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UNIVERSIDADE PAULISTA

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS


CURSO DE PSICOLOGIA

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL:


a psicopatia a partir da perspectiva da saúde mental

ANDERSON DOS SANTOS – RA D21JDF-3


ANA CLAUDIA ALVES GARCIA – RA D29CIE-0
LUCIANA EMER BORGES – RA T1959F-4
LUIZ CARLOS ANTONIASSI – RA C733FI-0

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP


2021
UNIVERSIDADE PAULISTA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE PSICOLOGIA

ANDERSON DOS SANTOS – RA D21JDF-3


ANA CLAUDIA ALVES GARCIA – RA D29CIE-0
LUCIANA EMER BORGES – RA T1959F-4
LUIZ CARLOS ANTONIASSI – RA C733FI-0

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL:


a psicopatia a partir da perspectiva da saúde mental

Relatório de Investigação Científica


apresentado junto à UNIP –
Universidade Paulista, como pré-
requisito para a conclusão do curso
de Psicologia

Orientadora: Profª. Mª. Eliane


Chainça

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO-SP


2021
i

AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente à Deus que nos capacitou nos últimos dez


semestres a progredirmos em direção ao objetivo do trabalho, que a princípio
parecia ser de difícil resolução, mas que no caminho, aprendemos o quanto é
prazeroso o aproveitamento do assunto abordado.
Agradecemos à UNIP – Univesidade Paulista pela oportunidade de
proporcionar aos discentes um meio para divulgar o aprendizado do curso em
forma de pesquisa. A grade curricular auxiliou na elaboração desse projeto,
pois se não conhecêssemos os teóricos, não teríamos embasamento para a
nossa abordagem.
Agradecemos aos professores do Curso de Psicologia. A galhardia e
empenho dos docentes nos estimularam a elaborar um trabalho que fosse
relevante e condizente com o conteúdo no qual fomos imersos; afinal eles
poderiam ter desistido por causa das dificuldades e empecilhos do ensino
remoto, mas se propuseram a continuar e formar psicólogos sábios e
diligentes.
Agradecemos a nossa orientadora, Profª. Mª. Eliane Chainça que foi
solícita com o tema, nos dando direcionamentos e correções que fortaleceram
nossa argumentação, além de enriquecer o conteúdo da pesquisa e nossas
ideias. A qualidade desse trabalho se deve por causa da nossa orientadora,
que foi persistente, mostrando que seríamos capazes de concluir um trabalho
relevante e eficiente.
Agradecemos a Coordenadora do Curso de Psicologia da Unip, Profª Mª
Rosana Maria Garcia por sempre ser prestativa, idônea e sempre batalhar pelo
melhor desempenho dos discentes do curso. Agradecemos também aos sete
participantes que se propuseram a responder as nove perguntas propostas
pela pesquisa, sem o viés deles nosso trabalho não teria conclusão.
Por fim, queremos agradecer a todos os nossos familiares e amigos que
compreenderam o nosso momento e nos deram força para prosseguir mesmo
quando as ideias pareciam travadas em nossa mente. Sem a ajuda e
entendimento deles nesse momento ímpar, provavelmente teríamos sucumbido
ao desespero e não teríamos concluído o projeto.
ii

"Os psicopatas não são pessoas


desorientadas ou que perderam o
contato com a realidade [...] Seu
comportamento é resultado de uma
escolha exercida livremente"

(Robert Hare)
iii

RESUMO

ANTONIASSI, L.C; BORGES, L.E; GARCIA, A.C.A; SANTOS, A.;


CHAINÇA, E. (orientadora). Transtorno de Personalidade
Antissocial: a psicopatia a partir da perspectiva da saúde mental.
Curso de Psicologia. Instituto de Ciências Humanas, UNIP –
Universidade Paulista. Campus São José do Rio Preto, 2021.

O presente trabalho compreendeu a psicopatia a partir da


perspectiva da saúde mental; como a patologia se instaura na
sociedade, quais os seus desdobramentos, como um indivíduo se
torna psicopata e se fatores biológicos e sociais são de fato
determinantes para o desenvolvimento do transtorno. Ademais, a
pesquisa esclareceu se há tratamento efetivo para o transtorno e se
há meios para abrandar os seus efeitos. Para isso foi feita uma
pesquisa de campo com sete profissionais, sendo cinco médicos e
dois psicólogos, profissionais renomados que lidam com pessoas
que possuem o Transtorno de Personalidade Antissocial. As
respostas coletadas foram comparadas e analisadas e concluiu-se
que realmente quem possui o Transtorno de Personalidade
Antissocial (Psicopatia) viola regras, é egocêntrico, possui falta de
empatia com o próximo e é capaz de qualquer coisa para satisfazer
os seus anseios. A pesquisa revelou também que a informação
sobre o transtorno é valiosa pois ajuda o sujeito comum a lidar com
as dificuldades e até mesmo procurar ajuda profissional.
Compreendeu-se também pelo prisma saúde mental que existe
tratamento mediante psicoterapia e medicação adequada,
entretanto, são necessários mais esforços, pois o tratamento só é
efetivo para aqueles que estão sob ordens judiciais. Por fim, a
pesquisa esclareceu que quanto mais rápido for diagnosticado o
transtorno na vida de um indivíduo, mais chances de tratamento de
modelação podem ser determinadas.

Palavras-chave: Transtorno de personalidade antissocial. Psicopatia.


Saúde mental.
iv

ABSTRACT

ANTONIASSI, L.C; BORGES, L.E; GARCIA, A.C.A; SANTOS, A.;


CHAINÇA, E. (orientadora). Transtorno de Personalidade
Antissocial: a psicopatia a partir da perspectiva da saúde mental.
Curso de Psicologia. Instituto de Ciências Humanas, UNIP –
Universidade Paulista. Campus São José do Rio Preto, 2021.

This work understood psychopathy from the mental health


perspective; how it establishes itself in society and what are its
consequences, how an individual becomes a psychopath and if
biological and social factors are in fact determinant for the
development of the disorder. Furthermore, the research has clarified
whether there is an effective treatment for the disorder and whether
there are ways to mitigate its effects. For this, a field research was
carried out with seven professionals, including five physicians and
two psychologists, renowned professionals who deal with people who
have Antisocial Personality Disorder. The answers collected were
compared and analyzed and it was concluded that those who have
Antisocial Personality Disorder (Psychopathy) actually violate rules,
are egocentric, lack empathy with others and are capable of anything
to reach their wants. The survey also revealed that information about
the disorder is valuable as it helps the common person to deal with
difficulties and even seek professional help. It was also understood
from the mental health perspective that there is treatment through
psychotherapy and adequate medication, however, more efforts are
needed, as the treatment is only effective for those who are under
court orders. Finally, the research clarified that the faster the disorder
is diagnosed in an individual's life, the more chances of modeling
treatment can be improved.

Keywords: Antisocial personality disorder. Psychopathy. Mental


health.
v

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 6

2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 15

2.1 Objetivo geral ................................................................................................. 15

2.2 Objetivos específicos .................................................................................... 15

3 HIPÓTESES ........................................................................................................... 16

4 JUSTIFICATIVAS .................................................................................................. 17

5 MÉTODOS ............................................................................................................. 19

5.1 Participantes ................................................................................................... 19

5.2 Instrumentos .................................................................................................. 19

5.3 Aparatos de pesquisa .................................................................................... 19

5.4 Procedimento para coleta de dados ............................................................. 20

5.5 Procedimentos para a análise de dados ...................................................... 20

5.6 Ressalvas éticas ............................................................................................ 20

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 22

6.1 Perfil dos Participantes ................................................................................. 22

6.2 Resultados e discussão ................................................................................ 24

7 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 50

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 53

APÊNDICE 1 ............................................................................................................. 56

APÊNDICE 2 ............................................................................................................. 57

APÊNDICE 3 ............................................................................................................. 59

APÊNDICE 4 ............................................................................................................. 60

ANEXO 1................................................................................................................. 101


6

1 INTRODUÇÃO

A psicopatia é uma incógnita tanto para especialistas quanto para


pessoas comuns. A especulação sobre esta patologia é intensa, pois, além de
deixar danos para a sociedade, as formas de tratamento são pouco exploradas,
com informações escassas e até mesmo redundantes. Há preconceito e
omissão quando o assunto trata sobre o desenvolvimento de uma mente com
tendência a este distúrbio.
De acordo com Hare (2013), existem mais de dois milhões de psicopatas
só na América do Norte, portanto, especular este número em escala global é
estarrecedor. É imprescindível verificar algumas fontes de especialistas
concisos na área para se ter ideia de quem são os psicopatas, como agem e
quais os desdobramentos de suas façanhas na sociedade.
A quinta edição do Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais - DSM-5 (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014, p. 660)
discorre que a personalidade antissocial se adequa a um padrão de indiferença
e não se intimida ao violar o direito dos outros. Este padrão difuso surge na
infância, desenvolve-se na adolescência e se mantém na vida adulta.
Na maioria das vezes, estes indivíduos manipulam e enganam para
recompensar o próprio ego. Eles infringem, desnorteiam e não respeitam os
sentimentos, seja de familiares ou de colegas. Eles violam regras, quebram
convenções sociais e agridem pessoas, seja física ou psicologicamente. São
fraudulentos e irresponsáveis, não se importam com os outros, apenas consigo
mesmos.
Por sociedade compreende-se as grandes redes nas quais as pessoas
estruturam seu modo de vida e se relacionam (família, trabalho, igreja, escola).
Regras, normas e leis surgem a partir dessa organização orientando a conduta
humana para a comodidade de todos. Dito de outro modo, a vida coletiva
consiste em estabelecer uma resolução que sustenta os direitos e deveres
comuns, mantendo a paz (ROBLE, 2016).
Robert D. Hare (2013) diz que a socialização ensina a cada pessoa
como se comportar em sociedade, moldando a consciência de cada um. O que
acontece no caso de pessoas com Transtorno de Personalidade Antissocial é
que elas desconsideram essa “polícia interna”, isto é, até conhecem as regras,
7

mas não as seguem, independentemente de qual seja a consequência para o


outro. Os psicopatas fazem qualquer coisa para se dar bem. Tudo é possível
para quem não possui essa consciência.
Ancona-Lopes (2014) relata um caso em sua obra, para fins
exemplificativos, de que este padrão difuso aparece na infância. Um menino
possuía comportamento destrutivo e agressivo; em casa, era ele quem
estabelecia as regras, batia no irmão mais novo e não apresentava nenhum
tipo de arrependimento; na escola, não aceitava a opinião de outras crianças,
era teimoso e iracundo. No psicodiagnóstico foi propalado que a criança tinha
um transtorno de conduta, nomeação mais apropriada para a psicopatia na
infância, visto que não é possível diagnosticar transtornos de personalidade em
crianças, afinal estão em processo de desenvolvimento.
Em concordância com Dalgalarrondo (2019), a insanidade moral, a
neurose de caráter enquadra-se na categoria de Transtorno de Personalidade
(TP). Ao longo dos anos de estudos dos profissionais de saúde mental o termo
psicopatia foi popularizado como personalidade antissocial. Os Transtornos de
Personalidade são: “anomalias do desenvolvimento psíquico, sendo
considerados, em psiquiatria forense, como perturbação da saúde mental”
(MORANA, 2006, p. 75).
Dalgalarrondo estabelece o transtorno da seguinte maneira:

As pessoas com TPA apresentam muita dificuldade em ter uma


interação afetiva recíproca, respeitosa e duradoura. Com frequência,
não têm consideração ou compaixão pelas outras pessoas; mentem,
enganam, trapaceiam, prejudicam os outros, mesmo a quem nunca
lhes fez nada. (DALGALARRONDO, 2019, p.517).

De acordo com Silva (2018) a psicopatia é uma disfunção do caráter. O


psicopata viola regras sociais sem nenhum tipo de arrependimento. Estes
indivíduos são insensíveis e não possuem empatia. A obra clama que lidar com
cidadãos com esta patologia é inconveniente, pois são manipuladores e visam
sempre o benefício do próprio prazer, negam o altruísmo e pouco se importam
em construir relacionamentos duradouros e eficazes. Em outras palavras,
psicopatas esperam apenas a própria satisfação, a realização dos seus
anseios e fazem de tudo para alcançar o objetivo.
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Silva (2018) também argumenta que os psicopatas não são párias da


sociedade, ou seja, não estão na cadeia ou em outro tipo de isolamento social
apenas, pelo contrário, estão transitando pelas ruas, são funcionários
excelentes em empresas relevantes, são pessoas que estão dirigindo carros do
ano, são aqueles que frequentam os mesmos ambientes sociais que pessoas
comuns. A autora alega que identificar um psicopata é uma tarefa complexa,
pois depende da decorrência de certas ações corruptivas que virão à tona.
Robert D. Hare (2013) é um dos principais especialistas em Transtorno
de Personalidade Antissocial (TPA) e retratou os indivíduos enquadrados neste
padrão como predadores sociais, que usam charme, manipulação e crueldade.
Passam pela vida das pessoas deixando um caminho de corações partidos,
expectativas e frustrações; são desprovidos de empatia ou consciência, pegam
o que lhes agrada, independente se vão violar normas sociais ou a lei, sem o
menor sentimento de culpa ou arrependimento.
De acordo com Oliveira, a psicopatia desenvolve-se no indivíduo da
seguinte forma:

Comportamento impulsivo; incapacidade de criar vínculos profundos e


constante com outras pessoas ou para identificar-se em relações
interpessoais; falta de planejamento para conseguir determinados
objetivos; aparente falta de ansiedade e de sofrimento pela
inadaptação social e sua negativa de reconhecimento a tal
inadaptação; tendência a projetar nos outros as culpas e não aceitar a
responsabilidade por seus próprios fracassos; mentiras; falta de
responsabilidade e pobreza emocional (OLIVEIRA, 2012, p. 46).

A palavra psicopata (do grego psyque = mente; e pathos = doença)


literalmente significa doença da mente. No entanto, os psicopatas não são
considerados doentes mentais, não obstante são frios e calculistas, deixam
sequelas para a vida das vítimas; são impiedosos, agem de forma repetida e
sistemática. Virtudes, como generosidade e mansidão, são ferramentas nas
mãos de pessoas assim, elas despertam confiança e simpatia, contudo, são
como lobos em pele de cordeiro, são os vampiros da vida real que não sugam
o sangue, mas sim a energia emocional (SILVA, 2018).
Em sua obra, Cociuffo (2012) expõe de maneira contundente que:

O traço que mais se destaca na personalidade psicótica é a


intolerância à frustração, junto com o predomínio dos impulsos
destrutivos que se manifestam como o ódio desmedido contra a
9

realidade, tanto interna como externa. Ódio que se estende aos


próprios sentidos, à personalidade e aos elementos psíquicos que
lidam com a realidade e seu conhecimento, à consciência e a todas
as funções relacionadas a ela. (COCIUFFO, 2012, p. 53).

A psiquiatria forense não caracteriza o Transtorno de Personalidade


Antissocial (TPA) na visão tradicional de doença mental, visto que o sujeito não
apresenta nenhum tipo de descoordenação, desorientação ou desequilíbrio, ou
seja, não manifesta nenhum tipo de sofrimento psicológico. O transtorno é
compreendido atualmente como um grupo de traços e/ou alterações de
conduta em indivíduos com tendência ativa do comportamento, tais como
avidez por estímulos, delinquência juvenil, descontroles comportamentais e
reincidência criminal. É considerada como a mais grave alteração de
personalidade, uma vez que os indivíduos caracterizados por essa patologia
são responsáveis pela maioria dos crimes violentos, além de apresentar
reincidência (AMBIEL, 2006).
De acordo com o artigo “Transtornos de personalidade, psicopatia e
serial killers”, a primeira hipótese dos transtornos de personalidade antissocial
(TPA) da psicopatia é a genética, ou seja, o sujeito nasce com esta condição. A
segunda hipótese é que o comportamento agressivo pode estar relacionado a
distúrbios hormonais. A terceira hipótese é decorrente do ambiente no qual o
indivíduo se desenvolve (MORANA, 2006).
Silva (2018) expõe que o cérebro humano já é capacitado para discernir
o certo do errado. A autora propõe a hipótese evolucionista para explicar que o
desprezo e a compaixão já estão do DNA do ser humano, uns desenvolvem,
outros não. Em outras palavras, se a psicopatia é genética, não há tratamento
que modifique isto, pois se o psicopata é desprovido de emoção desde tenra
idade, então significa que sua natureza já é inclinada à imoralidade e à
perversão.
De acordo com Del-Ben (2005), indivíduos com transtorno de
personalidade antissocial têm redução de serotonina no organismo,
consequentemente, a impulsividade e agressividade são ativadas. Este estudo
foi desenvolvido para uma abordagem farmacológica com a finalidade de
ajudar o sistema de segurança a identificar fatores de risco, isto é, tentar
manter a ordem.
10

Segundo Levisky (2002), a criança é inserida por meio de sua família ou


responsável em uma sociedade com sua conduta ética, moral e étnico/cultural.
Nesse ambiente, ela cresce e recebe involuntariamente todos os anseios,
ideais e preconceitos, valores que farão parte de sua identidade através dessa
herança psíquica, formando assim o que se entende no senso comum como
personalidade. Esta interação afetiva construída por este ambiente pode
desenvolver na criança características de psicopatia.
Mecler (2015) afirma que o ser humano nasce com uma semente do
bem e do mal em seu interior, todavia o processo de germinar e crescer
depende dos fatores que irrigam a existência do ser humano, como o ambiente
de criação, crenças e convicções. Ainda segundo o pensamento dessa autora,
na formação do caráter existe um componente biológico e outro ambiental que
podem influenciar diretamente no que essa pessoa vai se tornar.
James Fallon, neurocientista americano autor da obra Por dentro do
Psicopata descobriu por meio de tomografias que sua área cerebral era como a
de criminosos que possuíam baixas atividades em áreas como moralidade,
autocontrole e empatia. Ao fazer uma pesquisa familiar, descobriu que alguns
de seus antepassados foram psicopatas criminosos. Sua mãe ao notar na
infância essa tendência agressiva e violenta estimulou outras áreas mais
positivas e conseguiu moldar o temperamento e o caráter por meio do ensino
(FALLON, 2013).
Por outro lado, Robert D. Hare, psicólogo canadense especialista em
psicologia criminal e psicopatia afirma com veemência:

É verdade que a infância de alguns psicopatas caracteriza-se


por privação emocional e abuso físico, mas, para cada
psicopata adulto originário de uma família problemática, há
outro cuja vida familiar foi aparentemente mais calorosa e
instrutiva e cujos irmãos são pessoas normais, conscienciosas,
capazes de se preocupar muito com os outros. Além disso, a
maioria das pessoas com infância horrível não se torna
psicopata nem assassino frio (HARE, 2013, p.23)

Com as hipóteses explanadas, depreendem-se três vertentes: (1) se a


psicopatia é genética, então ela não tem cura. Não há qualquer possibilidade
de mudança. Isto é, quem se esforçar para deter este mal acabará se
frustrando por não encontrar a solução; (2) sendo a psicopatia um fator
11

hormonal, ela pode ser tratada por meio de medicamentos regulados; e, (3) se
a psicopatia for um fator ambiental (relacionamento familiar, cultural e social)
poderá ser sanada com intervenções psicológicas e psiquiátricas. Todavia,
conforme as ideias dos autores já mencionados, psicopatas não procuram
tratamento, visto que não se consideram doentes, geralmente são as vítimas
que necessitam de orientação. Assim, o que a psicologia pode fazer para
ajudar tanto o sociopata quanto as vítimas (MORANA, 2006)?
O papel da psicologia forense é colaborar com o sistema legal. O termo
forense vem de fórum e remete a tribunal, aliás, a psicologia forense ajuda os
profissionais do direito a tratarem indivíduos dentro do sistema legal.
Geralmente o psicólogo forense é acionado para auxiliar o tribunal em causas
de inimputabilidade, isto é, para identificar se o réu cometeu o crime
intencionalmente ou se sofre de algum retardo mental. O psicólogo forense não
age em cenas de crime, como se costuma ver em séries de televisão ou em
outros veículos midiáticos, todavia, seu trabalho é relevante para o sistema
judiciário, pois fornece estratégias de como lidar com cada situação
especificamente (HUSS, 2011).
Recentemente, Adélio Bispo de Oliveira, que esfaqueou Jair Messias
Bolsonaro, candidato à presidência da república na época, foi considerado
inimputável pela justiça brasileira por sofrer de problemas psiquiátricos,
segundo profissionais especialistas. Dito de outra forma, Adélio não pode ser
punido porque não tem consciência sobre suas ações. De acordo com
informações da justiça federal, Adélio agiu sozinho, seu depoimento foi
acompanhado por diversos profissionais e todos os que estavam envolvidos
chegaram à mesma conclusão de que ele merece tratamento diferente dos
outros presos. Atualmente ele está detido na penitenciária de segurança
máxima em Campo Grande-MS, além de ser acompanhado por um psicanalista
forense (NASCIMENTO, 2019).
Segundo Oliveira (2012), o sistema penal brasileiro não diferencia o
psicopata do criminoso comum. O ponto de vista da autora discorre que, pelo
psicopata não ter nenhum tipo de afeição pelo próximo e ser extremamente
racional, suas ações influenciarão outros presos à rebelião, além de instigar
carcereiros à letargia profissional, assim escaparão ilesos e até bem quistos
pelo sistema penitenciário. A autora alega também que profissionais
12

especialistas nessa área são escassos, isto é, não existem pessoas


capacitadas para tratar da psicopatia no sistema judiciário e não há verba para
adquirir equipamentos aferidores para esta patologia.
O alerta em sua pesquisa é que, se não houver uma reforma do código
penal e judiciário, muitos psicopatas podem ser beneficiados pela lei, e, se
alguma medida mais drástica não for tomada quanto à punição destes sujeitos,
eles poderão retornar à vida normal e executar atrocidades das mais terríveis.
Em outras palavras, os psicopatas devem ter uma atenção especial, levando
em consideração sua sagacidade e cinismo em relação aos outros presos
(OLIVEIRA, 2012).
O tratamento da psicopatia é denso e cheio de indagações. Por
exemplo, no Brasil, a reincidência criminal é extremamente significativa. Para
se ter uma ideia, cerca de 80% dos presos voltam às práticas criminosas
depois que são reintegrados à sociedade. Na tentativa de não prejudicar a
reabilitação de presos comuns, os especialistas do sistema penal brasileiro
valem-se do PCL-R (Psychopathy Checklist Revised) de Robert Hare,
ferramenta de avaliação psicológica que classifica a psicopatia em indivíduos
(AMBIEL, 2006).
A psiquiatra forense Hilda Morana (cuja obra já foi citada neste trabalho)
foi a responsável por traduzir, validar e aplicar o PCL-R no Brasil. Há anos
tenta convencer os políticos a criar prisões especiais para criminosos
psicopatas. Um projeto de lei até foi elaborado, no entanto não foi aprovado.
Este instrumento poderia surtir bons efeitos no futuro caso atentassem à sua
eficácia. (SILVA, 2018).
Francisco Costa Rocha, o Chico Picadinho, foi preso em 1966 por matar
e esquartejar uma mulher. Oito anos depois foi agraciado pela liberdade
condicional. Dois anos mais tarde, em 1976, matou outra mulher, com mais
requintes de crueldade do que no primeiro crime. Na primeira vez em que foi
preso, a personalidade psicopática foi ignorada. Ou seja, se o sistema judiciário
ponderasse acerca do distúrbio do criminoso, não haveria uma segunda vítima.
Seus últimos exames demonstraram que não é possível que ele volte para a
sociedade, pois pode praticar novos crimes (SILVA, 2018).
A reincidência nas condutas antissociais levanta muitas discussões a
respeito da recuperação de indivíduos com Transtorno de Personalidade
13

Antissocial (TPA), entretanto, ainda não existem comprovações tão efetivas


que afirmem com precisão que eles podem, de fato, se recuperar após um
tratamento psiquiátrico ou psicológico (HUSS, 2011).
Conforme Chekley (1941), “os psicopatas não têm capacidade de
formar vínculos emocionais para uma terapia efetiva” (apud HUSS, 2011, p.
106), portanto, não teriam benefício de uma terapia. Este posicionamento não
diverge do que a psicologia forense relata, pois os psicólogos forenses
também questionam se é possível tratar indivíduos nesta condição, com
deficiência de formar vínculos segundo suas crenças, o que leva a fracassos
em obter resultados positivos em terapia.
O autor cita uma experiência pessoal, na qual foi informado de que só
existe um tipo de terapia para o psicopata, a magnumterapia, fazendo
referência à arma de fogo; em outras palavras, para o psicopata, o único
tratamento que funciona é a própria morte. Ainda discorrendo sobre as ideias
do autor, o tratamento com a abordagem errada não resolve, mas amplia e
potencializa a percepção e a compreensão do psicopata sobre as emoções e
fragilidades de suas vítimas, apesar disso, especialistas identificaram
elementos relevantes para o tratamento de psicopatas, então, há esperança
(HUSS, 2011).
O senso comum atribui a psicopatia à irresponsabilidade dos pais. Para
esta vertente, a ausência de vínculos familiares, como falta de afeto, carinho
e atenção, culminam na desordem de consciência do indivíduo. Esta linha de
pensamento é provável, no entanto, são vários os casos em que filhos muito
bem cuidados desenvolveram o transtorno, o qual até mesmo a mais alta
disciplina educacional, como escola militar e grupo de escoteiros, não foi
capaz de conter. É aconselhável acompanhar o indivíduo na mais tenra idade
com programas de tratamento, pois esperar que esta criança cresça e na
cadeia encontre um tratamento mais relevante é desilusão e engano.
Atualmente não há um programa, um tratamento eficaz, ou simplesmente a
cura (HARE, 2013).
O especialista Robert Hare trabalha atualmente com um experimento
para tratar pessoas com psicopatia, todavia o autor argumenta que estas
programações novas são caras e suscetíveis a pressões político-partidárias.
14

O conselho do escritor é cautela e continuar procurando uma ferramenta que


produza frutos sadios (HARE, 2013).
Partindo do pensamento relatado anteriormente, a proposta do
presente trabalho é responder a esta questão intrigante de forma orientativa,
pois a psicopatologia é uma área complexa, cheia de indagações. Assim,
sobre o papel da psicologia neste contexto, Cociuffo afirma que:

A conclusão é que o trabalho de um psicólogo não pode estar


reduzido à produção de diagnósticos precisos e impessoais. O
psicólogo trabalha para além do diagnóstico, no encontro do
sofrimento do “outro” e na busca de sentido para esse sofrimento, o
que implica a compreensão da realidade psíquica, cultural e
econômica dessa população (COCIUFFO, 2012, p.59).

É imprescindível então desmistificar preconceitos, trivialidades e


suposições acerca do trabalho que o psicólogo exerce, pois a psicopatologia
abrange o contexto social, político e econômico. O profissional então deve se
munir dos recursos necessários para atuar de maneira saudável e honrosa.
Se necessário for unir a psicologia à psicanálise para lograr êxito no
tratamento de psicopatia, que seja feito (COCIUFFO, 2012).
O olhar da psiquiatria para este tipo de tratamento é de compreensão
ao sofrimento psíquico. A vida humana é de extrema importância, a
psicanálise não menospreza sujeitos e não os abandona à própria sorte, ela
se preocupa em estabelecer ligações de afeto que causem algum tipo de
mudança. O especialista responsável então compreende, acolhe e se esforça
para transladar emoções corrompidas e desnorteadas, com a finalidade de
aprimorar a realidade interna e externa de quem sofre de psicopatia.
(COCIUFFO, 2012).
Embora sabendo que existem limitações no campo do conhecimento, o
estudo sobre o tratamento e ferramentas de resolução da psicopatia devem
ser apurados com afinco a fim de que a saúde pública no Brasil saia do
estado de caos e ampare os cidadãos com mais prestatividade e
discernimento (COCIUFFO, 2012).
15

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo geral

Compreender a psicopatia a partir da perspectiva da saúde mental.

2.2 Objetivos específicos

Compreender como esta patologia se instaura na sociedade e quais


seus desdobramentos.
Assimilar como a psicopatia flagela a comunidade.
Esclarecer como uma pessoa torna-se psicopata.
16

3 HIPÓTESES

Espera-se constatar que a patologia se instaure na sociedade através


da desatenção, desinformação e ingenuidade, em outros termos, a ignorância
sobre o transtorno de personalidade antissocial eleva o número de vítimas e
afrouxa a justiça; seus desdobramentos são medo, incapacidade e
desesperança por parte das vítimas e da sociedade.
Supõe-se que a saúde mental considere que o indivíduo se torna
psicopata devido a fatores sociais e culturais; as influências adquiridas na
infância e adolescência são as causadoras desta patologia, e, com o
tratamento no tempo certo, é possível o progresso na metodologia de
restauração.
Presume-se que a psicopatia se constrói sob a pré-disposição inata do
indivíduo, em outras palavras, este já nasce com a psicopatia engendrada em
seu cérebro, assim, espera-se compreender como este gatilho é ativado na
construção social e na formação psíquica, e como isto torna o comportamento
criminoso mais letal.
Acredita-se que o tratamento deva ser realizado o mais cedo possível,
na infância, especificamente, para que a patologia seja extirpada por meio de
regras, conduta moral e disciplina.
17

4 JUSTIFICATIVAS

Estudar as causas e efeitos da psicopatia é de extrema relevância para


a psicologia. De acordo com Silva (2018), apenas quatro por cento da
população mundial têm esta patologia e os outros 96% da sociedade são
deixados à mercê de pessoas repugnantes, aproveitadoras e fraudulentas. O
assunto é acirrante porque os psicopatas causam dano à sociedade,
destroem famílias e, na maioria das vezes, passam despercebidos. É
necessário fazer alarde sobre a psicopatia, afinal, sujeitos com este
transtorno são nocivos e causam danos irreversíveis no ambiente no qual
estão inseridos.
O tema é importante para a psicologia, pois é pertinente conhecer
como a mente do psicopata funciona, porquanto o tratamento errôneo pode
deixar o psicopata mais destrutivo. Consequentemente, o conteúdo dispõe
sobre o posicionamento do psicólogo, bem como seu conhecimento e ação.
Por conseguinte, o profissional controlará a ingenuidade e ampliará a
perspicácia, em outras palavras, estará preparado para as situações de
atendimento que possivelmente surgirão no futuro.
A proposição é cientificamente relevante, uma vez que, quanto mais
material for elaborado, mais elevadas serão as chances de tratar um sujeito
com psicopatia. A construção científica deste assunto de maneira
interdisciplinar auxilia no conhecimento e na abordagem de pessoas com esta
patologia, além de difundir pontos de vista, objeções, correções e
colaborações.
Este trabalho é significativo para a sociedade, dado que os psicopatas
não procuram ajuda, geralmente são as vítimas que buscam tratamento
devido às sequelas e rastros de terror que deixam. O conhecimento sobre o
tema oferece esclarecimentos ao cidadão comum e até fornece a maneira
certa de lidar com pessoas que são acometidas por este transtorno. Adverte-
se que o desconhecimento do assunto pode fazer mais vítimas.
O argumento proposto no presente trabalho reflete sobre a atuação do
profissional da saúde mental e a maneira ideal de lidar com indivíduos com
esta patologia, além de fornecer esperança para as vítimas; por conseguinte,
é importante a participação nesta pesquisa, pois ao entrar em contato com a
18

presente composição, o profissional da saúde mental poderá expandir as


ferramentas e difundir as estratégias de sua atuação com indivíduos com tais
características.
19

5 MÉTODOS

5.1 Participantes

A pesquisa aconteceu por meio de entrevistas com profissionais da


saúde mental, com médicos e psicólogos que possuem experiência no
atendimento com pessoas com Transtorno de Personalidade Antissocial
(Psicopatia). Foram convidados para a participação 7 (sete profissionais).
Não participaram desta pesquisa profissionais que não tinham
experiência com o Transtorno de Personalidade Antissocial (Psicopatia), pois
o conhecimento era necessário para o direcionamento da perspectiva que foi
examinada.

5.2 Instrumentos

Foram utilizados para a coleta de dados:


a) Perfil do participante e Roteiro de entrevista (Apêndice 1)
b) Termo de consentimento livre e esclarecido, que foi fornecido aos
profissionais para que a sua participação fosse documentada (Apêndice 2)
c) Intenção de pesquisa (Apêndice 3)

5.3 Aparatos de pesquisa

A entrevista aconteceu em plataforma virtual que tinha a possibilidade


de gravar o áudio, como a plataforma Zoom e Google Meet, que dispunham
deste recurso, assim o conteúdo não foi perdido. Os Participantes utilizaram
smartfone e/ou computador com câmera e microfone.
As entrevistas foram feitas remotamente por meio das plataformas
digitais supracitadas. O equipamento utilizado para captar o áudio foi o
aplicativo de smartphone gravador de áudio.
20

5.4 Procedimento da coleta dos dados

A pesquisa foi realizada após aprovação do Comitê de Ética em


Pesquisa (Parecer n. 4.423.708 – Anexo 1), com horário marcado e seguiu
rigorosamente um roteiro preestabelecido. Os primeiros contatos com os
participantes se deram por e-mail, os termos de consentimento livre
esclarecido foram entregues por correspondência eletrônica ou pessoalmente,
de acordo com a possibilidade no período de pandemia, e foram assinados
remotamente com assinatura virtual.
Em seguida, o link do Zoom ou Google Meet foi disponibilizado por
WhatsApp, e-mail ou sms. Aos participantes convidados foram realizadas a
entrevistas. Na entrevista remota, os recursos de gravação do software Zoom
ou Google Meet foram aplicados para captar apenas o áudio. Após esse
tempo, os arquivos digitais foram gravados em mídia móvel e em nuvem, para
se ter acesso fácil, sem perder a possibilidade de sigilo e segurança nos
dados.

5.5 Procedimento para análise dos dados

Os dados coletados pela entrevista semiestruturada foram transcritos


(Apêndice 4), categorizados e analisados de acordo com o nível de
ocorrência, utilizando-se como base para a análise qualitativa os estudos
encontrados na bibliografia pesquisada.
Esta transcrição contou com todas as ressalvas éticas de omissão de
dados sigilosos ou que possibilitaram a identificação de indivíduos ou
instituição. Foram criadas categorias de resposta, de acordo com a Teoria de
Análise de Conteúdo, de Minayo (2000).

5.6 Ressalvas éticas

Os direitos e o bem-estar dos participantes foram preservados. O


trabalho seguiu os aspectos técnicos, acadêmicos e éticos exigidos. A
pesquisa se norteou pelos parâmetros delineados pela Resolução 510/2016
21

do Conselho Nacional de Saúde, que orienta a realização de pesquisas


envolvendo seres humanos.
Aos participantes foi entregue o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, que informou o objetivo da pesquisa, os procedimentos aos quais
foram submetidos, os riscos e os benefícios por meio de uma linguagem clara
e de fácil compreensão.
O termo também assegurou o sigilo sobre a identidade e esclareceu
que a participação foi voluntária e, se o participante desejasse, sua
participação poderia ser interrompida a qualquer momento sem causar
prejuízos.
22

6 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A construção desse capítulo contará inicialmente com o perfil dos


participantes, logo após, as informações colhidas serão apontadas e
discutidas. Para a análise, haverá a categorização das respostas executada
conforme a Teoria de Análise de Conteúdo, de Minayo (2001). A
argumentação das decorrências será pautada nos teóricos estudados que
estão relacionados neste trabalho de pesquisa.

6.1 Perfil dos participantes

A seguir, serão apresentados os dados referentes ao perfil dos


participantes e informações complementares coletadas no momento da
entrevista. Para manter o anonimato, o sujeito de pesquisa será indicado pela
letra P seguida de numeração arábica crescente (de 1 a 7).
As informações serão expostas no Quadro 1 e no Quadro 2 para
facilitar a leitura e a compreensão.

Quadro 1: Perfil dos Participantes


Participante Formação Área de atuação Tempo de atuação

P1 Medicina Psiquiatria 43 anos

Psiquiatria dinâmica
P2 Medicina 45 anos
Psicanalista

P3 Medicina Psiquiatria Clínica 15 anos

P4 Medicina Clínica Médica 40 anos

Psicologia clínica e
P5 Psicologia 14 anos
psicologia da saúde

Psicologia forense e
P6 Psicologia -
criminal

Psiquiatria e
P7 Medicina 43 anos
Ortopedia
23

Quadro 2: Continuação do Perfil dos Participantes

A área de atuação
Qualificações Outras
Participante é a única
adicionais ocupações
atualmente?

P1 - sim -
P2 - sim -
Professor
P3 - sim
universitário
P4 - sim -
P5 - sim -
Psicólogo clínico e
P6 - sim professor
acadêmico
Psicologia
Cognitiva
P7 Comportamental, sim -
Dor Crônica e
Ortopedia

A princípio, pensou-se em profissionais que representassem o campo da


psicologia forense e criminal, visto que essa área de atuação se coadunava
com a proposta da pesquisa. No entanto, depois de muitos contatos e
indagações sobre o tema proposto, percebeu-se que são poucos psicólogos
que trabalham com o Transtorno de Personalidade Antissocial. Os poucos que
trabalham nessa esfera, não responderam a afirmativa de participarem da
pesquisa. Houve vários contatos sem resposta.
Dessa maneira, optou-se por profissionais da saúde mental que
tivessem experiência no ramo. Assim, os participantes são compostos por
cinco médicos, sendo três psiquiatras (P1, P3, P7); um psiquiatra dinâmico e
psicanalista (P2) e um clínico (P4); mais dois psicólogos (P5 e P6).
Compreende-se que o viés do psicólogo é diferente do médico em
relação ao Transtorno de Personalidade Antissocial (Psicopatia), por isso, a
pesquisa nesse momento contribui para acentuar as principais diferenças que
serão discutidas entre a psicologia e a medicina. A psicanálise contribuirá para
a compreensão do funcionamento da vida psíquica da pessoa que possui o
Transtorno de Personalidade Antissocial (Psicopatia); e a psiquiatria analisará
24

o comportamento humano, fornecendo o possível diagnóstico e a psicoterapia


adequada para pacientes que apresentem o transtorno.
Outra prerrogativa é que psicopatas ou pessoas com Transtorno de
Personalidade Antissocial (TPA) não se submetem às sessões de psicoterapia.
Na maioria das vezes, o acompanhamento só acontece mediante ordens
judiciais. A falta de psicólogos que queiram compartilhar o assunto apenas
fortalece a compreensão de que ainda faltam profissionais capacitados para
lidar com pessoas com TPA ou Psicopatia e que o tema demanda mais
esforços.
A respeito dos participantes, o tempo de atuação deles é consistente, o
que oferece e compartilha a experiência de quem lida com pessoas que
apresentam o quadro de psicopatia ou do Transtorno de Personalidade
Antissocial (TPA). Esses profissionais contribuíram de maneira eficaz para a
construção do argumento e da resposta que o projeto esperava.
A prontidão desses profissionais para responder ao questionário também
deve ser salientada, pois em meio a uma crise sanitária, eles se dispuseram a
responder as questões acerca da psicopatia com maestria e desenvoltura; o
que forneceu matéria-prima para categorizar os resultados e estabelecer a
discussão.

6.2 Resultados e discussão

As questões que serão aludidas posteriormente foram examinadas em


concordância com a Teoria de Análise de Conteúdo de Minayo (2010) e serão
expostas de agora em diante pelas categorias criadas a fim de facilitar a
compreensão das informações coletadas.

Pergunta 1: Qual o padrão de comportamento do psicopata?

Nessa pergunta foram encontradas três categorias: a) infração social; b)


egocentrismo; c) não compreendeu a pergunta
25

a) Infração social
Quatro participantes (P3, P4, P5, P7) esclareceram que a infração social
é um padrão de comportamento do psicopata de acordo com as referências
abaixo:

“No caso do psicopata, o envolvimento criminal, né, com crimes, sejam


eles, furto, roubo, assalto a mão armada e agressão física e até mesmo
assassinato, homicídio, né, para com outras pessoas” (P3)

“Geralmente desrespeitam as leis, os costumes, né, o direito de outras


pessoas” (P4)

“Comportamentos disruptivos, violação de regras, condutas muitas


vezes não esperadas pela sociedade” (P5)

“O transtorno de personalidade antissocial coloca o indivíduo em


confronto com a lei” (P7)

b) Egocentrismo
Dois participantes (P1, P6) argumentaram que o egocentrismo é um
padrão de comportamento do psicopata conforme as citações a seguir:

“É um indivíduo desajustado na sociedade, porque ele tem uma série de


características que não consegue se relacionar com as pessoas, e por
exemplo, falta de empatia, egocentrismo, ele vive pra si mesmo” (P1);

“Outro comportamento típico de psicopatas é o egocentrismo [...] aquele


indivíduo que tem uma visão exacerbada das próprias habilidades” (P6)

c) Não compreendeu a pergunta


O participante (P2) não compreendeu a pergunta pois sua resposta não
trouxe exemplos do padrão de comportamento do psicopata.
26

Nessa pergunta, quatro participantes (P3, P4, P5, P7) esclareceram que
a infração social é um padrão de comportamento do psicopata. Por infração
social levou-se em consideração o desrespeito às leis, às normas, aos direitos
e costumes das outras pessoas. Segundo o DSM-5, um dos componentes para
enquadrar o indivíduo no Transtorno de Personalidade Antissocial é
incapacidade de adequação às normas sociais. Isso se explica pois o psicopata
age de maneira dissimulada a fim de ocultar o seu caráter transgressor das
normas sociais (MELLO; GONZALES, 2019).
Violar regras não causa arrependimento e psicopatas não justificam
seus atos. Além disso, para obter o que deseja, desrespeita direitos e a
integridade do próximo, utilizando-se na maioria das vezes de manipulação e
mentira, em outras palavras, psicopatas não se atentam para convenções
sociais, consideram-se livres demais para obedecer às regras, esse caráter
ressalta o quanto os psicopatas afligem à comunidade (MECLER, 2015).
Um segundo padrão de comportamento do psicopata foi apontado por
dois participantes (P1, P6), o egocentrismo. Esse egocentrismo, como bem
enfatizou o Participante 6, é a visão exacerbada que o indivíduo possui das
próprias habilidades. Isso aponta para o fato de que psicopatas esperam
sempre a realização dos próprios anseios, da própria satisfação sem nunca
pensar no outro (SILVA, 2018).
Como se percebe, as declarações dos participantes concordam que o
psicopata não é altruísta, muito menos empático. Sua conduta antissocial não
possui traços de arrependimento; é um estilo de vida transiente, a ausência de
culpa e a falta de senso de vergonha por violar regras é latente e constante. A
imprevisibilidade e a irresponsabilidade dos psicopatas revelam a pobreza de
emoções (DUTTON, 2018).

Pergunta 2: Existem fatores genéticos que podem ser relacionados


com a psicopatia? Se sim, quais?

Por se tratar de uma pergunta composta, ela será subdividida em:

2A) Existem fatores genéticos relacionados à psicopatia?


Nessa subdivisão foram encontradas duas categorias: a) Sim; b) Não
27

a) Sim
Cinco participantes (P1, P2, P3, P5, P7) responderam que existem
fatores genéticos relacionados à psicopatia de acordo com os trechos a seguir:

“Olha, é, tudo indica que sim [...] A pessoa já nasce psicopata” (P1)

“Olha, o pessoal acredita que exista fatores genéticos” (P2)

“o fator genético vai fazer com que eles [...] tenham essas características
comportamentais” (P3)

“Existem dados sim” (P5)

“Os fatores genéticos existem e podem ser relacionados com a


psicopatia” (P7)

b) Não
Dois participantes (P4, P6) responderam que não há fatores genéticos
relacionados conforme citações abaixo:

“Não, não há nada comprovado com a genética não” (P4)

“Não existe um gene psicopata” (P6)

2B) Se sim, quais


Nessa subdivisão foram encontradas três categorias: a) Doença da
personalidade e características comportamentais; b) Pais podem gerar filhos
com características psicopatas e o ambiente também contribui para a
acentuação do transtorno; c) Não respondeu à pergunta

a) Doença da personalidade e características comportamentais


28

Dois participantes (P1, P3) responderam que existem fatores genéticos


relacionados à psicopatia como uma doença da personalidade e características
comportamentais conforme a referência abaixo:

“É uma doença da personalidade [...] já tem história de problemas na


infância” (P1)

“Alguns fatores genéticos geralmente associados a substâncias, é


neurotransmissores [...] O fator genético vai fazer com que eles [...] tenham
essas características comportamentais” (P3)

b) Pais podem gerar filhos com psicopatia e o ambiente também


contribui para a acentuação do transtorno
Dois participantes (P2, P5) responderam que pais podem gerar filhos
com psicopatia e o ambiente também contribui para a acentuação do transtorno
conforme a citação abaixo:

“Mas deve ter fatores ambientais também [...] Isso influencia muito
também naquele sujeito que já tem essa constituição genética” (P2)

“Pais com uma personalidade psicopata podem gerar filhos com essas
características” (P5)

c) Não respondeu à pergunta


O participante (P7) não respondeu à pergunta

Dentre os participantes, cinco (P1, P2, P3, P5, P7) responderam que
existem fatores genéticos relacionados à psicopatia, fatores que contribuem
para as bases biológicas do funcionamento do cérebro e para estrutura básica
da personalidade, o que faz com que o indivíduo responda às interações
sociais com falta de empatia, descaso e desprezo, minimizando a consciência
e o estabelecimento de conexões emocionais com outras pessoas (HARE,
2013).
29

A doença da personalidade e as características comportamentais


apontadas pelos participantes (P1 e P3) não são efêmeras, apresenta formas e
graus diversos de manifestação. Os participantes (P1 e P3) concordam que
essa doença da personalidade é uma depravação moral inata e preternatural, o
indivíduo mostra uma organização defeituosa nas faculdades morais da mente,
o que lhe dá prazer em transgredir e ainda sim conservar a consciência em
perfeito juízo (DUTTON, 2018).
O fator biológico associado aos neurotransmissores cerebrais, como
enfatizou o participante (P3) mostra que a endorfina, a serotonina e a
dopamina podem gerar alterações drásticas em traços de personalidade, pois o
aumento dessas substâncias no sistema nervoso central produz
psicoestimulantes que induzem à euforia (SADOCK, 2017).
Os participantes (P2 e P5) ressaltaram que pais podem gerar filhos com
psicopatia e o ambiente também pode acentuar o transtorno. De acordo com
Sadock (2017) existe sim um padrão familiar presente no transtorno, os autores
ainda informam que o transtorno é cinco vezes mais comum entre parentes de
primeiro grau do que na população geral. O ambiente extrínseco, ou seja, onde
a criança cresce é fundamental para desenvolver ou não o transtorno,
conforme pontua Mecler (2015).
Por outro lado, dois participantes (P4, P6) responderam que não existem
fatores genéticos relacionados a psicopatia, que o construto do transtorno se
dá por meio das interações sociais, mediante a traumas e abusos na infância.
Em outras palavras, o ambiente é um fator determinante para o
desenvolvimento do transtorno. Fato esse, como ressalta Mecler (2015), que
gêmeos monozigóticos, mesmo tendo bagagens genéticas idênticas,
desenvolvem-se, apreendem e assimilam fatos de maneira única, reagindo de
maneira diferente em determinadas situações.

Pergunta 3: Quais fatores podem favorecer o desenvolvimento de


psicopatas?

Nessa questão foram encontradas três categorias: a) fator ambiental


somente; b) fator biológico e ambiental; c) fator predominantemente biológico
30

a) Fator ambiental somente


Três participantes (P4, P5, P6) responderam que somente fatores
ambientais favorecem o desenvolvimento de psicopatas de acordo com as
referências abaixo:

“Abusos da infância tanto físicos, sexuais, psicológicos, o meio ambiente


que eles vivem, ambiente mais perturbador, né?” (P4)

“e a questão também do nível sócio econômico, também pode favorecer


esses comportamentos é de conduta e contribui para um transtorno de
personalidade antissocial na vida adulta” (P5)

“Uma família desestruturada, né, [...], fatores emocionais, [...] situações


traumáticas [...] uma situação onde a pessoa pode ter tido um dia ruim, e ter
desenvolvido esse comportamento antissocial” (P6)

b) fator biológico e ambiental


Três participantes (P2, P3, P7) responderam que tanto fatores biológicos
quanto fatores ambientais favorecem o desenvolvimento de psicopatas
segundo as citações abaixo:

“Na verdade, é isso... Já tem essa constituição genética e o ambiente,


né? Também ajuda muito” (P2)

“o psicopata [...] na [...] primeira infância [...] foi vítima de violência física,
negligência, abuso físico, abuso sexual [...] Essas pessoas são vítimas, [...]
depois vão se tornar agressores” (P3)

“Fatores genéticos e ambientais, com exposição a desajustes familiares


[...] e aprendizagem de comportamentos antissociais” (P7)

c) fator predominantemente biológico


31

Um participante (P1) afirmou que o fator predominantemente biológico


favorece o desenvolvimento de psicopata de acordo com a citação a seguir:

“A parte biológica é a geneticamente determinada, se você for ver, fazer


uma análise dos antecedentes familiares de um indivíduo psicopata, você vai
ver que tem história semelhante à dele nos antecedentes materno ou paterno,
ou nos dois, então normalmente se ele já nasce e desenvolve numa família
problemática, isso só vai reforçar a predisposição dele pra desenvolver uma
psicopatia” (P1)

Três participantes (P4, P5, P6) responderam que somente fatores


ambientais favorecem o desenvolvimento de psicopatas. A acerca dessa
afirmativa, Roudinesco (1998) dirá que clinicamente ninguém nasce perverso,
muito pelo contrário, o perverso é um herdeiro de uma história particular ou
coletiva de educação e diversos traumas.
A psicopatia ou o comportamento antissocial será um desdobramento
que o sujeito faz desse construto perverso. A autora responde então uma das
questões levantadas na hipótese, de que o indivíduo se torna psicopata devido
a fatores sociais e culturais, isto é, as influências adquiridas na infância e
adolescência são as causadoras desta patologia.
Três participantes (P2, P3, P7) responderam que tanto fatores biológicos
quanto fatores ambientais favorecem o desenvolvimento de psicopatas. Sobre
esse aspecto, Mecler (2015) afirma que à luz da ciência moderna o
componente biológico e as experiências vividas contribuem para a equação
final, ou seja, a maneira na qual o indivíduo faz escolhas. A autora alega que o
caráter é aprendido (um fator ambiental) e o temperamento um fator biológico,
e, mesmo quando se nasce com uma determinada carga genética, o ambiente
pode modificá-la.
Sousa (2018) afirma que o transtorno de personalidade antissocial é
agravado pelo contexto, que existe uma ligação entre o genético e o social.
Morana, Stone e Abdalla-Filho (2006) certificam que existem traços de
personalidade determinados por características genéticas e que a negligência e
32

maus tratos podem esculpir no cérebro da criança pela experiência, induzindo-


a a uma anomalia cerebral que resulta em agressividade e delinquência.
Mecler (2015), Sousa (2018), Morana, Stone e Abdalla-Filho (2006)
então concordam com a hipótese de que a psicopatia se constrói sob a pré-
disposição inata do indivíduo, em outras palavras, o gatilho patológico é ativado
e acentuado na construção social mediante uma formação psíquica já
estabelecida.
Um participante (P1) afirmou que o fator predominantemente biológico
favorece o desenvolvimento de psicopata. Huss (2011) proclama que a base
biológica de quem possui o transtorno da psicopatia exibe déficits
interpessoais, emocionais e cognitivos. O tamanho e a estrutura cerebral de
quem possui psicopatia é diferente de uma pessoa considerada normal. Robert
Hare (2013) assegura que a psicopatia é um fator genético e o indivíduo
portador do transtorno sempre irá transgredir as normas. O fator social, para o
autor, apenas varia o grau de atuação e o tipo de infração do portador do
transtorno, pois sua perversidade é inata.

Pergunta 4: É possível curar a psicopatia e reinserir a pessoa na


sociedade com segurança? Se sim, como?

Os participantes entenderam a terceira pergunta (Se sim, como?)


relacionada com o fato de poder ou não reinserir a pessoa na sociedade.

Por se tratar de uma pergunta composta, ela será subdividida em: 4A) é
possível curar a psicopatia? 4B) É possível reinserir a pessoa na sociedade
com segurança? 4C) Se sim, como?

4A) É possível curar a psicopatia?


Nessa subdivisão foram encontradas duas categorias: a) Não é possível;
b) não respondeu à pergunta

a) Não é possível
Cinco participantes (P1, P3, P5, P6, P7) responderam que não é
possível curar a psicopatia de acordo com as referências abaixo:
33

“Não!” (P1)

“Atualmente [...] a gente acredita que não” (P3)

“A gente não tem a cura” (P5)

“Não é possível, né. A psicopatia é um dos transtornos até então


incuráveis” (P6)

“é uma situação que infelizmente não é possível curar” (P7)

b) Não respondeu à pergunta


Dois participantes (P2, P4) não responderam à pergunta

4B) É possível reinserir a pessoa na sociedade com segurança?


Nessa subdivisão foram encontradas três categorias: a) É impossível; b)
É muito difícil; c) não respondeu à pergunta

a) É impossível
Dois participantes (P4, P7) responderam que é impossível reinserir a
pessoa com psicopatia na sociedade com segurança de acordo com as
referências abaixo:

“a reinserção é uma coisa impossível” (P4)

“Não é possível [...] reinserir a pessoa na sociedade com segurança”


(P7)

b) É muito difícil
Três Participantes (P1, P3, P5) responderam que é muito difícil reinserir
uma pessoa com psicopatia na sociedade com segurança de acordo com a
citação abaixo:
34

É muito difícil adaptar uma pessoa [que tenha um perfil psicopático] nas
regras sociais” (P1)

“Toda a atividade de reinserção social, e toda forma de habilitação


psiquiátrica, psicológica, ela vai depender da anuência do paciente [...] É muito
difícil realmente a reabilitação deles” (P3)

“a gente não tem dados que apontam [...] [o] manejo adequado pro
transtorno de personalidade antissocial” (P5)

c) Não respondeu à pergunta


Os participantes (P2 e P6) não responderam à pergunta

4C) Se sim, como?


Nessa subdivisão foram encontradas duas categorias: a) Regras rígidas;
b) Tratamento com Terapia Comportamental e Medicação; c) Não respondeu à
pergunta

a) Regras rígidas
Três participantes (P3, P4, P5) responderam que para reinserir uma
pessoa com psicopatia na sociedade é necessário regras rígidas conforme a
citação a seguir:

“O que a gente consegue no máximo é que o psicopata pare de cometer


crimes, mas ele vai continuar com as suas características” (P3)

“Ele apenas pode ser controlado, às vezes com mecanismo restritivo”


(P4)

“Inseri-lo na sociedade a gente vai pensar em regra um pouco mais


rígidas, [...]não necessariamente punitivas” (P5)

b) Tratamento com Terapia Comportamental e Medicação


35

Dois participantes (P1, P6) responderam que para reinserir uma pessoa
com psicopatia na sociedade é preciso Tratamento com Terapia
Comportamental e Medicação de acordo com a citação a seguir:

“Normalmente a recomendação é de terapia comportamental, então ele


tem que ser submetido a essa terapia e eventualmente usar medicamentos
psiquiátricos pra tratamentos das complicações da psicopatia” (P1)

“eu acredito que num caso de uma psicopatia [...] é possível sim tratá-lo
para que ele possa se reinserir na sociedade” (P6)

b) Não respondeu à pergunta


Os participantes (P2 e P7) não responderam à pergunta.

Segundo Huss (2011) há tanto pessimismo para o tratamento e cura da


psicopatia que vários especialistas afirmam que só existe a Magnum Terapia,
isto é, a morte do indivíduo que possui o Transtorno de Personalidade
Antissocial. O mesmo autor afirma que os estudos para tratamento ainda estão
sendo desenvolvidos e que alguns portadores do transtorno têm reagido bem
quando é aplicado o PCL-R, o que tem ajudado a identificar componentes
importantes para o tratamento.
Cinco participantes (P1, P3, P5, P6, P7) responderam que não é
possível curar a psicopatia, de acordo com Silva (2018) é um transtorno da
personalidade e não uma fase de alterações comportamentais efêmeras.
Conforme Mecler (2015) não há tratamento ou remédio que auxilie quem tem
esse transtorno, somente com o passar do tempo os traços se suavizam.
Três participantes (P3, P4, P5) responderam que para reinserir uma
pessoa com psicopatia na sociedade é necessário regras rígidas. Relatos de
casos bem esporádicos e dados não comprovados cientificamente falam sobre
procedimentos específicos que tiveram efeito benéfico, porém esses pacientes
estavam em tratamento mediante medidas judiciais (HARE, 2013).
Sadock (2017) afirma que pacientes confinados frequentemente se
tornam receptivos a psicoterapia. O autor salienta que antes do tratamento
36

começar é necessário estabelecer limites firmes para que o terapeuta encontre


formas de lidar com o comportamento destrutivo do indivíduo.
Dois participantes (P1, P6) responderam que para reinserir uma pessoa
com psicopatia na sociedade é preciso Tratamento com Terapia
Comportamental e Medicação. Embora haja limitações, Mecler (2015) afirma
que a medicação melhora a qualidade de vida do indivíduo e a terapia
cognitivo-comportamental se mostra promissora.
Segundo Sadock (2017) a farmacoterapia pode ser usada para lidar com
sintomas de ansiedade, raiva e depressão, mas é necessário cautela com os
fármacos, pois pacientes com esse transtorno geralmente já abusaram de
algumas substâncias no passado.

Pergunta 5: Qual o impacto de um psicopata na sociedade?

Nessa questão foram encontradas três categorias: a) manipulação de


pessoas; b) aumento da criminalidade; c) Não compreendeu a pergunta

a) Manipulação de pessoas
Três participantes (P2, P5, P7) responderam que a manipulação de
pessoas é o impacto de um psicopata na sociedade conforme as citações
abaixo:

“ele sacaneia os colegas de trabalho... sacaneia os colegas em outros


níveis, o patrão... tudo visando benefício dele [...] Então ele planeja, visa poder
e lucro” (P2)

“ele pode contribuir, [...] tumultuar ali, a harmonia ou da família, ou de


grupos sociais, do trabalho, [...] passar por cima de colegas de trabalho, ou
comportamentos como mentira, pra que ele, [...] se beneficie” (P5)

“ele vai utilizar as pessoas como um jogo pra tirar vantagens” (P7)

b) aumento da criminalidade
37

Três participantes (P1, P3, P5) responderam que o aumento da


criminalidade é o impacto de um psicopata na sociedade conforme as
referências a seguir:

“ele vai manifestar a psicopatia dele assaltando, fazendo mal para as


pessoas” (P1)

“Então pode ter impacto muito importante aí na sociedade, em relação à


violação de regras, e até casos como abuso, machucar, roubo, furtos” (P5)

“Então, o impacto é muito grande, no sentido de aumento da


criminalidade, aumento da violência [...] prejuízo que a psicopatia causa na
sociedade é muito grande, ele é imensurável, na verdade, [...] A gente pode
medir através de dados objetivos, né, índice de criminalidade, índice de
homicídios” (P3)

c) Não compreendeu a pergunta


Dois participantes (P4 e P6) não compreenderam a pergunta.

Três participantes (P2, P5, P7) responderam que a manipulação de


pessoas é o impacto de um psicopata na sociedade, sobre isso Dal-Ben (2010)
argumenta que o psicopata não tem empatia e sempre fará escolhas que lhe
beneficiem sem pensar nos efeitos prejudiciais ao outro. Então manipular
pessoas (mentindo, enganando, usurpando) traz ao psicopata satisfação
imediata, para eles, os fins justificam os meios para atingir um objetivo
proposto.
Silva (2018) classifica aqueles que possuem o transtorno de
“Predadores Sociais” pois são envolventes e sedutores e não levantam
suspeita de quem realmente são: egoístas, mentirosos contumazes,
desprovidos de afetividade. Por serem extremamente frios e calculistas, Robert
Hare (2013) aponta que eles não têm consciência, isto é, não possuem
remorso ou arrependimento. Mecler (2015) diz que uma pessoa com traços
antissociais usa subterfúgios para manipular, influenciar ou controlar suas
vítimas, até convencê-las a executarem suas predileções.
38

Sadock (2017) enuncia que pessoas com esse transtorno são autênticas
vigaristas, extremamente manipuladoras e podem convencer os outros a
participar de esquemas que visam lucro financeiro, fama ou notoriedade,
levando incautos à decepção e à bancarrota. Indivíduos assim não falam a
verdade, e não se pode confiar neles para executar qualquer tipo de tarefa ou
que adotem qualquer padrão normal de moralidade.
Três participantes (P1, P3, P5) responderam que o aumento da
criminalidade é o impacto de um psicopata na sociedade. Conforme Morana,
Stone e Abdalla-Filho (2006) aquele que possui o Transtorno de Personalidade
Antissocial despreza normas e obrigações e possui baixo limiar para descarga
de atos violentos. Sadock (2017) também reitera que o Transtorno de
Personalidade Antissocial é uma incapacidade de se adequar as regras sociais
que normalmente governam vários aspectos dos comportamentos dos
adolescentes e dos adultos.

Pergunta 6: O nível acadêmico ou conhecimento intensifica a


psicopatia da pessoa? Como?

Por se tratar de uma pergunta composta, ela será subdividida em:

6A) O nível acadêmico ou conhecimento intensifica a psicopatia na


pessoa?
Nessa subdivisão foram encontradas duas categorias: a) Sim; b) Não
respondeu à pergunta

a) Sim
Seis participantes (P1, P3, P4, P5, P6, P7) responderam que o nível
acadêmico ou o conhecimento intensifica a psicopatia da pessoa, influenciando
muito em suas ações, de acordo com as referências abaixo:

“Dá possibilidade de atuações em outros níveis” (P1)

“ela consegue de alguma forma, refrear os impulsos, [...] e uma melhora


na parte de manipulação” (P3)
39

“ele pode atuar de forma [...] mais abrangente” (P4)

“ele pode ter um plano um pouco mais elaborado” (P5)

“Então o nível acadêmico, realmente, vai influenciar muito no tipo de


crime” (P6)

“Na minha opinião, sim” (P7)

b) Não respondeu à pergunta


O participante (P2) não respondeu à pergunta

6B) Como (o nível acadêmico ou o conhecimento intensifica a psicopatia


na pessoa)?

Nessa subdivisão foram encontradas três categorias: a) Refinando suas


ações; b) Não compreendeu a pergunta; c) Não respondeu à pergunta

a) Refinando suas ações


Cinco participantes (P3, P4, P5, P6, P7) responderam que o nível
acadêmico ou o conhecimento refina as ações de quem tem psicopatia.

“O nível acadêmico, educacional ele refina a psicopatia [...] ela [a


pessoa] consegue de alguma forma [...] uma melhora na parte de manipulação”
(P3)

“ele fica mais [...] refinado nas coisas que faz” (P4)

“O indivíduo, com uma alta escolaridade, ele pode elaborar melhor os


planos dele para que ele alcance as metas, e assim, ele possa sofrer menos
consequência” (P5)
40

“Um psicopata que não tem um nível de instrução alto, o jeito que ele vai
manipular, as ferramentas que ele vai utilizar pra [...] cometer um crime, é
diferente do psicopata de alta instrução. Tanto que se você pegar os
psicopatas que cometem crimes, você vai ver que o tipo de crime é diferente”
(P6)

“Porque o psicopata ele é dotado de uma inteligência racional, da parte


cognitiva exacerbada [...] ele consegue ler um livro, interpretar aquele livro [...]
e pode usar para o mal [...] ele pode [...] aprender instrumentos que vai
beneficiar só ele e prejudicar o outro” (P7)

b) Não compreendeu a pergunta


O participante P2 não compreendeu a pergunta.

c) Não respondeu à pergunta


O participante P1 não respondeu à pergunta.

Seis participantes (P1, P3, P4, P5, P6, P7) responderam que o nível
acadêmico ou o conhecimento intensifica a psicopatia da pessoa, influenciando
muito em suas ações. Acerca disso, Sadock (2017) afirma que ao diagnosticar
o transtorno, o clínico deve compensar as distorções causadas pelo nível
socioeconômico, essa ideia reforça o entendimento de que o nível acadêmico
acentua a maneira de agir do psicopata.
De acordo com Dutton (2018) o PCL-R foi aplicado em mais de duzentos
executivos que exerciam altos cargos nos Estados Unidos e comparou a
prevalência de traços psicopáticos no mundo corporativo com aquele
encontrado na população geral. Os executivos se destacaram e a psicopatia foi
associada a criatividade, excelente comunicação e boa estratégia mental. O
autor pontua que tanto no mundo corporativo quanto na política existe uma
estufa de psicopatas.
41

Pergunta 7: Existe alguma intervenção efetiva para quem possui o


Transtorno de Personalidade Antissocial? Se sim, qual?

Por se tratar de uma pergunta composta, ela será subdividida em:

7A) Existe alguma intervenção efetiva para quem possui o Transtorno de


Personalidade Antissocial?
Nessa subdivisão foi encontrada uma categoria: a) Sim, existe
intervenção efetiva; b) Não há intervenção efetiva

a) Sim, existe intervenção efetiva


Três participantes (P1, P3, P6) responderam que existe intervenção
efetiva conforme os argumentos em destaque:

“Você pode associar ao medicamento, se tiver os sintomas psicóticos


associados” (P1)

“então existem algumas [...] invenções sim” (P3)

“Existe o tratamento psicológico” (P6)

b) Não há intervenção efetiva


Quatro participantes (P2, P4, P5, P7) responderam que não há
intervenção efetiva conforme as citações a seguir:

“Olha! Na minha experiência pessoal [...] se você bota ele no grupo


terapêutico... ele vai destruir o grupo!” (P2)

“Não! Não existe” (P4)

“Não! Não! Não existe uma intervenção efetiva!” (P5)

“Não. Não existe nenhuma intervenção efetiva para tratar o psicopata”


(P7)
42

7B) Se sim, qual?


Nessa subdivisão foi encontrada uma categoria: a) Com Terapia
Cognitivo Comportamental e medicação

a) Com Terapia Cognitivo Comportamental e medicação


Três participantes (P1, P3, P6) responderam que existe intervenção
efetiva para quem possui o Transtorno de Personalidade Antissocial com
Terapia Cognitivo Comportamental e medicação de acordo com os excertos
abaixo:

“O tratamento é terapia comportamental, medicamentoso sintomático se


houver sintoma” (P1)

“O que existe hoje são o desenvolvimento de algumas técnicas


comportamentais [...] existem algumas intervenções também medicamentosas
em que eu consigo, através de medicamento, a redução da impulsividade do
paciente” (P3)

“É o tratamento psiquiátrico juntamente como a da psicologia [...] a TCC,


pela sua credibilidade científica, muitos acabam ali considerando ela o melhor
tipo de tratamento psicológico” (P6)

Quatro participantes (P2, P4, P5, P7) responderam que não há


intervenção efetiva. Hare (2013) aponta que a efetividade de tratamento se
baseia em programas para pessoas que estão em prisões ou em instituições
psiquiátricas ou que estão em desacordo com a lei. O autor alega que tais
programas são intensivos e bem planejados, mas não são efetivos, pois a
maioria dos psicopatas não estão encarcerados, e, para serem tratados,
necessitariam estar sob a custódia do Estado. Os quatro participantes (P2, P4,
P5, P7) que responderam que não há intervenção efetiva levaram em
consideração essa premissa quando indagados.
43

Três participantes (P1, P3, P6) responderam que existe intervenção


efetiva para quem possui o Transtorno de Personalidade Antissocial com
Terapia Cognitivo Comportamental e medicação. Morana, Stone e Filho (2006)
auxiliam na compreensão da psicopatia e o tratamento dela a partir da
perspectiva forense/jurídica. Os autores reiteram que o tratamento ainda é um
desafio terapêutico e é necessário o especialista verificar a viabilidade do
tratamento observando a natureza e a gravidade da patologia, o grau de
invasão do transtorno, a saúde prévia do paciente e a disponibilidade de uma
equipe terapêutica especializada.
Os autores alegam que de 48 pessoas consideradas psicopatas
somente 21 não foram consideradas responsivas ao tratamento. Diversos tipos
de psicoterapia têm sido propostos e a terapia comportamental dialética vem
recebendo um reconhecimento internacional de sua eficácia em Transtorno de
Personalidade Antissocial. Os autores também afirmam que a terapia cognitivo-
comportamental tem sido útil, mas é necessária mais atenção a essa
modalidade terapêutica.
Sobre a medicação, os autores pontuam que o lítio pode ser útil no
tratamento de comportamento agressivo e o topiramato pode aliviar sintomas
de impulsividade e instabilidade de humor.

Pergunta 8: A desinformação sobre a psicopatia é uma


desvantagem para a sociedade? Por quê?

Por se tratar de uma pergunta composta, ela será subdividida em:

8A) A desinformação [...] é uma desvantagem para a sociedade?


Nessa subdivisão foram encontradas duas categorias: a) Sim; b) Não

a) Sim
Seis participantes (P1, P3, P4, P5, P6, P7) responderam que sim
conforme as citações a seguir:

“Sim” (P1)
44

“Eu acredito que sim” (P3)

“Sim!” (P4)

“Acredito que pode ser sim uma desvantagem” (P5)

“Totalmente, totalmente!” (P6)

“Sem dúvida. Você deve se informar para ter esse conhecimento” (P7)

b) Não
Um participante (P2) respondeu que a desinformação não é uma
desvantagem para a sociedade conforme o trecho abaixo:

“Olha... eu não sei se há desvantagem não” (P2)

8B) Por quê?


Nessa subdivisão foram encontradas duas categorias: a) Qualquer
desinformação causa problema e a informação é uma vantagem; b) A
desinformação sobre a psicopatia deixa a sociedade indefesa e com
preconceito

a) Qualquer desinformação causa problema e a informação é uma


vantagem
Três participantes (P1, P3, P7) responderam que qualquer
desinformação causa problema e a informação é uma vantagem conforme os
trechos a seguir:

“Qualquer desinformação causa problema” (P1)

“Acredito que a informação [...] é uma vantagem” (P3)


45

“Existe [...] um checklist de psicopatia [...] ele estabelece um roteiro que


você vai ter condições de analisar quem está ao seu lado, quem mora ao seu
lado e quem convive com você em sociedade” (P7)

b) A desinformação sobre a psicopatia deixa a sociedade indefesa e com


preconceito
Três participantes (P4, P5, P6) responderam que a desinformação sobre
a psicopatia deixa a sociedade indefesa e com preconceito conforme os
trechos destacados abaixo:

“Porque, como eles [os psicopatas] já têm uma [...] facilidade de envolver
a pessoa, [...] então fica mais fácil ainda [...] do mesmo de manipular, de
dominar” (P4)

“porque o indivíduo que não sabe que existe [...] pessoas com esses
comportamentos, talvez possam ficar um pouco mais vulneráveis” (P5)

“A mídia [...] as séries contribuem muito para isso e acabam fazendo


com que a gente não compreenda o transtorno como um todo e ainda acaba
tendo preconceito por quem possui este transtorno” (P6)

Seis participantes (P1, P3, P4, P5, P6, P7) responderam que a
desinformação é uma desvantagem para a sociedade. Para Hare (2013) um
ladrão pode entrar na casa mais segura, porém ter um alarme, bom senso,
câmeras de segurança podem reduzir o risco de ter a casa arrombada. O autor
orienta o leitor a se proteger, entendendo a natureza do transtorno, desconfiar
de coisas boas demais para ser verdade e conhecer a si mesmo, tendo a
ciência dos próprios pontos fracos.
Segundo Sadock (2017) quem possui o Transtorno de Personalidade
Antissocial pode enganar até o clínico mais experiente. O paciente pode se
apresentar confiável e calmo, entretanto, por dentro, esconde tensão, fúria e
irritabilidade. O profissional, levantando informações prévias e comparando os
argumentos do paciente, pode se guardar de ser mais uma vítima desses
46

embustes, o que afirmou os três participantes (P1, P3, P7) que responderam
que qualquer desinformação causa problema e a informação é uma vantagem.
Três participantes (P4, P5, P6) responderam que a desinformação sobre
a psicopatia deixa a sociedade indefesa e com preconceito. Silva (2018) alega
que a sociedade em geral está a mercê dos psicopatas porque não conhece
quais são suas maneiras de atuação, inclusive afirma que sua obra serve de
esclarecimento para pessoas comuns se informarem a respeito dos psicopatas
e não serem ingênuas. A autora alerta os leitores a tomarem cuidado com
pessoas que são maravilhosas demais e muito bajuladoras, a ter cautela com
os lugares que frequenta e prudência em demonstrar fragilidades, pois os
psicopatas utilizarão esse recurso para manipular.
Os teóricos supracitados concordam com a hipótese de que a ignorância
sobre o transtorno de personalidade antissocial eleva o número de vítimas e
afrouxa a justiça. Para esses autores, os psicopatas obtêm êxito em suas
investidas por causa da desatenção, desinformação e ingenuidade do povo em
geral.

Pergunta 9: Em suas considerações finais, como a sociedade pode


se proteger do dano causado por psicopatas?

Para a questão acima foram encontradas quatro categorias: a)


Informação e supervisão; b) Intervenção precoce; c) Não existe amparo para a
sociedade; d) Não compreendeu a pergunta

a) Informação e supervisão
Três participantes (P2, P5, P7) responderam que a sociedade pode se
proteger do dano causado por psicopatas por meio de informação e supervisão
conforme os excertos em destaque:

“A sociedade teria que criar mecanismos reais de avaliar essa pessoa


[...] [por meio de] um especialista experiente [...] [para] encaminhar pra uma
terapia e farmacologia ou então para uma internação num manicômio [...] ou
prisão mesmo” (P2)
47

“supervisão mais constante e assim impedir que esses comportamentos


cheguem as situações de maior risco” (P5)

“Primeiro se prevenindo, pela informação, sabendo que que é o


psicopata, como ele se apresenta” (P7)

b) Intervenção precoce
Dois participantes (P1, P3) responderam que a sociedade pode se
proteger do dano causado por psicopatas mediante intervenção precoce
conforme os trechos abaixo:

“O que você pode fazer é estruturar o atendimento psicológico e


psiquiátrico a nível de todas as regiões da cidade, contratando profissionais e
ampliando serviço, porque aí você identifica uma psicopatia ainda na escola, na
idade escolar [...] e já faz uma intervenção na família. Você começa a tratar a
criança logo cedo, e você consegue ter uma proteção maior social” (P1)

“o reconhecimento precoce daquelas pessoas que tem fortes tendências


a desenvolver à psicopatia. Pra já receber um tratamento bastante precoce, no
sentido de evitar que ela evolua [...] para a psicopatia” (P3)

c) Não existe amparo para a sociedade


Um participante (P4) respondeu que não existe amparo para a
sociedade se proteger do dano causado por psicopatas de acordo com a
referência abaixo:

“Isso é praticamente impossível [...] Não tem como uma pessoa se


prevenir de um psicopata. Eles estão por todos os lados” (P4)

d) Não compreendeu a pergunta


O Participante P6 não compreendeu a pergunta.
48

Dois participantes (P1, P3) responderam que a sociedade pode se


proteger do dano causado por psicopatas mediante intervenção precoce, sobre
isso, Hare (2013) afirma que a melhor chance de reduzir a psicopatia adulta é
atacar o problema logo cedo. Mudar o ambiente social e físico do indivíduo em
tenra idade pode promover mudanças fundamentais nas atitudes e
comportamento, estabelecendo programas com a família e com o contexto
social. É possível que esses programas possam ser úteis na modelação de
comportamento, reduzindo a agressividade e a impulsividade, ensinando
estratégias de satisfação das necessidades por meio de atitudes que são
positivas para a sociedade. O autor também salienta a importância da suspeita,
que consequentemente leva o pai a procurar um diagnóstico; e concorda com a
hipótese de que o tratamento seja realizado o mais cedo possível, na infância,
especificamente, para que a patologia seja extirpada por meio de regras,
conduta moral e disciplina.
Mecler (2015) afirma que psicopatas sabem enganar e não têm freios
morais, assim é necessário ficar alerta sobre as tentativas de sedução e
manipulação. Se algo parecer imoral, ilegal ou antiético é imprescindível
procurar alguém de confiança ou até mesmo um profissional qualificado para
relatar o ocorrido. Isso é uma atitude de proteção de quem pode evitar danos
no futuro.
Três participantes (P2, P5, P7) responderam que a sociedade pode se
proteger do dano causado por psicopatas por meio de informação e
supervisão, o PCL-R desenvolvido por Robert Hare e adaptado no Brasil por
Hilda Morana é o primeiro exame padronizado de uso exclusivo do sistema
penal. Esse exame avalia a personalidade do preso, além de prever a
reincidência criminal, separa os bandidos comuns dos bandidos psicopatas.
Esse exame se baseia não no tipo de crime, mas na personalidade de quem
comete o crime. Assim o sistema penal por meio dessa supervisão pode evitar
que os psicopatas sejam tratados pela lei da mesma forma que uma pessoa
comum (AMBIEL, 2006).
O participante (P4) discorreu que não há amparo para a sociedade, o
que é um equívoco. Até mesmo para o teórico mais conservador, no caso Hare
(2013) existe o amparo da informação, na qual o indivíduo comum pode obter
conhecimento sobre o transtorno e ainda sim não ser um especialista, com a
49

finalidade de averiguar os relacionamentos que o cercam. É notável que o


estudo do transtorno e estratégias de abordagem são escassas, entretanto, o
sistema forense/jurídico ainda que com pouco recurso tem discernido quem
são os psicopatas e quais são os manejos adequados nas estratégias de
enfrentamento.
50

7 CONCLUSÕES

Compreendemos que a psicopatia do ponto de vista da saúde mental é


um transtorno socialmente devastador, pois indivíduos que portam esse
transtorno agem de maneira irresponsável, são egocêntricos, manipuladores,
infringem as leis, são amantes de si mesmos e não medem esforços para
prejudicar o outro em prol de um benefício próprio. Reiterando que nem todos
os psicopatas são criminosos, a maioria não está encarcerada, vivem uma vida
ordinária, são exímios funcionários em empresas relevantes, estão em setores
políticos, em ambientes sociais destilando suas manobras.
Mediante o posicionamento dos teóricos e dos participantes contidos na
pesquisa concordamos que a psicopatia é inata, ou seja, a pessoa já nasce
psicopata. Entretanto, é possível que o ambiente seja um ponto fundamental no
desenvolvimento do transtorno, pois uns podem desenvolver e outros não.
Para isso, classificamos que o carinho e cuidado dos pais podem ser
determinantes no desenvolvimento da criança e que pessoas que sofreram
abusos e violência na infância têm indícios de robustecimento do transtorno.
Percebemos também que a informação sobre a psicopatia é uma
vantagem e pode livrar pessoas comuns de se envolverem com portadores do
transtorno; o conhecimento sobre o tema é pertinente pois ensina ao indivíduo
simples o convívio adequado com pessoas que possuem o transtorno, essa
lucidez certamente evitará decepções, e, até mesmo em últimos casos, crimes.
Constatamos que pelo prisma da saúde mental, os princípios de
tratamento da psicopatia são os mesmos de qualquer situação crônica.
Medicamentos como lítio, valproato e topiramato podem amenizar o
comportamento agressivo, irritabilidade e impulsividade. A terapia dialética e a
terapia cognitivo-comportamental são modalidades terapêuticas aplicadas ao
transtorno, todavia, é necessário o profissional estabelecer limites firmes com
esses pacientes na psicoterapia, para que não seja envolvido em seus
estratagemas de manipulação e frustrar o tratamento.
Apontamos outrossim que o tratamento para o Transtorno de
Personalidade Antissocial ainda demanda mais esforços, pois tanto a
psicoterapia quanto a farmacoterapia são executadas somente em pacientes
que estão sob medidas judiciais. No material levantado na pesquisa não
51

obtivemos resultados de tratamentos em pessoas que não estavam sub a


tutela da lei. Isso demonstra que a maioria dos psicopatas não procuram
tratamento, quem na realidade busca atendimento são as vítimas dos
psicopatas e isso precisa ser observado com cautela.
O Transtorno de Personalidade Antissocial deve ser estudado com mais
ênfase e novas abordagens de tratamento devem ser estabelecidas pois ainda
há vários psicólogos e profissionais da saúde mental que fogem do assunto e
não se atentam em estabelecer um processo dialógico sobre o tema. Esse
posicionamento dos profissionais nos fez indagar o motivo de um transtorno
causar tanto afastamento e repulsa, como aconteceu na busca por
participantes do presente trabalho.
Portanto, a procrastinação em discorrer sobre uma temática tão
pertinente pode fazer com que pessoas que demandem atenção sejam
desprezadas e desorientadas pela falta de rudimentos que proporcionem um
esclarecimento. Esperamos que o material reunido no presente trabalho possa
servir no futuro para o direcionamento adequado e sadio dos profissionais de
saúde mental pelo país.
52

REFERÊNCIAS

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âmbito judicial. Psico-USF (Impr.), Itatiba, v. 11, n. 2, dez. 2006. Disponível
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53

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54

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em Direito). Goiania-Go: UniEvangélica, 2018.
55

APÊNDICE 1 – PERFIL DO PARTICIPANTE E ROTEIRO DE ENTREVISTA

Perfil do participante

Formação:
Área de atuação profissional:
Quais as qualificações adicionais para atuar nesta área?
Há quanto tempo atua na área?
A área de atuação é sua única ocupação atualmente como profissional da
saúde? Se não, especifique as outras ocupações, se possível.

Roteiro de Entrevista

1- Qual o padrão de comportamento do psicopata?


2- Existem fatores genéticos que podem ser relacionados com a psicopatia?
Se sim, quais?
3- Quais fatores podem favorecer o desenvolvimento de psicopatas?
4- É possível curar a psicopatia e reinserir a pessoa na sociedade com
segurança? Se sim, como?
5- Qual o impacto de um psicopata na sociedade?
6- O nível acadêmico ou conhecimento intensifica a psicopatia da pessoa?
Como?
7- Existe alguma intervenção efetiva para quem possui o Transtorno de
Personalidade Antissocial? Se sim, qual?
8- A desinformação sobre a psicopatia é uma desvantagem para a sociedade?
Por quê?
9- Em suas considerações finais, como a sociedade pode se proteger do dano
causado por psicopatas?
56

APÊNDICE 2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Caro Participante:

Gostaríamos de convidá-lo a participar como voluntário da pesquisa


intitulada TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL: a psicopatia a
partir da perspectiva forense/jurídica e psicanalítica; que se refere a um projeto
de pesquisa do(s) participante(s) Anderson Dos Santos; Ana Claudia Alves
Garcia; Luciana Emer Borges; Luiz Carlos Antoniassi, pertencentes ao Curso
de Psicologia da Universidade Paulista – Unip – Campus JK.

O objetivo deste estudo é compreender a psicopatia a partir da


perspectiva forense/jurídica e psicanalítica. Os resultados contribuirão para
entender como esta patologia se instaura na sociedade e quais seus
desdobramentos.
Sua forma de participação consiste em responder as perguntas
propostas na entrevista.
Seu nome não será utilizado em qualquer fase da pesquisa, o que
garante seu anonimato, e a divulgação dos resultados será feita de forma a não
identificar os voluntários.
Não será cobrado nada e não haverá gastos decorrentes de sua
participação, se houver algum dano decorrente da pesquisa, o participante será
indenizado nos termos da Lei.
Considerando que toda pesquisa oferece algum tipo de risco, nesta
pesquisa o risco pode ser avaliado como baixo, decorrente de cansaço físico e
mental desencadeados pela extensão da entrevista.
São esperados os seguintes benefícios imediatos da sua participação
nesta pesquisa: compartilhar conhecimento e refletir sobre a atuação do
profissional. Caso queira, poderá ter acesso aos resultados da pesquisa após
sua conclusão.
Gostaríamos de deixar claro que sua participação é voluntária e que
poderá recusar-se a participar ou retirar o seu consentimento, ou ainda
descontinuar sua participação se assim o preferir, sem penalização alguma ou
sem prejuízo ao seu cuidado.
Desde já, agradecemos sua atenção e participação e colocamo-nos à
disposição para maiores informações.

Esse termo terá suas páginas rubricadas pelo pesquisador principal e será
assinado em duas vias, das quais uma ficará com o participante e a outra com
57

o pesquisador principal, Eliane Chainça – Av. Pres. Juscelino K. Oliveira, s/n –


Jd Tarraf II – SJRPreto-SP – Telefone (17) 2137.5000

Eu ____________________________________________________________
(nome do participante e número de documento de identidade) confirmo que
Anderson Dos Santos; Ana Claudia Alves Garcia; Luciana Emer Borges e Luiz
Carlos Antoniassi explicaram-me os objetivos desta pesquisa, bem como, a
forma de participação. As alternativas para minha participação também foram
discutidas. Eu li e compreendi este Termo de Consentimento, portanto, eu
concordo em dar meu consentimento para participar como voluntário desta
pesquisa e concordo com gravação em áudio da entrevista.

Local e data: , de de 20 .

_____________________________
(Assinatura do participante da pesquisa)

Eu,____________________________________________________________
(nome do membro da equipe que apresentar o TCLE)

obtive de forma apropriada e voluntária o Consentimento Livre e Esclarecido do


participante da pesquisa ou representante legal para a participação na pesquisa.

______________________________________________
(Assinatura do membro da equipe que apresentar o TCLE)

____________________________________________
Profa Ma Eliane Chainça
Pesquisadora Responsável
58

APÊNDICE 3 – Intenção de Pesquisa

À / Ao: (Nome da Instituição onde será realizada a pesquisa)

Eu, Eliane Chainça, pesquisadora principal responsável pelo projeto de conclusão, tenho a
intenção de realizar a pesquisa intitulada TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
ANTISSOCIAL: a psicopatia a partir da perspectiva forense/jurídica e psicanalítica, cujo(s)
alunos participante(s) Anderson Dos Santos – RG: 32.414.847-1; Ana Claudia Alves Garcia –
RG: 54.037.467-2; Luciana Emer Borges – RG: 33.532.709-6; Luiz Carlos Antoniassi – RG:
28.599.672-1 estão regularmente matriculado(s) no Curso de Psicologia da Universidade
Paulista – Unip Campus JK nesse ano corrente.

A Coleta de dados desse projeto somente poderá ser realizada, após a aprovação do Comitê
de Ética em pesquisa da UNIP.

São José do Rio Preto, de de

Profa Ma Eliane Chainça (Pesquisadora Principal)

______________________________________________________________________
Nome por extenso do (a) responsável da Instituição Coparticipante

______________________________________________________________________
Assinatura e carimbo do (a) responsável da Instituição Coparticipante
59

APÊNDICE 4 – TRANSCRIÇÕES DAS ENTREVISTAS

PERFIL DO PARTICIPANTE 1 E ROTEIRO DE ENTREVISTA

Perfil do participante/ Transcrição da entrevista.

E1: Formação?

P1: Eu sou Psiquiatria, eu formei em medicina em 1976, eu fiz residência no


hospital de Franco da Rocha, do Juqueri, é em 1978 e 1979 na época a
residência era apenas 2 anos, e terminei a residência final de 1979, e hoje eu
trabalho em consultório, eu trabalho também em hospital de idosos, onde eu
sou psiquiatra, tá.

E1: Área de atuação profissional?

P1: Psiquiatria

E1: Quais as qualificações adicionais para atuar nesta área?

P1: ...

E1: Há quanto tempo atua na área?

P1: 43 anos na psiquiatria.

E1: A área de atuação é sua única ocupação atualmente como profissional da


saúde? Se não, especifique as outras ocupações, se possível.

P1: Sim
60

E1: 1. Qual o padrão de comportamento do psicopata?

P1: Oh, o psicopata é um indivíduo desajustado na sociedade, porque ele tem


uma serie de características que não consegue se relacionar com as pessoas,
e por exemplo, falta de empatia, egocentrismo, ele vive pra si mesmo,
sentimento de culpa ausente, ele faz maldade e nem tem sentimentos, não tem
remorso, nada, é mitomaníaco, pessoa que mente, vive em cima de fantasia,
tá, é mais ou menos isso. Tem outras características, mas acho que podemos
resumir a estas que te passei, tá.

E1: 2. Existem fatores genéticos que podem ser relacionados com a


psicopatia? Se sim, quais?

P1: Olha, é, tudo indica que sim. A pessoa já nasce psicopata, entretanto, não
existem estudos conclusivos a respeito. A gente percebe que a pessoa que tem
essa característica de personalidade, é uma doença da personalidade, né,
então ela nasce, já tem história de problemas na infância, na escola; criança
que tem dificuldade de adaptação e começa a gerar problemas logo cedo, e aí
vai desenvolvendo dentro dessa característica e se transforma num psicopata,
tá.

E1: 3. Quais fatores podem favorecer o desenvolvimento de psicopatas?

P1: Tá, todos os problemas do ser humano na área psíquica, eles são calcados
em três bases, biológica, psicológica e social. A parte biológica é a
geneticamente determinada, se você for ver, fazer uma análise dos
antecedentes familiares de um indivíduo psicopata, você vai ver que tem
história semelhante a dele nos antecedentes materno ou paterno, ou nos dois,
então normalmente se ele já nasce e desenvolve numa família problemática,
isso só vai reforçar a predisposição dele pra desenvolver uma psicopatia, esse
é o aspecto psicológico; o aspecto social é o meio onde ele vive, que ele
começa a usar drogas logo cedo, ele se envolve com pessoa de má índole e
assim vai reforçando as características psicopáticas dele, tá.
61

E1: 4. É possível curar a psicopatia e reinserir a pessoa na sociedade com


segurança? Se sim, como?

P1: Olha, com segurança, não! É muito difícil adaptar uma pessoa nas regras
sociais, que tenha um perfil psicopático e se você submete essa pessoa a
tratamento psicológico, é o principal aspecto do tratamento é o psicológico.
Normalmente a recomendação é de terapia comportamental, então ele tem que
ser submetido a essa terapia e eventualmente usar medicamentos psiquiátricos
pra tratamentos das complicações da psicopatia, às vezes os psicopatas
desenvolvem sintomas psicóticos, depressivos, depressivos não é mais
sintomas psicóticos, aí você tem que associar, entendeu, alguns
medicamentos, mas a psicoterapia é o principal, tá.

E1: 5. Qual o impacto de um psicopata na sociedade?

P1: Olha o impacto depende das oportunidades que esse indivíduo venha a ter
pra manifestar sua psicopatia. Se ele é um cara que nasceu em berço de ouro,
ele fez universidade, ele fez especialização, ele desenvolveu intelectualmente,
ele vai ter mais chance na vida de se colocar em ambientes diferenciados, tipo
uma universidade, ou na política brasileira, ou numa política em qualquer lugar,
então é um indivíduo, que se a vida deu essa oportunidade pra ele, porque
geralmente são pessoas inteligentes, aí ele vai ter uma atuação de maior
penetração social, se ele tem essa oportunidade. Se ele é um indivíduo pobre,
que foi criado na periferia, ele vai manifestar a psicopatia dele assaltando,
fazendo mal para as pessoas, mas isso numa abrangência menor, você viu a
história do Hitler, que conseguiu ser presidente lá na Alemanha, o estrago que
ele fez? Ele é um exemplo bem real da psicopatia. Você viu, que indivíduo no
seu verdadeiro sentimento consegue fazer o que ele fez? Ninguém! Um cara
psicopata.
62

E1: 6. O nível acadêmico ou conhecimento intensifica a psicopatia da


pessoa? Como?

P1: Não, ele não intensifica, mas dá possibilidade de atuações em outros


níveis, então se você tem essa característica psicopática, faz uma
universidade, faz um mestrado, faz doutorado, ser tornar um professor
universitário, por exemplo, ele vai ser um professor inteligente, só que com
desvio de personalidade, então vai dar mil problemas na escola, vai ser difícil
convivência com colegas normais, entendeu?!

E1: 7. Existe alguma intervenção efetiva para quem possui o Transtorno


de Personalidade Antissocial? Se sim, qual?

P1: Então, a mesma resposta da anterior. O tratamento é terapia


comportamental, medicamentoso sintomático se houver sintoma. Se a pessoa
tiver alguma queixa de ansiedade, de angústia, você pode associar ao
medicamento, se tiver os sintomas psicóticos associados, você tem de usar
medicamentos antipsicóticos que frequentemente os psicopatas podem
desenvolver surtos psicóticos passageiros, entendeu, e nos surtos psicóticos
você tem que medicar, entendeu?!

E1: 8. A desinformação sobre a psicopatia é uma desvantagem para a


sociedade? Por quê?

P1: Sim. Entretanto, a psicopatia está muito bem difundida no conhecimento


popular, que vira e mexe uma pessoa que comete um deslise qualquer,
qualquer pessoa fala esse é um psicopata, não fala? É um termo que tá quase
que vulgarizado já. Uma pessoa fez uma maldade, fala: “só pode ser
psicopata”. Então essa desinformação logicamente, que qualquer
desinformação causa problema, mas a psicopatia ela tá bem falada na boca do
povo, sabe.

E1: 9. Em suas considerações finais, como a sociedade pode se proteger


do dano causado por psicopatas?
63

P1: Então, o que você pode fazer é estruturar o atendimento psicológico e


psiquiátrico a nível de todas as regiões da cidade, contratando profissionais e
ampliando serviço, porque aí você identifica uma psicopatia ainda na escola, na
idade escolar, na idade de 7 a 8 anos, você já identifica e já faz uma
intervenção na família. Você começa a tratar a criança logo cedo, e você
consegue ter uma proteção maior social, se você intervir precocemente,
entendeu? Então a grande saída é essa: estruturar o atendimento médico e
psicológico na cidade pra possibilitar uma identificação e uma intervenção
precoce, tá.

PERFIL DO PARTICIPANTE 2 E ROTEIRO DE ENTREVISTA

Perfil do participante/ Transcrição da entrevista.

E2: Formação do senhor, doutor?

P2: Eu sou médico, sou psiquiatra dinâmico e sou psicanalista.

E2: Ok.

E2: Área de atuação profissional?

P2: Trabalho como professor numa faculdade de medicina, da qual sou mestre,
e, trabalho no consultório. Já trabalhei no hospital psiquiátrico por 44 anos.

E2: Quais as qualificações adicionais para atuar na nessa área?

P2: Como assim?

E2: Existem, ehhh ... quais as qualificações adicionais para atuar na sua área,
doutor?
64

P2: Ah... título de especialista, né? Em psiquiatria... formação na Sociedade


Brasileira de Psiquiatria em São Paulo, né? Com o curso de quatro anos, a
formação médica, dois anos de residência em psiquiatria, porque o psiquiatra
dinâmico é aquele que a psicanálise clássica ela usa... o que nós conhecemos
como psicanalista é aquele do divã, mas a teoria psicanalítica tem outras
funções também... como ... a psiquiatria dinâmica e a formação do psicanalista
da essa formação também para a pessoa que é psiquiatra, né? Então, estuda
mais as doenças, a psicopatologia das doenças. A psicanálise clássica estuda
mais psicoterapia psicanalítica, né?

E2: Ok! Há quanto tempo o senhor atua nessa área? 45 anos, né?!

P2: Tá!

E2: A área de atuação é a única ocupação atualmente com profissional da


saúde?

P2: Atualmente só exerço a função didática, de professor da faculdade de


medicina, mas estou parado por causa da Covid e a idade, né? Pretendo voltar
assim que melhorar essas coisas e também no consultório, que também estou
parado, pois a minha função exige mais contato com o paciente e não estou
podendo ter devido ao Covid, né?

E2: 1. Qual o padrão de comportamento do psicopata?

P2: Bom... o psicopata é ... um sujeito que ... que ele ... ele começou ... no
início a definição era psicopata, né? ... hoje é a personalidade antissocial o
diagnóstico, né?... Mas ele tem outros nomes que é neurótico de caráter,
neurótico de destino, psicopata, sociopata... todos os termos são semelhantes,
têm a mesma função. Hoje, de acordo com o código Internacional de doenças,
é a personalidade antissocial, que é o indivíduo que atua no sentido de jogar
angústia pra fora, out, né? Joga a angústia na sociedade, na comunidade e na
família, ele não segura pra ele a angústia. Alguns dizem isso, né? Mas devem
65

segurar um pouco pois, para agirem com tamanha destrutividade é possível


que ele aja com angústia, né?

E2: Ok. 2. Existem fatores genéticos que podem ser relacionados com a
psicopatia? Se sim, quais?

P2: Olha, o pessoal acredita que exista fatores genéticos, né? Mas deve ter
fatores ambientais também... família... mãe! Isso influencia muito também
naquele sujeito que já tem essa constituição genética.

E2: Sim.

E2: 3. Quais os fatores podem favorecer o desenvolvimento de


psicopatas?

P2: Eh... Na verdade, é isso... Já tem essa constituição genética e o ambiente,


né? Também ajuda muito, mas a constituição genética dele já... Realmente é o
que predomina, né? Porque nós temos que diferenciar muito bem! Todo mundo
faz... Tem atitudes psicopáticas... você sacaneia um colega teu, você faz
alguma coisa... Vai te dar culpa, mas você faz... Isso são atitudes sociopáticas,
atitudes antissociais... Agora aquele indivíduo que... Faz daquilo um modus
vivendi, quer dizer, que a sua própria personalidade só atua nesse sentido de
jogar tudo pro ambiente e destruir... Então esse caracteriza um psicopata! É um
modus vivendi! É um modo de vida! Não com atitudes, atitudes sociopáticas,
psicopáticas todo mundo tem, uma ou outra, né? Mas nós temos culpa, que faz
com que a gente repense essa situação ou deixa pra lá, né? Agora... o
sociopata não! Ele atua direto e reto, é a personalidade dele que faz com que
ele atue dessa maneira, né?

E2: Ok.

E2: 4. É possível curar a psicopatia e reinserir a pessoa na sociedade com


segurança? Se sim, como?
66

P2: Olha... a experiência que eu tive com essas pessoas, são portadores,
embora eles joguem essa angústia no ambiente, eles são portadoras de uma
ansiedade de nível muito grave, psicótica mesmo... então é muito difícil você
fazer com que essa pessoa... não é? Porque essas coisas acontecem numa
condição que o sujeito não se vê... não se vê... você diminuir essa angústia
dele com nada, né? Nem com terapia... diminui, mas não tanto assim, que na
hora que a coisa aperta o cara volta a atuar, né? Quando era estudante, da
idade de vocês meus 30 anos, 20, o pessoal ligava muito a sociopatia a
drogas, né?... Mas hoje a gente sabe que não é nada disso, né?... Que tem
alguns drogados que são psicopatas, mas a grande maioria não é, né?!

E2: 5. Qual o impacto de um psicopata na sociedade?

P2: Eh... o impacto é maior de acordo com a posição onde ele está, né?! Mas
na verdade, a gente pode observar que o psicopata mesmo geralmente ele vai
preso, sabe?... Ele é uma pessoa, vamos dizer, quase de inteligência normal...
Isso que nós vemos de psicopatas na televisão, não é?... Isso aí é tudo... São
delinquentes! Porque... são pessoas que planejam, visam lucro e poder com
esses atos psicopáticos! O psicopata mesmo, ele é mais ... embora a lei não o
veja assim, né?! A lei vê toda a situação desses indivíduos aí, que fazem
coisas como psicopatas e na verdade são pessoas que planejam, visam lucro e
visam poder! E o psicopata não tem esse poder de planejamento... então, você
bota um psicopata numa empresa, um delinquente, ele sacaneia os colegas de
trabalho... sacaneia os colegas em outros níveis, o patrão... tudo visando
benefício dele... Mas aí já são situações delinquenciais mesmo, né?! Então ele
planeja, visa poder e lucro. Que é o delinquente, que são os que fazem os
crimes mais complicados, né?! E que a sociedade chama de psicopata, porque
ficou taxado isso logo desde o início, né?! Mas hoje a gente sabe que o
psicopata mesmo, aqueles que são só psicopatas, a maioria tá preso, são
pessoas de um nível... Agora o verdadeiro psicopata, entre aspas, é aquele
grande, que visa poder, visa lucro, que a gente está cansado de ver isso todo
dia, né?!... Liga a televisão você se assusta, né?!
67

E2: Aí já linka com a sexta questão... 6. O nível acadêmico ou conhecimento


intensifica a psicopatia da pessoa? Como?

P2: Olha... eu acho que tudo o que você tem conhecimento, mais
conhecimento, mais faz com que você crie intimidade com crescimento ou com
destruição, né?! Tudo que você conhece... se você coloca uma pessoa num
cargo X de engenheiro e você bota um roceiro... ele só vai fazer aquilo que ele
conhece, pegar enxada e trabalhar, né? Naquilo... o psicopata também ... se
ele tem aquele nível de destrutividade, de inveja, não é?... porque tudo isso, no
fundo, está ligado a inveja! ... se ele tem esse nível de destrutividade quem vai
é... porque a inveja ... a inveja é um sentimento mais odioso que o ser humano
tem, né? ... então está muito ligado a inveja... é que a psicanalise se baseia
hoje lidar com a inveja do indivíduo, né? Só que você mesmo mostrando esses
aspectos pro psicopata... o nível do ódio dele é tamanho, do delinquente, né?
Que ele larga uma coisa aqui e vai pegar outra ali, né?... você não consegue
ter uma condição... onde ele entra, ele destrói, né?! ... é uma coisa muito
complicada isso, né?!

E2: 7. Existe alguma intervenção efetiva para quem possui o transtorno


personalidade antissocial?

P2: Olha! Na minha experiência pessoal... se você colocar ele internado no


hospital ele vai sacanear os colegas de hospital, sacanear os pacientes,
sacanear a enfermagem... se você bota ele no grupo terapêutico... ele vai
destruir o grupo! Estou dizendo porque eu já vivi isso na minha experiência
pessoal! Quer dizer, é uma pessoa cujo nível de destrutividade é tamanha...
que se você leva ele para análise ele .... ou ele destrói a relação dele com o
terapeuta ou não aguenta as interpretações vai embora, né?! ... lógico que é o
culpado disso tudo é o terapeuta na cabeça, na mente dele, né?! ... o que ele
não, não consegue aguentar aquilo que é colocado pra ele, né?! saber o nível
de inveja, de destrutividade, né?! ... então é muito difícil ... então quando o
psicopata te procura no consultório na verdade você... você ... anda no fio da
navalha, né?! ... e quando ele vai embora você dá graças à Deus, né?! você
põe a mão pro céu, né?! ... porque não tem o que fazer, né?! tamanho o nível
68

de destrutividade, né?!, o nível de psicose, de ódio mesmo, é uma coisa


odiosa... você vê isso aí todo dia, né?! ... aquela situação da televisão aí do
menino, né?! ... vê que nível de destrutividade e fica todo escorado em
legislações ... em não sei o que ... em guardas milicianas ... toda uma situação
realmente incompreensível a nível de ser humano, né?! Devia ver o outro como
ser humano, né?!

E2: 8. A desinformação sobre a psicopatia é uma desvantagem para a


sociedade?

P2: Olha... eu não sei se há desvantagem não... porque a sociedade não tem
obrigação de saber essas explicações técnicas, né, ninguém vai saber
definições sobre psicopatologia da, da psicopatia. Na verdade, a sociedade até
se assusta com essas coisas.... e tende a fugir!... O que eu vejo assim... com
pessoas amigas que as vezes vem, vem me visitar, que eu converso, nas
minhas caminhadas eu converso, que as vezes param pra me perguntar
alguma coisa... as pessoas se assustam com o tamanho nível de ódio, né?! De
inveja, né?! ... de sedução, né?!... é uma coisa completamente, né?!, que cada
vez que aumenta mais a população... que nem o vírus, né?!... cada vez
aumenta mais a população do vírus, mas ele vai tendo variantes, né?! ... então
você vê cada coisa que, como dizia o outro, né?! até Deus duvida! Né?! ...

E2: Verdade! 9. Em suas considerações finais, como a sociedade pode se


proteger do dano causado por um psicopata?

P2: Penso que a sociedade teria que criar mecanismos reais de avaliar essa
pessoa! Até que ponto vai a psicopatia dela, né?! Se são atitudes psicopáticas,
né?! ou se o sujeito é totalmente contaminado por esse ódio, né?! ... mas aí
teria que ter uma avaliação de um especialista experiente, né?! que você,
como todo paciente, você tem que avaliar através do teu contato com ele, não
é?! você tem que avaliar, conhecer um pouco dele... pra você ter uma extensão
de até que ponto essa condição psicótica mesmo invadiu essa personalidade,
né?! ai dependendo da pessoa... ou você possa encaminhar pra uma terapia e
farmacologia ou então para uma internação num manicômio, né ?! ... o que é...
69

os caminhos são bem pequenos, são bem estreitos pra esse tipo de pessoa,
sabe?!... você não tem muitas soluções!... e não sei se isso que eu estou
falando são soluções... talvez sejam até defesas, né?! que essa sociedade tem
que ter, né?! ... ou prisão mesmo, né?! ... porque chega a um nível que essas
pessoas também tem que pagar pelo que eles fazem e até proteger a própria
comunidade dessas pessoas, né?! Porque não tem muitos caminhos a seguir,
né?!

E2: Entendi.
70

PERFIL DO PARTICIPANTE 3 E ROTEIRO DE ENTREVISTA

Perfil do participante/ Transcrição da entrevista.

E3: Formação?

P3: Eu tenho pós doutorado em psiquiatria. Sou médico psiquiatra, com


mestrado, doutorado e pós-doutorado em psiquiatria.

E3: Área de atuação profissional?

P3: Psiquiatria clínica, né?! É... tanto na assistência, quanto na orientação de


residentes, e também, na área de ensino na faculdade de medicina da cidade.

E3: Há quanto tempo o sr. atua nesta área?

P3: Como clínico há 15 anos, como docente há 8.

E3: A área de atuação é sua única ocupação atualmente como profissional da


saúde?

P3: Sim.

E3: 1. Qual o padrão de comportamento do psicopata?

P3: Eh... existe uma querela na literatura em que existem dois termos, na
verdade a gente precisa discutir. Um termo, é o termo clínico, onde existe,
dentro da classificação internacional de doenças, nessa medição, que é o
transtorno de personalidade antissocial, então esse é o termo técnico, clínico
que a gente usa dentro da classificação dos diagnósticos pela Organização
Mundial de Saúde, e o termo psicopata, alguns pesquisadores acreditam que
pode ser usado como sinônimo do transtorno de personalidade antissocial e
outros atribuem o termo psicopata para aquelas pessoas que tem transtorno de
personalidade antissocial e cometem crimes contra pessoa, então, no caso é
71

agressão física, agressão sexual, assassinato, então existe essa querela na


literatura mas, o psicopata, basicamente ele tem essa alteração na
personalidade caracterizada por uma falta de empatia, ou seja, ele não
consegue se colocar no lugar do outro, portanto, ele vai, digamos assim, ele
atropela, pra chegar no seu objetivo ele é capaz de fazer qualquer coisa com o
outro, enganar, mentir, manipular, agredir, né, entre outras coisas. Daí é como
eu falei, existe esse padrão de comportamento, geralmente também associado
a que: a impulsividade, há envolvimento em atividades perigosas, se colocando
em risco e colocando o outro em risco, baixa tolerância a frustração e a
colocação de limites, tá; e também, como falei, no caso do psicopata, o
envolvimento criminal, né, com crimes, sejam eles, furto, roubo, assalto a mão
armada e agressão física e até mesmo assassinato, homicídio, né, para com
outras pessoas.

E3: Ok! 2. Existem fatores genéticos que podem ser relacionados com a
psicopatia? Se sim, quais?

P3: Sim! Isso é muito discutido na literatura, né! Primeiro porquê eh... digamos
assim, existe uma questão de que o paciente psicopata ele não é... Por
exemplo você está fazendo uma pesquisa, você me fez assinar o termo de
consentimento para poder participar, eu sou sujeito da pesquisa... agora
imagina fazer uma pesquisa com um grupo de psicopatas, é... muitos deles não
vão assinar o termo de consentimento, muitos vão assinar, mas não vão
aparecer pra pesquisa, porque se envolve fator genético, eu vou ter que fazer
DNA, né? Então vai ter que tirar uma amostra de sangue, saliva ou enfim...
então tem uma dificuldade muito grande em coletar esses dados, mas os
dados que existem em, em, alguns, alguns fatores genéticos geralmente
associados a substâncias, é neurotransmissores, então nesses pacientes, o
fator genético vai fazer com que eles, posso expressar que vão, em última
análise, causar uma alteração na neurotransmissão, fazendo com que eles
tenham essas características comportamentais.
72

E3: Ok. 3. Quais fatores podem favorecer o desenvolvimento de


psicopatas?

P3: Aí é uma área que já é mais desenvolvida, que a gente tem mais dados,
então a gente sabe que o psicopata, geralmente, né, ele foi vítima, na, na
primeira infância, até os seis anos de idade, ele foi vítima de violência física,
negligência, abuso físico, abuso sexual, geralmente, você tem associando isso
ahh... privação parental, né, então a gente tem muitos dos psicopata, né. Não
estou dizendo que todas as crianças que vivem em orfanatos vão virar
psicopatas, não é isso, mas é ... o contrário é verdadeiro, boa parte dos
psicopatas foram criados por terceiros, né! Sejam no orfanato, instituições, ou
seja, não tiveram aquela convivência com os pais, né! Não receberam aquele
afeto parental. Então basicamente, o que a gente tem de evidências científicas
no caso, é exatamente isso, na primeira infância, lá quando a gente tá
construindo a nossa personalidade, essas pessoas são vítimas, né, depois vão
se tornar agressores. Mas na verdade, eles foram vítimas, inicialmente vítimas
de violência, seja física, sexual, abuso, negligência, e também, privação
parental.

E3: Ok. 4. É possível curar a psicopatia e reinserir a pessoa na sociedade


com segurança? Se sim, como?

P3: Atualmente, é... a gente acredita que não! O psico... é ... se a gente falar
transtorno de personalidade antissocial, até é possível, caso o paciente aceite
o tratamento, né! Porque nós temos esse problema também, toda, toda, toda a
atividade de reinserção social, e toda forma de habilitação psiquiátrica,
psicológica, ela vai depender da anuência do paciente, né, a menos que seja
aqueles pacientes psicopatas que cometeram crimes e que eles vão fazer
tratamento por medida judicial, eles são obrigados a fazer é... isso aí por
determinação judicial, né! Mas é muito difícil realmente a reabilitação deles, por
quê? Porque esse traço de personalidade é muito profundo, então, não dá
assim, como é que eu posso dizer, é muito difícil também a gente dizer que não
dá pra recuperar, mas é muito difícil até, até hoje nós não tivemos nenhuma,
73

nenhum caso de sucesso nesse sentido, né! O que a gente consegue no


máximo é que o psicopata pare de cometer crimes, mas ele vai continuar com
as suas características que vão eventualmente, né, ou quase sempre, causar o
prejuízo sócio-ocupacional.

E3: Sim, Ok. Não quer falar mais alguma coisa? Pode ir pra próxima?

P3: Sim.

E3: 5. Qual o impacto de um psicopata na sociedade?

P3: O impacto é altíssimo, né, basta dizer que nos presídios é ... o transtorno
de personalidade antissocial, vamos falar assim, ele tem uma prevalência
média na população entorno de 2 à 4 por cento, nos presídios ele chega a ser
quase 20 por cento. Então, o impacto é muito grande, no sentido de aumento
da criminalidade, aumento da violência, né! Por que são assim? Digamos
assim, são as, são os meios pelos quais os psicopatas atuam, né, através da
violência... E se a gente for colocar aqui o psicopata de alto funcionamento,
que é aquele que trabalha através da manipulação e aí está, nós vamos, é e aí
está caracterizado até alguns políticos, vamos colocar assim, né, então aí o
impacto pra sociedade é muito maior, né! Porque aí nós estamos o quê, né,
pessoas que estão na verdade, é... de alguma forma exercendo liderança na
sociedade, em cargos de liderança, né, cargos de referência, e na verdade, são
psicopatas, então, o prejuízo que a psicopatia causa na sociedade é muito
grande, ele é imensurável, na verdade, por que é uma coisa que a gente não
consegue medir, como a gente vai medir esse prejuízo, né? A gente pode
medir através de dados objetivos, né, índice de criminalidade, índice de
homicídios, ... lembrando que o psicopata também tem o risco muito grande de
cometer suicídio, então, em função da sua, da sua impulsividade e intolerância
à frustração, então, ele também está entre as causas de suicídio, né. E
lembrando também que é uma população jovem, né, e que morre muito cedo,
né? Por que? Porque se envolve em várias atividades de risco. É... então quer
dizer, o prejuízo para a sociedade é muito alto. Embora ele não seja
objetivamente mensurável.
74

E3: Ok. 6. O nível acadêmico ou conhecimento intensifica a psicopatia da


pessoa? Como?

P3: Na verdade não é que intensifica psicopatia. O nível acadêmico,


educacional ele refina a psicopatia, né! Então, vamos dizer assim, que aquele
psicopata, que a gente chama de baixo funcionamento, é aquele cara
impulsivo, né, que comete crime, vai pra cadeia, às vezes é morto pelo, pelo,
pela gang inimiga, né, às vezes ou ele é o perpetuador da violência, ou a vítima
da violência, então ele fica nessa vida desse jeito, né, saindo e entrando da
cadeia, um subemprego, né! Agora o cara mais refinado, de auto
funcionamento, ele consegue muitas vezes galgar vários degraus na
sociedade, por exemplo, no Congresso Nacional, nós temos uma série de
psicopatas de auto funcionamento, né! Que a pessoa é mais refinada, ela
consegue de alguma forma, refrear os impulsos, ela consegue ter um maior
controle dos impulsos e uma melhora na parte de manipulação, né, então a
gente vê..., mas na verdade, acredita que o nível educacional não é a causa
desse refinamento, ele é consequência. Então, quer dizer, pessoas com maior
nível intelectual, vão conseguir uma formação acadêmica maior, né, e vão ser
pessoas de mais alto funcionamento na sociedade. Aquela pessoa já, mas,
digamos assim, prejudicada cognitivamente, ele não vai conseguir, e ele vai se
prejudicar mais pelos traços psicopatas ao longo da vida.

E3: 7. Existe alguma intervenção efetiva para quem possui o transtorno


de personalidade antissocial? Se sim, qual?

P3: É... O que existe hoje são o desenvolvimento de algumas técnicas


comportamentais, como eu falei, para que a pessoa possa, né, existem
algumas intervenções também medicamentosas em que eu consigo, através de
medicamento, a redução da impulsividade do paciente, né, então existem
algumas, algumas invenções sim! Mas, é como eu falei, a resposta da outra
questão, vai depender muito da anuência do paciente. E, muitas vezes, nós
75

não a temos, muitas vezes ele está fazendo tratamento em cumprimento a uma
medida judicial.

E3: 8. A desinformação sobre a psicopatia é uma desvantagem para a


sociedade? Por quê?

P3: Eu acredito que sim, né?! Embora, exista, a gente vê algumas entrevistas
de pessoas que trabalham diretamente com essa questão, inclusive alguns
livros que existem por aí, né, inclusive um deles, o título é mais ou menos que
o inimigo mora ao lado, alguma coisa nesse sentido, em que eu acredito que
existe uma super representação da psicopatia, né! Então, acredito que a
informação ela é uma vantagem, agora o excesso de informação, ou seja,
qualquer um pode ser psicopata, seu vizinho pode ser psicopata, o seu colega
de trabalho, que trabalha ao seu lado, né, então, também, a informação tem
quer dada com bastante critério e cautela, né, porque senão a gente gera
pânico social, na minha opinião. Eu acho desnecessário!

E3: 9. Em suas considerações finais, como a sociedade pode se proteger


do dano causado pelo psicopata?

P3: Eu acredito que, primeiramente, a primeira medida de prevenção, é você é


que a pessoa seja um psicopata! Né?! Então nós temos esse nível de
intervenção que eu acredito que tem muito a ver com o que, muito a ver com a
questão da violência. Então nós precisamos trabalhar numa cultura de paz,
uma cultura que ... que também a violência, por sua vez, em um país como o
nosso, ela está muito associada a desigualdade social. Então nós temos que
ter medidas efetivas que possam trabalhar as causas da violência, e, enfim, eu
acredito que essas medidas são as primeiras que a gente possa ter. O
segundo é: o diagnóstico precoce, né?! Então assim, não vamos deixar a
pessoa cometer crime! O psicopata já se revela na adolescência, né, através
do que chamamos de transtorno de conduta, né, então já são pessoas que
fazem uma manipulação com requintes de crueldade, né, que já tem
passagens pela polícia, inclusive com alguns delitos. Então rapidamente a
gente tem que fazer esse diagnóstico precoce. Pra quê? Pra que a pessoa não
76

evolua, entre aspas, para a psicopatia. Então acredito que, exista uma medida
que é social, outra que é que a questão da violência e todos os fatores a ela
associados, e, existe uma médica clínica que seria o reconhecimento precoce
daquelas pessoas que tem fortes tendências a desenvolver à psicopatia. Pra já
receber um tratamento bastante precoce, no sentido de evitar que ela evolua,
né?! Exatamente para a psicopatia.

PERFIL DO PARTICIPANTE 4 E ROTEIRO DE ENTREVISTA

Perfil do participante/ Transcrição da entrevista.

E4: Formação?

P4: Eu sou médico, formação que me atribui 38 anos nesse ramo.

E4: Ok. Sua área de atuação profissional?

P4: Sou médico, trabalhei durante 30 anos no serviço público, hoje sou
aposentado do serviço público e atendo apenas no consultório particular.

E4: Quais as qualificações adicionais para atuar na sua área?

P4: Adicionais clínica, né? Não tenho formação em psicanálise.

E4: Certo. E aí há quanto tempo o senhor atua na área?

P4: 40 anos, 40.

E4 A área de atuação é sua única ocupação atualmente com profissional da


saúde?

P4: Sim.

E4: 1. Qual o padrão de comportamento do psicopata?


77

P4: As características dele... eles são assim: têm uma ausência das emoções;
eles têm uma capacidade muito grande de mentir de manipular, né? Sentir
prazer com o sofrimento das outras pessoas; têm uma ausência de culpa, não
se sentem culpados, né, geralmente desrespeitam as leis, os costumes, né, o
direito de outras pessoas, né, eles têm uma falta de remorso, assim, de... de
culpa em relação aos seus atos; e, têm também, uma tendência à violência.

E4: Tem mais alguma coisa que o senhor queira acrescentar?

P4: É mais ou menos isso, essas são as características dele.

E4: 2. Existem fatores genéticos que podem ser relacionados com a


psicopatia? Se sim, quais?

P4: Olha... Ela é geralmente mais comum nos homens que nas mulheres, né.
Eeee... os fatores psicossociais parece que mais se encaixam na psicopatia,
geralmente crianças com uma história de abuso físico, psíquico ou sexual são
mais suscetíveis a desenvolver esse quadro ai de psicopatia.

E4: Certo. Mas são fatores genéticos então? No caso da psicopatia?

P4: Não, não há nada comprovado com a genética não. Ela na verdade aaaa...
psicopatia, ela tá associada a uma posição inata do indivíduo. Ele não ...
geralmente ele... algumas... algumas correntes psicológicas, psicanalíticas,
eles atribuem isso mais ah... situações traumáticas da infância, mas ah... a
hereditariedade não está comprovada.

E4: 3. Quais os fatores podem favorecer o desenvolvimento de


psicopatas?

P4: Não oh... o que pode favorecer é... igual eu falei, é crianças que são... é o
alcoolismo, o abuso de drogas, né? Abusos da infância tanto físicos, sexuais,
psicológicos, o meio ambiente que eles vivem, ambiente mais perturbador, né?
78

Isso aí pode, se tiver uma pré-disposição, pode desencadear o quadro de


psicopatia, mas já tem que ter aquela tendência psicopática, né?

E4: 4. É possível curar a psicopatia e reinserir a pessoa na sociedade com


segurança? Se sim, como?

P4: É... a psicopatia não é uma doença, né? Ela é uma maneira que a pessoa
é, assim, é a reinserção é uma coisa impossível, né? Ele apenas pode ser
controlado, às vezes com mecanismo restritivo, mas... a reinserção social é
muito difícil.

E4: 5. Qual o impacto de um psicopata na sociedade?

P4: O impacto pode ser os mais diversos possíveis, depende o grau que ele se
encontre na... na sociedade ... o grau social dele, né? Ele pode atuar em todos
os níveis sociais, dos mais baixos níveis até os níveis mais elevados, né? Aí
depende a escala social a que ele pertence. Mas o modus operandi, o modo de
atuação deles é semelhante.

E4: 6. O nível acadêmico conhecimento intensifica a psicopatia da


pessoa? Como?

P4: Eh... diz que ... eu digo assim... que ele fica mais ... mais refinado na nas
coisas que ele faz, ele tem uma... um refinamento na psicopatia dele, ele pode
atuar de forma mais... menos agressiva e mais ...mais abrangente assim, né?

E4: Hum. Ok. 7. Existe alguma intervenção efetiva para quem possui o
transtorno de personalidade antissocial? Se sim, qual?

P4: Não! Não existe. A psicopatia ela não tem cura, né?! Ela... é um modo da
pessoa ser e de agir, né? O modo que ela é. É um psicopata! Ele não tem
assim... resposta terapêutica.
79

E4: Tá. 8. A desinformação sobre a psicopatia é uma desvantagem para


sociedade? Por quê?

P4: Sim! Porque, como eles já têm uma, uma, uma facilidade de envolver a
pessoa, de manipular, de dominar, então, fica mais fácil ainda de, de,
dependendo do grau de ascensão social do mesmo de atuar, né, na sociedade
sim.

E4: 9. Em suas considerações finais, como a sociedade pode se proteger


do dano causado por psicopatas?

P4: Isso é praticamente impossível! Não tem como, porque... eh... ele é um,
um, uma pessoa que ele não tem arrependimento do que ele faz, não tem
remorso, tem uma incapacidade de amar, de se relacionar com as outras
pessoas, né, de criar laços afetivos... então... é uma, uma, vamos dizer... é
uma contenda assim desigual, né? Não tem como uma pessoa se prevenir de
um psicopata. Eles estão por todos os lados, né?

E4: Entendi. Ok.

PERFIL DO PARTICIPANTE 5 E ROTEIRO DE ENTREVISTA

Perfil do participante/ Transcrição da entrevista.

E5: Formação?

P5: Psicologia.

E5: Ok. Área de atuação profissional?

P5: Psicologia clínica e psicologia da saúde.

E5: Quais as qualificações adicionais para atuar na sua área?


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P5: Eu fiz o mestrado em psicologia da Saúde e fiz especialização em


psicologia clínica e eu também sou docente há dois anos. Como eu trabalho na
faculdade de medicina, e no hospital de base, eu sou docente no curso de
psicopatologia da psicologia.

E5: Há quanto tempo você atua na área?

P5: Eu trabalho na área há 14 anos.

E5: A área de atuação é sua única ocupação atualmente com profissional da


saúde?

P5: Sim, sim só trabalho como psicóloga.

E5: 1. Qual o padrão do comportamento do psicopata?

P5: Dificuldade em relação a seguir regras; falta de empatia; dificuldade de


olhar para o outro como um ser com direitos e como sentimentos; só faz em
benefício próprio; muitas vezes tem comportamento antissocial como os
comportamentos disruptivos, violação de regras, condutas muitas vezes não
esperadas pela sociedade.

E5: 2. Existem fatores genéticos que podem ser relacionados com a


psicopatia? Se sim, quais?

P5: Ah... em relação aos transtornos mentais e transtorno de personalidade,


porque a psicopatia é o transtorno de personalidade antissocial, eu estou
falando. Segundo o DSM, porque eu sigo psicologia baseada em evidência! A
gente sabe que hoje a literatura também aponta a psicopatia diferente de
sociopata, algumas vertentes da literatura, porém, quando a gente pensa em
psicologia baseada em evidência e medicina baseada em evidência, a gente
não vai fazer essa distinção, a gente vai olhar como comportamento
antissocial, então, quis fazer essa observação pra falar como que eu estou
respondendo, pensando em personalidade antissocial. Então a personalidade
81

antissocial, assim como os outros transtornos, a gente entende que é, tem uma
questão importante aí, um tripé entre: uma vulnerabilidade biológica, genética
mais a questão do ambiente mais o temperamento do indivíduo. Existem dados
sim da literatura que mostram que, que pais com uma personalidade psicopata
podem gerar filhos com essas características, mas, não é uma regra, é uma
junção de fatores, que é biopsicossocial.

E5: Ok. 3. Quais fatores podem favorecer o desenvolvimento de


psicopatas?

P5: Aí a gente pode pensar nos fatores que a gente, eh, tem um ambiente, né.
Então, por exemplo, pais com pouco afeto; ou pais negligentes; pais abusivos,
seja violência física ou violência sexual, a gente olha como fatores de risco, a
gente chama como fatores de risco, não como causa; ehhh ambiente em que
não favorece os comportamentos como: empatia; habilidade sociais de
comunicação, de compaixão, isso pode contribuir; também baixa escolaridade;
e a questão também do nível sócio econômico, também pode favorecer o
esses comportamentos é de conduta e contribui para um transtorno de
personalidade antissocial na vida adulta.

E5: OK. 4. É possível curar a psicopatia e reinserir a pessoa na sociedade


com segurança? Se sim, como?

P5: É hoje, e aí eu estou falando da minha abordagem, e também, pensando


em psicologia baseada em evidências. Minha abordagem é psicologia cognitivo
comportamental, a gente não tem dados que apontam que a cura ou manejo
adequado pro transtorno de personalidade antissocial. Muitas vezes quando
eles aparecem no âmbito clínico é pra tratar comorbidades, e não a
característica ou personalidade da psicopatia, éé oo antissocial. Então a gente
não tem a cura, e inseri-lo na sociedade a gente vai pensar em regra um pouco
mais rígidas, éé, não necessariamente punitivas, mas um pouco mais rígidas, e
fortalecer aqueles comportamentos que, é, que acabam sendo mais
socialmente habilidosos. Mas ainda não está próximo do que a gente considera
82

ideal de um indivíduo sem o transtorno de personalidade antissocial, que não é


um transtorno de personalidade antissocial.

E5: Ok. 5. Qual o impacto de um psicopata na sociedade?

P5: Tem um impacto. A gente sabe que nem todo psicopata vai, quando a
gente pensa em psicopata, a gente pensa em morte, tirar a vida, a gente sabe
que não é todo psicopata que vai matar, mas tem um impacto significativo.
Como ele, uma das características, é falta de empatia, violação de regras, ele
pode contribuir, é, é tumultuar ali, a harmonia ou da família, ou de grupos
sociais, do trabalho, éé passar por cima de colegas de trabalho, ou
comportamentos como mentira, pra que ele, ele se beneficie. Então o outro, ele
não tem um significado importante, mas sim uma questão mais egocentrista, é
de egocentrismo, para que ele se beneficie. Então pode ter impacto muito
importante aí na sociedade, em relação à violação de regras, e até casos como
abuso, machucar, roubo, furtos.

E5: 6. O nível acadêmico ou conhecimento intensifica a psicopatia da


pessoa? Como?

P5: Olha éhhh... eu não... eu não me lembro agora de um dado de literatura


que eu tenha lido sobre isso. Pode haver, mas eu não me lembro. O que eu
consigo pensar em relação a isso é, hã, que talvez o indivíduo, com uma alta
escolaridade, ele pode elaborar melhor os planos dele para que ele alcance as
metas, e assim, ele possa sofrer menos consequência. Talvez um
comportamento menos impulsivo, com uma maior elaboração a questão da
escolaridade. Mas não necessariamente que vá intensificar, mas ele pode ter
um plano um pouco mais elaborado.

E5: Ok. 7. Existe alguma intervenção efetiva para quem possui o


transtorno de personalidade antissocial? Se sim, qual?
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P5: Não! Não! Não existe uma intervenção efetiva! Mesmo na terapia cognitivo
comportamental, que é uma das terapias é, é de escolha por exemplo pra, pra
alguns transtornos, nos transtornos de personalidade antissocial, ela não tem
bons efeitos, assim como em outros transtornos de personalidade. Pelas
características dos transtornos rigidez, dificuldade de questionar suas crenças
e os seus valores.

E5: Ok. 8. A desinformação sobre a psicopatia é uma desvantagem para a


sociedade? Por quê?

P5: Acredito que pode ser sim uma desvantagem, porque o indivíduo que não
sabe que existe, né, pessoas com esses comportamentos, talvez possam ficar
um pouco mais vulneráveis, ou indivíduos, por exemplo, têm dificuldade dizer
não, ou com baixa autoestima, tende, tende a ser um alvo aí muito importante
muitas vezes de submissão, um alvo para o indivíduo que tem o transtorno de
personalidade antissocial.

E5: Ok. 9. Em suas considerações finais, como a sociedade pode se


proteger do dano causado pelo psicopata?

P5: Do dano já causado?! Ahhh... verificar, né, o que foi feito, é quais foram os
comportamentos que psicopatas mais têm, como: violação de regras; os furtos;
não olhar o outro, e assim para que tenha uma supervisão mais constante e
assim impedir que esses comportamentos cheguem as situações de maior
risco, como pôr fim a vida; é... dinheiro, o roubo; ou o gerar, contribui para o
sofrimento do outro indivíduo, então é uma supervisão maior.

E5: Ok, muito obrigada.

P5: Imagina!

PERFIL DO PARTICIPANTE 6 E ROTEIRO DE ENTREVISTA

Perfil do participante/ Transcrição da entrevista.


84

E6: Eu vou dar início a essa entrevista com você, e eu gostaria de fazer
algumas perguntas pra você, sobre o seu perfil. Qual a sua formação?

P6: Sou bacharel em psicologia!

E6: Área de atuação profissional?

P6: Atuo na área da psicologia forense e criminal.

E6: Quais as qualificações adicionais para atuar nessa área?

P6: Como assim?

E6: Pós-graduação, algum curso de especialização?

P6: Legal! Não é necessário pós-graduação e nem especialização para atuar


na área, mas é de suma importância que haja sim um aprofundamento, já que
a faculdade acaba sendo muito limitada acerca desse contexto, acerca dessa
atuação. Então assim, necessário não é, mas é fundamental.

E6: A área de atuação, é a única... é sua única ocupação atualmente como


profissional de saúde?

P6: Também atuo na clínica, como psicólogo clínico e como professor na área
acadêmica!

E6: Especifique outras ocupações, se possível.

P6: Atuo como psicólogo clínico, realizando atendimentos clínicos aos


pacientes e também dou aula em cursos de formação, capacitação e de
extensão na área de psicologia jurídica e ciência forense.
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E6: Eu vou seguir um roteiro de entrevista agora com nove questões e aí você
tem total liberdade respondê-las da forma que você achar necessário e melhor.

P6: Ok!

E6: Posso começar?

P6: Pode!

E6: 1. Qual o padrão de comportamento do psicopata?

P6: Qual o padrão de comportamento?

E6: Isso!

P6: É interessante, porque eu imagino que talvez as suas perguntas estejam


surgindo aí muito do senso comum, talvez do que as pessoas tenham do
psicopata então eu já começo desconstruindo um pouco. O psicopata não tem
um padrão de comportamento, digamos assim que é um padrão. Cada
psicopata pode agir de determinada forma, pode agir de determinado jeito. Até
por que não é a psicopatia que define a forma que aquele sujeito vai se
comportar. O sujeito é biopsicossocial, digamos que a psicopatia estaria aí no
que é psíquico. Mas temos os fatores sociais e biológicos que compõem o ser
humano. Então não teria como eu te responder qual o padrão comportamental.
O padrão comportamental de um psicopata é como o de qualquer ser humano
não-psicopata, ele acorda, vive, come, bebe, faz suas necessidades... O que
eu poderia te dizer aí o que é padrão ou típico de psicopatas seriam alguns
traços do transtorno. Mas ainda assim também não dá pra dizer que todo
psicopata vai apresentar esse traço ou que todo psicopata vai apresentar
aquele traço da mesma forma. Então eu não sei se eu poderia responder essa
sua pergunta dessa forma, citando alguns traços que é típico dos psicopatas.
E6: Quer acrescentar mais alguma coisa?
86

P6: Não, então, mas é... Eu é que te fiz uma pergunta agora, eu posso, a sua
pergunta, eu responderia citando por exemplo alguns traços da psicopatia ou
sua pergunta no caso você imaginou ela citando mais, é algo do
comportamento mesmo, o que você pensou nessa pergunta que você me fez?

E6: Huhmmn...

P6: Só pra saber se eu consigo respondê-la.

E6: É o comportamento, se ele tem mesmo uma tipificação, uma tipologia de


comportamento, né, se é um tipo.

P6: Você consegue me dar um exemplo? Eu ainda realmente não entendi a


pergunta.

E6: Eu creio que você a respondeu, porque você disse que o “psicopata não
tem um padrão”, o psicopata é um tipo...

P6: Porque por exemplo, muita gente tem o costume de falar, por exemplo,
não, porque o psicopata costuma ser manipulador, costuma ser enganador,
isso eu consigo te responder, mas não é... quando você pergunta assim se tem
um padrão, eu pelo menos entendo como se fosse algo que todo psicopata vai
ter, algo que em todo psicopata vai se manifestar, eu não responderia dessa
forma. Agora se você me perguntar o padrão que é comum psicopatas
apresentarem, que é comum ser encontrado em alguns psicopatas, aí eu
consigo te responder melhor. Por que, por exemplo, que nem um exemplo aqui,
tal, o que costuma ser uma característica do psicopata? Ele ser eloquente e ser
superficial. Porém, nem todo psicopata será eloquente e superficial, entendeu?
Por exemplo, outra característica do psicopata: ser egocêntrico e grandioso.
Mas nem todo psicopata vai ser egocêntrico e grandioso. Tem psicopata aí que
tem uma autoestima lá no chão e muitas vezes acaba cometendo o crime por
causa disso, por ter uma autoestima tão baixa a ponto de invejar uma
característica do outro, por exemplo. Enganador e manipulador, nem todo
psicopata vai apresentar esse comportamento enganador e manipulador,
87

embora seja típico dos psicopatas. Então essa sua pergunta a gente poderia
reformular ela para: “o que acaba sendo típico dos psicopatas”, mas que não
necessariamente vai aparecer sempre. Aí eu conseguiria te listar todos.

E6: Se você ficar confortável em listar...

P6: Claro! Com certeza! Quanto mais enriquecer aí, sem problemas. Vamos lá.
Comportamentos típicos de psicopatas, características típicas de psicopatas. A
eloquência e superficialidade, ou seja, serão pessoas que vão ter uma
articulação, um discurso divertido, envolvente, vai contar história improvável,
porém totalmente convincente. São aquelas pessoas que costumam se mostrar
agradáveis, fazem de tudo para parecerem atraentes e vão se utilizar do
discurso para conquistar as pessoas. Então esse é um comportamento típico
de psicopatas. Outro comportamento típico de psicopatas é o egocentrismo e a
grandiosidade. Ou seja, aquele indivíduo que tem uma visão exacerbada das
próprias habilidades, por exemplo. Ele vai ter uma excessiva valorização, ele
sempre vai se mostrar autoconfiante, ele sempre vai tentar impressionar os
outros e vai ter aquele narcisismo patológico. Eu gosto muito de falar que ser
narcisista não é problema algum, o problema é quando esse narcisismo se
torna patológico a ponto de te colocar acima dos outros e você sempre
inferiorizar os outros. Eu posso me achar um dos melhores psicólogos do
Brasil, sem desmerecer os outros, sem reconhecer que outros são tão bons
quanto eu, então seria um tipo de narcisismo patológico: eu sou o melhor
psicólogo e ninguém mais chega aos meus pés. Seria uma diferença aí. Outra
característica típica dos psicopatas, inclusive, muita gente adora resumir os
psicopatas a essa característica, é a falta de empatia. É típico. E posso talvez,
me arrisco a afirmar que talvez essa característica a gente acaba encontrando
em todos, em sua maioria, pelo menos. Porém, eu gosto muito de falar que o
problema do psicopata não é não ter empatia, quem dera apenas os psicopatas
não tivessem empatia, o problema são as pessoas não-psicopatas que também
não têm empatia. Eu falo que isso é o que me preocupa. A porcentagem de
psicopatas na população é mínima. E mesmo dentro desta mínima
porcentagem, nem todos cometem crimes, ou seja, o problema é esse 80% aí
que não são psicopatas e que não têm empatia pelo outro. A pandemia tem
88

mostrado bem isso. Mas isso acabe sendo por algum motivo uma característica
que todo mundo adora falar do psicopata. Porque psicopata não tem empatia,
né. Será que nós temos tanta empatia assim para falar que o psicopata não
tem? Enfim. Outro comportamento, outro traço típico dos psicopatas, eles são
enganadores e manipuladores. Ou seja, vai sempre se envolver em falcatrua,
sempre vai se envolver em golpes, muitas vezes aplicar golpes nas pessoas,
mas nem sempre vai envolver necessariamente uma atividade criminal. Eu
posso, por exemplo, manipular uma pessoa para ela ficar comigo, eu posso
manipular uma pessoa para me emprestar dinheiro, isso não é crime, eu
manipular uma pessoa, eu me fingir de coitadinho, eu me fingir de vítima para
que uma pessoa se compadeça por mim e faça algo por mim não é crime,
ninguém é preso por ser manipulador. O crime acontece quando o psicopata
quando se utiliza disso para cometer algum crime. Outra característica do
psicopata que todo mundo adora falar junto com falta de empatia: psicopatas
não sentem remorso ou culpa, né, e realmente uma característica típica dos
psicopatas é a ausência de remorso ou culpa, né, tem aí uma capacidade de
incompreender a gravidade dos atos, mas torno a falar, quem dera apenas
psicopatas apresentassem esse traço. Outro traço que eu gosto muito de
discutir é a questão das emoções. Eu já cansei de ver profissional, inclusive
escritor de livro aí que vende até no Brasil, falar a besteira que psicopata não
sente emoção. Antes de ele ser psicopata, ele é ser humano, e é
humanamente obrigatório que qualquer ser humano vivo sinta as emoções. A
questão do psicopata está na expressão dessas emoções, na forma que ele
sente e demonstra. Ou seja, o psicopata ele sente emoção como qualquer
outra pessoa, a questão está na frieza com que essas emoções se manifestam.
Outro comportamento típico do psicopata é o comportamento impulsivo, a
impulsividade, ou seja, eles costumam agir de forma impensada e inesperada,
costumam agir ali no calor do momento, a famosa frase “a ocasião faz o
ladrão”. Ou seja, eles podem ver uma oportunidade ali e agem por impulso,
sem nem pensar na consequência daquilo. Outra característica aí do psicopata
é o fraco controle do comportamento, eles têm um inadequado controle do
comportamento, dificilmente eles conseguem se controlar. Esse é um dos
principais pontos que a gente avalia quando a gente vai fazer o exame
criminológico, avaliar ali a impulsividade e o autocontrole do sujeito que está
89

querendo a liberdade condicional. Você imagina aí o fraco controle de impulso,


desculpa. Você imagina aí, né, uma auto impulsividade somado a um fraco
controle de comportamento, é um caos. Né, é um caos. Outra característica
que vamos ter é a necessidade de excitação, os psicopatas costumam sempre
ter uma necessidade de se excitar, eles não conseguem entrar em rotinas, por
exemplo. Por isso que eles nunca ficam em relacionamentos duradouros por
muito tempo, por isso que eles nunca param em empregos ou cursos de
graduação, porque eles têm essa necessidade de excitação. Falta de
responsabilidade, ou seja, é aquele sujeito que vai te pedir dinheiro e não vai te
pagar, é aquele sujeito que vai amassar o seu carro e não vai consertar, ele
não tem responsabilidade alguma consigo mesmo, quem dirá com as coisas
dos outros ou então com os outros. Né, então ele não tem responsabilidade
alguma com nada a não ser algo que realmente possa prejudicá-lo ali. É muito
comum psicopatas apresentarem problemas de comportamento precoce, ou
seja, na infância, tendo apresentado ou transtorno de conduta ou transtorno
opositor desafiante e eles também costumam ter comportamentos antissociais.
O que seria um comportamento antissocial? Não necessariamente é algo
ligado a crime, mas é algo ligado à infração de leis, ou seja, ele vai fumar onde
não pode, ele vai passar o sinal vermelho, sabendo que não pode. Não é
necessariamente um crime. Mas ele não vai respeitar aí algumas leis sociais,
algumas leis de controle social de manobra de massa que sabemos como são
necessárias. Então se eu pudesse te responder o que acaba sendo típico dos
psicopatas, é isso. E veja que interessante, como em nenhum momento eu citei
que é típico dos psicopatas matar, é típico dos psicopatas roubar, porquê
psicopatia nada tem a ver com o cometimento de crimes.

E6: Ok! 2. Existem fatores genéticos que podem ser relacionados com a
psicopatia? Se sim, quais?

P6: Eu não colocaria genéticos, eu gosto muito de falar sobre isso. Eu acho
que não existe um gene psicopata, mas existem fatores biológicos. Hoje em dia
a psicopatia, essa história de que o psicopata nasce psicopata já está batida.
Embora ainda tenham muitos autores, principalmente psiquiatras que
defendem essa teoria. Hoje em dia a gente já entende a psicopatia como algo
90

que qualquer um pode desenvolver através de aspectos biopsicossociais, igual


qualquer outro transtorno. Até mesmo os transtornos que têm uma base
biológica mais forte, a gente tem que levar em consideração os aspectos
biopsicossociais, a esquizofrenia por exemplo, que a gente sabe que tem uma
carga hereditária muito forte, tem pessoas que são filhos, né, de pessoas com
esse transtorno e não desenvolvem. Têm pessoas que não tem histórico de
esquizofrenia na família e desenvolvem, ou seja, o fator, né, hereditário e
genético não seria o fator principal para o desencadeamento de um transtorno
mental. A mesma coisa na psicopatia. Mas ainda há a teoria de que o cérebro
dos psicopatas possui ali uma estrutura diferente e realmente possui, mas não
por uma questão de ter nascido assim, mas por uma questão de
neuroplasticidade cerebral, que a gente sabe, né, que é por conta de vivências
sociais e isso pode refletir aí na nossa neuroanatomia, com trauma ou abuso,
ou qualquer situação que a gente passe aí. Então as teorias mais recentes já
tratam a psicopatia como algo que se desenvolve através de aspectos
biopsicossociais.

E6: Ok! 3. Quais fatores podem favorecer o desenvolvimento de


psicopatas?

P6: Perfeito! Boa pergunta! Eu não gosto de usar essa palavra, mas eu vou
usar apenas pra que fique fácil o entendimento. Uma família desestruturada,
né, uma família que não possa ali suprir, né, por exemplo, uma criança, né,
naquilo que é necessário para o seu desenvolvimento, né, fatores emocionais,
fatores ali, né, sociais, fatores, até mesmo econômicos, a gente pode falar que
são fatores que podem contribuir para o desenvolvimento de uma psicopatia.
Situações traumáticas onde aquele sujeito possa elaborar aquilo de uma forma,
podemos dizer ali, não necessariamente agressiva, mas há situações onde a
pessoa pode ter vivido, eu gosto de falar dia ruim, uma situação onde a pessoa
pode ter tido um dia ruim, e ter desenvolvido esse comportamento antissocial.
Aquele filme “Um dia de fúria” retrata muito isso, o filme do “Coringa”, embora
ele não seja um psicopata, retrata muito isso, o quanto um dia, um
acontecimento pode fazer com que você desencadeie um comportamento
antissocial tão mal visto pela sociedade. Então nós temos a famosa tríade
91

Macdonald, que fala que os serial killers que possuem psicopatia acabam
apresentando, que é a enurese, a piromania e a tortura em animais. A própria
presença do transtorno de conduta ou opositor desafiante pode indicar uma
possibilidade do desenvolvimento do transtorno. Fatores psicológicos e os
fatores biológicos a gente poderia citar a predisposição de pessoas frias, de
quem apresente aí um transtorno de personalidade antissocial ou psicopatia.

E6: Ok! 4. É possível curar a psicopatia e reinserir a pessoa na sociedade


com segurança? Se sim, como?

P6: Não é possível, né. A psicopatia é um dos transtornos até então incuráveis.
Mas é possível tratá-la de uma forma de reinserir o sujeito na sociedade. Eu
gosto muito de explicar isso também quando eu falo de ofensores sexuais. Não
existe cura para a pedofilia, mas existe tratamento, existe controle de impulsos.
Da mesma forma, a psicopatia. Mas uma vez levando a consideração de que
ser psicopata não significa ser criminoso. Ou seja, existem milhares de
psicopatas vivendo entre nós em sociedade, ou seja, se já existem psicopatas
vivendo entre nós em sociedade, por que aquele psicopata que cometeu o
crime não poderia viver? Ou seja, será que o crime que ele cometeu está
totalmente relacionado à psicopatia? Se fosse assim, talvez todo psicopata
cometeria crime. Ou seja, então eu acredito que num caso de uma psicopatia,
onde aquele sujeito tem ali desenvolvido o comportamento criminoso, é
possível sim tratá-lo para que ele possa se reinserir na sociedade. Mas curá-lo,
não!

E6: 5. Qual o impacto de um psicopata na sociedade?

P6: Poxa cara, de um psicopata que cometa crimes, é o mesmo impacto que
qualquer pessoa que não é psicopata que comete crimes. Eu posso falar que o
pior impacto na sociedade são os 80% que não são psicopatas e que cometem
crimes hediondos e não os 20%. Então, eu posso te responder, o impacto que
92

um psicopata tem na sociedade é insignificante, já que 20% da população são


psicopatas, e desses 20% metade cometem crimes. Ou seja, o maior impacto é
dos não-psicopatas. Cara, tem certeza que você quer publicar algo disso?

E6: [risos].

P6: Um tapa na cara da sociedade, cara. Ou o seu professor vai te dar 11 ou


ele vai te dar 0 [mais risos].

E6: 6. O nível acadêmico ou o conhecimento intensifica a psicopatia da


pessoa? Como?

P6: Boa pergunta. Não intensifica a psicopatia. Vai intensificar os traços que eu
citei com você. Pensa aí que um psicopata que não tem um nível de instrução
alto, o jeito que ele vai manipular, as ferramentas que ele vai utilizar pra poder
ali, numa situação, cometer um crime, é diferente do psicopata de alta
instrução. Tanto que se você pegar os psicopatas que cometem crimes, você
vai ver que o tipo de crime é diferente. Por exemplo, nós temos os psicopatas
do colarinho branco, são aqueles que ocupam altos graus da política, em
empresas, na mídia, e cometem os crimes deles ali de uma forma que ninguém
fica sabendo. Já tem psicopatas que viveram em situação de vulnerabilidade
social, e já vão cometer outros tipos de crimes. Então o nível acadêmico,
realmente, vai influenciar muito no tipo de crime e em como aquele psicopata
que vai cometer crimes vai fazê-lo.

E6: 7. Existe alguma intervenção efetiva para quem possui o transtorno


de personalidade antissocial? Se sim, qual?

P6: Olha, existe o tratamento psicológico. E o que que eu chamo de tratamento


psicológico? É o tratamento psiquiátrico juntamente como a da psicologia.
Alguns profissionais defendem que a Teoria Cognitivo-Comportamental tem se
mostrado mais eficaz, eu discordo. Eu acho que a TCC se mostra tão eficaz e
eficiente como qualquer outra abordagem. Mas a TCC, pela sua credibilidade
93

científica, muitos acabam ali considerando ela o melhor tipo de tratamento


psicológico. Eu discordo. Mas dou, lógico, a devida credibilidade a ela também.

E6: 8. A desinformação sobre a psicopatia é uma desvantagem para a


sociedade? Por quê?

P6: Totalmente! Totalmente! É dos trabalhos que eu mais tenho é descontruir a


ideia de que ser psicopata é ser criminoso. Desconstruir a ideia de que quando
a gente vê um crime horrendo na TV, a primeira coisa que as pessoas falam: É
psicopata! E não, não, ele não é psicopata. Então a mídia contribui muito para
isso, as séries contribuem muito para isso e acabam fazendo com que a gente
não compreenda o transtorno como um todo e ainda acaba tendo preconceito
por quem possui este transtorno. O psicopata no Brasil é sinônimo de
assassino em série, o que não tem nada a ver. É um transtorno como qualquer
outro.

E6: 9. Em suas considerações finais, como a sociedade pode se proteger


do dano causado por psicopatas?

P6: Cara, é aí que tá, né. Que tipo de dano é esse que é causado por
psicopatas? Que tipo de dano? Se você me perguntar o dano causado por
criminosos em geral eu conseguiria responder melhor. Porque não existe um
dano específico causado por psicopatas. Não existe um tipo de dano, um tipo
de crime que especificamente é dos psicopatas, até mesmo serial killers.
Embora 90% dos serial killers apresentem aí psicopatia ou transtorno de
personalidade antissocial, por que são transtornos distintos, não são a mesma
coisa. Embora muita gente insista também nesse mito. Ainda assim nem todos
apresentam a psicopatia. Então, assim, como a sociedade poderia se proteger
contra a ignorância acerca do transtorno, é estudando, buscando o
conhecimento, por que o impacto na sociedade, como eu falei, 80% é causado
por não-psicopatas, então eu acho que o conhecimento, principalmente pra
entender essa questão. Não existe um dano de psicopata na sociedade. É a
mesma coisa se a gente falar de danos esquizofrênicos, de transtornos
94

obsessivos-compulsivos, o dano de um psicótico, o dano de um autista. Não


existe dano relacionado ao transtorno.

E6: Você gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

P6: Eu acho que essa questão do transtorno de personalidade antissocial e a


psicopatia. Por que? O transtorno de personalidade antissocial ele contempla
mais os aspectos comportamentais. Já a psicopatia, além dos
comportamentais, ela também vai abranger os afetivos e interpessoais. Então
hoje a psicopatia, pelo menos os pesquisadores mais recentes, nós vemos a
psicopatia como um espectro, ou seja, dentro desse espectro a gente encontra
o transtorno de personalidade antissocial, porque existem graus de psicopatia.
Você pode pegar uma amostragem aí de cem psicopatas, cada um vai se
manifestar de uma forma. Por que? Porque não é o transtorno que determina a
forma que o sujeito vai agir e se comportar. É apenas uma influência dentre
tantas que temos aí e que influenciam no nosso convívio, no nosso dia a dia e
na nossa personalidade. Ou seja, o transtorno de personalidade antissocial
seria um dos graus da psicopatia.

E6: Ok! Muito obrigado por ter participado.

P6: Pô, já acabou? Gosto tanto de falar disso [risos]

E6: Acabou! É tão rápido, né?

P6: Pois é! Que bom que você tenha gostado das respostas, espero que tenha
aprendido aí algo comigo também. Espero que você tire 10!

E6: Obrigado!

PERFIL DO PARTICIPANTE 7 E ROTEIRO DE ENTREVISTA


Perfil do participante/ Transcrição da entrevista.

E7: Formação?
95

P7: Médico.

E7: Área de atuação profissional?

P7: Psiquiatria e Ortopedia.

E7: Quais as qualificações adicionais para atuar nesta área?

P7: Psicologia Cognitiva Comportamental como Pós-graduação, Dor Crônica e


Ortopedia pela USP.

E7: Há quanto tempo atua na área?

P7: 43 anos.

E7: A área de atuação é sua única ocupação atualmente como profissional da


saúde? Se não, especifique as outras ocupações, se possível.

P7: Não. Trabalho como Ortopedista e há a junção da dor crônica com os


transtornos mentais em pacientes psiquiátricos.

E7: 1. Qual o padrão de comportamento do psicopata?

P7: Trata-se de um transtorno de personalidade. É considerada como a mais


grave alteração de personalidade uma vez que os indivíduos caracterizados
por essa patologia são responsáveis pela maioria dos crimes violentos. Eles
cometem vários tipos de crime com maior frequência do que os não-
psicopatas. E ainda tem maior índice de reincidência apresentado, a estimativa
no Brasil é de 80% de reincidência. O psicopata é uma maneira de ser, ele tem
a....aspectos rígidos, inflexíveis, mal adaptativos e significa ruptura social e
pessoal, com comportamentos desajustados e caráter permanente. O
transtorno de personalidade antissocial coloca o indivíduo em confronto com a
96

lei, muito bem. Então, o psicopata é uma maneira de ser, ele vê o mundo de
outra forma, é 100% razão e 0% emoção. Ele objetiva poder, status e diversão.

E7: 2. Existem fatores genéticos que podem ser relacionados com a


psicopatia? Se sim, quais?

P7: Sim. Os fatores genéticos existem e podem ser relacionados com a


psicopatia. Os indivíduos psicopatas já nascem psicopatas.

E7: 3. Quais fatores podem favorecer o desenvolvimento de psicopatas?

P7: Fatores genéticos e ambientais, com exposição a desajustes familiares.


Pobreza e aprendizagem de comportamentos antissociais. A família muitas
vezes é disfuncional, falha na proteção básica, existe uma interação biossocial
do ambiente social. Por exemplo, alcoolismo paterno, falta de supervisão
quando criança, separação ou perda de um dos pais, trauma infantil, pode ter
um impacto dramático na saúde mental da criança, estando relacionado a
psicopatia.

E7: 4. É possível curar a psicopatia e reinserir a pessoa na sociedade com


segurança? Se sim, como?

P7: Não é possível curar a psicopatia e reinserir a pessoa na sociedade com


segurança. O que acontece é que você vai ver um indivíduo com boa lábia, ego
inflamado, fala demais, lorota demais, reação desenfreada, ele é muito
impulsivo com sede por adrenalina, impulsividade, falta de culpa. Ele tem a
alexitimia, ele é incapaz de sentir remorso, os sentimentos dele são
superficiais, o comportamento dele é antissocial, é falta de empatia, má
conduta na infância e irresponsabilidade. Ele nunca assume as coisas
que...que...que ele pratica, ele subjuga o outro, então, é uma situação que
infelizmente não é possível curar.
97

E7: 5. Qual o impacto de um psicopata na sociedade?

P7: Depende do grau. Existem psicopatias de grau leve, moderado e grave. O


grau leve não mata, ele não suja a mão, por exemplo um estelionatário, ele vai
utilizar as pessoas como um jogo pra tirar vantagens. O psicopata moderado,
em princípio, ele não mata. Ele manda alguém matar por ele, e se as coisas
fugirem do controle, ele mesmo pode executar tal ação, a..a...a de matar. O
três é a psicopatia grave, tem prazer em matar, ele vai colocar a honra para
exercer, ser feito aquele ritual de matança, no ritual, na hora que ele planeja,
ele é o rei do caso para fazer a tal ação de matar. Acho que ficou razoável.

E7: 6. O nível acadêmico ou conhecimento intensifica a psicopatia da


pessoa? Como?

P7: Na minha opinião, sim. Porque o psicopata ele é dotado de uma


inteligência racional, da parte cognitiva exacerbada, ele tem uma burrice
emocional, ele tem 0% de emoção. Então por exemplo, como ele tem,
ele...ele...ele consegue ler um livro, interpretar aquele livro, ele ass... assimila
muita coisa daquele livro e pode usar para o mal. Uma música por exemplo, ele
consegue saber as notas das músicas e cantar a música, mas não consegue
interpretar a alma da música, o que realmente fala nele. Ele não tem
sentimentos, mas ele é dotado de razão e ele pode aprender instrumentos
em...em cursos que ele fizer, pode ser um médico, advogado, um político, ele
pode é... aprender instrumentos que vai beneficiar só ele e prejudicar o outro e
ele não tem sentimentos algum com isso, ele subjuga o outro.

E7: 7. Existe alguma intervenção efetiva para quem possui o Transtorno


de Personalidade Antissocial? Se sim, qual?

P7: Não. Não existe nenhuma intervenção efetiva para tratar o psicopata.

E7: 8. A desinformação sobre a psicopatia é uma desvantagem para a


sociedade? Por quê?
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P7: Sem dúvida. Você deve se informar para ter esse conhecimento e
justamente a sabedoria que você tem para procurar um entendimento do que
que que é realmente, o que o psicopata traz de crueldade, de perversidade
para a sociedade. Existe também uma maneira de você se informar melhor é
através do manual, é um checklist de psicopatia revisado no ano de 1990, por
uma doutora psiquiatra, chamada Hilda Morana. Ele... ele estabelece um
roteiro que você vai ter condições de analisar quem está ao seu lado, quem
mora ao seu lado e quem convive com você em sociedade.

E7: 9. Em suas considerações finais, como a sociedade pode se proteger


do dano causado por psicopatas?

P7: Primeiro se prevenindo, pela informação, sabendo que que é o psicopata,


como ele se apresenta, daquele modo ardiloso, sútil, perverso e impulsivo, que
ele subjuga a vítima, que ele vai chegar numa situação tal que dá prazer pra
ele, mas pra vítima não. Ele...ele...ele humilha. Então isso daí, é uma situação
que é problemática. Por exemplo, na política, fica visível porque ali está o
poder, o status e a diversão e em muitas áreas, em todas as áreas, porque não
tem gênero, não tem profissão, ele ataca qualquer profissão, então faz parte
dos 4% dos seres humanos ter psicopatia. Você coloca isso numa população
mundial de 100 bilhões de pessoas, extrai estatisticamente e você conta 4%
quanto que significa. Você vai ter um número de pessoas de psicopatas no
mundo. Então é muito importante é...é...é a pessoa ter conhecimento, procurar,
e nós temos que ter ajuda governamental do Ministério da Saúde, nos seus
sites, é na Secretaria Estadual de Saúde, na Secretaria Municipal de Saúde,
porque o povo fica, a mídia tem que procurar a causa a...a...a… desses crimes
hediondos para ver se tem remorso, uma coisa se a pessoa tem uma situação
toda e ele se arrependeu como um crime passional, ok, não tem problema.
Uma coisa que a sociedade se previne em saber que o psicopata é
inimputável, ou seja, ele não sabe o que tá fazendo, isso não é verdade. Ele
não é vulnerável, quem é vulnerável é a vítima dele, é quem sofre, minuto a
minuto, dia a dia com o psicopata, então, e o juiz sabe descrever perfeitamente
o psicopata, mas só que não tem escrito o que ele é personalidade transtorno
99

antissocial, não é escrito que ele é psicopata, é...é simplesmente é...ele é


colocado com os detentos, onde meia dúzia controla todo o pessoal. Tem 25%
desse pessoal na...na...na rede penitenciária. Ele controla os outros detentos.
Eles controlam só na maldade, só na violência, porque eles são 100% razão e
0% emoção. Eles não têm o sistema límbico, é... a parte do sistema límbico
que dá medo, é emoções de raiva, ele não tem. Ele não sente nada de
emoção, e... então ele é repetitivo, ele reincide, do jeito que ele fez uma coisa
hoje, amanhã ele faz igual. Igualzinho, ele mata, ele rouba.
100

ANEXO 1 – PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Título da Pesquisa: TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL: a


psicopatia a partir da perspectiva forense/jurídica e psicanalítica
Pesquisador: ELIANE CHAINÇA
Área Temática:
Versão: 1
CAAE: 40029420.0.0000.5512
Instituição Proponente: ASSOCIACAO UNIFICADA PAULISTA DE ENSINO
RENOVADO OBJETIVO-
Patrocinador Principal: Financiamento Próprio

DADOS DO PARECER
Número do Parecer: 4.423.708

Apresentação do Projeto:
Trata-se de um projeto sobre “TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
ANTISSOCIAL: a psicopatia a partir da perspectiva forense/jurídica e
psicanalítica”.
O transtorno de personalidade antissocial é um mistério tanto para
especialistas quanto para pessoas comuns. A especulação sobre esta
patologia é intensa, pois, além de deixar danos para a sociedade, as formas de
tratamento são pouco exploradas, com informações escassas e até mesmo
redundantes. Este trabalho propõe compreender o transtorno de personalidade
antissocial a partir da perspectiva forense/jurídica e psicanalítica. Serão
entrevistados sete profissionais da saúde mental com especialização em
psicanálise e que atuem na área forense ou jurídica. A pesquisa configura-se
como exploratória, descritiva e qualitativa. Espera-se constatar que esta
patologia se instaure na sociedade através de desinformação e ingenuidade, e,
quando diagnosticado, o indivíduo deve ser tratado o mais cedo possível. A
pesquisa acontecerá por meio de entrevistas com profissionais da saúde
mental, com especialização em psicanálise e atuando na área forense ou
101

jurídica. Serão convidados para a participação 7 (sete profissionais). Não


participarão desta pesquisa profissionais que não tenham especialização em
psicanálise, pois esta especialização é necessária para o direcionamento da
perspectiva a ser examinada.
O projeto de pesquisa atende os requisitos e princípios éticos esperados numa
investigação com seres humanos.

Objetivo da Pesquisa:
Objetivo geral:
Compreender a psicopatia a partir da perspectiva forense/jurídica e
psicanalítica.

Objetivos específicos:
Compreender como esta patologia se instaura na sociedade e quais seus
desdobramentos. Assimilar como a psicopatia flagela a comunidade.
Esclarecer a partir do ponto de vista psicanalítico como uma pessoa torna-se
psicopata. Os objetivos supracitados não explicitam equívocos de natureza
ética.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:


Os riscos e benefícios foram bem avaliados e estão de acordo com a
metodologia empregada na pesquisa. Os riscos para os participantes foram
classificados como baixo e os benefícios apontados atendem aos dispostos do
CNS.

“Considerando que toda pesquisa oferece algum tipo de risco, nesta pesquisa o
risco pode ser avaliado como baixo, decorrente de cansaço físico e mental
desencadeados pela extensão da entrevista. São esperados os seguintes
benefícios imediatos da sua participação nesta pesquisa: compartilhar
conhecimento e refletir sobre a atuação do profissional. Caso queira, poderá ter
acesso aos resultados da pesquisa após sua conclusão”.
102

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:


O estudo atende os pressupostos éticos previstos pela Conselho Nacional de
Saúde – CNS.

“Espera-se constatar que a patologia instaure na sociedade através da


desatenção, desinformação e ingenuidade, em outros termos, a ignorância
sobre o transtorno de personalidade antissocial eleva o número de vítimas e
afrouxa a justiça; seus desdobramentos são medo, incapacidade e
desesperança por parte das vítimas e da sociedade. Supõe-se que a
psicanálise considere que o indivíduo se torna psicopata devido a fatores
sociais e culturais, as influências adquiridas na infância e adolescência são as
causadoras desta patologia, e, com o tratamento no tempo certo, é possível o
progresso na metodologia de restauração. Presume-se que a psicopatia se
constrói sob a pré-disposição inata do indivíduo, em outras palavras, este já
nasce com a psicopatia engendrada em seu cérebro, assim, espera-se
compreender como este gatilho é ativado na construção social e na formação
psíquica, e como isto torna o comportamento criminoso mais letal. Acredita-se
que o tratamento deva ser realizado o mais cedo possível, na infância,
especificamente, para que a patologia seja extirpada por meio de regras,
conduta moral e disciplina”.

Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:


Os termos foram adequadamente apresentados.
Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:
O projeto está adequado do ponto de vista ético.
Considerações Finais a critério do CEP:
Ressalta-se que cabe ao pesquisador responsável encaminhar os relatórios
parciais e finais da pesquisa, por meio da Plataforma Brasil, via notificação do
tipo “relatório” para que sejam devidamente apreciadas pelo CEP, conforme
Norma Operacional CNS nr 001/12, item XI.2.d.
103

Este parecer foi elaborado baseado nos documentos abaixo relacionados:


Tipo
Arquivo Postagem Autor Situação
Documento
Informações PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_DO_P 12/11/2020 Aceito
Básicas
do Projeto ROJETO_1660590.pdf 09:26:47
Folha de
TRANST_PERSONALID_ANTISSOCIAL 12/11/2020 ELIANE CHAINCA Aceito
Rosto
_FOLHA_ROSTO.pdf 09:26:26
Outros TRANST_PERSONALID_ANTISSOCIAL 09/11/2020 ELIANE CHAINCA Aceito
_INTENCOES_PESQUISA.pdf 00:00:08
Outros TRANST_PERSONALID_ANTISSOCIAL 08/11/2020 ELIANE CHAINCA Aceito
_TERMO_COMPROMISSO.pdf 23:59:52
Outros TRANST_PERSONALID_ANTISSOCIAL 08/11/2020 ELIANE CHAINCA Aceito
_CARTA_APRESENTACAO.pdf 23:59:40
Orçamento TRANST_PERSONALID_ANTISSOCIAL 08/11/2020 ELIANE CHAINCA Aceito
_ORCAMENTO.pdf 23:59:30
TCLE /
TRANST_PERSONALID_ANTISSOCIAL 08/11/2020 ELIANE CHAINCA Aceito
Termos de
Assentimento
_TCLE.pdf 23:59:20
/
Justificativa
de
Ausência
Projeto
Detalhado / TRANST_PERSONALID_ANTISSOCIAL 08/11/2020 ELIANE CHAINCA Aceito
Brochura _PROJETO.pdf 23:59:10
Investigador

Situação do Parecer:
Aprovado
Necessita Apreciação da CONEP:
Não

SAO PAULO, 26 de novembro de 2020

__________________________________
Assinado por:
Bettina Gerken Brasil (Coordenador(a))

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