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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO

GRANDE DO SUL

AUGUSTO MEDEIROS DE ÁVILA

A SANÇÃO AO PSICOPATA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO

Ijuí (RS)

2019
AUGUSTO MEDEIROS DE ÁVILA

A SANÇÃO AO PSICOPATA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em


Direito objetivando a aprovação no componente
curricular Trabalho de Curso - TCC.
UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul.
DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e
Sociais.

Orientador: MSc. Lurdes Aparecida Grossmann

Ijuí (RS)
2019
Dedico este trabalho à minha família, pelo
incentivo, suporte, apoio e confiança em mim
depositados durante toda a minha jornada.
AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar, aos meus pais, Maria Bernadett Soares Medeiros e Jocelino Rodrigues
de Ávila que, independentemente da situação, sempre me apoiaram e incentivaram ao longo de
toda a caminhada acadêmica.

Aos meus irmãos, que nunca deixaram de estar presentes, dando todo o suporte que precisei.

À minha orientadora Lurdes Aparecida Grossmann, com quem eu tive o privilégio de


conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me orientando sempre de forma simples,
porém muito didática e compreensível, para alcançar os caminhos almejados por este trabalho.

A minha namorada Caroline Hepp, companheira imbatível nesta jornada e grande alicerce,
bem como meus sogros, Jaqueline Hepp e Vilson Hepp, e meu cunhado, Renan Hepp.

Aos meus colegas de trabalho na Justiça Federal de Ijuí, pela paciência e compreensão
durante todo o desenvolvimento deste Trabalho de Conclusão de Curso.

A esta universidade, seu corpo docente, direção е administração que oportunizaram todo o
aprendizado adquirido, tanto para a vida acadêmica e profissional quanto pessoal.
"Não conheço nenhuma fórmula infalível para obter o
sucesso, mas conheço uma forma infalível de fracassar:
tentar agradar a todos".

John F. Kennedy.
RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise acerca das diversas interpretações e
sanções aplicadas ao psicopata, conforme a Constituição Federal pátria e a legislação
infraconstitucional, bem como verifica a definição de Psicopata sob a luz dos estudiosos da área
médica em questão. A justiça brasileira e sua dificuldade no enquadramento penal de modo efetivo,
nos casos concretos, e a sua agonia frente a ausência de uma definição específica e precisa para uma
punição exemplar e uniforme. Procura demonstrar as consequências jurídicas, sociais e ao próprio
Psicopata ao enquadrá-lo como indivíduo com enfermidades mentais e passivos de necessitar de
tratamento psicológico e ambulatorial em manicômios judiciais. Aborda o conceito de
inimputabilidade, semi-imputabilidade e imputabilidade. Traz a exposição de casos de grande
repercussão midiática e o modo como foram julgados, bem como a necessidade de uma lei específica
para tratamento e punibilidade aos agentes psicopatas.

Palavras-Chave: Código Penal. Psicopatia. Psicopata. Imputabilidade. Semi-imputabilidade,


inimputabilidade. Manicômios judiciais.
ABSTRACT

The present course conclusion paper analyzes the various interpretations and sanctions applied to
the psychopath, according to the Federal Constitution homeland and jurists. The definition of
PSYCHOPTA, in the light of the greatest medical scholars in question. Brazilian justice and its
difficulty in effectively framing criminal cases in concrete cases, and its agony in the absence of a
specific and precise definition for exemplary and uniform punishment. Demonstrate the legal and
social consequences to the Psychopath by framing him as an individual with mental and passive
illnesses requiring psychological and outpatient treatment in judicial asylums. The concept of
inimputability, semi-imputability and imputability. Exposure of cases of great media repercussion
and the way they were judged, as well as the need for a specific law for treatment and punishment
of psychopathic agents in a correct and uniform manner.

Keywords: Penal Code. Psychopathy. Psycho. Imputability. Semi-imputability. Inimputability.


Judicial Asylums.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 9

1 CONCEITO DE PSICOPATA E DA PSICOPATIA SOB O PONTO DE VISTA


PSIQUIÁTRICO E JURÍDICO .................................................................................. 11
1.1 O conceito e definições de Psicopata e Psicopatia sob a ótica dos psiquiatras e
psicólogos ..................................................................................................................... 13
1.2 O conceito e definições de Psicopata e Psicopatia frente ao ordenamento jurídico
pátrio..................................................................................................................................17

2 A CULPABILIDADE EM RELAÇÃO AOS IMPUTÁVEIS, SEMI-IMPUTÁVEIS


E INIMPUTÁVEIS. ..................................................................................................... 21
2.1 A aplicação da pena aos imputáveis ...................................................................... 21
2.2 A aplicação da pena e das medidas de segurança para os indivíduos inimputáveis
e semi-imputáveis......................................................................................................... 23

3 DAS PENAS APLICADAS AOS PSICOPATAS EM ALGUNS CASOS FAMOSOS


NO BRASIL E NO EXTERIOR ................................................................................. 28
3.1 Análise das sanções aplicadas em alguns crimes de grande repercussão praticados
por psicopatas no país ................................................................................................. 28
3.2 Como é aplicada as sanções penais à psicopatas no exterior ................................ 31

CONCLUSÃO ............................................................................................................. 33

REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 35
9

INTRODUÇÃO

Durante todo o transcorrer da história, a conduta de alguns dos indivíduos inseridos em uma
mesma sociedade é, de certa forma, incompreensível para os demais. Questões culturais,
intelectuais, medicinais e costumes dão embasamento e justificam certos comportamentos
questionáveis. Acontece que certos comportamentos de alguns indivíduos, chamam a atenção, seja
pela sua destreza, crueldade, motivação etc., gerando grande indignação e repercussão frente aos
demais membros.

Diante desse contexto, o presente trabalho realiza um estudo acerca do tratamento utilizado
pela legislação penal do Brasil no que concerne a identificação e punibilidade dos psicopatas, a fim
de verificar se o ordenamento jurídico pátrio assegura efetivamente a aplicação das leis penais de
forma efetiva e uniforme, em prol da proteção a sociedade e recuperação dos indivíduos infratores.

Inicialmente, no primeiro capítulo, foi realizada uma diferenciação dos conceitos de


psicopatia entre os membros da área jurídica, psiquiatras e psicólogos. Ademais, também é
realizada uma análise acerca do modo como pode ser caracterizado um psicopata, se enfermo
mental ou apenas um agente possuidor de grandes habilidades e maldade.

No segundo capítulo, é analisado de forma mais pontual a responsabilidade penal destes


indivíduos, imputabilidade, semi-imputabilidade e inimputabilidade dos agentes que praticam
crimes relacionados a psicopatia no país, sua culpabilidade, e métodos de sanção.

Já no terceiro capítulo, são examinadas as sanções aplicadas em alguns crimes de grande


repercussão praticados por psicopatas no Brasil e no exterior.

A partir desse estudo, se objetiva contribuir, senão para que a realização da justiça se torne
efetiva, ao menos para fomentar o debate e enriquecer a reflexão sobre a matéria. Também deixar
nítida a necessidade de uma norma específica para os crimes praticados por psicopatas e os riscos
ocasionados conforme tratamento sob a ótica da lei vigente utilizada.
10

O método de pesquisa é o indutivo e a pesquisa é bibliográfica.


11

1 CONCEITO DE PSICOPATA E DA PSICOPATIA SOB O PONTO DE VISTA


PSIQUIÁTRICO E JURÍDICO

A falta de uma definição e conceito, de reconhecimento geral e uniforme, sobre certos


vocábulos geram diversas interpretações e, consequentemente, dúvidas relativas a tal tema.
Atitudes reprováveis por alguns, são aceitáveis para outros, porém é importante todos terem o
conhecimento do que significa tal ato e a sua responsabilidade. O termo “psicopatia” é um destas
palavras que possuem inúmeras interpretações, seja entre a população, psiquiatras, psicólogos e,
até mesmo na área jurídica.

O termo “psicopata” significa “sofrimento da mente” - psykh (mente) e pathos (sofrimento)


(COSTA, 2017).

Ao longo do histórico do desenvolvimento humano, as condutas de cada indivíduo


apresentavam maiores peculiaridades frente ao coletivo. No transcorrer deste período, alguns
sujeitos apresentaram, entre seus diversos comportamentos, uma faceta aterrorizante, onde seus
atos eram incompreensíveis devido à crueldade que as caracterizavam.

Esses comportamentos levantaram base para questionamentos, onde então filósofos,


psiquiatras e juristas se indagaram sobre a capacidade destes sujeitos terem discernimento e
compreensão de suas atitudes e seu resultado. Já nos primórdios, havia indivíduos dos quais seu
comportamento já era reprovável e questionável pelos demais membros da sociedade devido a sua
frieza, falta de remorso e maldade do agente, todavia, não há como passar despercebido que estas
atitudes se tornaram cada vez mais corriqueiras e salientes na era moderna do homem.

Logo no princípio histórico, aconteceram inúmeras pesquisas superficiais e premeditadas,


desenvolvendo ineficientes diagnósticos e impedindo de ser encontrada uma conclusão plausível e
certeira. Entretanto, com o desenrolar do tempo e o crescente aumento no número de casos de
crimes perversos que iam ganhando repercussão, necessitava-se de encontrar um melhor
entendimento sobre estes infratores, e assim, foi se fomentando o interesse em pesquisas com
maior complexibilidade sobre a mente humana, onde os estudos foram se desenvolvendo com a
12

finalidade de impedir crimes futuros de criminosos já identificados, bem como quanto a possível
reabilitação destes indivíduos perversos.

Tem de se destacar que, com essa evidente dificuldade histórica na definição e diagnóstico
do ser psicopata, as regras jurídicas do seu tempo eram completamente ineficazes no que se refere
a punição, tratamento e reinserção destes indivíduos na sociedade, pois, o mais comum além de
sentencia-los a morte, era diagnostica-los como doentes e tratar ambulatorialmente de modo
errôneo e sem resultado satisfatório.

Apenas nos últimos cem anos, as autoridades responsáveis notaram que o estudo de um
comportamento específico de um infrator não identificado é capaz de fornecer dados quanto as
suas características e personalidade e, assim, estreitar sua área de pesquisa; este método foi
batizado de perfil psicológico ou de “definição do perfil agressor”, ou ainda “análise
comportamental” (COIMBRA e GARDENAL, 2018).

Com isto, veio o surgimento da psiquiatria, e assim começou a ser classificado os níveis de
desvio comportamental destes indivíduos, auxiliando então a justiça na dosimetria e aplicabilidade
da pena dos mesmos de forma mais coerente conforme seu diagnostico mental, sendo o dever, até
os dias atuais da psiquiatria, estudar e estabelecer as causas de tais desvios.

Quando se fala sobre este tema no Brasil, a série de problemas referentes à falta de definição
geral, uniformização da sanção penal ao psicopata e seu entendimento no âmbito jurídico brasileiro,
surge devido que com o passar dos anos, a sociedade em sua evolução, encontra-se cada vez mais
complexa, se tratando da convivência dos indivíduos enquanto membros da mesma sociedade,
porém, sem o acompanhamento da progressão jurídica normativa de nossa legislação pátria.
Levando em consideração a esfera social violenta e de impunidade cada vez mais saliente, a busca
de uma melhor compreensão e caracterização dos psicopatas, pode trazer respostas e soluções para
prevenir e combater tais atos, se tornando peça chave dos operadores jurídicos do Direito. Crimes
desumanos, executados de forma cruel, fria e injustificável, por diversas vezes associados a sujeitos
que não apresentam nenhum remorso ou lamentação, vem ganhando, diariamente, grande destaque
13

nas mídias, gerando incertezas quanto as variadas formas de sanções penais aplicadas a estes
infratores.

Em nosso território, conforme a Constituição Federal Brasileira, há a possibilidade de um


psicopata ser caracterizado, na esfera judicial, como um indivíduo doente, conforme laudos
periciais realizados por psiquiatras e psicólogos, onde este agente é caracterizado como incapaz de
ter a real noção e discernimento de seus atos e resultados. Dito isto, vale ressaltar que como
consequência, este sujeito torna-se inimputável ou semi-imputável, modificando assim a forma que
o mesmo enfrentará as consequências jurídicas dos seus atos e inclusive atenuando sua pena, ou
também, o colocando de certa forma em uma espécie de prisão sem definição de prazo, pois, caso
seja condenado a tratamento ambulatorial, o ordenamento jurídico não estipula um período máximo
ou certo para tratamento destes indivíduos, podendo prorrogar sua estadia em manicômios judiciais
e demais estabelecimentos com essa finalidade, por prazo indeterminado.

Hoje em dia, duas medidas de segurança podem ser aplicadas aos inimputáveis e semi-
imputáveis: a realização do tratamento ambulatorial e a internação compulsória.

Com efeito, essas duas espécies estão previstas no artigo 96, incisos I e II, do Código
Penal:

Art. 96. As medidas de segurança são:


I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro
estabelecimento adequado;
II - Sujeição a tratamento ambulatorial. (BRASIL, 1940).

Estas medidas supramencionadas, dependem completamente da forma como o infrator será


diagnosticado e julgado, como imputável, semi-imputável ou inimputável. Assim, desta forma, será
definida se alguma medida de segurança será tomada e qual delas.

1.1 O conceito e definições de Psicopata e Psicopatia sob a ótica dos psiquiatras e psicólogos

Como explanado anteriormente, até as definições e conceitos atuais relativos à Psicopatia,


houve um longo e conturbado caminho. No início, acreditava-se que a conduta cruel e violenta
14

destes indivíduos se dirigia em caminho oposto aos comportamentos em que a sociedade acreditava
ser o correto, conforme suas crenças e religião, norteadores de conduta em destaque na Idade Média
entre os séculos V e XV.

Estudos antropológicos revelam que a psicopatia em tal época, não estava ligada à
medicina, mas sim, a divindades, ao sobrenatural e até mesma à magia negra, conforme Dotti,
(2002, p.123) discorre:

Nas sociedades primitivas, o tabu era a proibição aos profanos de se relacionarem com
pessoas, objetos ou lugares determinados, ou deles se aproximarem, em virtude do
caráter sagrado dessas pessoas, objetos e lugares cuja violação acarretava ao culpado ou
a seu grupo o castigo da divindade.

Os indivíduos que apresentavam comportamentos característicos da psicopatia, em seu


estado, eram acusados de estar possuídos por algum “ser” não identificado que haveria entrado
no corpo do agente e causado nele vários distúrbios. A sociedade primitiva então, devota e
totalmente crente no que se refere as suas divindades, caracterizava as atitudes dos indivíduos a
locais e objetos que consequentemente levá-los-ia a ser castigados.

Na Roma Antiga houve a primeira classificação dos delinquentes, dividindo-os em três


estados, como tipo de transtorno mental: possuídos, demoníacos e energúmenos. (SILVA, J.,
2007, p.01).

Deste modo, acreditava-se que somente a religião poderia salvar e recuperar estes
indivíduos, contudo, com o passar dos anos, com o interesse da população e das comunidades
médicas no assunto, bem como o desenvolvimento tecnológico, é que então, a Psicopatia
desligou-se da religião e veio a ser estudada e definida pela comunidade médica.

A interpretação da psicopatia, de origem grega, nasceu dentro da Medicina Legal, no


século XIX, onde até então, todos os sujeitos que vinham a apresentar problemas ou doenças
mentais eram considerados psicopatas, até que, posteriormente, médicos descobriram que
inúmeros criminosos cruéis e perversos, não apresentavam quaisquer tipos de loucura, foi a partir
dessa constatação que iniciou-se a chamada “tradição clínica da psicopatia” baseada em estudos
de casos, entrevistas e observações dos reais psicopatas (COIMBRA e GARDENAL, 2018).
15

Chamado por muitos como o “pai da psiquiatria”, Phillipe Pinel é considerado o precursor
nessa área, pois ele seria o médico pioneiro a identificar diversas perturbações mentais, e
também, fora ele quem expos descrições científicas de padrões comportamentais e afetivos que
se aproximam do que hoje se entende em linhas gerais como psicopatia, associando o conceito
de "mania sem delírio", que descrevia pacientes que, mesmo exibindo comportamentos violentos,
podiam assimilar o caráter irracional de suas ações, no entanto, ainda não podiam ser
considerados delirantes. Nos anos seguintes, as pesquisas e estudos do assunto se aprofundaram
e até a década de 1940 foi formado um vasto entendimento entre os estudiosos e especialistas em
relação à sua elucidação, mas o quadro estabelecido para o diagnóstico ainda necessitava de uma
especificidade sólida (ALMEIDA F. M., 2017).

Então surgem as pesquisas de grande relevância relativas a psicopatas realizadas por


Hervey Cleckley, renomado psiquiatra norte-americano, e divulgadas em 1941, através da obra The
mask of sanity (a máscara da sanidade) o qual descrevia entrevistas clínicas com seus próprios
pacientes. Tais estudos possuem grande valor e relevância até os dias atuais.

No ano de 1991, baseado nos estudos elaborados por Hervey, o psicólogo canadense Robert
Hare criou uma espécie de questionário com o objetivo de identificar psicopatas, denominado
Escala Hare ou PCL-R Psycopathy Checklist Revised, que compreende em um diagnóstico
desenvolvido por um profissional psiquiatra com base em exames clínicos e do histórico do
paciente, atribuindo pontuação de 0 a 2 a uma sequência de características, como: dissimulação,
ego inflamado, mentira desenfreada, anseio por adrenalina, impulsividade, falta de culpa,
sentimentos superficiais, comportamento antissocial, ausência de empatia, má conduta na infância
e irresponsabilidade. A soma dos pontos determina o grau da psicopatia (COELHO, 2017).

Destarte, pode-se afirmar que as leis que vigoram no Brasil, remam de certa forma, contra
as definições e características dos Psicopatas conforme os especialistas médicos. O conceito de
Psicopatia entre os psiquiatras e especialistas não é unanime, porém, em sua grande maioria segue
a linha de que Psicopatia se trata de um transtorno de personalidade, entrelaçado a natureza do
16

sujeito, sem relação com qualquer enfermidade mental, ou seja, sem sofrer de alucinações ou
problemas de identidade mental, como apresentado por portadores de esquizofrenia.

Tais especialistas adeptos ao conceito supramencionado, afirmam que Psicopatas possuem


uma escassez sentimental, emocional e a total ausência de culpa, condição que está presente tanto
nos sujeitos ambiciosos quanto nos cruelmente impiedosos. Possuem um alto nível de inteligência,
podem ser sedutores e simpáticos e utilizam destes meios para saciar seus mais perversos desejos.

Nesse sentido, a percepção de Hare (2013, p. 38) se destaca:

Os psicopatas não são pessoas desorientadas ou que perderam o contato com a realidade;
não apresentam ilusões, alucinações ou a angústia subjetiva intensa que caracterizam a
maioria dos transtornos mentais. Ao contrário dos psicóticos, os psicopatas são racionais,
conscientes do que estão fazendo e do motivo por que agem assim.

Diverso do enfermo mental, os psicopatas são racionais, conscientes das responsabilidades


de suas ações e dos motivos do porquê agem assim. Acredita-se que a condição de psicopatia seja
congênita, ocasionada de uma imperfeição genética que afeta o desenvolvimento de partes do
cérebro relacionadas às emoções, controle de impulsos, empatia e moralidade, assim, também se
destaca que os sujeitos psicopatas, por todas essas características, não apresentam arrependimentos
frente aos crimes que cometem, logo, não se obtém o impacto desejado pelos órgãos jurisdicionais
ao aplicar as sanções convencionais a estes indivíduos, seja por restrição de liberdade, seja por
internações em manicômios, hospitais ou tratamentos ambulatoriais (SILVA, M., 2010).

Em conformidade com a psiquiatra brasileira Hilda Morana (2003, p. 26), entende-se ainda
que:

O comportamento dos transgressores diagnosticados como psicopatas difere de modo


fundamental dos demais criminosos nos seguintes aspectos: os primeiros são os
responsáveis pela maioria dos crimes violentos em todos os países; iniciam a carreira
criminal em idade precoce; cometem diversos tipos de crimes e com maior frequência que
os demais criminosos; são os que recebem o maior número de faltas disciplinares no
sistema prisional; apresentam insuficiente resposta aos programas de reabilitação; e
apresentam os mais elevados índices de reincidência criminal.
17

Esta corrente majoritária no âmbito medicinal, defende que o sujeito psicopata não deve ser
tratado como um indivíduo enfermo, ou, agente infrator no qual teve seu cruel ato relacionado há
uma incapacidade mental decorrente de alguma enfermidade ou incapacidade ambulatorial. É
evidente que os mesmos possuem totais capacidades mentais, e em alguns casos, com estas
habilidades psicológicas mais desenvolvidas frente a pessoas que não são Psicopatas, logo, este
infrator utiliza, de forma racional, das suas habilidades para cometer atos e crimes com requintes
de crueldade e ausência de empatia, de forma completamente sã e conhecedor das consequências
e resultado das suas ações para atingir seus objetivos e/ou saciar seus desejos.

1.2 O conceito e definições de Psicopata e Psicopatia frente ao ordenamento jurídico pátrio

Este conceito acima, não se apresenta com igualdade nos órgãos jurisdicionais brasileiros,
nem mesmo na Constituição Federal. Os magistrados brasileiros, em alguns casos, dão
prosseguimento ao processo sob a ótica de que a psicopatia está entrelaçada à indivíduos com
enfermidades mentais, ou seja, sem condições de serem responsabilizados de forma integral pelo
resultado da ação de suas práticas ilícitas, tornando-os semi-imputáveis ou inimputáveis.

Michel Foucault (1993, p. 139) expõe que “[...] o direito procura distinguir da melhor maneira
possível a alienação fingida da autêntica, uma vez que não se condena à pena aquele que está
verdadeiramente atingido pela loucura [...]”, tal afirmação representa a maneira que o Brasil analisa e
decide por não penalizar o doente mental e assim, consequentemente em alguns casos, o psicopata em
nosso Território, já que o mesmo não apresentaria capacidade em compreender seu comportamento
criminoso, o que é de suma importância para a aplicabilidade da pena.

Há três critérios caracterizadores da imputabilidade conforme entendimento jurisdicional


brasileiro: o biológico, o psicológico e o biopsicológico. O primeiro dá importância exclusiva a
idade do agente. Já o psicológico tem como única fonte, o nível de discernimento do agente em
relação as suas ações, independentemente de sua idade. Em nossa Constituição, quando se trata de
menores de 18 anos, o método adotado é o biopsicológico, que consiste na análise de ambos citados
anteriormente (CASTELO BRANCO, 2011 apud BARBOZA, 2014).
18

A Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XLVII, alínea b, prevê que não haverá
qualquer pena com caráter perpétuo, e no Código Penal, mais precisamente no artigo 26, parágrafo
único, prevê a semi-imputabilidade pelo seguinte texto:

Art. 26 - Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em
virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou
retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento. (BRASIL, 1940).

Em comentários ao referente artigo mencionado, Mirabete (2005, p. 267) assim preconiza:

Refere-se a lei em primeiro lugar à perturbação da saúde mental, expressão ampla que
abrange todas as doenças mentais e outros estados mórbidos. Os psicopatas, as
personalidades psicopáticas, os portadores de neuroses profundas, em geral têm
capacidade de entendimento e determinação, embora não plena.

A doutrina majoritária, interpreta de modo que os psicopatas estariam inseridos na hipótese


da culpabilidade reduzida da semi-imputabilidade, de acordo como destaca Jesus (2010, p. 143):

Entre a imputabilidade e a inimputabilidade existe um estado intermediário com reflexos


na culpabilidade e, por consequência, na responsabilidade do agente. Situam-se nessa
faixa os denominados demi-fous ou demi-responsables, compreendendo os casos benignos
ou fugidios de certas doenças mentais, as formas menos graves de debilidade mental, os
estados incipientes, estacionários ou residuais de certas psicoses, os estados Inter
paroxísticos dos epiléticos e histéricos, certos intervalos lúcidos ou períodos de remissão,
certos estados psíquicos decorrentes de especiais estados fisiológicos (gravidez, puerpério,
crimatério etc.) e as chamadas personalidades psicopáticas. Atendendo à circunstância de
o agente, em face dessas causas, não possuir a plena capacidade intelectiva ou volitiva,
o Direito Penal atenua sua severidade, diminuindo a pena ou somente impondo medida de
segurança.

Seguindo nesta linha de raciocínio, Mirabete e Fabbrini (2011, p. 140) classificam os


psicopatas como semi-imputáveis, ou seja, os colocando na mesma categoria dos portadores de
neurose profunda, como escrito a seguir:

Os psicopatas, as personalidades psicopáticas, os portadores de neuroses profundas etc.


em geral têm capacidade de entendimento e determinação, embora não plena. [...] Em
todas as hipóteses, comprovada por exame pericial, o agente será condenado, mas, tendo
em vista a menor reprovabilidade de sua conduta, terá sua pena reduzida entre um e dois
terços, conforme art. 26, parágrafo único. A percentagem de redução deve levar em conta
a maior ou menor intensidade de perturbação mental, ou quando for o caso, pela graduação
do desenvolvimento mental, e não pelas circunstâncias do crime, já consideradas na
fixação da pena antes da redução. Entretanto, tendo o Código adotado o sistema unitário
ou vicariante, em substituição ao sistema duplo binário de aplicação cumulativa da pena
19

e medida de segurança, necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena


pode ser substituída pela internação ou tratamento ambulatorial.

Em nossa jurisprudência, também é corrente majoritária o entendimento onde a psicopatia


deve ser tratada sob a ótica da semi-imputabilidade, com a aplicação do benefício da diminuição
da pena, como se vê no julgado a seguir:

A personalidade psicopática não se inclui na categoria das moléstias mentais acarretadoras


de irresponsabilidade do agente. Inscreve-se no elenco das perturbações de saúde mental,
em sentido estrito, determinantes da redução da pena. (TJMT – AP. Crim – Relator Des.
Costa Lima – RT 462/409).

Em que pese ser esse o entendimento majoritário, existem casos mais consentâneos com a
realidade dessas pessoas, conforme entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo (apud
MIRABETE, 2008, p. 748):

Se o laudo pericial reconhece a semi-imputabilidade e recomenda isolamento definitivo


por ser o réu portador de personalidade psicopática (louco moral) incorrigível pelos
métodos terapêuticos psiquiátricos, justifica a opção de magistrado pela medida de
segurança detentiva (art.98 do CP) a necessidade de longa permanência em segregação,
objetivo que poderia ser frustrado com aplicação; de reprimenda corporal, a possibilitar
em tese rápida e injustificável passagem a regime penitenciário favorável (RT 669/282).

Nesta mesma ideia, entende-se que a:

Personalidade psicopática não significa, necessariamente, que o agente sofre de moléstia


mental, embora o coloque na região fronteiriça de transição entre o psiquismo normal e as
psicoses funcionais. (TJSP – Ap. Crim – Relator Des. Adriano Marrey – TR 495/304).

Trindade, Beheregaray e Cuneo (2009, p. 23), destacam que a psicopatia não é fundamento
suficientemente capaz para aplicabilidade da medida de segurança, pois conforme tais autores, no
psicopata:

Sua capacidade cognitiva encontra-se preservada, o que os torna “sadios” perante o direito
penal, razão pela qual a eles não deve ser aplicada medida de segurança, mas pena. Doença
mental não é sinônimo de inimputabilidade, salvo quando houver prejuízos de ordem
cognitiva e/ou volitiva.

Casoy (2004, p.21) é outra autora que vem a defender o princípio em que os psicopatas
devem ser imputáveis, pois:
20

O fato de controlar seu comportamento para que isso não aconteça (ser preso) mostra que
o criminoso sabe que seu comportamento não é aceito pela sociedade, e que seu verniz
social é deliberado e planejado com premeditação. É por esse motivo que a maioria deles
é considerada sã e capaz de discernir entre o certo e o errado.

Assim, também discorre Nucci (2010, p. 282), que diz:

Doenças da vontade e personalidades antissociais são anomalias de personalidade que não


excluem a culpabilidade, pois não afetam a inteligência, a razão, nem a alteram a
vontade.[...] Por isso, é preciso muita cautela, tanto do perito, quanto do juiz, para
averiguar as situações consideradas limítrofes, que não chegam a constituir normalidade,
pois trata-se de personalidade antissocial, mas que não caracteriza a anormalidade a que
faz referência o art. 26.

Levando em conta que os psicopatas conhecem a natureza de seus atos, bem como as
normas jurisprudenciais que embasarão o julgamento deles mesmos, fica evidente que tais sujeitos
usarão da interpretação que lhes convém para ter sua pena conforme seu desejo. Seu poder de
persuasão, dissimulação e inteligência, os munem para conquistar ou saciar seus desejos obscuros,
sendo de pura inocência acreditar que eles não usariam suas habilidades para desafiar a plena justiça
e o devido cumprimento de pena que merece.

Sendo assim, enquanto a divergência de conceito existir entre as autoridades competentes


e responsáveis pelo julgamento e tratamento dos psicopatas, as penas irão ser ainda mais
dissemelhantes entre estes casos, assim, interferindo também na culpabilidade e responsabilidade
destes agentes, bem como sua capacitação em ser imputável, inimputável ou sem imputável.
21

2 A CULPABILIDADE EM RELAÇÃO AOS IMPUTÁVEIS, SEMI-IMPUTÁVEIS E


INIMPUTÁVEIS

A partir de uma análise constitucional pátria, faz-se necessário realizar uma explanação
sobre o que significa indivíduos imputáveis, semi-imputáveis e inimputáveis, fazendo a ligação ao
foco do tema deste trabalho, “Psicopatia” e como estes modos distintos de aplicabilidade da pena
causam certo desconforto aos membros da sociedade, bem como uma incerteza sobre o que de fato
é um indivíduo psicopata, se enfermo mental, ou apenas um indivíduo conhecedor dos seus atos e
consequências.

2.1 A aplicação da pena aos imputáveis

Para a prática do crime, e a responsabilização das possíveis consequências do delito, deve


o agente ter totais condições morais, psicológicas, físicas e mentais para ter discernimento de que
está realizando uma conduta penalmente considerável. Contudo, ter a real noção de que está
praticando um ato ilícito penal é insuficiente para o indivíduo responder por um crime. Também
deverá ter o controle efetivo da própria vontade. Tais condições são o que a doutrina define com
imputabilidade (REIS, 2015).

Imputabilidade é a capacidade de compreender o caráter ilícito do fato por ele perpetrado,


assim como determinar-se de acordo com esse entendimento. "Imputabilidade é, assim, a aptidão
para ser culpável." (MIRABETE, 2001, p. 210).

Consigna-nos Capez (2009, 311 p.) que “a imputabilidade apresenta, assim, um aspecto
intelectivo, consistente na capacidade de entendimento, e outro volitivo, que é a faculdade de
controlar e comandar a própria vontade”.

Define-nos Welzel (2011) que a imputabilidade nada mais é de que a capacidade da


culpabilidade e consiste em dois momentos distintos, sendo eles cognoscíveis ou intelectual e
volitivo. Neste mesmo sentindo Aníbal Bruno (2005, 85p) afirma que a imputabilidade é o
pressuposto da Culpabilidade.
22

Há três critérios caracterizadores da imputabilidade conforme entendimento jurisdicional


brasileiro: o biológico, o psicológico e o biopsicológico. O primeiro dá importância exclusiva a
idade do indivíduo. Já o psicológico leva unicamente em consideração, o nível de discernimento
do agente em relação à sua conduta, independentemente de sua idade.

O sistema biopsicológico é adotado pelo Direito Penal Brasileiro mesmo antes da reforma
da Parte Geral do Código Penal materializada por intermédio da Lei nº 7.209, de 11 de julho de
1984.

Nosso ordenamento jurídico deixa claro a adoção de tal sistema, mais precisamente no
artigo 26, parágrafo único, do Código Penal:

Art. 26 - Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em
virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou
retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-
se de acordo com esse entendimento. (BRASIL, 1940).

Em comentários ao referente artigo mencionado, Mirabete (2005, p. 267) assim preconiza:

Refere-se a lei em primeiro lugar à perturbação da saúde mental, expressão ampla que
abrange todas as doenças mentais e outros estados mórbidos. Os psicopatas, as
personalidades psicopáticas, os portadores de neuroses profundas, em geral têm
capacidade de entendimento e determinação, embora não plena.

Quando tais transgressores são tratados de forma imputável, são classificados como
individuos capazes de se atribuir a responsabilidade pela prática de uma conduta ilícita e agentes
com idade maior de 18 anos, ou seja, apresentam a idade minima necessaria para sua formação
moral completa e sua conduta e resultado não possuem quaisquer relação com alguma doença
mental que este indivíduo possa vir a alegar em juízo afim de atenuar sua pena, estabelecendo nexo
causal entre o agente e a conduta ilícita praticada, devendo estar presentes os elementos cognitivos
e volitivo. A pena restritiva de liberdade, sem atenuações sob argumentos embasados em doenças
mentais, se torna a mais utilizada nestes casos, tanto devido a dosimetria relativamente alta da pena,
quanto pela ideia de retirar do seio da sociedade o indivíduo psicopata.

O elemento cognitivo tem como compreensão a capacidade mental de conhecer o caráter


criminoso da ação ilícita. Já o elemento volitivo é a autodeterminação ou autocontrole de uma
23

conduta. Na falta destes elementos, ou de apenas um destes, estaremos diante dos indivíduos
inimputáveis, os semi-imputáveis ou com imputabilidade reduzida.

Nos casos de individuos imputaveis, não são abrangidos pelo polêmico art. 26, parágrafo
único, do nosso Código Penal, pois afastas a possibilidades de interpretação e uso do mesmo nas
ações do indivíduo capaz de discernir a responsabilidade de sua conduta e suas consequências. Pois
bem, esta visão se aproxima do conceito adotado e defendido por grande parte dos psiquiatras e
especialistas criminais no assunto da psicopatia, como destacado anteriormente, entretanto, não é
a intepretação mais adotada por nossos magistrados e possui sérias consequencias.

2.2 A aplicação da pena e das medidas de segurança para os indivíduos inimputáveis e


semi-imputáveis

De modo adverso à imputabilidade, a inimputabilidade é a impossibilidade de o agente


entender o caráter criminoso do que realizou e de determinar-se de acordo com esse
entendimento, isto é:

[...] é a incapacidade para apreciar o caráter ilícito do fato ou determinar-se de acordo


com essa apreciação. Se a imputabilidade consiste na capacidade de entender e de
querer, pode estar ausente porque o indivíduo, por questão de idade, não alcançou
determinado grau desenvolvimento físico ou psíquico, ou porque existe em concreto
uma circunstância que a exclui. Fala-se, então, em inimputabilidade. (DAMÁSIO, 1998,
p. 467)

Rogério Greco (2017. p. 521) observa que:

É que um doente mental jamais poderá agir com dolo ou culpa, porque, sem a capacidade
psíquica para a compreensão do ilícito, não há nenhuma relação psíquica relevante para o
Direito Penal, entre o agente e o fato. Sem a imputabilidade, não se perfaz a relação
subjetiva entre a conduta e o resultado. Não se pode falar em dolo ou culpa de um doente
mental. O dolo e a culpa como formas de exteriorização da culpabilidade em direção à
causação do resultado, pressupõem a imputabilidade do agente.

São causas excludentes da culpabilidade pela inimputabilidade a doença, o


desenvolvimento mental incompleto ou retardado (artigo 26 do Código Penal) e a embriaguez
completa proveniente de caso fortuito ou de força maior (artigo 28, § 1º do Código Penal), além
do Art. 104 do Estatuto da Criança e do Adolescente, (ECA – Lei nº 8.069/1990):
24

Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos (grifo meu), sujeitos
às medidas previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos dessa Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à
data do fato.

A doença mental deve apresentar patologia psíquica ou tóxica, de qualquer ordem, que
seja capaz de suprimir a vontade e o entendimento do indivíduo acerca do acontecimento e de
seu conteúdo ilícito. Capez (2009) cita as seguintes patologias mentais: “epilepsia,
condutopática, psicose, neurose, esquizofrenia, paranoias, psicopatia, epilepsias em geral etc.”.
Como patologias de origem tóxica, cita-se o alcoolismo e a dependência química, que podem
carrear em inimputabilidade. Estão inseridos neste contexto, os menores de 18 anos pela
presunção de seu desenvolvimento mental incompleto.

Hoje em dia, duas medidas de segurança podem ser aplicadas aos inimputáveis e semi-
imputáveis: a realização do tratamento ambulatorial e a internação compulsória.

Com efeito, essas duas espécies estão previstas no artigo 96, incisos I e II, do Código Penal:
Art. 96. As medidas de segurança são
I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro
estabelecimento adequado;
II - Sujeição a tratamento ambulatorial. (BRASIL, 1940).

A internação compulsória, pode ser equiparada ao regime fechado da pena restritiva de


liberdade de reclusão, alocando o condenado em uma instituição hospitalar de custódia e devido
tratamento psiquiátrico ou outro estabelecimento hospitalar adequado. Em que pese o tratamento
realizado de forma ambulatorial se assemelha a uma pena restritiva de direitos, sendo que o
sentenciado terá que comparecer a um médico ou psicólogo para realizar um tratamento conforme
período previamente determinado em sentença.

Os hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico estão previstos no art. 99 da Lei de


Execução Penal:
Art. 99. O Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico destina-se aos inimputáveis e
semi-imputáveis referidos no artigo 26 e seu parágrafo único do Código Penal.
Parágrafo único. Aplica-se ao hospital, no que couber, o disposto no parágrafo único, do
artigo 88, desta Lei.
25

Cessando a periculosidade do inimputável (comprovado por exame médico), o juiz


determinará a sua desinternação por sentença. A liberação somente se dará após o trânsito em
julgado desta sentença (art. 179 da LEP).

Após a realização do cumprimento da sanção imposta pelo juiz, ele retorna à sociedade,
deixando de estar sob a custódia do Estado. Entretanto, as penas supramencionadas não
demonstram, em sua maioria, eficiência na correção do apenado psicopata, pois grande parte
retorna a cometer novos crimes, porém de forma ainda mais cuidadosa, evitando assim uma nova
prisão. Ana Beatriz Barbosa (2008) dispõe que:

Estudos revelam que a taxa de reincidência criminal (capacidade de realizar novos crimes)
dos psicopatas é cerca de duas vezes maior que a dos demais criminosos. E quando se trata
de crimes associados à violência, a reincidência cresce para três vezes mais.

Quanto a dados estatísticos de reincidência criminal entre psicopatas, inclusive no Brasil,


Hilda Morana (2003, p. 26) assevera:

Para Hemphill e Cols (1998), a reincidência criminal dos psicopatas é aproximadamente


três vezes maior que em outros criminosos. Para crimes violentos, a taxa dos psicopatas é
quatro vezes maior que a dos não psicopatas. Morana (2003), em apenados brasileiros,
encontrou reincidência criminal 4,52 vezes maior em psicopatas que em não
psicopatas. Harris e Cols (1991) referem que reincidência de atos violentos em uma
amostra de 169 pacientes masculinos foi de 77% para psicopatas e 21% para não
psicopatas; ou seja, mais de quatro vezes maior. Morana (2003) encontrou a taxa de 5,3
vezes mais versatilidade criminal em psicopatas quando comparada a outros criminosos.
O Departamento Penitenciário Nacional (do Brasil) – DEPEN – (2003) estima a
reincidência criminal no Brasil em 82%. A reincidência criminal na grande São Paulo,
capital, é de 58%, ou seja, a cada dois presos que saem da cadeia, um retorna.

Se tratando da semi-imputabilidade, em contrapartida, é o tipo de responsabilização do


agente criminoso mais utilizado nos casos de psicopatia no Brasil. Trata-se do entendimento de
que o transgressor, tem consciência parcial da conduta ilícita praticada e da capacidade de
autodeterminação. Logo assim, está abrangida ao Artigo 26, parágrafo único, do nosso Código
Penal, para a redução da pena aplicada ao psicopata ou, sendo o caso, aplicação de medida de
segurança.

Comprovada que a limitação de compreensão do agente, o magistrado atenuará a


reprimenda de 1/3 a 2/3, quando da aferição da última fase em sua aplicação. Tem a possibilidade
26

ainda, considerando as peculiaridades do caso, que o agente portador de capacidade de


discernimento reduzida seja submetido à aplicação de medida de segurança. Há que se ressalvar
que, para isto, a capacidade cognitiva e intelectual deverá ser intensamente afetada, de maneira que
o indicado seja o tratamento curativo.

Apesar de ser o entendimento majoritário dos juristas brasileiros, renomados nomes na


doutrina penal rejeitam esta visão de “meio-termo”: Ou o sujeito é imputável e respondera como
se não fosse, ou é inimputável, sendo assim utilizada a medida de segurança.

Sobre tal questão, Antônio Carlos da Ponte (2002, p. 41) destoa que:

Cabe frisar que não há uma categoria de semiloucos ou semi-responsáveis, há sim, entre
a zona de sanidade psíquica ou normal e a loucura, estados psíquicos que representam uma
variação mórbida, fazendo com que seus portadores sejam responsáveis, embora com
menor culpabilidade, justamente por apresentarem uma capacidade reduzida de
discernimento ético – social ou auto inibição ao impulso criminoso.

Ou seja, a referida semi-imputabilidade, agrupa as penas restritivas de liberdade, passíveis


de atenuações de pena com fulcro no art. 26, parágrafo único, do nosso ordenamento jurídico penal,
ou medida de segurança, esta qual, possui diversas espécies: a de internação, exposta no artigo 96,
inciso I do nosso Código Penal, onde o transgressor é desprovido da sua liberdade, assim sendo
colocado sob tratamento em instalação com característica hospitalar, ficando empregue aos
inimputáveis e a quem praticou crime punível com a pena restritiva de liberdade, ou de forma
interpretativa ao sujeito que executou ato criminoso passivo de punição de detenção.

No que se refere ao tratamento ambulatorial, segundo art. 96, inciso II, o qual ficará
disponibilizado aos indivíduos inimputáveis quando o ato ilícito cometido representar menor índice
gravidade, e aos semi-imputáveis (conforme posto no art. 99, Lei de Execuções Penais). Este
instituto se realiza a partir de comparecimento do transgressor ao hospital já determinado ou em
outro local que detenha das mesmas características, para que a pessoa possa realizar tratamento
psiquiátrico adequado. Vale ressaltar que possuí também um grande ponto negativo, pois na norma
jurídica brasileira, não há limite de prazo para submeter o indivíduo a tais internações ou
tratamentos, podendo ultrapassar a pena máxima mencionada em nossa constituição, que seria de
30 anos.
27

Frente ao que foi disposto neste capítulo, tem-se a necessidade de analisar quais são as sanções
e de que forma foram tratados, julgados e classificados os psicopatas em casos concretos
conhecidos e de maior repercussão.
28

3 DAS PENAS APLICADAS AOS PSICOPATAS EM ALGUNS CASOS FAMOSOS NO


BRASIL E NO EXTERIOR

Neste capítulo, há a finalidade de apresentar como foram julgados casos de piscopatas


conforme a norma jurídica brasileira, bem como é tratado o assunto em outros países, tendo
tambem como objetivo, demonstrar como outros estados soberanos enfrentam o mal da psicopatia,
e quais seus meios jurisdicionais utilizados para a sanção dos agentes psicopatas e suas respectivas
penas.

3.1 Análise das sanções aplicadas em alguns crimes de grande repercussão praticados por
psicopatas no país

No Brasil, a despeito do que já ocorre em outros países, não se utiliza o PCL-R para
identificação dos portadores desse transtorno. A psiquiatra Ana Beatriz Silva assevera sobre a
temática:

A psiquiatra forense Hilda Morana, responsável pela tradução, adaptação e validação do


PCL para o Brasil, além de tentar aplicar o teste para a identificação de psicopatas nos
nossos presídios, lutou para convencer deputados a criar prisões especiais para eles. A
ideia virou um projeto de lei que, lamentavelmente, não foi aprovado. (SILVA, 2008)

Com isso em mente, analisam-se casos notórios relacionados a psicopatas que aconteceram
no país, contudo, suas sanções em maioria, causam revolta na população, pois estes indivíduos
cruéis, ardilosos e extremamente inteligentes, tiveram suas penas reduzidas devido a lei vigente
que trata destes agentes no país.

Francisco das Chagas Rodrigues de Brito trabalhava como mecânico no Estado do Pará e
era o caçula dos cinco filhos, proveniente de uma família pobre do sertão maranhense. Sua infância
foi marcada por agressões físicas e nenhum traço de carinho. Segundo ele, aos sete anos de idade,
foi vítima de abuso sexual, realizado por um dos empregados de sua avó. Talvez em razão destes
fatos, tenha se tornado um adulto com problemas para se relacionar com a sociedade.
29

Segundo Souza (2010, p. 122), Francisco Brito é considerado o maior serial killer brasileiro,
tendo matado 42 (quarenta e dois) meninos nos Estados do Pará e do Maranhão. Seus crimes
começaram em 1989, quando atacou três meninos. Todos eles sobreviveram, mas tiveram seus
órgãos genitais parcialmente arrancados. O primeiro homicídio ocorreu em 1991, tendo atuado até
meados de 2003. Jamais despertou as suspeitas de amigos, parentes ou vizinhos. Parecia ser um
bom homem.

A defesa de Francisco ingressou com inúmeros recursos durante o trâmite das ações,
atacando as decisões de pronúncia dos processos relativos ao caso. Em todas as impugnações,
requeria-se o reconhecimento da inimputabilidade e consequente aplicação de medida de
segurança, visando eximir o agente de parte da responsabilidade penal. Para tanto, argumentava-se
que o acusado “ouvia vozes”, chegando a afirmar que veria uma entidade vestida de branco e
flutuando acima do chão, indicando qual seria a próxima vítima (BAHÉ, 2014).

Francisco Brito foi diagnosticado como portador de Transtorno de Personalidade antissocial


– psicopatia, sendo que, quanto à imputabilidade, o laudo psiquiátrico apontou que o acusado era
inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato delituoso por ele praticado, contudo, não
era inteiramente capaz de determinar-se de acordo com esse entendimento. Assim, acolhendo o
resultado apontado pelo laudo, e, por quatro votos a três, Francisco foi julgado semi-imputável no
primeiro julgamento, no ano de 2009, o que pode ter influenciado a decisão dos jurados nos
julgamentos seguintes, que seguiram a mesma linha. A propósito, reconhecida a semi-
imputabilidade, o acusado foi penalmente responsabilizado pela sua conduta delitiva, sendo
beneficiado tão somente com a redução da pena imposta, que, no caso do primeiro julgamento, foi
aplicada pelo juiz sentenciante em 1/3 (um terço) (COELHO A., 2017).

Já o segundo caso, refere-se à Francisco de Assis Pereira, nascido no fim do mês de


novembro de 1967, em São Paulo, ficou nacionalmente conhecido como o “Maníaco do Parque”,
que foi, sem sombra de dúvidas, o caso de maior repercussão no Brasil.

Colhendo-se as informações obtidas por Souza (2010, p. 139-140), depreende-se que,


diferentemente da grande maioria dos seriais killers, ele teve uma infância considerada normal. Era
30

o filho do meio de uma família de classe média, composta por três filhos. Seus amigos e
companheiros sempre falaram muito bem de Francisco, sendo pessoa de confiança de seus
empregadores. Dentre os diagnosticados psicopatas brasileiros, foi o que melhor desenvolveu a
técnica de dissimulação.

O Maníaco do Parque foi diagnosticado como portador de “transtorno de personalidade


antissocial”, assim definida como psicopatia. Com base nisto, o perito responsável concluiu tratar-
se de sujeito semi-imputável, o que diminuiria consideravelmente sua pena. Contudo, o Conselho
de Sentença, formado pelo júri popular, entendeu pela plena imputabilidade do agente, ou seja, o
acusado foi julgado como plenamente capaz de ser responsabilizado pelas práticas delitivas
(COELHO A., 2017).

Ao analisar o inteiro teor do julgamento, nota-se que o Tribunal de Justiça não vinculou o
laudo médico a decisão dos juízes togados e não togados:

[...] Ficou claro que Francisco sofre de transtorno de personalidade antissocial, o qual,
porém, não constitui doença mental nem chega a abalar a saúde mental. O Doutor Paulo
Argarate Vasques, um dos médicos encarregados da perícia psiquiátrica, afirmou, na
sessão de julgamento, que o réu tinha preservado a capacidade de entender o caráter
criminoso do sucesso; quanto à capacidade de autodeterminação, asseverou a dificuldade
de detectar seu eventual comprometimento, razão pela qual anuiu na possibilidade de se
considerar a plena imputabilidade de Francisco. Mister reconhecer, portanto, que o
conselho de sentença optou por uma das vertentes da prova trazida aos autos. Não se há
de dizer seja o veredicto, porque afastou a semi-imputabilidade, manifestamente contrário
à constelação probatória. (Tribunal de Justiça de São Paulo, Apelação nº 385.367.3/4-00.
Relator Des. Geraldo Xavier. Julgado em junho de 2003).

Pode-se observar que no Brasil, conforme disposto no início deste trabalho, há definições
distintas entre os especialistas médicos e juristas no que se refere psicopatia e sua capacidade de
discernimento dos seus atos, onde no caso em tela, a visão jurídica se sobrepôs a visão dos
especialistas, ignorando o laudo médico realizado para diagnóstico do réu e o julgando como agente
capaz e com capacidade de entender o ato ilícito praticado.
31

3.2 Como é aplicada as sanções penais à psicopatas no exterior

Diferente do Brasil, casos no exterior demonstram que há leis específicas e individuais dos
psicopatas para os demais criminosos. Há um extremo cuidado para separar os agentes com
características da psicopatia para os que não tem, assim, os distanciando no tempo em que cumprem
suas penas. Nesse sentido, países como EUA, Austrália, Holanda, Noruega, China utilizam o
instrumento denominado “Psychopathy checklist” ou PCL-R, citado no início deste trabalho.
Segundo Robert Hare, países que o instituíram apresentam redução da reincidência criminal
considerável (HARE, 1998). É composto de um teste com 20 itens a fim de verificar a psicopatia
por meio da estrutura da personalidade. Nessa linha:

A administração do PCL-R provê um método padronizado para quantificar e organizar


atitudes e comportamentos observáveis [...] O Rorschach acrescenta e refina a hipótese
sugerida pelo PCL-R [...] os itens do PCL-R quantificam atitudes observáveis e
documentam comportamentos, enquanto os dados do Rorchach os correlacionam. O PCL-
R e o Rorschach avaliam diferentes dimensões da personalidade, mas que se
complementam. (GACONO, 1998 apud LOVING, 2002, PP 51-52)

Interessante observar de que forma países como Inglaterra e Estados Unidos lidam com a
psicopatia desde seus primeiros traços. Nesses países, segundo estudos realizados pelo FBI, boa
parte dos psicopatas começam sua carreira matando animais e, por este dado, matadores de animais
são tratados e julgados de forma diferenciada nesses países. Percebe-se, portanto, que esses
territórios já perceberam a importância de tomar uma medida preventiva acerca da psicopatia,
detendo estes indivíduos desde as primeiras linhas de psicopatia (OLIVEIRA, 2015).

Seguindo por esta linha de raciocínio, cita-se países como Alemanha, Estados Unidos,
Suécia, Dinamarca entre outros que realizam a aplicação de hormônios femininos a estes
indivíduos, reduzindo o nível de testosterona e, consequentemente, a libido sexual. Assim
configura-se a Castração Química, sendo uma modalidade de pena aos crimes sexuais cometidos
em série nestes países (OLAVO, 2012).

Outro mecanismo utilizado pelos Estados Unidos, em vários de seus estados, bem como
pelo Canadá, é a criação de leis especificas para psicopatas. Isso demonstra que esses países já
32

entenderam que os crimes podem ser cometidos por pessoas com personalidades e condutas
díspares e que, por este motivo, merecem uma visão individualizada a fim de evitar a reincidência:

Quanto a se discutir eventual liberação pela suspensão da medida de segurança, quase há


um consenso, com poucas discórdias em torno dele, no sentido de que tais formas extremas
de psicopatia que se manifestam através da violência são intratáveis e que seus portadores
devem ser confinados. Deve-se a propósito deste pensamento considerar que os portadores
de personalidade psicopática são aproximadamente de três a quatro vezes propensos a
apresentar recidivas de seu quadro do que os não psicopatas. (PALOMBA, 2003, p. 186).

Logo assim, é lamentável ver que um projeto de lei que foi proposto no Brasil, com a
intenção de proporcionar melhora no tratamento e pena dos agentes psicopatas, foi rejeitado,
mesmo sendo possível observar a eficácia da implementação do PCL-R em outros países. A correta
e eficaz sanção penal aplicada a estes agentes, acarretaria somente melhoras a sociedade e até
mesmo ao individuo psicopata, todavia, quando se trata desta questão, conforme destaca-se no
decorrer deste trabalho, o especialista médico pouca força tem frente ao legislativo e judiciário.
33

CONCLUSÃO

As relações humanas, pela própria natureza do homem como indivíduo que necessita do
convívio em grupo e nesse grupo desenvolve interações, também evidência que temos
pensamentos, desejos, instintos e comportamentos diferentes. As diferenças dão margens e
alimentam debates e reflexões acerca do que seria correto e o que não seria.

Ao passo em que tenta entender a complexibilidade entorno da mente humana do psicopata,


nos aproxima da realidade na qual demonstra o tanto que pode ser obscuro e maligno o pensamento
destes indivíduos.

O Estado presta a jurisdição a fim de punir os psicopatas do qual a sociedade não aceita
tamanha crueldade em seus atos. Todavia, a jurisprudência tem se apresentada confusa e vem
demonstrando sua incapacidade de se solidificar como ideal de sanção punitiva, preventiva e
restaurativa face ao psicopata. Essa incapacidade de uma prestação jurisdicional plena tem como
causas principais o aumento de reincidência delituosa destes agentes, a deficiente reinserção a
sociedade, a interação entre psicopatas e não psicopatas, aumentando a propagação deste mal e
seus ideais, a possibilidade de sanção infrutífera etc.

Nesse contexto, se verifica, negativamente, as diversas interpretações que juristas e


estudiosos utilizam para a psicopatia em território brasileiro, dificultando ainda mais a
aplicabilidade de uma pena que apresente resultados positivos.

Essa divergência entre as classes médicas e jurídicas, gera um debate ardiloso durante o
curso do processo, pois a culpabilidade do agente e sua responsabilização entram em conflito com
a eficaz aplicabilidade da pena.

Os modelos e resultados que produzem bons efeitos estão em destaque no exterior, e


indicam uma possibilidade notória de diminuição nos casos em que agentes psicopatas atuam,
dando a eles, a devida responsabilização e aplicando sanções que demonstram resultados
34

satisfatórios. Destaca-se positivamente o PCR-L, modelo padrão utilizado nestes estados soberanos
que demonstram uma grande diminuição nos crimes bárbaros de grande repercussão midiático.

O ponto negativo fica por ter sido, tal modelo, recusado em proposta de lei no Brasil, e a
pergunta que paira é: por quê? Infelizmente, uma ferramenta que propagaria uma possível taxa de
resolução positiva, nos casos de psicopatia, teve suas portas fechadas neste país. Isso atrasa a
criação a adaptação de normas beneficentes a população face aos crimes bárbaros praticados pelos
psicopatas.
35

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