Você está na página 1de 31

Plano de Curso de Psicologia Jurídica

Professora Ivaneide R. de Araújo São José

EMENTA: Personalidade. Psicologia do Testemunho criminal. Tipos de delincuencia. A Nova Criminologia e a questão
da reintegração social dos sentenciados. A psicologia judiciária na área civil.

JUSTIFICATIVA:

Parece não haver dúvida de que o Sistema de Justiça tem se aperfeiçoado em todos os sentidos ao longo do tempo.
Isso é fruto do esforço de doutrinadores, legisladores, professores, magistrados, estudiosos não só do Direito, mas
também da Sociologia, da Psicologia e de outros ramos do conhecimento.

Apesar de termos notícias frequentes do uso errôneo da Psicologia para inocentar pessoas através de falsas
avaliações, por outro lado é razoável estimar que uma parte dos Erros Judiciais esteja associada ao
desconhecimento de assuntos psicológicos essenciais. Portanto, se pretendemos aprimorar a Justiça e as
Instituições, devemos conhecer os mecanismos psicológicos do comportamento humano.

Sendo assim oportuno oferecer subsídios para que os futuros profissionais de direito faça uma reflexão crítica sobre
a inserção da psicologia nas questões aplicadas à justiça e ao Direito.

OBJETIVO GERAL:

Oferecer subsídios para a reflexão crítica sobre a inserção da psicologia nas questões aplicadas à justiça e ao
direito, promovendo a interlocução entre as duas áreas nas questões referentes à guarda, adoção atos
infracionais, crimes, entre outras matérias.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS:

 Propiciar conhecimento do discente sobre o desenvolvimento psicológico do ser humano;


 Oferecer subsídios para o desenvolvimento do conhecimento das psicopatologias e sua consequência no
meio social;
 Apresentar inter-relações entre psicologia e Lei, bem como as afinidades da psiquiatria forense e medicina
legal;
 Apresentar informações sobre a realidade do delito, do réu, da vítima, da testemunha, do interditado, do
negócio ou do ato jurídico;
 Disponibilizar elementos conceituais indispensáveis ao enfrentamento da criminalidade e a sua prevenção;
 Promover discussões sobre saúde mental, conceitos de normalidade e influencia do meio no
comportamento do ser humano;
 Auxiliar no aprendizado da leitura de laudos, relatórios e pareceres psicológicos e psiquiátricos,
considerando as implicações sociais decorrentes da finalidade do uso destes documentos no âmbito jurídico.

CONTEÚDOS:

Unidade I: O que é psicologia

- A evolução da ciência psicológica


- Teorias psicológicas
- A Relação entre a Psicologia e o Direito.
Unidade II: Personalidade

- O desenvolvimento humano
- Transtornos de personalidade

Unidade III: Noções de Psicopatologia Forense


- Debilidade Mental
- Neuroses
- Psicopatias

Unidade IV: Delinquência

- Conceito
- Causalidade
- Diferença entre o delinquente essencial, o psicopata e o neurótico.

Unidade V: Alcoolismo

Unidade VI : Demências

 Classificações
 Quadro clínico

Unidade VII: Psicoses

 Conceitos
 Classificações
Unidade VIII: Perícia Psiquiátrica

 O perito e a perícia psiquiátrica


 Imputabilidade
 Capacidade civil

METODOLOGIA E RECURSOS:

- Aulas expositivas;
- Dinâmicas de grupo;
- Leitura de textos previamente selecionados;
- Serão utilizados trabalhos de pesquisa e apresentações de seminários, que poderão ser em grupo ou
individual.

- ATIVIDADES COMPLEMETARES CONTEXTUALIZADAS:

 Estudos de casos;
 Leitura e análise de laudos psicológicos;
 Análise de Filmes sobre o assunto.

- RECURSOS INSTITUCIONAIS

Os conteúdos serão dinamizados através de exposições utilizando: Quadro, pincéis, Datashow, textos, TV,
DVD e Computador.
AVALIAÇÃO:
A avaliação será somatória sendo assim distribuída por cada semestre:

- 30% de trabalhos em sala e extraclasse;


- 70% - prova individual com questões objetivas e subjetivas.

Obs.: Estará aprovado sem exame Final o aluno que obtiver uma média semestral igual ou superior a 7,0 (sete); O
aluno com média inferior a (7,0) sete e igual ou superior a 4.0 (quatro) deverá se submeter ao Exame Final; Estarão
aprovados aqueles que após o Exame obtiverem médias iguais ou superiores a 5,0 (cinco).

BIBLIOGRAFIA BÁSICA:

- DAVIDOFF, Linda L. – Introdução à psicologia. São Paulo: Makron Books, 2001.

- SERAFIM, Antônio de Pádua; BARROS, Daniel Martins de; RIGONATTI, Sérgio Paulo. Temas em
psiquiatria forense e psicologia jurídica II. São Paulo: Vetor, 2006. 255 p.
- FIORELLI, José Osmir; MANGINI, Rosana Cathya Ragazzoni. Psicologia Jurídica. 2. ed. São Paulo:
Atlas, 2010. 426 p.
- .MARANHÃO, Odon ramos – Curso básico de Medicina Legal – São Paulo: Malheiros 2005.
- MARANHÃO, Odon ramos – Psicologia do Crime. São Paulo: Malheiros.
- CAIRES, Maria Adelaide de Freitas. Psicologia Jurídica: implicações conceituais e aplicações práticas.
São Paulo: Vetor, 2003. 206 p.

BIBLIOGAFICA COMPLEMENTAR:

- GARCIA, Pablo de Molina, A e Gomes, Luiz Flávio. Criminologia: Introdução a seus Fundamentos e
Teóricos; Introdução às Bases Criminológicas da Lei 9.099/95 – Lei dos Juizados Especiais Criminais.
- KUSNETZOFF, Juan Carlos – Introdução à Psicopatologia Psicanalítica. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira.
- VARGAS, Heber Soares. Manual de Psiquiatria Forense. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1990.
- MIRA y LÓPES, Emílio. Manual de psicologia jurídica. 2. ed. São Paulo: Vida livros, 2011. 323 p. ISBN
9788588387515.
FILMES/PERIÓDICOS/FILMES/SITES:
Uma Mente Brilhante
Um Crime americano

Sobre os SEMINÁRIOS

- Deverá ser apresentado em aula na data combinada, em pequenos grupos.

- No dia da apresentação deverá ser entregue à professora um trabalho escrito, contendo:

 Capa com nome completo dos alunos do grupo


 Introdução, mostrando ao leitor a importância do tema e sinalizando o que o trabalho conterá.
 Revisão da literatura realizada sobre o tema (a partir de pesquisa bibliográfica, indicando o que a literatura
tem discutido sobre o tema, bem como trazendo as principais discussões levantadas pelo grupo a partir das
leituras). É importante citar, no decorrer do texto e na bibliografia, os autores utilizados para a construção do
referencial teórico.
 Conclusões do grupo
 Bibliografia utilizada na pesquisa. (Utilizar-se de publicações acadêmicas de livros e artigos científicos).
Retirados de internet, somente artigos de bases de dados de pesquisas científicas.
- O grupo poderá optar por trazer um palestrante (convidado) na data da apresentação, o que, porém, não dispensa
a entrega do trabalho do grupo por escrito.

- Quando há um, ou mais de um, texto(s) sugerido(s) pelo docente, o trabalho não deve se limitar a este(s).
- É esperada CRIATIVIDADE na apresentação dos trabalhos.

Psicologia Jurídica

A Importância da Psicologia Jurídica para os futuros profissionais do Direito

Parece não haver dúvida de que o Sistema de Justiça tem se aperfeiçoado em todos os sentidos ao longo
do tempo. Isso é fruto do esforço de doutrinadores, legisladores, professores, magistrados, estudiosos não
só do Direito, mas também da Sociologia, da Psicologia e de outros ramos do conhecimento.

Entretanto, é razoável estimar que uma parte dos Erros Judiciais esteja associada ao desconhecimento de
assuntos psicológicos essenciais.

Se pretendermos aprimorar a Justiça e as Instituições, devemos conhecer os mecanismos psicológicos do


comportamento humano.

Isso começa por instrumentalizar os advogados, que são sempre o primeiro Juiz da Causa (SPOTTA); mas
também os Promotores de Justiça, que lidam a todo instante com os conflitos individuais e sociais; e
cooperar com os Juízes, que têm a missão de resolver esses conflitos.

Como acontece na Medicina – onde um grande número de consultas médicas na verdade é a busca de
soluções para problemas psicológicos, também muitos conflitos jurídicos são decorrentes, motivados ou
permeados por questões de natureza emocional e psicológica. Pensemos nas questões de família:
separação, divórcio, regulamentação de visitas, guarda e na adoção e logo teremos o manancial de
problemas emocionais, tais como a raiva, o ciúme e medo de perder o objeto amado, o ódio, a retaliação
ou a vingança de um cônjuge contra o outro: A SAP é um excelente exemplo disso.

Pensemos no direito penal. A começar pelo CRIME e suas motivações. Todo crime é o resultado grave de
uma alteração do comportamento humano. Homicídio, parricídio / matricídio, parenticídio – Filicídio são
expressões criminosas carregadas de sentimentos conflituosos.

Destaque especial ao crime passional e ao uxoricídio em geral. Pensemos nos delitos sexuais, nas
personalidades perversas, na pedofilia, nos crimes perpetrados por sádicos e masoquistas, e, por todos os
lados, veremos questões psicológicas informando o mundo jurídico. Pensemos mais especificamente nas
questões de inimputabilidade e na Responsabilidade Diminuída de que tratam, respectivamente, o artigo
,à Caput àeàpa g afoàú i oà doàCódigoàPe al,à asàpe se osàta à asàMedidasàdeà“egu a çaàeà oà
procedimento da Declaração do Incidente de Insanidade Mental.

Mas não é só: pensemos do outro lado, Pensemos na VÍTIMA e o valioso papel dos estudos acerca da
personalidade das vítimas (vitimologia). Por que determinados tipos psicológicos são mais suscetíveis ao
crime do que outros; que aspectos conscientes e inconscientes os levam ao lugar da vítima; que
mensagens/ linguagem a vítima está emitindo para seu algoz. Pensemos no doloroso processo de
Revitimização (P, S, T), na segunda agressão que pode representar a má condução de um procedimento
policial, senão mesmo judicial, capaz de fazer a pessoa já vitimada a reviver esse momento como um novo
insulto. Nesse contexto, a importância do depoimento sem dano (RS). Pensemos também no homem
condenado, que está cumprindo pena, e logo veremos a importância da Psicologia Jurídica no Direito
Penitenciário, pois afastado pelo direito da sociedade que feriu, deverá ser Reintegrado, pois a função da
pena é retributiva e ressocializadora. Pensemos ainda no Direito da criança/ adolescente e no modelo da
Proteção Integral proposta pelo ECA:

- O Direito à família natural;

- Direito à família saudável, livre de drogas e outras dependências.

- Direito à escola e ao processo de aprendizado formal exitoso

- Direito à saúde, que a OMS refere não apenas como saúde e bem-estar físico, mas também emocional e
social. Vamos adiante, e pensemos nos direitos do idoso, daquelas pessoas que trabalharam, produziram,
viveram antes de nós e sonharam o que hoje é realidade para nós, e que nos brindaram com sua
experiência e que, por tudo isso merece cuidados especiais, agora que estão no umbral mais avançado da
existência e também por isso merecem esmerada atenção psicológica.

Mudemos um pouco de eixo, e pensemos na importância da Psicologia Jurídica nos delitos de trânsito –
especialidade que hoje se denomina Direito do Trânsito ou Automobilístico, cujas ações tramitam nas
Varas Especializadas de Acidentes de Trânsito; mas Pensemos também na delicada tarefa de seleção e
preparo de motoristas, bem como na reabilitação de indivíduos sinistrados.

Passemos ainda para outro lado e também logo comprovaremos a importância da Psicologia Jurídica no
âmbito do Direito Civil quando, por exemplo, trata da capacidade das pessoas, do agente da compra-venda
ou da doação, e mais especificamente da Interdição, mormente quando a causa é a doença mental ou
psicológica. Pensemos ainda no Processo Penal, nos procedimentos de oitiva de testemunhas, na
veracidade dos depoimentos, no interrogatório do réu e nas estratégias de convencimento dos jurados,
aspectos que autorizam falar de uma verdadeira Psicologia do Júri. Pensemos de outra banda no Direito do
Consumidor e lá novamente encontraremos a importância da Psicologia Jurídica, nas hipóteses do dano
moral e do dano psicológico, nas prestações de serviços médicos, hospitalares, de saúde em geral; dos
descapacitados em particular e nas intervenções em casos de tratamento de saúde mental. Pensemos no
toxicodependentes, na Psicologia dos usuários de drogas, quase sempre vítimas de outra psicologia –
aquela que anima a mente inescrupulosa dos traficantes. Pensemos na proposta as Justiça Terapêutica, já
implementada em muitos países desenvolvidos e em alguns Estados brasileiros. Pensemos no Trabalhador
e no Trabalhador Desempregado e como ele irá olhar o rosto dos filhos quando chegar a casa com as mãos
vazias do pão.

Enfim, por qualquer lado que se olhe o vasto Panorama Jurídico está estampado à importância da
Psicologia Jurídica e esses exemplos servem para demonstrar como a Psicologia Jurídica permeia todos os
ramos do direito, do cível ao crime, do administrativo ao trabalhista, do direito material ao processual.
Pensemos ainda nos direitos do funcionário público que ficou enfermo pela rotina do trabalho ou pelo
excesso de responsabilidade ou de risco, como o professor ou o policial – civil ou militar – que expõe sua
própria vida e nem sempre é condizentemente remunerado. Pensemos na matéria dos Concursos Públicos
e na seleção e recrutamento de Recursos Humanos, e outra vez lá está à contribuição da Psicologia
Jurídica.

Pensemos na mulher violentada ou agredida, às vezes dentro do próprio lar; Pensemos na família, na
violência que às vezes sofre na frente dos filhos. Pensemos no réu, naquele que deliberadamente recorre
ao álcool para, nesse estado, cometer o crime, e naquele outro que o comete por um vício ou defeito da
mente ou da personalidade. Pensemos ainda no importante auxílio que a Psicologia Jurídica pode oferecer
ao próprio advogado como enquanto pessoa humana, ao Promotor e, sobretudo, a Psicologia que informa
as decisões judiciais – à psicossociologia (sócio psicologia) das decisões judiciais. Pensemos na tarefa
policial e na investigação criminal; nas teorias criminológicas da explicação da delinquência, da violência e
da guerra, do direito dos expatriados e dos grupos minoritários, na psicologia criminal e política e até
mesmo no direito internacional.

A enciclopédia jurídica é também uma enciclopédia da psicologia. Direito e Psicologia são duas disciplinas
coirmãs que nascem com o mesmo fim; Direito e Psicologia compartem o mesmo objeto de estudo: o
homem e seu comportamento. Direito e Psicologia estão ambos destinados a servir o homem e a
promover u à u doà elho .àPode osàdize à ueàDi eitoàeàPsi ologiaàest oà o de ados àaàda àasà os;àáà
Psicologia é fundamental ao Direito e, bem mais que isso, essencial para a Justiça. Já não é mais preciso
e o e àaàa gu e tosà adàte o e àpa aà ost a à ueà u aà grande parte dos erros judiciais decorre da
falta de conhecimento da Psicologia Jurídica.

O que é Psicologia

A Psicologia é a ciência que estuda o comportamento, os processos mentais e a relação entre eles em todo o
domínio em que entram os comportamentos observáveis (correr, andar, falar, etc.) assim como os não observáveis
(pensar, emocionar-se, etc.).

A história da Psicologia, cuja etimologia deriva de Psique (alma) + Logos (razão ou conhecimento), se confunde com
a Filosofia até meados do século XIX. Sócrates, Platão e Aristóteles deram o pontapé inicial na instigante investigação
da alma humana:

Para Sócrates (469/ 399 a C.) a principal característica do ser humano era a razão – aspecto que permitiria ao
homem deixar de ser um animal irracional.

Platão (427/ 347 a C.) – discípulo de Sócrates, conclui que o lugar da razão no corpo humano era a cabeça,
representando fisicamente a psique, e a medula tria como função a ligação entre mente e corpo. Já Aristóteles
(387/322 a C.) – discípulo de Platão – entendia corpo e mente de forma integrada, e percebia a psique como o
princípio ativo da vida.

Em 1649, René Descartes – filósofo francês – publica Paixões da Alma, reafirmando a separação entre corpo e
mente. Pensamento que dominou o cenário científico até o século XX. Alguns pesquisadores alegam que essa
hipótese assumida por Descartes foi um subterfúgio encontrado para continuar suas pesquisas, desenvolvidas a
partir da dissecação de cadáveres, com o apoio da Igreja e protegido contra a Inquisição.

O fato é que no final do século XIX, os acadêmicos da época resolvem distanciar a Psicologia da Filosofia e da
Fisiologia, dando origem ao que se chamou de Psicologia Moderna. Os comportamentos observáveis passam a fazer
parte da investigação científica em laboratórios com o objetivo de se controlar o comportamento humano. Nesse
sentido, os teóricos objetivam suas ações na tentativa construir um corpo teórico consistente, buscando o
reconhecimento, enfim, da Psicologia como ciência.

É neste cenário investigativo que surgem três correntes teóricas: o Funcionalismo, o Estruturalismo e o
Associacionismo.

O Funcionalismo foi elaborado por William James (1842/1910) que teve a consciência como sua grande preocupação
– como funciona e como o homem a utiliza para adaptar-se ao meio.

No Estruturalismo Edward Titchener (1867/1927) também se preocupava com a consciência, mas com seus aspectos
estruturais – percebiam a consciência, isto é, seus estados elementares como estruturas do Sistema Nervoso
Central.
O Associacionismo foi apresentado por Edward Thorndike (1874/1949). Seu ponto de vista era que o homem
aprende por um processo de associação de ideias – da mais simples para a mais complexa.
No início do século XX, surgem mais três correntes principais, que, por sua vez originaram a diversidade de correntes
psicológicas, que conhecemos hoje: Behaviorismo, Gestalt e Psicanálise.

Behaviorismo

Behaviorismo – surgiu nos EUA com John Watson (1878/1958). Foi conhecida pela teoria estímulo-resposta (S-R), ou
seja, para cada resposta comportamental existe um estímulo.

John Broadus Watson (1878-1958) foi considerado o pai do behaviorismo metodológico, ao publicar, em 1913, o
artigo "Psicologia vista por um Behaviorista", que declarava a psicologia como um ramo puramente objetivo e
experimental das ciências naturais, e que tinha como finalidade prever e controlar o comportamento de todo e
qualquer indivíduo. Watson era um defensor da importância do meio na construção e desenvolvimento do
indivíduo. Os seus estudos basearam-se no condicionamento clássico, conceito desenvolvido pelo fisiologista russo
Ivan Pavlov (1849-1936), que ganhou o Prêmio Nobel de Medicina pelo seu trabalho sobre a atividade digestiva dos
cães. Pavlov descobriu que os cães não salivavam apenas ao ver comida, mas também quando associavam algum
som ou gesto à "chegada de comida" - ver a clássica experiência do cachorro de Pavlov. A este fenômeno de
associação ele denominou de condicionamento clássico. A partir das descobertas de Pavlov, houve um
fortalecimento da investigação empírica da relação entre o organismo e o meio.

O behaviorismo metodológico e o Behaviorismo metafísico têm as suas raízes nos trabalhos pioneiros de Watson e
Pavlov. O behaviorismo radical foi desenvolvido não como um campo de pesquisa experimental, mas sim uma
proposta de filosofia sobre o comportamento humano que utiliza como referência outros filósofos da ciência do
século XX, contextualizado por todas das crises de paradigmas vivenciadas pelo pensamento científico até hoje, seu
principal autor foi o psicólogo americano Burruhs Skinner (1953), que além de ser o representante mais importante
do behaviorismo radical, desenvolveu os princípios do condicionamento operante e a sistematização do modelo de
seleção por consequências para explicar o comportamento. O condicionamento operante explica que quando após
um comportamento ou atitude é seguida a apresentação de um reforço, aquela resposta (ação) tem maior
probabilidade de se repetir com a mesma função.

Conceitos: Condicionamento operante, condicionamento clássico, reflexo condicionado, reforço positivo e reforço
negativo.

Tipos de Behaviorismo: Metodológico, Radical, Filosófico.

GESTALT

Texto adaptado de BOCK, Ana Maria. Psicologias. Uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva, 2004.
pág.50-57.

A Psicologia da forma

A Psicologia da Gestalt é uma das tendências teóricas mais coerentes e coesas da história da Psicologia. Seus
articuladores se preocuparam em construir não só uma teoria consistente, mas também uma base metodológica
forte, que garantisse a consistência teórica.

Gestalt é um termo alemão de difícil tradução. O termo mais próximo em português seria forma ou configuração,
que não é muito utilizado por não corresponder exatamente ao seu real significado em Psicologia. No final do século
passado muitos estudiosos procuravam compreender o fenômeno psicológico em seus aspectos naturais
(principalmente no sentido da mensurabilidade). A Psicofísica estava em voga.
Ernst Mach (1838-1916), físico, e Chrinstiam Von Ehrenfels (1859-1932), filósofo e psicólogo, desenvolviam uma
psicofísica com estudos sobre as sensações (o dado psicológico) de espaço-forma e tempo-forma (o dado físico) e
podem ser considerados como os mais diretos antecessores da Psicologia da Gestalt.

Max Wertheimer, Wolfgang Köhler e Kurt Koffka, baseados nos estudos psicofísicos que relacionaram a forma e sua
percepção, construíram as bases de uma teoria eminentemente psicológica. Eles iniciaram seus estudos pela
percepção e sensação do movimento. Os Gestaltistas estavam preocupados em compreender quais os processos
psicológicos envolvidos na ilusão de ótica, quando o estímulo físico é percebido pelo sujeito com uma forma
diferente do que ele é na realidade.

É o caso do cinema. Uma fita cinematográfica é composta de fotogramas com imagens estáticas. O movimento que
vemos na tela é uma ilusão de ótica causada pelo fenômeno da pós-imagem retiniana (qualquer imagem que vemos
demora um pouco para se 'apagar' em nossa retina). As imagens vão se sobrepondo em nossa retina e o que
percebemos é um movimento. Mas o que de fato é projetado na tela é uma fotografia estática, tal como uma
sequência de slides.

A PERCEPÇÃO

A percepção é o ponto de partida e um dos temas centrais dessa teoria. Os experimentos com a percepção levaram
os gestaltistas ao questionamento da psicologia associacionista.

O Behaviorismo, dentro de sua preocupação com a objetividade, estuda o comportamento através da relação
estímulo-resposta, procurando isolar um estímulo unitário que corresponderia a uma dada resposta e desprezando
os conteúdos da consciência, pela impossibilidade de controlar cientificamente essas variáveis.

A Gestalt entende que é de suma importância a disposição em que são apresentados à percepção os elementos
unitários que compõem o todo. Uma de suas formulações bastante conhecidas é a de que "o todo é diferente da
soma das partes". Ou seja, a percepção que temos de um todo não é o resultado de um processo de simples adição
das partes que o compõem.

A indissociabilidade da parte em relação ao todo permite que quando vemos o fragmento de um objeto ocorra uma
tendência à restauração do equilíbrio da forma, proporcionando assim o entendimento do que foi percebido. Esse
fenômeno perceptivo é norteado pela busca de fechamento, simetria e regularidade dos pontos que compõem uma
figura (objeto).

Rudolf Arnheim dá um bom exemplo da tendência à restauração do equilíbrio na relação parte-todo: "De que modo
o sentido da visão se apodera da forma? Nenhuma pessoa dotada de um sistema nervoso normal apreende a forma
alinhavando os retalhos da cópia de suas partes (...) o sentido normal da visão apreende sempre um padrão global".

Os fenômenos perceptivos que encontramos nas figuras abaixo são explicados pelos psicólogos da Gestalt como
sendo regidos pela lei básica da percepção visual: qualquer padrão de estímulo tende a ser visto de tal modo que a
estrutura resultante é tão simples quanto as condições dadas permitem.

A BOA-FORMA

A partir desses fenômenos da percepção a Gestalt procura explicar como chegamos a compreender aquilo que
percebemos. Se os elementos percebidos não apresentam equilíbrio, simetria, estabilidade, simplicidade e
regularidade, não será possível alcançar a boa forma.
O elemento que objetivamos compreender deve ser apresentado em seus aspectos básicos, de tal maneira que a
tendência à boa forma conduza ao entendimento. Essa formulação representa uma das consequências pedagógicas
da psicologia da Gestalt.

A maneira como estão distribuídos os elementos que compõem as duas figuras não resultam em uma configuração
com equilíbrio, simetria, estabilidade, regularidade e simplicidade suficientes para garantir a boa-forma. Ou seja,
nesse caso as leis que comandam o funcionamento da percepção nos impedem de perceber a realidade tal qual ela
é. Em outros casos, mais favoráveis, são essas mesmas leis perceptivas que nos permitem compreender a realidade.
A tendência da percepção em buscar a boa-forma permitirá a relação figura-fundo. Quanto mais clara estiver à
forma (boaforma), mais clara será a separação entre figura e fundo.

Quando isso não ocorre, torna-se difícil distinguir o que é figura e o que é fundo, como é o caso da figura. Nessa
figura ambígua o que é figura em um momento torna-se fundo quando logo a seguir centramos o foco da percepção
no outro aspecto. É importante destacar que não é possível ver a taça e os perfis ao mesmo tempo.

A teoria da forma renovou a posição de um grande número de problemas e, sobretudo forneceu uma teoria
completa sobre a inteligência que permanecerá, mesmo para os seus adversários, um modelo de interpretação
psicológica coerente.

A ideia central da teoria da forma afirma que os sistemas mentais jamais se constituem pela síntese ou pela
associação de elementos, dados em estado isolado, antes de sua reunião, mas consistem sempre em totalidades
organizadas, desde o início, sob uma forma ou estrutura de conjunto. Assim, uma percepção não é mais síntese das
sensações prévias: ela é regida em todos os níveis por um campo, cujos elementos são interdependentes pelo
mesmo fato de serem percebidos em conjunto. Um só ponto negro

Psicanálise
Teoria elaborada por Sigmund Freud (1856/1939) recupera a importância da afetividade e tem como seu objeto de
estudo o inconsciente. Hoje, século XXI os conhecimentos produzidos pela Psicologia e a complexidade e capacidade
de transformação do ser humano, acabaram por ampliar em grande medida sua área de atuação. É um
campo clínico e de investigação teórica da psique humana independente da Psicologia, embora derivada desta,
desenvolvido por Sigmund Freud.

Freud, médico neurologista austríaco, propôs este método para a compreensão e análise do homem, compreendido
enquanto sujeito do inconsciente, abrangendo três áreas:

1. Método de investigação da mente e seu funcionamento;

2. Sistema teórico sobre a vivência e o comportamento humano;

3. Método de tratamento psicoterapêutico.

Essencialmente é uma teoria da personalidade e um procedimento de psicoterapia; a psicanálise influenciou muitas


outras correntes de pensamento e disciplinas das ciências humanas, gerando uma base teórica para uma forma de
compreensão da ética, da moralidade e da cultura humana.
Em linguagem comum, o termo "psicanálise" é muitas vezes usado como sinônimo de "psicoterapia" ou mesmo de
"psicologia". Em linguagem mais própria, no entanto, psicologia refere-se à ciência que estuda o comportamento e
os processos mentais, psicoterapia ao uso clínico do conhecimento obtido por ela, ou seja, ao trabalho terapêutico
baseado no corpo teórico da psicologia como um todo, e psicanálise referem-se à forma de psicoterapia baseada nas
teorias oriundas do trabalho de Sigmund Freud; psicanálise é, assim, um termo mais específico, sendo uma entre
muitas outras formas de psicoterapia.

Freud imaginava a psique (ou aparelho psíquico) do ser humano como um sistema de energia: Cada pessoa é
movida, segundo ele, por uma quantidade limitada de energia psíquica. Isso significa, por um lado, que se grande
parte da energia for necessária para a realização de determinado objetivo (ex. expressão artística) ela não estará
disponível para outros objetivos (ex. sexualidade); por outro lado, se a pessoa não puder dar vazão à sua energia por
um canal (ex. sexualidade), terá de fazê-lo por outro (ex. expressão artística). Essa energia provém das pulsões (às
vezes chamadas incorretamente de instintos). Segundo o autor, o ser humano possui duas pulsões inatas, a sexual e
a de morte. Essas duas pulsões opõem-se ao ideal da sociedade e, por isso, precisam ser controladas através da
educação, de forma que a energia gerada pelas pulsões não podem ser liberadas de maneira direta. O ser humano é,
assim, sexual e agressivo por natureza e a função da sociedade é amansar essas tendências naturais do homem. A
situação de não poder dar vazão a essa energia gera no indivíduo um estado de tensão interna que necessita ser
resolvido. Toda ação do homem é motivada, assim, pela busca hedonista de dar vazão à energia psíquica acumulada.

Os níveis da consciência ou modelo topológico da mente

O ser humano, no entanto, não se dá conta de todo esse processo de geração e liberação de energia. Para explicar
esse fato, Freud descreve três níveis de consciência:

 O consciente (al. das Bewusste), que abarca todos os fenômenos que em determinado momento podem ser
percebidos de maneira conscientes pelo indivíduo;

 O pré-consciente (al. das Vorbewusste) refere-se aos fenômenos que não estão conscientes em
determinado momento, mas podem tornar-se, se o indivíduo desejar se ocupar com eles;

 O inconsciente (al. das Unbewusste), que diz respeito aos fenômenos e conteúdos que não são conscientes e
somente sob circunstâncias muito especiais podem tornar-se. (O termo subconsciente é muitas vezes usado
como sinônimo, apesar de ter sido abandonado pelo próprio Freud.).

Freud não foi o primeiro a propor que parte da vida psíquica se desenvolve inconscientemente. Ele foi, no entanto, o
primeiro a pesquisar profundamente esse território. Segundo ele, os desejos e pensamentos humanos produzem
muitas vezes conteúdos que causariam medo ao indivíduo, se não fossem armazenados no inconsciente. Este tem
assim uma função importantíssima de estabilização da vida consciente. Sua investigação levou-o a propor que o
inconsciente é alógico (e por isso aberto a contradições); atemporal e aespacial (ou seja, conteúdos pertencentes a
épocas ou espaços diferentes podem estar próximos). Os sonhos são vistos como expressão simbólica dos conteúdos
inconscientes.

Através da compreensão do conceito de inconsciente torna-se clara a compreensão da motivação na psicanálise


clássica: Muitos desejos, sentimentos e motivos são inconscientes, por serem muitos dolorosos para se tornarem
conscientes. No entanto esse conteúdo inconsciente influencia a experiência consciente da pessoa, por exemplo,
através de atos falhos, comportamentos aparentemente irracionais, emoções inexplicáveis, medo, depressão,
sentimento de culpa. Assim, os sentimentos, sonhos, desejos e motivos inconscientes influenciam e guiam o
comportamento consciente.

Modelo estrutural da personalidade


Freud desenvolveu mais tarde (1923) um modelo estrutural da personalidade, em que o aparelho psíquico se
organiza em três estruturas:

Id (al. es, "ele, isso"): O id é a fonte da energia psíquica (libido). O id é formado pelas pulsões - instintos, impulsos
orgânicos e desejos inconscientes. Ele funciona segundo o princípio do prazer (al. Lustprinzip), ou seja, busca sempre
o que produz prazer e evita o que é aversivo, e somente segundo ele. Não faz plano, não espera, busca uma solução
imediata para as tensões, não aceita frustrações e não conhece inibição. Ele não tem contato com a realidade e uma
satisfação na fantasia pode ter o mesmo efeito de realização través de uma ação. O id desconhece juízo, lógica,
valores, ética ou moral, sendo exigente, impulsivo, cego irracional, antissocial, egoísta e dirigido ao prazer. O id é
completamente inconsciente.

Ego (al. ich, "eu"): O ego desenvolve-se a partir do id com o objetivo de permitir que seus impulsos sejam eficientes,
ou seja, levando em conta o mundo externo: é o chamado princípio da realidade. É esse princípio que introduz a
razão, o planejamento e a espera ao comportamento humano: a satisfação das pulsões é retardada até o momento
em que a realidade permita satisfazê-las com um máximo de prazer e um mínimo de consequências negativas. A
principal função do ego é buscar uma harmonização inicialmente entre os desejos do id e a realidade e,
posteriormente, entre esses e as exigências do superego.

Superego (al. Überich, "super-eu"): É a parte moral da mente humana e representa os valores da sociedade. O
superego tem três objetivos: (1) inibir (através de punição ou sentimento de culpa) qualquer impulso contrário às
regras e ideais por ele ditados (2) forçar o ego a se comportar de maneira moral (mesmo que irracional) e (3)
conduzir o indivíduo à perfeição - em gestos, pensamentos e palavras. O superego forma-se após o ego, durante o
esforço da criança de introjetar os valores recebidos dos pais e da sociedade a fim de receber amor e afeição. Ele
pode funcionar de uma maneira bastante primitiva, punindo o indivíduo não apenas por ações praticadas, mas
também por pensamentos; outra característica sua é o pensamento dualista (tudo ou nada; certo ou errado, sem
meio-termo). O superego divide-se em dois subsistemas: o ego ideal, que dita o bem ser procurado, e
a consciência (al. Gewissen), que determina o mal a ser evitado. Os mecanismos de defesa

Mecanismo de defesa

O ego está constantemente sob tensão, na sua tentativa de harmonizar a ação do id, do mundo exterior e
do superego. Quando essa tensão (normalmente sob a forma de medo) se torna grande demais, ameaça à
estabilidade do ego, que pode fazer uso dos mecanismos de defesa ou ajustamentos. Estes são estratégias do ego
para diminuir o medo através de uma deformação da realidade - dessa forma o ego exclui da consciência conteúdos
indesejados. Os mecanismos de defesa satisfazem os desejos do id apenas parcialmente, mas, para este, uma
satisfação parcial é melhor do que nenhuma.

Entre os mecanismos de defesa é preciso considerar, por um lado, os mecanismos bastante elaborados para
defender o Eu (ego), e por outro lado, os que estão simplesmente encarregados de defender a existência
do narcisismo. Freud (1937) diz que mecanismos defensivos falsificam a percepção interna do sujeito fornecendo
somente uma representação imperfeita e deformada.

Freud descreveu muitos mecanismos de defesa no decorrer da sua obra e seu trabalho foi continuado por sua
filha Anna Freud; os principais mecanismos são:

 Repressão é o processo pelo qual se afastam da consciência conflitos e frustrações demasiadamente


dolorosas para serem experimentados ou lembrados, reprimindo-os e recalcando-os para o inconsciente; o
que é desagradável é, assim, esquecido;

 Formação reativa: consiste em ostentar um procedimento e externar sentimentos opostos aos impulsos
verdadeiros, indesejados.

 Projeção consiste em atribuir a outros as ideias e tendências que o sujeito não pode admitir como suas.
 Regressão consiste em a pessoa retornar a comportamentos imaturos, característicos de fase de
desenvolvimento que a pessoa já passou.

 Fixação é um congelamento no desenvolvimento, que é impedido de continuar. Uma parte


da libido permanece ligada a um determinado estágio do desenvolvimento e não permite que a criança
passe completamente para o próximo estádio. A fixação está relacionada com a regressão, uma vez que a
probabilidade de uma regressão a um determinado estádio do desenvolvimento aumenta se a pessoa
desenvolveu uma fixação nesse estádio.

 Sublimação é a satisfação de um impulso inaceitável através de um comportamento socialmente aceito.

 Identificação é o processo pelo qual um indivíduo assume uma característica de outro. Uma forma especial
de identificação é a identificação com o agressor.

 Deslocamento é o processo pelo qual agressões ou outros impulsos indesejáveis, não podendo ser
direcionados à(s) pessoa(s) a que se referem, são direcionados a terceiros.

Personalidade

Em psicologia, o campo da personalidade preocupa-se com o indivíduo como um todo, assim como as diferença
individuais. Todas as pessoas se parecem em certos aspectos, porém os estudiosos estão especialmente
interessados nas diferenças entre elas – Por que alguns são bem sucedidos e outros não, porque alguns percebem as
situações e coisas de uma forma diferente, por que os talentos diferem entre si e porque algumas pessoas
apresentam enfermidades mentais e outra não.

O estudo da personalidade não focaliza apenas um processo psicológico em particular, mas também a interação de
diferentes processos.

Embora o termo personalidade não inclua tudo sobre o comportamento humano, existem poucos aspectos do
funcionamento humano que não refletem e expressão a personalidade de um indivíduo. Apesar da existência de
inúmeros estudos, ainda não se chegou a uma definição absoluta de personalidade.

Para um leigo no assunto esta definição muitas vezes se confunde com juízo de valores; para os cientistas cada
definição leva a uma concentração em diferentes tipos de comportamentos e ao uso de diferentes técnicas de
investigação.

Finalmente a personalidade pode ser definida estritamente em termos de modos pelos quais os indivíduos
interagem com os outros, ou em termos dos papeis que um indivíduo se atribuiu e adotou no seu funcionamento
dentro da sociedade. A personalidade representa as propriedades estruturais dinâmicas de um indivíduo ou
indivíduos, tais como se refletem em respostas características a determinadas situações.

O importante aqui é que a personalidade expressa à consistência e regularidade do modo de agir de uma pessoa.
Estão implícitas nesta definição certas posições no que se refere à natureza da personalidade humana, que são:

1. O homem é único dentre as espécies. As características singularmente humanas do homem são


particularmente importantes para o estudo da personalidade. Comparado aos membros de outras
espécies, o homem é menos dependente de fatores fisiológicos ou biológicos e mais dependentes de
fatores psicossociais. A considerável capacidade do homem para o pensamento conceptual e linguagem
significa que ele pode simbolizar comunicar e transmitir padrões aprendidos de comportamento (cultura)
num nível único entre as espécies. Além disso, significa que ele pode refletir sobre si mesmo: como pessoa
(sujeito) pode considerar-se como objeto, ou seja, ele tanto pode experienciar quanto refletir sobre sua
experiência: ele pode ser ele mesmo e, ao mesmo tempo, refletir sobre a sua pessoa.

2. O comportamento humano é complexo. Uma compreensão da personalidade deve incluir


obrigatoriamente uma apreciação da complexidade do comportamento humano. Existem múltiplos
determinantes para cada segmento de comportamento e estes variam de pessoa para pessoa, ou seja, o
mesmo evento pode ser construído de modo diferente pelos indivíduos e que o mesmo comportamento
pode ter muitas raízes diferentes para indivíduos diferentes.

3. O comportamento não é sempre aquilo que aparenta ser. Isso quer dizer que não existe relação fixa entre
um determinado comportamento e suas causas. Para compreender o significado de um ato para um
indivíduo, é necessário que saibamos algo sobre ele e sobre a situação dentro da qual o ato ocorreu.

4. Não estamos sempre conscientes ou no controle dos fatores determinantes de nosso comportamento.
Esta afirmação advém essencialmente da noção do inconsciente, ou seja, ela simplesmente sugere que, ás
vezes, as pessoas não conseguem explicar por que agiram ou agirão de modo contrário aos seus próprios
desejos expressos. Sejam esses atos significativos ou não, frequentes ou raros, eles ocorrem e devem ser
levados em conta de alguma maneira.

Para sintetizar, a ciência da personalidade tenta compreender de que modo às pessoas se parecem, ao mesmo
tempo em que conhece também que os indivíduos são únicos sob determinados aspectos. Ela tenta entender e
explicar a regularidade e consistência do comportamento humano. Existem várias teorias, desde aquelas adotadas
por leigos e usadas por eles no seu dia-a-dia, até as desenvolvidas através do uso de sofisticadas técnicas
matemáticas e tecnologia de computação.

TRANSTORNOS DA PERSONALIDADE

Os Transtornos da Personalidade caracterizam pessoas que não têm uma maneira absolutamente normal de viver
(do ponto de vista estatístico e comparando com a média das outras pessoas), mas não chegam a preencher os
critérios para um transtorno mental franco.

Estas alterações quando permanentes, diferente das alterações patológicas que podem surgir de um momento para
outro, constitui o que poderíamos chamar de Ego Patológico ou Transtorno de Personalidade (Ey).

De acordo com Henri Ey, entendendo o Ego como equivalente à Personalidade, a liberdade e a individualidade
características da personalidade normal estariam comprometidas em determinadas alterações permanentes da
maneira de existir no mundo, como se ap pessoa fosse refém de seus próprios traços, inflexíveis e permanentes.

O Transtorno de Personalidade seria uma maneira de atuar permanente, continuada e duradoura de um Ego não
normal, ao contrário das alterações francamente patológicas que podem ocorrer durante a vida, a partir de um
momento definido (tal qual as crises, os surtos, os processos patológicos).

Em psicopatologia, as anormalidades da personalidade se reportam, principalmente, à possibilidade que se tem de


classificar determinada personalidade como sendo desta ou daquela maneira de existir, enquanto o normal seria a
pessoa ser "um pouco de tudo", ou seja, ter um pouco de cada característica humana sem prevalecer
patologicamente nenhuma delas.

Desta forma, diante da possibilidade de se destacar um traço marcante, específico e característico numa
determinada pessoa, ou seja, diante do fato desta personalidade ser caracterizada por um determinado traço, torna-
se possível sua classificação.
Caso ainda esta característica responsável por sua classificação, prejudique a liberdade desta personalidade ser livre
e desimpedida de qualquer estigma limitador de sua maneira de ser, caso ainda essa característica faça sofrer seu
portador ou outras pessoas, aí então, ao invés de estarmos diante de apenas certo tipo de personalidade, ou de
certo traço, estaremos diante de um Transtorno de Personalidade.

Karl Jaspers afirma serem anormais as personalidades que fazem sofrer tanto o indivíduo quanto aqueles que o
rodeiam. Para ele as personalidades anormais representam variações não normais da natureza humana e que, na
eventualidade de superpor-se a elas algum processo, tornar-se-iam personalidades propriamente mórbidas
(doentias). Jaspers aborda o tema sob a ótica das variações do existir humano de origem constitucional (que fazem
parte da pessoa).

Assim sendo, podemos considerar a maneira própria das Personalidades Anormais de ser no mundo como uma
apresentação do indivíduo diante da vida situada nas extremidades da faixa de tolerância de sanidade pelo sistema
cultural. Estas personalidades anormais seriam alterações perenes do caráter caracterizando não apenas a maneira
de ESTAR no mundo, mas, sobretudo, a maneira do indivíduo SER no mundo.

A Organização Mundial de Saúde trata o assunto sob o titulo de Transtornos da Personalidade e de


Comportamentos, especificando-os nos títulos de F60 até F69 na Classificação Internacional das Doenças (CID-10).
Descreve tais transtornos da seguinte maneira:

Estes tipos de condição (Transtornos de Personalidade) abrangem padrões de comportamento profundamente


arraigados e permanentes, manifestando-se como respostas inflexíveis a uma ampla série de situações pessoais e
sociais. Eles representam desvios extremos ou significativos do modo como o indivíduo médio, em uma dada cultura,
percebe, pensa, sente e, particularmente, se relaciona com os outros. Tais padrões de comportamento tendem a ser
estáveis e a abranger múltiplos domínios de comportamento e funcionamento psicológico. Eles estão
frequentemente, mas não sempre, associados a graus variados de angústia subjetiva e a problemas no
funcionamento e desempenho sociais .à

Os Transtornos de Personalidade, segundo ainda o CID-10, são condições do desenvolvimento da personalidade,


aparecem na infância ou adolescência e continuam pela vida adulta. Esta condição diferencia o Transtorno da
Alteração da Personalidade. Esta última (Alteração) sucede durante a vida como consequência de algum outro
transtorno emocional ou mesmo seguindo-se a estresse grave. .

O Transtorno de Personalidade, conforme esta classificação diz, ao tratar dos Transtornos Específicos (uma
subdivisão dos Transtornos em geral), são perturbações graves da constituição do caráter e das tendências
comportamentais, portanto, não são adquiridas do meio. Desta forma, os Transtornos de Personalidade seriam
modalidades incomuns de o indivíduo interagir com sua vida, de se manifestar socialmente, de experimentar
sentimentos (ou não experimentá-los). O CID-10 apresenta entre os títulos F60 e F69 uma grande variedade de
subtipos de Transtornos de Personalidade. Procuraremos aqui compatibilizá-los todos com outras classificações de
forma a abordar os tipos sinônimos com a mesma descrição.

O DSM-III-R falava sobre o que deve ser entendido dos Distúrbios da Personalidade de maneira muito próxima ao
que a O.M.S. considera válido para seus Transtornos da Personalidade;

"Características de personalidade são padrões duradouros de percepção, relação e pensamento acerca do ambiente
e de si mesmo, e são exibidos numa ampla faixa de contextos sociais e pessoais importantes. É somente quando as
características de personalidade são inflexíveis e inadaptadas, e causam um comprometimento funcional significativo
é que elas constituem os Transtornos da Personalidade. As manifestações dos Transtornos da Personalidade são,
frequentemente, reconhecíveis na adolescência ou mais cedo, e continuam por quase toda a vida adulta, embora elas
muitas vezes se tornem menos óbvias nas faixas médias ou extremas de idade".

O DSM-IV fala dos Transtornos da Personalidade da seguinte forma:


"Um Transtorno da Personalidade é um padrão persistente de vivência íntima ou comportamento que se desvia
acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é invasivo e inflexível, tem seu início na adolescência ou
começo da idade adulta, é estável ao longo do tempo e provoca sofrimento ou prejuízo."

ASPECTOS PSICOBIOLÓGICOS E TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE

As diferenças biológicas individuais têm sido há muito tempo relacionadas a diversos tipos de temperamento e de
personalidade e cada avanço da ciência torna mais clara a interação dos fatores genéticos e ambientais na
determinação da constituição da pessoa.

Modernamente considera-se que o estudo dos Transtornos da Personalidade se estrutura sobre quatro domínios
psicobiológicos. São eles:

1 - A regulação dos impulsos;

2 - A modulação afetiva;

3 - A organização cognitiva;

4 - O controle da ansiedade.

E estudo dessas funções psíquicas, extremamente relacionadas às alterações da personalidade, tem recebido
substancial contribuição pelos modernos métodos de avaliação bioquímica, pelos exames neuropsicológicos e pelas
imagens computadorizadas das tomografias e dos aparelhos de emissão de pósitrons.

TRANSTORNO PARANÓIDE DE PERSONALIDADE

A característica essencial deste distúrbio é uma tendência global e injustificável para interpretar as ações das
pessoas como deliberadamente humilhantes ou ameaçadoras. Tem normalmente início no final da adolescência ou
no começo da idade adulta. Quase invariavelmente há uma crença de estar sendo explorado ou prejudicado pelos
outros de alguma forma e, por causa disso, a lealdade e fidelidade das pessoas estão sendo sempre questionadas.
Muitas vezes o portador deste Transtorno é patologicamente ciumento e questionador da fidelidade do cônjuge, ao
ponto de causar situações francamente constrangedoras.

O portador deste distúrbio de personalidade pode interpretar acontecimentos triviais e rotineiros como humilhantes
e ameaçadores, desde um erro casual no saldo bancário, até um cumprimento não efusivo podem significar atitudes
premeditadamente maldosas. Há uma sensibilidade exagerada às contrariedades ou a tudo que possa ser
interpretado como rejeição, uma tendência para distorcer as experiências, interpretando-as como se fossem hostis
ou depreciativas, ainda que neutras e amistosas (pensamento paranoide). Estas pessoas podem sentir-se
irremediavelmente humilhadas e enganadas, consequentemente agressivas e insistentemente reivindicadoras de
seus direitos.

Supervaloriza sua própria importância, as suas ideias são as únicas corretas e seus pontos de vistas não deve ser
contestada, daí a facilidade em conquistar inimigos e a tendência em pensamentos autorreferentes. São
desconfiadas, teimosas, dissimuladoras e obstinadas, vivem numa solidão frequentemente confundida com timidez,
como se não houvesse no mundo pessoas com quem pudessem partilhar sua prodigalidade, dignidade e seus
sentimentos superiores.

As pessoas com Transtorno Paranoide da Personalidade são extremamente sarcásticas em suas críticas, irônicas ao
extremo nos comentários e contornam as eventuais situações constrangedoras recorrendo a artimanhas teatrais e
chantagens emocionais. Não toleram críticas dirigidas à sua pessoa e qualquer comentário neste sentido é
entendido como declaração de inimizade.
Pelo entusiasmo com que valorizam suas ideias, sempre as únicas corretas, podem ser vistos como fanáticos nas
várias áreas do pensamento; seja religioso, político, ético ou profissional. Gostam de fantasiar, mas tem dificuldades
em distinguir a fantasia da realidade. Pessoas com estes distúrbios são hiper-vigilantes e tomam precaução contra
qualquer ameaça percebida.

A afetividade, nestes casos, é muitas vezes restrita e pode parecer fria dado ao gosto destas pessoas em serem
sempre objetivas racionais e pouco emocionais.

Recomenda-se, como critérios para este Transtorno, que sejam caracterizados por:
a) sensibilidade exagerada a contratempos e rejeições;

b) tendência a guardar rancores persistentemente, isto é, recusam a perdoar aquilo que julgam como insultos ou
desfeitas:
c) desconfiança e tendência a interpretar erroneamente as experiências amistosas ou neutras;

d) obstinado senso de direitos pessoais em desacordo com a situação real;

e) suspeitas injustificáveis em relação à fidelidade (conjugal ou de amigos);

f) autovalorização excessiva;

g) pressuposições quanto às conspirações.

TRANSTORNO ESQUIZÓIDE DE PERSONALIDADE

Este tipo de distúrbio é verificado em pessoas que exibem um padrão de afastamento social persistente, um
constante desconforto nas interações humanas, uma excentricidade de comportamento e pensamento, isolamento
e introversão. O esquizoide nos dá a impressão de desinteresse, reserva e falta de envolvimento com os
acontecimentos cotidianos e com as preocupações alheias, normalmente ele tem pouca necessidade de vínculos
emocionais.

Este tipo de personalidade reflete interesses na solidão, em trabalhos solitários e em atividades não competitivas.
Por outro lado, estas pessoas são capazes de investir grande energia afetiva em interesses que não envolvam seres
humanos e podem ligar-se muito aos animais. Normalmente são os últimos a aceitarem as variações da moda
popular, mas normalmente mantêm-se excêntricos.

Frequentemente absorvem-se em certas obsessões acerca de dietas esdrúxulas, programas de saúde alternativos,
movimentos religiosos e filosóficos incomuns, esquemas de aperfeiçoamento socioculturais, associações mais ou
menos secretas de assuntos esotéricos. Embora pareçam absortos em devaneios fantasiosos e fantásticos, não
perdem a capacidade de reconhecer a realidade. Não obstante os Esquizoides podem oferecer ao mundo ideias
criativas e originais.

Juntando os critérios estabelecidos pelo DSM-IV e pelo CID-10 para o diagnóstico deste tipo de transtorno podemos
recomendar o seguinte:

a) Padrão de indiferença às relações sociais e uma variação pobre da expressão emocional;

b) Indiferença aos sentimentos alheios;

c) Questionamento, indisposição e desrespeito às normas e obrigações sociais;

d) Pouco interesse em relações sexuais;

e) Preferência quase invariável por atividades solitárias;


f) Preocupação excessiva com fantasias e introspecção;

g) Falta de amigos íntimos, relacionamentos confidentes e a falta de desejo de tais relacionamentos;

h) Raramente vivenciam emoções fortes, como raiva e alegria;

i) Indiferença a elogios e críticas.

As pessoas Esquizoides sentem-se frequentemente incompreendidas, o que reforça a tendência ao isolamento e ao


afastamento dos mortais comuns. Este ausente sentimento de companheirismo normalmente é compensado pelo
zelo apaixonado pela leitura, pelos animais ou alguma outra expressão artística de difícil compreensão.

TRANSTORNO EXPLOSIVO DA PERSONALIDADE

Na CID-10 o Transtorno Explosivo da Personalidade aparece como Transtorno de Personalidade Emocionalmente


Instável. Aqui, a característica mais marcante é uma tendência a agir impulsivamente, desprezando as eventuais
consequências do ato impulsivo, juntamente com instabilidade afetiva. Os frequentes acessos de raiva podem levar
à violência ou às explosões comportamentais. Tais crises de agressividade e exclusividade podem ser desencadeadas
mais facilmente quando as atitudes impulsivas são criticadas ou impedidas pelos outros.

Estes distúrbios são caracterizados pela instabilidade do estado de ânimo com possibilidades de explosões de raiva,
ódio, violência ou afeição. A agressão pode ser expressa fisicamente ou verbalmente e as explosões fogem ao
controle das pessoas afetadas. Entretanto, tais indivíduos não têm conduta antissocial e, pelo contrário, são
simpáticas, bem falantes, sociáveis e educadas quando fora das crises.

A extrema sensibilidade aos aborrecimentos causados pelos pequenos estímulos ambientais produz, nos explosivos,
respostas de súbita violência e incontida agressividade. Normalmente chamamos estas pessoas de pavio-curto ou de
cinco - minutos. No DSM-III-R a caracterização mais compatível com esta personalidade era o denominado de
Distúrbio Explosivo Intermitente. De acordo com o DSM-III-R, estes indivíduos apresentam episódios de perda de
controle sobre os impulsos agressivos resultando em agressões ou destruição de propriedade e, normalmente, a
agressividade expressada é totalmente desproporcional aos estressores ambientais que possam tê-la desencadeado.
Estes episódios geralmente são seguidos de arrependimentos ou auto reprovação, os quais são capazes de produzir
variados graus de depressão como uma espécie de ressaca moral pelos procedimentos cometidos.

A instabilidade na escolha de objetivos, valores e aspirações profissionais em constante mudança é responsável pela
acentuada inconstância no ritmo e estilo e tipo de vida dessas pessoas. O indivíduo pode exibir súbitas mudanças de
opiniões e planos acerca da carreira, dos valores e dos tipos de amigos desejáveis.

TRANSTORNO HISTRIÔNICO DA PERSONALIDADE

A Personalidade Histérica, referida na CID-10 como Transtorno Histriônico de Personalidade ou Histérica, conforme
denominação mais antiga é caracterizada por um comportamento colorido, dramático e extrovertido que se
apresenta sempre exuberantemente. É um dos únicos distúrbios de personalidade mais frequentes no sexo
feminino, onde os pacientes apresentam uma tendência de comportamento em busca de atenção.

Os histriônicos tendem a exagerar seus pensamentos e sentimentos, apresentam acessos de mau humor, lágrimas e
acusações sempre que percebem não ser o centro das atenções ou quando não recebem elogios e aprovações.
Frequentemente animados e dramáticos tendem a chamar a atenção sobre si mesma e podem de início, encantar as
pessoas com quem travam conhecimento por seu entusiasmo, aparente franqueza ou capacidade de sedução. Tais
qualidades, contudo, perdem sua força à medida que esses indivíduos continuamente exigem o papel de "dono da
festa".
Manifestam pronunciados traços de vaidade, egocentrismo, exibicionismo e dramaticidade. No afã de representar
um papel que lhes é negado pela vida ou por suas próprias limitações pessoais, os histriônicos fazem teatro para si e
para todos os demais, a sua grande plateia. Pode haver fases onde eles já não sabem onde termina a realidade e
começa a fantasia, passando a acreditar em seus próprios mitos e em suas próprias encenações.

Às vezes, devido sua excepcional teatralidade, esta tendência em polarizar as atenções é perfeitamente dissimulada
sob o papel de coitadinho (a), ou de um retraimento social tão lamentável que é capaz de chamar mais a atenção
que uma participação mais normal. As mães com esta personalidade podem idealizar manobras que objetivam fazer
seus filhos se compadecerem de seu estado "lastimável" e provocar arrependimentos vários. São pessoas que estão
sempre a se queixar de incompreensão, mas jamais tentam compreender os outros ou entender que os outros não
têm obrigação de compreendê-los.

Essas pessoas glorificam a doença, as queixas somáticas e atribuem todos eventuais fracassos ou limitações a
eventuais transtornos orgânicos que os independem de sua sempre presente boa vontade. A somatização,
dissociação e repressão são os mecanismos de defesa mais intensamente utilizados por eles. Tão intensos são estes
mecanismos de defesa que reconhecerem seus próprios sentimentos e suas tendências de personalidade torna-se
praticamente impossível.

Sexualmente, a personalidade histriônica determina nas mulheres um comportamento sedutor, provocante, coquete
e com tendência a erotizar as relações não sexuais do dia-a-dia. As fantasias sexuais com as pessoas pelas quais
estão envolvidos são comuns e, embora volúveis, o arremate final do jogo sexual costuma não ser satisfatório.

O DSM-IV e o CID-10 recomendam como critérios para o diagnóstico do Transtorno Histriônico da Personalidade, um
padrão generalizado de excessiva emotividade e busca de atenção, indicado pelas seguintes características:

a) Busca constante ou exigência de afirmação, aprovação ou elogios;

b) Auto dramatização, teatralidade e expressão exagerada das emoções;

c) Alta sugestionabilidade, facilmente influenciada pelos outros ou por certas circunstâncias;

d) Sedução inapropriada em aparência ou comportamento;

e) preocupação excessiva com a atratividade física;

f) expressão de emoções exageradamente;

g) expressão de emoções rapidamente mutável;

h) egocentrismo nas satisfações;

i) intolerância severa às frustrações e a não satisfação;

j) discurso impressionista e superficial.

O Transtorno da Personalidade Histriônica proporciona um alto grau de sugestionabilidade. Suas opiniões e


sentimentos são facilmente influenciados pelos outros e por tendências do momento. Há certa perda da inibição
social nessas pessoas. Isso faz com que, muitas vezes, considerem os relacionamentos mais íntimos do que são de
fato, dirigindo-se à, praticamente, qualquer pessoa recém-conhecida como "meu querido, meu amigo" ou
chamando um médico por seu prenome mesmo na primeira consulta.

Uma das marcas mais características das pessoas com Transtorno da Personalidade Histriônica é tentar controlar as
pessoas através da manipulação emocional ou sedução. Por causa disso eles tendem afastar os amigos com suas
exigências de constante atenção. Estes indivíduos em geral manifestam intolerância ou frustração por situações que
envolvem um adiamento da gratificação, sendo que suas ações frequentemente são voltadas à obtenção de
satisfação imediata, ou seja, têm extrema dificuldade em esperar ou contemporizar situações.

Histeria é o termo que designa genericamente as neuroses com sintomatologia corporal exuberante. Atualmente o
termo Histérico tem sido substituído por Histriônico.

Trata-se de uma neurose causada por conflitos psicológicos, e que se caracteriza por grande expressividade somática
ou corporal das ideias, imagens e afetos conflitantes e, normalmente, inconscientes.

Oàte oà à de ivadoàdoàg egoà histe u à úte o àpo ue,àaàp i ípio,àpe sou-se que essa doença se originava em
distúrbios desse órgão).

É um transtorno emocional caracterizado por um exagero considerável da sugestionabilidade evidenciada por


surpreendente plasticidade da personalidade.

Desse fato decorre uma série de manifestações funcionais de aparência orgânica, tais como, paralisias, perturbações
sensoriais, crises nervosas, sono, catalepsia etc. E outros distúrbios psíquicos típicos: mitomania, onirismo, amnésia,
automatismo psicomotor etc.

Considerada como expressão orgânica de conflitos inconscientes, a histeria é a neurose de conversão dos
psicanalistas ('funcionais' é quando a alteração se dá na função do órgão e não em sua anatomia).

Estudos mais sistematizados sobre o assunto começaram com Jean Marie Charcot (I825-1893) que empreendeu uma
investigação metódica dos sintomas histéricos graças ao método de observação clínica.

TRANSTORNO ANSIOSO DA PERSONALIDADE

A marca característica deste Transtorno de Personalidade é a persistência e continuidade de tensão e apreensão.


Como consequência disso o portador deste tipo psicológico experimenta a crença frequente de ser socialmente
inepto desinteressante e desagradável, portanto, inferior aos demais. Na realidade, a ansiedade aparece com maior
exuberância sempre que tais pessoas vislumbrem a possibilidade de ser objeto de apreciação por parte dos demais.

Normalmente, devido aos sentimentos supra referidos, há isolamento social e, como o próprio nome do transtorno
diz uma constante evitação social. O que, de fato, eles evitam é a possibilidade de experimentarem sentimentos
desagradáveis de desapreço ao se submeterem ao jugo público. Com frequência se utilizam de mentiras com a
intenção de dissimularem sua real situação existencial, pois, de qualquer forma, acham que se os interlocutores
souberem como eles são realmente, perderão todo interesse em suas pessoas.

Assim sendo, a pessoa com este transtorno está sempre dissimulando seu verdadeiro desempenho social,
interpessoal ou psicológica, procurando aparentar aquilo que, decididamente, não é. Isso tudo por que, como
dissemos, tem uma preocupação excessiva em estar sendo criticada ou rejeitada em quase todas as situações
sociais. Há também, aqui, uma severa relutância no envolvimento com outras pessoas, sempre motivada pelo medo
da crítica, como dissemos. Poderão envolver-se caso tenham certeza absoluta de sua apreciação.

Os critérios do DSM.IV para o diagnóstico são:

a) sentimentos persistentes e invasivos de tensão e apreensão;

b) crença constante de ser socialmente inapto, e pessoalmente desinteressante ou inferior aos demais;

c) preocupação excessiva em ser criticado ou rejeitado em situações sociais;

d) relutância em se envolver com pessoas, a não ser quando absolutamente certo de ser apreciado;

e) restrições ao estilo de vida devida à necessidade de segurança física;


f) evitação de atividades sociais e ocupacionais que envolvam contato interpessoal significativo por medo de
opiniões a seu respeito.

TRANSTORNO OBSESSIVO-COMPULSIVO DA PERSONALIDADE (Anancástico)

Há, neste Transtorno de Personalidade, um padrão generalizado de perfeccionismo e inflexibilidade. As pessoas


assim preocupam-se com a observância das normas, das regras, com a organização e com os detalhes. Normalmente
são escravizados pelo simétrico, pelo limpo e pela ordem das coisas, desde a arrumação de seus pertences pessoais
(guarda-roupas, gavetas, mesas), até a organização extremamente cuidadosa de coisas relacionadas à ocupação e
profissão.

A preocupação com a origem geral das coisas é tanta que, não raras vezes, é impossível conciliar o sono se vier- à
mente a impressão de que os chinelos estão desarrumados, ou que há uma gaveta semiaberta, ou que talvez a porta
não esteja trancada e assim por diante. Evidentemente, observamos também um zelo exagerado para com a
arrumação do banheiro, havendo desconforto se este se encontrar respingado, com uma torneira gotejante ou com
algo fora de lugar.

Estas pessoas são incapazes de suportar tudo aquilo que consideram como infração às suas próprias determinações
de organização, por isso são inflexíveis com eles e com os que lhes são mais próximo na observância de suas leis. O
exagerado perfeccionismo, a precisão meticulosa na arrumação das coisas e a constante repetitividade para que
tudo saia da forma obsessivamente idealizada tornam estes indivíduos muito enfadonhos.

Estas características de obsessão rigidamente voltadas para a perfeição, somadas ao medo de que algo pode não
estar perfeito fazem com que estas pessoas tenham muita dificuldade para terminarem aquilo que começaram. Não
importa quão boa esteja à realização em pauta, mas sim a obsessiva impressão de que algo esteja faltando, algo não
esteja correto ou imperfeito.

Os obsessivos têm dificuldade em expressar sentimentos de ternura, compaixão e compreensão aos sentimentos e
comportamentos dos outros. Quando eles se dão ao luxo do lazer e recreação, fazem isso com tanto planejamento e
meticulosidade a ponto de sacrificarem o próprio prazer em benefício das regras e normas para que tenham prazer.

Os critérios para diagnóstico deste Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsivo podem ser agrupados da
seguinte forma:
a) sentimentos de dúvida e cautela exagerados;

b) preocupação com detalhes, regras listas, ordem, organização e esquemas;

c) perfeccionismo que interfere na conclusão de tarefas;

d) escrupulosidade excessiva com a produtividade, concomitante à quase exclusão do prazer;

e) aderência excessiva a algumas convenções sociais;

f) inflexibilidade, rigidez e teimosia;

g) insistência para que os outros se submetam aos seus conceitos de valor em relação à maneira de fazer as coisas;

h) evitam tomar decisões acreditando haver sempre outras prioridades;

i) falta de generosidade e de sentimentos de compaixão e tolerância para com os outros;

j) dificuldade em descartar-se de objetos usado.


A RELAÇÃO ENTRE A PSICOLOGIA E A JUSTIÇA:

UMA VISÃO HISTÓRICA

No início do século XIX, na França, os médicos foram chamados pelos juízes da época para desvendarem o e ig a à
ueà e tosà i esà ap ese tava .à E a à açõesà i i osasà se à az oà apa e teà eà ue,à ta à oà pa tia à deà
i divíduosà ueà seà e aixava à osà uad osà l ssi osàdaà lou u a à Cá‘‘á‘á,à ,à p. .à “egu doà Ca a aà ,à
estes crimes que clamaram pelas considerações médicas não eram motivados por lucros financeiros ou paixões,
pareciam possuir outra estrutura, pois diziam respeito à subversão escandalosa de valores tão básicos que se
i agi aà ueàesteja àe aizadosà aàp óp iaà atu ezaàhu a a ,à o oàoàa or filial, o amor materno, ou a piedade
frente à dor e ao sofrimento humano. Conforme Castel (1978), estas foram as primeiras incursões dos alienistas
franceses para fora dos asilos de alienados. Mas, e a Psicologia, que lugar viria ocupar nesta relação entre a
criminalidade e a justiça?

De acordo com Bonger (1943), a Psicologia só viria aparecer no cenário das ciências que auxiliam a justiça em 1868,
com a publicação do livro Psychologie Naturelle, do médico francês Prosper Despine, que apresenta estudos de
casos dos grandes criminosos (somente delinquentes graves) daquela época. Ele obteve seu material de estudo das
detalhadas informações contidas na La Gazette des Tribunaux e de outras publicações análogas.

Despine dividiu o material em grupos de acordo com os motivos que desencadearam os crimes e, logo em seguida,
investigou as particularidades psicológicas de cada um dos membros dos vários grupos. Concluiu ao final que o
delinquente, com exceção de poucos casos, não apresenta enfermidade física e nem mental. Segundo ele, as
anomalias apresentadas pelos delinquentes situam-se em suas tendências e seu comportamento moral e não
afetam sua capacidade intelectual (que poderá ser inferior em alguns casos e enormemente superior em outros).
Conforme suas observações, o delinquente age com frequência motivado por tendências nocivas, como o ódio, a
vingança, a avareza, a aversão ao trabalho, entre outras.

Na opinião de Despine, o delinquente possui uma deficiência ou carece em absoluto de verdadeiro interesse por si
mesmo, de simpatia para com seus semelhantes, de consciência moral e de sentimento de dever. Não é prudente,
nem simpático e nem é capaz de arrependimento. O próprio Despine considera que sua obra Diversa: Ano I - nº 2:
pp. 171-185: jul./dez. 2008173era somente uma iniciativa e incitou as demais pessoas para que prossigam nesta
mesma linha de investigação. Despine passou então a ser considerado o fundador da Psicologia Criminal -
denominação dada naquela época às práticas psicológicas voltadas para o estudo dos aspectos psicológicos do
criminoso.

Em 1875, a criminologia surge no cenário das ciências humanas como o saber que viria dar conta do estudo da
elaç oà e t eà oà i eà eà oà i i oso,à te doà o oà a poà deà pes uisaà asà ausasà fato esà dete i a tes à daà
criminalidade, bem como a personalidade e a conduta do delinquente e a maneira de ressocializá-lo à OLIVEI‘á,à
1992, p. 31). A criminologia: Em sua tentativa para chegar ao diagnóstico etiológico do crime, e, assim, compreender
e interpretar as causas da criminalidade, os mecanismos do crime e os móveis do ato criminal, conclui que tudo se
resumia em um problema especial de conduta, que é a expressão imediata e direta da personalidade. Assim, antes
do crime, é o criminoso o ponto fundamental da Criminologia contemporânea (MACEDO, 1977, P. 16).

Neste momento a Psicologia Criminal passa a ocupar uma posição de maior destaque como uma ciência que viria
contribuir para a compreensão da conduta e da personalidade do criminoso. Para García-Pablos de Molina (2002, p.
,à o espo deà à Psi ologiaà oà estudoà daà est utu a,à g eseà eà dese volvi e toà daà o dutaà i i al .à Oà i eà
passaà aà se à vistoà o oà u à p o le aà ueà oà à ape asà doà i i oso,à asà ta ,à doà Juiz,à doà advogado,à doà
psi uiat a,àdoàpsi ólogoàeàdoàso iólogo à DOU‘áDO,à ,àp. .àNaàvis oàdeàDou adoà 1965, P. 7), atualmente: Não
se concebe, no processo penal, que se omitam os conhecimentos científicos da Psicologia, no sentido de se obter
maior perfeição no julgamento de cada caso em particular. (...) Para se compreender o delinquente, mister se faz
que se conheçam as forças psicológicas que o levaram ao crime. Esta compreensão só se pode obter examinando-se
os aspectos psicológicos psiquiátricos do criminoso e de seu crime.

“egui doà estaà es aà li haà deà a io í io,à “eg eà ,à p. à desta aà ueà oà ue deve prevalecer no estudo
criminológico Diversa: Ano I - nº 2: pp. 171-185: jul./dez. 2008174é a tentativa de esclarecimento do ato humano
antissocial,àvisa doà àsuaàp eve ç oàe,àta toà ua toàpossível,àaàevita àaàsuaà eite aç oà te ap uti aà i i al .

De acordo com Bonger (1943), a Psicologia Criminal é importante para todos os profissionais de Direito Penal. Para a
polícia é útil saber quais são os tipos psicológicos mais suscetíveis ao cometimento de determinado tipo de delito.
Também é importante que os promotores e juízes conheçam o grau de perigo para a segurança pública que é
inerente a certos tipos de delinquentes, a fim de fixarem as penas e demais medidas corretivas. Por último, o
conhecimento da Psicologia Criminal é de utilidade especial para todas aquelas pessoas que trabalham em presídios
e manicômios.

Na opinião de Bonger (1943), encontramos entre os delinquentes todos os tipos humanos possíveis, não existe uma
tipologia psicológica específica do delinquente. Para ele, o que diferencia o delinquente das demais pessoas é uma
deficiência moral associada a uma exagerada tendência materialista.

Bonger (1943), ao descrever o surgimento da psicologia criminal, cita alguns autores anteriores a Despine que,
segundo ele, fazem parte da pré-história da psicologia criminal, como Pitaval, na França, em 1734; Richer, na França,
em 1772; Schaumann, na Alemanha, em 1792; Feuerbach, na Alemanha, em 1808; Lauvergne, na França, em 1841;
Häring e Hitizig, na Alemanha, em 1842 e Avé-Lallemant, na Alemanha, em 1858. Na sua opinião, apesar de
apresentarem uma preocupação em descrever aspectos psicológicos dos delitos e dos delinquentes, estes autores
pecaram por não haver um rigor metodológico na escolha dos casos e nem uma preocupação em construir uma
teoria sobre os dados encontrados.

Com relação à história propriamente dita da psicologia criminal, Bonger (1943) conseguiu fazer uma pesquisa
bibliográfica bastante expressiva, envolvendo autores de diversos países, como Lombroso, na Itália, em 1876; Marro,
na Itália, em 1887; Kurella, Baer e Gross, na Alemanha, em 1893; Aschaffenburg, na Alemanha, em 1904 e Laurent,
na França, em 1908. Lombroso, psiquiatra, pai da criminologia e criador da antropologia criminal (ciência que estuda
a relação entre as características físicas do indivíduo e a criminalidade), também se ocupou da Psicologia do
delinquente. Apesar de superficialmente, ele cita um ou dois exemplos e discute os mais diversos temas, tais como a
gíria dos delinquentes, tatuagem e religiosidade. Para ele, o delinquente é insensível, valente (e às vezes, covarde),
inconstante, presunçoso, cruel e se caracteriza por uma tendência a entregar-se à bebida, ao jogo e às mulheres. Já
para Marro, o delinquente se Diversa: Ano I - nº 2: pp. 171-185: jul./dez. 2008175caracteriza principalmente por um
defeito em sua capacidade de refletir e de impressionar as pessoas. O alemão Kurella, biógrafo de Lombroso,
publicou um estudo bastante extenso sobre Psicologia Criminal onde menciona os seguintes traços como sendo
característicos dos delinquentes: parasitismo, tendência a mentir, falta de sentimento de honra, falta de piedade,
crueldade, presunção e veemente ânsia de prazeres.

Baer, ao analisar o comportamento do delinquente, fez significativas observações sobre a importância da influência
que o meio ambiente exerce sobre as tendências psíquicas de uma pessoa. Segundo ele, o delinquente representa
um caso extremo das características psíquicas que mais abundam na classe social de onde ele procede. Gross trata
em seus dois livros da Psicologia Criminal aplicada, ou seja, dos fatores psíquicos que podem tomar parte na
investigação e no julgamento dos delitos. Seu grande mérito consiste em ser o primeiro a produzir uma crítica da
prova e do testemunho, na qual haveria de desenvolver-se mais tarde como uma ramificação da Psicologia Criminal.
Laurent, como médico de prisioneiros, teve grandes e variadas oportunidades para estudar a personalidade do
delinquente. Segundo sua opinião, o delinquente é um indivíduo de inteligência inferior à média, descuidado, de
pouca simpatia, preguiçoso, presunçoso e pobre de vontade.

A partir do final do século XIX, a Psicologia Criminal começou a ser dona do seu próprio destino. Suas investigações
realizaram-se com mais frequência e como um maior rigor metodológico. A Alemanha foi o país que mais se
destacou. Gross fundou o Archiv für Kriminalantropologie und Kriminalistik, abreviadamente conhecido como
G oss á hiv.àCo à aisàdeànoventa volumes, é considerado um autêntico tesouro para a criminologia e, em muitos
aspectos, para a Psicologia Criminal. Aschaffenburg, seguido o exemplo de Gross, em 1904, publicou uma revista que
contém igualmente uma grande quantidade de material de interesse para a Psicologia Criminal, assim como estudos
de casos separados.

Em 1950, Mira Y Lopez utiliza o termo Psicologia Jurídica ao publicar o Manual de Psicologia Jurídica. Ao longo dos
seus dezesseis capítulos o autor procura discutir o papel da Psicologia no campo do Direito e oferecer
conhecimentos sobre o comportamento humano que auxiliem os juristas em suas decisões.

FATORES GERAIS RESPONSÁVEIS PELA REAÇÃO PESSOAL EM UM DADO MOMENTO, SEGUNDO MIRA Y LOPEZ.

HERDADOS: Constituição Corporal; Temperamento e Inteligência.

MISTO: Caráter

ADQUIRIDOS: Prévia experiência de situações análogas; Constelação; Situação externa atual e Tipo médio de reação
social (coletiva) e Modo de percepção da situação.

Fonte: MIRA Y LOPEZ, E. Manual de Psicologia Jurídica. 2. ed. São Paulo: Impactus, 2008.

De acordo com Mira Y Lopez (2008), os fatores herdados que influenciam o modo de reação da pessoa, são a
constituição corporal, o temperamento e a inteligência. Segundo ele, quanto à constituição corporal, a reação de um
homem corpulento difere da de um homem magro e baixo, assim como, uma crítica vinda de um jovem adolescente
não será recebida da mesma forma se for feita por um idoso. O fator morfológico origina na pessoa um obscuro
sentimento de superioridade ou inferioridade física em frente às situações e influencia a determinação do seu modo
de reagir. Em outras palavras, a constituição corporal imprime um selo característico na pessoa e condiciona em
grande parte o seu jeito de ser.

Se por constituição corporal entendemos o conjunto de propriedades morfológicas e bioquímicas transmitidas ao


indivíduo por herança, podemos definir o temperamento como a resultante funcional direta da constituição
corporal, sendo responsável pela nossa tendência mais primitiva de reação em frente dos estímulos ambientais. E
com relação à inteligência, Mira Y Lopez (2008) defende a ideia de que ela nos fornece subsídios para uma
adaptação melhor à realidade e uma melhor compreensão dela. Portanto, para uma pessoa pouco dotada do ponto
de vista intelectual, os recursos de Diversa: Ano I - nº 2: pp. 171-185: jul./dez. 2008177adaptação a uma situação
acabarão mais rápido do que para outra um pouco mais inteligente.

Pontes (1995, p. 34), seguindo esta mesma linha de pensamento, define a inteligência co oàse doàu aà apa idadeà
para adquirir e acumular experiências, visando a resolver os problemas ueàaàvidaài põe .àPo tesà 1997) apresenta
uma importante o elaç oàe t eà aixoà ívelài tele tualàeà i sightàp ejudi ado .à
O Insight é a capacidade da pessoa para perceber, assimilar, compreender e elaborar a realidade e os
acontecimentos em sua volta. É o modo como refletimos sobre as coisas que ocorrem no nosso dia-a-dia. A pessoa
cujo insight é prejudicado apresenta uma dificuldade de compreensão e de reflexão ante a realidade, sendo difícil
assimilar noções de limites, de certo e de errado, de Direito e de deveres e de bem e de mal. Pontes (1997, p.75),
para melhor definir o conceito de insight, faz a seguinte analogia: um insight preservado seria como a água cristalina
ou a água de piscina bem tratada. Quando o indivíduo sabe nadar, ele pode mergulhar sem correr risco e obter
sucesso no mergulho. Já num insight prejudicado a água é turva. Dependendo do grau de deficiência no insight o
turvamento é maior ou menor. Neste caso, mesmo o indivíduo sendo um atleta que sabe nadar, se ele for mergulhar
de cabeça, corre o risco de entrar numa enrascada, machucando-se.

Segundo Pontes (1997, p.74), o modo como o insight se origina é uma incógnita. Contudo, baseado em sua
experiência clínica, ele defende a ideia de que o insight à est utu adoà pelaà integração da biologia, Psicologia e
sociedade. Entretanto, nas g a desàalte açõesàdeste,àaà iologiaàp evale e .àQua doàoài sight é bastante prejudicado
ou ausente, a pessoa é considerada psicótica.

E, quando o insight se encontra prejudicado, de tal forma que não há perda total do contato com a realidade, Pontes
denomina de falsa normalidade (são as pessoas portadoras de transtornos de personalidade).

De acordo com as ideias de Pontes (1997), as pessoas que possuem um baixo nível intelectual em concomitância
com um insight prejudicado tendem a delirar nos atos e não nas ideias, apresentando sérios transtornos de conduta;
podendo vir a ter comportamentos autodestrutivos, impulsivos e agressivos, cujas consequências vão do suicídio ao
homicídio. Em 1887, Marro, como foi comentado Diverso: Ano I - nº 2: pp. 171-185: jul./dez. 2008178anteriormente,
havia apontado como uma das características de personalidade do delinquente, um defeito em sua capacidade de
reflexão.

Segundo Mira Y Lopez Mira Y Lopez (2008), é comum dizermos que o caráter é o fator mais importante na descrição
da personalidade de uma pessoa. De fato, quando enumeramos as características pessoais de um sujeito, dizemos
que o a a te iza os ,àouàseja,à ueàdamos conta do seu caráter. Para ele, o caráter é um fator importantíssimo na
reação pessoal porque ele costuma definir e determinar a conduta. O caráter constitui o término das transações
entre os fatores endógenos e os exógenos integrantes da personalidade e representa o resultado desta luta.

Na sua opinião, os fatores endógenos impulsionam o indivíduo para uma conduta puramente animal, objetivando a
satisfação de seus anseios. Já os exógenos, ao contrário, conduzem o indivíduo à completa submissão ao meio
externo. Essa clássica disputa entre o endógeno e o exógeno tem como produto final o tipo de conduta externa que
a pessoa apresenta, e isto representaria o seu caráter.

Na visão de Mira Y Lopez (2008), os fatores adquiridos que influenciam a forma como a pessoa reage são a prévia
experiência de situações análogas, a constelação, a situação externa atual, o tipo médio de reação social (coletiva) e
o modo de percepção da situação. A experiência prévia de situações análogas seria o primeiro fator a considerar
puramente exógeno, isto é, adquirido em vida. Sem dúvida alguma, o exemplo vivido, as experiências anteriores
influenciam de modo decisivo a determinação da reação atual. Ele denomina de constelação a influência que a
vivência ou a experiência imediatamente antecedente exerce na determinação da resposta à situação atual. É
evidente que uma pessoa que sai de um concerto de música ou de um sermão religioso não está com igual
disposição para agredir do que quando acaba de ver uma luta de boxe ou uma partida de futebol.

A situação externa atual representa a causa, o estímulo desencadeador da reação pessoal e o tipo médio de reação
social diz respeito ao modo como a maioria das pessoas reagiria a uma dada situação. Para Mira Y Lopez (2008), o
comportamento individual reflete a toda hora aspectos da conduta social, ou seja, há em todo momento uma
influência recíproca entre o sujeito e seu meio social.

De acordo com Mira Y Lopez (2008), o modo de percepção da situação seria o fator mais importante de todos na
determinação da reação pessoal. Ele diz respeito à subjetividade do ser humano: como o sujeito está percebendo
aquele conflito? Quais as impressões, Diversa: Ano I - nº 2: pp. 171-185: jul./dez. 2008179as vivências, os
sentimentos e os pensamentos suscitados nele pela situação? Até que ponto ele está sentindo-se agredido ou
violentado? Entendemos por subjetividade o modo como o ser humano se relaciona com o mundo e consigo
mesmo.

Forghieri (1993, p.58), seguindo esta mesma linha de raciocínio,à o ple e ta:à asàsituaçõesà que alguém vivencia
não possuem, apenas, um significado em si mesmas, mas adquirem um sentido para quem a experiência, que se
encontra relacionando à sua p óp iaà a ei aàdeàexisti .àNaàvisão de Naffah Neto (1995, p.199), a subjetividade seria
u aà espécie de envergadura interior, de vazio, capaz de acolher, dar abrigo e morada às experiências da vida:
percepções, pensamentos, fa tasias,àse ti e tos .àPa aàele, a subjetividade representaria asà dife e tesàexp essõesà
de co oàso osàafetadosàpeloà u do à(NAFFAH NETO, 1995, p.199). Neste sentido, a subjetividade seria um espaço
psíquico onde as experiências humanas podem encontrar um lugar de expressão, um registro. Contudo, em se
tratando de ciências humanas, as leis não são universais. Um único fenômeno psíquico remete-nos a diversas
leituras e modos de compreensão.

Estas diversas formas de compreender o fenômeno podem até se complementar ou ser totalmente antagônicas, de
modo que a experiência da realidade de um fenômeno pertence unicamente ao domínio de quem a está
experienciando e o que o outro pode fazer é tentar compreender.

Segundo Fernandes (2002, p.126), o desafio que a vida em sociedade apresenta não se limita a apontar uma única e
simplificada explicação doà por que àoàho e à ataàout oàho em, mas de des o i àoà por que ,àem circunstâncias
similares, um homem mata, outro socorre e um terceiro finge que nada viu. A explicação não pode estar em
supostos instintos humanos, que tenderiam a dirigir sempre todos os homens numa única direção, mas,
principalmente, nas experiências de suas vidas inteiras, que variam amplamente de uma pessoa para outra.

Cohen (1996, p.10) defende a ideia deà ueà elho àdoà ueà p o u a à otula à ouà lassifi a à tiposà i i osos à se iaà
procurar estabelecer possíveis relações entre uma condição humana, em um determinado contexto, com a prática
deàili itudes .àEà àexata e teàesta relação o ponto central de investigação da Psicologia Jurídica.

Na perspectiva de Segre (1996, p.27), Diversa: Ano I - nº 2: pp. 171-185: jul./dez. 2008.

180 o criminoso é o objeto do estudo criminológico, num projeto de compreensão dos mecanismos que o levam a
descumprir a lei. Mecanismos esses que já são terrivelmente complexos por se relacionar com o universo do homem
e cujo enfoque se fará sob as óticas mais diversificadas, levando em conta a relatividade das leis. Logo, não existe um
perfil criminoso. O que se pretende no estudo criminológico é o vislumbre de algo que dê alguma explicação, e,
portanto, previsibilidade, à realização do ato criminoso.

Concordamos plenamente com a ideia de que não existe um perfil criminoso e sim uma série de variáveis,
circunstâncias e determinados contextos que levam estas pessoas ao cometimento de um delito. E este deve ser um
dos pontos centrais de investigação e atuação da Psicologia Jurídica.

RAMIFICAÇÕES E ÁREAS DE ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA JURÍDICA

Conceitualmente, a Psicologia Jurídica corresponde a toda aplicação do saber psicológico às questões relacionadas
ao saber do Direito. A Psicologia Criminal, a Psicologia Forense e, por conseguinte, a Psicologia Judiciária estão nela
contidas. Toda e qualquer prática da Psicologia relacionada às práticas jurídicas podem ser nomeadas como
Psicologia Jurídica.

O termo Psicologia Jurídica é uma denominação genérica das aplicações da Psicologia relacionadas às práticas
jurídicas, enquanto Psicologia Criminal, Psicologia Forense e Psicologia Judiciária são especificidades aí reconhecíveis
e discrimináveis. O acadêmico que produz um artigo discutindo as interfaces entre a Psicologia e o Direito; o
psicólogo assistente técnico que questiona as conclusões de um estudo psicológico elaborado por um psicólogo
judiciário; como também o psicólogo judiciário que elabora uma dissertação de mestrado a partir de sua prática
cotidiana no Foro, todos são praticantes da Psicologia Jurídica.

A Psicologia Jurídica é um dos ramos da Psicologia que mais cresceram nos últimos anos, tanto nacional quanto
internacionalmente. Trata-se de um dos campos mais promissores e carentes de profissionais especializados na área.
Cada vez que se folheia um jornal, ou se assiste ao noticiário na TV, há sempre uma notícia de alguma ação criminosa
sem razão aparente e que, também Diversa: Ano I - nº 2: pp. 171-185: jul./dez. 2008181não parte de indivíduos
portadores de transtornos mentais. E, o que a Psicologia Jurídica tem a dizer sobre isso? Que contribuições a
Psicologia Jurídica tem a oferecer? Conforme Altoé (2001, p. 6 - 7),

As questões humanas tratadas no âmbito do Direito e do judiciário são das mais complexas. (...) E o que está em
questão é como as leis que regem o convívio dos homens e das mulheres de uma dada sociedade podem facilitar a
resolução de conflitos. Aqueles que têm alguma experiência na área se dão conta que as questões não são
meramente burocráticas ou processuais. Elas revelam situações delicadas, difíceis e dolorosas.

A título de exemplo vejamos alguns dos motivos pelos quais as pessoas recorrem ao judiciário: pais que disputam a
guarda de seus filhos ou que reivindicam direito de visitação, pois não conseguem fazer um acordo amigável com o
pai ou a mãe de seu filho; maus-tratos e violência sexual contra criança, praticado por um dos pais ou pelo (a)
companheiro (a) deste; casais que anseiam adotar uma criança por terem dificuldades de gerar filhos; pais que
adotam e não ficam satisfeitos com o comportamento da criança e a devolvem ao Juizado; jovens que se envolvem
com drogas/tráfico, ou, passam a ter outros comportamentos que transgridem a lei, e seus pais não sabem como
fazer para ajudá-los uma vez que não contam com o apoio de outras instituições do Estado (de educação e de saúde,
por exemplo).

Na visão de Silva (2007, p. 6 – 7): A Psicologia Jurídica surge nesse contexto, em que o psicólogo coloca seus
conhecimentos à disposição do juiz (que irá exercer a função julgadora), assessorando o em aspectos relevantes para
determinadas ações judiciais, trazendo aos autos uma realidade psicológica dos agentes envolvidos que ultrapassa a
literalidade da lei, e que de outra forma não chegaria ao conhecimento do julgador por se tratar de um trabalho que
vai além da mera exposição dos fatos; trata-se de uma análise aprofundada do contexto em que essas pessoas que
acorreram ao Judiciário (agentes) estão inseridas. Essa análise inclui aspectos conscientes e inconscientes, Diversa:
Ano I - nº 2: pp. 171-185: jul./dez. 2008182 verbais e não verbais, autênticos e não autênticos individualizados e
grupais, que mobilizam os indivíduos às condutas humanas.

A Psicologia Forense é o subconjunto em que se incluem as práticas psicológicas relacionadas aos procedimentos
forenses. É aqui que se encontra o assistente técnico. A Psicologia Forense corresponde a toda aplicação do saber
psicológico realizado sobre uma situação que se sabe estar (ou estará) sob apreciação judicial, ou seja, a toda a
Psicologia aplicada no âmbito de um processo ou procedimento em andamento no Foro (ou realizada vislumbrando
tal objetivo). Incluem as intervenções exercidas pelo psicólogo criminal, pelo psicólogo judiciário, acrescidas
daquelas realizadas pelo psicólogo assistente técnico.

A Psicologia Criminal é um subconjunto da Psicologia Forense e, segundo Bruno (1967), estuda as condições
psíquicas do criminoso e o modo pelo qual nele se origina e se processa a ação criminosa. Seu campo de atuação
abrange a Psicologia do delinquente, a Psicologia do delito e a Psicologia das testemunhas.

A Psicologia Judiciária também é um subconjunto da Psicologia Forense e corresponde a toda prática psicológica
realizada a mando e a serviço da justiça. É aqui que se exerce a função pericial.

A Psicologia Judiciária está contida na Psicologia Forense, que está contida na Psicologia Jurídica. A Psicologia
Judiciária corresponde à prática profissional do psicólogo judiciário, sendo que toda ela ocorre sob imediata
subordinação à autoridade judiciária.

A Psicologia Jurídica abrange as seguintes áreas de atuação: Psicologia Jurídica e as Questões da Infância e Juventude
(adoção, conselho tutelar, criança e adolescente em situação de risco, intervenção junto a crianças abrigadas,
infração e medidas socioeducativas); Psicologia Jurídica e o Direito de Família (separação, paternidade, disputa de
guarda, acompanhamento de visitas); Psicologia Jurídica e Direito Civil (interdições, indenizações, dano psíquico);
Psicologia Jurídica do Trabalho (acidente de trabalho, indenizações, dano psíquico); Psicologia Jurídica e o Direito
Penal (perícia, insanidade mental e crime, delinquência); Psicologia Judicial ou do Testemunho (estudo do
testemunho, falsas memórias); Psicologia Penitenciária (penas alternativas, intervenção junto ao recluso, egressos,
trabalho com agentes de segurança); Psicologia Policial e das Forças Armadas (seleção e formação da polícia civil e
militar, atendimento psicológico); Mediação (mediador nas questões de Direito de Família e Penal); Psicologia
Jurídica e Direitos Humanos (defesa e promoção dos Direitos Humanos); Proteção a Diversa: Ano I - nº 2: pp. 171-
185: jul./dez. 2008183.

Testemunhas (existem no Brasil programas de Apoio e Proteção a Testemunhas); Formação e Atendimento aos
Juízes e Promotores (avaliação psicológica na seleção de juízes e promotores, consultoria e atendimento psicológico
aos juízes e promotores); Vitimologia (violência doméstica, atendimento a vítimas de violência e seus familiares) e
Autópsia Psicológica (avaliação de características psicológicas mediante informações de terceiros).

No Brasil, de acordo com um levantamento realizado por França (2004), a Psicologia Jurídica está presente em quase
todas as áreas de atuação. Todavia, a autora destaca que há uma grande concentração de psicólogos jurídicos
atuando na Psicologia penitenciária e nas questões relacionadas à família, à infância e à juventude, enquanto que na
Psicologia do testemunho, na Psicologia policial e militar, na Psicologia e o Direito Civil, na proteção de testemunhas,
na Psicologia e o atendimento aos juízes e promotores, na Psicologia e os Direitos Humanos e na autópsia psíquica
há uma carência muito grande de psicólogos jurídicos.

Caires (2003, p. 34) postula que os grandes teóricos do Direito s oàu i esàe à e o he e àaài po t iaàdoà olha à
psi ológi o à eà daà a liseà psi ológi a à so eà eà esseà u iverso, envolvendo o indivíduo, aà so iedadeà eà aà Justiça .à
Contudo, ela destaca a necessidade de uma maior qualificação desses profissio aisào jetiva doàu à elho àe mais
criterioso desempenho nessaà eaàp ofissio al à CáI‘E“,à2003, p. 34).

O psicólogo jurídico deve estar apto para atuar no âmbito da Justiça considerando a perspectiva psicológica dos
fatos jurídicos; colaborar no planejamento e execução de políticas de cidadania, Direitos Humanos e prevenção da
violência; fornecer subsídios ao processo judicial; além de contribuir para a formulação, revisão e interpretação das
leis.

Referências Bibliográficas

ALTOÉ, S. Atualidade da Psicologia Jurídica. Revista de Pesquisadores da Psicologia no Brasil (UFRJ, UFMG, UFJF, UFF,
UERJ, UNIRIO). Juiz de Fora, Ano 1, Nº 2, julho-dezembro 2001.

BONGER, W. A. Introduccion a la Criminologia. México: Fondo de Cultura Económica, 1943.

BRUNO, A. Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1967.CAIRES, Maria Adelaide de Freitas. Psicologia Jurídica:
implicações
Criminologia

Quando nasceu, a criminologia tratava de explicar a origem da delinquência, utilizando o método das ciências, o
esquema causal e explicativo, ou seja, buscava a causa do efeito produzido. Pensou-se que erradicando a causa se
eliminaria o efeito, como se fosse suficiente fechar as maternidades para o controle da natalidade. Como área
interdisciplinar, a Criminologia é formada por outra série de ciências e disciplinas, tais como a biologia, a
psicopatologia, a sociologia, política, etc.

Já existiram várias tendências causais na criminologia. Baseado em Rousseau, a criminologia deveria procurar a
causa do delito na sociedade, baseado em Lombroso, para erradicar o delito deveríamos antes, encontrar a eventual
causa no próprio delinquente e não no meio. Isoladamente, tanto as tendências eminentemente sociológicas,
quanto as psicológicas e orgânicas fracassaram. Hoje em dia fala-se no elemento biopsicossocial.

Tipos Característicos

Como em outras ciências, também em criminologia tem-se tentado eliminar o conceito de "causa", substituindo-o
pela ideia de "fator". Isso implica no reconhecimento de não apenas uma causa, mas, sobretudo, de fatores que
possam desencadear o efeito criminoso (fatores biológicos, psíquicos, sociais...). Uma das funções principais da
criminologia é estabelecer uma relação estreita entre três disciplinas consideradas fundamentais: a psicopatologia, o
direito penal e a ciência político-criminal.

Outra atribuição da criminologia é, por exemplo, elaborar uma série de teorias e hipóteses sobre as razões para o
aumento de um determinado delito. Os criminólogos se encarregam de dar esse tipo de informação a quem elabora
a política criminal, os quais, por sua vez, idealizarão soluções, proporão leis, etc. Esta última etapa se faz através do
direito penal. Posteriormente, outra vez mais o criminólogo avaliará o impacto produzido por essa nova lei na
criminalidade.

Interessam ao criminólogo as causas e os motivos para o fato delituoso. Normalmente ele procura fazer um
diagnóstico do crime e uma tipologia do criminoso, assim como uma classificação do delito cometido. Essas causas e
motivos abrangem desde avaliação do entorno prévio ao crime, os antecedentes vivenciais e emocionais do
delinquente, até a motivação pragmática para o crime.

Assassinos em Série

Os Assassinos em Série (serial killers) são um capítulo à parte na criminologia e uma dificuldade para a psiquiatria,
uma vez que não se encaixam em nenhuma linha do pensamento específica. Esses casos desafiam a psiquiatria e
acabam virando um duelo entre promotoria e defesa sobre a dúvida de ser, o criminoso, louco, meio louco, normal,
anormal, etc. Do ponto de vista criminológico, quando um assassino reincide em seus crimes como mínimo em três
ocasiões e com certo intervalo de tempo entre cada um, é conhecido como assassino em série.
A diferença do assassino em massa, que mata a várias pessoas de uma só vez e sem se preocupar pela identidade
destas, o assassino em série elege cuidadosamente suas vítimas selecionando a maioria das vezes pessoas do mesmo
tipo e características. Aliás, o ponto mais importante para o diagnóstico de um assassino em série é um padrão
geralmente bem definido no modo como ele lida com seu crime. Com frequência eles matam seguindo um
determinado padrão, seja através de uma determinada seleção da vítima ou de um grupo social com características
definidas, como p. ex. as prostitutas, homossexuais, policiais, etc.

As análises dos perfis de personalidade estabelecem como estereotipo dos assassinos em série (evidentemente
aceitando-se muitas exceções), homens jovens, de raça branca, que atacam preferentemente as mulheres, e que seu
primeiro crime foi cometido antes dos 30 anos. Alguns têm sofrido uma infância traumática, devida a maus tratos
físicos ou psíquicos, motivo pelo qual têm tendência a isolar-se da sociedade e/ou vingar-se dela.

Estas frustrações, ainda segundo análises de estereótipos, introduzem os Assassinos em Série num mundo
imaginário, melhor que seu real, onde ele revive os abusos sofridos identificando-se, desta vez com o agressor. Por
esta razão, sua forma de matar pode ser de contato direto com a vítima: utiliza armas brancas, estrangula ou
golpeia, quase nunca usa arma de fogo. Seus crimes obedecem a uma espécie de ritual onde se misturam fantasias
pessoais com a morte.

A análise do desenvolvimento da personalidade desses assassinos seriais geralmente denuncia alguma anormalidade
precoce importante (veja Transtornos de Conduta na seção Infância e Adolescência). Atos violentos contra animais,
por exemplo, têm sido reconhecidos como indicadores de uma psicopatologia que não se limita em agir apenas
sobre estas criaturas. Segundo o cientista humanitário Albert Schweitzer, "quem quer que tenha se acostumado a
desvalorizar qualquer forma de vida corre o risco de considerar que vidas humanas também não têm importância".

Também Robert K. Resler, que desenvolveu perfis de Assassinos em Série para o FBI, "assassinos frequentemente
começam por matar e torturar animais quando crianças". Estudos têm agora convencido que atos de crueldade
contra animais podem ser o primeiro sinal de uma patologia violenta que poderá incluir, no futuro, seres humanos.

Veja alguns exemplos de assassinos seriais famosos que torturavam animais.

Patrick Sherrill, que matou quatorze pessoas em uma agência de correios e depois atirou em si mesmo, roubava
animais de estimação para que seu próprio cão pudesse atacá-los e mutilá-los. Earl Kenneth Shriner, que estuprou,
esfaqueou e mutilou um garoto de sete anos de idade, era conhecido na vizinhança como o homem que costumava
pôr explosivos em ânus de cães e estrangular gatos.

Brenda Spencer, que abriu fogo em uma escola de San Diego, matando duas crianças e ferindo outras nove,
frequentemente maltratava gatos e cachorros, geralmente ate ando fogo em suas caudas.

Albert De Salvo, o "Estrangulador de Boston", que matou treze mulheres, em sua juventude aprisionava gatos e cães
em engradados de laranja para depois lançar flechas contra as caixas.

Carroll Edward Cole, executado por cinco dos trinta e cinco assassinatos dos quais foi acusado, disse que seu
primeiro ato de violência quando criança foi estrangular um filhote de cão. Em 1987, três adolescentes do Missouri
foram acusados de surrar até a morte um colega de aula, tinham várias histórias de mutilação animal iniciadas
vários anos antes. Um confessou ter perdido as contas de quantos gatos já matara. Dois irmãos que assassinaram
seus pais contaram a colegas de aula que tinham decapitado um gato. O assassino em série Jeffrey
Dahmer empalava cabeças de cães, sapos e gatos em varas.

A eventual insanidade, frequentemente alegada na tentativa de absolver o assassino em série, quase nunca é
constatada de fato pela psiquiatria, pois, o fato do assassino ser portador de algum Transtorno de
Personalidade ou Parafilia não faz dele um alienado mental. Quando capturados costumam simular insanidade,
alegando múltiplas personalidades, esquizofrenia ou qualquer coisa que o exima de responsabilidades, mas, na
realidade, aproximadamente apenas 5% dos assassinos em série podem ser considerados mentalmente doentes no
momento de seus crimes.

Para facilitar o entendimento, academicamente podemos dizer que o assassino em série psicótico atuaria em
consequência de seus delírios e sem crítica do que está fazendo, enquanto o tipo assassino em série
psicopata atuaria de acordo com sua crueldade e maldade. O psicopata tem juízo crítico de seus atos e é muito mais
perigoso, devido à sua capacidade de fingir emoções e se apresentar extremamente sedutor, consegue sempre
enganar suas vítimas.

O psicopata busca constantemente seu próprio prazer, é solitário, muito sociável e de aspecto encantador. Ele age
como se tudo lhe fosse permitido, se excita com o risco e com o proibido. Quando mata, tem como objetivo final
humilhar a vítima para reafirmar sua autoridade e realizar sua autoestima. Para ele, o crime é secundário, e o que
interessa, de fato, é o desejo de dominar, de sentir-se superior.

Evidentemente que o assassino em série não é uma pessoa normal, mesmo porque esse conceito é muito vago,
passa pelo critério estatístico (estatisticamente não normais). Mas isso não significa, obrigatoriamente, que ele não
tenha consciência do que faz. A maioria dos assassinos em série é diagnosticada como portadora de Transtorno de
Personalidade Antissocial (sinônimo de Personalidade Dissocial, Psicopata e Sociopata). Embora esses assassinos
possam não ter pleno domínio no controle dos impulsos, eles distinguem muito bem o certo do errado, tanto que
querem sempre satisfazer seus desejos sem correr riscos de serem apanhados (veja também Personalidade
Criminosa, Personalidade Psicopática e Transtornos da Linhagem Sociopática na seção Personalidade).
Quanto à sua forma de atuar, os assassinos em série se dividem em organizados e desorganizados. Organizados são
aqueles mais astutos e que preparam os crimes minuciosamente, sem deixar pistas que os identifiquem. Os
desorganizados, mais impulsivos e menos calculistas, atuam sem se preocupar com eventuais erros cometidos.

Uma vez capturados, os assassino em série podem confessar seus crimes, às vezes atribuindo-se a característica de
serem mais vítimas que aquelas que, na realidade, assassinaram, de terem personalidades múltiplas, estarem
possuídos, etc. De modo geral, todos eles experimentam um terrível afã de celebridade.

Como no resto do mundo, a maioria dos assassinos em série no Brasil são homens brancos, tem entre 20 e 30 anos,
vieram de famílias desestruturadas, sofreram maus-tratos ou foram molestados quando crianças.

As mulheres assassinas em série representam apenas 11% dos casos e, em geral, são muito menos violentas que os
assassinos masculinos e raramente cometem um homicídio de caráter sexual. Quando matam, não costumam
utilizar armas de fogo e raramente usam armas brancas, sendo a preferência os métodos mais discretos e sensíveis,
como por exemplo, o veneno. Elas costumam ser mais metódicas e cuidadosas que os homens.

Normalmente as mulheres assassinas planejam o crime meticulosamente e de uma maneira sutil, se apresentando
como verdadeiros quebra-cabeças aos investigadores. Essa peculiaridade inteligente faz com que possa passar muito
tempo antes que a polícia consiga identificar e localizar a assassina.

É comum identificarmos, na história do desenvolvimento da personalidade desses assassinos em série, alguns fatos
comuns. Segundo Ilana Casoy, escritora e estudiosa do assunto, "é raro um (assassino serial) que não tenha uma
história de abuso ou negligência dos pais. Isso não significa que toda criança que tenha sofrido algum tipo de abuso
seja um matador em potencial".

De crianças, geralmente, os assassinos em série tiveram um relacionamento interpessoal problemático, tenso e


difícil. Segundo a escritora, a chamada "terrível tríade" parece estar presente na infância de todo assassino em série.
São elas: enurese noturna (urinar na cama) em idade avançada, destruição de propriedade alheia e crueldade com
animais e outras crianças menores.

Assassinos Sádicos
A palavra sadismo deriva de um personagem francês que viveu entre 1740 e 1814, o Marquês de Sade. Diz à história
que Sade, uma vez, contratou os serviços de uma prostituta, a quem infligiu pequenos cortes na pele e introduziu
neles cera quente pelo simples fato de obter prazer.

Sade justificou este ato dizendo que o homem era um ser egoísta por natureza, e só atuando egoisticamente poderia
chegar a ser sincero, e o melhor que poderia fazer um homem sincero, era seguir um estilo de vida de libertinagem
criminal.

Estas ofensas, digamos morais, levaram Sade à prisão durante 13 anos, durante os quais o marquês só pode levar a
cabo as estripulias sexuais em sua imaginação. Durante esse tempo, se dedicou a escrever suas elucubrações em
vários tratados, os quais chegaram a ser muito populares. Entre esses escritos os mais afamados foram "Os 120 dias
de Sodoma", "Justine", "Historia de Juliette".

Os textos do marquês marcaram de tal maneira a literatura, que o nome de Sade serviu para derivar na expressão
sádico, atribuída à pessoa que obtém certo prazer erótico realizando atividades que ocasionam dor ou sofrimento a
outros.

O objetivo do paciente sádico não é, necessariamente, obtenção do prazer pela agonia do outro. O desejo de infligir
dor não é a essência do sadismo, mas o impulso de exercer domínio absoluto sobre o outro, convertê-lo num objeto
impotente da vontade do sádico. Por essa razão, o objetivo mais importante é conseguir que sofra, posto que não
haja maior poder sobre outra pessoa do que o de infligir lhe "do . .

Ballone GJ - Criminologia - in. PsiqWeb, Internet, disponível emwww.psiqweb.med.br, revisto em 2005

Você também pode gostar