morte natural, o médico vai examinar a fundo o ponto de
óbito, ou seja; vai direto na causa da morte.
Na técnica de Letulle. A retirada completa serve para exames detalhados de vísceras e muito útil
também em SVO.
A técnica de Virchow é mais usada em IML para casos de morte natural, onde se examina por
dentro, mas pra retirar vai direto na causa da morte.
A técnica de Ghon é mais usada em SVO, principalmente nos Hospitais escola.

Técnicas
Cada serviço de Patologia tem sua própria técnica de necropsia, que na verdade é variante de uma
das quatro técnicas básicas - de Virchow, Ghon, M. Letulle e de Rokitansky.
• Virchow os órgãos são retirados um a um e examinados posteriormente.
• Ghon, a evisceração se dá através de monoblocos de órgãos anatomicamente/ou funcionalmente
relacionados.
• M. Letulle o conteúdo das cavidades torácica e abdominal é retirado em um só monobloco.
• Rokitansky os órgãos são retirados isoladamente após terem sido abertos e examinados "in situ".

Técnica de Virchow
Em 1874, o Dr Rudolf Virchow, médico polonês, padronizou a técnica de necropsia, cuja base é
utilizada até os dias atuais. Ele fundou as disciplinas de patologia celular e patogia.
Tornou-se professor em 1847. Por participação ativa na Revolução de Março (1848-1849), mudou-se
para Würzburg, onde trabalhou como anatomista. Casou em 1850 com Rose Mayer, com quem teve 3
filhos e 3 filhas. Em 1856 retornou a Berlim, para assumir a cátedra de anatomia patológica da
Universidade de Berlim.
Durante a Guerra Franco-Prussiana, liderou pessoalmente o primeiro hospital móvel para atender os
soldados no front. Também envolveu-se em atividades sociais, como saneamento básico, arquitetura de
construção hospitalar, melhoramento de técnicas de inspeção de carne e higiene escolar.
A ele são creditadas várias descobertas significativas. Foi ele quem elucidou o mecanismo do
tromboembolismo, cujos fatores são conhecidos até hoje como tríade de Virchow. Foi o primeiro a
publicar um trabalho científico sobre leucemia, pelo qual todas as formas de lesão orgânica começam
com alterações moleculares ou estruturais das células.
Foi membro ativo na vida política do II Reich alemão, como ferrenho opositor ao Chanceler Otto von
Bismarck.
Sua sepultura está localizada no Alter St.-Matthäus-Kirchhof Berlin, no endereço Feld H, H-S-
012/013, G2.

Técnica de Rokitansky
Carl Rokitansky (1804-1878) estabeleceu as bases estruturais das doenças e a técnica de necropsia
com o estudo sistemático de cada órgão. Em 1866, já tinhafeito mais de 30 mil necropsias. Na sua
técnica, os órgãos são examinados ―in situ‖, ou seja, dentro do cadáver, um a um. Desta forma, nesta
técnica são realizados vários cortes em todos os órgãos internos, para depois eles serem retirados, um
por um. Observe que esta técnica possui uma grande semelhança com técnica de Virchow, com a
diferença de que na de Virchow os órgãos são retirados um a um para depois serem examinados,

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enquanto na de Rokitansky os órgãos são examinados ainda dentro do cadáver, para depois serem
retirados , também um por um.
Histórico: Carl von Rokitansky nasceu em Hradec Králové , Bohemia . He studied at the Charles
University in Prague (1821-1824) and attained a doctorate in medicine on 6 March 1828 at the University
of Vienna . Ele estudou na Universidade Charles de Praga (1821-1824) e alcançou um doutorado em
medicina em 6 de marco de 1828 na Universidade de Viena . Como um jovem professor, ele
reconheceu que o ainda pouco notado disciplina de anatomia patológica pode ser de grande valia para
o trabalho clínico no hospital , porque ele poderia oferecer novos diagnósticos terapêuticos e
possibilidades para o lado médico. Com isso, depois de Gerard van Swieten , que foi o fundador da
primeira Escola de Viena, Rokitansky lançou uma verdadeira "revolução científica". Com a criação da
segunda escola de Viena, uma mudança de paradigma entrou em vigor, liderada por Rokitansky, Josef
Skoda e Ferdinand von Hebra , a partir da noção de medicina como um tema filosófico-natureza, a mais
moderna medicina cientificamente orientada. Desta forma, associada à especialização da medicina e
com o desenvolvimento de novas disciplinas, a Escola de Viena alcançado renome mundial.
Ele também desenvolveu um método de autópsia, a técnica de Rokitansky de mesmo nome, ou o "in-
situ" método que não está mais em uso é today. Rokitansky disse "ter supervisionado 70 mil autópsias,
realizadas pessoalmente e mais de 30.000, média de dois por dia, sete dias por semana, durante 45
anos

Técnica de M. Letulle
Histórico: Maurice Letulle praticado duas profissões: ele era um médico especialista da patologia e
um professor. Não surpreendentemente, ele considerou seriamente a escolha do material que ele
poderia usar para apoiar suas palestras e com o qual ele forma um "Bibliothèque de patologias
[biblioteca" de patologias] para si e para seus colegas.
Embora tivesse inicialmente formado uma coleção de inclusões (peças cirúrgicas conservadas em
solução de formaldeído), era pesado e pesado. Cerca de 1911, quando os irmãos Lumière foram
popularizar a técnica Autochrome, Letulle usaram para tirar fotos de macro e microscópicas patologias.
O Autochrome oferecidas duas vantagens: eles forneceram uma amostra real de a doença em questão
e, além disso, eram de fácil transporte e exibição. Corantes, que agia como uma sonda de exploração
de tecidos, foram essenciais do século 19 e 20 imagens médicas de patologia. This was especially the
case when the application of a colourant to a tissue engendered a visible chromatic reaction. Este foi
especialmente o caso quando da aplicação de um corante de um tecido provocou uma reação visível
cromática. Maurice Letulle preparados os cortes histológicos que ele fotografou a si mesmo através de
um microscópio. Para estas fotografias da anatomia patológica microscópica, acrescentou imagens
macroscópicas de órgãos saudáveis e retratos dos pacientes. Sua coleção inclui também fotografias da
praga na Manchúria e demonstrações de exame médico, como uma auscultação e um exame metódico
de um coração. Eugène Normand, bem como o técnico Mrs. Clark Blondeau-lo ajudado neste trabalho,
mas Maurice Letulle se decidiu a Autocromos 'classificações por órgão e lesão. Esta classificação
original foi mantido junto com as lendas que ele inscrito em cada uma das placas de vidro.
Na técnica de M.Letulle, é feita a evisceração (retirada das vísceras do cadáver) através de um único
bloco.

Técnica de Ghon.
Histórico: Anton Ghon (01 de janeiro de 1866 - 23 de abril de 1936) foi um austríaco patologista, que
era um nativo de Villach . Em 1890 ele ganhou seu grau médico em Graz, e depois passou vários anos
no instituto patológico em Viena, onde trabalhou com Anton Weichselbaum (1845-1920). Em 1910 ele
se tornou um professor de patológico anatomia na Universidade Alemã de Praga.
Ghon era um especialista no campo da bacteriologia, e é lembrado por seu trabalho com meningite e
tuberculose. Seu nome emprestado a sua Ghon foco, que é um primário de infecção associada com a
tuberculose, bem como do complexo Ghon, quando a infecção acima envolve em torno dos gânglios
linfáticos. Sua obra mais conhecida escrita é um tratado de 1912 de tuberculose na infância chamado
Der Primare Lungenherd bei der Tuberkulose der Kinder.
De acordo com a técnica de Ghon após a abertura das cavidades os órgãos são removidos em
quatro monoblocos:
(1) órgãos das cavidades cervical e torácica (laringe, traqueia, esôfago, pulmões, coração, grandes
vasos e estruturas mediastinais). Superiormente secciona-se, sob a mandíbula, a base da língua e a
parte inferior da orofaringe e inferiormente, secciona-se acima do diafragma a aorta descendente, a veia
cava inferior e o esôfago.

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(2) Fígado, vias biliares, estômago, esôfago abdominal, duodeno, baço e pâncreas. Secciona-se o
diafragma em nível de sua inserção na parede abdominal, libera-se o baço, pâncreas e duodeno até a
coluna vertebral, seccionando-se a veia cava inferior e a artéria celíaca, deixando a artéria aorta
abdominal intacta.
(3) Sistema urogenital (rins, adrenais, ureteres, bexiga, próstata e vesículas seminais para homens e
útero e anexos para mulheres). Dissecam-se os rins e suas respectivas glândulas adrenais do peritônio
e da musculatura subjacente, até a coluna vertebral, segue inferiormente a dissecção até a fossa
pélvica liberando todos os órgãos ali contidos, por meio de dissecção às cegas (com os dedos).
Finaliza-se com a secção das ligações remanescente do assoalho pélvico.
(4) segmento terminal do duodeno, jejuno, íleo e todo intestino grosso, devendo ser o primeiro
monobloco a ser removido e examinado após a abertura da cavidade abdominal.
Faz-se necessário a retirada de dois fragmentos de medula óssea que poderão ser retirados do
esterno, da coluna vertebral, da crista ilíaca e em adultos principalmente na cabeça do fêmur. Retiram-
se também segmentos de musculatura, vasos e nervos presentes na panturrilha e fragmentos de pele,
bem como os testículos, caso necessário, por meio de dissecção às cegas por meio do ligamento
inguinal seccionando-se o funículo espermático.
Após a remoção de todos os órgãos deve-se drenar toda a cavidade, fazendo-se a assepsia da
mesma e a recomposição do cadáver com o preenchimento das cavidades abertas (com serragem,
algodão ou mesmo com os órgãos que não foram utilizados). A pele deve ser suturada por pontos
oblíquos no sentido de inferior para superior distando um centímetro entre si. A assepsia deverá ser
realizada com hipoclorito de sódio (em uma concentração de 1:10), removendo-se todas as manchas de
sangue e secreções.
A necropsia nos casos de morte violenta é obrigatória por força de lei; todavia, fica a critério do
perito, diante de uma morte violenta, quando não houver infração penal que apurar, ou se as lesões
externas permitirem precisar as causae mortis e não houver necessidade de exame visceral para a
verificação de alguma causa relevante, fazer o exame interno do de cujus, conforme se depreende da
leitura do parágrafo único do art. 162 do Código de Processo Penal.

11. Mortes violentas, suspeitas e naturais

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

―Causa Mortis‖: Expressão latina que significa literalmente ―causa da morte‖.


Morte natural é aquela que sobrevém motivada amiúde por causas patológicas ou por grave
malformação, incompatível com a vida extrauterina prolongada.

Entende-se por Morte Violenta aquela que resulta de uma ação exógena e lesiva (suicídio, homicídio,
acidente), mesmo tardiamente, sobre o corpo humano.

Morte Suspeita é aquela que ocorre em pessoas de aparente boa saúde, de forma inesperada, sem
causa evidente, ou com sinais de violência indefinidos ou definidos – in exemplis, simulação de suicídio
objetivando ocultar homicídio-passível de gerar desconfiança sobre sua etiologia.

Balthazard define Morte Súbita como ―a morte que se produz apenas instantaneamente, pelo menos,
muito rapidamente no decorrer de boa saúde aparente‖. Para nós, morte súbita é aquela que ocorre de
forma imprevista, em segundos ou, no máximo, alguns minutos, precedida ou não de fugacíssima
agonia, e motivada por afecções cardiovasculares, lesões encefálicas e meningéias, tumores cerebrais,
acidente vascular encefálico, infarto do miocárdio, fibrilação ventricular, edema agudo dos pulmões,
insuficiência cardíaca congestiva, ruptura de vísceras ocas e/ou maciças, ruptura de aneurisma, asfixias

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mecânicas, edema de glote, choque hemorrágico, anafilático, obstétrico, doenças tromboembólicas,
acidentes anestésicos e/ou cirúrgicos, crise epiléptica apnéica, febre tifoide, meningites, tétano, difteria,
ação da eletricidade cósmica ou industrial. Influenciam, ainda, a idade, o sexo, a profissão, a fadiga, o
esforço, a embriaguez, o coito, a emoção.

Morte Agônica é aquela em que a extinção desarmônica das funções vitais processa-se
paulatinamente, com estertores, num tempo relativamente longo; nela os livores hipostáticos formam-se
mais lentamente.

12. Crimes contra a dignidade sexual e provas periciais

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

O Título VI do Código Penal, com a nova redação dada pela Lei nº 12.015, de 7 de agosto de 2009,
passou a prever os chamados crimes contra a dignidade sexual. A dignidade sexual é uma das
espécies do gênero dignidade da pessoa humana. Ingo Wolfgang Sarlet, dissertando sobre o tema,
esclarece ser a dignidade: ―a qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz merecedor
do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando, neste sentido, um
complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato
de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para
uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável nos destinos
da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos‖.
Vamos estudar em seguida o que dispõe o Código Penal acerca do tema:

TÍTULO VI – DOS CRIMES CONTRA A DIGNIDADE SEXUAL


CAPÍTULO I – DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL

Estupro
Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a
praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito)
ou maior de 14 (catorze) anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Violação sexual mediante fraude


Art. 215. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro
meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da vítima: (Redação dada pela Lei nº
12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também
multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009).

A Lei nº. 12.015/2009 extinguiu o delito de atentado violento ao pudor, deslocada sua expressão ato
libidinoso para o novo art. 213 do Código Penal, tudo sob a mesma rubrica de estupro, conclui-se que,
hoje, o homem também pode ser estuprado.

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Nos crimes contra a liberdade sexual, a pena é aumentada da metade se o agente é ascendente,
padrasto ou madrasta, tio, irmão, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou
por qualquer outro título tem autoridade sobre ela.
Com a edição da Lei nº 11.106, de 28 de março de 2005, foram revogados e alterados dispositivos
do Código Penal, entre outros, extinguindo os crimes de adultério, que ―ofende apenas a honra do
cônjuge e não a sociedade como um todo, portanto, não deve ser tutelado pelo Direito Penal‖, de
sedução e rapto consensual, que ―destoam com o modelo de sociedade atual‖. Além de eliminar
expressões que representam discriminação contra a mulher como a de ―mulher honesta‖. Os tribunais
vinham adotando critérios cada vez menos rigorosos na conceituação de sedução, e a aplicação de
pena mostrava-se raríssima. O ambiente, a educação, o entendimento e apropria forma de
relacionamento entre o ―sedutor‖ e a ―seduzida‖ foram sendo levados em conta no que diz respeito à
desconfiguração daquele delito.
Entendeu-se que a perda da virgindade para a mulher entre 14 e 18 anos não seria causa, por si só,
para que a mulher fosse vítima de engodo por parte do autor na busca da conjunção sexual. Este pode
consumar um delito tão só porque abusou da confiança da vítima que não tinha capacidade de entender
as consequências da conjunção carnal. O novo entendimento a esse respeito é de que a lei só deve
alcançar aquilo que é penalmente relevante para a sociedade. Extingue-se o crime de exposição ou
abandono de recém-nascido para ocultar desonra própria, passando a valer o crime de abandono de
incapaz, já previsto no Código. Ademais, ainda se revoga dispositivo que perdoa a agente de crime
contra os costumes, como estupro, sedução e assédio sexual, quando a vítima se casar com terceiro
em casos que não envolvam violência real ou grave ameaça.
A verdade é que a vida cotidiana transforma a cada momento as suas realidades impondo
modificações que, embora questionadas aqui e ali, tendem a romper com as ideias mais ortodoxas,
muitas delas em completo desacordo com pensar e o agir das sociedades mais evoluídas. Mesmo que
o ideal seja legislar de forma durável, a lei só tem sentido se estiver sempre em consonância com o
bem comum. Antes a Lei nº 10.224, de 15 de maio de 2001, alterou o Código Penal em vigência, para
dispor sobre o crime de assédio sexual, com seguinte redação: ―Artigo 216-A – constranger alguém com
o intuito de obter vantagem ao favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função: Pena –
detenção de 1 (um) a 2 (dois) anos‖.
Dessa forma, fica evidente que o delito de assédio sexual se caracteriza pela prática física ou verbal
de ―Alguém‖, homem ou mulher, que se aproveita da condição de superior hierárquico e de forma
insistente ou reiterada, tendo em conta sua posição funcional, para obter satisfação de ordem sexual.
Além de assédio sexual, como delito penal, a doutrina vem admitindo que o ―assédio por intimidação‖
pode ensejar rescisão indireta do contrato de trabalho e a reparação por dano moral. Essa atitude seria
caracterizada por solicitações ou manifestações físicas ou verbais, como de prejudicar alguém no
trabalho ou criar uma situação hostil ou embaraçosa.
No crime de tráfico internacional de pessoas para prostituição, acrescenta-se a multa como
penalidade em todos os casos tipificados e cria-se um novo artigo, tipificando o crime de promoção do
recrutamento, transporte, transferência, alojamento ou acolhimento de pessoa que venha a exercer a
prostituição.

CAPÍTULO II - DOS CRIMES SEXUAIS CONTRA VULNERÁVEL


(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009).

Estupro de vulnerável (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)


Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze)
anos: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1o Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por
enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que,
por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 3o Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 4o Se da conduta resulta morte: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

Corrupção de menores

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Art. 218. Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a satisfazer a lascívia de outrem: (Redação
dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Satisfação de lascívia mediante presença de criança ou adolescente (Incluído pela Lei nº 12.015, de
2009)
Art. 218-A. Praticar, na presença de alguém menor de 14 (catorze) anos, ou induzi-lo a presenciar,
conjunção carnal ou outro ato libidinoso, a fim de satisfazer lascívia própria ou de outremPena -
reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos
Art. 3º Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual de vulnerável (Incluído
pela Lei nº 12.015, de 2009)
Art. 218-B. Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual alguém
menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone: (Incluído pela Lei nº
12.015, de 2009)
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 1o Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também
multa. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 2o Incorre nas mesmas penas: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
I - quem pratica conjunção carnal ou outro ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior
de 14 (catorze) anos na situação descrita no caput deste artigo; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as práticas referidas
no caput deste artigo. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 3o Na hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da
licença de localização e de funcionamento do estabelecimento. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)

CAPÍTULO V - DO LENOCÍNIO E DO TRÁFICO DE PESSOA PARA FIM DE PROSTITUIÇÃO OU


OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL (REDAÇÃO DADA PELA LEI Nº 12.015, DE 2009).

Mediação para servir a lascívia de outrem


Art. 227 - Induzir alguém a satisfazer a lascívia de outrem:
Pena - reclusão, de um a três anos.
§ 1oSe a vítima é maior de 14 (catorze) e menor de 18 (dezoito) anos, ou se o agente é seu
ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro, irmão, tutor ou curador ou pessoa a quem esteja
confiada para fins de educação, de tratamento ou de guarda:(Redação dada pela Lei nº 11.106, de
2005).
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
§ 2º - Se o crime é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
Pena - reclusão, de dois a oito anos, além da pena correspondente à violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual


Art. 228 - Induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual, facilitá-la,
impedir ou dificultar que alguém a abandone: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de2009).
Pena- reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009).
§ 1o Se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou
curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009).
Pena- reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos.(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009).
§ 2º - Se o crime, é cometido com emprego de violência, grave ameaça ou fraude:
Pena -reclusão, de quatro a dez anos, além da pena correspondente à violência.
§ 3º - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.

Casa de prostituição
Art. 229. Manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual,
haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do proprietário ou gerente: (Redação dada pela Lei nº
12.015, de 2009). Pena -reclusão, de dois a cinco anos, e multa.

Rufianismo

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Art. 230 -Tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente de seus lucros ou fazendo-se
sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça: Pena -reclusão, de um a quatro anos, e multa.
§ 1o Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o crime é cometido por
ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou curador, preceptor ou
empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de cuidado, proteção ou
vigilância: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009). Pena- reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e
multa. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009).
§ 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que impeça ou
dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)
Pena- reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, sem prejuízo da pena correspondente à
violência.(Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009)

Tráfico internacional de pessoa para fim de exploração sexual


Art. 231. Promover ou facilitar a entrada, no território nacional, de alguém que nele venha a exercer a
prostituição ou outra forma de exploração sexual, ou a saída de alguém que vá exercê-la no
estrangeiro. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009).
Pena- reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009).
§ 1o Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar ou comprar a pessoa traficada, assim
como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. (Redação dada pela
Lei nº 12.015, de 2009).
§ 2o A pena é aumentada da metade se: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009).
I- a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).
II- a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).
III- se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou
curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância; ou (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).
IV- há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)
§ 3o Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também
multa.(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).

Tráfico interno de pessoa para fim de exploração sexual


Art. 231-A. Promover ou facilitar o deslocamento de alguém dentro do território nacional para o
exercício da prostituição ou outra forma de exploração sexual: (Redação dada pela Lei nº 12.015, de
2009).
Pena- reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. (Redação dada pela Lei nº 12.015, de 2009).
§ 1o Incorre na mesma pena aquele que agenciar, aliciar, vender ou comprar a pessoa traficada,
assim como, tendo conhecimento dessa condição, transportá-la, transferi-la ou alojá-la. (Incluído pela
Lei nº12.015, de 2009).
§ 2o A pena é aumentada da metade se: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).
I- a vítima é menor de 18 (dezoito) anos; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).
II- a vítima, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato; (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).
III- se o agente é ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou
curador, preceptor ou empregador da vítima, ou se assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância; ou (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).
IV- há emprego de violência, grave ameaça ou fraude. (Incluído pela Lei nº12.015, de 2009).
§ 3o Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem econômica, aplica-se também
multa.(Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009).

Das Provas nos Crimes Sexuais


Uma das maiores dificuldades enfrentadas pela Justiça nos casos de violência sexual contra crianças
e adolescentes está na tomada de depoimento das vítimas. Na maioria das vezes, o autor é um parente
ou alguém próximo à família da vítima. Raramente existem testemunhas desses crimes, por ocorrerem
no ambiente doméstico, e eles não costumam deixar vestígios materiais.
A carência de provas materiais é o grande empecilho para uma adequada condenação a acusados
de crimes de índole sexuais, a maioria das vezes praticados em locais ermos, sem testemunhas e a
dificultar as possibilidades de socorro. Os crimes contra a dignidade sexual, quando cometidos sem
deixar um conjunto probatório robusto, ocasionam uma séria dúvida: a palavra do ofendido,

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incriminando, opondo-se à palavra do acusado, negando. Porém, a orientação do STF é a condenação
baseada somente na palavra da vítima ante a inexistência da materialidade da infração e de
testemunhas, quase impossível nesses casos.

Tipos de Provas
- Laudo Psicológico;
- Exame Corpo de Delito;
- Testemunhas;
- Documentos (Vídeos e Fotografias).

Provas Testemunhais
A prova testemunhal é obtida por meio de declarações acerca do fato, realizadas por pessoas que
comparecem ao processo.
- Terceiros - que tem o dever de reproduzir os fatos percebidos através de seus sentidos, não
podendo se recusar, sob pena de responder por crime de falso testemunho, já que tendo conhecimento
do fato delituoso, não pode se calar à verdade.
- Acusado - que nesse momento tem a oportunidade de se dirigir diretamente ao juiz, apresentando a
sua versão defensiva, podendo indicar meios de prova, permanecer em silêncio e até confessar.
- Vítima - cuja oitiva não extrapola o número de testemunhas que podem ser arroladas.

Se as palavras de uma pessoa adulta geram dúvidas, de mais fragilidade reveste-se a palavra da
criança, já que possui como agravante a ausência de procedimento específico para sua oitiva,
contrariando, assim, o tratamento diferenciado preconizado pelo art. 227 da CF.

―Quando se trata de criança, há expectativa para uma fala fantasiosa, podendo ser sugestionada por
um adulto, mal intencionado ou não, pois lhe falta maturidade para compreender o significado e as
consequências da sua atitude, além de seu relato estar sujeito a divergências que podem advir da
tentativa de proteger o agressor e sua família, já que nesse tipo de delito, na maioria dos casos o
agressor é membro da família ou alguém muito próximo afetivamente‖ (Nucci)

Apesar de toda especificidade do caso, não existe previsão legal exclusiva para a oitiva das crianças
e adolescentes, vítimas de crimes sexuais, restando aos inquiridores a utilização do mesmo
procedimento de tomada de depoimentos de adultos. Assim, por não considerar a condição peculiar de
desenvolvimento da vítima, além do risco de lhe provocar dano psicológico, incorre-se, ainda, no perigo
de prejudicar a confiabilidade da prova produzida com base no relato do infante.
Fator relevante a se considerar também é todo o trajeto porque passa o infante até chegar ao
magistrado para ser inquirido sob o crivo do contraditório, pois já foi submetido a várias entrevistas, por
profissionais diferentes, cuja técnica raramente é informada no processo quebra-cabeça de informações
registradas por esses profissionais, que muitas vezes não tem preparo adequado para administrar tal
situação.
Atualmente, os aspectos vivenciados pela criança, vítima do abuso, são:
- Relatar mais de uma vez (na fase policial e também na fase judicial – mais de uma vez se preciso);
- Para várias pessoas estranhas a si (conselheiro tutelar, delegado, psicólogo, assistente social,
médico, juiz, etc);
- Fato constrangedor para si (o ato sexual, o abuso sofrido, com detalhes);
- Despreparo de alguns profissionais (que usam palavras inadequadas, que desconhecem técnicas
que reduziriam a revitimização e a melhor coleta do relato, que não sabem até onde podem e é
adequado avançar na inquirição, que desconhecem as peculiaridades daquele pequeno ser).

Acrescenta ao Estatuto da Criança e do Adolescente, disposições sobre a forma de inquirição de


testemunhas e produção antecipada de prova quando se tratar de crimes contra a dignidade sexual,
com vítima ou testemunha criança ou adolescente e acrescenta o Art. 469-A ao Decreto-Lei nº 3.689 de
03 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal.

Da Inquirição de Testemunhas
Art. 197-A. Far-se-á a inquirição judicial de criança e adolescente, vítima ou testemunha, quando se
tratar de crime contra a dignidade sexual, na forma prevista nesta Seção e com os seguintes objetivos:
I – Para salvaguardar a integridade física, psíquica e emocional do depoente, considerada a sua
condição peculiar de pessoa em desenvolvimento;

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II – Por motivo de idade do depoente, para que a perda da memória dos fatos não advenha em
detrimento da apuração da verdade real;
III – Para evitar a revitimização do depoente, com sucessivas inquirições sobre o mesmo fato, nos
âmbitos criminal, cível e administrativo.

Art. 197-B. Na inquirição de criança e adolescente, vítima ou testemunha de delitos de que trata essa
Seção, adotar-se-á, preferencialmente, o seguinte procedimento:
I - A inquirição será feita em recinto diverso da sala de audiências, especialmente projetado para
esse fim, o qual conterá os equipamentos próprios e adequados à idade e à etapa evolutiva do
depoente;
II - Os profissionais presentes à sala de audiências participarão da inquirição através de equipamento
de áudio e vídeo, ou de qualquer outro meio técnico disponível;
III - A inquirição será intermediada por profissional devidamente designado pela autoridade judiciária,
o qual transmitirá ao depoente as perguntas do Juiz e das partes;
IV - O depoimento será registrado por meio eletrônico ou magnético, cuja degravação e mídia
passarão a fazer parte integrante do processo.
Parágrafo único: A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento das partes, poderá adotar
idêntico procedimento em relação a crimes diversos dos tutelados por esta Seção, quando, em razão da
natureza do delito, forma de cometimento, gravidade e consequências, verificar que a presença da
criança ou adolescente na sala de audiências possa prejudicar o depoimento ou constituir fator de
constrangimento em face de sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

Da Produção Antecipada de Provas


Art. 197-C Para apuração dos crimes previstos no artigo anterior será permitida a produção
antecipada de prova.

Art. 197-D O pedido de produção antecipada de prova poderá ser determinado de ofício pelo Juiz ou
proposto por pelo Ministério Público ou advogados das partes, através de manifestação fundamentada,
com referência aos fatos sobre os quais a prova haverá de recair.

Art. 197-E A produção antecipada de prova poderá consistir em inquirição de testemunha ou vítima e
exame pericial.
§ 1º Tratando-se de inquirição de vítima ou testemunha, será intimado o interessado a comparecer à
audiência em que será o depoimento prestado, inclusive para que se faça acompanhar de advogado, ao
qual será fornecida cópia da justificativa apresentada pelo Ministério Público. Ausente o interessado na
audiência de inquirição, ou, estando presente, se não possuir procurador constituído, ser-lhe-á
nomeado defensor dativo.
§ 2º Sendo hipótese de prova pericial, esta deverá ser realizada por per it o oficial ou, na falta, por
duas pessoas idôneas, por t adoras de curso superior, nomeadas pelo Juiz, facultada a indicação de
assistentes técnicos e apresentação de quesitos.

Art. 197-F Realizada a produção antecipada em caráter preparatório, entendendo a autoridade


judiciária ou o Ministério Público que os fatos relatados poderão ensejar a instauração de inquérito
policial ou procedimento perante o Conselho Tutelar, providenciará que haja encaminhamento às
autoridades competentes de cópia do laudo pericial ou do depoimento e da mídia contendo sua
gravação, conforme o caso.
§ 1.º Tratando-se de prova oral, efetivada a produção antecipada, o depoimento instruirá o inquérito
policial, o expediente administrativo perante o Conselho Tutelar ou quaisquer expedientes perante o
Ministério Público, sendo vedada a reinquirição do depoente, exceto se for ela autorizada judicialmente.
§ 2. A reinquirição do depoente, após iniciada ação judicial, constituir-se-á em medida excepcional,
devendo ser pormenorizadamente fundamentada.

Himenologia
O hímen é uma simples membrana dérmica presente na entrada da vagina. Normalmente é
impermeável e possui uma abertura anelar, por onde são eliminadas secreções e a menstruação. Em
certos casos, sua abertura é muito estreita ou pode não existir, o que requer uma intervenção cirúrgica
a fim de se evitar a retenção de líquidos. Sua existência em certos animais mamíferos tem a finalidade
de proteger as fêmeas durante a sua infância dos riscos de infecções genitais. Por essa razão, durante

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esta fase da vida das meninas ela venha a ser uma membrana, por vezes, espessa e resistente.
Entretanto, com a aproximação da puberdade torna-se muito fina e pouco resistente.

Exame do Hímen: o exame realizado objetiva se verificar se hímen possa estar íntegro, com rotura
completa, incompleta, se há agenesia (ausência congênita), se é complacente ou está reduzido a
carúnculas mitriformes (ocorre em mulheres que pariram). Existem hímens rotos quanto à cicatrização
e, nesse caso, verifica-se a ruptura de data recente (até cerca de 20 dias); ruptura antiga ou cicatrizada
e ao se afirmar que a rotura é antiga, isto significa que ocorreu há mais de 20 dias.

Observar que o entalho é pouco profundo, não alcançando o bordo aderente e é simétrico. Por não
alcançar o bordo, é menos sujeito à infecção. Já a ruptura é uma lesão assimétrica, que pode ser
completa ou incompleta, da maneira como atinja ou não o bordo. Por ser uma abertura maior, é mais
susceptível a infecções que o entalhe.

Hímen complacente: Este permite a conjunção carnal sem que haja o rompimento em virtude de sua
elasticidade. Presume-se que 10% dos hímens são complacentes, e este conceito relativo também
interdepende da relação espessura do pênis versus largura da vagina. Vamos a algumas considerações
periciais sobre o hímen, que geralmente se rompe na primeira conjunção carnal. Pode ocorrer se
rompimento na masturbação; na introdução de algum corpo estranho; na colocação de absorvente
íntimo. O seu exame não constitui tarefa pericial fácil, porque pode levar o perito a alguns equívocos,
como no caso exame macroscópico, sem colposcópio, onde pode haver falha em 10% dos casos.

Himenorrafia: É o processo de reconstituição do hímen. Existem intervenções cirúrgicas de


reconstituição, que só podem ser realizadas com autorização judicial. Existe também uma intervenção
que têm por finalidade simular o rompimento do hímen, através da introdução de pontos nos bordos,
provocando hemorragias durante a conjunção, simulando o rompimento do hímen. O perito deve avaliar
as duas possibilidades: a reconstituição e a simulação.

Dificuldades periciais: Existem himens cujo exame apresenta algumas dificuldades, como os infantis,
os franjados e os complacentes. É necessário um diagnóstico diferencial entre as rupturas completas,
incompletas e entalhes congênitos, como as rupturas recentes e cicatrizadas e quanto ao
reconhecimento e vestígios, esses são indicativos de cópula vulvar e toque digital. Na mulher com vida
sexual pregressa, a perícia deve buscar provas de ejaculação (sêmen), constatando-se a presença de
espermatozoides e líquido seminal por meio do exame de Fosfatase ácida (que é um indício) e da
Proteína P30 (PSA que é uma constatação).
A Fosfatase Ácida é uma enzima normalmente presente em alguns órgãos, tecidos e secreções em
teor normal. O líquido seminal contém grandes teores de fosfatase ácida e ao ser encontrado altos
teores de fosfatase ácida na vagina, esse é indicativo de sêmen (ejaculação) e, por conseguinte, de
conjunção carnal (penetração vaginal). O teste de Proteína P30 (PSA) trata-se de uma glucoproteína
produzida pela próstata e idêntica ao PSA - Antígeno Prostático Específico (marcador do câncer da
próstata), cuja presença no sêmen independe de haver ou não espermatozoides. Sua verificação no
fluído vaginal é teste de certeza quanto à presença de sêmen na amostra estudada (ejaculação).

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Devemos observar que pode ocorrer estupro sem que tenha havido ejaculação (sem sêmen) ou o
sêmen encontrado na vítima pode ser oriundo de penetração consensual anterior.
Lesões genitais: são contusões ou lacerações decorrentes da violência da penetração, desproporção
de tamanho entre pênis, vulva e vagina (no caso de crianças) e podem fundamentar o diagnóstico de
conjunção carnal e do ato libidinoso.
Pelos genitais: são os pelos pubianos soltos encontrados na região pubiana, na região vulvar, sobre
o corpo da vítima, na roupa íntima ou de cama (desde que comprovada sua origem como sendo de
outra pessoa, é indicativo de relação sexual).
Manchas de sêmen: quando presente nas vestes, roupas íntimas ou de cama, constituem achado
comum e importante da ocorrência de crimes de natureza sexual. No caso da mulher com vida sexual
pregressa, o diagnóstico de maior certeza consiste na confirmação da presença do elemento figurado
do esperma (espermatozoide). A constatação da presença de um único espermatozoide em cavidade
vaginal é prova de conjunção carnal e a confirmação da presença do esperma (sêmen) na cavidade
vaginal é importante no diagnóstico da conjunção carnal nos casos de hímen complacente ou de
desvirginadas.
Os testes utilizados para identificar se há ou não esperma são a reação de Florence, os métodos de
Barbério e de Bacchi, a presença de Fosfatase Ácida (orientação) e a Glicoproteína P30/PSA (certeza).
A presença de sêmen na vagina é confirmada em amostras de fluído vaginal pelo achado de
espermatozoides, bastando apenas um ou poucos deles, sejam móveis ou não, com ou sem cauda e a
coleta deve ser cuidadosa (swab = cotonete) com exames a fresco e com coloração pela Técnica
Christmas Tree ou hematoxilina-eosina.
Gravidez: a conjunção carnal poderá também ser comprovada com base na constatação de gravidez,
cujo prazo máximo legal é de 300 dias. No caso do aborto, ele é considerado, em Medicina Legal, como
a interrupção da gravidez, por morte do concepto em qualquer época da gestação, antes do parto. Para
se caracterizar o aborto é necessário que se comprove que houve a morte do concepto ainda dentro do
corpo da gestante.
Em alguns países já se pesquisam as substâncias lubrificantes de alguns preservativos,
possibilitando o diagnóstico de conjunção carnal, mesmo quando o homem utiliza preservativo.
Evidências de conjunção carnal não levam a diagnóstico (ex.: equimoses, pontos hemorrágicos,
escoriações, presença de pelos etc. são evidências, mas não garantem um diagnóstico). Podem ser
encontradas algumas tabelas sobre até quanto tempo após a conjunção se pode pesquisar a presença
de espermatozoides na vagina. Geralmente, as vítimas de agressão sexual têm uma enorme tendência
de, finda a agressão, limpar-se exageradamente, como se limpassem também quaisquer vestígios de
agressão, inclusive com o uso de ducha vaginal. Para a Medicina, tal fato pode destruir a possibilidade
da prova.
Segundo alguns autores, existe a possibilidade de se encontrarem vestígios de espermatozoides na
vagina até 22 dias após a conjunção. Na prática, porém, após cinco ou seis dias já ficará mais difícil
encontrá-los.

Atos de libidinagem ou atos libidinosos


Além da conjunção carnal, também chamada de ―ato libidinoso por excelência‖, a libido pode ser
satisfeita por outros atos sexuais denominados atos libidinosos diversos da conjunção carnal ou atos de
libidinagem que são:
a) Cópulas ectópicas: ou cópulas fora da vagina: cópula anal, retal e vulvar (também chamada
cópula vestibular ou ainda, ad introitum) cópula oral ou felação, entre as coxas, etc.
b) Atos orais: além da felação, há o sexo oral na genitália feminina (cunilíngua) e os beijos e sucções
nas mamas, coxas ou outras regiões de conotação sexual.
c) Atos manuais: masturbação e manipulações eróticas de todos os tipos.

Tipos de Violência
a) Efetiva:
- Física: A lei exige que o agressor tenha agido de forma violenta, anulando ou enfraquecendo a
oposição da vítima.
- Psíquica: é aquela em que o agente conduz a vítima a uma forma de não resistência por inibição ou
enfraquecimento das faculdades mentais. A embriaguez completa, a anestesia, os estados hipnóticos, a
ação de drogas alucinógenas. Golpe: ―Boa noite Cinderela‖.

b) Presumida (Estupro de Vulnerável)


Três situações:

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Menor de 14 anos.
Vítima alienada ou débil mental e o agente conhecia esta circunstância.
Qualquer causa que impeça a vítima de resistir.

13. Exame perinecroscópico de aborto e infanticídio

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

EXAME PERINECROSCÓPICO
O Exame perinecroscópico é aquele realizado por peritos criminais no local de crime. Não deve ser
confundido com a necropsia, que é realizado por médico legista e exame do corpo em seu exterior e
interior. O exame perinecroscópico limita-se ao exame externo.
O Código de Processo Penal determina no artigo 6º, inciso I, à autoridade policial, ante o pronto
conhecimento da ocorrência de uma infração penal, dirigir-se ao local, providenciando para que não se
altere o estado de conservação das coisas.
O perito deverá proceder ao exame minucioso e circunstanciado do local, referindo: a) posição e
situação do cadáver que deverão ser fotografados; b) a distância em que o cadáver se encontra de
elementos de ordem material relacionados com o evento, como a arma de fogo, o agente contundente
ativo, a impressão deixada pela marca do projétil, as manchas de sangue etc; c) a presença de
pegadas, impressão digital, vestígios de luta etc.
O local do crime, para perícia, tanto poderá ser interno ou fechado (quarto, banheiro, sala etc), ou
externo ou aberto (estrada, campos, matas).
Assim, a preservação do local, a elaboração das perícias através dos laudos periciais e a descrição
minuciosa daquilo que foi observado podem representar a chave conclusiva de casos aparentemente
sem solução.
Geralmente o laudo vem instruído com fotos, facilitando o titular da futura ação penal quanto a
visualização do local tal como foi encontrado.
Em síntese, vislumbra-se que os peritos criminais têm atribuição para exame do local e instrumentos
do crime, devendo efetuar o exame perinecroscópico para orientação de seus trabalhos, fotografando o
corpo na posição em que for encontrado, bem como todas as lesões externas e vestígios deixados no
local do crime, em obediência ao art. 164 do Código de Processo Penal.
Os médicos legistas, por outro lado, efetuam o exame necroscópico , nas dependências do Instituto
Médico Legal, por vezes sem ter conhecimento da dinâmica do evento, dos comemorativos ou mesmo
dos achados de local.
O médico legista tem melhores condições para exame do corpo que o perito criminal que, muitas
vezes, examina o cadáver, na via pública e com recursos limitados. Sendo assim, um exame mais
detalhado, no IML, venha a revelar ferimentos não observados no local dos fatos, mesmo porque o
perito criminal não tem acesso aos ferimentos no interior do corpo. O laudo do Instituto Médico-Legal,
baseado no exame no corpo da vítima, deve complementar os exames realizados pelo perito criminal no
local dos fatos.

Aborto
A palavra aborto é derivada de ―ab-ortus‖, que significa privação do nascimento. A legislação, ao
contrário da medicina, não define tempo limite para a ocorrência de aborto, aceitando a denominação
desde a concepção até o termo.
Abortamento é o ato de abortar.
a) Expulsão ou extração do concepto vivo ou morto pesando menos de 500g. (menor que 22
semanas completas de idade gestacional).
b) Feto Inviável - (20 - 24 semanas).

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c) Feto Viável - (25 - 34 semanas).
d) Prematuridade - (34 - 36 Semanas).

Do ponto de vista legal, o aborto pode ser classificado como natural (espontâneo) ou provocado.
O aborto espontâneo é aquele em que o próprio organismo se encarrega de realizá-lo, independe da
vontade da mulher. Caracteriza-se pela inviabilidade natural do concepto e sua morte devido a
diferentes fatores etiológicos. Observa-se que o filho é desejado, mas ocorre a interrupção da gestação
por fatores impeditivos da própria natureza, sem participação da vontade.
O aborto provocado é aquele feito intencionalmente, ocasionando, então, a morte do feto por vontade
da própria gestante e/ou de outrem. Subclassifica-se em legal ou criminoso.
- Aborto legal é aquele que se enquadra em situações previstas e amparadas pela lei. Atualmente,
no Brasil, apenas duas situações são consideradas legais: gravidez decorrente de estupro e quando
este é o único meio de salvar a vida da gestante. Na primeira situação fala-se em aborto sentimental,
moral ou humanitário. A segunda situação configura o chamado aborto terapêutico.
A lei não define tempo de gravidez, permitindo que nessas situações a gravidez seja interrompida a
qualquer tempo de sua evolução (ovo, embrião ou feto).
No aborto sentimental o perigo deve ser real e não presumível por prognósticos. A lei oferece
amparo ao aborto em situações, por exemplo, de gestação ectópica, câncer de colo uterino, formas
graves de diabete, cardiopatia grave, nefropatia severa, insuficiência hepática. Instalado o perigo
iminente não há necessidade de autorização judicial, pois a demora poderia caracterizar negligência,
imprudência ou omissão de socorro. O médico deve dar ciência à gestante e à família. A questão deve
ser discutida e assinada por pelo menos mais dois médicos, p.ex. anestesista e diretor clínico.
Ainda nesses casos, é mister a autorização expressa e formal da gestante ou de seu representante
legal para que se proceda a prática do aborto. O procedimento poderá ser realizado sem o
consentimento como medida de absoluta exceção.
Não é absurdo ressaltar que mesmo o aborto legal somente pode ser efetuados por médico
devidamente habilitado.
No caso de estupro (conjunção carnal mediante violência física ou grave ameaça) é permitido o
aborto. Em geral há outras lesões associadas e frequentemente há sinais de asfixia. Mesmo na
ausência de sinais típicos, a violência pode ser presumida no caso da vítima ser menor de 14 anos,
alienada ou débil mental, desde que isso seja de conhecimento do autor, ou ainda se a vítima for
incapaz de oferecer resistência contra o agressor.
Além do aborto provocado – legal, há o aborto acidental, ou seja, aquele decorrente de um
traumatismo acidental, por exemplo, atropelamento, queda de escada, acidente motociclístico. O aborto
decorrente de acidente também não configura crime.
Qualquer outra prática diversa das duas previstas pelo Código Penal Brasileiro e de acidentes é
considerado crime. Portanto, o aborto eugênico, econômico, social ou estético são práticas criminosas.
A perícia no caso de aborto se destina a confirmar o diagnóstico de gravidez atual ou pregressa e a
ocorrência ou não de aborto.
Comprovando-se a presença de gravidez atual ou recente, deve-se tentar estimar o tempo de
gestação e em que época ocorreu o aborto. Não havendo comprovação de gravidez não pode haver
aborto e, por conseguinte trata-se de crime impossível.
Deve diferenciar aborto espontâneo, traumático (acidental), provocado e decorrente de lesão
corporal.
No caso de aborto provocado a perícia deve verificar a presença de vestígios de trauma (lesões,
secreção purulenta), buscando comprovar a prática abortiva e estabelecer o nexo causal entre a ação e
o dano, identificando o meio causador do aborto sempre que possível.
Os restos fetais e placentários devem ser encaminhados para exame necroscópico ou
anatomopatológico.
Não se esquecer de que a paciente / pericianda é um ser humano e deve ser dada especial atenção
ao estado clínico geral, padrões hemodinâmicos, sinais de infecção, enfim, proceder-se ao exame e
descrição completa. O estado psicológico também deve ser descrito devido o risco de intoxicações.
Sugere-se coleta de exame toxicológico, ou pelo menos que se mantenha amostra disponível no caso
de solicitação judicial.
Exames complementares devem ser realizados sempre que necessário. Sugere-se a realização de
radiografia do conteúdo expelido que pode comprovar a existência de partículas ósseas imperceptíveis
a olho nu.
As lesões observadas no embrião devem ser relatadas em prontuário pelo médico assistente que
posteriormente encaminhará o feto e anexos para o Instituo Médico Legal.

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Se houver informações, descrever a data e as manobras realizadas e horário das expulsões. Do
mesmo modo, se houver relato de ingestão de droga, procurar estabelecer o que, quando e quanto
(dose).
As lesões encontradas podem variar de pequenos sangramentos e escoriações locais até a morte
nos casos mais graves. A morte pode decorrer da intoxicação, de hemorragias, de infecções, de
rompimentos de órgãos internos, como a bexiga e o intestino, além do próprio órgão genital. Os casos
mais graves, em geral, podem ser associados ao aborto provocado, onde a presença de escoriações,
perfurações do útero e da vagina, de vísceras abdominais e muitas vezes o produto ou parte do aborto
ainda no corpo da mulher denunciam a prática criminosa. Já nos casos de aborto espontâneo as lesões
não são frequentes, da mesma forma que nos casos autorizados por lei, nos quais diversas precauções
são tomadas para preservar a integridade da mulher.
O artigo 127 do Código Penal estabelece que as penas cominadas nos crimes de aborto provocado
pela gestante ou com seu consentimento (art. 124), e no aborto provocado por terceiro (art. 125), ―são
aumentadas de um terço se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a
gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe
sobrevém a morte‖.
Nestes casos os legistas/peritos verificarão se houve ou não lesão corporal grave na gestante, para
posterior aplicação deste artigo.
É fato que o Código de Ética Médica e o próprio código Penal protege a paciente quando impede o
médico de divulgar fato que obtenha conhecimento no exercício de sua profissão. No entanto, o direito
da paciente não dá direito ao médico de deixar de relatar, em prontuário, fatos absolutamente
pertinentes e importantes para a avaliação e conclusão pericial. Deste modo, torna-se facultativo à
autoridade policial ou judiciária a solicitação do prontuário, a quem poderá ser entregue cópia integral,
em envelope lacrado, devendo ser compulsado apenas por médico devidamente habilitado, pela própria
paciente ou por seu representante legal, em decorrência dos limites legais e do Código de Ética Médica.
Assim, o médico assistente e o perito devem descrever o exame de forma mais minuciosa possível.

Infanticídio
No Código Penal o art. 123 nos diz que o termo se traduz em ―matar, sob a influência do estado
puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após. Pena - detenção de 2 a 6 anos. Art.134: Expor
ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria. Pena - detenção de 1 a 3 anos‖. De
qualquer forma é a morte do recém-nascido provocada pela própria mãe, sob estado de transtorno
mental, decorrente do trabalho de parto ou puerpério (estado puerperal).
Conceito: assim, o ato da mãe matar o próprio filho, durante ou logo após o parto, sob a influência do
estado puerperal é um crime que chegou a ser punido como homicídio agravado sujeito a pena capital.
Hoje, adota-se como atenuante o conceito do estado puerperal e na antiga legislação foi um crime que
consistia em se matar o recém-nascido até 7 dias depois do nascimento pela mãe ou qualquer outra
pessoa. Pelo código em vigor, se o ato é praticado fora da influência do estado puerperal ou qualquer
outra pessoa não haverá infanticídio, mas homicídio. Por essa razão o novo Código Penal passou a
definir infanticídio como ―matar a mãe o próprio filho, para ocultar sua desonra, durante ou logo após o
parto‖.
Para se admitir que houve o infanticídio, é indispensável que o recém-nascido seja morto pela
própria mãe. Para tipificação desse delito de difícil apuração é indispensável, em tese, que se comprove
o nascimento do feto com vida. Nesse caso, a docimasia hidrostática de Galeno é utilizada para
comprovar o nascimento com vida. O termo docimasia tem origem no grego dokimasia e no francês
docimasie, que significa ―experiência, prova‖. Esta é uma medida pericial, de caráter médico-legal,
aplicada com a finalidade de verificar se uma criança nasce viva ou morta e, portanto, se chegou a
respirar.
Após a primeira respiração, o feto tem os seus pulmões ―abertos‖ e cheios de ar.
Quando colocados numa vasilha com água, eles flutuam e isto prova que o bebê nasceu vivo; se isto
não vier a ocorrer, se os pulmões afundarem é prova que não houve respiração e, consequentemente,
não houve vida. Daí, a denominação docimasia pulmonar hidrostática de Galeno. No âmbito jurídico a
docimasia é relevante porque contribui para a determinação do momento da morte, pois se o indivíduo
vem à luz viva ou morta, as consequências jurídicas serão diferentes em cada caso.

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14. Questões

Prof. Wagner Luiz Heleno Bertolini

01. (UEG - NÚCLEO - 2008 - PC-GO - Delegado de Polícia) A lesão conhecida como mordedura ou
dentada produzida pela arcada dental humana, em razão de suas características, classifica-se como
(A) cortocontudente.
(B) contundente.
(C) perfurante.
(D) perfurocontundente.

02. (CESPE / Perito Criminal Federal (área 12) Medicina/PF 2013). No que se refere à perícia
médica, julgue os itens subsequentes.
O perito nomeado em um processo civil poderá delegar suas funções a outro profissional, desde
que este profissional possua conhecimento específico a respeito do caso em análise.
RESPOSTA ERRADO. A função do perito é pessoal e indelegável, portanto seu trabalho é de sua
exclusiva responsabilidade.

03. (CEFET-BA - 2008 - PC-BA - Delegado de Polícia) Num ferimento de entrada de projétil de
arma de fogo, geralmente se encontra a presença de
(A) bordas evertidas e zona de chamuscamento.
(B) bordas invertidas e abundante sangramento.
(C) ferimento de forma irregular e zona de esfumaçamento,
(D) ferimento de forma regular e bordas invertidas.
(E) sangramento abundante e ferimento de forma irregular.

04. (PC-SP/DELEGADO DE POLICIA/2011). Perícia médico-legal baseada exclusivamente em


prontuários médicos denomina-se:
(A) complementar
(B) indireta
(C) documental
(D) subsidiária
(E) direta

05. (FUMARC - 2011 - PC-MG - Escrivão de Polícia Civil). Diante de uma ferida linear, com
regularidade de suas bordas, associada a abundante hemorragia, predominância do comprimento sobre
a profundidade e apresentando cauda de escoriação, pode-se afrmar que a lesão foi produzida por
instrumento:
(A) Cortocontundente.
(B) Contundente.
(C) Perfurante.
(D) Cortante.

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06. (CESPE / Perito Bioquímico Toxicologista/PCES2013). O laudo pericial é uma exigência
descrita no Código Penal e deve conter a síntese do exame e da discussão do caso.
RESPOSTA ERRADO. O laudo tem que ser detalhado e não uma ―síntese‖.

07. (FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista) A descrição de um orifício de entrada de projétil
de arma de fogo com buraco de mina de Hoffmann, escoriação de massa de mira (sinal
deWerkgartner), zona de esfumaçamento, zona de tatuagem, equimoses e queimaduras, está
relacionada com:
(A) tiro disparado a grande distância.
(B) tiro disparado de arma de fogo de grosso calibre.
(C) tiro disparado a curta distância.
(D) lesão produzida por projéteis múltiplos.
(E) tiro encostado.

08. (FUNCAB/MEDICO LEGISTA/PCES/ 2013). Em relação aos atos e documentos médico-legais,


é correto afirmar:
(A) Consulta médico-legal é o atendimento realizado pelo perito no setor de necropsias.
(B) Os atestados judiciários são os únicos que têm importância administrativa.
(C) A etapa do relatório conhecida como ―Descrição‖ é a parte mais importante do relatório médico-
legal.
(D) Os legistas devem afirmar a causa jurídica da morte no atestado de óbito. (E) A consulta médica
é a resposta a um parecer médico-legal.

09. (FGV/ Perito Legista Odontologia/PCRJ/2011). Agentes lesivos são todos aqueles capazes
de provocar lesões. Eles podem ser agrupados em:
(A) instrumentos e danos
(B) instrumentos e fontes.
(C) instrumentos e meios.
(D) danos e meios.
(E) fontes e meios.

10. (PC-SP - 2011 - PC-SP - Delegado de Polícia). A figura do "perigo de vida" nas lesões
corporais diz respeito:
(A) ao perigo decorrente da situação em que esteve a vítima por ocasião da agressão.
(B) ao perigo resultante do dano pessoal ocasionado pelo ato criminoso.
(C) à situação de prognóstico médico de grave dano
(D) a situação de expectativa de risco de vida relacionada à agressão.
(E) todo tipo de atividade relativa a vítima em seu cotidiano.

11. (NCE/UFRJ/ODONTO LEGISTA PCRJ/2001). Constitui exemplo de instrumento


cortocontundente:
(A) a navalha;
(B) a sonda exploradora n°5;
(C) o machado;
(D) um pedaço de cano de ferro;
(E) o punhal.

12. (UECE/Perito Legista/Odontologia/PCCE/2003). Uma lesão produzida por um revólver é do


tipo:
(A) punctória
(B) perfurocontusa

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(C) contusa
(D) perfuroincisa
RESPOSTA: C. Pegadinha. A questão está pedindo um tipo de lesão produzida por um revólver. Se
eu pegar um revólver e bater com a coronha (cabo) na cabeça de alguém vai ocorrer uma lesão
contusa, a famosa ―coronhada‖. Agora, se o revólver é usado para disparar um projétil, ai sim, o projétil
é um instrumento perfurocontudente e não o revólver.

13. (ACADEPOL/ESCRIVÃO PCMG/2011). Diante de uma ferida linear, com regularidade de suas
bordas, associada a abundante hemorragia, predominância do comprimento sobre a profundidade e
apresentando cauda de escoriação, pode-se afirmar que a lesão foi produzida por instrumento:
(A) Cortocontundente.
(B) Contundente.
(C) Perfurante.
(D) Cortante.

14. (UNIVERSA/Perito Criminal/Prova 3 - Odontologia/PCDF/2012). Acerca da localização, as


lesões contusas superficiais são
(A) rubefação, edema traumático, bossas linfáticas e sanguíneas, rotura visceral e esmagamento.
(B) escoriação, rubefação, hematoma, equimose e esmagamento.
(C) escoriação, rubefação, edema traumático, bossas linfáticas e sanguíneas, equimose e
esmagamento.
(D) escoriações, rubefação, edema traumático, bossas linfáticas e sanguíneas, hematoma e
equimose.
(E) escoriações, rubefação, edema traumático, bossas linfáticas e sanguíneas, hematoma,
equimose e esmagamento

15. (UNIVERSA/Perito Criminal/Prova 3 Odontologia/PCDF/2012). A lesão muito comum e


vulgarmente conhecida como galo, na literatura médico legal, recebe a denominação de
(A) rubefação.
(B) edema.
(C) hematoma extradural.
(D) bossa sanguínea
(E) equimona.

16. (UNIVERSA/Perito Criminal/Prova 3 Odontologia/PCDF/2012). Durante um desentendimento,


Pedro agrediu João com um cassetete no rosto. João, em decorrência dessa agressão, caiu sobre o
corte de um machado que estava no chão. Ainda insatisfeito com o resultado, Pedro sacou uma
navalha e desferiu três golpes em João, um no rosto e outros dois no abdômen. Finalizando a
agressão, deu uma mordida na orelha esquerda de João. Nesse caso, os instrumentos de agressão
utilizados por Pedro, na ordem de ocorrência no texto, são classificados, respectiva mente, como
(A) contuso, cortocontuso, cortante e cortante.
(B) contundente, cortocontundente, cortante e perfurocortante.
(C) contuso, cortocontundente, perfurocortante e cortante.
(D) contundente, cortante, perfurocortante e cortocontundente.
(E) contundente, cortocontundente, cortante e cortocontundente.

17. (UNIVERSA-MEDICO LEGISTA-GO/2010). Com relação às lesões por projéteis de arma de


fogo, assinale a alternativa correta.
(A) A ausência de tatuagem ou esfumaçamento na pele ao redor do orifício de entrada de projétil de
arma de fogo exclui o disparo a curta distância.
(B) É mais comum ser encontrada tatuagem sem esfumaçamento que o contrário.

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(C) O sinal do funil presente em lesão produzida por projétil de arma de fogo na calvária indica que
se trata de uma entrada.
(D) Os bordos evertidos de uma lesão por projétil de arma de fogo indicam que se trata de uma
saída.
(E) Nos casos em que os projéteis foram transfixantes, o número de disparos corresponde à metade
do número de orifícios.

18. (UNIVERSA/Perito Legista/PCDF/2008). Com relação aos ferimentos provocados por


instrumento perfuro-contundente, assinale a alternativa incorreta:
(A) A ferida de entrada pode variar de acordo com o tipo de projétil.
(B) A prova de parafina deve ser excluída para investigar a presença de pólvora na mão.
(C) O sinal de Werkgaertner aparece nos tiros por projéteis de alta energia.
(D) A marca de tatuagem aparece nos tiros a curta-distância.
(E) A carboxiemoglobina está presente nos tiros encostados.

19. (UEP/Odonto-legista/PC-PIAUI/2012). Em relação aos traumatismos cranianos, eles podem ser


abertos e fechados. As fraturas cranianas em mapa mundi, provocadas pela queda de um tijolo, por
exemplo, são causadas por quais instrumentos?
(A) Perfurocortantes.
(B) Contundentes.
(C) Cortantes.
(D) Perfurantes.
(E) Perfurocontundentes.

20. (FGV/Perito Legista (Clínica Médica)/2011). Com relação ao resfriamento do corpo humano
após a morte, analise as afirmativas a seguir.
I. Se fizermos um gráfico com as temperaturas retais e o tempo pós-morte, obteremos uma linha
descendente reta cuja inclinação aumenta nos ambientes frios quando comparada à dos ambientes
quentes.
II. A fórmula de Moritz para calcular as horas desde a morte, pela temperatura retal, manda subtrair
de 37º a temperatura registrada no momento do exame e somar mais 3 ao resultado. Este expressa o
número de horas pós-morte.
III. Em condições semelhantes, o corpo de crianças sofre resfriamento mais rápido que o dos
adultos.
Assinale:
(A) se apenas as afirmativas II e III estiverem corretas.
(B) se todas as afirmativas estiverem corretas.
(C) se apenas a afirmativa III estiver correta.
(D) se apenas a afirmativa I estiver correta. (E) se apenas a afirmativa II estiver correta.

21. (UNIVERSA/ Médico-Legista/ GO/ 2010 - Prova do curso de formação). A constatação de


rigidez muscular nos membros inferiores precedendo aos superiores
(A) pode ser consequência de esforço físico intenso
(B) ocorre nos enforcamentos com suspenção completa
(C) ocorre em qualquer tipo de asfixia
(D) resulta do trauma que ocorre nas pernas
(E) somente se verifica após mobilização prévia dos membros superiores

22. (FGV/Perito Legista Odontologia/PCRJ 2011). Um processo de grande importância na


cronotanatognose desenvolve-se em quatro fases: período cromático, período enfisematoso, período
coliquativo e período de esqueletização. Esse processo é denominado:

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(A) autólise.
(B) putrefação
(C) maceração.
(D) coreificação.
(E) mumificação.

23. (UNIVERSA/ Médico-Legista/ GO/ 2010 - Prova do curso de formação). Dos fenômenos
conservadores, qual exige processo prévio de putrefação?
(A) mumificação
(B) saponificação
(C) petrificação
(D) corificação
(E) fossilização

24. (UNIVERSA/Perito Criminal/Prova 3 Odontologia/PCDF/2012). Com relação aos fundamentos


relacionados à cronotanatognose, assinale a alternativa correta
(A) O esfriamento do cadáver representa um dos fenômenos mais importantes na estimativa do
tempo de morte, obtendo-se uma avaliação mais precisa quanto a esse aspecto depois de decorridas
doze horas da cessação da vida.
(B) Para a determinação da morte a partir da análise da perda de peso, faz- se necessário saber,
com a maior precisão possível, o peso do corpo no momento do óbito, o que inviabiliza a utilização de
tal parâmetro na maioria dos casos para estimativa do tempo de morte.
(C) Um fenômeno importante na determinação do tempo da morte é a análise dos livores
hipostáticos, formados geralmente em torno de 30 minutos após o óbito, atingindo o máximo de
intensidade e extensão 2 horas após a morte, fixando-se definitivamente.
(D) A rigidez cadavérica é um dos elementos mais precisos na determinação do tempo de morte,
pois leva em consideração a rigidez em diferentes regiões anatômicas (nuca, membros superiores,
membros inferiores e outros) e não sofre influência do meio externo e do interno.
(E) Os gases da putrefação normalmente não são considerados na estimativa do tempo de morte.
Apesar de serem importantes para a determinação da morte em si, não há variação relevante nos tipos
de gases formados ao longo das horas após a morte. Destarte, os gases da putrefação possuem
discreta relevância na cronotanatognose.

25. (UEG - NÚCLEO - 2008 - PC-GO - Delegado de Polícia). Verificou- se em um cadáver os


seguintes fenômenos: rigidez generalizada, esboço de mancha verde abdominal, reforço da
fragmentação venosa e desaparecimento das artérias do fundo de olho. Com base apenas nessas
observações e desconsiderando outros fatores ambientais, a morte teria ocorrido
(A) de 2 a 4 horas.
(B) mais de 8 e menos de 16 horas.
(C) mais de 16 e menos de 24 horas.
(D) de 48 a 72 horas.

26. (UEG - 2013 - PC-GO - Delegado de Polícia). Grande sucesso mundial de vendas, o livro
Cinquenta tons de cinza aborda temas relacionados à sexualidade (masoquismo, sadismo, dominação).
A sensação de prazer ao se assistir ato sexual praticado por terceiros é denominada
(A) fetichismo
(B) mixoscopia
(C) vampirismo
(D) felação

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27. (UEG - NÚCLEO - 2008 - PC-GO - Delegado de Polícia). A interrupção voluntária da gravidez,
em virtude de má formação do feto, caracteriza o aborto
(A) sentimental
(B) terapêutico.
(C) eugênico.
(D) social.

28. (PC-MG - 2011 - Delegado de Polícia). Retalhos de hímen roto pelo parto vaginal, os quais se
retraem constituindo verdadeiros tubérculos em sua implantação, correspondem a
(A) entalhes himenais.
(B) hímens cribriformes.
(C) carúnculas mirtiformes.
(D) chanfraduras vulvo-himenais.
29. (UFPR - 2012 - TJ-PR - Juiz). A embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de
efeito análogo:
(A) isenta o réu de pena, mas pode ser recepcionada como crime independente punido com pena de
detenção.
(B) é sempre considerada atenuante na prática de qualquer delito.
(C) não exclui a imputabilidade penal.
(D) só tem relevância penal quando a embriaguez atinge percentual perceptível por exame de
bafômetro

30. (FUNCAB - 2009 - PC-RO - Delegado de Polícia). Assinale a afirmativa INCORRETA com
respeito às asfixias.
(A) Por constrição do pescoço pelas mãos: estrangulamento.
(B) Em ambientes por gases irrespiráveis: confinamento, asfixia por monóxido de carbono e asfixia
por outros vícios de ambiente.
(C) Por constrição passiva do pescoço, exercida pelo peso do corpo: enforcamento.
(D) Por obstrução dos orifícios ou condutos respiratórios: sufocações diretas ou indiretas.
(E) Por transformação do meio gasoso em meio líquido: afogamento.

31. (FUNCAB - 2012 - PC-RO - Médico Legista). O sinal de Lichtenberg é uma característica que
pode ser encontrada nas mortes por:
(A) asfixia.
(B) afogamento.
(C) eletroplessão.
(D) soterramento.
(E) fulminação.

32. (CESPE/PERITO CRIMINAL PB/2008). Em relação aos exames periciais, assinale a opção
correta.
(A) Nos casos de morte violenta, bastará o simples exame externo do cadáver, ainda que haja
infração penal a apurar.
(B) Quando encontrados em posição diversa, os cadáveres deverão ser colocados em posição
horizontal para serem fotografados.
(C) Em regra, a autópsia será feita pelo menos seis horas depois do óbito.
(D) É vedado aos peritos instruir os laudos com fotografias que contenham imagens de forte
mutilação corporal.
(E) Após a conclusão das perícias de laboratório, os peritos deverão descartar imediatamente o
material periciado.

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33. (PERITO CRIMINAL - POLÍCIA CIVIL/RS/2008). Para o leigo em Criminalística, e na linguagem
destituída de características jurídicas, depreende-se que vestígios e indícios praticamente se constituem
de sinônimos. Assinale a alternativa que melhor exprime o conceito jurídico de vestígio ou indício sob o
enfoque criminalístico.
(A) O indício tem importante valor probatório, não havendo necessidade da avaliação do caráter
de autenticidade.
(B) O indício prova necessariamente a autoria material de um fato delituoso.
(C) Os indícios podem ser próximos, manifestos ou distantes.
(D) O vestígio é todo e qualquer sinal, marca ou outro elemento material, conhecido e provado, que,
por sua relação necessária ou possível com outro fato, que se desconhece, prova ou leva a presumir a
existência deste último.
(E) O vestígio aponta, o indício encaminha.
34. (FUMARC/PERITO CRIMINAL/PCMG/2013). Sobre o contexto geral do trabalho pericial é
CORRETO afirmar:
(A) Vidros, metais, graxas, vômito e tecido são considerados substâncias não biológicas.
(B) Sangue, saliva, esperma, fibras, fezes e urina são considerados substâncias biológicas.
(C) Mancha é indício que se apresenta sob a forma de crosta aderida a uma superfície (suport(E).
(D) Várias são as impressões humanas constatadas no local, dentre elas as digitais, palmares,
plantares, ferruginosas e dentárias.

35. (CESPE/INMETRO Pesquisador-Tecnologista em Metrologia e Qualidade - Área:


Microscopia Forense/2010). Acerca da cadeia de custódia, assinale a opção correta.
(A) Vestígio coletado em local de crime por particular e entregue nas mãos de perito criminal pode
ser considerado idôneo.
(B) A cadeia de custódia se restringe à coleta e manuseio da amostra até que ela chegue ao
laboratório para ser analisada.
(C) A importância da cadeia de custódia se restringe ao controle interno da instituição.
(D) A cadeia de custódia exclui a possibilidade de extravio e dano das amostras, desde a sua coleta
nos pontos de amostragem até o final da fase analítica.
(E) O fato de assegurar a memória de todas as fases do processo faz que a cadeia de custódia
constitua um protocolo legal que permite garantir a idoneidade do resultado e rebater possíveis
contestações.

36. (FUNIVERSA/MEDICO LEGISTA/PCGO/2010). A respeito da classificação dos locais de crime e


do isolamento de local, assinale a alternativa correta.
(A) A garagem de uma residência, onde haja ocorrido a subtração de várias mesas e cadeiras,
quanto à natureza da área, é local de crime externo.
(B) Se um homicídio foi praticado no interior do quarto da vítima, a sala da residência, distante
5 metros do quarto, quanto à divisão, é local imediato.
(C) Se, após uma colisão entre um veículo e uma motocicleta, o condutor do veículo prestou
imediato socorro ao motociclista, levando-o ao hospital e retornando ao local do sinistro, com o veículo,
antes da chegada dos peritos, então o local da colisão, quanto à preservação, é local idôneo.
(D) Se, no interior da residência, o marido desfecha vários golpes de faca em sua esposa e, após
matá-la, transporta o corpo da vítima até um lote baldio, onde o joga, então o lote baldio, quanto à
divisão, é local relacionado.
(E) Embora imprescindível para garantir as condições de se realizar um exame pericial da melhor
forma possível, não há norma legal que determine a tomada de iniciativas para o isolamento e a
preservação de locais de infrações penais, a fim de resguardarem os vestígios conforme foram
produzidos durante a ocorrência do crime.

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37. (FUNIVERSA/MEDICO LEGISTA/PCGO/2010). A respeito da classificação dos locais de crime e
do isolamento de local, assinale a alternativa correta.
(A) A garagem de uma residência, onde haja ocorrido a subtração de várias mesas e cadeiras,
quanto à natureza da área, é local de crime externo.
(B) Se um homicídio foi praticado no interior do quarto da vítima, a sala da residência, distante 5
metros do quarto, quanto à divisão, é local imediato.
(C) Se, após uma colisão entre um veículo e uma motocicleta, o condutor do veículo prestou
imediato socorro ao motociclista, levando-o ao hospital e retornando ao local do sinistro, com o veículo,
antes da chegada dos peritos, então o local da colisão, quanto à preservação, é local idôneo.
(D) Se, no interior da residência, o marido desfecha vários golpes de faca em sua esposa e, após
matá-la, transporta o corpo da vítima até um lote baldio, onde o joga, então o lote baldio, quanto à
divisão, é local relacionado.
(E) Embora imprescindível para garantir as condições de se realizar um exame pericial da melhor
forma possível, não há norma legal que determine a tomada de iniciativas para o isolamento e a
preservação de locais de infrações penais, a fim de resguardarem os vestígios conforme foram
produzidos durante a ocorrência do crime.

Respostas

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
A errado D B D errado E C C A
11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
C C D D D E B C B A
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
A B B B C B C C C A
31 32 33 34 35 36 37
E C C C E D D

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